Revista Suor

Page 1

,




Ao leitor ESPORTE AMADOR

ano I - número 01 - novembro 2008 Universidade Santa Cecília Faculdade de Artes e Comunicação Jornalismo Diretor Humberto Challoub Coordenador Robson Bastos Professora Responsável Elaine Saboya

Capa Criação: Jeifferson Moraes Foto: Fornecida pela AcdBS Editoras Gabriela Soldano babigabriela@hotmail.com

Amanda Albuquerque amandamalbuquerque@hotmail.com

Diagramador Jeifferson Moraes Repórteres Aline Monteiro Amanda Albuquerque Bruno Quiqueto Gabriela Aguiar Gabriela Soldano Jeifferson Moraes Jeferson Marques Jordan Fraiberg Rogério Amador Tatiana Ferraz

Esporte é toda atividade física recreativa ou competitiva, individual ou coletiva, que exige esforço físico ou habilidade. Porém, não é feito somente de Phelps, de Gibas, de Federers ou Pelé. O esporte está presente também na vida das pessoas comuns, seja pela televisão seja ou na ida à academia que fica na esquina de casa. Não é só de profissionais que vive este ramo. Através da Revista Suor, queremos mostrar os nossos amadores. Até porque o renascimento dos Jogos Olímpicos, ainda em 1896, pelo barão Pierre de Coubertin, teve caráter amadorístico, uma vez que para promover os Jogos criou-se o Comitê Olímpico Internacional, que teve a função de incentivar o desenvolvimento do esporte mantendo o espírito contemplado na célebre frase do barão: “O importante não é vencer, mas competir”. Mas, o que é o esporte amador? O esporte amador é aquele que se pratica apenas por prazer. Aquele que é realizado sem patrocínio, sem incentivo e que, por vezes, necessita mais. Porque não basta amar o esporte. É preciso conhecimento aprofundado do corpo e seus limites, acompanhamento e orientação médica. O esportista amador treina nas horas vagas de seu dia, nos finais de semana. Nos intervalos de sua vida. Percebendo que a região é carente na divulgação de nossos esportistas amadores, pois muitos não sabem das potencialidades que possuímos, criamos a Revista Suor. Queremos divulgar, comentar e relatar aspectos do esporte amador da região. A revista não é somente para atletas, mas também para aquelas pessoas que procuram fazer uma modalidade por saúde ou lazer, uma vez que o esporte contribui para a interação de um grupo de pessoas, conectando-as além das quadras ou piscinas, possuindo também a característica de auxiliar na busca pelo corpo ideal ou pela saúde livre de sintomas de doenças, como, por exemplo, a bronquite, a diabetes, hipertensão etc. Ao longo das páginas desta edição, os temas são abordados de forma simples e direta. Trabalhando, lutando ou mesmo desafiando a própria estrutura de seu corpo, a Suor estará sempre divulgando o esporte amador. Boa leitura!


Sumário RAÍZES

PRATA DA CASA

PELADA

Tamburello, TAMBOR, TAMBORÉU...

A Copa do Mundo de Futebol de Rua mostra que todo jogador, antes de ir pro gramado, jogava bola na rua de casa

Gabriela Aguiar

Amanda Albuquerque

Dia de sol em uma orla bem movimentada. O céu azul reflete no mar de águas escuras e agita-

2

O brilho do sol é interrompido pela sombra da

Divulgação

bola que vem alta em sua direção. Mata no peito

Hoje a procura pelo tamboréu vem crescendo

ticipando em pequenas competições inter-ruas. O sonho de se tornar o próximo Ronaldo sem-

das, produzindo a sensação da imensidão. Muitas

a cada ano, com a inserção de novos atletas ao

e domina. Dois vêm em sua direção, um de cada

pre existiu em seu coração, mas a vida é difícil na

pessoas aproveitam o domingo de folga. Nas areias

quadro de filiados da Liga Santista de Tamboréu.

lado. Dribla um, a torcida vai à loucura. Dribla dois,

Vila Nova. Desde cedo teve que trabalhar para aju-

próximas ao mar ouve-se o som da bolinha sob a

Segundo Rodrigues, o incentivo vem dos pais já

a torcida começa a gritar seu nome. Sente nos pés

dar em casa. Não poderia deixar de ir para a escola.

raquete de madeira. Uma dupla de cada lado da

praticantes ou ex-praticantes da modalidade. “Por

o calor do chão aumentar, bate no ouvido o som

Seguir o sonho dourado de vestir a camisa de um

quadra, dividida por uma rede com um metro de

ser um esporte amador e não muito difundido pelo

da galera gritando “Betinho! Betinho! Betinho!”.

grande clube e pisar no tapete verde do Maracanã

altura. A regra do jogo é simples: existe a zona de

Brasil, essa crescença não se torna muito acen-

Escuta junto a voz de José SIlvério narrando todos

se tornou impossível, principalmente com tantas

saque e a área onde a bola deve cair. Cada erro

tuada em detrimento a esportes mais populares

os seus movimentos enquanto olha o gol. Chuta.

decepções. “Eu já tentei fazer teste no Santos, mas

conta ponto para o adversário. São três sets de dez

e similares ao tamboréu, tais como o tênis, fres-

É gol. Roberto grita em comemoração enquanto

não deu nada certo. Lembro que o treinador nos

pontos cada um. Assim é o tamboréu.

cobol e squash, mas não deixa de ser um esporte

sai correndo, de braços abertos, ao som da torcida

mandou correr muito, até ficarmos bem cansados,

Há 41 anos, a Liga Santista de Tamboréu man-

em crescimento, um dos motivos que inserimos

que grita e canta enlouquecida. Os colegas de time

e então começar um jogo experimental. Acontece

tém uma parceria com a Terracom e promove o

novas categorias no torneio para incentivar a garo-

começam a rir da comemoração exagerada, dão

que, em vez de me colocar para jogar quando ti-

Torneio A Tribuna/Terracom de Tamboréu, fazen-

tada”. Por influência do pai e de toda a família que

três tapinhas em suas costas e vão pegar a bola

nha “olheiros”, o treinador preferiu escalar um so-

do do esporte um dos destaques da orla santista.

é adepta ao esporte, William Fernandes começou

muito velha, que foi do tio de alguém, no meio

A idéia é incentivar cada vez mais as pessoas a pra-

a praticar o tamboréu aos 16 anos. “Eu só queria

da rua, já que esse último chute foi muito forte,

ticar e valorizar o esporte amador, principalmente

saber de jogar futebol, que é o que acontece com

mesmo para os pés descalços. Ele ri e desperta do

banco jogavam. Foi bem humilhante! Perdi a von-

o tamboréu, esporte com DNA santista. Ao todo,

a maioria dos brasileiros até hoje” diz.

sonho de Maracanã.

tade de correr atrás desse jeito. Tenho que ajudar

brinho de alguém importante no clube. O garoto não jogava nem a metade do que os meninos do

o torneio é composto por 75 duplas, reunindo em

No início, Wiliam aprendeu praticamente sozi-

Roberto de Souza tem 18 anos e cursa o ensi-

em casa, não tenho tempo e nem a disponibilidade

torno de 223 atletas na competição. O torneio ini-

nho, já que seu pai também tinha iniciado pouco

no médio no turno da noite. À tarde, trabalha no

financeira de aceitar esperar a boa vontade de me

ciou no dia 26 de novembro e segue até o mês de

antes que ele. “Passado alguns meses do início da

Lava à Jato Park, que fica na rua Uruguai. Pela ma-

escalarem”, contou Roberto. Mas isso não significa que a paixão pelo futebol sumiu.

dezembro. O A Tribuna/Terracom foi dividido em

prática, passamos a procurar por pessoas de nos-

nhã, ele e seus amigos jogam futebol na rua. Times

cinco categorias: “A”, “B”, “C”, “D” e “FEMININO”.

sa relação que já jogavam tamboréu. Foi quando

demarcados como “sem camisa” x “com camisa”

De acordo com Márcio Rodrigues Alves, da Liga

acabamos entrando de sócios em uma barraca de

e, uma bola velha. Não é necessário muito para o

Santista, nesta 41ª edição, o torneio traz novidaNa foto, Alexandre Barbieri observa lance da final des com novas categorias. SãoSantista elas: o em sub-12, do Campeonato 1989 sub-

praia no canal 1, chamada Libertário. Depois de

jogo mais moleque que existe. Foi na rua que Ro-

Foi em um dos jogos inter-ruas, jogando com

alguns anos fiquei sabendo que no passado exis-

berto conheceu os amigos, com quem criou o time

o “Cobrinhas” que Roberto viu sua chance. Apesar

14 e sub-16, totalizando em torno de 40 duplas.

tiram grandes jogadores de tamboréu nesta barra-

dos “Cobrinhas” e que desde muito novo vem par-

de terem perdido de lavada (oito à dois pro outro

© Foto Reprodução

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

COM UNIFORME E CHUTEIRA

Modalidade esportiva das praias de Santos, ainda é pouco divulgada internacionalmente

Tamboréu, o esporte de DNA santista conquista o mundo

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

16

3

4

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

© Fotos reprodução

A Chance

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

5

24

Futebol de rua ganha Copa do Mundo SUCESSO TOTAL

SOLIDÁRIO

o 7 Surf Odonto MOVIMENTA A PRAIA DE MARESIAS

CORRIDA

A festa em comemoração ao mês do Dentista prestigia um dos esportes mais difundidos na região, com a participação de mais de mil pessoas

COM SOLIDARIEDADE E RESPEITO

Texto Bruno Quiqueto Foto Max Plini

O Biathlon Atletas Solidários é a maior prova da modalidade no Brasil. O circuito é um teste de força e habilidade, mas também é uma demonstração de solidariedade Aline Monteiro

Não se sabe se foi a música, o sol, a água,

do Gonzaguinha ficou animada com familiares

os atletas ou o suor o responsável por deixar

e amigos posicionando máquinas fotográficas.

no ar a vontade de nadar e correr junto com os participantes do VI Circuito de Biathlon Atletas Solidários. A certeza era que o desejo de praticar esporte e ajudar o próximo podia ser percebido nos gestos e olhares dos participantes e da equipe de organização do evento.

Enquanto as frutas e a água eram dispostas na linha de chegada, as equipes começavam a cair na água, do outro lado da avenida Antônio Rodrigues. No mar, os surfistas e canoístas remaram 500 metros. Os demais participantes também en-

Atletas profissionais, amadores e com ne-

frentaram o mesmo percurso, mas com braçadas

cessidades especiais se reúnem todos os anos,

de natação. Três quilômetros de pedestrianismo

doam brinquedos nas inscrições e se movimen-

encerraram a prova. Já as crianças nadaram 200

tam na terra e na água para tornar mais alegre o

metros e correram apenas um quilômetro.

Natal das crianças carentes. “Nas outras etapas

Antes de qualquer classificação, a recompen-

os atletas doam cestas básicas”, afirma o organi-

sa podia ser aproveitada por todos: uma tenda

zador Paulo Marques de Oliveira.

de massagistas atendia, gratuitamente, os com-

A boa organização garantiu o desempenho dos participantes das categorias de canoagem,

petidores e quem mais estivesse por perto com vontade de relaxar os músculos.

surf masculino, feminino, infantil e dos portadores de necessidades especiais. Foram mais de

4

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

Integração social

500 inscritos que doaram cerca de oito mil brin-

A preocupação social não acontece somente

quedos. A última etapa do circuito foi realizada

no momento da inscrição. Os alunos das escolas

no dia 26 de outubro, em São Vicente. A praia

municipais de educação especial Anayr Navarro

© Fotos reprodução

Circuito de Biathlon esbanja solidariedade

Infraestrutura precária atrapalha a prática esportiva 40 gramas: o peso leve do frescobol Clássico da terceira idade conquista o mundo Há 68 anos, o futebol de várzea encantava a população Triatleta cadeirante supera as adversidades 190 milhões de brasileiros. Onde estão nossos atletas?

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

5

36 6 12 22 28 40 52

2

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

Dentistas surfistas lotam Maresias

Doping Genético: ficção científica ou realidade?

Ultraleves perpetuam o sonho de Santos Dummont Amador ou profissional, todos são esportistas

3

44

A busca do corpo perfeito faz amadores utilizarem do doping

Tempos felizes virão, com o investimento no esporte

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

60 66 70 76 80


BALANÇO

6

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

©1


Onde está

o esporte no Litoral Norte? Quanto mais distante das grandes cidades, menores são os investimentos nos setores esportivos Texto Bruno Quiqueto Em 2007, o Brasil foi sede dos Jogos Pan-

O que se vê no litoral é um conjunto de obras

americanos. Grandes obras foram feitas e pro-

e estruturas entregues há pouco tempo, como

messas realizadas pelas autoridades brasileiras,

quadras e pistas de skate. “Temos um problema

mas a realidade está bem longe da que vimos

que é a distância entre os bairros. Procuramos

pela televisão.

atender a todas as necessidades. Praticamente

É só nos afastarmos dos grandes centros que

cada praia possui uma área para a prática de

percebemos à falta de investimentos no setor.

esportes”, declarou Raquel Buzi, secretária de

Em Bertioga, um ginásio localizado no centro

esportes do município de São Sebastião. “Divi-

da cidade e a sede da prefeitura são as únicas

dimos a cidade em três áreas: o Centro, a Costa

estruturas à população. A distância e a centra-

norte e a Costa Sul”, acrescenta. Pelas contas da

lização das instalações prejudicam o acesso aos

prefeitura, aproximadamente cinco mil pessoas

treinos. Em São Sebastião, várias obras estão em

passam pelas instalações a cada mês.

andamento e algumas foram entregues recentemente, mas praias como Camburi e Boiçucanga,

São Sebastião

não possuem uma simples quadra de futebol.

O complexo esportivo da prefeitura, o Centro de Apoio Educacional, é um projeto criado

Contraste

pelo atual prefeito Juan Garcia, que fornece aos

Percorrendo o Litoral Norte de São Paulo

usuários duas quadras poliesportivas, uma pis-

pela Rodovia Manoel Hypólito do Rêgo (Rio-

cina semi-olímpica e pistas de bocha e malha. O

Santos) é fácil observar o contraste. Basta

problema encontrado pela secretaria de espor-

olharmos os grandes condomínios, com qua-

tes era a falta de professores de Educação Física

dras de basquete, vôlei, futebol e tênis, para

concursados suficientes para abranger toda a

crermos que nossa política esportiva está

região. A prefeitura fez um acordo com a ONG

muito longe daquilo que se espera de um país

AlNorte – Ambiental Litoral Norte, que disponi-

que almeja sediar os Jogos Olímpicos de 2016.

biliza, através do Projeto Movimento, profissio-

Nos 168 quilômetros que separam a cidade de

nais para atuarem nos locais mais distantes.

Santos a São Sebastião, não existe sequer uma pista de atletismo qualificada para treinos, e

Área diferenciada

nem se pensa em ginástica olímpica.

Na Rua da Praia, a população tem acesso a

© Foto 1 Ilustração digital | Jeifferson Moraes

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

7


1

SE R V I ÇO

2

Secretaria de Esportes (SEESP) de São Sebastião , está localizada na Rua Euclides de Mattos, 220, no bairro Varadouro, telefones (12) 3892-6257 e 3892-2062, e-mail seesp@saosebastiao.sp.gov.br A Escola de Vela de São Sebastião fica na Avenida Manoel Hipólito do Rego, 210, Praia Deserta, São Sebastião, telefone (12) 3892-2106. Prefeitura de Bertioga, Rua Luiz Pereira de Campos, 901, Vila Itapanhaú, telefone (13) 3319-8000

Quadra à margem da rodovia pertencente a Barequeçaba

Escola de Vela de São Sebastião

3 2 1

6 5 4

8

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

Mapa meramente ilustrativo

©2


3

duas quadras de tênis, um campo de futebol de areia, uma quadra poliesportiva e uma academia destinada à terceira idade, além de abrigar a maior pista de skate da América Latina. Também foi construído no Itatinga, bairro da Topolândia, população mais carente do município, um campo de futebol, uma quadra e uma pista de skate. “Temos que utilizar o clima da região para atrair a população à prática esportiva. A praia é um grande atrativo para esportes

Centro de Apoio Educacional - CAE - São Sebastião

4

aquáticos como o surf e a vela”, disse Raquel. “Aqui era uma lama, uma vala. Agora está ótimo. As crianças brincam até a meia noite”, comenta Sabrina, moradora da Topolândia. Apoio bancário Rodrigo Fontana Ventura Alves, 26, formado em Educação Física e nascido em São Sebastião, é professor de um projeto que foi implantado com o apoio do Unibanco e que cresce a cada ano, a Escola de Vela de São Sebas-

Único ginásio público de Bertioga, no centro da cidade

5

tião. Instalada em uma área que privilegia os esportes náuticos, a instituição recebe diversos alunos. A escola também oferece salas para oficinas de consertos de barcos e cursos profissionalizantes do SENAI. Fontana veleja desde os quinze anos de idade, quando a escola era em outro lugar, “Ia de bicicleta todos os dias. Estudava durante a semana, e nos fins de semana sempre velejava das dez até cinco da tarde. Não ganhava nem um lanche”, reclama. Hoje, a escola tem capacidade para 60 alunos entre dez e quinze anos de idade. 80%

Única piscina de Bertioga, localizada no Paço Municipal

6

destes são da rede pública de ensino. Todos ganham no mínimo uma alimentação diária. Os cursos de vela têm duração de seis meses e os alunos que mais se destacam dentro e fora das águas são selecionados para treinos mais fortes com o intuito de disputar competições. “Todo ano pegamos pelo menos oito destaques aqui na escola. Temos até título mundial conquistado por alunos daqui”, conta Fontana. Para tentar minimizar o custo dos atletas que defendem a cidade nos jogos oficiais, a prefeitura via-

Pista de Skate em construção na orla de Boiçucanga © Fotos Bruno Quiqueto | Foto 2 Ilustração Digital | Jeifferson Moraes

biliza uma verba para o transporte.

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

9


Investimentos

crianças na prática esportiva. “Quando a criança

De acordo com a Secretaria de Esportes,

sai da quarta série para a quinta, ela perde o di-

foram investidos em 2007 cerca de R$ 10 mi-

reito de freqüentar a piscina, aí é que se perde

lhões, distribuídos nas reformas e construções

o estímulo para o esporte. Temos que aprovei-

de espaços esportivos (cobertura de quadras,

tar tudo que a região oferece”. Brás ensina os

CAEs e primeira piscina municipal). Neste ano,

estudantes da primeira à quarta série a nadar.

a prefeitura tem uma previsão orçamentária

“Atendemos duas mil crianças aqui. Devería-

de R$ 5,4 milhões.

mos ter pelo menos mais duas piscinas dessas

Segundo informações do IBGE, obtidas atra-

e descentralizar as instalações. Todos os bairros

vés do Censo 2000, São Sebastião possui 4.582

deveriam ter quadras apropriadas”, comenta o

crianças residentes no município, com faixa etá-

professor.

ria entre zero e três anos. O município de São Sebastião abrange 33 praias e acomoda uma co-

Escolas sem esporte

munidade de 75 mil habitantes.

Os alunos do ensino fundamental da rede municipal de Bertioga não possuem Educação

Bertioga

Física na grade escolar, sendo a natação semanal

Com uma população aproximadamente de

o único incentivo esportivo para as crianças. São

31 mil habitantes, a situação é bem diferente

os próprios professores da rede de ensino que

em Bertioga. O departamento de esportes é ad-

auxiliam na educação física. “Com todo respei-

ministrado no ginásio do centro da cidade, a úni-

to aos professores, eles não estão qualificados

ca instalação pública do município, que recebe

para isso”, declarou Brás. Na sede da prefeitura

modalidades como futebol de salão, vôlei e ka-

estão localizadas as instalações para a prática de

ratê. “A quadra não possui marcação para a prá-

jiu-jítsu, boxe e a piscina semi-olímpica.

tica de basquete. Como pode o pessoal pintar

A prefeitura tenta suprir essa ausência de in-

uma quadra e esquecer das linhas do basquete?

centivo, transportando as crianças para a prática

Depois querem que a gente ensine de que jeito?

de natação na piscina construída no paço muni-

Nos jogos estudantis do município a modalidade

cipal, onde a equipe de professores esportivos é

não é nem disputada”, reclama Diogo Chimente

terceirizada.

Orlando, professor concursado da rede Estadual (Escola Belegardi) de Ensino de Bertioga. O pro-

Nocaute na falta de estrutura

fessor cita que o restante das quadras está nas

Treinados pelo professor que prefere ser cha-

escolas e só algumas são cobertas.

10

mado apenas pelo apelido de “Didi”, os alunos

Segundo o educador, há falhas na adminis-

de boxe de Bertioga possuem uma sala de trei-

tração esportiva da cidade. “O vôlei é só para

namento e um ringue para que possam realizar

terceira idade, o handball é praticado no período

algumas lutas. Didi, também técnico da seleção

da tarde, quem estuda no mesmo período não

feminina do Brasil, promove um trabalho volun-

pode treinar. O futsal é que tem todo respaldo”.

tário na cidade e tem mais de 60 alunos. Sua

Já para Silvio Cesar Brás, o “Cabeção”, professor

equipe feminina foi a terceira colocada no últi-

de Educação Física contratado pela prefeitura de

mo campeonato mundial e seu centro de boxe

Bertioga, a deficiência está na continuidade das

é o único da região do litoral norte. “As portas

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR


05

INFORMANDO CIDADES PESQUISADAS

PRAIAS BERTIOGA

Didi, professor de boxe de Bertioga, técnico da seleção feminina brasileira. Possui mais de 60 alunos e realiza trabalho voluntário estão abertas para todo mundo. Além do boxe, o aluno aprende muita coisa comigo”, declara Didi, que lutou 300

Enseada com 12 km de extensão. São Lourenço, 4,5 km. Itaguaré, 3,5 km com faixa de areia dura e larga. Guaratuba, 8 km. Boracéia, 4,7 km

75

31

vezes, conquistando 266 vitórias por nocaute, um empate e apenas uma derrota. “A gente fica chateado porque

Apesar de alguma melhora, é claro o descaso com o esporte em toda região. O número de crianças e adolescentes que se envolvem com drogas é muito grande. Vários professores e voluntários tentam realizar um trabalho que venha a gerar resultados de alto nível. Um país que almeja obter bons resultados em competições de prestígio não pode se dar ao luxo de deixar uma enorme

BERTIO GA

Descaso

SÃ O SEBASTI ÃO

falta mais apoio dos caras (políticos) por aqui”.

área sem um único centro olímpico. O que se vê é a falta de estímulo à prática esportiva, e a degradação de uma juventude com um enorme potencial.  © Foto Bruno Quiqueto

HABITANTES EM MILHARES FONTE: CENSO IBGE 2000

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

11


PAIXテグ DAS AREIAS

12

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR


Sol, boné e raquete

FRESCOBOL É TRADIÇÃO DAS PRAIAS Criado no século 20, no frescobol, dois jogadores interagem para que a bolinha não caia no chão. Com cumplicidade, sem rivalidade Texto Aline Monteiro

O barulho da bolinha na raquete estimula a

siderados jogadores profissionais, tornando-se

dupla a girar e pular para não deixar a esfera azul

aptos a participar de competições em torneios

cair na areia. As duplas jogando frescobol podem

de outros Estados. O objetivo é construir o

ser vistas constantemente nas praias. Geralmen-

ranking paulista de 2008, distribuindo aos

te são atletas de fim de semana, que aproveitam

finalistas uma quantia de R$ 5.000, dividi-

a brisa do mar para praticar alguma atividade físi-

dos por categorias e colocações.

ca. Há quem não encare o frescobol apenas como uma brincadeira. Estes desafiam o efeito da gravi-

Ainda não levado à sério

dade para realmente manter a bolinha no ar, em

A demonstração da falta de incentivo ao es-

disputas com outras duplas.

porte na região foi a finalização da Etapa Feminina

No último fim de semana de agosto, joga-

Open. A dupla Cleyde (São Vicente) e Claudinha

dores amadores, profissionais e crianças com

(Santos) consagrou-se no torneio simplesmente

vontade de aprender mais sobre o esporte,

porque foi a única inscrita na modalidade. Outra

se reuniram na arena montada pela Federa-

categoria já definida foi a masculina-amador com

ção Paulista de Frescobol (FEPAF) na praia do

a vitória da dupla Wellington e Jacó (Peruíbe) nas

Gonzaguinha, em São Vicente. Lá aconteceu

duas etapas realizadas.

a segunda etapa do Circuito Paulista de Fres-

Milton Vieira Santana, presidente da FEPAF,

cobol com atletas de Santos, São Vicente, Ita-

afirma que a falta de estímulo não é um problema

nhaém, Peruíbe, Ilha Bela, Praia Grande e da

só da Baixada Santista. “O frescobol é um esporte

capital de São Paulo. Já nos dias 27 e 28 de se-

jovem, visto do ponto de vista organizacional. Em

tembro, ocorreram as disputas profissionais na

2003 começamos a analisar as apresentações na

final do Circuito, nas modalidades masculina e

busca de estatísticas para então diferenciarmos

mista, e infantil amador. Os primeiros coloca-

os estilos entre as duplas.” A FEPAF organiza clíni-

dos da categoria amador passaram a ser con-

cas para incentivar a prática do frescobol. “Leva-

© Foto Aline Monteiro

40g BOLINHA

Esse é o peso aproximado de uma bolinha de frescobol. Fabricada em diversas cores, a azul é a mais utilizada pelos jogadores

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

13


mos instrução para quem gosta ou não conhece

dinâmica a bolinha para passá-la ao parceiro.

o esporte. Sem deixar de trabalhar a filosofia exis-

Santana acredita que é o companheirismo exis-

tente no jogo”, afirma Santana.

tente no frescobol que faz com que as pessoas da Federação sejam bem recebidas nos lugares

Rivais, mas companheiras

onde as clínicas são aplicadas. “A lealdade en-

Santana joga frescobol há 23 anos, e comenta

tre os jogadores pode ajudar na educação mo-

a reação do público que desconhece as regras do

ral das crianças”, afirma.

esporte ao presenciar um jogo. “Muitas pessoas acreditam que as duplas são rivais. Ficam indig-

Arena Montada

nadas quando, depois de uma seqüência for-

As regras rígidas e diferenciadas fizeram com

te, um dos jogadores pede desculpa por ter

que a arena profissional, montada no Gonzagui-

rebatido a bola para o outro com um lance

nha, recebesse os jogos sob olhares atentos de

difícil”. Poucos percebem que se uma dupla

pelo menos quatro árbitros. As apresentações das

de frescobol fosse composta de jogadores

duplas podem durar até 300 segundos, quando

rivais, a prática seria impossível, pois neste

não há interrupções de bolas que caem no chão,

jogo o intuito não é fazer com que a bola caia

no corpo do atleta ou são tocadas erroneamente

no chão. No frescobol, o mérito é manter a

duas vezes pela raquete. O número de pontos de

bolinha no ar o maior tempo possível. Para

cada dupla é comparado com as demais, é dessa

Santana, o melhor do esporte é sentir a enor-

forma que as duplas se classificam.

me satisfação de dominar com toda força e

Longe dos olhos dos árbitros, as duplas in-

CONHEÇA OS ESTILOS DO FRESCOBOL ESTILO LIVRE

NÍVEL DE DIFICULDADE

Os jogadores mantém a bola no ar pelo maior tempo possível. ESTILO VELOZ

NÍVEL DE DIFICULDADE

É vencedora a equipe que, durante um minuto, executar o maior número de toques na bola. ESTILO RADICAL

NÍVEL DE DIFICULDADE

Os jogadores mantêm a bola no ar pelo maior tempo possível. Devem também realizar a maior quantidade possível de ataques por atleta, sendo estes: potentes, precisos e em ambos os lados. ESTILO ESPECIALISTA Os jogadores mantêm a bola no ar pelo maior tempo possível. Devem definir um especialista em defesas e outro em ataque. Os especialistas em ataque devem executar a maior quantidade possível de ataques, sendo estes: potentes, precisos e em ambos os lados. 14

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

NÍVEL DE DIFICULDADE


fantis despendiam raquetadas sem se preocupar com os erros cometidos ao lado da arena profissional. Uniformizadas de amarelo, as crianças da Associação dos Amigos e Moradores das Áreas Verdes de Itanhaém (AAMAVI) jogavam atrás da arena para evitar o olhar dos transeuntes. Jaime Roberto da Silva Andrade Júnior e Clara Novaes, de 12 e 13 anos, aproveitam a segunda etapa do Circuito para treinar. “Atrás da arena é melhor pra jogar, a gente não se desconcentra”, comenta Clara, que mostra timidez até mesmo para as fotos. Júnior conta como começou a praticar frescobol. “Eu jogava futebol de salão. Um dia eu estava na praia e vi o pessoal jogando. Fiz a inscrição para a categoria infantil e treinei pouco antes da primeira apresentação.” Júnior se deu tão bem com o esporte que, na primeira etapa do Circuito, garantiu o vice-campeonato na categoria infantil, e a quarta colocação na categoria amador-misto. 

Depois de trocar o futebol de salão pelo frescobol, Júnior exibe as medalhas conquistadas no torneio © Fotos Aline Monteiro

INFORMANDO PARCERIA

“Frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca.”, diz o psiquiatra Ricardo Nogueira

BRISA C ARIOC A A naturalidade com que Júnior encarou a primeira disputa de frescobol parece ser transmitida pelo próprio esporte. O frescobol começou nas areias das praias cariocas, no ano de 1945. O esporte evoluiu da prática do tênis nas praias, e como a maresia estragava as raquetes, passou-se a utilizar raquetes de madeira. A década de 80 contou com muitas disputas isoladas de frescobol, mas só mesmo em 1994 foi realizado o I Circuito Brasileiro de Frescobol, disseminando a prática do esporte por outros estados do país. Hoje os campeonatos mais conhecidos são disputados nos estados de São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Para que uma prática seja considerada uma categoria esportiva deve possuir federações, confederações e campeonatos com regras institucionalizadas. E é por isso que o frescobol, embora não seja um esporte olímpico, é oficialmente considerado um esporte. Quem explica a situação do frescobol como categoria esportiva é a professora da Faculdade de Educação Física e Esporte (Fefesp), Carla Luguetti. “Existem esportes de rendimento, de lazer e educacionais. A atuação em uma dessas categorias é atribuída à forma com que o esporte é praticado pelos atletas. Embora existam muitas pessoas que treinam para adquirir melhor desempenho no frescobol, – o que caracteriza um esporte de rendimento – a maioria ainda o pratica como esporte de lazer.”

Crianças da Associação dos Amigos e Moradores das Áreas Verdes de Itanhaém treinam jogadas na praia do Gonzaguinha ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

15


PRATA DA CASA

16

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR


Tamburello, tambor, tamboréu... Modalidade esportiva com DNA santista, ainda é pouco divulgada internacionalmente Texto Gabriela Aguiar Dia de sol em uma orla bem movimentada. O

Divulgação

céu azul reflete no mar de águas escuras e agita-

Hoje a procura pelo tamboréu vem crescendo

das, produzindo a sensação da imensidão. Muitas

a cada ano, com a inserção de novos atletas ao

pessoas aproveitam o domingo de folga. Nas areias

quadro de filiados da Liga Santista de Tamboréu.

próximas ao mar ouve-se o som da bolinha sob a

Segundo Rodrigues, o incentivo vem dos pais já

raquete de madeira. Uma dupla de cada lado da

praticantes ou ex-praticantes da modalidade. “Por

quadra, dividida por uma rede com um metro de

ser um esporte amador e não muito difundido pelo

altura. A regra do jogo é simples: existe a zona de

Brasil, essa crescença não se torna muito acen-

saque e a área onde a bola deve cair. Cada erro

tuada em detrimento a esportes mais populares

conta ponto para o adversário. São três sets de dez

e similares ao tamboréu, tais como o tênis, fres-

pontos cada um. Assim é o tamboréu.

cobol e squash, mas não deixa de ser um esporte

Há 41 anos, a Liga Santista de Tamboréu man-

em crescimento, um dos motivos que inserimos

tém uma parceria com a Terracom e promove o

novas categorias no torneio para incentivar a garo-

Torneio A Tribuna/Terracom de Tamboréu, fazen-

tada”. Por influência do pai e de toda a família que

do do esporte um dos destaques da orla santista.

é adepta ao esporte, William Fernandes começou

A idéia é incentivar cada vez mais as pessoas a pra-

a praticar o tamboréu aos 16 anos. “Eu só queria

ticar e valorizar o esporte amador, principalmente

saber de jogar futebol, que é o que acontece com

o tamboréu, esporte com DNA santista. Ao todo,

a maioria dos brasileiros até hoje” diz.

o torneio é composto por 75 duplas, reunindo em

No início, Wiliam aprendeu praticamente sozi-

torno de 223 atletas na competição. O torneio ini-

nho, já que seu pai também tinha iniciado pouco

ciou no dia 26 de novembro e segue até o mês de

antes que ele. “Passado alguns meses do início da

dezembro. O A Tribuna/Terracom foi dividido em

prática, passamos a procurar por pessoas de nos-

cinco categorias: “A”, “B”, “C”, “D” e “FEMININO”.

sa relação que já jogavam tamboréu. Foi quando

De acordo com Márcio Rodrigues Alves, da Liga

acabamos entrando de sócios em uma barraca de

Santista, nesta 41ª edição, o torneio traz novidaNa foto, Alexandre Barbieri observa lance da final des com novas categorias. SãoSantista elas: o em sub-12, do Campeonato 1989 sub14 e sub-16, totalizando em torno de 40 duplas.

praia no canal 1, chamada Libertário. Depois de

© Foto Gabriela Aguiar

alguns anos fiquei sabendo que no passado existiram grandes jogadores de tamboréu nesta barra-

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

17


COMPETIÇÃO

O torneio Terracom / A Tribuna, composto por 75 duplas, reunindo em torno de 223 atletas na competição, segue até o mês de dezembro

ca, pena que não recordo os nomes”, diz William.

Ribeiro Fernandes. Ele participa desde 1981

William sentiu a necessidade de crescer e procu-

do torneio, quando ainda fazia parte da ca-

rar novos desafios. Passou por mais dois clubes

tegoria infantil. Nesta época, Maurício foi Tri-

e atualmente joga pelo Internacional de Regatas,

Campeão (1983/1984/1985). Já nos três anos

onde está há quase 10 anos. “O Inter me permitiu

seguintes, o tamborelista repetiu o feito, mas

ganhar praticamente todos os principais torneios

na categoria juvenil.

da modalidade, devido ao alto nível técnico dos

Fernandes começou a jogar tamboréu aos 10

atletas, e certamente foi onde eu mais aprimorei a

anos na escolinha do Clube Portuários. Seu pai

técnica do esporte”, declara. Como atual campeão

foi quem inaugurou a escolinha para a prática

do A Tribuna/Terracom, William participa do tor-

do esporte no clube. Atualmente, ele se dedica

neio novamente para garantir o Bi-Campeonato.

mais ao Torneio TV Santa Cecília. “Hoje é o tor-

Atualmente ele joga na categoria A, junto com

neio com mais glamour no calendário do tam-

seu parceiro Fabian Pires. “Jogo com o Fabian há

boréu, e tem o mesmo formato do A Tribuna,

aproximadamente seis anos, certamente é o me-

mas este ano vou fazer força, por que faz um

lhor parceiro de tamboréu com quem joquei. É um

tempo que não chego na final”. Funcionário da

jogador que possui seis títulos de campeão brasi-

Indústria Química Carbocloro, Fernandes vê no

leiro, e outros tantos de outras competições.”

tamboréu uma maneira de se divertir fora do

As regras do torneio funcionam da seguinte

trabalho, além de viver uma vida saudável.. “O

forma: depois de inscritos, pagando a taxa no va-

tamboréu não me rende absolutamente nada,

lor de R$25,00 mais um kilo de alimento não pe-

jogo porque gosto, e isso acontece com todos os

recível, todos os participantes são divididos em

tamborelistas que existem no país.”

suas respectivas categorias. As partidas são reali-

O tamboréu já teve seu auge, nas décadas

zadas aos sábados e domingos, e alguns feriados.

de 60 a 80, chegando a ter 900 atletas prati-

A orla da praia é o palco de todas as partidas. Os

cantes nas competições. Já no fim da década

horários dos jogos iniciais são às 8h15.As duplas

de 80, o esporte entrou em queda. No auge,

classificadas do 1º ao 3º lugar serão premiadas

faltou uma administração que se preocupasse

com troféus e medalhas. Na segunda rodada do

com o crescimento do esporte, diz Maurício.

torneio, Wiilian Fernandes e sua dupla Fabian

“Eles achavam que o esporte estava bom, mas

Pires, viraram o jogo contra Wilson Gomes e Ed

todos nós envelhecemos e continuamente as

Neves, e passaram para a próxima fase, já que

administrações passavam e esqueciam da re-

haviam vencido o primeiro jogo. Eles assegura-

novação. Muitos já pararam, ou até morreram,

ram a vaga para as semifinais e vão em busca

e falta molecada no esporte”. O tamborelista

do Bi-Campeonato. A dupla ganhou o jogo com

venceu mais de 200 torneios desde o infantil,

parciais de 12/10, 5/10 e 4/10.

até hoje. Dois são muito especiais para ele. O Torneio Pais & Filhos, e também o título de

Destaque Internacional

campeão internacional, além de ter sido con-

Outra presença importante na competição

siderado o melhor atleta da competição na

é o atual campeão Internacional, Mauricio 18

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

sua categoria. © Fotos Gabriela Aguiar e divulgação


Acima, com o término da partida, o irmão do atleta amador Guilherme Mendes, domina a quadra; e os dois tipos de raquetes para a prática do esporte. Abaixo, final do Campeonato Estadual de Equipes de Saibro no Inter, em 2004, com William Fernandes (o segundo na foto)

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

19


COMPETIÇÃO

“O tamboréu não me rende absolutamente nada, jogo porque gosto, e isso acontece com todos os tamborelistas que existem no País”

Experiência

nas praias, sem quadra ou rede. Com o tempo

O tamboréu é um esporte de muita histó-

vieram as quadras, com 20, 18 e por fim 17

ria, e quem a conta é Seu Jaime, de 88 anos.

metros, que é o tamanho atual. A rede usa-

Ele começou há jogar três anos após o surgi-

da a princípio era a de tênis, hoje já existem

mento, e ainda tem muito fôlego para praticar

aquelas feitas exclusivamente para o esporte.

tamboréu. Os amigos dele até brincam: “Já

Os locais para a prática são muitos - San-

separamos ternos, compramos flores, mas de

tos, São Paulo, Campinas, Santo André, Brasí-

plástico né, porque as de verdade já estraga-

lia, São Sebastião, e até a Europa. França, Itá-

ram várias vezes, isso tudo pra ver se ele mor-

lia e Alemanha são exemplos de lugares onde

re e larga do nosso pé aqui. Mas o velho está

há a prática do “tamburello”, nome dado ao

firme e forte e, jogando muito tamboréu”,

tamboréu fora do Brasil.

riem os colegas de quadra.

O tamboréu não tem idade para ser prati-

Para quem pensa que tamboréu é esporte

cado. De acordo com a Liga Santista, tão logo

de terceira idade, está muito enganado. Gui-

se tenha a coordenação motora apurada, po-

lherme Mendes é um dos exemplos dos jovens

de-se dar início ao tamboréu como uma “brin-

no esporte e na competição. Raça, vontade e

cadeira”. O processo muda se o interesse é se

determinação, são características de seu jogo.

tornar um atleta de competição.

Após vencer uma de suas partidas com apoio

“Existe a necessidade de uma técnica

de seu companheiro, cerca de quarenta anos

mais aprofundada. Como varia de atleta

mais velho que ele, todos vibraram com a vi-

para atleta, de acordo com o seu biótipo,

tória inclusive seu pai e o irmãozinho que as-

mais a facilidade em adaptar-se ao esporte,

sistiam a partida.

não temos uma idade padrão”, diz Márcio

Com o término do jogo e a liberação da

Rodrigues Alves.

quadra na praia, percebe-se que os participan-

Clubes conhecidos, como o Internacional

tes do torneio gostam mesmo do que fazem.

de Regatas, Fluminense, Saldanha, Benjamin

Ficaram por lá, jogando agora por brincadeira,

Constant, Clube 2004, entre outras, fizeram a

mesmo com um sol de trinta e cinco graus. O

modalidade ainda mais popular na região. O

irmãozinho do Guilherme dominou a quadra.

grande número de clubes propiciou a funda-

Esse começou desde pequenininho.

ção da Liga Santista de Tamboréu. Além da prática do esporte nas praias, hoje

20

História

o esporte se evidencia também nas quadras

O tamboréu nasceu por volta de 1937,

de saibro. Pode ser praticado na Capital e em

com a vinda de dois italianos, os Donadellis,

diversas cidades do Interior do Estado, porém

que trouxeram pandeiros de aro de madeira e

Santos permanece sendo a sede do tamboréu

tampa de couro, com cerca de 35 a 40 cm de

no país. Graças, principalmente, ao pioneiris-

diâmetro. Ficavam jogando uma bola, um para

mo dos irmãos Donadelli e a iniciativas, como

o outro, a distâncias de cerca de 100 metros,

o Torneio Popular A Tribuna/Terracom. 

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

© Foto Gabriela Aguiar


Seu Jaime, de 88 anos, começou a jogar tamboréu logo após 3 anos do surgimento do esporte

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

21


MODALIDADE

HOMENS, MULHERES E CRIANÇAS SE APAIXONAM PELA BOCHA

22

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

© Fotos Tatiana Ferraz e reprodução


INFORMANDO

A origem do esporte remonta a um jogo praticado no Egito e na Grécia com objetos de formas esféricas

REGRAS As canchas (quadras) devem ser cobertas, sem desníveis. As bochas devem ser de cores iguais entre si, que se diferenciam por time com 112 milímetros a 115 milímetros.

Texto Tatiana Ferraz A bocha rafa é um esporte pouco conhecido e muito praticado, tanto por homens quanto por mulheres. Luis Alberto de Lima, 51 anos, mais conhecido como Luisinho, é técnico de um time do Clube de Bocha do Orquidário. Para ele o esporte não é apenas para pessoas mais velhas. “Hoje a maioria dos jogadores das seleções são mais novos, é um esporte que sofre preconceito, mas assim a pessoa que experimenta não consegue mais parar”, afirma. Luisinho começou a brincar de bocha há 41 anos, atrapalhando o jogo dos adultos. Pegou gosto. Ele conta que antigamente se chovia, tinha que esperar secar uma semana para jogar novamente. As “bolas” eram de madeira. Hoje, a quadra é sintética e deve seguir um padrão, da Regra Oficial da Bocha. O jogo consiste em lançar as bochas e deixá-las o mais próximo possível do bolim (bola menor de metal que é lançada anteriormente). Cada time deve situar as bochas o mais perto possível do bolim ou distanciar as bochas do time adversário. Luis afirma que os jogadores diminuíram, por não haver apoio ao esporte, mas se anima. “Acredito que na próxima Olimpíada a bocha seja reconhecida”. As mulheres também se interessam pelo esporte, e para Luis esse reconhecimento é muito bom. O técnico declara que o time feminino foi vice-campeão estadual de

CURIOSIDADE

“Hoje a maioria dos jogadores das seleções são mais novos é um esporte que sofre preconceito, mas assim a pessoa que experimenta não consegue mais parar”

As partidas de campeonatos regionais, nacionais ou internacionais são disputadas a 12 ou 15 pontos conforme o regulamento de cada campeonato. Cada bocha deve ser lançada em no máximo 1 minuto, tempo observado pelo árbitro A 72 edição dos Jogos Abertos contou com o time de Santos. As competições acontecem em Piracicaba, que cedia os Jogos. O time de Santos perdeu para o time de São José dos Campos por 2 a 0. O time não está com muita sorte, no segundo jogo perdeu para o time de Piracicaba por 2 a 1. As competições de bocha aconteceram no SESI e no Centro Esportivo da Paulicéia. Algumas outras modalidades também fazem parte dos Jogos Abertos, como Atletismo, Biribol, Futebol, Canoagem, Tênis e Natação. Fonte: site oficial dos Jogos Abertos de Piracicaba.

bocha, e se sente feliz por não estar mais estereotipado como antigamente. Pode ter começado brincado e atrapalhando os maiores, mas hoje pode dizer que valeu a pena. Luis foi campeão estadual pelo clube Rio de Janeiro, venceu várias vezes o campeonato santista e também o de Praia Grande.

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

23


RAÍZES

24

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

© Fotos divulgação


PELADA COM UNIFORME E CHUTEIRA

A Copa do Mundo de Futebol de Rua mostra que todo jogador, antes de ir pro gramado, jogava bola na rua de casa Texto Amanda Albuquerque O brilho do sol é interrompido pela sombra da

ticipando em pequenas competições inter-ruas.

bola que vem alta em sua direção. Mata no peito

O sonho de se tornar o próximo Ronaldo sem-

e domina. Dois vêm em sua direção, um de cada

pre existiu em seu coração, mas a vida é difícil na

lado. Dribla um, a torcida vai à loucura. Dribla dois,

Vila Nova. Desde cedo teve que trabalhar para aju-

a torcida começa a gritar seu nome. Sente nos pés

dar em casa. Não poderia deixar de ir para a escola.

o calor do chão aumentar, bate no ouvido o som

Seguir o sonho dourado de vestir a camisa de um

da galera gritando “Betinho! Betinho! Betinho!”.

grande clube e pisar no tapete verde do Maracanã

Escuta junto a voz de José SIlvério narrando todos

se tornou impossível, principalmente com tantas

os seus movimentos enquanto olha o gol. Chuta.

decepções. “Eu já tentei fazer teste no Santos, mas

É gol. Roberto grita em comemoração enquanto

não deu nada certo. Lembro que o treinador nos

sai correndo, de braços abertos, ao som da torcida

mandou correr muito, até ficarmos bem cansados,

que grita e canta enlouquecida. Os colegas de time

e então começar um jogo experimental. Acontece

começam a rir da comemoração exagerada, dão

que, em vez de me colocar para jogar quando ti-

três tapinhas em suas costas e vão pegar a bola

nha “olheiros”, o treinador preferiu escalar um so-

muito velha, que foi do tio de alguém, no meio

brinho de alguém importante no clube. O garoto

da rua, já que esse último chute foi muito forte,

não jogava nem a metade do que os meninos do

mesmo para os pés descalços. Ele ri e desperta do

banco jogavam. Foi bem humilhante! Perdi a von-

sonho de Maracanã.

tade de correr atrás desse jeito. Tenho que ajudar

Roberto de Souza tem 18 anos e cursa o Ensi-

em casa, não tenho tempo e nem a disponibilidade

no Médio no turno da noite. À tarde, trabalha no

financeira de aceitar esperar a boa vontade de me

Lava à Jato Park, que fica na rua Uruguai. Pela ma-

escalarem”, contou Roberto. Mas isso não significa

nhã, ele e seus amigos jogam futebol na rua. Times

que a paixão pelo futebol sumiu.

demarcados como “sem camisa” x “com camisa” e, uma bola velha. Não é necessário muito para o

A Chance

jogo mais moleque que existe. Foi na rua que Ro-

Foi em um dos jogos inter-ruas, jogando com

berto conheceu os amigos, com quem criou o time

o “Cobrinhas” que Roberto viu sua chance. Apesar

dos “Cobrinhas” e que desde muito novo vem par-

de terem perdido de lavada (oito à dois pro outro

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

25


EVENTO

“Estima-se que pelo menos 30.000 pessoas estão participando das seleções locais dos mais de 50 países que estarão na Austrália”

time), Márcio Alexandre Rodrigues Pereira, mais

O Chute

conhecido como Marcinho, atendendo ao pedi-

A Copa do Mundo de Futebol de Rua é um

do da Organização Civil de Ação Social (OCAS),

evento que já faz parte da agenda mundial há 5

foi até eles com a notícia que haviam sido sele-

anos e conta com apoio da Union of European

cionados como alguns dos melhores jogadores

Football Associations (União das Associações Eu-

do bairro e, que iriam para São Roque jogar por

ropéias de Futebol), da International Network of

uma vaga na seleção brasileira, que vai no fim do

Street Papers (Rede Internacional de Publicações

ano para Austrália competir pela taça da Copa

de Rua) e, também, dos órgãos oficiais da cidade

Mundial de Futebol de Rua, a Homless World

e do país que acolhem sua realização. Neste ano,

Cup. A princípio, os meninos não acreditaram

a seleção brasileira contará com o apoio do Sport

muito. Foi somente quando chegou a van, já na

Club Corinthians Paulista e da Nike.

estrada, que a informação bateu no peito com força: eles tinham outra chance.

A organização do time brasileiro, desde o evento de seleção até a viagem, é feito pela OCAS atra-

Viajar com o time de futebol deveria ser

vés de seus voluntários e parceiros. “Procuramos

divertido, pensava Roberto, mas descobriu

interessados em ajudar na preparação total do

que viajar com os amigos era ainda mais.

evento e nos responsabilizamos por levantar os re-

Conhecia Diego Emanuel, Anderson de Fran-

cursos e condições para que a equipe participe do

ça (o Cajuru), Carlos Magno (o Carlinhos), e

torneio, respeitando principalmente os critérios

Ricardo Mion. Cresceram juntos, o entrosa-

sociais definidos, uma vez que mais que um tor-

mento no campo era o mesmo que tinham

neio esportivo, a Homeless World Cup é um mo-

fora. Chegaram na sexta-feira à noite no ho-

vimento social que tem o futebol com meio para

tel e, apesar de saber que acordariam muito

transformar e resgatar vidas em todo o mundo. Es-

cedo no sábado, conversaram e festejaram a

tima-se que pelo menos 30.000 pessoas estão par-

noite inteira. Isso não comprometeu o fute-

ticipando das seleções locais dos mais de 50 países

bol na manhã seguinte.

que estarão na Austrália”, conta Guilherme Araújo,

Futebol de rua não é que nem os jogos

presidente da OCAS. Os parceiros cedem o que

profissionais, é um jogo de amigos e isso os

podem, o que inclui acomodações, alimentação

Cobrinhas podiam dizer que eram. Se Die-

e transporte. É o caso da Universidade Anhembi-

go, que é goleiro linha, saía do gol, Cajuru já

Morumbi, que apóia a preparação, e da Nike, que

ficava na defesa. Carlinhos podia prever os

entra com a doação de material esportivo.

passos do amigo e já se colocava na posição

Os patrocinadores dão o suporte financeiro.

para receber a bola alta. Já posicionado, era

Na maioria dos casos, ficam apenas com o pa-

só chutar para Betinho, que esperava para

gamento das passagens para fora do Brasil. Eles

cabecear o gol.

variam de ano em ano e, por esta razão são uma

Os outros times não tinham o histórico de amizade, que o futebol de rua exige como

preocupação constante para a OCAS e demais organizadores.

pré-requisito. Não teve outro resultado: os Cobrinhas ganharam, não só a primeira se-

O Gol

letiva, mas a chance da vida deles de serem

Marcinho, da Sociedade Melhoramentos da

jogadores de futebol.

26

REVISTA SUOR | ESPORTE  AMADOR

Vila Nova, foi o encarregado escolhido pela OCAS

© Foto divulgação


Os “Cobrinhas” jogadores de futebol de rua tentarão uma vaga no time de Marília, no interior de São Paulo por encontrar e selecionar os meninos de Santos

faz parte. Dessa maneira, a OCAS tornou-se a enti-

para formar a seleção brasileira. O trabalho de

dade responsável pela organização da equipe bra-

Marcinho vai além da educação física, da saúde

sileira. Tamanho foi o sucesso da iniciativa, que a

e do bem-estar da sociedade da Vila Nova, assim

Copa, hoje, é uma entidade independente, tendo

como as intenções da OCAS. “Amo meu bairro,

a INSP como grande parceira”, diz Guilherme Araú-

mas confesso que nossos meninos necessitam de

jo, presidente da OCAS.

acompanhamento. É muito difícil mantê-los nas

A seletiva para os meninos também não se

escolas e fora das ruas. O esporte é a melhor alter-

prende às habilidades no futebol. São levados em

nativa para evitar que eles entrem na marginalida-

consideração aspectos comportamentais. “Como

de e se tornem bandidos. O trabalho que faço na

é uma iniciativa de intuito social mais que espor-

Vila Nova tem esse intuito: ressocializar os meninos

tiva, temos a preocupação de analisar as atitudes

que, por alguma razão caíram no mundo do crime,

e reações dos meninos, até porque eles não são

e impedir que outros caiam. A Copa Mundial de

mais crianças. Trabalhamos o físico e o emocio-

Futebol de Rua tem exatamente o mesmo pensa-

nal, para que o trabalho de inclusão social seja

mento que eu, por isso me esforcei tanto para que

completo e sem falhas”, explica Marcinho.

meus meninos fossem para a seletiva”.

Mesmo trazendo a Taça do Mundo para casa, o sonho de jogar futebol não vai embora.

A meta

Depois de voltarem da Austrália, o time do Ma-

O objetivo da Copa é buscar participantes e

rília, no interior de São Paulo, estará esperando

organizadores, reunindo pessoas para promo-

por eles para fazerem um teste. Os que passa-

ver discussões sobre exclusão social e formas de

rem, serão jogadores profissionais. “Eu tenho

se combater a situação de pobreza. Foi com esse

um contato com o Marília e sugeri isso. Eles gos-

espírito que a Ong OCAS e a revista Ocas assumi-

taram da idéia, estão de olho na seleção desde

ram a responsabilidade de selecionar e organizar

então. Não queremos que joguem somente na

a equipe de futebol para participar do evento. “A

rua, queremos um futuro. O esporte sorriu para

Homeless World Cup foi idealizada e organizada

o futuro deles, devemos incentivar que corram

inicialmente pela INSP, uma organização que pro-

pelos seus sonhos e, é isso que estamos fazen-

move a comunicação de rua, a qual a Revista OCAS

do”, revela Marcinho.  ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

27


HISTÓRIA

HISTÓRIAS DE

28

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR


´QUASE´ ÍDOLOS Futebol dos campos de bairro era a sensação há 68 anos Texto Jordan Fraiberg Na região das ruas Lobo Viana, Conselheiro Nébias e o canal 4, onde o metro quadrado de construção é um dos mais caros de Santos, há quase um século ficavam os campos de várzea mais antigos da cidade. O Vila Hayden ocupava o terreno onde hoje se encontra a Universidade Santa Cecília. Já o Ipiranga, que é considerado o vovô da várzea, ficava do outro lado, separados pela rua Oswaldo Cruz, que hoje é um dos centros comerciais santista. Naquela época era comum ver os diversos times da cidade se defrontarem em algum campo do município. Onde os prédios gigantescos nem estavam sendo planejados para serem construídos. Era semi-final. Estávamos indo, juntamente com nossa torcida, para o campo do Barreiros em dois caminhões. Ia ser um jogo duro, pois a equipe adversária tinha os melhores jogadores da competição. O campo foi sendo rapidamente cercado pelos torcedores. Aproximadamente uns 600 deles estavam lá. Era um time muito popular. O campo não possuía arquibancada, naquela época a torcida ficava em volta de onde seria o jogo. O público era fervoroso, daqueles Vila Hayden F.C., com Gilmar dos Santos Neves (primeiro em pé do lado direito da foto)

fanáticos pelo time. Nossa torcida só tinha 40, se acontecesse algo eram 15 deles contra um nosso, era uma enorme desvantagem. Em uma

© Foto Reprodução

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

29


CURIOSIDADE

“Até Armando Gomes narrava os nossos jogos à beira do campo”, comenta Jair Siqueira

jogada deles um torcedor acabou chutando a

dos 60 anos e agora vai ficando cada vez mais

bola para dentro do campo, lance que impidiria

difícil, o que vier é lucro. Quando chega nessa

a jogada e quase eles marcaram um gol. Fica-

idade, os problemas de saúde já estão surgindo,

mos revoltados. A torcida rival ficou nervosa e

alguns amigos da minha turma já morreram e eu

invadiu o campo. Todos nos cercaram, era joga-

queria lembrar do passado”, acrescenta o ex-são

dor, técnico, torcida e até mesmo quem estava lá

paulino.

só para assistir. Numa tentativa de sair daquela

“Só nos encontrávamos, o grupo todo, quan-

situação dois jogadores nossos sacaram armas

do morria alguém. Há três anos atrás eu disse:

calibres 38. Vimos os dois atletas girarem, vaga-

Porque nos encontramos só na desgraça? Vamos

rosamente, com a arma em punho, mirando em

nos encontrar também na alegria”, comenta Jair.

todos os que nos cercavam.

A partir disso, surgiu à idéia de duas vezes ao ano

Assim que acabaram de dar uma volta com-

reunir todos os ex-atletas da várzea santista. Na

pleta, a torcida e time sumiram num piscar de

primeira tarde que houve a reunião, Jair pediu

olhos. Era gente escalando bananeira, pulando

para que todos os seus amigos levassem fotos

muro, se cortando em espinhos e se atrapalhan-

da época em que jogavam. “Antes de acontecer

do todo para correr. Felizmente nenhum tiro foi

um segundo encontro, avisei antecipadamente

disparado e podemos voltar a salvo para casa.

para todos levarem mais fotos”, conta. Com as

Para nossa tristeza o jogo foi cancelado e per-

fotos em mãos, o ex-jogador começou a digita-

demos o jogo remarcado, com portões fechados

lizar e montar as fotos em painéis. “Foi um total

no Estádio da Portuguesa. Essas palavras são

sucesso, o pessoal adorou. Hoje tenho mais de

do ex-zagueiro Jair Leite Siqueira que explicou

200 fotos do futebol de várzea santista e ainda

como era um clássico na época áurea da várzea

mantenho meu site”, diz.

santista, nos anos 60. Os clubes e campeonatos Lembranças A várzea de Santos, nos moldes atuais, co-

pessoas fundaram mais times de várzea. Existe

meçou em 1920, com alguns poucos clubes. O

um cálculo que entre a década de 40 e até o fim

mais velho é o Ipiranga, de 1919. Meses depois

dos campos, em 1990, havia em torno de 400

surgia a equipe da Vila Hayden. Os dois times

times, podendo até ser mais.

eram vizinhos de bairros e campo. “Todos sabiam da existência da várzea, mas nem todos sabem a história de como ela surgiu e

Os principais clubes daquela época eram o Barreiros, Vasco, Onze Santista, Escola de Samba Brasil, São Paulo, Santa Cecília e Vila Santista.

foi se tornando popular”, diz Jair que hoje exer-

Nos primeiros anos de 1960, cerca de 60

ce a função de diretor de futebol para veteranos

times disputavam os campeonatos locais. Em

do Saldanha. Ele jogou por três anos no São Pau-

anos seguintes os números de inscritos só au-

lo, do bairro Macuco. Jair e Carlos Prieto, mais

mentavam. No ano de 1965 eram 72 clubes jo-

conhecido como Gigi, criaram dois sites para re-

gando entre si.

lembrar os tempos em que jogavam. “Já passei 30

Entre 1940 e 1950 foram os anos em que as

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

Os campeonatos sempre eram patrocinados © Fotos reprodução


Acima, Libertador F.C. em 1948. Abaixo, E.C. Corithians Santista

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

31


Acima, o Paulistano Futebol Clube, sob a orientação do técnico Morgado. Abaixo, o São Paulo F.C. em 1960

32

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

© Fotos reprodução


por alguma empresa. Por felicidade dos jogado-

íam espaço físico para jogar. Em Santos, existia

res as empresas sempre eram do jornal ou da

em torno de 100 campos. Os mais freqüentados

rádio. “Até Armando Gomes narrava os nossos

foram os: Vila Santista, Beira Mar, Colonial e Vila

jogos à beira do campo”, comenta Jair Siqueira.

Liberdade, onde hoje se encontra algumas re-

Os times que eram eliminados logo no início

sidências perto da saída da balsa.Além desses

dos torneios e aqueles que não participavam,

campos também havia os do BNH, Santa Cecília,

disputavam somente jogos amistosos entre si.

1º de Maio, Onze Brasileiro, Pombal, Campos

Não importava a época, todo o domingo havia

Salles, Pioneiros e onde é o conjunto habitacio-

jogo. Em cada partida eram três jogos. Primei-

nal do Jaú tinha dez campos. Todas as partidas

ro havia o infantil, logo após entrava o segundo

eram disputadas com os pés descalços. Quando

quadro, que seriam os reservas do reserva ou os

A Tribuna começou a patrocinar as competições,

atletas que estavam iniciando nas competições

a empresa exigia que os atletas usassem chutei-

e o time principal. Do segundo quadro dos clu-

ras. A dimensão dos campos era de 75 x 110. E a

bes surgiram alguns bons atletas de acordo com

partida era dividida em dois tempos de quaren-

Gigi. “Muitos atletas da várzea se tornaram pro-

ta minutos.

fissionais. Alguns foram contratados pela Portuguesa Santista, Jabaquara, e diversos foram para

Rivalidade

o Paraná, onde o futebol ainda estava se desen-

Cada bar de esquina tinha uma placa mos-

volvendo”, conta.

trando que lá havia um clube, de acordo com

Gylmar dos Santos Neves, bi-mundial, apa-

os criadores dos sites esportivos. A maioria das

rece em uma das fotos de 1950. Antes de jogar

partidas era aberta a todos. Qualquer um po-

no Corinthians e no Brasil, o atleta participava

deria sentar ao redor do campo e acompanhar

de jogos na várzea santista. O último torneio

a partida. Com isso, as torcidas dos times mais

importante que teve foi o III Torneio da Baixada

populares aproveitavam para instigar o rival e

Santista, em 1975.

provocar confusões. “O time que tinha muita torcida não admitia

Espaço para jogar

perder o jogo e por isso partia para briga. Não

Os campos eram usados três vezes, pois nem

tinha polícia para segurar todos os presentes”,

todos os times tinham espaço pra jogar. No do-

diz Jair, que também presenciou muita briga e

mingo, o dia inteiro, e sábado a tarde algum cam-

participou de poucas. Gigi acrescenta que, na

po era revezado entre os clubes que não possu-

segunda-feira todos se encontravam para traba-

EQUIPES DA VÁRZEA SANTISTA 1º de Maio A.C.; Amor e Glória; Bandeirantes F.C.; Barreiros; Beira Mar F.C.; Botafogo F.C.; C.A. Juventus; C.A. Libertador; Campos Salles F.C.;

CIA Docas de Santos; Cosipão; Cruz de Malta F.C.; E.C. Corinthians Santista; E.C. Faísca de Ouro; E.C. XI Santista; Flamengo F.C.; G.E. Camboja; Globo F.C.;

G.R. 814; G.R. Brasil; Jabaquara F.C.; Jaú F.C.; Luiz Gama F.C.; Palmeiras A.C.; Paulistano F.C.; Ponte Preta F.C.; São Paulo F.C.;

Tricolor Santista União F.C. Vasco Futebol Clube; Vila Hayden; Vila Liberdade F.C.; Vila Santista F.C.

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

33


Acima e abaixo, semi-finais da Copa Amigos do Litoral no campo do Jabaquara. A Copa foi idealizada pelo Pelé através da equipe Litoral F.C. em parceria com o Jabaquara Atlético Clube

34

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

© Fotos Rogério Amador


INFORMANDO lhar junto, porque a maioria trabalhava no cais. “Quando o jogo era bom, com equipes equilibradas a fim de só ganharem o jogo, não tinha briga”, comenta. 2008 “Hoje a situação é bem diferente. Quase não tem campo na cidade para se jogar, falta apoio e até mesmo o companheirismo, que naquela época existia”, conta Gigi. A turma de Jair, que varia entre 52 a 80 anos de idade, concorda que os tempos atuais estão fracos. O presidente da Liga Desportiva de Santos, José Roberto de Oliveira, tem a missão de ascender o espírito esportivo dos amadores no futebol. Ele utiliza ferramentas como o Campeonato Cidade de Santos de Futebol Amador para relembrar de épocas em que a cidade só respirava isso. Os ex-jogadores concordam que para se ter um campeonato bom, como antigamente, seria necessário ter aproximadamente 30 campos. Joel conta que atualmente existem dez campos, entre clubes privados e as agremiações esportivas. Jair diz que os campos foram sumindo porque os proprietários dos terrenos queriam algo que rendesse mais. “A partir dos anos 80 e 90, foram construídos inúmeros prédios e casas, desalojando as equipes de seus campos”, conta Jair. “Se fosse para relembrar dos excelentes campeonatos que havia aqui, na década de 60, as cidades de Praia

CURIOSIDADE

A LINDESAN, para o ano que vem, colocará em prática a proposta de fortificar o desporto. Serão seis campeonatos voltados para os atletas de base e veteranos para 2009

HISTORIA Futebol de várzea é uma denominação brasileira, típica do estado de São Paulo, convencionada ao futebol praticado de forma amadora e organizada. Surgiu a partir da prática do esporte bretão em campos feitos na várzea às margens do rio Tietê, antes mesmo de haver profissionalismo no Brasil. O perfil do jogador varzeano é de uma pessoa que trabalha o dia inteiro, eventualmente faz outras atividades físicas, que pratica no final de semana o futebol ou ainda de ex-jogadores profissionais. Existem também jogadores que chegaram a serem profissionais, mas não conseguiram dar continuidade em suas carreiras e vivem de eventuais prêmios pagos pelos clubes varzeanos por participações em alguns torneios amadores. A Tribuna publicava no dia 1º de novembro de 1902: “Por iniciativa de um grupo de rapazes, tendo à fernte o jovem Henrique Porchat de Assis (Dick Martins), teve lugar na Praia da Barra um training de football que foi o primeiro a ser realizado não só nesta cidade como em todo o litoral paulista. A tentativa aprovou em cheio. É um divertimento que, em se o amparando, dar-nos-á em glórias, tudo”. “Era precisamente 8 horas e 25 minutos quando rolou, para ser disputada por duas equipes, na cidade de Santos, a primeira bola de futebol aqui chegada”. Fonte: Matéria publicada em 26 de março de 1964 pelo jornal.

Grande, Cubatão, Mongaguá, São Vicente e Itanhaém estão fazendo um bom papel”, afirma Jair Siqueira, que hoje tem um torneio com seu nome em homenagem. Jairo Barga, que sempre esteve envolvido com futebol amador e exercia funções na direção de um clube santista, relembra que os domingos santistas eram maravilhosos. “Agora os clubes lidam com mercadorias, se um sócio não paga a mensalidade por um mês ele já é cortado, fica como inadimplente e não usufruiu das locações do clube e assim deixa de bater sua bola no domingo”. Ele também conta que o futebol de várzea está esquecido e gostaria de poder voltar ao passado. 

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

35


SOLIDÁRIO

36

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

© Foto Aline Monteiro


CORRIDA

COM SOLIDARIEDADE E RESPEITO O Biathlon Atletas Solidários é a maior prova da modalidade no Brasil. O circuito é um teste de força e habilidade, mas também é uma demonstração de solidariedade Texto Aline Monteiro

Não se sabe se foi a música, o sol, a água,

do Gonzaguinha ficou animada com familiares

os atletas ou o suor o responsável por deixar

e amigos posicionando máquinas fotográficas.

no ar a vontade de nadar e correr junto com os

Enquanto as frutas e a água eram dispostas na

participantes do VI Circuito de Biathlon Atletas

linha de chegada, as equipes começavam a cair

Solidários. A certeza era que o desejo de praticar

na água, do outro lado da avenida Antônio Ro-

esporte e ajudar o próximo podia ser percebido

drigues.

nos gestos e olhares dos participantes e da equipe de organização do evento.

No mar, os surfistas e canoístas remaram 500 metros. Os demais participantes também en-

Atletas profissionais, amadores e com ne-

frentaram o mesmo percurso, mas com braçadas

cessidades especiais se reúnem todos os anos,

de natação. Três quilômetros de pedestrianismo

doam brinquedos nas inscrições e se movimen-

encerraram a prova. Já as crianças nadaram 200

tam na terra e na água para tornar mais alegre o

metros e correram apenas um quilômetro.

Natal das crianças carentes. “Nas outras etapas

Antes de qualquer classificação, a recompen-

os atletas doam cestas básicas”, afirma o organi-

sa podia ser aproveitada por todos: uma tenda

zador Paulo Marques de Oliveira.

de massagistas atendia, gratuitamente, os com-

A boa organização garantiu o desempenho dos participantes das categorias de canoagem,

petidores e quem mais estivesse por perto com vontade de relaxar os músculos.

surf masculino, feminino, infantil e dos portadores de necessidades especiais. Foram mais de

Integração social

500 inscritos que doaram cerca de oito mil brin-

A preocupação social não acontece somente

quedos. A última etapa do circuito foi realizada

no momento da inscrição. Os alunos das escolas

no dia 26 de outubro, em São Vicente. A praia

municipais de educação especial Anayr Navarro ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

37


EVENTO

A iniciativa dos atletas solidários vai se tornar permanente a partir do dia 29 de novembro

Trovão e Sérgio Vieira de Melo, de Praia Grande, dão um perfil diferenciado ao Biathlon. Eles possuem Síndrome de Down e recebem incentivo, orientação e auxílio dos professores para participar do evento. Na categoria Down, o percurso da prova é simbólico. Quando a água atinge a altura da cintura é o momento de voltar para correr ou caminhar cerca de 300 metros. O professor de Educação Física Narciso Maurício dos Santos é responsável pela coordenação da equipe que surgiu de uma parceria entre a Secretaria de Juventude, Esporte e Lazer e da Secretaria de Educação de Praia Grande. “Não há muita participação nessa categoria porque os pais não costumam acompanhar as crianças que possuem Down em atividades fora das escolas”, afirma Maurício. Realmente, nos momentos de descontração da equipe, era possível perceber que não havia muitos familiares, como ocorre com os atletas da categoria infantil. “Existem professores que não querem acompanhar as crianças em eventos no fim de semana, e como os pais não fazem questão, elas acabam não participando”. É o terceiro ano que portadores de Down participam do Biathlon. A segurança dos participantes é a questão fundamental no circuito. Maurício conta que, desde o primeiro ano, os atletas das demais categorias se colocam para acompanhar a prova da equipe, ajudando na orientação que for necessária. A iniciativa dos atletas solidários vai se tornar permanente a partir do dia 29 de novembro. Com a autorização da Prefeitura de Santos, uma barraca de praia será armada no Canal 6 para garantir os treinos e integração dos participantes nos finais de semana. “Deixaremos duas bóias no mar para o pessoal treinar, e uma televisão na areia para que todos assistam aos programas esportivos”, afirma o organizador Paulo Marques. 

38

REVISTA SUOR | ESPORTE  AMADOR

© Fotos Aline Monteiro


INFORMANDO ATLETAS SOLIDÁRIOS CATEGORIA SINDROME DE DOWN MASCULINO Classificação Nº 1º LUGAR 2º LUGAR 3º LUGAR 4º LUGAR 5º LUGAR

- 943 Caio Meirelles Araujo - 952 Fabiano Roberto Cezar - 946 Murilo Antonio Silva - 949 Arthur Dini Grassi Neto - 847 Jose Almir Barbosa Silva

FEMININO Classificação Nº 1º LUGAR 2º LUGAR 3º LUGAR 4º LUGAR 5º LUGAR

NOME

NOME

TEMPO 00:00:37 00:06:29 00:07:03 00:07:41 00:25:45 TEMPO

- 941 Cristiane Barbosa Bonfim 00:07:01 - 950 Selma de Oliveira 00:07:52 - 947 Karolina Aparecida Alves Albino 00:08:06 - 945 Janaina Pereira 00:08:46 - 953 Rita de Cassia Pereira 00:09:15

PATROCÍNIO Seduc / Sejel Praia Grande Seduc / Sejel Praia Grande Seduc / Sejel Praia Grande Seduc / Sejel Praia Grande Yps PATROCÍNIO Seduc/ Sejel Praia Grande Seduc / Sejel Praia Grande Seduc / Sejel Praia Grande Seduc / Sejel Praia Grande Seduc / Sejel Praia Grande

Acima, a Equipe Down recebem o prêmio pela competição. Ao lado, atleta alcança a linha de chegada

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

39


PERFIL

40

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

© Fotos Aline Monteiro


Motorzinho

ou será motorzão?

Cadeirante e vencedor. O Ironman Motorzinho mostra que o esporte não vê barreiras nem mesmo sentado em cadeira de rodas Texto Jeferson Marques 03h30 da manhã. Enquanto muitos estão na

e ganhando seus trocados, ajudando seus pais na

metade da balada, Motorzinho, 47 anos, está no

criação e no sustento dos nove irmãos. Porém fala

começo do seu dia. Sai nesse horário e vai em dis-

sobre sua infância com ar de emoção, satisfação

parada, montado na sua bicicleta especial, em que

e carinho. Hoje, mora com sua irmã mais velha e

se é possível “pedalar com as mãos”, percorrer 80

ambos são solteiros. É difícil afirmar já que tinha

km por ruas e estradas da cidade de São Vicente.

grandes responsabilidades desde muito pequeno.

Depois dessa maratona, Motorzinho vai para casa,

Era uma criança como todas as outras. No pouco

almoça, descansa alguns minutos e já parte para

tempo que lhe restava, Motorzinho gostava de

sua natação. Fica até ás 15h no clube, volta para

jogar futebol na rua, como todos os moleques do

casa com sua cadeira de rodas e parte para um

universo. Pés descalços, ruas de terra e campo de

merecido descanso. Repete essa rotina três vezes

barro. Se não tivesse campo, o asfalto virava o mais

por semana. Motorzinho é fã de novelas, filmes de

belo gramado que já podia se imaginar. Motorzi-

comédia e ação, mas corre de filmes de monstro

nho não podia entrar tantas vezes nesse campo, a

e horror! No máximo ás 21h30 já está dormindo,

vida reservaria isso para mais tarde.

para levantar na madrugada seguinte.

Acostumado a trabalhar, em 1995 a vida lhe

Primeiro cadeirante da América Latina a dis-

pregou uma peça que, para muitos pode ser con-

putar uma prova de Ironmam sendo tricampeão

siderada tragédia mas, para ele, foi o recomeço:

da categoria, campeão Brasileiro de Ciclismo, de-

Motorzinho trabalhava em uma loja de artigos

cacampeão do Spopen de Biathlon, hexacampeão

esportivos em São Vicente quando foi surpreen-

do Troféu Brasil de Triátlon, hexacampeão Triátlon

dido por um grupo de assaltantes. Após o susto

Internacional de Santos, 17º colocado no Mundial

e sem perceber que o grupo estava armado, deu

de Ciclismo na Suíça... Poderia ficar aqui citando

um grito de “pega ladrão” e levou vários tiros. Um

outras dezenas de conquistas. Apresento-lhes Eli-

deles pegou em sua medula, outro percorreu seus

ziário dos Santos, que gosta que o chamem apenas

órgãos e, milagrosamente, não atingiu o coração

de “Motorzinho”. É nitidamente percebida em seu

e pulmões. Não, por mais que fosse a vontade

rosto a simplicidade de um homem que lutou, e

dos ladrões, não a vontade divina que a vida de

muito, desde sua infância. Estudou até a 8ª série

Eliziário acabasse naquele momento. Motorzinho

do ensino fundamental e, mesmo assim, com ex-

merecia, sim, viver uma era mágica e, por isso, sua

trema dificuldade, já que sua origem é de família

vida prosseguiu mesmo tendo ficado tetraplégico.

pobre, sofredora e guerreira. Motorzinho sempre

Sempre adepto dos esportes, antes de “nascer

tinha de se preocupar em manter-se trabalhando

de novo” já praticava o pedestrianismo, maratoESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

41


IMPULSO

Devido ao ‘renascimento’, Motorzinho não consegue jogar o corpo para frente a cada vez que dá o impulso em sua cadeira. Imagine só se ele tivesse esse jogo de tronco?

42

nas e demais. Por incrível que pareça, acha que as

nheiro para empresas, que descontam do imposto

oportunidades que lhe levaram ao triátlon foram

e que, finalmente, chega a pessoas como ele. Na

melhores que antes, quando era apenas marato-

sua visão, esse dinheiro deveria ir direto para as

nista. Motorzinho demonstra muito carinho aos

mãos dos atletas e a porcentagem que o governo

seus amigos de infância que, por infelicidade do

dá às empresas deveria sair do seu próprio bruto,

destino, procuraram um mundo relativamente

passando a ser uma ajuda fixa. Abrir uma conta

mais fácil, onde as cobranças e cada manhã são

no banco e funcionar como um benefício, sendo

mortais. A humildade é tão lúcida no olhar de Mo-

depositado sempre naquela data e SEM ATRASOS!

torzinho, na forma de movimentar suas mãos ao

Fez questão de dizer do não atraso e se isso ocorrer,

limpar as rodas de sua cadeira que chega a nos

deve ser depositado com juros, “assim como eles

intimidar em grandeza e proporção. A gramática,

fazem com a gente quando atrasa uma conta”.

o plural e o singular, dentre outras regras de nossa língua, que muitos se vangloriam saber de trás

Jogo de Tronco?

para frente, não substitui a simplicidade, nobreza

Me assustou quando disse: “Meu jogo de tron-

e preocupação do bem estar social desse homem.

co me prejudica muito”. Tive de perguntar o que

Eu continuava minha conversa com ele ali, senta-

isso significava. Com uma breve risada, bateu duas

do, em uma cadeira de plástico bem ao lado da

vezes em meu braço e disse assim: “Perdão, garo-

piscina semi-olímpica do SESTI/SENATI – São Vi-

to! Eu é que te atropelei”.

cente, clube aonde Motorzinho vai, de segunda à

Devido ao ‘renascimento’, Motorzinho não

sexta, praticar natação. Cada pessoa que passava

consegue jogar o corpo para frente a cada vez

por ali, independentemente de ser criança, adulto,

que dá o impulso em sua cadeira, por complica-

portador de algum tipo de necessidade especial,

ções na medula. Parei novamente e pensei por

Motorzinho fazia questão de cumprimentar. Ele

alguns segundos: Imagine só se ele tivesse esse

olhava para cada um deles, dava sua “boa tarde”

jogo de tronco? Dessa vez não fui atropelado! O

e abria um cativante sorriso, que lhe era inevita-

tempo passou muito rápido no clube, com um

velmente contribuído. Preocupava-se com nosso

bate-papo alegre, descontraído e super natural

bate-papo e com meu gravador. Eu dizia para não

com esse triatleta de imenso respeito. As pesso-

se preocupar, minha intenção ali naquela tarde de

as que transitavam pelo clube sempre olhavam

tempo nublado e fortes ventos era conhecer o Eli-

para Motorzinho não com o sentimento de dó,

ziário dos Santos.

mas sim o enxergando como uma inspiração.

Quando o assunto entra em patrocinadores e

Seu jeito elétrico de falar, seu tom de voz um

apoiadores ao esporte, Motorzinho muda de fei-

pouco roco e sua já gasta cadeira de rodas fa-

ção e passa a ser um cara triste. As idéias de mu-

zem de Motorzinho um gigante, mesmo estando

danças, revolta, indignação e incertezas circulam

sentado o tempo inteiro. Mas quem disse que

por sua mente e saem na direção do gravador.

um homem para ser gigante precisa ter as per-

Porém, a humildade faz com que mesmo se de-

nas compridas? Quem disse que uma deficiência

parando com idéias atrapalhadas, procurasse uma

pode lhe impedir de viver e de sonhar? Motorzi-

explicação para tentar isentar os responsáveis por

nho adiou os sonhos daquela infância pra o hoje

isso. Enquanto tomava um copo de água, Motorzi-

e seu destino quis assim. Ele não critica seu des-

nho despejava as críticas aos nossos governantes

tino, assim como não coroe magoas do passado.

que, segundo ele, jogam as responsabilidades nas

Sua vida recomeçou depois daquele incidente

empresas e tiram o seu “umbigo” da reta. Motor-

na loja de artigos esportivos e, para a sorte de

zinho não entende o processo de repasse de di-

todos nós, brasileiros, ele percebeu isso! 

REVISTA SUOR | ESPORTE  AMADOR

© Fotos Jeferson Marques


Motorzinho é tricampeão de Ironmam, campeão Brasileiro de Ciclismo, decacampeão do Spopen de Biathlon, hexacampeão do Troféu Brasil de Triátlon, hexacampeão Triátlon Internacional de Santos, 17º colocado no Mundial de Ciclismo na Suíça

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

43


SUCESSO TOTAL

44

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR


7 Surf Odon to movimenta a praia de Maresias o

A festa em comemoração ao mês do Dentista prestigia um dos esportes mais difundidos na região, com a participação de mais de mil pessoas Texto Bruno Quiqueto Foto Max Plini

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

45


Renan Castro, de apenas 13 anos, foi campeão na categoria Amigos dos Dentistas, já o veterano Bruno Santos, ficou com o segundo lugar na competição

U

ma brincadeira. Depois de algumas

porções. Disputado há quatro temporadas na

ondas, Renato Vanzella Vicente (o

praia de Maresias, São Sebastião, Litoral Norte

“Dida”), Rafael Ruas Cardoso (o “Ga-

de São Paulo, hoje a competição é um sucesso

biru”) e Renato Santos Mahnke (o “Bato”), den-

total. “Não temos mais pulseiras para o pessoal

tistas e surfistas, passaram a pensar em uma

comprar.

competição para a classe. Na época eram ape-

Este ano está tudo lotado”, falou Bertoni,

nas estudantes que curtiam a praia nos tempos

durante a churrascada realizada no sábado, 1°

de folga. Juntaram-se a Felipe Shimisu, Presi-

de novembro. A pulseira, citada pelo diretor, ga-

dente da Nova Geração da Associação dos Cirur-

rante o direito à participação no churrasco, des-

giões Dentistas da Baixada Santista – ACDbs - e

conto nas baladas e às bebidas servidas durante

Renato Bertoni, diretor da entidade. “Estávamos

as festas.

surfando e achamos que a idéia era boa. Juntar

Em 2008, a sétima edição do Surf Odonto

o prazer de surfar e competir entre os amigos”,

ocorreu no final de semana de 31 de outubro a 2

disse Cardoso.

de novembro. Cerca de 1030 participantes des-

Sempre abertos a novas iniciativas, Bertoni e

frutaram de 450 quilos de carne, dois mil lan-

Shimisu trataram logo de tornar o pensamento

ches, distribuídos junto com o churrasco, e 10

em realidade. Divulgado entre amigos, o primei-

mil latas de cerveja. Foram necessários 42 fun-

ro Surf Odonto aconteceu em 2001 na praia do

cionários para controlar e organizar o evento.

Tombo, em Guarujá com a presença de apenas 20 pessoas. No ano seguinte, com tempo maior

Participantes

para seu planejamento, o evento mudou para a

Além da ACDbs, outras Associações marca-

cidade de Santos, no Quebra Mar. O público au-

ram presença, como a Associação Paulista dos

mentou e a competição começava a se moldar.

Cirurgiões Dentistas de São José dos Campos,

“Desde o início, o Surf Odonto foi criado como

representada pelo dentista Sérgio Torres e a As-

uma maneira de unir mais a classe, uma confra-

sociação dos Engenheiros e Arquitetos de San-

ternização”, explica Bertoni.

tos, representada por seu presidente, Marcos Teixeira. “Foram três meses de planejamento

Maresias

para chegarmos ao resultado de hoje. Uma com-

Com o passar dos anos e o incentivo dos

petição em alto nível e com um grande número

apoiadores, o Surf Odonto ganhou grandes pro46

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

de pessoas”, disse Torres.


© Foto Jeifferson Moraes

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

47


À direita, os campeões da categoria Open Dentista, Fernando Alcântara e Ricardo Venceslau, com o idealizador do evento, Renato Bertoni, e apoiadores. Abaixo, participantes do evento no churrasco de confraternização

ANOTE Para mais informações acesse os sites: www.acdssv.com.br www.seuesporte.com.br Assista aos vídeos no YouTube, basta digitar a palavra-chave Surf Odonto no campo de busca

48

Teixeira se surpreendeu com o evento. “A

Dentistas, Amigos dos Dentistas e Longboard.

presença do jovem é muito importante. Festas

Fernando Alcântara ficou com o título entre os

como estas são interessantes para as Associa-

Dentistas. Em uma final com cerca de dois pés

ções, principalmente por fazer com que a juven-

de onda (0,5 metro), Alcântara teve, na somató-

tude compareça em grande quantidade”.

ria de suas duas melhores ondas, 6,57. Ricardo

Para o presidente da ADCbs, Dr. Francisco

Venceslau, o segundo colocado, ficou com 5,16.

Marçal Vieira, a Associação tinha um estigma,

Rafael Cardoso e Carlos Penna, terceiro e quarto

como coisa de pessoas velhas. “A nova geração

colocados, respectivamente, completaram a lis-

de dentistas acha que nossa entidade é voltada

ta de vencedores da disputa que contou com 20

para o pessoal mais antigo, e não é bem assim.

competidores.

Nós descobrimos que a distribuição da faixa etá-

O garoto de 13 anos, Renan Castro, foi o

ria dos associados, de 20 a 80 anos, era igual.

campeão na categoria Amigos dos Dentistas.

No entanto, os eventos sociais eram voltados

Na decisão, ele deixou três veteranos para trás

para a turma mais velha. Isso está mudando”.

e assegurou a taça após duas boas ondas. Na

A competição de Surf foi realizada no sába-

somatória das duas melhores, Renan fez 9,94

do, 1° de novembro, em três categorias: Open

contra 9,60 de Bruno, segundo colocado. Flávio

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

© Fotos Max Plini


e Well ficaram na terceira e quarta posições,

ficaram com suas vagas esgotadas. “É mui-

respectivamente Já Edson Sales foi o campeão

to bom. Esse final de semana não fez sol e a

na categoria Longboard. A decisão foi a única

pousada ficou lotada”, falou Elimar Mahnke,

bateria disputada na categoria, pois só havia

proprietário da El-Solar. Juliano Gedrin, só-

cinco competidores. Fernando Alcântara, Bru-

cio-proprietário do Bar Santo Gole, espera

no Alves, Ricardo Horliana e Felipe Sarata ter-

que em 2009 seu estabelecimento receba

minaram em segundo, terceiro, quarto e quin-

novamente o evento. “Muita gente veio para

to, respectivamente.

cá, a casa tem apenas um ano e é legal receber toda a galera”.

A Festa

Apesar do desgaste na organização, Ber-

Durante a disputa, a galera ficou concentra-

toni reconhece a evolução do Surf Odonto.

da no Tambayba Beach, com cerveja e churrasco

“Fazer tudo isso é bastante cansativo, mas

à vontade. O Dj Alex, de A Equipe Produções, e a

ver o resultado é gratificante. Só tende a

banda E ai?, agitaram o pessoal. Até um campo

crescer ainda mais”. Luigi Nicastro Neto, den-

de futebol de sabão foi montado para descon-

tista, adorou. “Está ótimo. Todos os amigos

trair os participantes. Na noite de sexta, 31, o

reunidos, gente bonita, cerveja e surf. Não

Bar Santo Gole foi o local escolhido pelos orga-

poderia ser melhor”.

nizadores, onde rolaram os shows das bandas E

Segundo Dr. Vieira, “A história do Surf

ai? e MPBalck. No sábado, o Sirena completou a

Odonto é fantástica. Hoje a gente vê mais de

festa. A sétima edição do Surf Odonto agitou

mil pessoas aqui em Maresias, deslocadas de

também o comércio da região. Dez pousadas

suas casas. É uma festa linda, maravilhosa”. 

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

49


ESPORTE SOCIAL

Badalação

1

2

1. Bruna Santos e seu mega fone; 2. Felipe Marques, Rafael Lima e Lucas Oliveira bricando com o Sapo; 3. Rita e Fernando Almeida, ao lado de Isabel e Jair Moreira; 4. Leandro Souza, Andréa Fernandes, Ana Paula Vieira e Tiago Siqueira curtindo a festa;

4

50

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

© Fotos Max Plini


A contagiante alegria das pessoas tomou conta do evento depois das competições na Praia de Maresias

3

5. Fernanda Santos, Cláudia Silva, Juliana Ribeiro,Gabriel Saraiva e Carla Rocha no churrasco de confraternização, 6. Gabriela Alves e Fernanda Pacheco curtindo a praia de Maresias

5

6

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

51


OLHAR CRÍTICO

52

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

©1


POR QUE

NÃO SOMOS COMO ELES? Terminada a Olimpíada em Pequim, agora é hora do balanço. O que falta para o Brasil um dia se tornar potência nos esportes de alta competição? Texto Rogério Amador

Ele começou a carreira de jogador de basquete

Pura ilusão. Não demorou muito e o patrocina-

aos nove anos de idade, a mãe o colocou na esco-

dor rescindiu o contrato com a Prefeitura local, im-

linha do Clube Internacional de Regatas, por causa

possibilitando a continuidade do projeto e de toda

de sua altura. Na época, tinha 1,82 metros. Com

a estrutura montada. O santista teve que voltar à

o passar do tempo, Alexandre Lamoglia Barbieri

sua cidade natal para jogar em clubes pelo simples

foi se destacando nas competições. Passou pelo

prazer de jogar basquetebol.

mirim, infantil, infanto-juvenil, juvenil até chegar à

Com 21 anos, não agüentou mais. Foi procurar

categoria adulta, agora já com seus 2,00 metros de

emprego para ganhar dinheiro e tentar começar

altura atuais.

uma vida. Hoje, com 39 anos, é engenheiro quími-

Com 18 anos quis alçar vôos mais altos. Saiu do

co e trabalha em uma empresa de Cubatão há 18

seu clube, no qual jogou desde o inicio, para assu-

anos. Não se arrepende do fato de ter largado o

mir uma posição no time da Philips, na cidade de

esporte, já que com o serviço arrumado pôde es-

Santo André. Agora com salário, alojamento para

truturar sua vida. É casado com Luciana e tem dois

morar, condução para visitar os parentes em San-

filhos. Quem perdeu foi o basquete, pois se Bar-

tos e outras regalias, ou seja, toda uma estrutura

bieri tivesse a oportunidade de continuar, certa-

para desenvolver o seu potencial para que um dia

mente o nosso eterno cestinha Oscar “Mão Santa”

conquistasse seu maior sonho: jogar uma Olimpí-

teria a companhia de alguém, para lhe ajudar nas

ada pelo Brasil.

conquistas que não conseguimos para o Brasil.

© Foto 1 Ilustração digital | Jeifferson Moraes

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

53


Alexandre Barbieri observa lance da final do Campeonato Santista em 1989

ATLETISMO

Com 6 medalhas de ouro, a Jamaica foi a13ª colocada no quadro de medalhas de Pequim, todas no atletismo

técnico da Secretaria Municipal de Esportes de Dinheiro x Administração

Santos, Ibraim Tauil, os recursos disponíveis são

A pergunta é inevitável: O que falta para o

mais do que suficientes para transformar o Brasil

Brasil ser uma super-potência no esporte? Somos

numa potência olímpica. “Se houvesse seriedade

um país beirando os 190 milhões de habitantes,

e programas consistentes para o setor, certamente

segundo estimativa do censo/IBGE 2008. Temos

chegaríamos bem mais longe”. Para enfatizar o seu

políticas públicas dedicadas ao desenvolvimento

discurso, Ibraim cita o artigo 217 da Constituição

do esporte, uma história de vencedores e ídolos

Federal que determina: “É dever do Estado fomen-

em modalidades que inspiram os mais novos, a tal

tar práticas desportivas formais e não-formais,

ponto de sermos referência, como, por exemplo,

como direito de cada um”.

no voleibol. E, principalmente, somos um povo que tem literalmente o esporte na veia. “Ás vezes,

Política

aparecem aqui na escola alunos que nunca fizeram

Outro ponto impactante e desfavorável é o fa-

ou praticaram determinada modalidade, mas que

tor político. A alta burocracia e a má administração

são talentos natos”, diz o professor de Educação Fí-

causada pelo emaranhado de Ministérios, Secre-

sica Fabio de Oliveira Santos, que dá aulas na Esco-

tarias, Departamentos, Fundações, Fundos, Con-

la Municipal D. Pedro I, na Vila Nova, em Cubatão.

federações, Federações, Ligas, Comitês, Clubes,

Esses talentos são ceifados pela total falta de

ONGs, acabam desordenando o que era para ser

infra-estrutura. Dinheiro não é o problema. Exis-

bem mais simples. “Com tantos interesses imedia-

tem no Brasil recursos oriundos de orçamentos

tos e midiáticos, a verdade é que o desporto edu-

dos governos municipais, estaduais e federal. Eles

cacional acaba não tendo a mínima importância e,

são somados aos recursos das loterias federais (Lei

assim, o investimento na base segue perdendo de

Piva) — que estabelece que 2% da arrecadação

goleada para o investimento no alto rendimento e

bruta de todas as loterias federais do país sejam

na realização de eventos”, conclui Tauil.

repassados ao Comitê Olímpico Brasileiro e ao Co-

Utiliza como exemplo a própria natação na ci-

mitê Paraolímpico Brasileiro. Do total de recursos

dade, onde só na escolinha da Zona Noroeste há

repassados, 85% são destinados ao COB e 15%,

1200 alunos para apenas duas piscinas, enquan-

ao CPB. Outra conquista orçamentária importan-

to que a Prefeitura, através do programa “Adote

te foi a aprovação da Lei de Incentivo ao Esporte,

um Atleta”, prefere o patrocínio de boa parte da

que possibilita as empresas jurídicas, ou até mes-

equipe de natação da Unisanta, sem ao menos dar

mo pessoas físicas, de deduzirem do imposto de

uma oportunidade às crianças que mais se desta-

renda de 1 a 6% a título de patrocínio ou doação,

cam nas escolinhas.

no apoio direto a projetos desportivos e parades-

54

portivos previamente aprovados pelo Ministério

Supervalorização

do Esporte.

No ano passado tivemos um exemplo claro da

Sem contar a ajuda natural de empresas es-

má gestão de nossos dirigentes: os Jogos Paname-

tatais e privadas, como a Eletrobrás, Correios e

ricanos do Rio de Janeiro. Inicialmente orçado em

universidades particulares. Para o coordenador

R$400 milhões, acabou aproximadamente R$4

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR


©2

© Foto 2 Adalberto Marques | A Tribuna

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

55


bilhões de reais. E o pior: após o término os equi-

©3

pamentos utilizados estão às moscas ou sendo utilizados para outras finalidades. O resultado é o mesmo que construir um edifício sem alicerce. Desmorona a cada Olimpíada. O Ministro dos Esportes, Orlando Silva e o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Artur Nuzman foram procurados pela nossa reportagem através de suas respectivas assessorias, mas não quiseram se pronunciar a respeito desta matéria. Em 1991, jogando pelo Santos FC (camisa 11). A cidade não deu oportunidade para sequência da carreira

Exemplo de sucesso Não é só de lambanças que vive o esporte bra-

©4

sileiro. Existem exemplos sérios e bons a serem seguidos, que estão espalhados por todo o Brasil. Um deles é o “Centro de Excelência”, na cidade de São Paulo. Através de uma iniciativa do Governo do Estado, atletas de talento de todo o Estado são levados ao projeto, obtendo toda a estrutura necessária para o crescimento esportivo. No Conjunto Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, no Ibirapuera, capital paulista, os atletas têm acesso a professores credenciados como Aurélio Miguel, Ana Mozer, Magic Paula e Zequinha

Professor Fabio de Oliveira Santos durante aula de educação fisica em Cubatão ©5

Barbosa, representantes das quatro modalidades trabalhadas no local: judô, atletismo, natação e voleibol (masculino e feminino), e o futebol masculino, além de alojamentos com todas as refeições e acesso ao estudo. Todo o atleta utiliza as notas obtidas na escola como prerrogativa da extensão da bolsa ao projeto, ou seja, se o atleta não vai bem na escola, a bolsa é automaticamente retirada. O judoca Aurélio Miguel (medalhista de ouro em Seul/1988) veio a participar do projeto em um momento em que estava brigado com a Confederação Brasileira de Judô e, por conta disso, tinha sido afastado da seleção brasileira. “Fui contra a uma dinastia criada pela família Mamede, que colocou a modalidade em estado de falência”, sentenciou o ex-atleta, utilizando como exemplo as várias vezes 56

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

Magic Paula com as crianças no Centro de Excelência em São Paulo. Em 2007, mais de 600 crianças passaram pelo projeto

© Foto 3 Assesoria - Santos FC | Foto 4 Arquivo pessoal | Foto 5 Leonardo Costa - Assessoria de imprensa - SESP


que não pode participar de torneios no exterior por não ter verba suficiente. Na época, a confederação era presidida por Joaquim Mamede, que esteve à frente do órgão por

36 MEDALHAS

21 anos seguidos. “Gerenciar o esporte não é difícil, basta seriedade e vontade política”, afirma Aurélio. O projeto Futuro já revelou nomes de destaque como a medalhista de ouro em Pequim, Maurrem Maggi, o judoca Tiago Camilo, e o atleta do salto triplo, Jadel Gregório. O projeto iniciado em 1984 continua mais firme do que nunca e conta não só com o apoio do Governo do Estado, mais também com a ajuda da iniciativa privada. Maus exemplos Sábado, 07 de junho de 2008. Depois de um ano de investigações da Polícia Civil, o fugitivo Carlos Alberto Aparecido Oliveira de Carvalho, mais conhecido como Peixe Raia, foi preso no Morro do São Bento, em Santos. Membro da facção criminosa PCC — Primeiro Comando da Capital, Peixe Raia havia fugido da Penitenciária de Getulina, no interior de São Paulo, em janeiro de 2006, onde cumpria pena de, aproximadamente, 15 anos por homicídio, tráfico de drogas, roubo e lesão corporal. Na hierarquia da facção, ele seria chamado de “torre” (chefe

EUA ganhou 36 medalhas de ouro nas Olimpíadas de Pequim. Só o nadador Micheal Phelps levou oito medalhas de ouro

INFORMANDO PARAOLIM PÍADA A classificação do Brasil saltou de 23º nas Olimpíadas, para nono colocado nos jogos para atletas com deficiência física. A África do Sul passou de 71ª para o sexto lugar, com 21 medalhas de ouro. A diferença dos números está no envio de delegações dos dois jogos. Os Estados Unidos, por exemplo, enviaram 600 atletas para Pequim. Já na Paraolimpíada, competiram apenas 213 americanos. Segundo a Organização Mundial de Saúde, existem 750 milhões de deficientes no mundo, sendo que 80% estão nos países em desenvolvimento.

P RIMEIRO LUGAR A China se tornou a primeira na classificação das medalhas, fechando os jogos com 100 medalhas, 10 a menos que os Estados Unidos. Porém, foram os americanos que subiram ao pódio do basquete masculino, lugar que a torcida chinesa esperava ver a equipe de Yao Ming.

do tráfico no morro). Mas, por que uma notícia policial poderia estar associada a uma matéria esportiva. Infelizmente tudo. Para o

©4

professor de atletismo da Semes, José Roberto da Silva, o fato causa grande tristeza até hoje. “Quando eu vi a reportagem do Betinho na televisão não agüentei e comecei a chorar”, disse o professor, pois, para ele, Betinho continua sendo o menino franzino e de pernas finas que participava da equipe de atletismo da Zona Noroeste, em Santos. Carlos Alberto sempre foi considerado um atleta com enorme potencial. “Eu falava para todos na época que o Betinho era o substituto natural do Joaquim Cruz”, afirma o professor, em alusão ao campeão olímpico dos 800 metros rasos em Los Angeles/1984. Segundo o técnico, o que falta é dar continuidade ao atleta que se mostra promissor no esporte, dando-lhe condições de atingir um nível de alto desempenho necessário para as

Aula de educação física do professor Fábio de Oliveira

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

57


©6

Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão no Rio de Janeiro. Inicialmente orçado em R$60 milhões, teve um custo final mais de seis vezes do esperado: R$ 380 milhões conquistas, e ao mesmo tempo, tirando jo-

mente encerraram as atividades esportivas, dei-

vens do caminho obscuro, como é o caso do

xando um legado de muitos atletas desenvolvi-

hoje traficante, Peixe Raia.

dos na base dos clubes, considerado celeiro de grandes atletas da cidade.

Celeiro mal aproveitado Santos é considerada uma das cidades mais

58

Infra-estrutura não utilizada

esportivas do Brasil. São realizados diversos

Outro ponto negativo é o atletismo. Santos

torneios de alto nível, expondo a cidade a um

conta com quatro pistas tradicionais para a prática

excelente nível de projeção nacional. Além dis-

do esporte. O SESI, na Avenida Nossa Senhora de

so, é sempre destaque nas competições entre

Fátima, que não pode ser mais utilizado pela po-

cidades, como os Jogos Abertos e Regionais,

pulação, pois o contrato com a Prefeitura não foi

disputadas todo o ano. Os maus exemplos ainda

renovado. O do Clube dos Portuários, no bairro do

contaminam o município. Clubes tradicionais da

Marapé, que possui piso de grama, mas que está

cidade, como Regatas Santista, Vasco da Gama,

abandonado. A pista da Associação Desportiva da

Saldanha da Gama e o Atlético Santista pratica-

Policia Militar, no canal 6, se encontra totalmente

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

© Foto 6 Divulgação - Assessoria Governo do Estado do Rio de Janeiro


inutilizada. Finalmente, o Brasil Futebol Clube, no

para uma melhor adequação do sistema curri-

bairro da Aparecida, que está agonizando pela fal-

cular local, seria imprescindível trabalhar com

ta de apoio. “Lembro que no ano passado, havia

crianças a partir dos três anos de idade, através

uma menina de 11 anos no SESI, chamada Tamiris,

de uma educação física voltada para a parte mo-

que em uma competição escolar completou a pro-

tora do aluno, possibilitando uma espécie de

va dos 600 metros rasos em 1 minuto e cinqüenta

triagem, antes dos próprios professores enca-

e sete segundos, algo notável para a idade dela”,

minharem a criança para um esporte especifico,

enfatiza o professor José Roberto, sendo que após

com aproximadamente dez ou onze anos.

o término do contrato do SESI com a Prefeitura, a

A campeã geral das últimas Olimpíadas, a

menina sumiu. Como prova desse descaso, a com-

China, massificou o esporte através da base.

petição de atletismo do Jogos Esportivos de Santos

Incentivou a prática desde a escola fundamen-

(Joes), que contempla os estudantes das escolas

tal até o ensino médio. Criou o Departamento

municipais da cidade, não teve as provas de atle-

Nacional do Desporto Olímpico e, passou a criar

tismo, pelo simples fato de não haver nenhuma

centros de excelência para cada modalidade.

escola inscrita para a competição.

Além disso, abriu as portas para profissionais de gabarito trabalharem no país, sem contar o re-

Exemplo de fora

cheado orçamento destinado ao esporte, fruto

Quando se pesquisa sobre esporte nos países

do crescimento econômico conquistado pelos

com alto, nos deparamos com uma certeza: o su-

chineses.

cesso está nas escolas. Nos Estados Unidos, todo

A Jamaica, pequeno país da América Central

o planejamento esportivo está vinculado com a

com pouco mais de 2,7 milhões de habitantes,

parte educacional. Em termos políticos, toda a

conseguiu ficar a frente de países, como o Brasil,

estrutura organizacional esportiva está vinculada

na ultima Olimpíada, conquistando 11 medalhas

diretamente com as Secretarias de Educação lo-

no total, sendo seis de ouro. Os jamaicanos in-

cais. “Lá, a Educação Física não é mais uma simples

vestiram em um esporte simples e muito prati-

matéria, e sim, uma disciplina”, aponta o professor

cado pela população: o atletismo.

Ibraim Tauil.

Atualmente, o país possui os dois homens

Na Inglaterra, país sede da próxima Olimpí-

mais rápidos do mundo: Usain Bolt — atual

ada, em Londres/2012, o mesmo conceito vem

recordista mundial dos 100 metros rasos, com

sendo aplicado há algum tempo, e os resultados

9s72 — e Asafa Powell, ex-recordista, com 9s74.

já começam a aparecer. Em Pequim, os ingleses

Ambos surgiram nas competições escolares e

tiveram uma ótima atuação, principalmente em

desenvolveram suas habilidades numa pista de

esportes que até então não conseguiam se des-

grama modesta numa das principais universida-

tacar, como badmington e softbol. No final, apa-

des jamaicanas. É onde Asafa Powell continua

receu na 4ª posição geral, com um total de 47

treinando regularmente, sem precisar recorrer

medalhas, sendo 19 de ouro.

aos grandes centros.

“No Brasil, tentam mascarar a falta de inves-

Como se vê, não precisa muito, apenas um

timento na base, aplicando a grande maioria dos

pouco de seriedade. Enquanto isso, o Brasil vai

recursos nos atletas já formados”, diz Fabio San-

se arrastando graças ao esforço e talento de al-

tos, professor da rede publica, lembrando que

guns e a esperteza de muitos. 

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

59


SAÚDE

Seja de profissionais ou amadores, o corpo das pessoas comuns pode ser aperfeiçoado para o alcance do “impossível”

60

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

© Foto reprodução


DOPING CONTAMINA

TAMBÉM O ESPORTE AMADOR Alguns atletas se utilizam de substâncias químicas para aumentar o desempenho e obter vantagens nas competições esportivas Texto Gabriela Soldano As notícias sobre doping nos esportes de alto

de 15 e 21 anos, que foram internados em estado

rendimento têm incentivado o aumento do uso de

grave na UTI do Hospital de Base de Brasília após o

substâncias proibidas por atletas amadores, que

consumo das substâncias proibidas visando o cres-

se esquecem das conseqüências devastadoras nas

cimento de seus músculos.

carreiras dos esportistas famosos. O último caso foi

Um jovem alemão, fisiculturista amador, toma-

o da nadadora Rebeca Gusmão, que foi banida do

va esteróides duas vezes por semana. As drogas,

esporte pela Federação Internacional de Natação.

250 mg de enantato de testosterona e 30 mg de

O professor Cláudio Zanin Eduardo, da Secretaria

metandienona, induziram o crescimento de acne

Municipal de Esportes de Santos (Semes), explica

severa, feridas profundas com abcessos e pústulas

o objetivo da punição: “É preciso coibir a utilização

nas costas e no peitoral. O rapaz teve febre, enco-

desses produtos por parte dos atletas, tanto pro-

lhimento dos testículos, redução na concentração

fissionais, como amadores”.

dos espermatozóides e cicatrizes. Os sintomas de-

Bernardino Santi, médico traumatologista e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em

sapareceram com a interrupção dos esteróides, mas ele carregará as cicatrizes para sempre.

entrevista ao médico Drauzio Varella, afirma: “É preciso entender que os atletas de campeonatos

Produto indesejado

mundiais representam apenas 1% da população

O produto ADE, fabricado na Argentina, não

de esportistas e, sobre eles é exercido intenso con-

tem registro no Brasil. O Hospital de Base de Bra-

trole externo”. O professor Cláudio Zanin comenta

sília registrou 30 casos recentes do mal uso com

ainda que o efeito dessas substâncias proibidas é

graves seqüelas decorrentes da má aplicação da

apenas temporário. “Diminuem ou cessam quan-

substância. Desde 1998, há pelo menos quatro

do a sua administração é interrompida. Já, os efei-

mortes documentadas no país relacionadas aos

tos colaterais podem, por muitas vezes, ser perma-

anabolizantes. O Ministério da Agricultura afirma

nentes, podendo desencadear diversos problemas

que é permitido o uso de anabolizantes animais

de saúde”.

apenas em eqüinos, uma vez que o Estigor é indicado para engorda de gado de corte e, sua venda

Casos Graves

proibida no país.

Em 2004, seis pessoas foram internadas após o uso do medicamento Estigor para animais, que

Porque usar?

combina o esteróide anabolizante nandrolona e o

A médica clínica geral Alessandra Bittar afirma

complexo vitamínico ADE. Dois deles eram jovens

que a aparência é o principal fator da utilização de ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

61


MALEFÍCIOS

“O problema está nas pessoas que vão às academias em busca de melhor condicionamento físico. Sabendo que os atletas de ponta utilizam substâncias, usam sem se preocupar com os malefícios”

algumas substâncias. “As pessoas procuram resul-

de substâncias proibidas por atletas de alto rendi-

tados rápidos para a melhora da aparência física.

mento leva o esportista amador a utilizá-las. “Cada

A estética desejada é o fator crucial para a compra

vez mais os atletas superam recordes, ganham

destes produtos”. O personal trainer Cláudio Leite,

fama, dinheiro, patrocínio e se realizam dentro do

32 anos, afirma que os esteróides e anabolizantes

esporte, levando quem não alcançou isso, querer

estão também nas academias. “O pessoal quer au-

chegar lá também”.

mentar o tamanho dos músculos. E, logo depois,

A médica Alessandra concorda. “Sempre que

adquirem substâncias em algum ‘mercado negro’

um esportista usa e consegue resultados que acha

e, saem usando sem qualquer prescrição médica,

ser bom, o esportista amador também vai utilizar

sem noção do que estão aplicando no corpo. Estas

porque acha que vai dar certo para ele também”.

substâncias são muito perigosas, podem levar até a morte. Sem falar que seu uso é crime”.

pos explica que os motivos para a utilização des-

A estória de Fábio Vieira é diferente. “Logo que

tas substâncias são diferentes. “Hoje, o atleta de

comecei a freqüentar a academia, um orientador

alto rendimento que utiliza substâncias proibi-

disse que meus músculos não cresceriam com os

das, corre o risco de ser suspenso ou até mes-

exercícios que eu fazia. Então, ele me ofereceu um

mo banido do esporte, pois o Comitê Olímpico

complemento alimentar. Mas o que ocorreu na

Internacional (COI) é muito rígido na detecção

verdade, é que ele me vendeu foi um anabolizan-

e punição desses atletas. O esportista amador

te. Tive muita tontura, então procurei um médico,

não quer ter um melhor desempenho, mas uma

e parei com a substância. Os sintomas também

melhora na sua estética”.

pararam”. Informação como solução Especialistas alertam

Danilo e Cauê acreditam que o melhor com-

O profº. Cláudio Zanin explica que há diferenças

bate ao uso indiscriminado destas substâncias é

entre o uso de complementos alimentares e subs-

a informação, como artigos científicos, revistas,

tâncias do doping. “Os suplementos alimentares,

documentários etc. Rogério Campos afirma que os

quando utilizados de forma correta, podem auxi-

pais também devem estar atentos. “Os pais devem

liar. Diferentemente de outras substâncias proibi-

saber se o seu filho treina com um profissional re-

das, os suplementos são substâncias de uso legal.

gistrado no Conselho Regional de Educação Física

A utilização de forma indiscriminada pode causar

(CREF) e, se a academia possui registro. Mostrar

outros efeitos não desejados, como, por exemplo,

o que pode acontecer com o seu corpo se utilizar

o aumento do peso gordo”.

dessas substâncias, citando exemplos de pessoas

A médica Alessandra Bittar comenta que há

62

O professor de educação física Rogério Cam-

que tomaram e morreram”.

ainda substâncias que têm seu uso proibido pela

A médica Alessandra completa. “Deve-se expli-

Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos,

car dos efeitos maléficos dessas substâncias con-

por ter a capacidade de mascarar o uso de anabo-

tando que causam danos irreversíveis à saúde”.

lizantes. “Por exemplo, a Finasterida, usada para o

O orientador educacional tem importante pa-

tratamento da calvície tem capacidade de masca-

pel. “Estas drogas levam à dependência e até a

rar o uso da nandrolona, substância que apresenta

morte. É um custo muito alto por pouco.”, explica

capacidade anabolizante.”.

Danilo. Para o profº Cláudio “um educador é um

Danilo Rocha afirma que “nenhum educador

formador de opinião, devendo primar sempre pela

físico é gabaritado a prescrever dietas, suplemen-

formação de cidadãos saudáveis e conscientes de

tos ou remédios”. Ele também acredita que o uso

seus atos”.

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR


subst âncias proibidas Estimulantes

Excitam o organismo, alterando o metabolismo. Destacam-se as anfetaminas, a cafeína e a cocaína. São usadas para conseguir os efeitos da adrenalina. Aumentam a capacidade de tolerância ao esforço físico e diminuem a dor. Principais esportes: o basquetebol, o ciclismo, o voleibol e o futebol. Efeitos: falta de apetite, a hipertensão arterial, palpitações e arritmias cardíacas. Podem levar a morte.

narcótico - analgésico

Relaxam ou amortizam a dor. Destacam-se: a morfina, a heroína e a hidrocodona. Principais esportes: de resistência. Efeitos: Perda de equilíbrio e coordenação, náuseas e vômitos, insônia e depressão, diminuição da freqüência cardíaca

AGENTES ANABOLIZANTES

Derivados da testosterona. Agem aumentando o tamanho dos músculos. As pessoas ganham força, potência e maior tolerância ao exercício físico. Principais esportes: halterofilistas e lutadores.

diuréticos

A bumetanida, a espronolactona, a diclofenamida e o manitol, além do triantereno e a furosemida. Provocam perda de peso e mascaramento de doping. Aumentam a formação e a excreção da urina, para eliminar mais rapidamente substâncias dopantes. Principais esportes: boxe, o judô, o halterofilismo e o karatê. Efeitos: desidratação, cãibra muscular, diminuição do volume sangüíneo, doenças renais, alterações do ritmo cardíaco e perda acentuada de sais minerais. Podem levar a morte.

Hormônios peptídicos e análogas

Atuam no organismo acelerando o crescimento corporal e diminuindo a dor. Elevam a produção de esteróides androgênicos, resultando, por exemplo, no aumento da massa muscular. Aumentam o volume e potência dos músculos. Principais esportes: aqueles exijam treinamento de força. Efeitos: ginecomastia e alterações menstruais nas mulheres. Gonadotrofinas pituitárias e sintéticas. Aumentam vários tecidos. Crescimento desmedido das mãos e pés, alteração no formato da face, alterações na voz, intolerância à glicose, compressão de nervos periféricos, hipertrofia cardíaca e doenças articulares, aumento da síntese de colágeno, aumento da absorção de cálcio e fosfato.

Fontes: http://www.spiner.com.br http://psicoativas.ufcspa.edu.br/doping.html http://www.saudenainternet.com.br

© Foto Ilustração Digital | Jeifferson Moraes

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

63


Primeira orientação

sobre o desenvolvimento normal da criança

Para os profº. Cláudio e Cauê os pais devem ser

ou do adolescente, os pais ou responsáveis

orientados a procurarem nutricionistas ou médicos

devem procurar médicos especializados antes

para tratar da alimentação e/ou suplementação de

de tomar qualquer outra atitude”.

seus filhos. “Os medicamentos para aumento da

64

massa muscular e aumento do crescimento são

Bons Hábitos

substâncias produzidas com a finalidade de serem

O educador Danilo Rocha explica o que

utilizadas por indivíduos que apresentem alguma

fazer para melhorar a auto-estima dos jovens

anormalidade que interfira no desenvolvimento

sem o uso dessas substâncias proibidas. “Con-

normal, como patologias, acidentes, entre outros”,

sultar profissionais sérios que se propõem a

declara Cauê.

fazer um trabalho limpo e sem drogas. Para

Cláudio afirma, ainda, que os medicamen-

melhorar a auto-estima, é bom orientar os

tos devem ser utilizados somente após avalia-

jovens a procurar um nutricionista, médico e

ção e prescrição médica. “Havendo dúvidas

fazer com que esse jovem se motive montan-

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

© Foto reprodução


chamados “alimentos combustíveis” ou carboiOs atletas amadores devem se preocupar com pré-treino e pós-treino, para o melhor desempenho nas competições

dratos encontrados nos cereais (como a granola ou a aveia), pães, farinhas, batata, arroz, milho, macarrão e frutas, porque sua absorção é bastante rápida. Enquanto que no pós-treino ingere-se as proteínas, disponíveis nos vegetais, cereais, legumes, ovos, leite e seus derivados e carnes. O professor. Cauê La Scala explica que o segredo do sucesso em qualquer prática “se resume à dosagem adequada de três fatores: treinamento, alimentação e repouso. Porém, os efeitos estéticos tendem a aparecer geralmente após médio-longo prazo. Portanto, a paciência é uma virtude que deve ser contemplada”. Cláudio Zanin acredita que os resultados serão notados mais rapidamente se forem utilizados como estratégia para motivação e melhora da auto-estima. “A promoção da saúde tem como conseqüência a melhora da estética, porém o inverso nem sempre é verdadeiro”. Rogério Campos afirma que para o jovem conseguir o corpo desejado basta uma vida ativa, ou seja, praticar atividades direcionadas no mínimo três vezes na semana, bons hábitos alimentares e boas noites de sono. “Pode acreditar que é o suficiente para ter um corpo

do programas de treinamento que não caiam na rotina”.

saudável”. Cauê declara que a utilização de substân-

A médica Alessandra explica que o corpo

cias proibidas no esporte é um ato covarde,

desejado pode ser alcançado somente com

“porque vai contra a real essência esportiva,

boa alimentação e cuidados no pós e pré-trei-

pode trazer diversos prejuízos à saúde, po-

no. “Antes e após deve-se ingerir carboidratos

dendo levar até à morte. No meio esportivo,

que auxiliam na recuperação dos músculos. No

como em qualquer outra área da atividade

pré-treino a alimentação funciona como com-

física, a saúde deve ser sempre respeitada e

bustível, enquanto que no pós-treino ingere-se

tida como um dos objetivos, senão o principal,

proteínas para recuperar o músculo cansado.

a ser conquistado”. Rogério Campos garante o

Deve-se tomar cuidado para não causar estres-

que todos deveriam realmente buscar no es-

se muscular, que ocasiona danos indesejáveis.

porte não é um corpo malhado, mas sim um

Fazer exercícios sempre, mas com moderação”.

corpo saudável. “Muitas vezes um corpo forte

Dessa forma, no pré-treino é preciso ingerir os

não é sinônimo de saúde”. 

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

65


CIÊNCIA

DOPPING

DO FUTURO

Seja de profissionais ou amadores, o corpo das pessoas comuns pode ser aperfeiçoado para o alcance do “impossível”

66

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

© Foto Gabriela Soldano


O doping genético se revela como umas das prioridades para os novos tempos no combate à dopagem Texto Gabriela Soldano Depois do encerramento dos Jogos Olím-

Procedimento

picos na China, a rede de televisão alemã ARD

A técnica consiste na preparação de células

Network produziu um documentário, que de-

humanas, que melhoram a performance físi-

nunciava: atletas da China e de outros países te-

ca, sem recorrer a qualquer substância ilegal,

riam utilizado o doping genético para obter suas

ou seja, altera-se a parte genética do atleta de

medalhas.

modo a adequar a estrutura de seu corpo às

Um hospital chinês teria realizado o trata-

necessidades de seu esporte. O prof. dr. e fi-

mento de disseminação de células-tronco pela

siologista do Santos Futebol Clube Ivan Piçarro

corrente sangüínea, fortalecendo os órgãos e

explica que o doping genético é a manipulação

melhorando o desempenho dos atletas, pelo

dos genes, modificando o que a célula produz

preço de US$24 mil. O Ministério dos Esportes

ou faz. “O que se faz é pegar uma bactéria e tirar

da China negou tais fatos, e afirmou que a sede

o material genético dela, introduzindo um gene

dessas Olimpíadas combate qualquer ilegalida-

específico para a produção de hormônios. Por

de nos jogos.

exemplo, se for inserido o hormônio do cres-

O prof. e coordenador de Educação Física da

cimento, a partir de então a bactéria será uma

Unisanta Nicolau Teixeira Ramos explica que se

produtora deste hormônio. É simplesmente pe-

houver alguma suspeita todos os testes de anti-

gar um vírus ou uma bactéria e colocar neles um

dopagem terão de ser refeitos. “As amostras dos

gene sintético, aplicando no indivíduo a fim de

testes antidoping ficam guardadas durante cinco

ter um melhora muscular ou um aumento de

anos, conforme exigência olímpica. Se ocorrer

hemoglobina”.

alguma suspeita de doping nesse período, todas

O prof. Piçarro explica, ainda, que há uma

as amostras terão que ser testadas novamente.

grande busca por estes resultados na medici-

Não importa se o atleta ganhou ou não dispu-

na. “Os médicos poderá curar doenças crônicas,

tou. Todos devem passar por novo exame. A

como diabetes, Alzheimer, Parkinson. Porém,

confederação de cada atleta deve fazer o exame

tudo isso são tentativas que demorarão muito

e mandar para o Comitê Olímpico Internacional.

tempo ainda para acontecer”.

Dessa forma, todos os exames retornam e são refeitos pra ver se existe algum tipo de doping”.

Revelação

O doping genético já é considerado o “doping

O doping genético é de difícil detecção, pois

do futuro”. Seu conceito está na lista da Agência

ocorre no próprio corpo do atleta, ou seja, é fi-

Mundial Antidopagem desde o ano de 2003.

siológico e não exige o uso de substâncias proiESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

67


bidas. Mas, é eficaz.

sendo estudadas com a finalidade de curar

As análises sangüíneas convencionais não o

doenças crônicas. O gene destes indivíduos

detectam, pois nenhuma substância ilícita foi

seria modificado para fabricar uma proteína,

introduzida na corrente sangüínea do atleta,

por exemplo, ou então lutar contra o câncer”,

uma vez que o estímulo ao aumento de glóbulos

declara o prof. Ivan Piçarro.Essas técnicas mo-

vermelhos aumenta a oxigenação, ocasionando

dernas de mudanças genéticas possibilitarão

resistência ao esforço físico.

ao atleta ganho de força e resistência. O prof.

O coordenador Nicolau Teixeira afirma que o

Ivan cita alguns dos efeitos. “Pode aumentar a

Comitê Olímpico Internacional ainda não pegou

massa muscular, a força de contração, a pro-

nenhum atleta utilizando-se deste doping. “É

dução de hemoglobina e hemáceas, etc. en-

difícil pegar o doping genético, porque o atleta

fim, melhorar o desempenho de forma natu-

não produz uma prova no seu corpo, uma vez

ral e espantosa”.

que a pessoa terá mais um cromossomo que altera o metabolismo. Para o atleta quanto mais

Resultados

acelerado o organismo, melhor”.

Entretanto, tais mudanças podem ter conseqüências letais. “Não se sabe como ligar

Práticas

e desligar esse mecanismo. Em ratos, isso já

O método mais moderno para o aumento

pode ser ligado, mas desligar é uma coisa que

dessa capacidade de transportar oxigênio é o

não é conhecida. Isso pode levar a um câncer

EPO (diminutivo da eritropoetina). Injetando

ou não, porque estimula a produção de células

essa versão sintética do hormônio secretado

inadequadas, já que o organismo não consegue

pelo rim, o EPO estimula a produção de glóbulos

reconhecê-las. Isso ainda é um risco e muito pe-

vermelhos pela medula óssea, o que aumenta a

rigoso”.

hemoglobina, aumentando consequentemente

O doping genético não é o doping sanguíneo.

o transporte de oxigênio na corrente sangüínea.

Muito utilizado nos soviéticos nos anos 70 e 80,

O resultado são músculos com maior energia

e até na olimpíada de Moscou, o doping sangüí-

e melhor desempenho nas práticas esportivas.

neo é realizado através de transfusão de sangue,

Porém, o prof. Piçarro declara que esse procedi-

com a inserção de mais glóbulos vermelhos no

mento ainda não é realizado em seres humanos.

organismo. “O atleta treina para uma olimpíada,

“O que existe é uma bactéria chamada AAD, da

e dois meses antes chega ao ápice deste treina-

qual os pesquisadores tiram o material genéti-

mento. Ele tira dois litros de sangue e guarda

co e introduzem um gene que estimula o fator

num lugar refrigerado. Um ou dois dias antes

do crescimento. Isso é feito hoje somente em

da competição, injeta novamente seu sangue no

ratos. Foi realizado em uma Universidade dos

próprio corpo. Isso acelera o bombeamento do

EUA, onde eles conseguiram modificar a força e

coração e mexe com a pressão arterial. Embora

a velocidade destes ratos, aumentando a massa

seja seu sangue dá alteração, porque o organis-

muscular. Em pessoas isso ainda não foi tenta-

mo pode rejeitar”, explica o prof. Nicolau.

do. E se for, dificilmente será reconhecido de imediato”.

Para o prof. Piçarro não há fórmulas mágicas para o desempenho do atleta. “Ele precisa ser abençoado geneticamente e, ainda, treinar mui-

Ficção

to da forma correta para tentar conseguir atingir

Assim, o doping genético seria hoje aplica-

seus objetivos, sem se utilizar de métodos des-

do apenas na teoria. “Algumas técnicas estão

68

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

conhecidos e arriscados”. 


Super Atletas O doping cria uma desvantagem grande em relação aos que não usam substâncias proibidas. Por isso existem tantos testes antidoping. Mas e se o corpo for modificado geneticamente? Texto Amanda Albuquerque Imagine que alguns homens e mulheres se-

no pódio. Suas células foram melhores desen-

jam capazes de resistir ao cansaço, à apnéia,

volvidas! Seus estudos tiveram o sucesso de-

às dores musculares, simplesmente porque a

sejado! São os melhores! “Toma isso, Rússia!

composição genética é perfeita para correr e/

Toma isso, Japão! A medalha é nossa!” – gritam

ou saltar. É claro que essas pessoas se tornariam

os chineses.

atletas. Agora, imagine se os atletas acabarem

Não que desenvolver uma técnica para me-

virando uma raça, uma raça de super-pessoas,

lhorar o desempenho físico seja algo errado,

superiores às pessoas normais. Pois é, alguém

mas tira completamente o espírito de esforço

imaginou. Na tentativa de driblar os testes anti-

dos atletas. Não seria mais necessário passar

doping, os chineses chegaram perto de construir

anos e anos treinando com toda a disciplina e

uma confederação X-man. O fato ainda não foi

dedicação para chegar às Olimpíadas. Ter a in-

comprovado, mas os alemães estão querendo

fância inteira entregue a um esporte seria uma

provar, estão! Não basta mais um atleta treinar a

amostra de gostar muito da modalidade, não

vida inteira para alcançar seu objetivo. Os espor-

um desejo latente de ter o peso do ouro no pei-

tes vão se tornar uma releitura da Guerra Fria, só

to. O esporte deveria ser algo que exige física e

que mostrando ao mundo a habilidade de cada

mentalmente do atleta, é algo que dá emoção

país em desenvolver a melhor célula humana. O

tanto para quem compete quanto para quem

corredor virou o cientista e os 100m rasos, os

assiste. É o calor do esforço e a conquista me-

laboratórios. No máximo quem corre de verda-

recida. É o talento físico, não a quantidade de

de é o ratinho que serve de cobaia. É um bom

estudo biológico. É na quadra (ou piscina) e não

enredo para um filme de ficção científica...

no laboratório. É no caderno de esportes e não

Não. Ficção científica, não! Ficção seria se

do de tecnologia.

isso fosse uma progressão de fatos. Mas, pela

Em breve a quebra de recordes se tornará

bagatela de US$24 mil, todo o código genético

tão repetitiva que nem mais será anunciada. Os

que melhora a performance física pode ser seu

jogos terão que ser passados todos em câme-

ou de seu atleta. Seria até muito bonito de se

ra lenta, senão os olhos das pessoas normais

ver: um monte de homens vestidos com jale-

(aquelas que possuem a genética dos pais) não

cos brancos se abraçando, chorando e bebendo

serão capazes de anunciar. Só vai faltar atletas

champanhe quando o vencedor da prova sobe

usando máscaras, capas e salvando pessoas. 

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

69


LEGISLAÇÃO

70

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

© Foto Divulgação UNIMONTE


ELES ACREDITAM ELES INVESTEM NOS ATLETAS

Dedicação é a base do esporte, mas é necessário patrocínio. Cientes disso, empresas e instituições de ensino dedicam seu tempo e dinheiro para atletas amadores Texto Jeferson Marques

Dificuldades, barreiras e diversos problemas.

real, e pessoas físicas podem abater 6%, desde

É assim que os atletas amadores encaram as

que comprovado oficialmente uma renda men-

suas modalidades. A falta de incentivo da mí-

sal aproximada de R$10 mil.

dia, de patrocínio, o apoio que não vem de lado

Porém, ela vale apenas a esportistas amado-

nenhum, tudo isso, com uma boa dose de má

res. Atletas que recebam qualquer tipo de salá-

vontade por parte das instituições, desmotivam

rio não são beneficiados pela lei. Mesmo antes

aqueles que almejam levar o nome do país es-

da lei, já existia exemplos de empresas que in-

tampado no peito. Depois dessas dificuldades,

vestem no esporte amador.

parece que a tão sonhada ‘luz no fim do túnel’ acendeu.

Petrobrás

A Lei de Incentivo ao Esporte já é discutida

A Petrobrás investe do handebol e no surfe,

há mais de 40 anos e está há apenas 23 na pauta

e se orgulha muito disso. “Para a Petrobras, pa-

do Congresso Nacional. No dia 04 de maio de

trocinar o esporte é uma maneira de contribuir

2006, a lei foi oficialmente lançada durante a II

para o crescimento do esporte nacional, além

Conferência Nacional do Esporte, em Brasília,

de associar à imagem da companhia valores e

aprovada sete meses depois pela Câmara dos

atributos que estejam de acordo com os seus

Deputados e encaminhada ao Senado Federal

objetivos. Investir no esporte também é uma

no dia 28 de novembro do mesmo ano. Depois

das melhores ferramentas para combater a de-

de mudanças pelo Senado, a lei voltou à Câmara

sigualdade social e contribuir para o surgimento

dos Deputados e, finalmente, entrou em vigor

de uma nova geração moldada a partir de prin-

no dia 03 de agosto de 2008. É, antes tarde do

cípios sólidos de cidadania, ética e igualdade

que nunca!

social”, diz a empresa. “Temos um histórico de

Essa lei funciona com doações e patrocínios

apoio ao esporte e desenvolvemos mecanismos

para diversos tipos de projetos desportivos,

que agilizam esse trabalho. Um deles é o pro-

que poderão ser dados e abatidos no imposto

grama Petrobras Esporte & Cidadania, lançado

de renda. A lei prevê que as empresas podem

este ano, que permite que projetos esportivos

abater até 1% do imposto devido de pessoas ju-

de todo o país sejam patrocinados, por meio da

rídicas, que é calculado com base em seu lucro

Lei de Incentivo ao Esporte”, completa. ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

71


A UNIMONTE investe há mais de 15 anos em atletas amadores. Fernanda Garcia está entre eles

sabilidade social e ambiental. O programa vai destinar R$25 milhões a projetos de todo o país, devidamente aprovados pelo Ministério do Esporte, em programas nas áreas de educação, participação voluntária e rendimento, servindo de ferramenta para a integração dos diferentes agentes do esporte nacional, confederações, federações, atletas, escolas, professores, praticantes de atividades físicas e interessados. COSIPA Outra grande empresa voltada ao Incentivo ao Esporte é a Cosipa (Siderúrgica da Usiminas). A empresa foi uma das primeiras a utilizar os benefícios da Lei Federal e destinou R$ 2,2 milhões a projetos esportivos de âmbito local, regional e nacional, para ao longo deste ano. Já foi inaugurado no dia 1º de agosto desse ano, em Cubatão, o Núcleo de Formação do Instituto Janeth Arcain, homenagem à ex-atleta da seleção brasileira de basquete feminino e que já coordena outro núcleo em Santo André, que beneficiará cerca de 100 crianças e jovens de 7 a 12 anos, matriculados e freqüentando regularmente escolas de ensino básico ou fundamental. O objetivo do projeto é, por meio da prática do basquete, elevar a auto-estima, disciplina e sociabilização.

72

A empresa enfatiza, também, que existe, sim,

A Cosipa também entra forte no Judô, com o

um retorno satisfatório ao patrocinar o esporte

projeto do campeão olímpico Rogério Sampaio,

amador: “O retorno depende dos objetivos dos

o “Judô em Ação”. Visando competições estadu-

patrocínios e dos atributos específicos das mo-

ais, nacionais e internacionais, o objetivo será o

dalidades. É claro que existe o retorno institu-

treinamento de 30 atletas de 15 a 30 anos, de

cional, por placas publicitárias, nos uniformes,

Santos, Guarujá e São Vicente, selecionados en-

campanhas e mídia”, esclarece.

tre os melhores da Copa São Paulo e também

O projeto “Petrobrás Esporte & Cidadania”

por performances internacionais. O Judô em

estenderá ao esporte a Seleção Pública de pro-

Ação é o primeiro projeto aprovado da Baixada

jetos realizados nas áreas de cultura, respon-

Santista para captação de recursos da Lei de In-

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

© Fotos Divulgação UNIMONTE


centivo ao Esporte. Na opinião da ex-atleta Jane-

Clube, e implantou a Escola de Futebol do Rei,

th, acompanhar o rendimento escolar dos atle-

onde é desenvolvido projeto de inclusão social.

tas é indispensável. “Acompanhamos o boletim

“Consciente da importância do esporte na for-

escolar dos alunos e já temos grupos de estudo

mação do cidadão e sabendo das inúmeras di-

que ajudam os que estão com dificuldades na

ficuldades dos atletas em obter um patrocínio,

escola”, declara. A Cosipa informa que muito

decidi criar o Projeto Esportivo da Memorial.

mais interessante que patrocinar o esporte

Além de estar completamente satisfeito com

amador é a integração individual e coletiva: “A

os resultados, também sou esportista e pratico

lei de incentivo ao esporte é voltada ao apoio

boxe e ciclismo”, finalizou o empresário.

à inclusão social, à formação e à participação das pessoas. A Cosipa e a Usiminas foram as

UNISANTA

primeiras a receber apoio, no final de 2007,

A Universidade Santa Cecília mantém equi-

mas outros projetos voltados à região virão ao

pes de natação da categoria petiz a sênior

longo deste e dos próximos anos”, completou

(principal), em um total de 300 alunos-atletas

o Assessor de Relações Institucionais da Cosi-

federados. Ana Marcela Cunha e Kaio Márcio

pa, Luiz Carlos Bezerra.

de Almeida estiveram nos Jogos Olímpicos, figurando nos Top 5 e Top 7 da natação mundial,

Memorial Necrópole Ecumênica

em suas respectivas provas (10 km e 200 borbo-

A trajetória de sucesso no ramo iniciou-se

leta). Segundo o Assessor de Esportes da Uni-

há mais de 20 anos, quando o empresário Pepe

santa, Dejair dos Santos, o grande problema da

Altstut, responsável pela criação e manuten-

falta de apoio ao esporte começa no interesse e

ção do Memorial, iniciou seu projeto apoiando

comprometimento de empresários.

o boxe. A partir de 1991 a Memorial passou a

“Como ocorre nos EUA, onde o esporte

apostar em outras modalidades e hoje apóia

está na escala nos mais diferentes níveis, de-

mais de 170 atletas: “Entre os destaques, além

veria ocorrer no Brasil, mas infelizmente são

do ultramaratonista Valmir Nunes, inúmeros

poucas as instituições de ensino superior que

atletas de pedestrianismo e equipes campeãs

verdadeiramente investem na formação de

de boxe e de ciclismo. A equipe de ciclismo é

atletas de alto rendimento”, explica Dejair. Ele

uma das mais tradicionais do País e atual líder

menciona o apoio das empresas que, segundo

do ranking nacional”, conta Altstut, com grande

ele, visam retorno rápido e esquecem o lado

orgulho. Entre os destaques do pedestrianismo

mais importante, o da seqüência. “As empresas,

está Andréa Celeste Benites, vice-campeã da

na maioria dos casos, buscam retornos imedia-

Meia-Maratona A Tribuna-Praia Grande deste

tos e não a afirmação de gerações de atletas.

ano e atual campeã do Circuito Santista de Pe-

Por isso temos o quadro é variável neste meio.

destrianismo.

Quem se lembra da Pirelli, da Sadia, que inves-

Por meio de uma bem sucedida parceria com

tiam nas décadas de 80 e 90? Provavelmente em

o Pelé, o Grupo Altstut montou em Santos uma

dez anos ninguém se lembrará de empresas que

equipe de futebol profissional, o Litoral Futebol

hoje investem no esporte”, finalizou. ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

73


CURRÍCULO

“A faculdade não é feita somente de aulas. O esporte está incluso no processo e é um dos fenômenos sócioculturais mais visado do século”

74

UNIMONTE

25% e 100%”, explicou. A importância do apoio

A universidade Monte Serrat tem como foco

de uma instituição de ensino vai além da sala de

principal as modalidades conhecidas como outdoor,

aula. “A faculdade não é feita somente de profes-

ou seja, disputadas a céu aberto. As modalidades são

sores. O esporte está incluso no processo e é um

triátlon, biathlon, pedestrianismo, natação de mar,

dos fenômenos sócio-culturais mais importantes

futevôlei, ciclismo, vela e surf.

do século”, diz Borges.

José Renato Borges, conhecido como ‘Mos-

A Unimonte já apóia e investe no esporte há

quito’, Coordenador de Esportes explica como

mais de 15 anos e teve nomes destacados ao lon-

o atleta pode conseguir o apoio da Unimonte:

go deste tempo, como o judoca Leandro Guilheiro,

“Para ter direito à Bolsa Atleta, o esportista

duas vezes medalhista de bronze em Olimpíadas,

deve estar envolvido em competições das mo-

a nadadora Poliana Okimoto, os triatletas Carla

dalidades que apoiamos. Dependendo do seu

Moreno e Paulo Miyasiro, e muitos outros. Atual-

nível técnico em âmbito municipal, estadual,

mente, entre os principais destaques estão Pauê,

nacional e/ou internacional, definimos a por-

único surfista e triatleta bi-amputado, e Eduardo

centagem da bolsa de estudos que varia entre

Magrão, atual campeão mundial de futevôlei.

Abaixo, a equipe de ciclismo do Memorial é uma das mais tradicionais do País e atual líder do ranking nacional

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

© Fotos Divulgação UNIMONTE



SUOR ENTREVISTA

O diretor do ICA e instrutor de v么os Paulo Ortega, ao lado do avi茫o experimental Rans Coiote fabricado pela Flyer do Brasil

76

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR


SONHO DE VOAR

HABILITAÇÃO

FORMAÇÃO DE PILOTOS AMADORES Texto Jeifferson Moraes

O instrutor de vôo Paulo Ortega revela que virar piloto amador não é um desejo impossível. O céu não está mais tão distante chão Em Paris, no campo de Bagatelle, milhares

no País, chamados de ultraleves.

de pessoas estavam ansiosas. Um homem fran-

Para explicar um pouco sobre essa modali-

zino, de chapéu Panamá – branco com abas

dade, a Revista Suor fez uma entrevista com o

amassadas – elegantemente trajado, dividia a

instrutor de vôo, comandante e piloto de heli-

atenção do público com uma curiosa máquina.

cópteros, Paulo Ortega, responsável pelo único

Caminhando, atravessou um amplo gramado

aeroclube de ultraleves do litoral paulista, loca-

em direção à sua criação. Tratava-se de uma

lizado em Peruíbe. Ortega já formou mais de 60

aeronave moderna. Tinha enormes asas, que

pilotos amadores. A construção do aeroclube se

lembravam vários caixotes unidos, e na popa –

iniciou em 1992 e os primeiros vôos ocorreram

traseira – uma hélice de pá dupla que parecia

dois anos depois.

um ventilador gigante. O barulho da ignição e o ruído do motor Levavasseur, de 24 HP, abafou o murmúrio da platéia que, logo depois, explodiu

Suor — Existe algum tipo de habilitação para as pessoas que pilotam ultraleves?

de entusiasmo ao ver a máquina voar a uma alti-

P. O. — Sim. É através do Certificado de Pilo-

tude de 3 metros e percorrer aproximadamente

to Desportivo (CPD), emitido pelo Departamen-

60 metros.

to de Aviação Civil (DAC), que se tem permissão

Você leu acima o que provavelmente aconteceu em 23 de outubro de 1906, quando o

“Igual aos automóveis, que seguem normas do Ministério dos Transportes, o piloto de ultraleve deve estar devidadamente habilitado pelo Comando da Aeronáutica”

para pilotar ultraleves experimentais com até duas pessoas.

brasileiro Alberto Santos Dumont fez, pela primeira vez em público, um vôo solo que mudou

Suor — Como se consegue um CPD?

para sempre a história da aviação mundial. 102

P. O. — Igual aos automóveis, que seguem

anos depois, pilotos amadores perpetuam, em

normas do Ministério dos Transportes, o piloto

diversos aeroclubes do Brasil, o sonho de Santos

de ultraleve deve estar devidamente habilitado

Dumont. Voam por esporte e lazer, em aviões

pelo Comando da Aeronáutica. O interessado

que seguem a mesma simplicidade e princípio

deve realizar um curso e se associar a um aero-

do 14 Bis, porém são mais modernos, seguros e

clube que seja devidamente credenciado como

seguem às rígidas normas e leis da Aviação Civil

escola de vôo e, também, seguir alguns requisi-

© Foto Jeifferson Moraes

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

77


ANOTE O ICA está localizado em Peruíbe (SP), no final da Av. Luciano de Bona. Para visitar o local é necessário agendar pelo telefone (13) 3455.3919.

tos, como ter no mínimo 18 anos e passar nos

manutenções. Hoje, existem ultraleves que são

exames médicos exigidos.

mais modernos que boa parte dos aviões convencionais em operação no Brasil. Existem mo-

Suor — Quais são os custos do curso de vôo?

delos que se assemelham a aviões convencio-

P. O. — No Ilha Clube Aerodesportivo (ICA) a

nais de cabines fechadas, asas baixas ou altas,

matrícula, que incluiu algumas taxas, o material

e na construção utilizam alumínio aeronáutico e

didático e a primeira anuidade de sócio do ae-

fibra de carbono. São equipados com modernos

Na Internet, peruibeultraleve.com.br

roclube, sai tudo por R$ 350. Após ser aprova-

instrumentos de navegação, rádio e GPS.

E-mail, portega@uol.com.br

uma média de 25 horas de aula em vôo com um

O local funciona todos os dias das 9h até o pôr do Sol, possui restaurante, posto de abastecimento de aeronaves e hangar

do nas provas teóricas o aluno terá que cumprir instrutor. O custo da hora de vôo na instrução básica é R$ 240 e na avançada R$ 290.

Suor — Quais modelos de ultraleves são utilizados no ICA? P. O. — Utilizamos para instruções básicas o Flyer GT com propulsor traseiro e asas revestidas

Suor — Qual é a diferença do Piloto Desportivo para o Piloto Privado?

de tela e cabine aberta. Para as aulas avançadas utilizamos o modelo Rans Coiote, que se asse-

P. O. —O Piloto Desportivo tem algumas li-

melha a um avião comum, de cabine fechada,

mitações, como o tipo de aeronave que poderá

com motopropulsor trator [motor e hélice loca-

pilotar, no caso o ultraleve, o CPD só é válido no

lizado na frente], feito de alumínio, asas altas e

Brasil, não pode ser remunerado para realizar

motor com duas ignições.

vôos e não pode entrar em espaço aéreo controlado, que para isso terá que ter o CPR, que é o Certificado de Piloto de Recreio. O CPR é uma

Suor — Quanto custa esses aviões e a manutenção?

instrução que o Piloto Desportivo tem para po-

P. O. — O Flyer GT custa em média R$

der ser habilitado à comunicação com as torres

25 mil e o Rans Coiote R$ 90 mil. Mas no

e entender os procedimentos de vôo nesse tipo

ICA temos aeronaves de clientes que são a

de espaço aéreo. Já o Piloto Privado possui tudo

coqueluche do momento, no caso do RV-9A

isso no seu curso e ainda pode pilotar aeronaves

que chega a atingir quase 300 km/h e cus-

homologadas.

ta aproximadamente R$ 220 mil. A manutenção é outra vantagem, em comparação

Suor — O que é um ultraleve?

a maioria dos aviões, o proprietário de um

P. O. — É uma aeronave muito leve, experi-

desses modelos não gasta mais que R$ 500

mental e tripulada, utilizada exclusivamente em

ao mês.

operações privadas, principalmente desportivo e de recreio, durante o dia, em condições visuais, para até dois ocupantes e com peso máximo de 750 kg.

Suor — Qual é o tipo de público que procura o aeroclube para se tornar um Piloto Desportivo? P. O. — São na maioria empresários que procuram uma forma de lazer diferente realizando

Suor — Os ultraleves são seguros?

o sonho de voar. Os mais experientes viajam o

P. O. — Sim, muito seguros. Como toda ae-

Brasil, alguns vão almoçar em Florianópolis, que

ronave, o ultraleve deve obedecer às rigorosas 78

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

fica a duas horas de vôo daqui.  © Fotos Jeifferson Moraes


Acima, instrutor em vôo de demonstração no avião experimental Rans Coiote sobre o litoral de Peruíbe. Abaixo, vista panorâmica da Estação Ecológica da Juréia-Itatins, região que proporciona uma bela paisagem e torna-se ideal para vôos de lazer realizados por Pilotos Desportivos

ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

79


CRテ年ICA

PRAZER, SOU ATLETA Texto Gabriela Soldano

80

REVISTA SUOR | ESPORTE AMADOR

ツゥ Ilustraテァテ」o Gabriela Soldano


N

ão há salário ou patrocínio. Sem prêmios

São fundamentais, ainda, para incentivar a econo-

ou troféus. Sem reconhecimento e sem

mia local, a cultura e o lazer de suas cidades. São eles

dinheiro. Muitas ambições e muita dedi-

que fomentam a iniciativa em outras pessoas para a

cação ao esporte.Uma luta constante para continuar

prática de um determinado esporte.Treinam esperan-

jogando, pois sem infra-estrutura, os jogadores têm de

do, um dia, serem reconhecidos pelas prefeituras, se-

se adaptar com uniformes usados, surrados, confec-

cretarias ou outros órgãos públicos para se tornarem

cionados por eles mesmos, com bolas e redes obtidas

profissionais. Mas, o quem é o esportista profissional?

através de doações.

Profissional é aquele que realiza por dinheiro, visando

Há quem pense que isso pode fazer com que de-

o lucro, uma ocupação comumente exercida como

sistam. Pelo contrário, a falta de incentivo faz com que

passatempo. Mas, espera um pouco, esporte não é um

brilhem ainda mais. Exemplos de determinação, os es-

passatempo?Exatamente. Profissional é aquele que re-

portistas amadores suam a camisa apenas para mostrar

aliza uma arte que é comumente feita por amadores, ou

sua dedicação ao esporte.Mas, afinal, o que é o esporte?

seja, que tem como meio de vida um ofício fundamen-

Quando se procura no dicionário, a primeira resposta

talmente amador.

que aparece é: passatempo, divertimento. Porém, mui-

Dessa forma, só resta uma conclusão: o esporte

tos já se esqueceram deste significado. Muitas vezes,

é único. Em sua raiz, não há qualquer diferença en-

estes que se utilizam do esporte como único meio de

tre amador e profissional. Independentemente de

sustento, se esquecem de suas raízes: a pelada na rua,

quem o pratica, as regras são as mesmas, o esporte é

o futebol na quadra do bairro com os amigos, o vôlei na

o mesmo. A única diferença é o recebimento de um

praia, a natação na piscina da casa do amigo, o basquete

salário ou não, uma vez que o adjetivo “profissional”

na quadra improvisada. Estes se esquecem que já co-

acompanha um extrato bancário maior. Os adjetivos

meçaram do zero, que foram esportistas amadores.

“profissional” ou “amador” que acompanham o es-

Esportista é aquela pessoa que se dedica ao espor-

porte apenas definem a forma de participação do

te. Amador é aquele que se dedica a uma arte por mero

atleta. O primeiro pratica mediante remuneração e

prazer. Então, amador é aquele que se dedica ao esporte

contrato formal, já o segundo não tem nenhuma das

por mero prazer? Não. É aquele que se dedica por amor

duas prerrogativas. Porém, conforme a legislação de

ao esporte. Treina todos os dias, todos os momentos

nosso país (artigo 26, da Lei 9.615/98), é a situação

que tem um espacinho na agenda diária, procura infor-

do atleta que define se é profissional ou amador.

mações, encontra soluções, apenas porque ama aquilo

O esporte será sempre único para todos eles, seja

que faz. É um sentimento de dedicação absoluta a uma

quem for o praticante.

arte, sem receber qualquer investimento ou reconheci-

Por esta razão, todos são iguais. É isso que atleta deve

mento em troca. Exatamente por isso são fundamen-

manter em mente: nunca se esquecer de onde veio. Nem

tais. O reconhecimento das pessoas, que nada podem

do esportista amador que luta todos os dias para seguir o

oferecer para melhorar as condições do treinamento,

exemplo daquele que já venceu, que segue os passos da-

faz com que não desistam. Dão esperanças para seguir

quele que um dia jogava futebol descalço na rua sonhando

em frente e continuar treinando.

em ser descoberto por um time internacional.  ESPORTE AMADOR | REVISTA SUOR

81





Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.