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Ao leitor ESPORTE AMADOR
ano I - número 01 - novembro 2008 Universidade Santa Cecília Faculdade de Artes e Comunicação Jornalismo Diretor Humberto Challoub Coordenador Robson Bastos Professora Responsável Elaine Saboya
Capa Criação: Jeifferson Moraes Foto: Fornecida pela AcdBS Editoras Gabriela Soldano babigabriela@hotmail.com
Amanda Albuquerque amandamalbuquerque@hotmail.com
Diagramador Jeifferson Moraes Repórteres Aline Monteiro Amanda Albuquerque Bruno Quiqueto Gabriela Aguiar Gabriela Soldano Jeifferson Moraes Jeferson Marques Jordan Fraiberg Rogério Amador Tatiana Ferraz
Esporte é toda atividade física recreativa ou competitiva, individual ou coletiva, que exige esforço físico ou habilidade. Porém, não é feito somente de Phelps, de Gibas, de Federers ou Pelé. O esporte está presente também na vida das pessoas comuns, seja pela televisão seja ou na ida à academia que fica na esquina de casa. Não é só de profissionais que vive este ramo. Através da Revista Suor, queremos mostrar os nossos amadores. Até porque o renascimento dos Jogos Olímpicos, ainda em 1896, pelo barão Pierre de Coubertin, teve caráter amadorístico, uma vez que para promover os Jogos criou-se o Comitê Olímpico Internacional, que teve a função de incentivar o desenvolvimento do esporte mantendo o espírito contemplado na célebre frase do barão: “O importante não é vencer, mas competir”. Mas, o que é o esporte amador? O esporte amador é aquele que se pratica apenas por prazer. Aquele que é realizado sem patrocínio, sem incentivo e que, por vezes, necessita mais. Porque não basta amar o esporte. É preciso conhecimento aprofundado do corpo e seus limites, acompanhamento e orientação médica. O esportista amador treina nas horas vagas de seu dia, nos finais de semana. Nos intervalos de sua vida. Percebendo que a região é carente na divulgação de nossos esportistas amadores, pois muitos não sabem das potencialidades que possuímos, criamos a Revista Suor. Queremos divulgar, comentar e relatar aspectos do esporte amador da região. A revista não é somente para atletas, mas também para aquelas pessoas que procuram fazer uma modalidade por saúde ou lazer, uma vez que o esporte contribui para a interação de um grupo de pessoas, conectando-as além das quadras ou piscinas, possuindo também a característica de auxiliar na busca pelo corpo ideal ou pela saúde livre de sintomas de doenças, como, por exemplo, a bronquite, a diabetes, hipertensão etc. Ao longo das páginas desta edição, os temas são abordados de forma simples e direta. Trabalhando, lutando ou mesmo desafiando a própria estrutura de seu corpo, a Suor estará sempre divulgando o esporte amador. Boa leitura!
Sumário RAÍZES
PRATA DA CASA
PELADA
Tamburello, TAMBOR, TAMBORÉU...
A Copa do Mundo de Futebol de Rua mostra que todo jogador, antes de ir pro gramado, jogava bola na rua de casa
Gabriela Aguiar
Amanda Albuquerque
Dia de sol em uma orla bem movimentada. O céu azul reflete no mar de águas escuras e agita-
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O brilho do sol é interrompido pela sombra da
Divulgação
bola que vem alta em sua direção. Mata no peito
Hoje a procura pelo tamboréu vem crescendo
ticipando em pequenas competições inter-ruas. O sonho de se tornar o próximo Ronaldo sem-
das, produzindo a sensação da imensidão. Muitas
a cada ano, com a inserção de novos atletas ao
e domina. Dois vêm em sua direção, um de cada
pre existiu em seu coração, mas a vida é difícil na
pessoas aproveitam o domingo de folga. Nas areias
quadro de filiados da Liga Santista de Tamboréu.
lado. Dribla um, a torcida vai à loucura. Dribla dois,
Vila Nova. Desde cedo teve que trabalhar para aju-
próximas ao mar ouve-se o som da bolinha sob a
Segundo Rodrigues, o incentivo vem dos pais já
a torcida começa a gritar seu nome. Sente nos pés
dar em casa. Não poderia deixar de ir para a escola.
raquete de madeira. Uma dupla de cada lado da
praticantes ou ex-praticantes da modalidade. “Por
o calor do chão aumentar, bate no ouvido o som
Seguir o sonho dourado de vestir a camisa de um
quadra, dividida por uma rede com um metro de
ser um esporte amador e não muito difundido pelo
da galera gritando “Betinho! Betinho! Betinho!”.
grande clube e pisar no tapete verde do Maracanã
altura. A regra do jogo é simples: existe a zona de
Brasil, essa crescença não se torna muito acen-
Escuta junto a voz de José SIlvério narrando todos
se tornou impossível, principalmente com tantas
saque e a área onde a bola deve cair. Cada erro
tuada em detrimento a esportes mais populares
os seus movimentos enquanto olha o gol. Chuta.
decepções. “Eu já tentei fazer teste no Santos, mas
conta ponto para o adversário. São três sets de dez
e similares ao tamboréu, tais como o tênis, fres-
É gol. Roberto grita em comemoração enquanto
não deu nada certo. Lembro que o treinador nos
pontos cada um. Assim é o tamboréu.
cobol e squash, mas não deixa de ser um esporte
sai correndo, de braços abertos, ao som da torcida
mandou correr muito, até ficarmos bem cansados,
Há 41 anos, a Liga Santista de Tamboréu man-
em crescimento, um dos motivos que inserimos
que grita e canta enlouquecida. Os colegas de time
e então começar um jogo experimental. Acontece
tém uma parceria com a Terracom e promove o
novas categorias no torneio para incentivar a garo-
começam a rir da comemoração exagerada, dão
que, em vez de me colocar para jogar quando ti-
Torneio A Tribuna/Terracom de Tamboréu, fazen-
tada”. Por influência do pai e de toda a família que
três tapinhas em suas costas e vão pegar a bola
nha “olheiros”, o treinador preferiu escalar um so-
do do esporte um dos destaques da orla santista.
é adepta ao esporte, William Fernandes começou
muito velha, que foi do tio de alguém, no meio
A idéia é incentivar cada vez mais as pessoas a pra-
a praticar o tamboréu aos 16 anos. “Eu só queria
da rua, já que esse último chute foi muito forte,
ticar e valorizar o esporte amador, principalmente
saber de jogar futebol, que é o que acontece com
mesmo para os pés descalços. Ele ri e desperta do
banco jogavam. Foi bem humilhante! Perdi a von-
o tamboréu, esporte com DNA santista. Ao todo,
a maioria dos brasileiros até hoje” diz.
sonho de Maracanã.
tade de correr atrás desse jeito. Tenho que ajudar
brinho de alguém importante no clube. O garoto não jogava nem a metade do que os meninos do
o torneio é composto por 75 duplas, reunindo em
No início, Wiliam aprendeu praticamente sozi-
Roberto de Souza tem 18 anos e cursa o ensi-
em casa, não tenho tempo e nem a disponibilidade
torno de 223 atletas na competição. O torneio ini-
nho, já que seu pai também tinha iniciado pouco
no médio no turno da noite. À tarde, trabalha no
financeira de aceitar esperar a boa vontade de me
ciou no dia 26 de novembro e segue até o mês de
antes que ele. “Passado alguns meses do início da
Lava à Jato Park, que fica na rua Uruguai. Pela ma-
escalarem”, contou Roberto. Mas isso não significa que a paixão pelo futebol sumiu.
dezembro. O A Tribuna/Terracom foi dividido em
prática, passamos a procurar por pessoas de nos-
nhã, ele e seus amigos jogam futebol na rua. Times
cinco categorias: “A”, “B”, “C”, “D” e “FEMININO”.
sa relação que já jogavam tamboréu. Foi quando
demarcados como “sem camisa” x “com camisa”
De acordo com Márcio Rodrigues Alves, da Liga
acabamos entrando de sócios em uma barraca de
e, uma bola velha. Não é necessário muito para o
Santista, nesta 41ª edição, o torneio traz novidaNa foto, Alexandre Barbieri observa lance da final des com novas categorias. SãoSantista elas: o em sub-12, do Campeonato 1989 sub-
praia no canal 1, chamada Libertário. Depois de
jogo mais moleque que existe. Foi na rua que Ro-
Foi em um dos jogos inter-ruas, jogando com
alguns anos fiquei sabendo que no passado exis-
berto conheceu os amigos, com quem criou o time
o “Cobrinhas” que Roberto viu sua chance. Apesar
14 e sub-16, totalizando em torno de 40 duplas.
tiram grandes jogadores de tamboréu nesta barra-
dos “Cobrinhas” e que desde muito novo vem par-
de terem perdido de lavada (oito à dois pro outro
© Foto Reprodução
REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR
COM UNIFORME E CHUTEIRA
Modalidade esportiva das praias de Santos, ainda é pouco divulgada internacionalmente
Tamboréu, o esporte de DNA santista conquista o mundo
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© Fotos reprodução
A Chance
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Futebol de rua ganha Copa do Mundo SUCESSO TOTAL
SOLIDÁRIO
o 7 Surf Odonto MOVIMENTA A PRAIA DE MARESIAS
CORRIDA
A festa em comemoração ao mês do Dentista prestigia um dos esportes mais difundidos na região, com a participação de mais de mil pessoas
COM SOLIDARIEDADE E RESPEITO
Texto Bruno Quiqueto Foto Max Plini
O Biathlon Atletas Solidários é a maior prova da modalidade no Brasil. O circuito é um teste de força e habilidade, mas também é uma demonstração de solidariedade Aline Monteiro
Não se sabe se foi a música, o sol, a água,
do Gonzaguinha ficou animada com familiares
os atletas ou o suor o responsável por deixar
e amigos posicionando máquinas fotográficas.
no ar a vontade de nadar e correr junto com os participantes do VI Circuito de Biathlon Atletas Solidários. A certeza era que o desejo de praticar esporte e ajudar o próximo podia ser percebido nos gestos e olhares dos participantes e da equipe de organização do evento.
Enquanto as frutas e a água eram dispostas na linha de chegada, as equipes começavam a cair na água, do outro lado da avenida Antônio Rodrigues. No mar, os surfistas e canoístas remaram 500 metros. Os demais participantes também en-
Atletas profissionais, amadores e com ne-
frentaram o mesmo percurso, mas com braçadas
cessidades especiais se reúnem todos os anos,
de natação. Três quilômetros de pedestrianismo
doam brinquedos nas inscrições e se movimen-
encerraram a prova. Já as crianças nadaram 200
tam na terra e na água para tornar mais alegre o
metros e correram apenas um quilômetro.
Natal das crianças carentes. “Nas outras etapas
Antes de qualquer classificação, a recompen-
os atletas doam cestas básicas”, afirma o organi-
sa podia ser aproveitada por todos: uma tenda
zador Paulo Marques de Oliveira.
de massagistas atendia, gratuitamente, os com-
A boa organização garantiu o desempenho dos participantes das categorias de canoagem,
petidores e quem mais estivesse por perto com vontade de relaxar os músculos.
surf masculino, feminino, infantil e dos portadores de necessidades especiais. Foram mais de
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Integração social
500 inscritos que doaram cerca de oito mil brin-
A preocupação social não acontece somente
quedos. A última etapa do circuito foi realizada
no momento da inscrição. Os alunos das escolas
no dia 26 de outubro, em São Vicente. A praia
municipais de educação especial Anayr Navarro
© Fotos reprodução
Circuito de Biathlon esbanja solidariedade
Infraestrutura precária atrapalha a prática esportiva 40 gramas: o peso leve do frescobol Clássico da terceira idade conquista o mundo Há 68 anos, o futebol de várzea encantava a população Triatleta cadeirante supera as adversidades 190 milhões de brasileiros. Onde estão nossos atletas?
ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
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36 6 12 22 28 40 52
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Dentistas surfistas lotam Maresias
Doping Genético: ficção científica ou realidade?
Ultraleves perpetuam o sonho de Santos Dummont Amador ou profissional, todos são esportistas
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A busca do corpo perfeito faz amadores utilizarem do doping
Tempos felizes virão, com o investimento no esporte
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BALANÇO
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Onde está
o esporte no Litoral Norte? Quanto mais distante das grandes cidades, menores são os investimentos nos setores esportivos Texto Bruno Quiqueto Em 2007, o Brasil foi sede dos Jogos Pan-
O que se vê no litoral é um conjunto de obras
americanos. Grandes obras foram feitas e pro-
e estruturas entregues há pouco tempo, como
messas realizadas pelas autoridades brasileiras,
quadras e pistas de skate. “Temos um problema
mas a realidade está bem longe da que vimos
que é a distância entre os bairros. Procuramos
pela televisão.
atender a todas as necessidades. Praticamente
É só nos afastarmos dos grandes centros que
cada praia possui uma área para a prática de
percebemos à falta de investimentos no setor.
esportes”, declarou Raquel Buzi, secretária de
Em Bertioga, um ginásio localizado no centro
esportes do município de São Sebastião. “Divi-
da cidade e a sede da prefeitura são as únicas
dimos a cidade em três áreas: o Centro, a Costa
estruturas à população. A distância e a centra-
norte e a Costa Sul”, acrescenta. Pelas contas da
lização das instalações prejudicam o acesso aos
prefeitura, aproximadamente cinco mil pessoas
treinos. Em São Sebastião, várias obras estão em
passam pelas instalações a cada mês.
andamento e algumas foram entregues recentemente, mas praias como Camburi e Boiçucanga,
São Sebastião
não possuem uma simples quadra de futebol.
O complexo esportivo da prefeitura, o Centro de Apoio Educacional, é um projeto criado
Contraste
pelo atual prefeito Juan Garcia, que fornece aos
Percorrendo o Litoral Norte de São Paulo
usuários duas quadras poliesportivas, uma pis-
pela Rodovia Manoel Hypólito do Rêgo (Rio-
cina semi-olímpica e pistas de bocha e malha. O
Santos) é fácil observar o contraste. Basta
problema encontrado pela secretaria de espor-
olharmos os grandes condomínios, com qua-
tes era a falta de professores de Educação Física
dras de basquete, vôlei, futebol e tênis, para
concursados suficientes para abranger toda a
crermos que nossa política esportiva está
região. A prefeitura fez um acordo com a ONG
muito longe daquilo que se espera de um país
AlNorte – Ambiental Litoral Norte, que disponi-
que almeja sediar os Jogos Olímpicos de 2016.
biliza, através do Projeto Movimento, profissio-
Nos 168 quilômetros que separam a cidade de
nais para atuarem nos locais mais distantes.
Santos a São Sebastião, não existe sequer uma pista de atletismo qualificada para treinos, e
Área diferenciada
nem se pensa em ginástica olímpica.
Na Rua da Praia, a população tem acesso a
© Foto 1 Ilustração digital | Jeifferson Moraes
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SE R V I ÇO
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Secretaria de Esportes (SEESP) de São Sebastião , está localizada na Rua Euclides de Mattos, 220, no bairro Varadouro, telefones (12) 3892-6257 e 3892-2062, e-mail seesp@saosebastiao.sp.gov.br A Escola de Vela de São Sebastião fica na Avenida Manoel Hipólito do Rego, 210, Praia Deserta, São Sebastião, telefone (12) 3892-2106. Prefeitura de Bertioga, Rua Luiz Pereira de Campos, 901, Vila Itapanhaú, telefone (13) 3319-8000
Quadra à margem da rodovia pertencente a Barequeçaba
Escola de Vela de São Sebastião
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Mapa meramente ilustrativo
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duas quadras de tênis, um campo de futebol de areia, uma quadra poliesportiva e uma academia destinada à terceira idade, além de abrigar a maior pista de skate da América Latina. Também foi construído no Itatinga, bairro da Topolândia, população mais carente do município, um campo de futebol, uma quadra e uma pista de skate. “Temos que utilizar o clima da região para atrair a população à prática esportiva. A praia é um grande atrativo para esportes
Centro de Apoio Educacional - CAE - São Sebastião
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aquáticos como o surf e a vela”, disse Raquel. “Aqui era uma lama, uma vala. Agora está ótimo. As crianças brincam até a meia noite”, comenta Sabrina, moradora da Topolândia. Apoio bancário Rodrigo Fontana Ventura Alves, 26, formado em Educação Física e nascido em São Sebastião, é professor de um projeto que foi implantado com o apoio do Unibanco e que cresce a cada ano, a Escola de Vela de São Sebas-
Único ginásio público de Bertioga, no centro da cidade
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tião. Instalada em uma área que privilegia os esportes náuticos, a instituição recebe diversos alunos. A escola também oferece salas para oficinas de consertos de barcos e cursos profissionalizantes do SENAI. Fontana veleja desde os quinze anos de idade, quando a escola era em outro lugar, “Ia de bicicleta todos os dias. Estudava durante a semana, e nos fins de semana sempre velejava das dez até cinco da tarde. Não ganhava nem um lanche”, reclama. Hoje, a escola tem capacidade para 60 alunos entre dez e quinze anos de idade. 80%
Única piscina de Bertioga, localizada no Paço Municipal
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destes são da rede pública de ensino. Todos ganham no mínimo uma alimentação diária. Os cursos de vela têm duração de seis meses e os alunos que mais se destacam dentro e fora das águas são selecionados para treinos mais fortes com o intuito de disputar competições. “Todo ano pegamos pelo menos oito destaques aqui na escola. Temos até título mundial conquistado por alunos daqui”, conta Fontana. Para tentar minimizar o custo dos atletas que defendem a cidade nos jogos oficiais, a prefeitura via-
Pista de Skate em construção na orla de Boiçucanga © Fotos Bruno Quiqueto | Foto 2 Ilustração Digital | Jeifferson Moraes
biliza uma verba para o transporte.
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Investimentos
crianças na prática esportiva. “Quando a criança
De acordo com a Secretaria de Esportes,
sai da quarta série para a quinta, ela perde o di-
foram investidos em 2007 cerca de R$ 10 mi-
reito de freqüentar a piscina, aí é que se perde
lhões, distribuídos nas reformas e construções
o estímulo para o esporte. Temos que aprovei-
de espaços esportivos (cobertura de quadras,
tar tudo que a região oferece”. Brás ensina os
CAEs e primeira piscina municipal). Neste ano,
estudantes da primeira à quarta série a nadar.
a prefeitura tem uma previsão orçamentária
“Atendemos duas mil crianças aqui. Devería-
de R$ 5,4 milhões.
mos ter pelo menos mais duas piscinas dessas
Segundo informações do IBGE, obtidas atra-
e descentralizar as instalações. Todos os bairros
vés do Censo 2000, São Sebastião possui 4.582
deveriam ter quadras apropriadas”, comenta o
crianças residentes no município, com faixa etá-
professor.
ria entre zero e três anos. O município de São Sebastião abrange 33 praias e acomoda uma co-
Escolas sem esporte
munidade de 75 mil habitantes.
Os alunos do ensino fundamental da rede municipal de Bertioga não possuem Educação
Bertioga
Física na grade escolar, sendo a natação semanal
Com uma população aproximadamente de
o único incentivo esportivo para as crianças. São
31 mil habitantes, a situação é bem diferente
os próprios professores da rede de ensino que
em Bertioga. O departamento de esportes é ad-
auxiliam na educação física. “Com todo respei-
ministrado no ginásio do centro da cidade, a úni-
to aos professores, eles não estão qualificados
ca instalação pública do município, que recebe
para isso”, declarou Brás. Na sede da prefeitura
modalidades como futebol de salão, vôlei e ka-
estão localizadas as instalações para a prática de
ratê. “A quadra não possui marcação para a prá-
jiu-jítsu, boxe e a piscina semi-olímpica.
tica de basquete. Como pode o pessoal pintar
A prefeitura tenta suprir essa ausência de in-
uma quadra e esquecer das linhas do basquete?
centivo, transportando as crianças para a prática
Depois querem que a gente ensine de que jeito?
de natação na piscina construída no paço muni-
Nos jogos estudantis do município a modalidade
cipal, onde a equipe de professores esportivos é
não é nem disputada”, reclama Diogo Chimente
terceirizada.
Orlando, professor concursado da rede Estadual (Escola Belegardi) de Ensino de Bertioga. O pro-
Nocaute na falta de estrutura
fessor cita que o restante das quadras está nas
Treinados pelo professor que prefere ser cha-
escolas e só algumas são cobertas.
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mado apenas pelo apelido de “Didi”, os alunos
Segundo o educador, há falhas na adminis-
de boxe de Bertioga possuem uma sala de trei-
tração esportiva da cidade. “O vôlei é só para
namento e um ringue para que possam realizar
terceira idade, o handball é praticado no período
algumas lutas. Didi, também técnico da seleção
da tarde, quem estuda no mesmo período não
feminina do Brasil, promove um trabalho volun-
pode treinar. O futsal é que tem todo respaldo”.
tário na cidade e tem mais de 60 alunos. Sua
Já para Silvio Cesar Brás, o “Cabeção”, professor
equipe feminina foi a terceira colocada no últi-
de Educação Física contratado pela prefeitura de
mo campeonato mundial e seu centro de boxe
Bertioga, a deficiência está na continuidade das
é o único da região do litoral norte. “As portas
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INFORMANDO CIDADES PESQUISADAS
PRAIAS BERTIOGA
Didi, professor de boxe de Bertioga, técnico da seleção feminina brasileira. Possui mais de 60 alunos e realiza trabalho voluntário estão abertas para todo mundo. Além do boxe, o aluno aprende muita coisa comigo”, declara Didi, que lutou 300
Enseada com 12 km de extensão. São Lourenço, 4,5 km. Itaguaré, 3,5 km com faixa de areia dura e larga. Guaratuba, 8 km. Boracéia, 4,7 km
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31
vezes, conquistando 266 vitórias por nocaute, um empate e apenas uma derrota. “A gente fica chateado porque
Apesar de alguma melhora, é claro o descaso com o esporte em toda região. O número de crianças e adolescentes que se envolvem com drogas é muito grande. Vários professores e voluntários tentam realizar um trabalho que venha a gerar resultados de alto nível. Um país que almeja obter bons resultados em competições de prestígio não pode se dar ao luxo de deixar uma enorme
BERTIO GA
Descaso
SÃ O SEBASTI ÃO
falta mais apoio dos caras (políticos) por aqui”.
área sem um único centro olímpico. O que se vê é a falta de estímulo à prática esportiva, e a degradação de uma juventude com um enorme potencial. © Foto Bruno Quiqueto
HABITANTES EM MILHARES FONTE: CENSO IBGE 2000
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PAIXテグ DAS AREIAS
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Sol, boné e raquete
FRESCOBOL É TRADIÇÃO DAS PRAIAS Criado no século 20, no frescobol, dois jogadores interagem para que a bolinha não caia no chão. Com cumplicidade, sem rivalidade Texto Aline Monteiro
O barulho da bolinha na raquete estimula a
siderados jogadores profissionais, tornando-se
dupla a girar e pular para não deixar a esfera azul
aptos a participar de competições em torneios
cair na areia. As duplas jogando frescobol podem
de outros Estados. O objetivo é construir o
ser vistas constantemente nas praias. Geralmen-
ranking paulista de 2008, distribuindo aos
te são atletas de fim de semana, que aproveitam
finalistas uma quantia de R$ 5.000, dividi-
a brisa do mar para praticar alguma atividade físi-
dos por categorias e colocações.
ca. Há quem não encare o frescobol apenas como uma brincadeira. Estes desafiam o efeito da gravi-
Ainda não levado à sério
dade para realmente manter a bolinha no ar, em
A demonstração da falta de incentivo ao es-
disputas com outras duplas.
porte na região foi a finalização da Etapa Feminina
No último fim de semana de agosto, joga-
Open. A dupla Cleyde (São Vicente) e Claudinha
dores amadores, profissionais e crianças com
(Santos) consagrou-se no torneio simplesmente
vontade de aprender mais sobre o esporte,
porque foi a única inscrita na modalidade. Outra
se reuniram na arena montada pela Federa-
categoria já definida foi a masculina-amador com
ção Paulista de Frescobol (FEPAF) na praia do
a vitória da dupla Wellington e Jacó (Peruíbe) nas
Gonzaguinha, em São Vicente. Lá aconteceu
duas etapas realizadas.
a segunda etapa do Circuito Paulista de Fres-
Milton Vieira Santana, presidente da FEPAF,
cobol com atletas de Santos, São Vicente, Ita-
afirma que a falta de estímulo não é um problema
nhaém, Peruíbe, Ilha Bela, Praia Grande e da
só da Baixada Santista. “O frescobol é um esporte
capital de São Paulo. Já nos dias 27 e 28 de se-
jovem, visto do ponto de vista organizacional. Em
tembro, ocorreram as disputas profissionais na
2003 começamos a analisar as apresentações na
final do Circuito, nas modalidades masculina e
busca de estatísticas para então diferenciarmos
mista, e infantil amador. Os primeiros coloca-
os estilos entre as duplas.” A FEPAF organiza clíni-
dos da categoria amador passaram a ser con-
cas para incentivar a prática do frescobol. “Leva-
© Foto Aline Monteiro
40g BOLINHA
Esse é o peso aproximado de uma bolinha de frescobol. Fabricada em diversas cores, a azul é a mais utilizada pelos jogadores
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mos instrução para quem gosta ou não conhece
dinâmica a bolinha para passá-la ao parceiro.
o esporte. Sem deixar de trabalhar a filosofia exis-
Santana acredita que é o companheirismo exis-
tente no jogo”, afirma Santana.
tente no frescobol que faz com que as pessoas da Federação sejam bem recebidas nos lugares
Rivais, mas companheiras
onde as clínicas são aplicadas. “A lealdade en-
Santana joga frescobol há 23 anos, e comenta
tre os jogadores pode ajudar na educação mo-
a reação do público que desconhece as regras do
ral das crianças”, afirma.
esporte ao presenciar um jogo. “Muitas pessoas acreditam que as duplas são rivais. Ficam indig-
Arena Montada
nadas quando, depois de uma seqüência for-
As regras rígidas e diferenciadas fizeram com
te, um dos jogadores pede desculpa por ter
que a arena profissional, montada no Gonzagui-
rebatido a bola para o outro com um lance
nha, recebesse os jogos sob olhares atentos de
difícil”. Poucos percebem que se uma dupla
pelo menos quatro árbitros. As apresentações das
de frescobol fosse composta de jogadores
duplas podem durar até 300 segundos, quando
rivais, a prática seria impossível, pois neste
não há interrupções de bolas que caem no chão,
jogo o intuito não é fazer com que a bola caia
no corpo do atleta ou são tocadas erroneamente
no chão. No frescobol, o mérito é manter a
duas vezes pela raquete. O número de pontos de
bolinha no ar o maior tempo possível. Para
cada dupla é comparado com as demais, é dessa
Santana, o melhor do esporte é sentir a enor-
forma que as duplas se classificam.
me satisfação de dominar com toda força e
Longe dos olhos dos árbitros, as duplas in-
CONHEÇA OS ESTILOS DO FRESCOBOL ESTILO LIVRE
NÍVEL DE DIFICULDADE
Os jogadores mantém a bola no ar pelo maior tempo possível. ESTILO VELOZ
NÍVEL DE DIFICULDADE
É vencedora a equipe que, durante um minuto, executar o maior número de toques na bola. ESTILO RADICAL
NÍVEL DE DIFICULDADE
Os jogadores mantêm a bola no ar pelo maior tempo possível. Devem também realizar a maior quantidade possível de ataques por atleta, sendo estes: potentes, precisos e em ambos os lados. ESTILO ESPECIALISTA Os jogadores mantêm a bola no ar pelo maior tempo possível. Devem definir um especialista em defesas e outro em ataque. Os especialistas em ataque devem executar a maior quantidade possível de ataques, sendo estes: potentes, precisos e em ambos os lados. 14
REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR
NÍVEL DE DIFICULDADE
fantis despendiam raquetadas sem se preocupar com os erros cometidos ao lado da arena profissional. Uniformizadas de amarelo, as crianças da Associação dos Amigos e Moradores das Áreas Verdes de Itanhaém (AAMAVI) jogavam atrás da arena para evitar o olhar dos transeuntes. Jaime Roberto da Silva Andrade Júnior e Clara Novaes, de 12 e 13 anos, aproveitam a segunda etapa do Circuito para treinar. “Atrás da arena é melhor pra jogar, a gente não se desconcentra”, comenta Clara, que mostra timidez até mesmo para as fotos. Júnior conta como começou a praticar frescobol. “Eu jogava futebol de salão. Um dia eu estava na praia e vi o pessoal jogando. Fiz a inscrição para a categoria infantil e treinei pouco antes da primeira apresentação.” Júnior se deu tão bem com o esporte que, na primeira etapa do Circuito, garantiu o vice-campeonato na categoria infantil, e a quarta colocação na categoria amador-misto.
Depois de trocar o futebol de salão pelo frescobol, Júnior exibe as medalhas conquistadas no torneio © Fotos Aline Monteiro
INFORMANDO PARCERIA
“Frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca.”, diz o psiquiatra Ricardo Nogueira
BRISA C ARIOC A A naturalidade com que Júnior encarou a primeira disputa de frescobol parece ser transmitida pelo próprio esporte. O frescobol começou nas areias das praias cariocas, no ano de 1945. O esporte evoluiu da prática do tênis nas praias, e como a maresia estragava as raquetes, passou-se a utilizar raquetes de madeira. A década de 80 contou com muitas disputas isoladas de frescobol, mas só mesmo em 1994 foi realizado o I Circuito Brasileiro de Frescobol, disseminando a prática do esporte por outros estados do país. Hoje os campeonatos mais conhecidos são disputados nos estados de São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Para que uma prática seja considerada uma categoria esportiva deve possuir federações, confederações e campeonatos com regras institucionalizadas. E é por isso que o frescobol, embora não seja um esporte olímpico, é oficialmente considerado um esporte. Quem explica a situação do frescobol como categoria esportiva é a professora da Faculdade de Educação Física e Esporte (Fefesp), Carla Luguetti. “Existem esportes de rendimento, de lazer e educacionais. A atuação em uma dessas categorias é atribuída à forma com que o esporte é praticado pelos atletas. Embora existam muitas pessoas que treinam para adquirir melhor desempenho no frescobol, – o que caracteriza um esporte de rendimento – a maioria ainda o pratica como esporte de lazer.”
Crianças da Associação dos Amigos e Moradores das Áreas Verdes de Itanhaém treinam jogadas na praia do Gonzaguinha ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
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PRATA DA CASA
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REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR
Tamburello, tambor, tamboréu... Modalidade esportiva com DNA santista, ainda é pouco divulgada internacionalmente Texto Gabriela Aguiar Dia de sol em uma orla bem movimentada. O
Divulgação
céu azul reflete no mar de águas escuras e agita-
Hoje a procura pelo tamboréu vem crescendo
das, produzindo a sensação da imensidão. Muitas
a cada ano, com a inserção de novos atletas ao
pessoas aproveitam o domingo de folga. Nas areias
quadro de filiados da Liga Santista de Tamboréu.
próximas ao mar ouve-se o som da bolinha sob a
Segundo Rodrigues, o incentivo vem dos pais já
raquete de madeira. Uma dupla de cada lado da
praticantes ou ex-praticantes da modalidade. “Por
quadra, dividida por uma rede com um metro de
ser um esporte amador e não muito difundido pelo
altura. A regra do jogo é simples: existe a zona de
Brasil, essa crescença não se torna muito acen-
saque e a área onde a bola deve cair. Cada erro
tuada em detrimento a esportes mais populares
conta ponto para o adversário. São três sets de dez
e similares ao tamboréu, tais como o tênis, fres-
pontos cada um. Assim é o tamboréu.
cobol e squash, mas não deixa de ser um esporte
Há 41 anos, a Liga Santista de Tamboréu man-
em crescimento, um dos motivos que inserimos
tém uma parceria com a Terracom e promove o
novas categorias no torneio para incentivar a garo-
Torneio A Tribuna/Terracom de Tamboréu, fazen-
tada”. Por influência do pai e de toda a família que
do do esporte um dos destaques da orla santista.
é adepta ao esporte, William Fernandes começou
A idéia é incentivar cada vez mais as pessoas a pra-
a praticar o tamboréu aos 16 anos. “Eu só queria
ticar e valorizar o esporte amador, principalmente
saber de jogar futebol, que é o que acontece com
o tamboréu, esporte com DNA santista. Ao todo,
a maioria dos brasileiros até hoje” diz.
o torneio é composto por 75 duplas, reunindo em
No início, Wiliam aprendeu praticamente sozi-
torno de 223 atletas na competição. O torneio ini-
nho, já que seu pai também tinha iniciado pouco
ciou no dia 26 de novembro e segue até o mês de
antes que ele. “Passado alguns meses do início da
dezembro. O A Tribuna/Terracom foi dividido em
prática, passamos a procurar por pessoas de nos-
cinco categorias: “A”, “B”, “C”, “D” e “FEMININO”.
sa relação que já jogavam tamboréu. Foi quando
De acordo com Márcio Rodrigues Alves, da Liga
acabamos entrando de sócios em uma barraca de
Santista, nesta 41ª edição, o torneio traz novidaNa foto, Alexandre Barbieri observa lance da final des com novas categorias. SãoSantista elas: o em sub-12, do Campeonato 1989 sub14 e sub-16, totalizando em torno de 40 duplas.
praia no canal 1, chamada Libertário. Depois de
© Foto Gabriela Aguiar
alguns anos fiquei sabendo que no passado existiram grandes jogadores de tamboréu nesta barra-
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COMPETIÇÃO
O torneio Terracom / A Tribuna, composto por 75 duplas, reunindo em torno de 223 atletas na competição, segue até o mês de dezembro
ca, pena que não recordo os nomes”, diz William.
Ribeiro Fernandes. Ele participa desde 1981
William sentiu a necessidade de crescer e procu-
do torneio, quando ainda fazia parte da ca-
rar novos desafios. Passou por mais dois clubes
tegoria infantil. Nesta época, Maurício foi Tri-
e atualmente joga pelo Internacional de Regatas,
Campeão (1983/1984/1985). Já nos três anos
onde está há quase 10 anos. “O Inter me permitiu
seguintes, o tamborelista repetiu o feito, mas
ganhar praticamente todos os principais torneios
na categoria juvenil.
da modalidade, devido ao alto nível técnico dos
Fernandes começou a jogar tamboréu aos 10
atletas, e certamente foi onde eu mais aprimorei a
anos na escolinha do Clube Portuários. Seu pai
técnica do esporte”, declara. Como atual campeão
foi quem inaugurou a escolinha para a prática
do A Tribuna/Terracom, William participa do tor-
do esporte no clube. Atualmente, ele se dedica
neio novamente para garantir o Bi-Campeonato.
mais ao Torneio TV Santa Cecília. “Hoje é o tor-
Atualmente ele joga na categoria A, junto com
neio com mais glamour no calendário do tam-
seu parceiro Fabian Pires. “Jogo com o Fabian há
boréu, e tem o mesmo formato do A Tribuna,
aproximadamente seis anos, certamente é o me-
mas este ano vou fazer força, por que faz um
lhor parceiro de tamboréu com quem joquei. É um
tempo que não chego na final”. Funcionário da
jogador que possui seis títulos de campeão brasi-
Indústria Química Carbocloro, Fernandes vê no
leiro, e outros tantos de outras competições.”
tamboréu uma maneira de se divertir fora do
As regras do torneio funcionam da seguinte
trabalho, além de viver uma vida saudável.. “O
forma: depois de inscritos, pagando a taxa no va-
tamboréu não me rende absolutamente nada,
lor de R$25,00 mais um kilo de alimento não pe-
jogo porque gosto, e isso acontece com todos os
recível, todos os participantes são divididos em
tamborelistas que existem no país.”
suas respectivas categorias. As partidas são reali-
O tamboréu já teve seu auge, nas décadas
zadas aos sábados e domingos, e alguns feriados.
de 60 a 80, chegando a ter 900 atletas prati-
A orla da praia é o palco de todas as partidas. Os
cantes nas competições. Já no fim da década
horários dos jogos iniciais são às 8h15.As duplas
de 80, o esporte entrou em queda. No auge,
classificadas do 1º ao 3º lugar serão premiadas
faltou uma administração que se preocupasse
com troféus e medalhas. Na segunda rodada do
com o crescimento do esporte, diz Maurício.
torneio, Wiilian Fernandes e sua dupla Fabian
“Eles achavam que o esporte estava bom, mas
Pires, viraram o jogo contra Wilson Gomes e Ed
todos nós envelhecemos e continuamente as
Neves, e passaram para a próxima fase, já que
administrações passavam e esqueciam da re-
haviam vencido o primeiro jogo. Eles assegura-
novação. Muitos já pararam, ou até morreram,
ram a vaga para as semifinais e vão em busca
e falta molecada no esporte”. O tamborelista
do Bi-Campeonato. A dupla ganhou o jogo com
venceu mais de 200 torneios desde o infantil,
parciais de 12/10, 5/10 e 4/10.
até hoje. Dois são muito especiais para ele. O Torneio Pais & Filhos, e também o título de
Destaque Internacional
campeão internacional, além de ter sido con-
Outra presença importante na competição
siderado o melhor atleta da competição na
é o atual campeão Internacional, Mauricio 18
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sua categoria. © Fotos Gabriela Aguiar e divulgação
Acima, com o término da partida, o irmão do atleta amador Guilherme Mendes, domina a quadra; e os dois tipos de raquetes para a prática do esporte. Abaixo, final do Campeonato Estadual de Equipes de Saibro no Inter, em 2004, com William Fernandes (o segundo na foto)
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COMPETIÇÃO
“O tamboréu não me rende absolutamente nada, jogo porque gosto, e isso acontece com todos os tamborelistas que existem no País”
Experiência
nas praias, sem quadra ou rede. Com o tempo
O tamboréu é um esporte de muita histó-
vieram as quadras, com 20, 18 e por fim 17
ria, e quem a conta é Seu Jaime, de 88 anos.
metros, que é o tamanho atual. A rede usa-
Ele começou há jogar três anos após o surgi-
da a princípio era a de tênis, hoje já existem
mento, e ainda tem muito fôlego para praticar
aquelas feitas exclusivamente para o esporte.
tamboréu. Os amigos dele até brincam: “Já
Os locais para a prática são muitos - San-
separamos ternos, compramos flores, mas de
tos, São Paulo, Campinas, Santo André, Brasí-
plástico né, porque as de verdade já estraga-
lia, São Sebastião, e até a Europa. França, Itá-
ram várias vezes, isso tudo pra ver se ele mor-
lia e Alemanha são exemplos de lugares onde
re e larga do nosso pé aqui. Mas o velho está
há a prática do “tamburello”, nome dado ao
firme e forte e, jogando muito tamboréu”,
tamboréu fora do Brasil.
riem os colegas de quadra.
O tamboréu não tem idade para ser prati-
Para quem pensa que tamboréu é esporte
cado. De acordo com a Liga Santista, tão logo
de terceira idade, está muito enganado. Gui-
se tenha a coordenação motora apurada, po-
lherme Mendes é um dos exemplos dos jovens
de-se dar início ao tamboréu como uma “brin-
no esporte e na competição. Raça, vontade e
cadeira”. O processo muda se o interesse é se
determinação, são características de seu jogo.
tornar um atleta de competição.
Após vencer uma de suas partidas com apoio
“Existe a necessidade de uma técnica
de seu companheiro, cerca de quarenta anos
mais aprofundada. Como varia de atleta
mais velho que ele, todos vibraram com a vi-
para atleta, de acordo com o seu biótipo,
tória inclusive seu pai e o irmãozinho que as-
mais a facilidade em adaptar-se ao esporte,
sistiam a partida.
não temos uma idade padrão”, diz Márcio
Com o término do jogo e a liberação da
Rodrigues Alves.
quadra na praia, percebe-se que os participan-
Clubes conhecidos, como o Internacional
tes do torneio gostam mesmo do que fazem.
de Regatas, Fluminense, Saldanha, Benjamin
Ficaram por lá, jogando agora por brincadeira,
Constant, Clube 2004, entre outras, fizeram a
mesmo com um sol de trinta e cinco graus. O
modalidade ainda mais popular na região. O
irmãozinho do Guilherme dominou a quadra.
grande número de clubes propiciou a funda-
Esse começou desde pequenininho.
ção da Liga Santista de Tamboréu. Além da prática do esporte nas praias, hoje
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História
o esporte se evidencia também nas quadras
O tamboréu nasceu por volta de 1937,
de saibro. Pode ser praticado na Capital e em
com a vinda de dois italianos, os Donadellis,
diversas cidades do Interior do Estado, porém
que trouxeram pandeiros de aro de madeira e
Santos permanece sendo a sede do tamboréu
tampa de couro, com cerca de 35 a 40 cm de
no país. Graças, principalmente, ao pioneiris-
diâmetro. Ficavam jogando uma bola, um para
mo dos irmãos Donadelli e a iniciativas, como
o outro, a distâncias de cerca de 100 metros,
o Torneio Popular A Tribuna/Terracom.
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© Foto Gabriela Aguiar
Seu Jaime, de 88 anos, começou a jogar tamboréu logo após 3 anos do surgimento do esporte
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MODALIDADE
HOMENS, MULHERES E CRIANÇAS SE APAIXONAM PELA BOCHA
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© Fotos Tatiana Ferraz e reprodução
INFORMANDO
A origem do esporte remonta a um jogo praticado no Egito e na Grécia com objetos de formas esféricas
REGRAS As canchas (quadras) devem ser cobertas, sem desníveis. As bochas devem ser de cores iguais entre si, que se diferenciam por time com 112 milímetros a 115 milímetros.
Texto Tatiana Ferraz A bocha rafa é um esporte pouco conhecido e muito praticado, tanto por homens quanto por mulheres. Luis Alberto de Lima, 51 anos, mais conhecido como Luisinho, é técnico de um time do Clube de Bocha do Orquidário. Para ele o esporte não é apenas para pessoas mais velhas. “Hoje a maioria dos jogadores das seleções são mais novos, é um esporte que sofre preconceito, mas assim a pessoa que experimenta não consegue mais parar”, afirma. Luisinho começou a brincar de bocha há 41 anos, atrapalhando o jogo dos adultos. Pegou gosto. Ele conta que antigamente se chovia, tinha que esperar secar uma semana para jogar novamente. As “bolas” eram de madeira. Hoje, a quadra é sintética e deve seguir um padrão, da Regra Oficial da Bocha. O jogo consiste em lançar as bochas e deixá-las o mais próximo possível do bolim (bola menor de metal que é lançada anteriormente). Cada time deve situar as bochas o mais perto possível do bolim ou distanciar as bochas do time adversário. Luis afirma que os jogadores diminuíram, por não haver apoio ao esporte, mas se anima. “Acredito que na próxima Olimpíada a bocha seja reconhecida”. As mulheres também se interessam pelo esporte, e para Luis esse reconhecimento é muito bom. O técnico declara que o time feminino foi vice-campeão estadual de
CURIOSIDADE
“Hoje a maioria dos jogadores das seleções são mais novos é um esporte que sofre preconceito, mas assim a pessoa que experimenta não consegue mais parar”
As partidas de campeonatos regionais, nacionais ou internacionais são disputadas a 12 ou 15 pontos conforme o regulamento de cada campeonato. Cada bocha deve ser lançada em no máximo 1 minuto, tempo observado pelo árbitro A 72 edição dos Jogos Abertos contou com o time de Santos. As competições acontecem em Piracicaba, que cedia os Jogos. O time de Santos perdeu para o time de São José dos Campos por 2 a 0. O time não está com muita sorte, no segundo jogo perdeu para o time de Piracicaba por 2 a 1. As competições de bocha aconteceram no SESI e no Centro Esportivo da Paulicéia. Algumas outras modalidades também fazem parte dos Jogos Abertos, como Atletismo, Biribol, Futebol, Canoagem, Tênis e Natação. Fonte: site oficial dos Jogos Abertos de Piracicaba.
bocha, e se sente feliz por não estar mais estereotipado como antigamente. Pode ter começado brincado e atrapalhando os maiores, mas hoje pode dizer que valeu a pena. Luis foi campeão estadual pelo clube Rio de Janeiro, venceu várias vezes o campeonato santista e também o de Praia Grande.
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RAÍZES
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© Fotos divulgação
PELADA COM UNIFORME E CHUTEIRA
A Copa do Mundo de Futebol de Rua mostra que todo jogador, antes de ir pro gramado, jogava bola na rua de casa Texto Amanda Albuquerque O brilho do sol é interrompido pela sombra da
ticipando em pequenas competições inter-ruas.
bola que vem alta em sua direção. Mata no peito
O sonho de se tornar o próximo Ronaldo sem-
e domina. Dois vêm em sua direção, um de cada
pre existiu em seu coração, mas a vida é difícil na
lado. Dribla um, a torcida vai à loucura. Dribla dois,
Vila Nova. Desde cedo teve que trabalhar para aju-
a torcida começa a gritar seu nome. Sente nos pés
dar em casa. Não poderia deixar de ir para a escola.
o calor do chão aumentar, bate no ouvido o som
Seguir o sonho dourado de vestir a camisa de um
da galera gritando “Betinho! Betinho! Betinho!”.
grande clube e pisar no tapete verde do Maracanã
Escuta junto a voz de José SIlvério narrando todos
se tornou impossível, principalmente com tantas
os seus movimentos enquanto olha o gol. Chuta.
decepções. “Eu já tentei fazer teste no Santos, mas
É gol. Roberto grita em comemoração enquanto
não deu nada certo. Lembro que o treinador nos
sai correndo, de braços abertos, ao som da torcida
mandou correr muito, até ficarmos bem cansados,
que grita e canta enlouquecida. Os colegas de time
e então começar um jogo experimental. Acontece
começam a rir da comemoração exagerada, dão
que, em vez de me colocar para jogar quando ti-
três tapinhas em suas costas e vão pegar a bola
nha “olheiros”, o treinador preferiu escalar um so-
muito velha, que foi do tio de alguém, no meio
brinho de alguém importante no clube. O garoto
da rua, já que esse último chute foi muito forte,
não jogava nem a metade do que os meninos do
mesmo para os pés descalços. Ele ri e desperta do
banco jogavam. Foi bem humilhante! Perdi a von-
sonho de Maracanã.
tade de correr atrás desse jeito. Tenho que ajudar
Roberto de Souza tem 18 anos e cursa o Ensi-
em casa, não tenho tempo e nem a disponibilidade
no Médio no turno da noite. À tarde, trabalha no
financeira de aceitar esperar a boa vontade de me
Lava à Jato Park, que fica na rua Uruguai. Pela ma-
escalarem”, contou Roberto. Mas isso não significa
nhã, ele e seus amigos jogam futebol na rua. Times
que a paixão pelo futebol sumiu.
demarcados como “sem camisa” x “com camisa” e, uma bola velha. Não é necessário muito para o
A Chance
jogo mais moleque que existe. Foi na rua que Ro-
Foi em um dos jogos inter-ruas, jogando com
berto conheceu os amigos, com quem criou o time
o “Cobrinhas” que Roberto viu sua chance. Apesar
dos “Cobrinhas” e que desde muito novo vem par-
de terem perdido de lavada (oito à dois pro outro
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EVENTO
“Estima-se que pelo menos 30.000 pessoas estão participando das seleções locais dos mais de 50 países que estarão na Austrália”
time), Márcio Alexandre Rodrigues Pereira, mais
O Chute
conhecido como Marcinho, atendendo ao pedi-
A Copa do Mundo de Futebol de Rua é um
do da Organização Civil de Ação Social (OCAS),
evento que já faz parte da agenda mundial há 5
foi até eles com a notícia que haviam sido sele-
anos e conta com apoio da Union of European
cionados como alguns dos melhores jogadores
Football Associations (União das Associações Eu-
do bairro e, que iriam para São Roque jogar por
ropéias de Futebol), da International Network of
uma vaga na seleção brasileira, que vai no fim do
Street Papers (Rede Internacional de Publicações
ano para Austrália competir pela taça da Copa
de Rua) e, também, dos órgãos oficiais da cidade
Mundial de Futebol de Rua, a Homless World
e do país que acolhem sua realização. Neste ano,
Cup. A princípio, os meninos não acreditaram
a seleção brasileira contará com o apoio do Sport
muito. Foi somente quando chegou a van, já na
Club Corinthians Paulista e da Nike.
estrada, que a informação bateu no peito com força: eles tinham outra chance.
A organização do time brasileiro, desde o evento de seleção até a viagem, é feito pela OCAS atra-
Viajar com o time de futebol deveria ser
vés de seus voluntários e parceiros. “Procuramos
divertido, pensava Roberto, mas descobriu
interessados em ajudar na preparação total do
que viajar com os amigos era ainda mais.
evento e nos responsabilizamos por levantar os re-
Conhecia Diego Emanuel, Anderson de Fran-
cursos e condições para que a equipe participe do
ça (o Cajuru), Carlos Magno (o Carlinhos), e
torneio, respeitando principalmente os critérios
Ricardo Mion. Cresceram juntos, o entrosa-
sociais definidos, uma vez que mais que um tor-
mento no campo era o mesmo que tinham
neio esportivo, a Homeless World Cup é um mo-
fora. Chegaram na sexta-feira à noite no ho-
vimento social que tem o futebol com meio para
tel e, apesar de saber que acordariam muito
transformar e resgatar vidas em todo o mundo. Es-
cedo no sábado, conversaram e festejaram a
tima-se que pelo menos 30.000 pessoas estão par-
noite inteira. Isso não comprometeu o fute-
ticipando das seleções locais dos mais de 50 países
bol na manhã seguinte.
que estarão na Austrália”, conta Guilherme Araújo,
Futebol de rua não é que nem os jogos
presidente da OCAS. Os parceiros cedem o que
profissionais, é um jogo de amigos e isso os
podem, o que inclui acomodações, alimentação
Cobrinhas podiam dizer que eram. Se Die-
e transporte. É o caso da Universidade Anhembi-
go, que é goleiro linha, saía do gol, Cajuru já
Morumbi, que apóia a preparação, e da Nike, que
ficava na defesa. Carlinhos podia prever os
entra com a doação de material esportivo.
passos do amigo e já se colocava na posição
Os patrocinadores dão o suporte financeiro.
para receber a bola alta. Já posicionado, era
Na maioria dos casos, ficam apenas com o pa-
só chutar para Betinho, que esperava para
gamento das passagens para fora do Brasil. Eles
cabecear o gol.
variam de ano em ano e, por esta razão são uma
Os outros times não tinham o histórico de amizade, que o futebol de rua exige como
preocupação constante para a OCAS e demais organizadores.
pré-requisito. Não teve outro resultado: os Cobrinhas ganharam, não só a primeira se-
O Gol
letiva, mas a chance da vida deles de serem
Marcinho, da Sociedade Melhoramentos da
jogadores de futebol.
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Vila Nova, foi o encarregado escolhido pela OCAS
© Foto divulgação
Os “Cobrinhas” jogadores de futebol de rua tentarão uma vaga no time de Marília, no interior de São Paulo por encontrar e selecionar os meninos de Santos
faz parte. Dessa maneira, a OCAS tornou-se a enti-
para formar a seleção brasileira. O trabalho de
dade responsável pela organização da equipe bra-
Marcinho vai além da educação física, da saúde
sileira. Tamanho foi o sucesso da iniciativa, que a
e do bem-estar da sociedade da Vila Nova, assim
Copa, hoje, é uma entidade independente, tendo
como as intenções da OCAS. “Amo meu bairro,
a INSP como grande parceira”, diz Guilherme Araú-
mas confesso que nossos meninos necessitam de
jo, presidente da OCAS.
acompanhamento. É muito difícil mantê-los nas
A seletiva para os meninos também não se
escolas e fora das ruas. O esporte é a melhor alter-
prende às habilidades no futebol. São levados em
nativa para evitar que eles entrem na marginalida-
consideração aspectos comportamentais. “Como
de e se tornem bandidos. O trabalho que faço na
é uma iniciativa de intuito social mais que espor-
Vila Nova tem esse intuito: ressocializar os meninos
tiva, temos a preocupação de analisar as atitudes
que, por alguma razão caíram no mundo do crime,
e reações dos meninos, até porque eles não são
e impedir que outros caiam. A Copa Mundial de
mais crianças. Trabalhamos o físico e o emocio-
Futebol de Rua tem exatamente o mesmo pensa-
nal, para que o trabalho de inclusão social seja
mento que eu, por isso me esforcei tanto para que
completo e sem falhas”, explica Marcinho.
meus meninos fossem para a seletiva”.
Mesmo trazendo a Taça do Mundo para casa, o sonho de jogar futebol não vai embora.
A meta
Depois de voltarem da Austrália, o time do Ma-
O objetivo da Copa é buscar participantes e
rília, no interior de São Paulo, estará esperando
organizadores, reunindo pessoas para promo-
por eles para fazerem um teste. Os que passa-
ver discussões sobre exclusão social e formas de
rem, serão jogadores profissionais. “Eu tenho
se combater a situação de pobreza. Foi com esse
um contato com o Marília e sugeri isso. Eles gos-
espírito que a Ong OCAS e a revista Ocas assumi-
taram da idéia, estão de olho na seleção desde
ram a responsabilidade de selecionar e organizar
então. Não queremos que joguem somente na
a equipe de futebol para participar do evento. “A
rua, queremos um futuro. O esporte sorriu para
Homeless World Cup foi idealizada e organizada
o futuro deles, devemos incentivar que corram
inicialmente pela INSP, uma organização que pro-
pelos seus sonhos e, é isso que estamos fazen-
move a comunicação de rua, a qual a Revista OCAS
do”, revela Marcinho. ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
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HISTÓRIA
HISTÓRIAS DE
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´QUASE´ ÍDOLOS Futebol dos campos de bairro era a sensação há 68 anos Texto Jordan Fraiberg Na região das ruas Lobo Viana, Conselheiro Nébias e o canal 4, onde o metro quadrado de construção é um dos mais caros de Santos, há quase um século ficavam os campos de várzea mais antigos da cidade. O Vila Hayden ocupava o terreno onde hoje se encontra a Universidade Santa Cecília. Já o Ipiranga, que é considerado o vovô da várzea, ficava do outro lado, separados pela rua Oswaldo Cruz, que hoje é um dos centros comerciais santista. Naquela época era comum ver os diversos times da cidade se defrontarem em algum campo do município. Onde os prédios gigantescos nem estavam sendo planejados para serem construídos. Era semi-final. Estávamos indo, juntamente com nossa torcida, para o campo do Barreiros em dois caminhões. Ia ser um jogo duro, pois a equipe adversária tinha os melhores jogadores da competição. O campo foi sendo rapidamente cercado pelos torcedores. Aproximadamente uns 600 deles estavam lá. Era um time muito popular. O campo não possuía arquibancada, naquela época a torcida ficava em volta de onde seria o jogo. O público era fervoroso, daqueles Vila Hayden F.C., com Gilmar dos Santos Neves (primeiro em pé do lado direito da foto)
fanáticos pelo time. Nossa torcida só tinha 40, se acontecesse algo eram 15 deles contra um nosso, era uma enorme desvantagem. Em uma
© Foto Reprodução
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CURIOSIDADE
“Até Armando Gomes narrava os nossos jogos à beira do campo”, comenta Jair Siqueira
jogada deles um torcedor acabou chutando a
dos 60 anos e agora vai ficando cada vez mais
bola para dentro do campo, lance que impidiria
difícil, o que vier é lucro. Quando chega nessa
a jogada e quase eles marcaram um gol. Fica-
idade, os problemas de saúde já estão surgindo,
mos revoltados. A torcida rival ficou nervosa e
alguns amigos da minha turma já morreram e eu
invadiu o campo. Todos nos cercaram, era joga-
queria lembrar do passado”, acrescenta o ex-são
dor, técnico, torcida e até mesmo quem estava lá
paulino.
só para assistir. Numa tentativa de sair daquela
“Só nos encontrávamos, o grupo todo, quan-
situação dois jogadores nossos sacaram armas
do morria alguém. Há três anos atrás eu disse:
calibres 38. Vimos os dois atletas girarem, vaga-
Porque nos encontramos só na desgraça? Vamos
rosamente, com a arma em punho, mirando em
nos encontrar também na alegria”, comenta Jair.
todos os que nos cercavam.
A partir disso, surgiu à idéia de duas vezes ao ano
Assim que acabaram de dar uma volta com-
reunir todos os ex-atletas da várzea santista. Na
pleta, a torcida e time sumiram num piscar de
primeira tarde que houve a reunião, Jair pediu
olhos. Era gente escalando bananeira, pulando
para que todos os seus amigos levassem fotos
muro, se cortando em espinhos e se atrapalhan-
da época em que jogavam. “Antes de acontecer
do todo para correr. Felizmente nenhum tiro foi
um segundo encontro, avisei antecipadamente
disparado e podemos voltar a salvo para casa.
para todos levarem mais fotos”, conta. Com as
Para nossa tristeza o jogo foi cancelado e per-
fotos em mãos, o ex-jogador começou a digita-
demos o jogo remarcado, com portões fechados
lizar e montar as fotos em painéis. “Foi um total
no Estádio da Portuguesa. Essas palavras são
sucesso, o pessoal adorou. Hoje tenho mais de
do ex-zagueiro Jair Leite Siqueira que explicou
200 fotos do futebol de várzea santista e ainda
como era um clássico na época áurea da várzea
mantenho meu site”, diz.
santista, nos anos 60. Os clubes e campeonatos Lembranças A várzea de Santos, nos moldes atuais, co-
pessoas fundaram mais times de várzea. Existe
meçou em 1920, com alguns poucos clubes. O
um cálculo que entre a década de 40 e até o fim
mais velho é o Ipiranga, de 1919. Meses depois
dos campos, em 1990, havia em torno de 400
surgia a equipe da Vila Hayden. Os dois times
times, podendo até ser mais.
eram vizinhos de bairros e campo. “Todos sabiam da existência da várzea, mas nem todos sabem a história de como ela surgiu e
Os principais clubes daquela época eram o Barreiros, Vasco, Onze Santista, Escola de Samba Brasil, São Paulo, Santa Cecília e Vila Santista.
foi se tornando popular”, diz Jair que hoje exer-
Nos primeiros anos de 1960, cerca de 60
ce a função de diretor de futebol para veteranos
times disputavam os campeonatos locais. Em
do Saldanha. Ele jogou por três anos no São Pau-
anos seguintes os números de inscritos só au-
lo, do bairro Macuco. Jair e Carlos Prieto, mais
mentavam. No ano de 1965 eram 72 clubes jo-
conhecido como Gigi, criaram dois sites para re-
gando entre si.
lembrar os tempos em que jogavam. “Já passei 30
Entre 1940 e 1950 foram os anos em que as
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Os campeonatos sempre eram patrocinados © Fotos reprodução
Acima, Libertador F.C. em 1948. Abaixo, E.C. Corithians Santista
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Acima, o Paulistano Futebol Clube, sob a orientação do técnico Morgado. Abaixo, o São Paulo F.C. em 1960
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© Fotos reprodução
por alguma empresa. Por felicidade dos jogado-
íam espaço físico para jogar. Em Santos, existia
res as empresas sempre eram do jornal ou da
em torno de 100 campos. Os mais freqüentados
rádio. “Até Armando Gomes narrava os nossos
foram os: Vila Santista, Beira Mar, Colonial e Vila
jogos à beira do campo”, comenta Jair Siqueira.
Liberdade, onde hoje se encontra algumas re-
Os times que eram eliminados logo no início
sidências perto da saída da balsa.Além desses
dos torneios e aqueles que não participavam,
campos também havia os do BNH, Santa Cecília,
disputavam somente jogos amistosos entre si.
1º de Maio, Onze Brasileiro, Pombal, Campos
Não importava a época, todo o domingo havia
Salles, Pioneiros e onde é o conjunto habitacio-
jogo. Em cada partida eram três jogos. Primei-
nal do Jaú tinha dez campos. Todas as partidas
ro havia o infantil, logo após entrava o segundo
eram disputadas com os pés descalços. Quando
quadro, que seriam os reservas do reserva ou os
A Tribuna começou a patrocinar as competições,
atletas que estavam iniciando nas competições
a empresa exigia que os atletas usassem chutei-
e o time principal. Do segundo quadro dos clu-
ras. A dimensão dos campos era de 75 x 110. E a
bes surgiram alguns bons atletas de acordo com
partida era dividida em dois tempos de quaren-
Gigi. “Muitos atletas da várzea se tornaram pro-
ta minutos.
fissionais. Alguns foram contratados pela Portuguesa Santista, Jabaquara, e diversos foram para
Rivalidade
o Paraná, onde o futebol ainda estava se desen-
Cada bar de esquina tinha uma placa mos-
volvendo”, conta.
trando que lá havia um clube, de acordo com
Gylmar dos Santos Neves, bi-mundial, apa-
os criadores dos sites esportivos. A maioria das
rece em uma das fotos de 1950. Antes de jogar
partidas era aberta a todos. Qualquer um po-
no Corinthians e no Brasil, o atleta participava
deria sentar ao redor do campo e acompanhar
de jogos na várzea santista. O último torneio
a partida. Com isso, as torcidas dos times mais
importante que teve foi o III Torneio da Baixada
populares aproveitavam para instigar o rival e
Santista, em 1975.
provocar confusões. “O time que tinha muita torcida não admitia
Espaço para jogar
perder o jogo e por isso partia para briga. Não
Os campos eram usados três vezes, pois nem
tinha polícia para segurar todos os presentes”,
todos os times tinham espaço pra jogar. No do-
diz Jair, que também presenciou muita briga e
mingo, o dia inteiro, e sábado a tarde algum cam-
participou de poucas. Gigi acrescenta que, na
po era revezado entre os clubes que não possu-
segunda-feira todos se encontravam para traba-
EQUIPES DA VÁRZEA SANTISTA 1º de Maio A.C.; Amor e Glória; Bandeirantes F.C.; Barreiros; Beira Mar F.C.; Botafogo F.C.; C.A. Juventus; C.A. Libertador; Campos Salles F.C.;
CIA Docas de Santos; Cosipão; Cruz de Malta F.C.; E.C. Corinthians Santista; E.C. Faísca de Ouro; E.C. XI Santista; Flamengo F.C.; G.E. Camboja; Globo F.C.;
G.R. 814; G.R. Brasil; Jabaquara F.C.; Jaú F.C.; Luiz Gama F.C.; Palmeiras A.C.; Paulistano F.C.; Ponte Preta F.C.; São Paulo F.C.;
Tricolor Santista União F.C. Vasco Futebol Clube; Vila Hayden; Vila Liberdade F.C.; Vila Santista F.C.
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Acima e abaixo, semi-finais da Copa Amigos do Litoral no campo do Jabaquara. A Copa foi idealizada pelo Pelé através da equipe Litoral F.C. em parceria com o Jabaquara Atlético Clube
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© Fotos Rogério Amador
INFORMANDO lhar junto, porque a maioria trabalhava no cais. “Quando o jogo era bom, com equipes equilibradas a fim de só ganharem o jogo, não tinha briga”, comenta. 2008 “Hoje a situação é bem diferente. Quase não tem campo na cidade para se jogar, falta apoio e até mesmo o companheirismo, que naquela época existia”, conta Gigi. A turma de Jair, que varia entre 52 a 80 anos de idade, concorda que os tempos atuais estão fracos. O presidente da Liga Desportiva de Santos, José Roberto de Oliveira, tem a missão de ascender o espírito esportivo dos amadores no futebol. Ele utiliza ferramentas como o Campeonato Cidade de Santos de Futebol Amador para relembrar de épocas em que a cidade só respirava isso. Os ex-jogadores concordam que para se ter um campeonato bom, como antigamente, seria necessário ter aproximadamente 30 campos. Joel conta que atualmente existem dez campos, entre clubes privados e as agremiações esportivas. Jair diz que os campos foram sumindo porque os proprietários dos terrenos queriam algo que rendesse mais. “A partir dos anos 80 e 90, foram construídos inúmeros prédios e casas, desalojando as equipes de seus campos”, conta Jair. “Se fosse para relembrar dos excelentes campeonatos que havia aqui, na década de 60, as cidades de Praia
CURIOSIDADE
A LINDESAN, para o ano que vem, colocará em prática a proposta de fortificar o desporto. Serão seis campeonatos voltados para os atletas de base e veteranos para 2009
HISTORIA Futebol de várzea é uma denominação brasileira, típica do estado de São Paulo, convencionada ao futebol praticado de forma amadora e organizada. Surgiu a partir da prática do esporte bretão em campos feitos na várzea às margens do rio Tietê, antes mesmo de haver profissionalismo no Brasil. O perfil do jogador varzeano é de uma pessoa que trabalha o dia inteiro, eventualmente faz outras atividades físicas, que pratica no final de semana o futebol ou ainda de ex-jogadores profissionais. Existem também jogadores que chegaram a serem profissionais, mas não conseguiram dar continuidade em suas carreiras e vivem de eventuais prêmios pagos pelos clubes varzeanos por participações em alguns torneios amadores. A Tribuna publicava no dia 1º de novembro de 1902: “Por iniciativa de um grupo de rapazes, tendo à fernte o jovem Henrique Porchat de Assis (Dick Martins), teve lugar na Praia da Barra um training de football que foi o primeiro a ser realizado não só nesta cidade como em todo o litoral paulista. A tentativa aprovou em cheio. É um divertimento que, em se o amparando, dar-nos-á em glórias, tudo”. “Era precisamente 8 horas e 25 minutos quando rolou, para ser disputada por duas equipes, na cidade de Santos, a primeira bola de futebol aqui chegada”. Fonte: Matéria publicada em 26 de março de 1964 pelo jornal.
Grande, Cubatão, Mongaguá, São Vicente e Itanhaém estão fazendo um bom papel”, afirma Jair Siqueira, que hoje tem um torneio com seu nome em homenagem. Jairo Barga, que sempre esteve envolvido com futebol amador e exercia funções na direção de um clube santista, relembra que os domingos santistas eram maravilhosos. “Agora os clubes lidam com mercadorias, se um sócio não paga a mensalidade por um mês ele já é cortado, fica como inadimplente e não usufruiu das locações do clube e assim deixa de bater sua bola no domingo”. Ele também conta que o futebol de várzea está esquecido e gostaria de poder voltar ao passado.
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SOLIDÁRIO
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© Foto Aline Monteiro
CORRIDA
COM SOLIDARIEDADE E RESPEITO O Biathlon Atletas Solidários é a maior prova da modalidade no Brasil. O circuito é um teste de força e habilidade, mas também é uma demonstração de solidariedade Texto Aline Monteiro
Não se sabe se foi a música, o sol, a água,
do Gonzaguinha ficou animada com familiares
os atletas ou o suor o responsável por deixar
e amigos posicionando máquinas fotográficas.
no ar a vontade de nadar e correr junto com os
Enquanto as frutas e a água eram dispostas na
participantes do VI Circuito de Biathlon Atletas
linha de chegada, as equipes começavam a cair
Solidários. A certeza era que o desejo de praticar
na água, do outro lado da avenida Antônio Ro-
esporte e ajudar o próximo podia ser percebido
drigues.
nos gestos e olhares dos participantes e da equipe de organização do evento.
No mar, os surfistas e canoístas remaram 500 metros. Os demais participantes também en-
Atletas profissionais, amadores e com ne-
frentaram o mesmo percurso, mas com braçadas
cessidades especiais se reúnem todos os anos,
de natação. Três quilômetros de pedestrianismo
doam brinquedos nas inscrições e se movimen-
encerraram a prova. Já as crianças nadaram 200
tam na terra e na água para tornar mais alegre o
metros e correram apenas um quilômetro.
Natal das crianças carentes. “Nas outras etapas
Antes de qualquer classificação, a recompen-
os atletas doam cestas básicas”, afirma o organi-
sa podia ser aproveitada por todos: uma tenda
zador Paulo Marques de Oliveira.
de massagistas atendia, gratuitamente, os com-
A boa organização garantiu o desempenho dos participantes das categorias de canoagem,
petidores e quem mais estivesse por perto com vontade de relaxar os músculos.
surf masculino, feminino, infantil e dos portadores de necessidades especiais. Foram mais de
Integração social
500 inscritos que doaram cerca de oito mil brin-
A preocupação social não acontece somente
quedos. A última etapa do circuito foi realizada
no momento da inscrição. Os alunos das escolas
no dia 26 de outubro, em São Vicente. A praia
municipais de educação especial Anayr Navarro ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
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EVENTO
A iniciativa dos atletas solidários vai se tornar permanente a partir do dia 29 de novembro
Trovão e Sérgio Vieira de Melo, de Praia Grande, dão um perfil diferenciado ao Biathlon. Eles possuem Síndrome de Down e recebem incentivo, orientação e auxílio dos professores para participar do evento. Na categoria Down, o percurso da prova é simbólico. Quando a água atinge a altura da cintura é o momento de voltar para correr ou caminhar cerca de 300 metros. O professor de Educação Física Narciso Maurício dos Santos é responsável pela coordenação da equipe que surgiu de uma parceria entre a Secretaria de Juventude, Esporte e Lazer e da Secretaria de Educação de Praia Grande. “Não há muita participação nessa categoria porque os pais não costumam acompanhar as crianças que possuem Down em atividades fora das escolas”, afirma Maurício. Realmente, nos momentos de descontração da equipe, era possível perceber que não havia muitos familiares, como ocorre com os atletas da categoria infantil. “Existem professores que não querem acompanhar as crianças em eventos no fim de semana, e como os pais não fazem questão, elas acabam não participando”. É o terceiro ano que portadores de Down participam do Biathlon. A segurança dos participantes é a questão fundamental no circuito. Maurício conta que, desde o primeiro ano, os atletas das demais categorias se colocam para acompanhar a prova da equipe, ajudando na orientação que for necessária. A iniciativa dos atletas solidários vai se tornar permanente a partir do dia 29 de novembro. Com a autorização da Prefeitura de Santos, uma barraca de praia será armada no Canal 6 para garantir os treinos e integração dos participantes nos finais de semana. “Deixaremos duas bóias no mar para o pessoal treinar, e uma televisão na areia para que todos assistam aos programas esportivos”, afirma o organizador Paulo Marques.
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© Fotos Aline Monteiro
INFORMANDO ATLETAS SOLIDÁRIOS CATEGORIA SINDROME DE DOWN MASCULINO Classificação Nº 1º LUGAR 2º LUGAR 3º LUGAR 4º LUGAR 5º LUGAR
- 943 Caio Meirelles Araujo - 952 Fabiano Roberto Cezar - 946 Murilo Antonio Silva - 949 Arthur Dini Grassi Neto - 847 Jose Almir Barbosa Silva
FEMININO Classificação Nº 1º LUGAR 2º LUGAR 3º LUGAR 4º LUGAR 5º LUGAR
NOME
NOME
TEMPO 00:00:37 00:06:29 00:07:03 00:07:41 00:25:45 TEMPO
- 941 Cristiane Barbosa Bonfim 00:07:01 - 950 Selma de Oliveira 00:07:52 - 947 Karolina Aparecida Alves Albino 00:08:06 - 945 Janaina Pereira 00:08:46 - 953 Rita de Cassia Pereira 00:09:15
PATROCÍNIO Seduc / Sejel Praia Grande Seduc / Sejel Praia Grande Seduc / Sejel Praia Grande Seduc / Sejel Praia Grande Yps PATROCÍNIO Seduc/ Sejel Praia Grande Seduc / Sejel Praia Grande Seduc / Sejel Praia Grande Seduc / Sejel Praia Grande Seduc / Sejel Praia Grande
Acima, a Equipe Down recebem o prêmio pela competição. Ao lado, atleta alcança a linha de chegada
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PERFIL
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© Fotos Aline Monteiro
Motorzinho
ou será motorzão?
Cadeirante e vencedor. O Ironman Motorzinho mostra que o esporte não vê barreiras nem mesmo sentado em cadeira de rodas Texto Jeferson Marques 03h30 da manhã. Enquanto muitos estão na
e ganhando seus trocados, ajudando seus pais na
metade da balada, Motorzinho, 47 anos, está no
criação e no sustento dos nove irmãos. Porém fala
começo do seu dia. Sai nesse horário e vai em dis-
sobre sua infância com ar de emoção, satisfação
parada, montado na sua bicicleta especial, em que
e carinho. Hoje, mora com sua irmã mais velha e
se é possível “pedalar com as mãos”, percorrer 80
ambos são solteiros. É difícil afirmar já que tinha
km por ruas e estradas da cidade de São Vicente.
grandes responsabilidades desde muito pequeno.
Depois dessa maratona, Motorzinho vai para casa,
Era uma criança como todas as outras. No pouco
almoça, descansa alguns minutos e já parte para
tempo que lhe restava, Motorzinho gostava de
sua natação. Fica até ás 15h no clube, volta para
jogar futebol na rua, como todos os moleques do
casa com sua cadeira de rodas e parte para um
universo. Pés descalços, ruas de terra e campo de
merecido descanso. Repete essa rotina três vezes
barro. Se não tivesse campo, o asfalto virava o mais
por semana. Motorzinho é fã de novelas, filmes de
belo gramado que já podia se imaginar. Motorzi-
comédia e ação, mas corre de filmes de monstro
nho não podia entrar tantas vezes nesse campo, a
e horror! No máximo ás 21h30 já está dormindo,
vida reservaria isso para mais tarde.
para levantar na madrugada seguinte.
Acostumado a trabalhar, em 1995 a vida lhe
Primeiro cadeirante da América Latina a dis-
pregou uma peça que, para muitos pode ser con-
putar uma prova de Ironmam sendo tricampeão
siderada tragédia mas, para ele, foi o recomeço:
da categoria, campeão Brasileiro de Ciclismo, de-
Motorzinho trabalhava em uma loja de artigos
cacampeão do Spopen de Biathlon, hexacampeão
esportivos em São Vicente quando foi surpreen-
do Troféu Brasil de Triátlon, hexacampeão Triátlon
dido por um grupo de assaltantes. Após o susto
Internacional de Santos, 17º colocado no Mundial
e sem perceber que o grupo estava armado, deu
de Ciclismo na Suíça... Poderia ficar aqui citando
um grito de “pega ladrão” e levou vários tiros. Um
outras dezenas de conquistas. Apresento-lhes Eli-
deles pegou em sua medula, outro percorreu seus
ziário dos Santos, que gosta que o chamem apenas
órgãos e, milagrosamente, não atingiu o coração
de “Motorzinho”. É nitidamente percebida em seu
e pulmões. Não, por mais que fosse a vontade
rosto a simplicidade de um homem que lutou, e
dos ladrões, não a vontade divina que a vida de
muito, desde sua infância. Estudou até a 8ª série
Eliziário acabasse naquele momento. Motorzinho
do ensino fundamental e, mesmo assim, com ex-
merecia, sim, viver uma era mágica e, por isso, sua
trema dificuldade, já que sua origem é de família
vida prosseguiu mesmo tendo ficado tetraplégico.
pobre, sofredora e guerreira. Motorzinho sempre
Sempre adepto dos esportes, antes de “nascer
tinha de se preocupar em manter-se trabalhando
de novo” já praticava o pedestrianismo, maratoESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
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IMPULSO
Devido ao ‘renascimento’, Motorzinho não consegue jogar o corpo para frente a cada vez que dá o impulso em sua cadeira. Imagine só se ele tivesse esse jogo de tronco?
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nas e demais. Por incrível que pareça, acha que as
nheiro para empresas, que descontam do imposto
oportunidades que lhe levaram ao triátlon foram
e que, finalmente, chega a pessoas como ele. Na
melhores que antes, quando era apenas marato-
sua visão, esse dinheiro deveria ir direto para as
nista. Motorzinho demonstra muito carinho aos
mãos dos atletas e a porcentagem que o governo
seus amigos de infância que, por infelicidade do
dá às empresas deveria sair do seu próprio bruto,
destino, procuraram um mundo relativamente
passando a ser uma ajuda fixa. Abrir uma conta
mais fácil, onde as cobranças e cada manhã são
no banco e funcionar como um benefício, sendo
mortais. A humildade é tão lúcida no olhar de Mo-
depositado sempre naquela data e SEM ATRASOS!
torzinho, na forma de movimentar suas mãos ao
Fez questão de dizer do não atraso e se isso ocorrer,
limpar as rodas de sua cadeira que chega a nos
deve ser depositado com juros, “assim como eles
intimidar em grandeza e proporção. A gramática,
fazem com a gente quando atrasa uma conta”.
o plural e o singular, dentre outras regras de nossa língua, que muitos se vangloriam saber de trás
Jogo de Tronco?
para frente, não substitui a simplicidade, nobreza
Me assustou quando disse: “Meu jogo de tron-
e preocupação do bem estar social desse homem.
co me prejudica muito”. Tive de perguntar o que
Eu continuava minha conversa com ele ali, senta-
isso significava. Com uma breve risada, bateu duas
do, em uma cadeira de plástico bem ao lado da
vezes em meu braço e disse assim: “Perdão, garo-
piscina semi-olímpica do SESTI/SENATI – São Vi-
to! Eu é que te atropelei”.
cente, clube aonde Motorzinho vai, de segunda à
Devido ao ‘renascimento’, Motorzinho não
sexta, praticar natação. Cada pessoa que passava
consegue jogar o corpo para frente a cada vez
por ali, independentemente de ser criança, adulto,
que dá o impulso em sua cadeira, por complica-
portador de algum tipo de necessidade especial,
ções na medula. Parei novamente e pensei por
Motorzinho fazia questão de cumprimentar. Ele
alguns segundos: Imagine só se ele tivesse esse
olhava para cada um deles, dava sua “boa tarde”
jogo de tronco? Dessa vez não fui atropelado! O
e abria um cativante sorriso, que lhe era inevita-
tempo passou muito rápido no clube, com um
velmente contribuído. Preocupava-se com nosso
bate-papo alegre, descontraído e super natural
bate-papo e com meu gravador. Eu dizia para não
com esse triatleta de imenso respeito. As pesso-
se preocupar, minha intenção ali naquela tarde de
as que transitavam pelo clube sempre olhavam
tempo nublado e fortes ventos era conhecer o Eli-
para Motorzinho não com o sentimento de dó,
ziário dos Santos.
mas sim o enxergando como uma inspiração.
Quando o assunto entra em patrocinadores e
Seu jeito elétrico de falar, seu tom de voz um
apoiadores ao esporte, Motorzinho muda de fei-
pouco roco e sua já gasta cadeira de rodas fa-
ção e passa a ser um cara triste. As idéias de mu-
zem de Motorzinho um gigante, mesmo estando
danças, revolta, indignação e incertezas circulam
sentado o tempo inteiro. Mas quem disse que
por sua mente e saem na direção do gravador.
um homem para ser gigante precisa ter as per-
Porém, a humildade faz com que mesmo se de-
nas compridas? Quem disse que uma deficiência
parando com idéias atrapalhadas, procurasse uma
pode lhe impedir de viver e de sonhar? Motorzi-
explicação para tentar isentar os responsáveis por
nho adiou os sonhos daquela infância pra o hoje
isso. Enquanto tomava um copo de água, Motorzi-
e seu destino quis assim. Ele não critica seu des-
nho despejava as críticas aos nossos governantes
tino, assim como não coroe magoas do passado.
que, segundo ele, jogam as responsabilidades nas
Sua vida recomeçou depois daquele incidente
empresas e tiram o seu “umbigo” da reta. Motor-
na loja de artigos esportivos e, para a sorte de
zinho não entende o processo de repasse de di-
todos nós, brasileiros, ele percebeu isso!
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© Fotos Jeferson Marques
Motorzinho é tricampeão de Ironmam, campeão Brasileiro de Ciclismo, decacampeão do Spopen de Biathlon, hexacampeão do Troféu Brasil de Triátlon, hexacampeão Triátlon Internacional de Santos, 17º colocado no Mundial de Ciclismo na Suíça
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SUCESSO TOTAL
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7 Surf Odon to movimenta a praia de Maresias o
A festa em comemoração ao mês do Dentista prestigia um dos esportes mais difundidos na região, com a participação de mais de mil pessoas Texto Bruno Quiqueto Foto Max Plini
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Renan Castro, de apenas 13 anos, foi campeão na categoria Amigos dos Dentistas, já o veterano Bruno Santos, ficou com o segundo lugar na competição
U
ma brincadeira. Depois de algumas
porções. Disputado há quatro temporadas na
ondas, Renato Vanzella Vicente (o
praia de Maresias, São Sebastião, Litoral Norte
“Dida”), Rafael Ruas Cardoso (o “Ga-
de São Paulo, hoje a competição é um sucesso
biru”) e Renato Santos Mahnke (o “Bato”), den-
total. “Não temos mais pulseiras para o pessoal
tistas e surfistas, passaram a pensar em uma
comprar.
competição para a classe. Na época eram ape-
Este ano está tudo lotado”, falou Bertoni,
nas estudantes que curtiam a praia nos tempos
durante a churrascada realizada no sábado, 1°
de folga. Juntaram-se a Felipe Shimisu, Presi-
de novembro. A pulseira, citada pelo diretor, ga-
dente da Nova Geração da Associação dos Cirur-
rante o direito à participação no churrasco, des-
giões Dentistas da Baixada Santista – ACDbs - e
conto nas baladas e às bebidas servidas durante
Renato Bertoni, diretor da entidade. “Estávamos
as festas.
surfando e achamos que a idéia era boa. Juntar
Em 2008, a sétima edição do Surf Odonto
o prazer de surfar e competir entre os amigos”,
ocorreu no final de semana de 31 de outubro a 2
disse Cardoso.
de novembro. Cerca de 1030 participantes des-
Sempre abertos a novas iniciativas, Bertoni e
frutaram de 450 quilos de carne, dois mil lan-
Shimisu trataram logo de tornar o pensamento
ches, distribuídos junto com o churrasco, e 10
em realidade. Divulgado entre amigos, o primei-
mil latas de cerveja. Foram necessários 42 fun-
ro Surf Odonto aconteceu em 2001 na praia do
cionários para controlar e organizar o evento.
Tombo, em Guarujá com a presença de apenas 20 pessoas. No ano seguinte, com tempo maior
Participantes
para seu planejamento, o evento mudou para a
Além da ACDbs, outras Associações marca-
cidade de Santos, no Quebra Mar. O público au-
ram presença, como a Associação Paulista dos
mentou e a competição começava a se moldar.
Cirurgiões Dentistas de São José dos Campos,
“Desde o início, o Surf Odonto foi criado como
representada pelo dentista Sérgio Torres e a As-
uma maneira de unir mais a classe, uma confra-
sociação dos Engenheiros e Arquitetos de San-
ternização”, explica Bertoni.
tos, representada por seu presidente, Marcos Teixeira. “Foram três meses de planejamento
Maresias
para chegarmos ao resultado de hoje. Uma com-
Com o passar dos anos e o incentivo dos
petição em alto nível e com um grande número
apoiadores, o Surf Odonto ganhou grandes pro46
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de pessoas”, disse Torres.
© Foto Jeifferson Moraes
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À direita, os campeões da categoria Open Dentista, Fernando Alcântara e Ricardo Venceslau, com o idealizador do evento, Renato Bertoni, e apoiadores. Abaixo, participantes do evento no churrasco de confraternização
ANOTE Para mais informações acesse os sites: www.acdssv.com.br www.seuesporte.com.br Assista aos vídeos no YouTube, basta digitar a palavra-chave Surf Odonto no campo de busca
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Teixeira se surpreendeu com o evento. “A
Dentistas, Amigos dos Dentistas e Longboard.
presença do jovem é muito importante. Festas
Fernando Alcântara ficou com o título entre os
como estas são interessantes para as Associa-
Dentistas. Em uma final com cerca de dois pés
ções, principalmente por fazer com que a juven-
de onda (0,5 metro), Alcântara teve, na somató-
tude compareça em grande quantidade”.
ria de suas duas melhores ondas, 6,57. Ricardo
Para o presidente da ADCbs, Dr. Francisco
Venceslau, o segundo colocado, ficou com 5,16.
Marçal Vieira, a Associação tinha um estigma,
Rafael Cardoso e Carlos Penna, terceiro e quarto
como coisa de pessoas velhas. “A nova geração
colocados, respectivamente, completaram a lis-
de dentistas acha que nossa entidade é voltada
ta de vencedores da disputa que contou com 20
para o pessoal mais antigo, e não é bem assim.
competidores.
Nós descobrimos que a distribuição da faixa etá-
O garoto de 13 anos, Renan Castro, foi o
ria dos associados, de 20 a 80 anos, era igual.
campeão na categoria Amigos dos Dentistas.
No entanto, os eventos sociais eram voltados
Na decisão, ele deixou três veteranos para trás
para a turma mais velha. Isso está mudando”.
e assegurou a taça após duas boas ondas. Na
A competição de Surf foi realizada no sába-
somatória das duas melhores, Renan fez 9,94
do, 1° de novembro, em três categorias: Open
contra 9,60 de Bruno, segundo colocado. Flávio
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© Fotos Max Plini
e Well ficaram na terceira e quarta posições,
ficaram com suas vagas esgotadas. “É mui-
respectivamente Já Edson Sales foi o campeão
to bom. Esse final de semana não fez sol e a
na categoria Longboard. A decisão foi a única
pousada ficou lotada”, falou Elimar Mahnke,
bateria disputada na categoria, pois só havia
proprietário da El-Solar. Juliano Gedrin, só-
cinco competidores. Fernando Alcântara, Bru-
cio-proprietário do Bar Santo Gole, espera
no Alves, Ricardo Horliana e Felipe Sarata ter-
que em 2009 seu estabelecimento receba
minaram em segundo, terceiro, quarto e quin-
novamente o evento. “Muita gente veio para
to, respectivamente.
cá, a casa tem apenas um ano e é legal receber toda a galera”.
A Festa
Apesar do desgaste na organização, Ber-
Durante a disputa, a galera ficou concentra-
toni reconhece a evolução do Surf Odonto.
da no Tambayba Beach, com cerveja e churrasco
“Fazer tudo isso é bastante cansativo, mas
à vontade. O Dj Alex, de A Equipe Produções, e a
ver o resultado é gratificante. Só tende a
banda E ai?, agitaram o pessoal. Até um campo
crescer ainda mais”. Luigi Nicastro Neto, den-
de futebol de sabão foi montado para descon-
tista, adorou. “Está ótimo. Todos os amigos
trair os participantes. Na noite de sexta, 31, o
reunidos, gente bonita, cerveja e surf. Não
Bar Santo Gole foi o local escolhido pelos orga-
poderia ser melhor”.
nizadores, onde rolaram os shows das bandas E
Segundo Dr. Vieira, “A história do Surf
ai? e MPBalck. No sábado, o Sirena completou a
Odonto é fantástica. Hoje a gente vê mais de
festa. A sétima edição do Surf Odonto agitou
mil pessoas aqui em Maresias, deslocadas de
também o comércio da região. Dez pousadas
suas casas. É uma festa linda, maravilhosa”.
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ESPORTE SOCIAL
Badalação
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2
1. Bruna Santos e seu mega fone; 2. Felipe Marques, Rafael Lima e Lucas Oliveira bricando com o Sapo; 3. Rita e Fernando Almeida, ao lado de Isabel e Jair Moreira; 4. Leandro Souza, Andréa Fernandes, Ana Paula Vieira e Tiago Siqueira curtindo a festa;
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© Fotos Max Plini
A contagiante alegria das pessoas tomou conta do evento depois das competições na Praia de Maresias
3
5. Fernanda Santos, Cláudia Silva, Juliana Ribeiro,Gabriel Saraiva e Carla Rocha no churrasco de confraternização, 6. Gabriela Alves e Fernanda Pacheco curtindo a praia de Maresias
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OLHAR CRÍTICO
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©1
POR QUE
NÃO SOMOS COMO ELES? Terminada a Olimpíada em Pequim, agora é hora do balanço. O que falta para o Brasil um dia se tornar potência nos esportes de alta competição? Texto Rogério Amador
Ele começou a carreira de jogador de basquete
Pura ilusão. Não demorou muito e o patrocina-
aos nove anos de idade, a mãe o colocou na esco-
dor rescindiu o contrato com a Prefeitura local, im-
linha do Clube Internacional de Regatas, por causa
possibilitando a continuidade do projeto e de toda
de sua altura. Na época, tinha 1,82 metros. Com
a estrutura montada. O santista teve que voltar à
o passar do tempo, Alexandre Lamoglia Barbieri
sua cidade natal para jogar em clubes pelo simples
foi se destacando nas competições. Passou pelo
prazer de jogar basquetebol.
mirim, infantil, infanto-juvenil, juvenil até chegar à
Com 21 anos, não agüentou mais. Foi procurar
categoria adulta, agora já com seus 2,00 metros de
emprego para ganhar dinheiro e tentar começar
altura atuais.
uma vida. Hoje, com 39 anos, é engenheiro quími-
Com 18 anos quis alçar vôos mais altos. Saiu do
co e trabalha em uma empresa de Cubatão há 18
seu clube, no qual jogou desde o inicio, para assu-
anos. Não se arrepende do fato de ter largado o
mir uma posição no time da Philips, na cidade de
esporte, já que com o serviço arrumado pôde es-
Santo André. Agora com salário, alojamento para
truturar sua vida. É casado com Luciana e tem dois
morar, condução para visitar os parentes em San-
filhos. Quem perdeu foi o basquete, pois se Bar-
tos e outras regalias, ou seja, toda uma estrutura
bieri tivesse a oportunidade de continuar, certa-
para desenvolver o seu potencial para que um dia
mente o nosso eterno cestinha Oscar “Mão Santa”
conquistasse seu maior sonho: jogar uma Olimpí-
teria a companhia de alguém, para lhe ajudar nas
ada pelo Brasil.
conquistas que não conseguimos para o Brasil.
© Foto 1 Ilustração digital | Jeifferson Moraes
ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
53
Alexandre Barbieri observa lance da final do Campeonato Santista em 1989
ATLETISMO
Com 6 medalhas de ouro, a Jamaica foi a13ª colocada no quadro de medalhas de Pequim, todas no atletismo
técnico da Secretaria Municipal de Esportes de Dinheiro x Administração
Santos, Ibraim Tauil, os recursos disponíveis são
A pergunta é inevitável: O que falta para o
mais do que suficientes para transformar o Brasil
Brasil ser uma super-potência no esporte? Somos
numa potência olímpica. “Se houvesse seriedade
um país beirando os 190 milhões de habitantes,
e programas consistentes para o setor, certamente
segundo estimativa do censo/IBGE 2008. Temos
chegaríamos bem mais longe”. Para enfatizar o seu
políticas públicas dedicadas ao desenvolvimento
discurso, Ibraim cita o artigo 217 da Constituição
do esporte, uma história de vencedores e ídolos
Federal que determina: “É dever do Estado fomen-
em modalidades que inspiram os mais novos, a tal
tar práticas desportivas formais e não-formais,
ponto de sermos referência, como, por exemplo,
como direito de cada um”.
no voleibol. E, principalmente, somos um povo que tem literalmente o esporte na veia. “Ás vezes,
Política
aparecem aqui na escola alunos que nunca fizeram
Outro ponto impactante e desfavorável é o fa-
ou praticaram determinada modalidade, mas que
tor político. A alta burocracia e a má administração
são talentos natos”, diz o professor de Educação Fí-
causada pelo emaranhado de Ministérios, Secre-
sica Fabio de Oliveira Santos, que dá aulas na Esco-
tarias, Departamentos, Fundações, Fundos, Con-
la Municipal D. Pedro I, na Vila Nova, em Cubatão.
federações, Federações, Ligas, Comitês, Clubes,
Esses talentos são ceifados pela total falta de
ONGs, acabam desordenando o que era para ser
infra-estrutura. Dinheiro não é o problema. Exis-
bem mais simples. “Com tantos interesses imedia-
tem no Brasil recursos oriundos de orçamentos
tos e midiáticos, a verdade é que o desporto edu-
dos governos municipais, estaduais e federal. Eles
cacional acaba não tendo a mínima importância e,
são somados aos recursos das loterias federais (Lei
assim, o investimento na base segue perdendo de
Piva) — que estabelece que 2% da arrecadação
goleada para o investimento no alto rendimento e
bruta de todas as loterias federais do país sejam
na realização de eventos”, conclui Tauil.
repassados ao Comitê Olímpico Brasileiro e ao Co-
Utiliza como exemplo a própria natação na ci-
mitê Paraolímpico Brasileiro. Do total de recursos
dade, onde só na escolinha da Zona Noroeste há
repassados, 85% são destinados ao COB e 15%,
1200 alunos para apenas duas piscinas, enquan-
ao CPB. Outra conquista orçamentária importan-
to que a Prefeitura, através do programa “Adote
te foi a aprovação da Lei de Incentivo ao Esporte,
um Atleta”, prefere o patrocínio de boa parte da
que possibilita as empresas jurídicas, ou até mes-
equipe de natação da Unisanta, sem ao menos dar
mo pessoas físicas, de deduzirem do imposto de
uma oportunidade às crianças que mais se desta-
renda de 1 a 6% a título de patrocínio ou doação,
cam nas escolinhas.
no apoio direto a projetos desportivos e parades-
54
portivos previamente aprovados pelo Ministério
Supervalorização
do Esporte.
No ano passado tivemos um exemplo claro da
Sem contar a ajuda natural de empresas es-
má gestão de nossos dirigentes: os Jogos Paname-
tatais e privadas, como a Eletrobrás, Correios e
ricanos do Rio de Janeiro. Inicialmente orçado em
universidades particulares. Para o coordenador
R$400 milhões, acabou aproximadamente R$4
REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR
©2
© Foto 2 Adalberto Marques | A Tribuna
ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
55
bilhões de reais. E o pior: após o término os equi-
©3
pamentos utilizados estão às moscas ou sendo utilizados para outras finalidades. O resultado é o mesmo que construir um edifício sem alicerce. Desmorona a cada Olimpíada. O Ministro dos Esportes, Orlando Silva e o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Artur Nuzman foram procurados pela nossa reportagem através de suas respectivas assessorias, mas não quiseram se pronunciar a respeito desta matéria. Em 1991, jogando pelo Santos FC (camisa 11). A cidade não deu oportunidade para sequência da carreira
Exemplo de sucesso Não é só de lambanças que vive o esporte bra-
©4
sileiro. Existem exemplos sérios e bons a serem seguidos, que estão espalhados por todo o Brasil. Um deles é o “Centro de Excelência”, na cidade de São Paulo. Através de uma iniciativa do Governo do Estado, atletas de talento de todo o Estado são levados ao projeto, obtendo toda a estrutura necessária para o crescimento esportivo. No Conjunto Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, no Ibirapuera, capital paulista, os atletas têm acesso a professores credenciados como Aurélio Miguel, Ana Mozer, Magic Paula e Zequinha
Professor Fabio de Oliveira Santos durante aula de educação fisica em Cubatão ©5
Barbosa, representantes das quatro modalidades trabalhadas no local: judô, atletismo, natação e voleibol (masculino e feminino), e o futebol masculino, além de alojamentos com todas as refeições e acesso ao estudo. Todo o atleta utiliza as notas obtidas na escola como prerrogativa da extensão da bolsa ao projeto, ou seja, se o atleta não vai bem na escola, a bolsa é automaticamente retirada. O judoca Aurélio Miguel (medalhista de ouro em Seul/1988) veio a participar do projeto em um momento em que estava brigado com a Confederação Brasileira de Judô e, por conta disso, tinha sido afastado da seleção brasileira. “Fui contra a uma dinastia criada pela família Mamede, que colocou a modalidade em estado de falência”, sentenciou o ex-atleta, utilizando como exemplo as várias vezes 56
REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR
Magic Paula com as crianças no Centro de Excelência em São Paulo. Em 2007, mais de 600 crianças passaram pelo projeto
© Foto 3 Assesoria - Santos FC | Foto 4 Arquivo pessoal | Foto 5 Leonardo Costa - Assessoria de imprensa - SESP
que não pode participar de torneios no exterior por não ter verba suficiente. Na época, a confederação era presidida por Joaquim Mamede, que esteve à frente do órgão por
36 MEDALHAS
21 anos seguidos. “Gerenciar o esporte não é difícil, basta seriedade e vontade política”, afirma Aurélio. O projeto Futuro já revelou nomes de destaque como a medalhista de ouro em Pequim, Maurrem Maggi, o judoca Tiago Camilo, e o atleta do salto triplo, Jadel Gregório. O projeto iniciado em 1984 continua mais firme do que nunca e conta não só com o apoio do Governo do Estado, mais também com a ajuda da iniciativa privada. Maus exemplos Sábado, 07 de junho de 2008. Depois de um ano de investigações da Polícia Civil, o fugitivo Carlos Alberto Aparecido Oliveira de Carvalho, mais conhecido como Peixe Raia, foi preso no Morro do São Bento, em Santos. Membro da facção criminosa PCC — Primeiro Comando da Capital, Peixe Raia havia fugido da Penitenciária de Getulina, no interior de São Paulo, em janeiro de 2006, onde cumpria pena de, aproximadamente, 15 anos por homicídio, tráfico de drogas, roubo e lesão corporal. Na hierarquia da facção, ele seria chamado de “torre” (chefe
EUA ganhou 36 medalhas de ouro nas Olimpíadas de Pequim. Só o nadador Micheal Phelps levou oito medalhas de ouro
INFORMANDO PARAOLIM PÍADA A classificação do Brasil saltou de 23º nas Olimpíadas, para nono colocado nos jogos para atletas com deficiência física. A África do Sul passou de 71ª para o sexto lugar, com 21 medalhas de ouro. A diferença dos números está no envio de delegações dos dois jogos. Os Estados Unidos, por exemplo, enviaram 600 atletas para Pequim. Já na Paraolimpíada, competiram apenas 213 americanos. Segundo a Organização Mundial de Saúde, existem 750 milhões de deficientes no mundo, sendo que 80% estão nos países em desenvolvimento.
P RIMEIRO LUGAR A China se tornou a primeira na classificação das medalhas, fechando os jogos com 100 medalhas, 10 a menos que os Estados Unidos. Porém, foram os americanos que subiram ao pódio do basquete masculino, lugar que a torcida chinesa esperava ver a equipe de Yao Ming.
do tráfico no morro). Mas, por que uma notícia policial poderia estar associada a uma matéria esportiva. Infelizmente tudo. Para o
©4
professor de atletismo da Semes, José Roberto da Silva, o fato causa grande tristeza até hoje. “Quando eu vi a reportagem do Betinho na televisão não agüentei e comecei a chorar”, disse o professor, pois, para ele, Betinho continua sendo o menino franzino e de pernas finas que participava da equipe de atletismo da Zona Noroeste, em Santos. Carlos Alberto sempre foi considerado um atleta com enorme potencial. “Eu falava para todos na época que o Betinho era o substituto natural do Joaquim Cruz”, afirma o professor, em alusão ao campeão olímpico dos 800 metros rasos em Los Angeles/1984. Segundo o técnico, o que falta é dar continuidade ao atleta que se mostra promissor no esporte, dando-lhe condições de atingir um nível de alto desempenho necessário para as
Aula de educação física do professor Fábio de Oliveira
ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
57
©6
Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão no Rio de Janeiro. Inicialmente orçado em R$60 milhões, teve um custo final mais de seis vezes do esperado: R$ 380 milhões conquistas, e ao mesmo tempo, tirando jo-
mente encerraram as atividades esportivas, dei-
vens do caminho obscuro, como é o caso do
xando um legado de muitos atletas desenvolvi-
hoje traficante, Peixe Raia.
dos na base dos clubes, considerado celeiro de grandes atletas da cidade.
Celeiro mal aproveitado Santos é considerada uma das cidades mais
58
Infra-estrutura não utilizada
esportivas do Brasil. São realizados diversos
Outro ponto negativo é o atletismo. Santos
torneios de alto nível, expondo a cidade a um
conta com quatro pistas tradicionais para a prática
excelente nível de projeção nacional. Além dis-
do esporte. O SESI, na Avenida Nossa Senhora de
so, é sempre destaque nas competições entre
Fátima, que não pode ser mais utilizado pela po-
cidades, como os Jogos Abertos e Regionais,
pulação, pois o contrato com a Prefeitura não foi
disputadas todo o ano. Os maus exemplos ainda
renovado. O do Clube dos Portuários, no bairro do
contaminam o município. Clubes tradicionais da
Marapé, que possui piso de grama, mas que está
cidade, como Regatas Santista, Vasco da Gama,
abandonado. A pista da Associação Desportiva da
Saldanha da Gama e o Atlético Santista pratica-
Policia Militar, no canal 6, se encontra totalmente
REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR
© Foto 6 Divulgação - Assessoria Governo do Estado do Rio de Janeiro
inutilizada. Finalmente, o Brasil Futebol Clube, no
para uma melhor adequação do sistema curri-
bairro da Aparecida, que está agonizando pela fal-
cular local, seria imprescindível trabalhar com
ta de apoio. “Lembro que no ano passado, havia
crianças a partir dos três anos de idade, através
uma menina de 11 anos no SESI, chamada Tamiris,
de uma educação física voltada para a parte mo-
que em uma competição escolar completou a pro-
tora do aluno, possibilitando uma espécie de
va dos 600 metros rasos em 1 minuto e cinqüenta
triagem, antes dos próprios professores enca-
e sete segundos, algo notável para a idade dela”,
minharem a criança para um esporte especifico,
enfatiza o professor José Roberto, sendo que após
com aproximadamente dez ou onze anos.
o término do contrato do SESI com a Prefeitura, a
A campeã geral das últimas Olimpíadas, a
menina sumiu. Como prova desse descaso, a com-
China, massificou o esporte através da base.
petição de atletismo do Jogos Esportivos de Santos
Incentivou a prática desde a escola fundamen-
(Joes), que contempla os estudantes das escolas
tal até o ensino médio. Criou o Departamento
municipais da cidade, não teve as provas de atle-
Nacional do Desporto Olímpico e, passou a criar
tismo, pelo simples fato de não haver nenhuma
centros de excelência para cada modalidade.
escola inscrita para a competição.
Além disso, abriu as portas para profissionais de gabarito trabalharem no país, sem contar o re-
Exemplo de fora
cheado orçamento destinado ao esporte, fruto
Quando se pesquisa sobre esporte nos países
do crescimento econômico conquistado pelos
com alto, nos deparamos com uma certeza: o su-
chineses.
cesso está nas escolas. Nos Estados Unidos, todo
A Jamaica, pequeno país da América Central
o planejamento esportivo está vinculado com a
com pouco mais de 2,7 milhões de habitantes,
parte educacional. Em termos políticos, toda a
conseguiu ficar a frente de países, como o Brasil,
estrutura organizacional esportiva está vinculada
na ultima Olimpíada, conquistando 11 medalhas
diretamente com as Secretarias de Educação lo-
no total, sendo seis de ouro. Os jamaicanos in-
cais. “Lá, a Educação Física não é mais uma simples
vestiram em um esporte simples e muito prati-
matéria, e sim, uma disciplina”, aponta o professor
cado pela população: o atletismo.
Ibraim Tauil.
Atualmente, o país possui os dois homens
Na Inglaterra, país sede da próxima Olimpí-
mais rápidos do mundo: Usain Bolt — atual
ada, em Londres/2012, o mesmo conceito vem
recordista mundial dos 100 metros rasos, com
sendo aplicado há algum tempo, e os resultados
9s72 — e Asafa Powell, ex-recordista, com 9s74.
já começam a aparecer. Em Pequim, os ingleses
Ambos surgiram nas competições escolares e
tiveram uma ótima atuação, principalmente em
desenvolveram suas habilidades numa pista de
esportes que até então não conseguiam se des-
grama modesta numa das principais universida-
tacar, como badmington e softbol. No final, apa-
des jamaicanas. É onde Asafa Powell continua
receu na 4ª posição geral, com um total de 47
treinando regularmente, sem precisar recorrer
medalhas, sendo 19 de ouro.
aos grandes centros.
“No Brasil, tentam mascarar a falta de inves-
Como se vê, não precisa muito, apenas um
timento na base, aplicando a grande maioria dos
pouco de seriedade. Enquanto isso, o Brasil vai
recursos nos atletas já formados”, diz Fabio San-
se arrastando graças ao esforço e talento de al-
tos, professor da rede publica, lembrando que
guns e a esperteza de muitos.
ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
59
SAÚDE
Seja de profissionais ou amadores, o corpo das pessoas comuns pode ser aperfeiçoado para o alcance do “impossível”
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REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR
© Foto reprodução
DOPING CONTAMINA
TAMBÉM O ESPORTE AMADOR Alguns atletas se utilizam de substâncias químicas para aumentar o desempenho e obter vantagens nas competições esportivas Texto Gabriela Soldano As notícias sobre doping nos esportes de alto
de 15 e 21 anos, que foram internados em estado
rendimento têm incentivado o aumento do uso de
grave na UTI do Hospital de Base de Brasília após o
substâncias proibidas por atletas amadores, que
consumo das substâncias proibidas visando o cres-
se esquecem das conseqüências devastadoras nas
cimento de seus músculos.
carreiras dos esportistas famosos. O último caso foi
Um jovem alemão, fisiculturista amador, toma-
o da nadadora Rebeca Gusmão, que foi banida do
va esteróides duas vezes por semana. As drogas,
esporte pela Federação Internacional de Natação.
250 mg de enantato de testosterona e 30 mg de
O professor Cláudio Zanin Eduardo, da Secretaria
metandienona, induziram o crescimento de acne
Municipal de Esportes de Santos (Semes), explica
severa, feridas profundas com abcessos e pústulas
o objetivo da punição: “É preciso coibir a utilização
nas costas e no peitoral. O rapaz teve febre, enco-
desses produtos por parte dos atletas, tanto pro-
lhimento dos testículos, redução na concentração
fissionais, como amadores”.
dos espermatozóides e cicatrizes. Os sintomas de-
Bernardino Santi, médico traumatologista e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em
sapareceram com a interrupção dos esteróides, mas ele carregará as cicatrizes para sempre.
entrevista ao médico Drauzio Varella, afirma: “É preciso entender que os atletas de campeonatos
Produto indesejado
mundiais representam apenas 1% da população
O produto ADE, fabricado na Argentina, não
de esportistas e, sobre eles é exercido intenso con-
tem registro no Brasil. O Hospital de Base de Bra-
trole externo”. O professor Cláudio Zanin comenta
sília registrou 30 casos recentes do mal uso com
ainda que o efeito dessas substâncias proibidas é
graves seqüelas decorrentes da má aplicação da
apenas temporário. “Diminuem ou cessam quan-
substância. Desde 1998, há pelo menos quatro
do a sua administração é interrompida. Já, os efei-
mortes documentadas no país relacionadas aos
tos colaterais podem, por muitas vezes, ser perma-
anabolizantes. O Ministério da Agricultura afirma
nentes, podendo desencadear diversos problemas
que é permitido o uso de anabolizantes animais
de saúde”.
apenas em eqüinos, uma vez que o Estigor é indicado para engorda de gado de corte e, sua venda
Casos Graves
proibida no país.
Em 2004, seis pessoas foram internadas após o uso do medicamento Estigor para animais, que
Porque usar?
combina o esteróide anabolizante nandrolona e o
A médica clínica geral Alessandra Bittar afirma
complexo vitamínico ADE. Dois deles eram jovens
que a aparência é o principal fator da utilização de ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
61
MALEFÍCIOS
“O problema está nas pessoas que vão às academias em busca de melhor condicionamento físico. Sabendo que os atletas de ponta utilizam substâncias, usam sem se preocupar com os malefícios”
algumas substâncias. “As pessoas procuram resul-
de substâncias proibidas por atletas de alto rendi-
tados rápidos para a melhora da aparência física.
mento leva o esportista amador a utilizá-las. “Cada
A estética desejada é o fator crucial para a compra
vez mais os atletas superam recordes, ganham
destes produtos”. O personal trainer Cláudio Leite,
fama, dinheiro, patrocínio e se realizam dentro do
32 anos, afirma que os esteróides e anabolizantes
esporte, levando quem não alcançou isso, querer
estão também nas academias. “O pessoal quer au-
chegar lá também”.
mentar o tamanho dos músculos. E, logo depois,
A médica Alessandra concorda. “Sempre que
adquirem substâncias em algum ‘mercado negro’
um esportista usa e consegue resultados que acha
e, saem usando sem qualquer prescrição médica,
ser bom, o esportista amador também vai utilizar
sem noção do que estão aplicando no corpo. Estas
porque acha que vai dar certo para ele também”.
substâncias são muito perigosas, podem levar até a morte. Sem falar que seu uso é crime”.
pos explica que os motivos para a utilização des-
A estória de Fábio Vieira é diferente. “Logo que
tas substâncias são diferentes. “Hoje, o atleta de
comecei a freqüentar a academia, um orientador
alto rendimento que utiliza substâncias proibi-
disse que meus músculos não cresceriam com os
das, corre o risco de ser suspenso ou até mes-
exercícios que eu fazia. Então, ele me ofereceu um
mo banido do esporte, pois o Comitê Olímpico
complemento alimentar. Mas o que ocorreu na
Internacional (COI) é muito rígido na detecção
verdade, é que ele me vendeu foi um anabolizan-
e punição desses atletas. O esportista amador
te. Tive muita tontura, então procurei um médico,
não quer ter um melhor desempenho, mas uma
e parei com a substância. Os sintomas também
melhora na sua estética”.
pararam”. Informação como solução Especialistas alertam
Danilo e Cauê acreditam que o melhor com-
O profº. Cláudio Zanin explica que há diferenças
bate ao uso indiscriminado destas substâncias é
entre o uso de complementos alimentares e subs-
a informação, como artigos científicos, revistas,
tâncias do doping. “Os suplementos alimentares,
documentários etc. Rogério Campos afirma que os
quando utilizados de forma correta, podem auxi-
pais também devem estar atentos. “Os pais devem
liar. Diferentemente de outras substâncias proibi-
saber se o seu filho treina com um profissional re-
das, os suplementos são substâncias de uso legal.
gistrado no Conselho Regional de Educação Física
A utilização de forma indiscriminada pode causar
(CREF) e, se a academia possui registro. Mostrar
outros efeitos não desejados, como, por exemplo,
o que pode acontecer com o seu corpo se utilizar
o aumento do peso gordo”.
dessas substâncias, citando exemplos de pessoas
A médica Alessandra Bittar comenta que há
62
O professor de educação física Rogério Cam-
que tomaram e morreram”.
ainda substâncias que têm seu uso proibido pela
A médica Alessandra completa. “Deve-se expli-
Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos,
car dos efeitos maléficos dessas substâncias con-
por ter a capacidade de mascarar o uso de anabo-
tando que causam danos irreversíveis à saúde”.
lizantes. “Por exemplo, a Finasterida, usada para o
O orientador educacional tem importante pa-
tratamento da calvície tem capacidade de masca-
pel. “Estas drogas levam à dependência e até a
rar o uso da nandrolona, substância que apresenta
morte. É um custo muito alto por pouco.”, explica
capacidade anabolizante.”.
Danilo. Para o profº Cláudio “um educador é um
Danilo Rocha afirma que “nenhum educador
formador de opinião, devendo primar sempre pela
físico é gabaritado a prescrever dietas, suplemen-
formação de cidadãos saudáveis e conscientes de
tos ou remédios”. Ele também acredita que o uso
seus atos”.
REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR
subst âncias proibidas Estimulantes
Excitam o organismo, alterando o metabolismo. Destacam-se as anfetaminas, a cafeína e a cocaína. São usadas para conseguir os efeitos da adrenalina. Aumentam a capacidade de tolerância ao esforço físico e diminuem a dor. Principais esportes: o basquetebol, o ciclismo, o voleibol e o futebol. Efeitos: falta de apetite, a hipertensão arterial, palpitações e arritmias cardíacas. Podem levar a morte.
narcótico - analgésico
Relaxam ou amortizam a dor. Destacam-se: a morfina, a heroína e a hidrocodona. Principais esportes: de resistência. Efeitos: Perda de equilíbrio e coordenação, náuseas e vômitos, insônia e depressão, diminuição da freqüência cardíaca
AGENTES ANABOLIZANTES
Derivados da testosterona. Agem aumentando o tamanho dos músculos. As pessoas ganham força, potência e maior tolerância ao exercício físico. Principais esportes: halterofilistas e lutadores.
diuréticos
A bumetanida, a espronolactona, a diclofenamida e o manitol, além do triantereno e a furosemida. Provocam perda de peso e mascaramento de doping. Aumentam a formação e a excreção da urina, para eliminar mais rapidamente substâncias dopantes. Principais esportes: boxe, o judô, o halterofilismo e o karatê. Efeitos: desidratação, cãibra muscular, diminuição do volume sangüíneo, doenças renais, alterações do ritmo cardíaco e perda acentuada de sais minerais. Podem levar a morte.
Hormônios peptídicos e análogas
Atuam no organismo acelerando o crescimento corporal e diminuindo a dor. Elevam a produção de esteróides androgênicos, resultando, por exemplo, no aumento da massa muscular. Aumentam o volume e potência dos músculos. Principais esportes: aqueles exijam treinamento de força. Efeitos: ginecomastia e alterações menstruais nas mulheres. Gonadotrofinas pituitárias e sintéticas. Aumentam vários tecidos. Crescimento desmedido das mãos e pés, alteração no formato da face, alterações na voz, intolerância à glicose, compressão de nervos periféricos, hipertrofia cardíaca e doenças articulares, aumento da síntese de colágeno, aumento da absorção de cálcio e fosfato.
Fontes: http://www.spiner.com.br http://psicoativas.ufcspa.edu.br/doping.html http://www.saudenainternet.com.br
© Foto Ilustração Digital | Jeifferson Moraes
ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
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Primeira orientação
sobre o desenvolvimento normal da criança
Para os profº. Cláudio e Cauê os pais devem ser
ou do adolescente, os pais ou responsáveis
orientados a procurarem nutricionistas ou médicos
devem procurar médicos especializados antes
para tratar da alimentação e/ou suplementação de
de tomar qualquer outra atitude”.
seus filhos. “Os medicamentos para aumento da
64
massa muscular e aumento do crescimento são
Bons Hábitos
substâncias produzidas com a finalidade de serem
O educador Danilo Rocha explica o que
utilizadas por indivíduos que apresentem alguma
fazer para melhorar a auto-estima dos jovens
anormalidade que interfira no desenvolvimento
sem o uso dessas substâncias proibidas. “Con-
normal, como patologias, acidentes, entre outros”,
sultar profissionais sérios que se propõem a
declara Cauê.
fazer um trabalho limpo e sem drogas. Para
Cláudio afirma, ainda, que os medicamen-
melhorar a auto-estima, é bom orientar os
tos devem ser utilizados somente após avalia-
jovens a procurar um nutricionista, médico e
ção e prescrição médica. “Havendo dúvidas
fazer com que esse jovem se motive montan-
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© Foto reprodução
chamados “alimentos combustíveis” ou carboiOs atletas amadores devem se preocupar com pré-treino e pós-treino, para o melhor desempenho nas competições
dratos encontrados nos cereais (como a granola ou a aveia), pães, farinhas, batata, arroz, milho, macarrão e frutas, porque sua absorção é bastante rápida. Enquanto que no pós-treino ingere-se as proteínas, disponíveis nos vegetais, cereais, legumes, ovos, leite e seus derivados e carnes. O professor. Cauê La Scala explica que o segredo do sucesso em qualquer prática “se resume à dosagem adequada de três fatores: treinamento, alimentação e repouso. Porém, os efeitos estéticos tendem a aparecer geralmente após médio-longo prazo. Portanto, a paciência é uma virtude que deve ser contemplada”. Cláudio Zanin acredita que os resultados serão notados mais rapidamente se forem utilizados como estratégia para motivação e melhora da auto-estima. “A promoção da saúde tem como conseqüência a melhora da estética, porém o inverso nem sempre é verdadeiro”. Rogério Campos afirma que para o jovem conseguir o corpo desejado basta uma vida ativa, ou seja, praticar atividades direcionadas no mínimo três vezes na semana, bons hábitos alimentares e boas noites de sono. “Pode acreditar que é o suficiente para ter um corpo
do programas de treinamento que não caiam na rotina”.
saudável”. Cauê declara que a utilização de substân-
A médica Alessandra explica que o corpo
cias proibidas no esporte é um ato covarde,
desejado pode ser alcançado somente com
“porque vai contra a real essência esportiva,
boa alimentação e cuidados no pós e pré-trei-
pode trazer diversos prejuízos à saúde, po-
no. “Antes e após deve-se ingerir carboidratos
dendo levar até à morte. No meio esportivo,
que auxiliam na recuperação dos músculos. No
como em qualquer outra área da atividade
pré-treino a alimentação funciona como com-
física, a saúde deve ser sempre respeitada e
bustível, enquanto que no pós-treino ingere-se
tida como um dos objetivos, senão o principal,
proteínas para recuperar o músculo cansado.
a ser conquistado”. Rogério Campos garante o
Deve-se tomar cuidado para não causar estres-
que todos deveriam realmente buscar no es-
se muscular, que ocasiona danos indesejáveis.
porte não é um corpo malhado, mas sim um
Fazer exercícios sempre, mas com moderação”.
corpo saudável. “Muitas vezes um corpo forte
Dessa forma, no pré-treino é preciso ingerir os
não é sinônimo de saúde”.
ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
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CIÊNCIA
DOPPING
DO FUTURO
Seja de profissionais ou amadores, o corpo das pessoas comuns pode ser aperfeiçoado para o alcance do “impossível”
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© Foto Gabriela Soldano
O doping genético se revela como umas das prioridades para os novos tempos no combate à dopagem Texto Gabriela Soldano Depois do encerramento dos Jogos Olím-
Procedimento
picos na China, a rede de televisão alemã ARD
A técnica consiste na preparação de células
Network produziu um documentário, que de-
humanas, que melhoram a performance físi-
nunciava: atletas da China e de outros países te-
ca, sem recorrer a qualquer substância ilegal,
riam utilizado o doping genético para obter suas
ou seja, altera-se a parte genética do atleta de
medalhas.
modo a adequar a estrutura de seu corpo às
Um hospital chinês teria realizado o trata-
necessidades de seu esporte. O prof. dr. e fi-
mento de disseminação de células-tronco pela
siologista do Santos Futebol Clube Ivan Piçarro
corrente sangüínea, fortalecendo os órgãos e
explica que o doping genético é a manipulação
melhorando o desempenho dos atletas, pelo
dos genes, modificando o que a célula produz
preço de US$24 mil. O Ministério dos Esportes
ou faz. “O que se faz é pegar uma bactéria e tirar
da China negou tais fatos, e afirmou que a sede
o material genético dela, introduzindo um gene
dessas Olimpíadas combate qualquer ilegalida-
específico para a produção de hormônios. Por
de nos jogos.
exemplo, se for inserido o hormônio do cres-
O prof. e coordenador de Educação Física da
cimento, a partir de então a bactéria será uma
Unisanta Nicolau Teixeira Ramos explica que se
produtora deste hormônio. É simplesmente pe-
houver alguma suspeita todos os testes de anti-
gar um vírus ou uma bactéria e colocar neles um
dopagem terão de ser refeitos. “As amostras dos
gene sintético, aplicando no indivíduo a fim de
testes antidoping ficam guardadas durante cinco
ter um melhora muscular ou um aumento de
anos, conforme exigência olímpica. Se ocorrer
hemoglobina”.
alguma suspeita de doping nesse período, todas
O prof. Piçarro explica, ainda, que há uma
as amostras terão que ser testadas novamente.
grande busca por estes resultados na medici-
Não importa se o atleta ganhou ou não dispu-
na. “Os médicos poderá curar doenças crônicas,
tou. Todos devem passar por novo exame. A
como diabetes, Alzheimer, Parkinson. Porém,
confederação de cada atleta deve fazer o exame
tudo isso são tentativas que demorarão muito
e mandar para o Comitê Olímpico Internacional.
tempo ainda para acontecer”.
Dessa forma, todos os exames retornam e são refeitos pra ver se existe algum tipo de doping”.
Revelação
O doping genético já é considerado o “doping
O doping genético é de difícil detecção, pois
do futuro”. Seu conceito está na lista da Agência
ocorre no próprio corpo do atleta, ou seja, é fi-
Mundial Antidopagem desde o ano de 2003.
siológico e não exige o uso de substâncias proiESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
67
bidas. Mas, é eficaz.
sendo estudadas com a finalidade de curar
As análises sangüíneas convencionais não o
doenças crônicas. O gene destes indivíduos
detectam, pois nenhuma substância ilícita foi
seria modificado para fabricar uma proteína,
introduzida na corrente sangüínea do atleta,
por exemplo, ou então lutar contra o câncer”,
uma vez que o estímulo ao aumento de glóbulos
declara o prof. Ivan Piçarro.Essas técnicas mo-
vermelhos aumenta a oxigenação, ocasionando
dernas de mudanças genéticas possibilitarão
resistência ao esforço físico.
ao atleta ganho de força e resistência. O prof.
O coordenador Nicolau Teixeira afirma que o
Ivan cita alguns dos efeitos. “Pode aumentar a
Comitê Olímpico Internacional ainda não pegou
massa muscular, a força de contração, a pro-
nenhum atleta utilizando-se deste doping. “É
dução de hemoglobina e hemáceas, etc. en-
difícil pegar o doping genético, porque o atleta
fim, melhorar o desempenho de forma natu-
não produz uma prova no seu corpo, uma vez
ral e espantosa”.
que a pessoa terá mais um cromossomo que altera o metabolismo. Para o atleta quanto mais
Resultados
acelerado o organismo, melhor”.
Entretanto, tais mudanças podem ter conseqüências letais. “Não se sabe como ligar
Práticas
e desligar esse mecanismo. Em ratos, isso já
O método mais moderno para o aumento
pode ser ligado, mas desligar é uma coisa que
dessa capacidade de transportar oxigênio é o
não é conhecida. Isso pode levar a um câncer
EPO (diminutivo da eritropoetina). Injetando
ou não, porque estimula a produção de células
essa versão sintética do hormônio secretado
inadequadas, já que o organismo não consegue
pelo rim, o EPO estimula a produção de glóbulos
reconhecê-las. Isso ainda é um risco e muito pe-
vermelhos pela medula óssea, o que aumenta a
rigoso”.
hemoglobina, aumentando consequentemente
O doping genético não é o doping sanguíneo.
o transporte de oxigênio na corrente sangüínea.
Muito utilizado nos soviéticos nos anos 70 e 80,
O resultado são músculos com maior energia
e até na olimpíada de Moscou, o doping sangüí-
e melhor desempenho nas práticas esportivas.
neo é realizado através de transfusão de sangue,
Porém, o prof. Piçarro declara que esse procedi-
com a inserção de mais glóbulos vermelhos no
mento ainda não é realizado em seres humanos.
organismo. “O atleta treina para uma olimpíada,
“O que existe é uma bactéria chamada AAD, da
e dois meses antes chega ao ápice deste treina-
qual os pesquisadores tiram o material genéti-
mento. Ele tira dois litros de sangue e guarda
co e introduzem um gene que estimula o fator
num lugar refrigerado. Um ou dois dias antes
do crescimento. Isso é feito hoje somente em
da competição, injeta novamente seu sangue no
ratos. Foi realizado em uma Universidade dos
próprio corpo. Isso acelera o bombeamento do
EUA, onde eles conseguiram modificar a força e
coração e mexe com a pressão arterial. Embora
a velocidade destes ratos, aumentando a massa
seja seu sangue dá alteração, porque o organis-
muscular. Em pessoas isso ainda não foi tenta-
mo pode rejeitar”, explica o prof. Nicolau.
do. E se for, dificilmente será reconhecido de imediato”.
Para o prof. Piçarro não há fórmulas mágicas para o desempenho do atleta. “Ele precisa ser abençoado geneticamente e, ainda, treinar mui-
Ficção
to da forma correta para tentar conseguir atingir
Assim, o doping genético seria hoje aplica-
seus objetivos, sem se utilizar de métodos des-
do apenas na teoria. “Algumas técnicas estão
68
REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR
conhecidos e arriscados”.
Super Atletas O doping cria uma desvantagem grande em relação aos que não usam substâncias proibidas. Por isso existem tantos testes antidoping. Mas e se o corpo for modificado geneticamente? Texto Amanda Albuquerque Imagine que alguns homens e mulheres se-
no pódio. Suas células foram melhores desen-
jam capazes de resistir ao cansaço, à apnéia,
volvidas! Seus estudos tiveram o sucesso de-
às dores musculares, simplesmente porque a
sejado! São os melhores! “Toma isso, Rússia!
composição genética é perfeita para correr e/
Toma isso, Japão! A medalha é nossa!” – gritam
ou saltar. É claro que essas pessoas se tornariam
os chineses.
atletas. Agora, imagine se os atletas acabarem
Não que desenvolver uma técnica para me-
virando uma raça, uma raça de super-pessoas,
lhorar o desempenho físico seja algo errado,
superiores às pessoas normais. Pois é, alguém
mas tira completamente o espírito de esforço
imaginou. Na tentativa de driblar os testes anti-
dos atletas. Não seria mais necessário passar
doping, os chineses chegaram perto de construir
anos e anos treinando com toda a disciplina e
uma confederação X-man. O fato ainda não foi
dedicação para chegar às Olimpíadas. Ter a in-
comprovado, mas os alemães estão querendo
fância inteira entregue a um esporte seria uma
provar, estão! Não basta mais um atleta treinar a
amostra de gostar muito da modalidade, não
vida inteira para alcançar seu objetivo. Os espor-
um desejo latente de ter o peso do ouro no pei-
tes vão se tornar uma releitura da Guerra Fria, só
to. O esporte deveria ser algo que exige física e
que mostrando ao mundo a habilidade de cada
mentalmente do atleta, é algo que dá emoção
país em desenvolver a melhor célula humana. O
tanto para quem compete quanto para quem
corredor virou o cientista e os 100m rasos, os
assiste. É o calor do esforço e a conquista me-
laboratórios. No máximo quem corre de verda-
recida. É o talento físico, não a quantidade de
de é o ratinho que serve de cobaia. É um bom
estudo biológico. É na quadra (ou piscina) e não
enredo para um filme de ficção científica...
no laboratório. É no caderno de esportes e não
Não. Ficção científica, não! Ficção seria se
do de tecnologia.
isso fosse uma progressão de fatos. Mas, pela
Em breve a quebra de recordes se tornará
bagatela de US$24 mil, todo o código genético
tão repetitiva que nem mais será anunciada. Os
que melhora a performance física pode ser seu
jogos terão que ser passados todos em câme-
ou de seu atleta. Seria até muito bonito de se
ra lenta, senão os olhos das pessoas normais
ver: um monte de homens vestidos com jale-
(aquelas que possuem a genética dos pais) não
cos brancos se abraçando, chorando e bebendo
serão capazes de anunciar. Só vai faltar atletas
champanhe quando o vencedor da prova sobe
usando máscaras, capas e salvando pessoas.
ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
69
LEGISLAÇÃO
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REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR
© Foto Divulgação UNIMONTE
ELES ACREDITAM ELES INVESTEM NOS ATLETAS
Dedicação é a base do esporte, mas é necessário patrocínio. Cientes disso, empresas e instituições de ensino dedicam seu tempo e dinheiro para atletas amadores Texto Jeferson Marques
Dificuldades, barreiras e diversos problemas.
real, e pessoas físicas podem abater 6%, desde
É assim que os atletas amadores encaram as
que comprovado oficialmente uma renda men-
suas modalidades. A falta de incentivo da mí-
sal aproximada de R$10 mil.
dia, de patrocínio, o apoio que não vem de lado
Porém, ela vale apenas a esportistas amado-
nenhum, tudo isso, com uma boa dose de má
res. Atletas que recebam qualquer tipo de salá-
vontade por parte das instituições, desmotivam
rio não são beneficiados pela lei. Mesmo antes
aqueles que almejam levar o nome do país es-
da lei, já existia exemplos de empresas que in-
tampado no peito. Depois dessas dificuldades,
vestem no esporte amador.
parece que a tão sonhada ‘luz no fim do túnel’ acendeu.
Petrobrás
A Lei de Incentivo ao Esporte já é discutida
A Petrobrás investe do handebol e no surfe,
há mais de 40 anos e está há apenas 23 na pauta
e se orgulha muito disso. “Para a Petrobras, pa-
do Congresso Nacional. No dia 04 de maio de
trocinar o esporte é uma maneira de contribuir
2006, a lei foi oficialmente lançada durante a II
para o crescimento do esporte nacional, além
Conferência Nacional do Esporte, em Brasília,
de associar à imagem da companhia valores e
aprovada sete meses depois pela Câmara dos
atributos que estejam de acordo com os seus
Deputados e encaminhada ao Senado Federal
objetivos. Investir no esporte também é uma
no dia 28 de novembro do mesmo ano. Depois
das melhores ferramentas para combater a de-
de mudanças pelo Senado, a lei voltou à Câmara
sigualdade social e contribuir para o surgimento
dos Deputados e, finalmente, entrou em vigor
de uma nova geração moldada a partir de prin-
no dia 03 de agosto de 2008. É, antes tarde do
cípios sólidos de cidadania, ética e igualdade
que nunca!
social”, diz a empresa. “Temos um histórico de
Essa lei funciona com doações e patrocínios
apoio ao esporte e desenvolvemos mecanismos
para diversos tipos de projetos desportivos,
que agilizam esse trabalho. Um deles é o pro-
que poderão ser dados e abatidos no imposto
grama Petrobras Esporte & Cidadania, lançado
de renda. A lei prevê que as empresas podem
este ano, que permite que projetos esportivos
abater até 1% do imposto devido de pessoas ju-
de todo o país sejam patrocinados, por meio da
rídicas, que é calculado com base em seu lucro
Lei de Incentivo ao Esporte”, completa. ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
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A UNIMONTE investe há mais de 15 anos em atletas amadores. Fernanda Garcia está entre eles
sabilidade social e ambiental. O programa vai destinar R$25 milhões a projetos de todo o país, devidamente aprovados pelo Ministério do Esporte, em programas nas áreas de educação, participação voluntária e rendimento, servindo de ferramenta para a integração dos diferentes agentes do esporte nacional, confederações, federações, atletas, escolas, professores, praticantes de atividades físicas e interessados. COSIPA Outra grande empresa voltada ao Incentivo ao Esporte é a Cosipa (Siderúrgica da Usiminas). A empresa foi uma das primeiras a utilizar os benefícios da Lei Federal e destinou R$ 2,2 milhões a projetos esportivos de âmbito local, regional e nacional, para ao longo deste ano. Já foi inaugurado no dia 1º de agosto desse ano, em Cubatão, o Núcleo de Formação do Instituto Janeth Arcain, homenagem à ex-atleta da seleção brasileira de basquete feminino e que já coordena outro núcleo em Santo André, que beneficiará cerca de 100 crianças e jovens de 7 a 12 anos, matriculados e freqüentando regularmente escolas de ensino básico ou fundamental. O objetivo do projeto é, por meio da prática do basquete, elevar a auto-estima, disciplina e sociabilização.
72
A empresa enfatiza, também, que existe, sim,
A Cosipa também entra forte no Judô, com o
um retorno satisfatório ao patrocinar o esporte
projeto do campeão olímpico Rogério Sampaio,
amador: “O retorno depende dos objetivos dos
o “Judô em Ação”. Visando competições estadu-
patrocínios e dos atributos específicos das mo-
ais, nacionais e internacionais, o objetivo será o
dalidades. É claro que existe o retorno institu-
treinamento de 30 atletas de 15 a 30 anos, de
cional, por placas publicitárias, nos uniformes,
Santos, Guarujá e São Vicente, selecionados en-
campanhas e mídia”, esclarece.
tre os melhores da Copa São Paulo e também
O projeto “Petrobrás Esporte & Cidadania”
por performances internacionais. O Judô em
estenderá ao esporte a Seleção Pública de pro-
Ação é o primeiro projeto aprovado da Baixada
jetos realizados nas áreas de cultura, respon-
Santista para captação de recursos da Lei de In-
REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR
© Fotos Divulgação UNIMONTE
centivo ao Esporte. Na opinião da ex-atleta Jane-
Clube, e implantou a Escola de Futebol do Rei,
th, acompanhar o rendimento escolar dos atle-
onde é desenvolvido projeto de inclusão social.
tas é indispensável. “Acompanhamos o boletim
“Consciente da importância do esporte na for-
escolar dos alunos e já temos grupos de estudo
mação do cidadão e sabendo das inúmeras di-
que ajudam os que estão com dificuldades na
ficuldades dos atletas em obter um patrocínio,
escola”, declara. A Cosipa informa que muito
decidi criar o Projeto Esportivo da Memorial.
mais interessante que patrocinar o esporte
Além de estar completamente satisfeito com
amador é a integração individual e coletiva: “A
os resultados, também sou esportista e pratico
lei de incentivo ao esporte é voltada ao apoio
boxe e ciclismo”, finalizou o empresário.
à inclusão social, à formação e à participação das pessoas. A Cosipa e a Usiminas foram as
UNISANTA
primeiras a receber apoio, no final de 2007,
A Universidade Santa Cecília mantém equi-
mas outros projetos voltados à região virão ao
pes de natação da categoria petiz a sênior
longo deste e dos próximos anos”, completou
(principal), em um total de 300 alunos-atletas
o Assessor de Relações Institucionais da Cosi-
federados. Ana Marcela Cunha e Kaio Márcio
pa, Luiz Carlos Bezerra.
de Almeida estiveram nos Jogos Olímpicos, figurando nos Top 5 e Top 7 da natação mundial,
Memorial Necrópole Ecumênica
em suas respectivas provas (10 km e 200 borbo-
A trajetória de sucesso no ramo iniciou-se
leta). Segundo o Assessor de Esportes da Uni-
há mais de 20 anos, quando o empresário Pepe
santa, Dejair dos Santos, o grande problema da
Altstut, responsável pela criação e manuten-
falta de apoio ao esporte começa no interesse e
ção do Memorial, iniciou seu projeto apoiando
comprometimento de empresários.
o boxe. A partir de 1991 a Memorial passou a
“Como ocorre nos EUA, onde o esporte
apostar em outras modalidades e hoje apóia
está na escala nos mais diferentes níveis, de-
mais de 170 atletas: “Entre os destaques, além
veria ocorrer no Brasil, mas infelizmente são
do ultramaratonista Valmir Nunes, inúmeros
poucas as instituições de ensino superior que
atletas de pedestrianismo e equipes campeãs
verdadeiramente investem na formação de
de boxe e de ciclismo. A equipe de ciclismo é
atletas de alto rendimento”, explica Dejair. Ele
uma das mais tradicionais do País e atual líder
menciona o apoio das empresas que, segundo
do ranking nacional”, conta Altstut, com grande
ele, visam retorno rápido e esquecem o lado
orgulho. Entre os destaques do pedestrianismo
mais importante, o da seqüência. “As empresas,
está Andréa Celeste Benites, vice-campeã da
na maioria dos casos, buscam retornos imedia-
Meia-Maratona A Tribuna-Praia Grande deste
tos e não a afirmação de gerações de atletas.
ano e atual campeã do Circuito Santista de Pe-
Por isso temos o quadro é variável neste meio.
destrianismo.
Quem se lembra da Pirelli, da Sadia, que inves-
Por meio de uma bem sucedida parceria com
tiam nas décadas de 80 e 90? Provavelmente em
o Pelé, o Grupo Altstut montou em Santos uma
dez anos ninguém se lembrará de empresas que
equipe de futebol profissional, o Litoral Futebol
hoje investem no esporte”, finalizou. ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
73
CURRÍCULO
“A faculdade não é feita somente de aulas. O esporte está incluso no processo e é um dos fenômenos sócioculturais mais visado do século”
74
UNIMONTE
25% e 100%”, explicou. A importância do apoio
A universidade Monte Serrat tem como foco
de uma instituição de ensino vai além da sala de
principal as modalidades conhecidas como outdoor,
aula. “A faculdade não é feita somente de profes-
ou seja, disputadas a céu aberto. As modalidades são
sores. O esporte está incluso no processo e é um
triátlon, biathlon, pedestrianismo, natação de mar,
dos fenômenos sócio-culturais mais importantes
futevôlei, ciclismo, vela e surf.
do século”, diz Borges.
José Renato Borges, conhecido como ‘Mos-
A Unimonte já apóia e investe no esporte há
quito’, Coordenador de Esportes explica como
mais de 15 anos e teve nomes destacados ao lon-
o atleta pode conseguir o apoio da Unimonte:
go deste tempo, como o judoca Leandro Guilheiro,
“Para ter direito à Bolsa Atleta, o esportista
duas vezes medalhista de bronze em Olimpíadas,
deve estar envolvido em competições das mo-
a nadadora Poliana Okimoto, os triatletas Carla
dalidades que apoiamos. Dependendo do seu
Moreno e Paulo Miyasiro, e muitos outros. Atual-
nível técnico em âmbito municipal, estadual,
mente, entre os principais destaques estão Pauê,
nacional e/ou internacional, definimos a por-
único surfista e triatleta bi-amputado, e Eduardo
centagem da bolsa de estudos que varia entre
Magrão, atual campeão mundial de futevôlei.
Abaixo, a equipe de ciclismo do Memorial é uma das mais tradicionais do País e atual líder do ranking nacional
REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR
© Fotos Divulgação UNIMONTE
SUOR ENTREVISTA
O diretor do ICA e instrutor de v么os Paulo Ortega, ao lado do avi茫o experimental Rans Coiote fabricado pela Flyer do Brasil
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REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR
SONHO DE VOAR
HABILITAÇÃO
FORMAÇÃO DE PILOTOS AMADORES Texto Jeifferson Moraes
O instrutor de vôo Paulo Ortega revela que virar piloto amador não é um desejo impossível. O céu não está mais tão distante chão Em Paris, no campo de Bagatelle, milhares
no País, chamados de ultraleves.
de pessoas estavam ansiosas. Um homem fran-
Para explicar um pouco sobre essa modali-
zino, de chapéu Panamá – branco com abas
dade, a Revista Suor fez uma entrevista com o
amassadas – elegantemente trajado, dividia a
instrutor de vôo, comandante e piloto de heli-
atenção do público com uma curiosa máquina.
cópteros, Paulo Ortega, responsável pelo único
Caminhando, atravessou um amplo gramado
aeroclube de ultraleves do litoral paulista, loca-
em direção à sua criação. Tratava-se de uma
lizado em Peruíbe. Ortega já formou mais de 60
aeronave moderna. Tinha enormes asas, que
pilotos amadores. A construção do aeroclube se
lembravam vários caixotes unidos, e na popa –
iniciou em 1992 e os primeiros vôos ocorreram
traseira – uma hélice de pá dupla que parecia
dois anos depois.
um ventilador gigante. O barulho da ignição e o ruído do motor Levavasseur, de 24 HP, abafou o murmúrio da platéia que, logo depois, explodiu
Suor — Existe algum tipo de habilitação para as pessoas que pilotam ultraleves?
de entusiasmo ao ver a máquina voar a uma alti-
P. O. — Sim. É através do Certificado de Pilo-
tude de 3 metros e percorrer aproximadamente
to Desportivo (CPD), emitido pelo Departamen-
60 metros.
to de Aviação Civil (DAC), que se tem permissão
Você leu acima o que provavelmente aconteceu em 23 de outubro de 1906, quando o
“Igual aos automóveis, que seguem normas do Ministério dos Transportes, o piloto de ultraleve deve estar devidadamente habilitado pelo Comando da Aeronáutica”
para pilotar ultraleves experimentais com até duas pessoas.
brasileiro Alberto Santos Dumont fez, pela primeira vez em público, um vôo solo que mudou
Suor — Como se consegue um CPD?
para sempre a história da aviação mundial. 102
P. O. — Igual aos automóveis, que seguem
anos depois, pilotos amadores perpetuam, em
normas do Ministério dos Transportes, o piloto
diversos aeroclubes do Brasil, o sonho de Santos
de ultraleve deve estar devidamente habilitado
Dumont. Voam por esporte e lazer, em aviões
pelo Comando da Aeronáutica. O interessado
que seguem a mesma simplicidade e princípio
deve realizar um curso e se associar a um aero-
do 14 Bis, porém são mais modernos, seguros e
clube que seja devidamente credenciado como
seguem às rígidas normas e leis da Aviação Civil
escola de vôo e, também, seguir alguns requisi-
© Foto Jeifferson Moraes
ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
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ANOTE O ICA está localizado em Peruíbe (SP), no final da Av. Luciano de Bona. Para visitar o local é necessário agendar pelo telefone (13) 3455.3919.
tos, como ter no mínimo 18 anos e passar nos
manutenções. Hoje, existem ultraleves que são
exames médicos exigidos.
mais modernos que boa parte dos aviões convencionais em operação no Brasil. Existem mo-
Suor — Quais são os custos do curso de vôo?
delos que se assemelham a aviões convencio-
P. O. — No Ilha Clube Aerodesportivo (ICA) a
nais de cabines fechadas, asas baixas ou altas,
matrícula, que incluiu algumas taxas, o material
e na construção utilizam alumínio aeronáutico e
didático e a primeira anuidade de sócio do ae-
fibra de carbono. São equipados com modernos
Na Internet, peruibeultraleve.com.br
roclube, sai tudo por R$ 350. Após ser aprova-
instrumentos de navegação, rádio e GPS.
E-mail, portega@uol.com.br
uma média de 25 horas de aula em vôo com um
O local funciona todos os dias das 9h até o pôr do Sol, possui restaurante, posto de abastecimento de aeronaves e hangar
do nas provas teóricas o aluno terá que cumprir instrutor. O custo da hora de vôo na instrução básica é R$ 240 e na avançada R$ 290.
Suor — Quais modelos de ultraleves são utilizados no ICA? P. O. — Utilizamos para instruções básicas o Flyer GT com propulsor traseiro e asas revestidas
Suor — Qual é a diferença do Piloto Desportivo para o Piloto Privado?
de tela e cabine aberta. Para as aulas avançadas utilizamos o modelo Rans Coiote, que se asse-
P. O. —O Piloto Desportivo tem algumas li-
melha a um avião comum, de cabine fechada,
mitações, como o tipo de aeronave que poderá
com motopropulsor trator [motor e hélice loca-
pilotar, no caso o ultraleve, o CPD só é válido no
lizado na frente], feito de alumínio, asas altas e
Brasil, não pode ser remunerado para realizar
motor com duas ignições.
vôos e não pode entrar em espaço aéreo controlado, que para isso terá que ter o CPR, que é o Certificado de Piloto de Recreio. O CPR é uma
Suor — Quanto custa esses aviões e a manutenção?
instrução que o Piloto Desportivo tem para po-
P. O. — O Flyer GT custa em média R$
der ser habilitado à comunicação com as torres
25 mil e o Rans Coiote R$ 90 mil. Mas no
e entender os procedimentos de vôo nesse tipo
ICA temos aeronaves de clientes que são a
de espaço aéreo. Já o Piloto Privado possui tudo
coqueluche do momento, no caso do RV-9A
isso no seu curso e ainda pode pilotar aeronaves
que chega a atingir quase 300 km/h e cus-
homologadas.
ta aproximadamente R$ 220 mil. A manutenção é outra vantagem, em comparação
Suor — O que é um ultraleve?
a maioria dos aviões, o proprietário de um
P. O. — É uma aeronave muito leve, experi-
desses modelos não gasta mais que R$ 500
mental e tripulada, utilizada exclusivamente em
ao mês.
operações privadas, principalmente desportivo e de recreio, durante o dia, em condições visuais, para até dois ocupantes e com peso máximo de 750 kg.
Suor — Qual é o tipo de público que procura o aeroclube para se tornar um Piloto Desportivo? P. O. — São na maioria empresários que procuram uma forma de lazer diferente realizando
Suor — Os ultraleves são seguros?
o sonho de voar. Os mais experientes viajam o
P. O. — Sim, muito seguros. Como toda ae-
Brasil, alguns vão almoçar em Florianópolis, que
ronave, o ultraleve deve obedecer às rigorosas 78
REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR
fica a duas horas de vôo daqui. © Fotos Jeifferson Moraes
Acima, instrutor em vôo de demonstração no avião experimental Rans Coiote sobre o litoral de Peruíbe. Abaixo, vista panorâmica da Estação Ecológica da Juréia-Itatins, região que proporciona uma bela paisagem e torna-se ideal para vôos de lazer realizados por Pilotos Desportivos
ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
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CRテ年ICA
PRAZER, SOU ATLETA Texto Gabriela Soldano
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REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR
ツゥ Ilustraテァテ」o Gabriela Soldano
N
ão há salário ou patrocínio. Sem prêmios
São fundamentais, ainda, para incentivar a econo-
ou troféus. Sem reconhecimento e sem
mia local, a cultura e o lazer de suas cidades. São eles
dinheiro. Muitas ambições e muita dedi-
que fomentam a iniciativa em outras pessoas para a
cação ao esporte.Uma luta constante para continuar
prática de um determinado esporte.Treinam esperan-
jogando, pois sem infra-estrutura, os jogadores têm de
do, um dia, serem reconhecidos pelas prefeituras, se-
se adaptar com uniformes usados, surrados, confec-
cretarias ou outros órgãos públicos para se tornarem
cionados por eles mesmos, com bolas e redes obtidas
profissionais. Mas, o quem é o esportista profissional?
através de doações.
Profissional é aquele que realiza por dinheiro, visando
Há quem pense que isso pode fazer com que de-
o lucro, uma ocupação comumente exercida como
sistam. Pelo contrário, a falta de incentivo faz com que
passatempo. Mas, espera um pouco, esporte não é um
brilhem ainda mais. Exemplos de determinação, os es-
passatempo?Exatamente. Profissional é aquele que re-
portistas amadores suam a camisa apenas para mostrar
aliza uma arte que é comumente feita por amadores, ou
sua dedicação ao esporte.Mas, afinal, o que é o esporte?
seja, que tem como meio de vida um ofício fundamen-
Quando se procura no dicionário, a primeira resposta
talmente amador.
que aparece é: passatempo, divertimento. Porém, mui-
Dessa forma, só resta uma conclusão: o esporte
tos já se esqueceram deste significado. Muitas vezes,
é único. Em sua raiz, não há qualquer diferença en-
estes que se utilizam do esporte como único meio de
tre amador e profissional. Independentemente de
sustento, se esquecem de suas raízes: a pelada na rua,
quem o pratica, as regras são as mesmas, o esporte é
o futebol na quadra do bairro com os amigos, o vôlei na
o mesmo. A única diferença é o recebimento de um
praia, a natação na piscina da casa do amigo, o basquete
salário ou não, uma vez que o adjetivo “profissional”
na quadra improvisada. Estes se esquecem que já co-
acompanha um extrato bancário maior. Os adjetivos
meçaram do zero, que foram esportistas amadores.
“profissional” ou “amador” que acompanham o es-
Esportista é aquela pessoa que se dedica ao espor-
porte apenas definem a forma de participação do
te. Amador é aquele que se dedica a uma arte por mero
atleta. O primeiro pratica mediante remuneração e
prazer. Então, amador é aquele que se dedica ao esporte
contrato formal, já o segundo não tem nenhuma das
por mero prazer? Não. É aquele que se dedica por amor
duas prerrogativas. Porém, conforme a legislação de
ao esporte. Treina todos os dias, todos os momentos
nosso país (artigo 26, da Lei 9.615/98), é a situação
que tem um espacinho na agenda diária, procura infor-
do atleta que define se é profissional ou amador.
mações, encontra soluções, apenas porque ama aquilo
O esporte será sempre único para todos eles, seja
que faz. É um sentimento de dedicação absoluta a uma
quem for o praticante.
arte, sem receber qualquer investimento ou reconheci-
Por esta razão, todos são iguais. É isso que atleta deve
mento em troca. Exatamente por isso são fundamen-
manter em mente: nunca se esquecer de onde veio. Nem
tais. O reconhecimento das pessoas, que nada podem
do esportista amador que luta todos os dias para seguir o
oferecer para melhorar as condições do treinamento,
exemplo daquele que já venceu, que segue os passos da-
faz com que não desistam. Dão esperanças para seguir
quele que um dia jogava futebol descalço na rua sonhando
em frente e continuar treinando.
em ser descoberto por um time internacional. ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR
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