Escrita de
Sinais sem mistĂŠrios
Volume 1
Madson Barreto Raquel Barreto
Escrita de
Sinais sem mistérios Volume 1
Belo Horizonte Edição do autor 2012
© 2012 Madson Barreto | Raquel Barreto
Diagramação, capa e edição de imagens: Medson Barreto Fotografia: Raquel Barreto Medson Barreto B273e BARRETO, Madson Escrita de Sinais sem mistérios / Madson Barreto, Raquel Barreto. – Belo Horizonte: Ed. do autor, 2012. [ ]v. ; 245 p. ; il. ; 22 cm x 15 cm x 2 cm. Impresso por: Gráfica O Lutador. – Distribuído por: Libras Escrita. – Volume I. Obedece ao novo acordo ortográfico, decreto nº 6.583/2008. ISBN: 978-85-913646-0-2 1. Escrita de Sinais. 2. SignWriting. 3. Libras 4. Uso da Escrita de Sinais. 5. Benefícios da Escrita de Sinais CDD: 419.071 CDU: 81’221.24 Igor Rezende Quintal – Bibliotecário CRB6-2881
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Impresso no Brasil
Às comunidades surdas brasileiras, aos tradutores intérpretes de Libras, educadores, pesquisadores da Libras e familiares de surdos por sonharem e lutarem pela educação bilíngue para surdos.
SUMÁRIO
PREFÁCIO DE MARIANNE ROSSI STUMPF AGRADECIMENTOS (ESCRITA DE SINAIS) AGRADECIMENTOS (LÍNGUA PORTUGUESA) INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1 As línguas de sinais X a escrita Os surdos e a escrita Os sistemas de escrita de sinais
CAPÍTULO 2 A Escrita de Sinais, seus usos e benefícios O SignWriting no Brasil Aquisição da leitura e escrita em SignWriting Aplicações e benefícios da Escrita de Sinais
CAPÍTULO 3 Duas perspectivas Perspectiva do observador Perspectiva do sinalizador
Orientações de Mão A palma da mão
15 17 25 27 31 32 32 34 41 42 43 45 48 51 52 52 52 52 52
O dorso da mão O lado da mão Rotação da mão
Tipo de Contato: tocar Configurações de Mão Locação: a cabeça CAPÍTULO 4 Orientações de Mão Visão de frente Visão de cima Setas Básicas de Movimento Plano Parede Movimento da mão esquerda Movimento da mão direita Tipo de Contato: escovar Configurações de Mão CAPÍTULO 5 Configurações de Mão Setas Básicas de Movimento Plano Chão Escrevendo percursos sobrepostos Locações Os ombros e o peito A face CAPÍTULO 6 Configurações de Mão Outras Setas de Movimento Mudança de Configuração e de Orientação de Mão Locações As sobrancelhas Os olhos O nariz
53 53 54 54 55 56 57 58 58 58 60 60 61 61 62 63 67 68 70 70 73 73 73 74 75 76 78 79 79 79 80 80
A boca
Escrevendo em colunas (I) Pontuação: ponto final Praticando a leitura Glossário CAPÍTULO 7 Configurações de Mão Movimentos dos dedos Articulação Média fecha Articulação Média abre Movimentos Circulares Tempos do movimento Movimento Simultâneo Movimento Alternado Tipos de Contato Esfregar em Círculo Esfregar Linear Escrevendo em colunas (II) Praticando a leitura Glossário CAPÍTULO 8 Configurações de Mão Movimentos Curvos Movimentos dos dedos Flexão do dedo na Articulação Proximal Extensão do dedo na Articulação Proximal Flexão e extensão dos dedos na Articulação Proximal Tempo do movimento Movimento consecutivo Pontuação: enunciação e pausa curta Praticando a leitura
80 81 81 82 85 87 88 90 90 90 91 93 93 93 93 93 94 94 96 100 101 102 103 105 105 106 106 107 107 107 108
Glossário 112 CAPÍTULO 9 113 Configurações de Mão 114 Movimentos dos dedos 116 Flexão e extensão dos dedos alternadamente na articulação proximal 116 Flexão dos dedos alternadamente na articulação proximal 117 Extensão dos dedos alternadamente na articulação proximal 117 Tipos de Contato 118 Pegar 118 Contato Entre 118 Locações 119 O cabelo e a orelha 119 Movimentos Curvos 119 Praticando a leitura 122 Glossário 127 CAPÍTULO 10 129 Configurações de Mão 130 O Alfabeto Manual 132 Tipos de Contato: bater 133 Locações 134 O pescoço 134 Atrás da cabeça 134 Os ombros e a cintura 135 Movimento dos ombros para cima ou para baixo 135 Outros tipos de Movimento 136 Praticando a leitura 137 Glossário 142 CAPÍTULO 11 143 Configurações de Mão 144 Movimentos do antebraço 146 Rotação paralela à parede 146
Rotação paralela ao chão - braço estendido Rotação paralela ao chão - braço paralelo à frente do tórax Movimento de agito dos antebraços
Expressões não manuais As sobrancelhas Praticando a leitura Glossário CAPÍTULO 12 Configurações de Mão Movimentos de giro do antebraço Dinâmica de movimento: tensão Escrevendo um classificador Expressões não manuais A boca Movimentos da cabeça Pontuação: interrogação Praticando a leitura Glossário CAPÍTULO 13 Configurações de Mão Expressões não manuais Os olhos Direção do olhar Dinâmicas de movimento Rápido Lento Relaxado Pontuação: os parênteses Praticando a leitura Glossário CAPÍTULO 14 Configurações de Mão
147 148 149 150 150 151 158 159 160 162 163 163 164 164 165 167 169 175 177 178 179 179 180 182 182 182 183 183 184 190 191 192
Movimentos originados no pulso Movimentos Circulares Movimentos Retos Expressões não manuais Bochechas e respiração Dentes e lábios Praticando a leitura Glossário CAPÍTULO 15 Configurações de Mão Movimentos: diagonal para frente ou para trás Expressões não manuais Movimentos do tronco Visão do corpo por cima A língua Praticando a leitura Glossário CAPÍTULO 16 Os sinais nome Configurações de Mão Praticando a leitura Glossário APÊNDICE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
193 193 194 195 195 196 198 204 205 206 207 209 209 210 211 213 217 219 220 221 223 228 229 241
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PREFÁCIO
PREFACIO Em um artigo que escrevi em 2002 conto como iniciamos em 1996, em Porto Alegre, as pesquisas sobre o SignWriting aqui no Brasil. Como fiquei surpresa ao reconhecer naquela escrita os sinais de uma língua de sinais e feliz ao compreender que ela podia ser escrita. Após três anos de pesquisa, a tradução parcial e adaptação do Inglês/ASL para Português/Libras do livro “Lessons in SignWriting”, de Valerie Sutton, publicado originalmente pelo DAC – Deaf Action Committe For SignWriting, resultaram na construção do “Lições sobre o SignWriting” e do primeiro software SW-Edit para escrita da Língua de Sinais Brasileira pelo sistema SignWriting que foi colocado no site. A partir daí, a escrita dos sinais da Libras pelo sistema SignWriting começou a poder ser desenvolvida no Brasil. Em 2006, com o início do 1º Curso Letras/Libras a distância, foi dado um grande impulso à nossa escrita, ele levou aos surdos brasileiros, de 18 estados, esses conhecimentos como parte do seu currículo. A publicação do livro Escrita de Sinais Sem Mistérios utiliza grande parte da metodologia e é construído a partir dos materiais da disciplina de escrita dos sinais que compõe o Curso Letras Libras. Parabenizo aos organizadores Madson e Raquel Barreto pela dedicação e iniciativa de realizar esse trabalho e ao CEFET-MG, com seu Grupo de Estudos da Escrita de Sinais, pelos avanços acrescentados ao estudo da Escrita de Sinais pelo sistema SignWriting. A Educação Bilíngue brasileira e, em particular o estado de Minas Gerais, um estado possuidor de uma forte cultura que muitas vezes impulsionou os avanços conquistados pelos surdos
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brasileiros, ficam enriquecidos com essa publicação. “A cultura não trabalha, move, muda ou transforma, mas é trabalhada, movida, mudada, ou transformada. São as pessoas que fazem coisas...” Lynd, 1939. Marianne Rossi Stumpf UFSC
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INTRODUÇÃO
Existem muitos mitos em torno da Escrita de Sinais. Muitas pessoas, por não conhecê-la, afirmam que a Escrita de Sinais não é capaz de registrar a Língua de Sinais com todas as suas características. Para muitos o primeiro contato ou o estudo desta escrita foi superficial e envolto de mistérios. Este livro é resultado de intensa pesquisa e reflexão sobre o processo de ensino aprendizagem da Escrita de Sinais pelo sistema SignWriting em publicações do DAC1, dicionários da Libras e de outras línguas de sinais, sites brasileiros e estrangeiros, livros, artigos, dissertações e teses relacionadas à Escrita de Sinais ou ao estudo da Libras, além das discussões do Grupo de Estudos da Escrita de Sinais do CEFET-MG (2010-2011). Neste livro, você aprenderá a Escrita de Sinais sem Mistérios e verá sua eficácia no registro das línguas de sinais. Para isto, estudaremos esta escrita passo a passo, trazendo como exemplos léxicos2 da Libras e textos escritos em língua de sinais.
Sobre os exemplos ulitizados nesse livro
Reconhecemos a diversidade cultural dos surdos brasileiros e os regionalismos da Libras, assim, buscamos utilizar como exemplos sinais comuns às diversas regiões do país. Contudo, quando não foi possível identificar ou utilizar estes sinais, foi adotada a variante do estado de Minas Gerais. Em outros momentos apresentamos sinais utilizados em regiões específicas do país, fazendo esta indicação 1 2
Deaf Action Commitee for SignWriting. Sinais.
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entre parênteses. Ressaltamos que em alguns casos um mesmo sinal pode ser escrito de várias formas diferentes e que as formas que adotamos objetivam exemplificar os símbolos e regras da Escrita de Sinais aqui estudados. Acreditamos que à medida que mais pessoas utilizarem este sistema, surgirão novas regras que simplificarão ainda mais seu uso. Este processo é natural a qualquer língua escrita.
Estrutura geral
Os dois primeiros capítulos apresentam resultados de pesquisas sobre a Escrita de Sinais no Brasil e no mundo. Veremos a relação entre as línguas de sinais e a escrita, faremos um panorama histórico sobre diversos sistemas de notação e escrita das línguas de sinais, aprofundaremos na história do sistema SignWriting, conheceremos suas principais características e como ele faz o registro das línguas de sinais. Em seguida, veremos seus usos e benefícios para usuários de língua de sinais surdos e ouvintes. A partir do capítulo 03, estudaremos a Escrita de Sinais, seus símbolos e regras ortográficas tendo como base teórica Parkhurst & Parkhurst (2001, 2008); Roald (2006) e Sutton (S/D; 1999; 2003; 2009; 2011). Na Escrita de Sinais os símbolos estão organizados em sete categorias: mãos, movimentos, cabeça e face, corpo, dinâmica e tempo, pontuação e símbolos avançados de locação, sendo estes mais utilizados por pesquisadores.
Metodologia
Nosso estudo está organizado de acordo com os parâmetros fonológicos da Libras e demais símbolos relacionados a eles. Assim estudaremos as configurações e orientações de mão, as locações, os símbolos de contato, os símbolos de movimentos dos dedos, as setas de movimentos, os símbolos de dinâmica e de tempo, as expressões não manuais e a pontuação. Esses símbolos serão introduzidos pouco a pouco. Estudaremos
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Introdução
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primeiro as configurações de mão mais usadas na Libras, bem como os símbolos utilizados com mais frequência na escrita, juntamente com exemplos da Língua Brasileira de Sinais e regras ortográficas aplicadas à sua gramática. As principais regras ortográficas estão marcadas com este símbolo:
História em Escrita de Sinais No capítulo 06, inicia-se uma história em Escrita de Sinais que terá continuidade nos capítulos seguintes. Esta história foi composta diretamente em Escrita de Sinais, não havendo uma tradução ou versão dela em língua portuguesa, nem mesmo uma versão digital em Libras. Na história serão utilizados preferencialmente símbolos já estudados até o capítulo em que a mesma está inserida. Contudo, vários símbolos, principalmente as expressões não manuais e os símbolos de dinâmica mesmo que ainda não tenham sido ensinados, serão utilizados quando se fizerem necessários. Assim, recomenda-se ao leitor que ao terminar o estudo de todo o livro, retome a leitura da história capítulo por capítulo para que fixe melhor o conhecimento apreendido. A história, seus personagens, nomes e lugares citados são componentes literários e não apresentam qualquer relação com histórias e personalidades reais ou fictícias nem são associadas politicamente a entidades representativas de surdos, cidades ou estados brasileiros. Resgatam, sim, aspectos culturais e identitários das comunidades surdas. Os sinais nome atribuídos aos personagens são traço cultural destas comunidades e não têm intenção de relacionar o personagem ou sua história com qualquer outra personalidade real ou fictícia. Assim, a história objetiva que o leitor treine a leitura de textos em Escrita de Sinais e exercite seu aprendizado, fixando-o. Lança também ao leitor o desafio de compor histórias, fábulas, poesias etc. diretamente na Escrita da Língua de Sinais.
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No final do livro existe um apêndice com as Configurações de Mão (CM) numeradas e organizadas em grupos. Assim, em todos os capítulos elas estão identificadas por este mesmo número a fim de facilitar sua consulta. Bons estudos!
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CAPÍTULO 4
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Escrita de Sinais sem mistérios
ORIENTAÇÕES DE MÃO Visão de frente
Mão paralela à parede de frente No capítulo anterior vimos que quando a mão está na vertical escrevemos desta forma.
Visão de cima
Mão paralela ao chão Quando a mão está na horizontal é representada como se você estivesse olhando suas próprias mãos por cima. Para isto utilizamos um pequeno espaço na altura dos dedos. Não importa se você realmente pode ou não vê-la de cima.
ou escreve-se:
Da mesma forma, este símbolo pode ser girado em qualquer direção.
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Capítulo 4
-
Combinar
Porque
Ele/ ela (apontação discreta)
Também
Criança
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Abrir (gaveta)
Leite
Bicicleta
SETAS BÁSICAS DE MOVIMENTO Plano Parede Na Escrita de Sinais usamos setas para indicar os caminhos percorridos pelo movimento. Quando o movimento é paralelo a uma parede imaginária que está à frente do sinalizador, é representado por uma seta dupla: Para cima Diagonal para cima e para a esquerda
Diagonal para cima e para a direita
Para a direita
Para a esquerda
Diagonal para baixo e para a esquerda
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Diagonal para baixo e para a direita Para baixo
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Capítulo 4
Movimento da mão esquerda
Movimento da mão direita
O movimento da mão esquerda é representado por setas com ponta branca:
O movimento da mão direita, por setas com ponta preta:
Move-se somente a mão esquerda.
Move-se somente a mão direita.
Veja:
Crescer
Sul
Cego/ não ver
Quando há mais de uma seta por mão, sempre se começa a ler do centro para fora e de cima para baixo. Exemplos:
Psicólogo (a)
Carro
Depender (condicional)
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Escrita de Sinais sem mistérios
Embora não seja necessário escrevê-lo, você pode usar um símbolo para indicar que as mãos se movem juntas e que começamos a ler as setas do centro para fora27.
Exemplos:
Psicólogo (a)
Carro
Depender (condicional)
TIPO DE CONTATO Escovar É o contato em que a mão se arrasta brevemente sobre uma superfície e depois se separa. É representado por um círculo com um ponto preto no centro. Exemplos:
Gastar
Entrar
Partir ao meio/ metade
No cap. 7 estudaremos melhor este Símbolo de Tempo.
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Capítulo 4
CONFIGURAÇÕES DE MÃO Configuração
Escreve-se
Exemplo
Provisório 10
Quinta-feira 11
Nome 12
Cadeira 13
Novela 14
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Configuração
Escreve-se
Exemplo
Restaurante 15
50
51
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Sexta-feira
Não saber nada
Culpa
Julgar/ justiça 84
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Capítulo 4
Outros exemplos:
Segunda-feira
Real (moeda brasileira)
Futebol de salão
Oeste
Norte
Tentar/ experimentar
Relógio
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Fontes utilizadas: Calibri, Candara, Libras Escrita.