Liderança no Feminino Edição 3

Page 1

Liderança no Feminino

ROSE PALHARES

UMA ANGOLANA DE SUCESSO

SARA FERREIRA

LEONOR FREITAS

Administradora da Casa Ermelinda Freitas

SANDRA NETO DOS SANTOS Gestora do novo Centro de Excelência de TI da Panalpina em Lisboa

“O objetivo de um líder deverá ser retirar a carga negativa das pessoas e fazê-las concentrarem-se naquilo que é essencial para o seu dia-a-dia”

FOTO: DIANA QUINTELA

Publicação da responsabilidade editorial e comercial da empresa Horizonte de Palavras Edições, Lda. | Junho 2017 | EDIÇÃO Nº 3 - Periodicidade Mensal | Venda por Assinatura - 4 Euros

Diretora de Marketing da Renault Retail Group Portugal


“Comecei como coach de carreira para jovens, em 2008. As mães viam a paixão, o foco e a disciplina que os filhos adquiriam e pediam “quero que você faça comigo o que fez com meu filho”. Então percebi que o meu impacto social seria maior por meio delas porque mulheres são multiplicadoras.” PRISCILLA DE SÁ, COACH




Índice P 16 Rose Palhares, uma jovem designer angolana de sucesso

P18 Priscilla de Sá, prepara as Mulheres para a Liderança

P 22 FILIPA MOTA E COSTA DIRETORA GERAL DA JANSSEN PORTUGAL

P 23 P36 LegalMinds – Cinco Mulheres a dar cartas no universo do Direito

Paula Panarra, Diretora Geral da Microsoft Portugal

FICHA TÉCNICA Propriedade, Administração e Autor Publicação da responsabilidade editorial e comercial da empresa Horizonte de Palavras Edições, Lda. Administração Redação Departamento Gráfico Rua Rei Ramiro 870, 5º A 4400 – 281 Vila Nova de Gaia Telefone +351 220 926 879 Sede da entidade proprietária: Rua Oriental nrº. 1652 - 1660 4455-518 Perafita Matosinhos Outros contactos: +351 220 926 877/78/79/80 E-mail: geral@pontosdevista.pt redacao@pontosdevista.pt www.pontosdevista.pt www.horizonte-de-palavras.pt www.facebook.com/pontosdevista

Impressão Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas Distribuição Nacional / Periodicidade Mensal Registo ERC nº 126093 NIF: 509236448 | ISSN: 2182-3197 Dep. Legal: 374222/14

DIRETOR: Jorge Antunes Editor: Ricardo Andrade Rua Rei Ramiro 870, 5º A 4400 – 281 Vila Nova de Gaia PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS: Ana Rita Silva | Elisabete Teixeira GESTÃO DE COMUNICAÇÃO: Elisabete Marques | João Soares | Luís Pinto | Miguel Beirão | Design E PAGINAÇÃO: Mónica Fonseca | Vanessa Taxa Assinaturas Para assinar ligue +351 22 092 68 79 ou envie o seu pedido para Autor Horizonte de Palavras – Edições Unipessoal, Lda Rua Rei Ramiro 870, 5º A, 4400 – 281 Vila Nova de Gaia E-mail: assinaturas@pontosdevista.pt Preço de capa:

4,00 euros (iva incluído a 6%) Assinatura anual (11 edições): Portugal: 40 euros (iva incluído a 6%), Europa: 65 euros Resto do Mundo: 60 euros

*O conteúdo editorial da Revista Pontos de Vista é totalmente escrito segundo o novo Acordo Ortográfico. Os artigos nesta publicação são da responsabilidade dos seus autores e não expressam necessariamente a opinião do editor. Reservados todos os direitos, proibida a reprodução, total ou parcial, seja por fotocópia ou por qualquer outro processo, sem prévia autorização do editor. A paginação é efectuada de acordo com os

interesses editoriais e técnicos da revista, excepto nos anúncios com a localização obrigatória paga. O editor não se responsabiliza pelas inserções com erros, lapsos ou omissões que sejam imputáveis aos anunciantes. Quaisquer erros ou omissões nos conteúdos, não são da responsabilidade do editor.


LIDERANÇA NO FEMININO

» SARA FERREIRA, Diretora de Marketing da Renault Retail Group Portugal, EM ENTREVISTA

“Sou uma pessoa que se entrega ao desafio”

H

á quanto tempo é Diretora de Marketing da Renault Retail Group Portugal e como tem perpetuado o seu percurso profissional? Tenho 12 anos de experiência em marketing, passei por várias multinacionais e estou há relativamente pouco tempo na Renault Retail Group Portugal. Gosto de desafios e de cumprir com os meus objetivos até ao fim, pelo que tenho pautado o meu percurso por fechar ciclos em cada empresa e de aceitar um novo desafio quando acredito que posso vir a aportar real valor, a inovar e a fazer crescer. Quais as principais características que aporta ao nível profissional e que a distinguem? Quem me conhece sabe que sou uma pessoa que se entrega ao desafio. As minhas principais características são a boa disposição, o espirito positivo mas muita perseverança e ambição. Nunca me dou por vencida, gosto de me rodear de pessoas dedicadas, exigentes e verdadeiras. A minha equipa tem tudo de mim se forem honestos e transparentes. Acredito que o processo de crescimento tem por base o assumir do erro, o testar para encontrar as respostas. Quais foram os principais desafios que enfrentou para chegar até aqui? Os verdadeiros desafios são normalmente aqueles que colocamos a nós próprios. A capacidade de tomar decisões e a vontade de conseguir superá-los é tudo. Temos dentro de nós a força, a motivação e a alegria de conseguirmos estar bem connosco próprios e de alcançar tudo aquilo que verdadeiramente queremos.

liderança no feminino

4

sara ferreira

Diretora de Marketing da Renault Retail Group Portugal, Sara Ferreira abordou um pouco do seu percurso e analisou os desafios que ainda existem perante as mulheres e a liderança das mesmas, lembrando que é preciso deixar de ter medo e acima de tudo “coragem para assumir este posicionamento de liderança feminina”.

Que motivos a levaram a escolher esta área e quais foram os principais obstáculos que encontrou até aqui? Iniciei o meu percurso académico com uma licenciatura em antropologia na Universidade Nova de Lisboa que me deu aprendizagem fundamental na área da psicologia humana, na sociologia das organizações e na forma de entendimento de como o comportamento humano tem muito a ver com aquilo está na génese da nossa biologia. A certa altura da minha carreira surgiu uma oportunidade na área do marketing que me fez querer aprender mais sobre a área e resolvi tirar um mestrado em marketing intelligence também na Universidade Nova e por fim, para atualizar o meu conhecimento nas últimas tendências acabei por tirar mais uma pós-graduação em marketing digital na Universidade Católica Portuguesa. Um markeeter é um investigador, um psicólogo, um político, um advogado, um comunicador e um sem fim de personagens num só. É um desafio enorme compreender um produto e fazê-lo chegar às inúmeras individualidades com personalidades e características diferentes. O grande desafio é encontrar sempre o elo, o ponto em comum. Sou uma pessoa emotiva por natureza e considero


Os verdadeiros desafios são normalmente aqueles que colocamos a nós próprios. A capacidade de tomar decisões e a vontade de conseguir superá-los é tudo

que toda a boa comunicação tem que “carregar” consigo a carga emotiva que se quer transmitir de acordo com os valores das marcas. O número de mulheres em funções de liderança tem vindo a aumentar nos últimos anos, mas ainda assim a presença feminina em cargos de chefias em Portugal ainda tem um longo caminho a percorrer. Como é estar na linha da frente da marca Renault Retail Group? É um enorme desafio e uma grande responsabilidade representar uma marca com tanta história de inovação num setor tão competitivo como o setor automóvel. É um orgulho poder contribuir para melhorar, desenvolver e inovar numa marca que é líder nacional consecutivo há 19 anos em Portugal.

Ver uma mulher em cargos de liderança ainda é visto mais como uma exceção do que uma regra. Durante o seu percurso profissional alguma vez sentiu dificuldades acrescidas pelo facto de ser mulher? Em vez de falar em dificuldades prefiro falar em justiça. Acho que ainda existem muitas injustiças

no que se refere a cargos de nomeação de mulheres lideres e que não existe ainda equidade em termos de condições salariais. O mais irónico de tudo, é que como sabemos, temos uma taxa mais elevada de mulheres com maiores qualificações do que nos homens. Há um longo caminho a percorrer no que se refere à aceitação e constatação de que as mulheres têm as mesmas competências que os homens para quaisquer cargos de liderança. Apesar de tudo isto já vamos tendo vários exemplos no nosso panorama nacional de cargos de chefia de topo de mulheres. Uma sociedade equilibrada contempla a integração de homens e mulheres com igualdade de oportunidades. O sexo não torna o indivíduo nem mais nem menos apto para o desempenho de uma determinada função. O que é para si ser um bom líder? A liderança é muito subjetiva. Cada líder tem o seu estilo próprio e estratégia. Além disso, o estilo e o método de cada um varia consoante a influência de vários fatores externos que tem a ver com a estrutura organizacional onde se inserem. Não há um one-size-fits-all e cada liderança tem a sua

própria fórmula, mas como já referi, acho que um líder deve ser sempre humilde, autêntico e deve perseguir sempre aquilo em que acredita. Deve conhecer-se muito bem a si próprio e à sua equipa e deve saber dar a todos as ferramentas que necessitam para o sucesso. Acredita que o país e o mundo começam a mudar mentalidades e comportamentos no que concerne às Mulheres e os cargos de Liderança? O que ainda falta? Falta-nos mais confiança. Falta-nos coragem para assumir este posicionamento de liderança feminina. Falta-nos não ter medo. Alguma vez sente que lhe foram vedadas metas pelo facto de ser mulher? O que podemos continuar a esperar de si de futuro? Espero continuar a fazer um bom trabalho, a ter muito brio profissional em tudo o que faço, a saber gerir muito bem o trio mãe, mulher, carreira. De mim poderão sempre esperar uma influência positiva, ser a solução e não o problema. Ajudar sempre os outros a conseguir o impossível e a dar sempre o melhor de mim. ▪

5 junho 2017

Na sua opinião, serão as mulheres melhores líderes? O que diferencia as mulheres em cargos de liderança? Temos bons gestores em Portugal? Acredito que ser líder não tem a ver com género, tem a ver com a forma de ser e de estar. A liderança é um processo contínuo de aprendizagem e de humildade. Ser líder é aprender com os outros, é não ter medo de errar e de assumir os erros e ter a estabilidade emocional para manter a tranquilidade e o bom senso nos momentos de maior stress. Um líder é alguém com a clareza de saber o que tem de ser feito e como deve ser feito. Saber assumir os erros e de ter a coragem de fazer o correto mesmo quando fazer o correto é muito difícil. As mulheres são muito versáteis, dinâmicas e não têm tanto medo de assumir os erros como os homens. Têm por isso muitas características fundamentais para a liderança. Temos excelentes gestores em Portugal com grande reconhecimento a nível internacional.


SANDRA NETO DOS SANTOS

Escolheu a área das Tecnologias da Informação por influência do irmão mais velho, que percebeu que a irmã teria o perfil certo para seguir uma área que na altura era ainda muito pouco desenvolvida. Hoje, Sandra Neto dos Santos, é Gestora do novo Centro de Excelência de TI da Panalpina em Lisboa. O irmão tinha razão e Sandra afirma seguramente que nunca se arrependeu.

FOTO: DIANA QUINTELA

liderança no feminino

6


Liderança no feminino

» tema de capa, Sandra neto dos santos

“A SABEDORIA NÃO SE DIMINUI, ELA MULTIPLICA-SE” Sandra Neto dos Santos é jovem mas é já uma mulher de sucesso. Em entrevista, explica o que a motiva numa área que é, ainda, predominantemente masculina. O novo Centro de Excelência de TI, do qual é gestora, é a tradução da sua personalidade. Um espaço em que é visível a descontração, o bom gosto e a preocupação com o bem-estar das pessoas que fazem parte da sua equipa.

Q

E quem é Sandra Neto dos Santos, Gestora do Centro de Excelência de TI da Panalpina? Sei que o facto de ter um título inibe muitas vezes as pessoas que entram no meu gabinete para serem entrevistadas, por outro lado, acho que a tendência é cortar com isso. Na Panalpina temos um princípio: qualquer pessoa pode falar abertamente com outra, independentemente da função que desempenha. Essa é a ideia que quero transmitir desde o início. O meu gabinete está sempre aberto, o meu telemóvel e e-mail estão sempre disponíveis. Implementei algumas iniciativas para que as pessoas se misturem umas com as outras. Existem áreas no centro dedicadas a promoverem um convívio saudável entre as pessoas que aqui trabalham.

na senti que havia uma abertura total, mesmo com os cargos mais superiores.

Se quisermos gerir pessoas, temos de ser transparentes, sermos nós próprios, porque quando somos constantes, os outros sabem com o que podem contar

A cozinha que é copa e zona de bar assim como o lounge onde têm jogos de estratégia à disposição, um espaço onde podem conversar e descontrair… penso que este tipo de iniciativas é importante para marcar a diferença mas também para que as pessoas se sintam bem no local onde trabalham, que é por sinal o lugar onde passam a maior parte do seu tempo. Desde o início em que entrei para a Panalpi-

Como é ser mulher no mundo das Tecnologias de Informação? Ainda é claramente um mundo dominado por homens. Nota-se isso desde a faculdade e depois ao longo da carreira. No mundo das Tecnologias da Informação há de facto muito poucas mulheres. É jovem e mulher. Alguma vez se sentiu discriminada? Nunca fui discriminada pelo género de forma negativa. A experiência que tive até agora foi sempre muito positiva. Não posso por isso dizer que desde o início da minha carreira passei por algo do género, apesar de estar numa área predominantemente masculina. O que a minha experiência me mostrou é que as mulheres se sentem retraídas para se candidatarem a cargos de topo. Já tive várias vezes esse feedback. Considero que isso acontece porque um cargo de gestão é associado a ter de fazer uma escolha entre uma carreira ou uma vida familiar. E é difícil mas nem sempre temos de abdicar de algo. Há falta de mulheres na área? Há, muita. Aqui tem sido um tema debatido

7 junho 2017

uem é Sandra Neto dos Santos? É sempre difícil autocaracterizarmo-nos, apesar de nas entrevistas fazer sempre essa pergunta… Mas cá vai. Sou uma pessoa descontraída, simples e dada, adoro comunicar com outras pessoas e ser sempre transparente. Digo permanentemente aquilo que me vai na alma. Não sou de longos discursos memorizados, gosto de falar com o coração. Acho que as pessoas aqui no Centro de Excelência se aperceberam disso e já desde a fase inicial das entrevistas comigo.


Liderança no feminino

FOTO: DIANA QUINTELA

» tema de capa, Sandra neto dos santos

O que a minha experiência me mostrou é que as mulheres se sentem retraídas para se candidatarem a cargos de topo. Já tive várias vezes esse feedback. Considero que isso acontece porque um cargo de gestão é associado a ter de fazer uma escolha entre uma carreira ou uma vida familiar”

constantemente e cada vez que vamos até às universidades, com as quais estamos já a estabelecer alguns protocolos, sentimos essa realidade de perto. Já existem muitas mulheres nas engenharias mas em engenharia informática ainda há muito poucas. A programação é algo que assusta, e é importante desmistificar esse mundo. Eu própria percebi que a programação nunca foi aquilo que queria fazer e daí ter optado pelas redes de computadores, onde a comunicação é constante.

liderança no feminino

8

O que procura nas pessoas que trabalham consigo? Aquilo que faz uma grande empresa são as pessoas. É essencial não nos focarmos apenas em encontrar génios da informática: as características humanas são, a par da importância técnica, igualmente relevantes para o sucesso das empresas. Queremos que as pessoas se sintam à vontade e que se deem bem com os colegas, no fundo que comuniquem, que não sejam robôs. No mundo das TI acontece muitas vezes a pessoa isolar-se com o seu computador. Aqui não queremos isso, pretendemos que as pessoas se entreajudem e que tomem café juntas, se conheçam e que comuniquem umas com as outras. Lisboa foi a cidade escolhida para a instalação do novo Centro de Excelência de TI para a gestão de serviços de TI e desenvolvimento de soluções customizadas, pelo Grupo Panalpina. Porquê Lisboa? Portugal ainda está centralizado em Lisboa. Aqui havia uma grande disponibilidade de profissionais para uma contratação em grande escala e num ritmo célere. Como temos várias equipas a funcionar em paralelo, Lisboa

pareceu-nos a melhor solução. Um exemplo é a proximidade com o aeroporto que dispõe de voos diretos para a nossa sede, na Basileia, o que é sem dúvida uma mais-valia para nós. “As Tecnologias de Informação são um motor fundamental no sucesso comercial da Panalpina”. Como pode ser explicada esta afirmação? As TI são aquele motor que ajudam uma empresa em qualquer área a crescer em grande escala e principalmente se for o caso de uma multinacional como nós, presente nos seis continentes e em 150 países. Por isso temos sempre uma grande demanda de novos produtos e serviços para podermos oferecer uma melhor experiência aos nossos utilizadores e clientes, desde o site à plataforma de encomendas. Então, é essencial continuarmos a investir nesta área para podermos continuar no topo da Inovação e Liderança do ramo. O Centro de Excelência de TI é já um pilar cada vez mais marcante e complemento decisivo na arquitetura mundial do Grupo Panalpina. Qual a decisão mais difícil que tomou na sua carreira? Nos meus tempos em Dublin, quando estava ainda na Central de Desenvolvimento de Produtos da Microsoft, tinha tudo lá. Adorava o meu estilo de vida na época. Desde cedo comecei a definir alguns dos meus objetivos e metas e viver noutro país fazia parte deles. Tinha curiosidade sobre como seria... e queria trazer as experiências aprendidas para mais tarde ajudar a desenvolver o meu país. Na altura desejava muito experimentar sair de Portugal e saí. Em Dublin já tinha atingido algumas metas que tinha definido: integrar um gigante multinacional, num país de expressão inglesa, que é

500 Escritórios

Grupo Panalpina O Grupo Panalpina opera numa rede global com cerca de 500 escritórios em mais de 70 países e trabalha com empresas parceiras em mais de 90 países. A Panalpina emprega aproximadamente 14.500 pessoas em todo o mundo que oferecem um serviço abrangente aos mais altos padrões de qualidade - onde e quando.


FOTO: DIANA QUINTELA

muito importante na área uma vez que é tudo em inglês, e o mais fascinante era a multiculturalidade que se vivia, pois isso faz-nos abrir os nossos horizontes e ver o mundo de forma mais completa. No entanto, outro objetivo era regressar a Portugal. Em Dublin tinha uma carreira promissora, adorava o que estava a fazer e principalmente porque tudo era a uma escala global e o ambiente era ótimo. Tinha tudo para ser feliz e já estava a entrar numa fase em que iria dar o próximo passo na minha carreira, porém, se aceitasse essa oferta teria que lá ficar mais tempo. O que me fez não aceitar foi a falta que sentia do clima de Portugal, nomeadamente do sol. O facto de não ter luz natural como cá fazia-me muita confusão. Então decidi que estava na hora de regressar, apesar das excelentes condições de que dispunha. Foram dois anos ótimos, num país lindo mas o clima fez-me voltar a Portugal. Desisti da Irlanda e da Microsoft. Esta decisão não foi nada fácil mas foi extremamente importante para mim.

O que é para si um líder? Um líder não se escolhe, é escolhido. Ele nasce assim e as pessoas é que o começam a assumir como tal. Aquela pessoa cujas ideias gostamos de ouvir, que nos faz sentir bem, que nos transmite empatia. O objetivo de um líder deverá ser retirar a carga negativa das pessoas e fazê-las concentrarem-se naquilo que é essencial para o seu dia-a-dia. Apoiar e ouvir. Não sou só eu que estou aqui, estamos todos e por isso todas as ideias são válidas. Um líder tem de saber ser criativo e perceber que cada pessoa é única e que tem a sua experiência pessoal… um líder não se impõe, ele nasce naturalmente. Para ter sucesso é preciso…? Se quisermos gerir pessoas, temos de ser transparentes, sermos nós próprios, porque quando somos constantes, os outros sabem com o que podem contar. Penso que é essencial ter objetivos, um rumo. Se a pessoa não souber o que quer, tem de começar pelo menos por

saber aquilo que não quer. E mais importante que tudo, há que tratar bem os outros. O ditado é antigo mas é verdadeiro: “Fazer o bem sem olhar a quem." Um sorriso e conquistamos o mundo. ‘Mesmo quando estivermos ao telefone devemos sorrir’, disseram-me em tempos esta frase e na altura não entendi. Hoje sei que isso muda realmente tudo. Panalpina em Portugal Da equipa do novo Centro de Excelência de TI fazem parte 50 engenheiros e outros especialistas em Tecnologias da Informação. Sobre os projetos desenvolvidos, destaque para a personalização do sistema de gestão de pedidos da Panalpina, melhoria do seu sistema de cobrança eletrónica, e gestão de toda a infraestrutura e sistemas de TI a nível mundial. A empresa no Atrium Saldanha continua em fase de contratação direta e espera contar com pelo menos 80 especialistas até ao final do ano, continuando a crescer em 2018. ▪

junho 2017

9


LIDERANÇA NO FEMININO

» RUTE LIMA, PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA DOS OLIVAIS

“A MULHER NA LIDERANÇA ENTREGA-SE DE CORPO E ALMA”

I

liderança no feminino

10

Rute Lima, Presidente da Junta de Freguesia dos Olivais, em entrevista à Liderança no Feminino, afirma que “o árduo caminho pelo alcance da igualdade de oportunidades tem provado que as mulheres começam a ser reconhecidas como líderes eficazes e eficientes”.

niciou o seu mandato enquanto Presidente da Junta de Freguesia dos Olivais há quatro anos. Que balanço faz destes quatro anos e que mudanças conquistou e que considera como mais importantes? O mandato 2013-2017 foi um mandato autárquico absolutamente atípico do ponto de vista da governação local em Lisboa. O processo da reforma administrativa da cidade, efetivado em Março de 2014 através da Lei 56/2012 revolucionou amplamente e de forma determinante o poder local na cidade. Para além da nova configuração geográfica, este processo trouxe às Juntas de Freguesia novas e legitimas competências próprias que permitem, atualmente e desde então, que aquelas possam definir as suas estratégias e planeamento de governação à medida das reais necessidades dos seus territórios. Olivais é uma freguesia com 53 mil habitantes, uma das mais populosas da cidade de Lisboa e com uma superfície de 9km2 e cerca de 1km2 de áreas verdes. A sua dimensão e o facto de ser uma freguesia bastante heterogénea, obrigou a que durante os anos deste mandato, o planeamento estratégico fosse sendo desenvolvido de uma forma abrangente e focado nas faixas da infância e da terceira idade em especial. As áreas sociais, a área da educação e do ambiente urbano são efetivamente aquelas em que destaco uma maior tendência de investimento. O trabalho desenvolvido nas sete escolas, da gestão da Junta de Freguesia, reflete a importância que damos ao serviço de ensino público e a convicção de que podemos ser um motor de transformação educacional e cultural nos seios das nossas famílias, através das suas crianças. Crianças felizes tornam-se adultos tolerantes, solidários, justos e felizes também. Ao nível educacional, que é umas das áreas sociais de eleição, relevo a opção por fazer a gestão direta dos sete refeitórios escolares, processo que envolve uma logística extraordinária e o envolvimento e dedicação de dezenas de funcionários/colaboradores. A par desta opção que transformou de forma bastante positiva a vida das nossas crianças e respetivas famílias, Olivais foi a primeira entidade pública a contratar com a Agrobio o fornecimento de produtos hortícolas de produção nacional e biológica. Temos muito orgulho em sermos pioneiros em questões de grande pertinência social e económica e esta é, sem dúvida, uma delas. Os programas Olivais em Férias, Olivais em Férias+, Olivais em Férias Radicais e Olivais Sénior são também marcas deste mandato. Ninguém, absolutamente ninguém fica excluído dos nossos projetos e atividades. Estes são projetos grandiosos, que decorrem no período da interrupção letiva de Verão e em todo esse período, permitindo aos agregados familiares prosseguirem as suas atividades profissionais na certeza de que as suas crianças se encontram

A política de intervenção direta no espaço urbano foi motivo gerador de emprego, tendo sido criados cerca de 100 postos de trabalho, que se dedicam em exclusivo à manutenção dos espaços públicos e zonas verdes

bem entregues. De ressalvar que estes projetos, pela sua qualidade e por agregarem em si aspetos de impacto social e de sustentabilidade, foram reconhecidos pelo seu mérito, em dezembro, com o rótulo de responsabilidade social europeu. A componente social de intervenção destaca-se pelos planos de ações específicos e focados na terceira idade. Queremos os nossos seniores ativos e saudáveis e é nesse pressuposto que desenvolvemos um trabalho de considerável abrangência, seja na gestão do nosso próprio centro de dia, seja na promoção de atividades regulares mensais que envolvem por norma cerca de 400 idosos. O fenómeno do isolamento e da exclusão social, tão falado por via das estruturas e circunstâncias sociais, é algo que trabalhamos para que não exista na nossa freguesia. A prevenção da toxicodependência e desvios comportamentais na infância e

rute lima

adolescência são também áreas de ação de relevo bem como as politicas de saúde implementadas para suprimento de falhas do próprio sistema de saúde e de ação social agravadas pelo flagelo da crise financeira e social austera pelas quais todos nós e instituições passámos até 2015. A política de intervenção direta no espaço urbano foi motivo gerador de emprego, tendo sido criados cerca de cem postos de trabalho, que se dedicam em exclusivo à manutenção dos espaços públicos e zonas verdes da Freguesia. O recurso ao outsourcing foi algo que afastámos, exceção feita ao estritamente essencial, da nossa esfera de governação. Acreditamos e somos a prova que é possível fazer muito mais, com muito menos, gerando emprego e controlando/fiscalizando os trabalhos. Esta política resultou na conquista do certificado de qualidade no sistema de higiene urbana. São muitas e diferenciadas as conquistas deste mandato, tendo porém a noção de que muito há para fazer. De forma resumida, posso dizer com orgulho que a maior mudança conquistada e de um relevo extraordinário foi o facto de termos transformado uma Junta de Freguesia num verdadeiro Município. Não posso estar mais feliz e não posso ter melhor incentivo para o próximo mandato.


portanto uma equipa paritária. Prefiro uma gestão mista, pois é isso que defendo. A causa e a missão públicas são demasiado nobres para que as mulheres se abstraiam dela e se mantenham num mero observatório e, na política, as mulheres têm, para além de se mostrar disponíveis para dar o seu precioso contributo à sociedade, ainda que com algum sacrifício, não abdicar do seu mérito individual, intelectual e do seu valor. Não é sempre fácil. Por vezes é até bastante difícil. No entanto, nada que não se resolva com perseverança, empenho e também alguma obstinação e intransigência.

ainda menos de algo tão importante e determinante como a igualdade enquanto motor promotor de uma sociedade mais justa e equilibrada. E por norma não é isso que se vê. Talvez por terem de provar e trabalhar tanto mais que os homens, correm o risco de dispersar-se. Não tenho uma estratégia pensada para posturas sociais e de génese cultural e geracional a este nível. São desafios temporais cujo resultado é determinado pelo comportamento de cada uma das protagonistas. Na minha dimensão política local opto e tomo as minhas decisões com base em dois critérios fulcrais, o do mérito e o da igualdade. A minha equipa executiva é composta por quatro mulheres e três homens e foi escolhida com base nestes dois critérios, dos quais não abdico. É

Participou no II Encontro de Mulheres Autarcas de Freguesia, na sua opinião, que temas foram debatidos de maior interesse público neste encontro? Este encontro de autarcas femininas de freguesia foi bastante interessante e os temas abordados tocaram especificamente em questões relacionadas com a igualdade de género, ainda que tivessem sido também abordadas questões de alguma discriminação política em relação às freguesias enquanto órgãos políticos eleitos, legitimados por sufrágio direto e de governação local. Eu própria aludi a este tema. Considero, não obstante as assimetrias naturalmente estruturais e dimensionais entre municípios e freguesias, o certo é que as segundas continuam a ser, empiricamente e culturalmente pensando, os parentes pobres da governação local. É evidente que umas e outras têm o seu papel perfeitamente definido e em muitos aspetos umas são a extensão e comple-

11 junho 2017

O que é mais difícil no mundo da política para as mulheres? Qual é a sua estratégia para lidar com essas dificuldades? Considero que continua a haver um ténue e disfarçado estigma em relação às mulheres na política e não só. Muitas têm sido as conquistas alcançadas na luta pela igualdade de género e de direitos, mas é certo que muito existe ainda por fazer e conquistar. Enquanto mulher, assumir em pleno uma função como a que desempenho, em pleno século XXI, continua a ser um desafio hercúleo. Não abdico dos meus direitos de mãe e de mulher e reconheço que é um desafio ganho por via do suporte familiar. O mais difícil, na minha perspetiva, é perceber e sentir que persiste a absoluta necessidade de as mulheres, na politica, terem de trabalhar muito mais e provar a cada instante que têm a mesma capacidade de apresentar os mesmos ou melhores resultados que o género masculino. Por outro lado, e é evidente que generalizo (existem honrosas, conhecidas e públicas exceções), lidar com o pseudo-machismo do género masculino dissipa-se quando o “machismo” do género feminino sobressai. E sobressai muito, ainda e infelizmente. É o fenómeno das minorias. As mulheres na política deviam ser mais unidas, mais cúmplices, deviam trabalhar e caminhar de forma holística e solidária entre si, pois só dessa forma se conseguirá alcançar a igualdade plena de direitos. Não perderem o foco, nem das suas missões individuais enquanto líderes de projetos políticos, mas


A sociedade, tal como a conhecemos é feita de homens e mulheres e é no conjunto agregado da pluralidade genética dos géneros e nas capacidades individuais de cada um ou uma que se encontra a chave para o progresso da mesma

liderança no feminino

12

mentaridade das outras e vice-versa. O “case study Lisboa” e os contornos da sua reforma administrativa difere para o resto do país, mas ainda assim a base da pirâmide político-partidária, em termos gerais, é recorrentemente relegada para o último dos planos. Dando como exemplo a Freguesia dos Olivais, a que presido, tem uma dimensão geográfica, estrutural e orçamental superior a cerca de 70% dos municípios de todo o país. Existe uma necessidade absoluta e urgente de se abandonar a perceção política da lógica paroquial da freguesia, sem que se perca a função de proximidade. A Freguesia de Olivais (tal como outras), no mundo empresarial, seria considerada uma grande empresa. Com um orçamento de dez milhões de euros anuais para fazer face às inúmeras competências próprias descentralizadas pelo município, cerca de 400 funcionários/colaboradores para assegurar as condições de vida de 53 mil lisboetas, tem na sua esfera de responsabilidade direta áreas determinantes para a dinâmica do território e da cidade, seja na manutenção dos seus espaços públicos, seja no planeamento e execução da estratégia definida para as áreas sociais (educação, desporto, cultura e serviço social), seja ainda ao nível do ambiente e gestão de equipamentos sociais. É nas freguesias que, também, as políticas globais acontecem, adaptam, tomam forma e se relacionam. A freguesia não é uma racionalidade única e absoluta. São várias racionalidades. A análise plena do conceito de local, só acontecerá quando se der importância à cultura política local. É necessário ter em conta que existem estruturas sociais e modelos de interação específicos de determinado território que podem dar origem a formas também específicas de comportamento político. Nós, autarcas de freguesia, criamos a imagem de nós próprios e daquilo que representamos, transmitimo-la para o exterior e influenciamos e compomos a estrutura da política nacional. Existe um longo caminho para se percorrer a este nível e à forma empírica como os próprios protagonistas políticos (generalizando) encaram e pensam as freguesias, a sua importância e a sua preponderância. A participação das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os aspetos da sociedade – política, economia e pública – tornou-se uma meta ‘quase’ global. Segundo a sua análise, qual é o panorama em Portugal relativamente às oportunidades que são dadas às mulheres? Uma meta global de mérito. Embora a maioria dos cargos de liderança ainda sejam ocupados por homens, existe uma tendência crescente não apenas de aumento da participação, mas também

Que legado gostaria de deixar? de maior valorização da liderança feminina. Basta fixarmo-nos na percentagem de homens e mulheres no parlamento português, para percebermos o quanto falta ainda lutar, trabalhar e caminhar com vista à paridade. Apenas 33% (76) de 230 lugares, são ocupados por mulheres, ou seja, fez-se história. Ainda que imposta legalmente, fez-se história. E esse caminho faz-se de homens e de mulheres. No setor empresarial, a igualdade de oportunidades, ainda que tendencialmente crescente, continua em marcha lenta. Os indicadores, apesar de animadores e consistentes graficamente, continuam a transmitir-nos que os cargos de liderança e de gestão se situam entre os 11% e os 35%, revelando também aqui que a imposição dos normativos legais são a fasquia máxima, mas oscilante, de acesso aos cargos. Considero expressivos estes valores indicativos sobre o muito que há a fazer mas reconheço, em paralelo, que os progressos, ainda que lentos, são consistentes e fazem-me pensar de forma bastante positiva acerca do futuro. A sociedade, tal como a conhecemos é feita de homens e mulheres e é no conjunto agregado da pluralidade genética dos géneros e nas capacidades individuais de cada um ou uma que se encontra a chave para o progresso da mesma. O mundo, a Europa e o país e todas as comunidades precisam de homens e mulheres fortes, que caminhem lado a lado em pé de igualdade, expostos aos mesmo direitos e deveres, liberdades e garantias, onde a discriminação de género seja apenas um vislumbre do passado. Que significado tem uma mulher no poder? Difere muito de um homem? O árduo caminho pelo alcance da igualdade de oportunidades tem provado que as mulheres começam a ser reconhecidas como líderes eficazes e eficientes. As mulheres têm características que vão de encontro às reais necessidades das organizações, ou seja, preocupam-se com o autodesenvolvimento, sabem sair e saem da sua zona de conforto e, quer seja pela sua sensibilidade ou outros fatores externos conseguem identificar as necessidades daquilo que as cerca. Ambos os géneros contribuem de forma determinante para o sucesso e êxito dos ambientes organizacionais, mas há obviamente diferenças. O comportamento feminino difere muito do masculino. Enquanto o género masculino aposta em estilos mais autoritários, independentes e de envolvimento negocial, ou seja, adotam estilos mais antigos, as lideranças femininas adotam estilos mais democráticos, mais arrojados. Ambos exercem influências distintas nas equipas que lideram. Porém, a liderança feminina é vista como interativa, colaborativa e fortalecedora de

O principal legado que gostaria de deixar um dia, tanto a quem me elegeu como a quem me venha a suceder é o sentimento de serena tranquilidade em saberem e sentirem que passo por esta nobre missão com a plena consciência da sua importância e que a cumpro com o coração. E como em tudo na vida, o que se faz por paixão contribui para um legado memorável, seja de obras físicas, melhoria das condições de vida das pessoas, seja conceção e implementação políticas de natureza social ou outras. Eu e a minha equipa tivemos durante este mandato uma força transformadora. Optámos na maioria dos momentos pelas decisões mais trabalhosas e desgastantes. Sei e tenho a certeza que fazemos a diferença na vida de milhares de pessoas, sejam crianças, jovens, agregados familiares, idosos ou organizações parceiras. A estratégia política inicial era vencer e fazer a diferença. Objetivo alcançado com muito esforço, muita dedicação e muita honra. E este é o principal legado, poder dizer missão cumprida.

pessoas, valorizando sempre o desenvolvimento humano. A liderança no feminino reflete um cuidado exponencial com a equipa, que resulta da sua cultura endógena, da ênfase em cuidar e perceber as necessidades familiares. Por esta via, a mulher líder altera, transforma e aplica um foco diferente, o seu modo de ser, ver e sentir, no seio organizacional. Uma liderança feminina traz tudo aquilo que é natural em si mesma, oferecendo, em termos de resultados e ambientes organizacionais, benefícios em termos de desempenho. Há quem defenda que “para se contratar um ótimo executivo, basta que se contrate uma mulher” (risos). Não concordo em pleno mas quase. A mulher na liderança entrega-se de corpo e alma e canaliza toda a sua energia na missão a que se propõe e o facto de viver numa luta constante para provar as suas qualidades e conhecimentos, num esforço extraordinário para construir e manter a credibilidade e competência, sua e da sua equipa, resulta numa melhor preparação e numa capacidade mais abrangente ao nível da gestão. A liderança no feminino oferece às organizações uma capacidade de gestão multifocal, na medida em que a aptidão para conseguirmos fazer e resolver diversas coisas ao mesmo tempo e de forma detalhada. Esta capacidade aliada ao fator humano e à preocupação com as relações interpessoais de qualidade, traduz-se, por norma, em climas de confiança de ambientes facilitadores de desempenho e resultados. ▪


LIDERANÇA NO FEMININO

» FÁTIMA SILVA CEO DA GLOBALIS - VIAGENS E EVENTOS CORPORATIVOS

“A IGUALDADE DE GÉNERO É UM DIREITO FUNDAMENTAL” m 2015 tornou-se partner e CEO da Globalis Viagens e Eventos Corporativos, em Portugal. Porém, já tinha uma larga experiência no mercado das viagens corporativas. Que história pode ser contada sobre o seu percurso? Licencie-me em Turismo pelo Instituto de Novas Profissões (INP) e fiz uma Pós Graduação em Gestão pela Universidade Católica de Lisboa (UCL). Iniciei a minha atividade em 1989 em hotelaria no antigo e emblemático Hotel Penta Lisboa onde passei por funções de Receção e Coordenação de Grupos durante dois anos. O mercado das viagens corporativas surge com a entrada na mercado das agências de viagens onde tive o privilégio de construir a minha carreira em empresas que acreditaram nas minhas competências e que me permitiram chegar aqui hoje. Até 2014 ocupei o cargo de diretora geral em Portugal, acumulando com o cargo de Diretora de vendas para Angola e Moçambique, da Carlson Wagonlit Travel (CWT). Participei em projetos inovadores que serão sempre grandes pilares da minha formação profissional e que resulta na experiência que adquiri. O projeto Globalis surge no momento certo e foi naturalmente o passo seguinte e que considero ser o grande projeto da minha vida profissional. É a primeira mulher a liderar uma filial Globalis em Portugal e na Europa. No início, sentiu algum tipo de discriminação? Não senti qualquer discriminação. O sentimento é muito mais de construir empresas melhores, com uma atitude construtiva e de parceria, para desta forma contribuirmos para uma sociedade melhor e mais sustentada. Tudo depende das qualificações, existem homens e mulheres com exatamente as mesmas competências. É uma realidade, e só tendo este entendimento é que as empresas se podem

fátima silva

desenvolver e prosperar. Muitas empresas têm beneficiado por apostarem na diversidade de género, pois permite-lhes ter abordagens mais alinhadas com o mercado. O que mais gosta no seu trabalho? A possibilidade de criar. É importante questionar todos os dias para fazer melhor! Num negócio de margens reduzidas, como o das agências de viagens, é mandatário pensar em novos modelos, processos, financeiro, tecnologia… para um eficaz controlo de custos e aumento da eficiência e rentabilidade. Por este motivo estamos no processo de certificação em qualidade pela Norma ISO9001 por acreditarmos que é fundamental gerar valor e criar soluções diferenciadoras para os nossos clientes. O poder é diferente quando ministrado por homens ou por mulheres? Porquê? Existe quase que uma “obrigação” no sentido de reconhecer na mulher um determinado estilo de liderança. No entanto, não considero que as mulheres têm um estilo de liderança diferente o que se verifica é que temos características distintas. Todos nós somos um resultado de um per-

curso, tudo depende da nossa socialização até aqui. Logo não podemos afirmar que existem diferenças significativas entre a forma de gestão de mulheres de homens. Ou seja, desde que tenhamos a mesma experiência os resultados das nossas ações podem ser exatamente iguais. E não se trata de ser melhor ou pior. Temos que considerar que existem diferenças de sexo e diferenças de género. É por este motivo que existem profissões e funções que são classificadas como masculinas (racional e competitivo) e outras femininas (emocional). Culturalmente os portugueses seguem um modelo hierárquico formal e paternal e nesse sentido podemos afirmar que o estilo de gestão masculino é mais premiado. Por outro lado, os novos modelos de gestão apontam características mais femininas na resposta aos novos desafios (comunicação, empatia, etc.). A interdependência de ambos é a resposta para um modelo de gestão mais eficaz. O que está errado na forma em como a sociedade ainda discrimina as mulheres e que podem elas fazer para contornar a questão de género? A igualdade de género é um direito fundamental. Resultado de todo o trabalho que tem sido desenvolvido pelos países, com o compromisso para a Igualdade de Género, a tendência é para que as diferenças diminuam. A realidade é que as empresas começam a encarar a igualdade de género como uma vantagem para o seu negócio. A diversidade permite novas abordagens e novos modelos de gestão que estão assentes no acesso equilibrado de mulheres e homens a cargos de liderança e também à correta adequação dos sistemas de remuneração. É com este sentimento que atuamos na Globalis! ▪ LER NA INTEGRA EM WWW. PONTOSDEVISTA.PT

13 junho 2017

E

Fátima Silva é CEO da Globalis Viagens e Eventos Corporativos em Portugal e, em entrevista à Liderança no Feminino, fala sobre o seu percurso no mundo das viagens corporativas e que visão tem sobre a questão da desigualdade entre géneros. Saiba mais.


LIDERANÇA NO FEMININO

» Maria do Céu Albuquerque, EDIL DE ABRANTES, EM ENTREVISTA

“A mulher portuguesa é hoje uma mulher determinada”

Maria do Céu Albuquerque, Presidente da Câmara Municipal de Abrantes é uma mulher determinada tanto a nível profissional como pessoal. Fomos conversar com a nossa interlocutora que lembra que “quem corre por gosto, não cansa”.

É

Presidente da Câmara Municipal de Abrantes, membro da Assembleia Geral da TecParques, Diretora Executiva do Tagusvalley, entre muitas outras funções e cargos que ocupa. Com um percurso profissional e político tão preenchido a pergunta que se impõe é como é que organiza o seu dia-a-dia? Não é muito fácil, é verdade. Mas eu já tinha rotinas que me impunham muita disciplina, até porque antes de vir para a Câmara já tinha outras atividades além do meu trabalho. Fiz uma pós-graduação, dava catequese, pertencia aos corpos sociais de algumas instituições como por exemplo o CRIA e tinha duas filhas pequenas (uma com oito, outra com dez anos). Procuro ter uma gestão muito rigorosa do meu tempo, de outra forma não conseguia fazer tudo o que faço. Ainda assim, faço questão de não relegar para segundo plano os meus compromissos pessoais e familiares – aliás a família sempre fez parte do meu projeto de vida e ocupa nele um papel absolutamente central. Conciliar a vida profissional, com a exigência e a disponibilidade que uma autarca deve ter, manter alguma atividade política, dar a devida atenção à família e às questões domésticas e ainda ter algum tempo para mim, obriga a que se desenvolvam alguns dotes de malabarista. Mas, como diz o ditado popular, “quem corre por gosto, não cansa”.

MARIA DO CÉU ALBUQUERQUE

liderança no feminino

14

Ser autarca de Abrantes trouxe-lhe que desafios? Os desafios de um autarca são permanentes, ademais com um mundo em constante mutação com reflexos imediatos nas nossas vidas, na vida de qualquer cidadão. E, por esse motivo, pese embora os instrumentos de planeamento ou os orçamentos municipais, o autarca do século XXI tem de estar preparado para responder às mudanças emergentes. O meu primeiro mandato coincidiu com o período crítico da crise económica e social que o país viveu motivado pelo programa de ajustamento e que originou o desinvestimento em projetos estruturais e potenciadores do desenvolvimento económico e social com reflexo na vida dos cidadãos, das instituições e das empresas, uma quebra acentuada das receitas municipais e uma inversão das prioridades da nossa comunidade. Se acrescentarmos a incerteza quanto aos mecanismos de financiamento a disponibilizar pelo novo Quadro Comunitário que nessa altura se verificou, habituei-me cedo a responder aos grandes desafios. Ser autarca num concelho que é o maior em dimensão e o terceiro mais populoso da região do Médio Tejo - estende-se por cerca de 713.46 km2 – e com 13 freguesias com características muito diferentes, é por si só um grande desafio. Mas devo dizer que encaro os problemas como desafios à minha capacidade e à minha criatividade. Os autarcas hoje têm que cada vez mais ser criativos na maneira como gerem os dinheiros públicos e na forma como encontram resposta para as necessidades dos cidadãos. Vive diariamente em contacto com a importância do uso das novas tecnologias. Que relevância diria que têm as mesmas na sua vida? Hoje em dia as tecnologias da informação, que já não são novas, têm um papel fulcral na organização da minha vida. Tenho nos dispositivos digitais a minha agenda, gerida e partilhada com o meu Gabinete, o que ajuda bastante a organizar os meus dias. Até porque por vezes há marcações ou desmarcações de última hora e é importante que haja este acesso à informação por parte de diferentes intervenientes. Também do ponto de vista da gestão municipal a Câmara Municipal tem, desde 2010 investido fortemente no desenvolvimento de um ecossistema digital que nso permite hoje em dia fazer uma gestão desmaterializada dos processos e, desde 2016, tem em implementação o projeto Abrantes Cidade Inteligente que disponibiliza um conjunto de ferramentas tecnológicas para a gestão de áreas tão diversas como a iluminação pública, a gestão de rega ou a gestão de resíduos. Com este ecossistema digital e com estas ferramentas tecnológicas, é possível promover uma gestão com acesso a informação em tempo real, aumentando por isso a nossa capacidade de solução de problemas mas também a capacidade preditiva no sentido de reduzir a ocorrência desses problemas. A outro nível, mais

pessoal, posso dizer que uso uma aplicação informática para fazer toda a gestão da minha casa. Desde as ementas semanais, às listas de compras, ao meu livro de receitas está tudo no telemóvel e no tablet, disponível e atualizado ao segundo. E ainda tenho a enorme vantagem de poder partilhar essa informação com a minha família ! Quando tem tempo livre a que se dedica? Um dos maiores gostos que tenho vindo a desenvolver ao longo dos anos é cozinhar. Herdei isso da minha avó e da minha mãe e fui muito incentivada na infância pelo meu pai, que até me ofereceu um livro de cozinha da Maria de Lourdes Modesto… Também gosto muito de receber e de estar com pessoas e não há melhor pretexto do que uma boa refeição, para poder juntar os amigos à mesa. Outro dos meus escapes é fazer tricot ou crochet. São atividades que me dão muita tranquilidade, principalmente depois de um dia intenso de trabalho. Também tinha o hábito de caminhar ou correr de manhã, o que me ajudava a começar o dia com mais energia. Mas tive de interromper porque estou a recuperar de uma intervenção cirúrgica e ainda tenho de moderar o esforço físico. Uma mensagem de uma mulher com uma carreira plena de desafios para outras que vão ler a sua entrevista. O sistema democrático foi nas últimas décadas um grande aliado da Mulher. Os avanços legislativos de grande alcance permitiram que a mulher passasse a ter acesso a cargos da carreira administrativa, a carreira diplomática e à magistratura, o direito de voto, a igualdade de direitos e deveres no que respeita à educação dos filhos, assegurou-se o direito a uma licença de maternidade sem perda de remuneração e a igualdade de tratamento no casamento. A mulher portuguesa é hoje uma mulher determinada, com sonhos e objetivos pessoais, profissionais e sociais. Uma mulher a quem a sociedade já reconhece o seu valor enquanto ser humano na sua plenitude. Os maiores desafios estão na generalização destas conquistas e numa contínua e persistente avaliação dos fatores históricos, sociais e culturais, no sentido de determinar as barreiras e os condicionalismos que provocam e mascaram as diferenças e assimetrias ainda persistentes entre homens e mulheres. A cidadania, a igualdade e não discriminação são alicerces das sociedades democráticas e dos direitos humanos e é essa temática que importa valorizar com estratégias que se concretizem nos territórios e com as comunidades. Foquemo-nos, pois, num verdadeiro compromisso individual e coletivo e uma responsabilidade que é de todas e de todos. ▪ LER NA INTEGRA EM WWW. PONTOSDEVISTA.PT


LIDERANÇA NO FEMININO

» MARIA JOÃO FIGUEIREDO, PARTNER DA CIPHRA

“ACREDITEM EM VOCÊS MESMAS” Que o panorama está a mudar quando falamos de desigualdade de género, todos nós sabemos. No entanto, o caminho a percorrer revela-se longo para que se efetive, de facto, igualdade entre homens e mulheres quando se fala de ascensão profissional ou de liderança, algo que deveria ser normal, e natural, para os dois géneros. Maria João Figueiredo, Partner da Ciphra sentiu essa dificuldade, mas garante que os obstáculos fizeram dela a líder que é hoje.

De que forma é que esse percurso tão distinto e multifacetado a fez crescer enquanto líder? As áreas são distintas, mas têm uma coisa em comum, são negócios onde os líderes são homens. Quando uma mulher chega e assume uma função de chefia, é obrigada a fazer mais e melhor, isso faz crescer qualquer um. Estamos a falar de situações vividas nos anos 90, se hoje em dia ainda nos confrontamos com situações destas, pode imaginar como foi nessa altura. Fez de mim a líder que sou hoje, sem dúvida. Que análise perpétua no âmbito da Liderança no Feminino em Portugal? A percentagem de mulheres com acesso ao ensino superior proporcionou um natural aumento da liderança no feminino em Portugal. Por outro lado, a mentalidade dos nossos empresários e gestores tem mudado, o que ajuda também os casos de sucesso das empresas que têm líderes femininos.

MARIA JOÃO FIGUEIREDO

Se vão ter medo? Claro que sim. É normal, faz parte. mas acima de tudo tenham atitude e acreditem em vocês mesmas

Sente que o cenário atual ainda perpetua diversos obstáculos no que concerne a uma mulher chegar a uma posição de liderança? Não sei se lhe chamaria obstáculos, mas nós mulheres, mesmo quando temos uma função que exige tempo e disponibilidade, temos ainda que ser excelentes mães, mulheres, gestoras familiares. Nada nos é facilitado. É preciso ter muita atitude, não desistir ao primeiro desafio, e se tem a certeza do que quer, tem de investir a 100% em tudo, pois como já referi, somos solicitadas em várias funções. Mas ainda é comum vermos mulheres a abdicarem da sua própria carreira porque o marido tem uma função de grande responsabilidade e necessita de apoio familiar, mas o inverso não é verdadeiro.

Como é a Maria João Figueiredo enquanto líder e quais as particularidades que mais a caracterizam? É um pouco difícil descrever-me a mim própria, pois existe a líder que eu penso que sou, a que gostaria de ser e a que realmente sou! Mas posso afirmar que sou uma líder que funciono com o exemplo e a comunicação, que gosta de consultar e ouvir a equipa, e que lhes reconhece todo o mérito, tenho por hábito dizer que sem a minha equipa não sou nada. Somos atualmente 24 elementos, e quando fiz anos em abril todos eles escreveram um adjetivo, foi muito interessante sentir o que a equipa pensa de nós. Palavras como carismática, guerreira, otimista, lutadora, mulher de visão e dedicada, foram as mais utilizadas. Tenho esse quadro na parede do meu escritório. A terminar, que conselho gostaria de deixar ao universo feminino em Portugal? Que não escondam os seus sonhos, que arrisquem, que definam objetivos e os escrevam para os colocar em ação. Que acreditem e que procurem as pessoas certas para as acompanhar, pois só assim serão bem-sucedidas. Se vão ter medo? Claro que sim. É normal, faz parte. Mas acima de tudo tenham atitude e acreditem em vocês mesmas. ▪

15 junho 2017

O

seu percurso profissional teve início em 1994, tendo desempenhado funções de Diretora Financeira em áreas de influência da nossa economia como na indústria automóvel e construção civil. Explique-nos as razões que a levaram a escolher segmentos tão distintos? Na verdade não fui eu que escolhi, os convites surgiram e como gosto de desafios, aceitei! O primeiro convite surgiu quando era muito nova, o segundo surgiu quando tinha filhos muito pequenos, em ambas as situações poderia ter recuado, mas isso não faz parte do meu perfil. Gosto de desafios, e a aprendizagem na indústria automóvel foi muito importante no meu percurso profissional.

Acredita que uma mulher tem de fazer e provar mais que um Homem para chegar a uma posição de destaque no seio de uma organização? Neste momento, penso que depende das áreas de negócio. São muitas as mulheres líderes nas áreas da publicidade e comunicação, por exemplo, que nunca sentiram qualquer entrave à sua progressão na carreira. Existem até empresas que privilegiam a sensibilidade e intuição feminina. Na minha área nunca senti qualquer obstáculo. É o rigor, a confiança e a competência que os nossos empresários precisam de sentir. No entanto, há ainda um longo caminho até que todas as áreas de negócio privilegiem o talento, empenho e dedicação, independentemente do género.


LIDERANÇA NO FEMININO

» ROSE PALHARES, DESIGNER DE MODA

“QUERO VALORIZAR TODAS AS MULHERES” Rose Palhares é uma jovem Designer Angolana que tem como objetivo realizar sonhos e tocar a sociedade. “É uma paixão, definitivamente, e é um refúgio para mim. Tento passar para a moda tudo o que sou e o que sinto de uma forma criativa. Não me vejo a fazer outra coisa”, diz-nos, em entrevista, Rose Palhares.

Q

uando descobriu que queria ser estilista? Desde muito nova que sei que quero fazer roupa. Posso dizer que este desejo de ser designer de moda nasceu comigo. Em pequena recebia muitas bonecas e achava as roupas horríveis, então em vez de brincar com as bonecas, como todas as crianças faziam, eu preferia mudar-lhes o outfit com a ajuda da minha tia que era costureira. Fui ganhando o gosto, embora dissesse na altura que, no futuro, iria fazer gestão de empresas. Dizia ao meu pai que, quando ele estivesse muito cansado, eu assumiria a gestão dos seus negócios. Mas a verdade é que a pessoa que queria fazer gestão de empresas afinal gostava e fazia roupa para toda a gente. Nunca tinha reparado ou não considerava sequer um trabalho “a sério”. Encarava este meu gosto como um passatempo ou um hobby. Mas os anos foram passando e comecei a vestir, inclusive, os meus professores quando iniciei o curso de gestão. Os próprios professores incentivavam-me a mudar de curso porque identicavam em mim o talento. Simultaneamente, cada vez mais pessoas pediam e queriam vestir as minhas roupas. Pensei então que deveria levar a sério este meu gosto. Acabei por desistir, no final do primeiro ano, do curso de gestão e mudei para o curso de Coordenação e Produção de Moda. Posteriormente, decidi ir para o Brasil onde me formei em Design de Moda de sapatos e carteiras. No entanto, quando voltei para Angola era mais fácil encontrar costureiros do que sapateiros. Apostei, assim, em design de moda de roupa e hoje em dia acabo, igualmente, por fazer gestão da minha empresa (risos). O mais difícil nesta minha escolha de ser Designer de Moda foi convencer o meu pai. Julgava que ele não me iria apoiar nesta minha decisão. Por isso, aos poucos, ia mostrando-lhe peças minhas e quando decidi abandonar a gestão de empresas para me formar em moda, não lhe contei de imediato. Tentei demonstrar-lhe que realmente era boa no que fazia e que as pessoas apreciavam a minha roupa. Quando lhe comuniquei, acabou por aceitar bem a ideia, ainda que, como homem de negócios que é, estava reticente em relação aos frutos deste trabalho.

liderança no feminino

16

ROSE PALHARES

Que palavras definem melhor o seu trabalho? É difícil caracterizar o meu estilo porque em cada coleção tento reinventar-me. Sigo muito o meu dia-a-dia e a minha forma de estar. Não procuro seguir tendências. Se no início criava roupas direcionadas para a minha faixa etária, agora já desenvolvo outro tipo de peças para revelar quem é Rose Palhares, a idade que ela tem, o meio onde vive, quem ela é, e como vê a vida. É uma paixão, definitivamente, e é um refúgio para mim. Tento passar para a moda tudo o que sou e o que sinto de uma forma criativa.


As suas raízes são muito importantes para si e estão por isso mesmo, bem marcadas no seu trabalho. Fale-nos sobre isso. As minhas raízes estão 100% presentes nas minhas criações. As misturas de padrões, os cortes e a feminilidade que pretendo dar às minhas clientes refletem as raízes africanas. Sempre fiz questão de mostrar de onde venho e quem eu sou.

Quais foram as maiores dificuldades até aqui?

Rose Palhares NO FESTIVAL de Cannes

Ser uma estilista jovem influenciou de alguma forma o ser percurso? Nunca senti dificuldades até aqui por ser jovem no mundo da moda. Posso dizer que as únicas adversidades que senti estão relacionadas com a falta de matérias-primas de qualidade em Angola que pretendia para os meus trabalhos. Sou uma pessoa bastante convicta acerca do que quero, de me fazer ouvir, e com o tempo descobri que a minha voz estava no meu trabalho. Recentemente mudei-me para Lisboa para concretizar um dos meus projetos: Cannes. Fui convidada pela MasterCard para ser a designer e criadora oficial da coleção da marca para os seus clientes em Cannes, no Festival do Filme. Para realizar este trabalho e todos aqueles que virão, senti a necessidade de sair da minha zona de conforto, precisava de fazer isto num espaço totalmente novo, um desafio para mim a 100%. Não sei como será a Rose Palhares após Cannes, mas tudo farei para jamais andar para trás e colocar sempre os meus olhos no futuro. Vou deixar fluir naturalmente, até porque nunca fiz grandes planos na moda. Tudo começou porque eu só queria ser estilista e acabei por concretizar tanta coisa que não sei o que vai acontecer a seguir. Quero ser reconhecida mundialmente, mas serei sempre a designer angolana que regressará, sempre que possível, a Angola para ajudar a minha terra. Quero contribuir, em termos cul-

O que mais gosta no seu trabalho? Tudo. Desde a mensagem que quero passar às mulheres que quero vestir e, principalmente, os aspetos em que quero tocar e focar. Tenho reparado que o meu trabalho tem uma grande influência na sociedade Angolana, por isso tento que as minhas coleções e todas as peças que crio transmitam uma mensagem para as mulheres. não penso na coleção que vamos lançar, mas sim na mensagem que quero transmitir e o que quero mudar na sociedade. É o que mais gosto, sentir a mudança que consigo gerar nas mulheres, principalmente nas mulheres do meu país. Tenho clientes de várias partes do mundo e para mim o mais importante é a mulher e o facto de ela reconhecer o poder que tem. Quero valorizar todas as mulheres. No ano passado estreei-me na 46º edição da ModaLisboa Kiss com a coleção “Kiss from Rose” para o outono/inverno 16/17. De momento, estamos a lançar a nossa primeira coleção online, a Rose Palhares Pronto-a-vestir. A coleção chama-se Borderless, sem fronteiras, uma coleção para todas as etnias sem distinção. Inspirei-me em todas as mulheres do mundo, desde a indiana à americana, mas sempre com a identidade de Rose Palhares, que é vestir mulheres de verdade. Para o Festival de Cannes fizemos uma coleção inspirada no Candomblé, uma religião afro-brasileira que surgiu na época dos escravos e onde se reza aos Orixás, deuses africanos, com os seus rituais e festas. É uma coleção inspirada na libertação da raça africana, da raça negra. França é um país com muitos negros por isso foi muito importante para mim e quis mostrar com orgulho de onde sou. A própria religião está muito ligada à natureza, ao seu poder e aos seus elementos e a coleção acaba por também estar ligada à força da natureza. ▪ 17 junho 2017

A ascensão foi rápida. Rapidamente começou a ser reconhecida e a arrecadar prémio. Como descreveria o seu percurso até aqui? O meu primeiro prémio foi em Angola, “Criadora de Ano” (em 2013), no Moda Luanda. Precisava muito de ser reconhecida no meu país para poder voar em direção a qualquer parte do mundo. No mesmo ano, recebi o primeiro convite para fazer um desfile em Lisboa. Por ser uma estilista angolana jovem e por ter trazido algo tão fresco para a moda angolana, acabei por influenciar a moda angolana e inspirar outros designers, pelo que hoje temos mais designers jovens. Além do prémio “Melhor Traje Típico da Miss Cultura & Paz Angola”, no México (2014) também recebi a distinção “Estilista Internacional do Ano” (2015), pelo Angola Fashion Week, uma iniciativa que não existia e que foi criada para me ser entregue. Em 2015 fui nomeada para o prémio “Diva da Moda” e fui homenageada pelo GMA “Grupo Da Mulher Africana” como uma “Mulher de Mérito”, pela minha contribuição no crescimento do meu país. Devido à minha participação no Vogue’s Fashion Night Out 2015 Lisboa fui considerada pela revista VOGUE Itália uma das mais interessantes designers angolanas a seguir. Destacaria ainda a minha participação, no ano passado, na 19ª edição do Moda Luanda Think Fashion, e no L’afrique C’est Chic! em Genebra, Suíça. Confesso que não estava à espera de nenhuns destes prémios, foi sempre surpreendente para mim. Até hoje, só quero fazer o que amo, criar. Não dei conta deste reconhecimento que foi crescendo. Mas não quero depender disso, quero agarrar-me ao meu trabalho e fazer o que gosto. Está a dar frutos por isso é o que vou continuar a fazer.

turais e na educação. Eu entendo que, se não soubermos quem somos e não conhecermos a nossa cultura, não saberemos para onde vamos. Tenho recebido muitos convites para projetos e tenho muita vontade em participar, mas para já, o trabalho ainda não me permitiu fazer tudo aquilo que desejo no meu país. Mas em novembro a marca festeja cinco anos e pretendo festejar em Angola com uma grande surpresa!


LIDERANÇA NO FEMININO

» PRISCILLA DE SÁ EM GRANDE ENTREVISTA

liderança no feminino

18


“PREPARO MULHERES PARA A LIDERANÇA” Priscilla de Sá tem um objetivo: inspirar mulheres e transformá-las em líderes brilhantes. Dona da palavra, Priscilla de Sá procura impulsionar o aparecimento de uma nova mulher: a mulher em que todas se querem tornar e não no que querem ser quando crescerem. Mas, “o mundo não precisa de supermulheres nem de super-homens, precisa de pessoas inteiras nas suas escolhas. Essa é a essência do sucesso”, afirma Priscilla de Sá.

P

riscilla de Sá tem 41 anos e é jornalista, psicóloga, coach, palestrante e mãe. Qual é a característica comum a cada uma destas mulheres? Todas as mulheres que há em mim se questionam: “por que não pode ser melhor?” E recusam-se a aceitar o “sempre foi assim” em resposta.

19 junho 2017

res lideravam apenas 28,5 por cento das empresas portuguesas no final do ano passado, sendo elas 42,2 por cento da força geral das empresas. E, em média, as mulheres europeias ganham menos 16 por cento do que os homens. Por onde deve começar a mudança deste paradigma? Quanto maiores as empresas, mais lentas se movem porque são viciadas nas fórmulas que Priscilla de Sá “prepara” mulheres para a lidegarantiram vitórias passadas. Entretanto, é a diverrança. De que forma intervém na vida das mulheres? sidade que vai garantir vitórias futuras. Como coach, atuo em dois níveis indissociáveis: o A mudança é irreversível e tem de ocorrer em três emocional e o técnico. Não basta ter um currículo níveis, não importando por onde comece. poderoso e não entender de gente. E possuir soft Organizações: não apenas empregando mais skills sem competência é igualmente catastrófico. mulheres e criando um clima suportivo, mas Como mentora, auxilio empreendedoras a capacitando-as a subirem para além da média gerência. posicionarem-se mercadologicamente, estabeleIndivíduos: Pesquisar a média salarial para a funcerem sinergia com os sócios e, sobretudo, a substituírem a atitude de “donas de um negociozinho” ção e negociar no ato da contratação fazem a pela de grandes empresárias. diferença no acumulado da carreira. As mulheres Como palestrante, ajudo profissionais entre 18 e 24 anos vão às entrevistas a identificarem obstáulos e aprede emprego desejosas por saber se naquela empresa os talentos sento ferramentas para liderafemininos são valorizados. A rem melhor. As organizações nova geração de mulheglobais procuram-me para Todas as mulheres implementar comitês femires não vai ficar onde não que há em mim se puder se expressar. ninos, que nas matrizes questionam: “por que americanas e europeias Sociedade: Cabe às não pode ser melhor? já funcionam há algum famílias e aos educado”E recusam-se a aceitar o tempo. Se não forem bem res ampliarem as possi“sempre foi assim” geridos, correm o risco bilidades para meninas em resposta de se tornarem “chá de e meninos. Segundo um mulherzinhas”, o que pode estudo da Universidade de ser divertido, mas foge ao proWashington, os homens só são maioria nas carreiras STEM pósito. (ciência, tecnologia, engenharia e Como consultora, ajudo marcas a matemática) porque acreditam desde cedo comunicarem com as detentoras de cerca que são bons nisso. de 85% das decisões de compra, que já não adquirem um produto só porque ele é cor-de-rosa. É pioneira em Coaching Online tendo, em 2008, criado o primeiro programa brasileiro de coaching “Empoderar uma mulher não é subtrair o poder de carreira online para mulheres. Como define o de um homem. É revelar o poder que há denconceito de coaching de carreira e de que forma tro dela, para o bem de todos.” As mulheres muda a vida profissional das mulheres? podem ser tão boas ou melhor líderes do que os homens? Ou a liderança não depende do É o processo de retomada do controlo sobre a género? vida que começa por substituir o “o que você vai Não há limitação biológica para que as mulheres ser quando crescer?” que ouvimos na infância, tomem decisões racionais e negociem com os pelo “que tipo de mulher você quer se tornar?”. chineses. Nem para que homens sejam empáticos e penteiem os cabelos das filhas. Se possuímos Inconformada com o facto de as mulheres diferentes habilidades é apenas porque temos representarem menos de 10% de CEOs em treinado mais umas do que outras há milénios. todo o mundo (e 5% nas organizações brasileiras), criou, igualmente em 2008, um método Segundo um estudo da Informa D&B, as mulhepara desenvolver a Liderança Feminina, sendo


LIDERANÇA NO FEMININO

» PRISCILLA DE SÁ EM GRANDE ENTREVISTA

requisitada para palestrar sobre o tema. Que mensagem gostaria de deixar a todas as nossas mulheres leitoras? “Dar uma forcinha” não é o nome do que você faz todos os dias. O nome disso é liderança. O que falta é ampliá-la aos espaços de poder. Priscilla de Sá é uma referência em comportamento feminino. Quando é que ganhou consciência da influência que podia exercer na vida de outras mulheres? Comecei como coach de carreira para jovens, em 2008. As mães viam a paixão, o foco e a disciplina que os filhos adquiriam e pediam “quero que você faça comigo o que fez com meu filho”. Então eu percebi que o meu impacto social seria maior por meio delas porque mulheres são multiplicadoras.

Podemos afirmar que as “as mulheres são o futuro”? As mulheres são o presente. Em 2016, elas gastaram em e-commerce tanto quanto os homens, usando os cartões de crédito delas. É uma mulher incansável e multifacetada. Tem alguma surpresa guardada para o futuro ou novos projetos pensados? Expandir o empoderamento a mais e mais mulheres. Projetos digitais a caminho. Como se descreveria a si própria? Quem é Priscilla de Sá? Uma mulher que prefere o caminho bem pavimentado aos atalhos. O que a motiva a si enquanto mulher?

Saber que mudo o estado mental das pessoas. As suas palestras são para “mulheres que sabem aonde querem chegar e que só precisam de uma injeção de ânimo para manter o foco, a disciplina e a paixão em alta”. Onde se inspira para falar às mulheres? Nas mulheres que abriram as portas para que pudéssemos estudar, votar e escolher nossos maridos. Nas nossas mães e avós, que nos trouxeram até aqui. Nas nossas filhas e noras que vão continuar a história. Às mulheres são atribuídos múltiplos papéis. Esposa, mãe, dona de casa e profissional, sendo, por vezes, difícil a gestão desta tarefas. Precisam de ser supermulheres para conseguir conciliar tudo e alcançar o sucesso nas várias vertentes?


O QUE ELaS DIZEM…

Não há limitação biológica para que as mulheres tomem decisões racionais e negociem com os chineses. Nem para que homens sejam empáticos e penteiem os cabelos das filhas. Se possuímos diferentes habilidades é apenas porque temos treinado mais umas que outras há milénios Cristina Shiota

Clara Salarini

Diretora de Risco, Compliance e Segurança da Informação Banco Sumitomo Mitsui Brasileiro

Talent Management Coordinator Alstom Transportes Brasil

“Em 2016 estabelecemos o WIN (Women Inclusion Network) com forte apoio do nosso chairman Isaac Deutsch. A nossa missão é prover um ambiente de trabalho estimulante às mulheres, favorável ao seu desenvolvimento, viabilizando ferramentas, recursos e oportunidades para a otimização das suas habilidades e competências para o sucesso da carreira profissional. Encerramos o ano de 2016, com a palestra da Priscilla de Sá, que foi crucial para solidificar o nosso projeto, pois reforçou a importância da promoção da diversidade e inclusão no ambiente de trabalho. Foi nítida a conscientização dos colaboradores do Banco quanto à situação das mulheres e os seus desafios no desenvolvimento da sua carreira. Há ainda muito a fazer, mas temos convicção do sucesso dessa iniciativa em virtude do compromisso global do Sumitomo Mitsui Financial Group na criação de uma cultura de diversidade e inclusão.”

“Conheci a Priscilla de Sá em 2015, num evento para mulheres, organizado pela empresa em que trabalho. Ela fez uma palestra sobre liderança feminina e cada palavra que ela dizia fazia muito sentido para mim. Saí de lá com a certeza de que queria fazer coaching com ela. O nosso processo e, a cada encontro, eu me descobria como mulher e como profissional. A Priscilla entende os cenários muito rápido e tem uma perceção muito assertiva sobre pessoas e empresas, isso facilitou muito quando eu comentava alguma situação que estava a viver no trabalho – parecia até que ela conhecia as pessoas! A cada situação difícil que eu enfrentava – e não foram poucas – ela estava disponível para me ouvir, me fazer pensar e me apoiar na ação. Essa presença que ela consegue ter, mesmo quando está no Japão, faz-nos sentir amparadas e apoiadas. Em pouco tempo, comecei a receber feedbacks positivos do meu gestor e de colegas de trabalho sobre as mudanças de atitude que eu estava a ter por causa do coaching, e eu consegui fazer a mudança de chave de analista para coordenadora. Fazer coaching com uma mulher poderosa faz a gente se empoderar também!”

junho 2017

21

Rita Perrela

As campanhas publicitárias enaltecem a mulher que dá conta de tudo e termina o dia linda. Acreditamos que é esse o nosso dever e compramos um batom de longa duração. Assim, caímos na armadilha do multitasking: manter-nos superocupadas e subprodutivas. O mundo não precisa de supermulheres nem de super-homens, precisa de pessoas inteiras nas suas escolhas. Essa é a essência do sucesso. Estudos recentes revelam que a diversidade de género na administração de uma empresa impulsiona a performance e aumenta as receitas. Para si mulheres e negócios significa…? Multiplicar a capacidade de resolver problemas. Parece inteligente desprezar esse potencial? ▪

CEO – Lumitenzi Importação e Exportação

“Em tempos de crise, aqui no Brasil, é muito bom poder contar com o suporte da Priscilla para ampliar novas frentes de trabalho e não ficarmos focados num único produto. Este ano, estamos a procurar atrair e entender melhor o cliente por meio das novas ferramentas – mais lógicas e rápidas – do Marketing Digital, a fim de gerar novos negócios. Eu adoro fazer esse trabalho com a Priscilla. Com a assessoria dela, a equipa melhorou muito e sabemos que podemos contar com ela para desenvolver novos negócios.”

Simone Caggiano Head of Human Resources – Audi do Brasil

“Priscilla quebra paradigmas desconstruindo crenças. Traz luz ao velho modo de pensar e insere, de forma clara, direta e motivante o conceito de que somos uma versão inacabada de nós mesmos: a versão beta, alinhada ao pensamento exponencial desta nova era. As suas palestras são um convite a ingressarmos neste pensamento transformador e promovermos, com segurança, a nossa metamorfose.”


LIDERANÇA NO FEMININO

» FILIPA MOTA E COSTA, DIRETORA GERAL DA JANSSEN PORTUGAL

"A atitude positiva move montanhas" Filipa Mota e Costa está na Janssen Portugal desde 2003, há precisamente 14 anos e afirma que tudo o que aconteceu ao longo da sua carreira surgiu sempre de uma forma: naturalmente e com muito trabalho. Foi recentemente nomeada Diretora Geral da Janssen Portugal, companhia farmacêutica do Grupo Johnson & Johnson.

F

liderança no feminino

22

ormada em Engenharia Química, o prelúdio do trajeto profissional da nossa entrevistada foi realizado em ambiente industrial, como engenheira, sendo que ao fim de sete anos “percebi que tinha de mudar. Parei um ano, investi em mim e num MBA e foi assim que dei o salto para a área de gestão e entrei na Janssen. Sinto que o meu percurso foi percorrido de forma natural, dando sempre o meu melhor e desafiando-me constantemente, e as oportunidades foram surgindo”, começa por contar a nossa interlocutora que explica que a carreira profissional deve ser acompanhada por quatro fatores: Objetividade, aprendizagem contínua, abertura a novos desafios e capacidade de adaptação. “Acima de tudo, diria que em toda a minha atividade profissional a palavra evolução foi uma constante, ou seja, aprendizagem, muita abertura e capacidade de adaptação a novos desafios, mantendo o foco no essencial”. Aconselha as pessoas, independentemente de serem mulheres ou homens, a terem uma atitude de abertura, principalmente quando “existe uma chefia que não nos compreende, sendo muito importante saber gerir as expectativas e ter uma atitude de transparência e de partilha”. Explica que há 14 anos não pensava tornar-se diretora geral, até porque esse parecia ser um cargo muito distante. Porém, a maturidade aliou-se à experiência e a progressão foi acontecendo, somando e consolidando experiências diversas, sentindo-se constantemente desafiada, acreditando que “é com as dificuldades que se cresce”. Antes de assumir o cargo na direção da filial portuguesa viveu dois anos em Itália e, sobre o que conheceu, diz ter ficado com a impressão de que Portugal está mais à frente na questão da progressão profissional das mulheres. “Em Itália, daquilo que vi, há um mercado laboral mais tradicional, menos aberto à evolução profissional das mulheres. Neste aspeto, acho que Portugal tem evoluído, mas ainda há um grande caminho para fazermos. Se virmos o exemplo de países do Norte da Europa, podemos apostar mais na vertente da flexibilidade do trabalho (permitir trabalhar a partir de casa, manter horários mais flexíveis, menos horas extra). Com a certeza de que “o lugar onde chegamos depende sobretudo de nós”, Filipa Mota e Costa confia que, neste momento, está “na posição certa” e garante que 14 anos não foram muito nem pouco tempo, mas sim o tempo “ideal” para si.

O desafio de um Líder

Se o repto de ser diretora geral já é por si só um grande desafio, a nossa entrevistada ressalva que há um outro que o supera: “o maior desafio é encontrar e manter o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional, algo essencial para conseguir ter o foco e a energia necessários para o desempenho das nossas funções. Depende muito de cada um mas, acima de tudo, temos

filipa mota e costa

de ser fiéis a nós próprios e reconhecer os nossos valores, o momento e os limites. Há momentos na vida profissional em que pode ser preciso «esticar essa simetria.» “Olhando para trás, sei que também eu, por vezes, estiquei o meu equilíbrio. Há fases e circunstâncias de vida e há também fases nas empresas (novas funções, novos produtos ou até crises). Há que reconhecer esses momentos e tomar decisões conscientes. O trabalho é uma grande parte da vida, há que garantir que é também fonte de satisfação e desenvolvimento pessoal. Garante que encontrar esta harmonia é um exercício moroso e que requer, além de experiência, maturidade. Estar na linha da frente da Janssen é encarado como uma grande responsabilidade, não só “por todos os fatores inerentes à área de atividade da empresa - a saúde (garantindo que os doentes em Portugal têm acesso aos benefícios dos produtos da Janssen quando necessitam), mas também uma grande responsabilidade para com os 140 colaboradores em Portugal de forma a garantir um ambiente de trabalho saudável, e com oportunidades de desenvolvimento para que cada um se sinta realizado. Revela nunca se ter sentido discriminada por ser mulher numa empresa em que a diversidade é um valor “dito e vivido”, e onde a nível internacional há várias mulheres em cargos de liderança. Em Portugal, 60% dos colaboradores da Janssen são mulheres, numa proporção equilibrada em cargos seniores de gestão e liderança. “Não escolhemos quem trabalha connosco pelo género, mas pelas competências. Este número reflete talvez o facto de recrutarmos muitos jovens profissionais nas áreas das ciências da vida, onde há mais mulheres nas faculdades. No entanto, reforça que não é o género que faz a

diferença e sim as competências e a atitude positiva perante os desafios”. A diversidade é um fator muito valorizado pela Janssen, não só de género, mas a múltiplos níveis, como cultura, idade, formação ou experiência.

“Todos temos um papel na mudança”

Sobre o papel de líder que desempenha todos os dias, a diretora considera que o facto de ser mulher “não faz com que alguém seja melhor ou pior líder, mas sim a forma como encaramos os desafios e como lidamos com os outros”. Chama a atenção para os gestores portugueses, dizendo que há muitos casos de grande sucesso e alerta que, por cá, temos de começar a ver um “copo meio cheio” tendo em conta os excelentes exemplos de gestão. Dito isto, a diretora dirige algumas palavras a jovens profissionais sobre a atitude que, segundo a própria, resultou consigo mesma. “É muito importante, em todas as fases profissionais, mantermos uma atitude de abertura à mudança, que é constante, e capacidade de adaptação. A atitude positiva move montanhas, torna possível o que nos parecia impossível, por isso é preciso acreditar e agir, fazer acontecer. Todos temos um papel na mudança. Devemos encarar os desafios como oportunidades de crescimento porque o são”, afirma a nossa entrevistada. Sobre as características que um bom líder deverá ter Filipa Mota e Costa é assertiva: “é aquele que inspira a sua equipa a dar o seu melhor. Para que isso aconteça, as pessoas têm de compreender o que fazem e porque o fazem. Ser líder é ter a visão para onde queremos ir, estar próximo, ouvir, comunicar e ser parte da equipa”, conclui a nossa entrevistada. ▪


LIDERANÇA NO FEMININO

» Ana Camacho Soares, Advogada da LegalMinds, afirma

“As mulheres têm uma capacidade de pensamento global” “O que marca a diferença é, a meu ver, o mérito individual que nos permite acreditar, cada vez mais, que o futuro nos pertence”, afirma Ana Camacho Soares, Advogada da LegalMinds, uma Sociedade de Advogadas que explana na perfeição a verdadeira Liderança no Feminino, pois são cinco as profissionais das diferentes áreas do direito que fomentam o sucesso deste projeto.

Ana Camacho Soares / Ana Branco Pires / Cátia Pereira / Cláudia Costa Moreira / Isabel Carrilho

O

projeto LegalMinds uniu colegas de profissão com experiência em diversas áreas do direito, sob a égide de um sonho comum transformado em ideia e depois concretizado. Estamos a falar de cinco mulheres únicas e distintas entre si. Foi uma coincidência ou estratégia? Até pode ter sido uma coincidência termo-nos encontrado, há 14 anos, mas a união dos elementos da equipa Legalminds foi estratégica. Trabalhámos juntas durante muitos anos e temos em comum o espírito de entreajuda na defesa do cliente e uma visão informal do direito, de proximidade, de transparência na comunicação. O que se pretendia com a criação da LegalMinds? Que papel pretende assumir no mercado? É, desde o início, um projeto em que os valores primordiais são os da independência, da liberdade intelectual e da qualidade técnica, acima de quaisquer convenções sociais tradicionais na advocacia, nas quais nunca conseguimos rever-nos. Por outro lado, pretendíamos uma estrutura pequena, simples e leve, para que os serviços prestados sejam o foco do nosso trabalho. Todas conhecemos os assuntos que nos são confiados, mesmo que entregues a outra colega: desta forma, o cliente nunca fica sem resposta. Acreditamos que um escritório pequeno oferece essa mais-valia. Como encarou este desafio? Com uma enorme paixão, desde o início. Sempre fui uma grande apaixonada pelas ideias de liberdade e independência que têm vindo a ser sacrificadas em prol de outros valores aos quais não reconheço a mesma dignidade, o que resultou numa proletarização da advocacia com restrições, a meu ver, inaceitáveis, à liberdade da profissão. Como profissional da área de advocacia, o que a motiva mais nesta área? Criar novas soluções. O Direito não é uma ciência exata, é uma ciência da vida e, na nossa área, talvez mais do que em outras, a vida supera a ficção, colocando-nos novos desafios a cada passo

E o que a inspira no seu dia-a-dia? Quem é Ana Camacho Soares enquanto mulher e profissional empreendedora? Não há nada mais inspirador do que a própria vida em si, a vida que existe nas pequenas coisas do nosso quotidiano. Nunca fui capaz de um grande raciocínio abstrato, que eu não consiga ver refletido de forma útil na vida das pessoas e por isso sempre me interessaram mais os aspetos práticos da vida, desta arte do encontro entre pessoas, entre ideias. Às mulheres são atribuídos múltiplos papéis. Mãe, esposa, dona de casa e profissional. No entanto, a sociedade ainda não está preparada para as mulheres de hoje e do futuro, pois muitas ainda têm de optar entre a carreira profissional e a constituição de família ou, nalguns casos, a maternidade. É o seu caso? A nossa sociedade está, sem dúvida, a sofrer uma grande transformação, ao nível da redefinição do conceito de família e dos papéis que o homem e a mulher desempenham no núcleo familiar. A premissa de que “a mudança é a única constante” é tão verdadeira agora como na altura em que foi formulada pelo filósofo grego e esta realidade obriga-nos a um esforço de adaptação constante, especialmente se optarmos por constituir família neste mundo em que tudo se processa a alta velocidade. É o meu caso, como é o de tantas mulheres, que não prescindem de ter uma vida familiar e

ao mesmo tempo prosseguir uma carreira profissional gratificante. Também os estilos de liderança têm sido alvo de discussão. Homens e mulheres têm estilos de liderança diferentes e é dito que as mulheres poderão ser melhores líderes. Concorda? Eu cresci numa família matriarcal e, como tal, sempre cresci no meio de verdadeiras líderes e a acreditar que o poder está nas mãos das mulheres. Não conheço outra realidade. Se calhar é uma realidade demasiado protegida, admito, mas, sem dúvida, só posso concordar com a afirmação referida. Na minha opinião, as mulheres têm uma capacidade de pensamento global que é uma mais-valia para o mundo do trabalho. Acredita que Portugal ainda se encontra atrasado no âmbito das oportunidades dadas a Mulheres e Homens? Como podemos alterar esse cenário? É um facto que, não obstante os progressos alcançados, ainda estamos muito longe da igualdade de géneros em Portugal e, como tal, acredito que ainda temos um longo caminho pela frente. A mudança de quadros mentais é um processo demorado, que também está nas mãos das mulheres, designadamente no seu papel enquanto mães, garantir um futuro melhor para todos. Sendo uma Mulher Empreendedora, que conselho deixaria ao universo feminino em Portugal? Não creio estar em posição de dar conselhos. O que posso fazer é partilhar a minha experiência, que sempre foi de acreditar que é possível marcarmos a diferença pela qualidade do nosso trabalho. Não é o género que marca a diferença. O que marca a diferença é, a meu ver, o mérito individual que nos permite acreditar, cada vez mais, que o futuro nos pertence. ▪

23 junho 2017

do caminho que nos obrigam, cada vez mais, à definição de estratégias globais. Em suma, não há monotonia. Para além disso, e não obstante o peso da responsabilidade inerente a muitas situações que nos são confiadas, motiva-me o peso social da nossa profissão, o sabermos que podemos fazer a diferença em momentos decisivos para a vida das pessoas.


LIDERANÇA NO FEMININO

» Sónia Gomes, Sócia da ASL Associados, em ENTREVISTA

“Acredito que as mulheres conquistam naturalmente o seu espaço” “Há mulheres muito interessantes em todas as áreas, muito competentes e inteligentes”, afirma Sónia Gomes, Sócia da ASL Associados e que tem vindo a pautar um caminho vincado no rigor, disciplina e perseverança. A Liderança no Feminino foi «ouvir» esta líder, onde é perceptível que o caminho também se faz com «Elas».

T

rabalha na ASL Associados desde 2008… Nestes nove anos quais foram as suas maiores conquistas? Que aspetos estão enraizados na cultura da empresa e que são motivo de orgulho para si? A cultura organizacional da ASL é marcada pelo seu fundador António Lessa e pelo grupo de pessoas que com ele iniciaram este caminho. A atitude do fundador, o seu comportamento, a sua visão do mundo, da natureza humana e do próprio negócio, acabaram por ir moldando a organização, conferindo-lhe características únicas e diferenciadoras da concorrência. Eu identifico-me com esse valores e como sócia apenas ajudo a pôr em prática essa visão. Sinto muito orgulho na contribuição que dei para a acreditação do laboratório de ensaios acústicos (pela NP EN ISO/IEC 17025) e na certificação da ASL pela norma ISO9001:2015, pois fomos a primeira empresa portuguesa de engenharia a conseguir essa certificação. Também ajudei a alavancar a área de projeto relacionada com a segurança contra risco de incêndio e a área comercial da empresa. Outro aspeto interessante é que na ASL temos igual número de engenheiros e engenheiras e estamos muito satisfeitos com esta paridade.

liderança no feminino

24

Enquanto responsável pela coordenação de projeto da ASL, que projetos estão neste momento em curso que lhe dão um gosto especial? Alguns dos trabalhos que estamos a desenvolver no setor público, industrial e hoteleiro é sigiloso, não estamos autorizados a divulgar nesta fase. Porém, a ASL desenvolveu os projetos de todas as especialidades de seis estações de comboio para a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), o projeto da requalificação do Complexo Desportivo de Ramalde, a ampliação de uma unidade de produção da fábrica de chocolates Imperial, fizemos a análise de interferências em BIM dos projetos de especialidades do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, entre outros. No setor dos projetos de reabilitação urbana de edifícios no Porto e da certificação energética somos, claramente, um dos principais players do mercado nacional, inclusive a ASL ganhou em dois anos consecutivos (2015 e 2016) o prémio nacional «melhor gabinete» promovido pelo Jornal Construir/revista Anteprojectos. O que espera das equipas que coordena? Por outro lado, o que julga que esperarão elas de si enquanto líder? Recentemente li um livro que me marcou «Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes», de Stephen Covey e nesse livro há uma explicação interessante sobre o que é a liderança. Para mim fez todo o sentido. Imaginem um grupo de lenha-

SÓNIA GOMES

dores com machados a abrir caminho numa floresta. Os lenhadores (produtores) são solucionadores de problemas, eles limpam o terreno e depois cultivam-no. Os gestores seguem atrás deles, afiando os machados, criando condições para que os lenhadores façam o seu trabalho de forma melhor e mais rápida. Redigem manuais de procedimentos, elaboram programas de desenvolvimento muscular, introduzem tecnologias mais eficientes e organizam os turnos dos produtores. O líder é aquele que sobe à árvore mais alta da floresta, estuda a situação no seu conjunto e diz: «Estamos na floresta errada!». Perante isto, é frequente os gestores e os produtores reagirem da seguinte forma «Cala-te! Estamos a avançar.» Ou seja, as equipas que coordeno esperam que eu me mantenha íntegra na tomada de decisões e que possam desenvolver uma relação de confiança comigo. Eu espero que as equipas que lidero sejam competentes, responsáveis e tenham orgulho e brio no trabalho que produzem. A engenharia era uma profissão predominantemente masculina mas que hoje começa a tomar outros contornos e a abrir-se perante o público feminino. De acordo com a sua experiência, na engenharia e na sociedade em geral, as mulheres já alcançaram o seu espaço ou existirá ainda algum tipo de estigma associado? A única situação que me lembro de me sentir descriminada foi num encontro de negócios com um iraniano. O objetivo era o estabelecimento de parcerias com empresas iranianas de investimento em projetos de construção civil, apresentei-me com um sorriso e estendi a mão para o cumprimentar e ele virou a cara. Nesse momento senti

que o facto de ser mulher iria criar entraves ao sucesso da negociação e ao propósito da reunião. Ele estava sem jeito e eu também me sentia mal. Na perspetiva dele, por questões religiosas e de educação, uma mulher não estaria à altura dele para negociar. Mas à parte deste episódio, não me lembro de sentir descriminação pelo facto de ser mulher, nem conheço pessoalmente casos em que isso tenha acontecido. Sempre fui tratada de igual forma durante o meu percurso escolar e profissional. Mas é um facto que existe descriminação noutros setores de atividade e da sociedade, devemos estar atentos e combater a desigualdade de géneros. Considera que tal espaço é ganho de forma igual ou as mulheres têm sempre mais a provar face aos homens? Como foi no seu caso? Há mulheres muito interessantes em todas as áreas, muito competentes e inteligentes. Eu estou constantemente a deparar-me com mulheres incríveis nas mais diversas áreas, na engenharia, na arquitetura, mas também no jornalismo, nas artes, na literatura. Confesso que, geralmente, quando gosto de uma obra ou de um texto, quando vou a verificar é da autoria de uma mulher. Efetivamente, as mulheres têm uma sensibilidade e uma forma de ver (sentir) o mundo que lhes dá uma certa diferenciação. Mas, homens ou mulheres, somos todos seres humanos. Sinceramente, no meu dia-a-dia não penso muito nisto, acredito que as mulheres conquistam naturalmente o seu espaço na sociedade, na família e no trabalho. ▪ LER NA INTEGRA EM WWW. PONTOSDEVISTA.PT


LIDERANÇA NO FEMININO

» JOANA CUNHA, ENÓLOGA DA QUINTA DO MONDEGO EM ENTREVISTA

“O projeto Quinta do Mondego é hoje o meu quarto filho” licenciada em microbiologia e uma apaixonada pelo mundo dos vinhos. Como e quando descobriu que a Enologia era o caminho a seguir? Em 1994 os meus pais compraram a Quinta do Mondego com o objetivo de ser o refúgio de família do bulício da cidade. A verdade é que o local é idílico – o rio que percorre a Quinta, a casa, o moinho, as vinhas e a tranquilidade – fizeram-nos apaixonar de imediato. Da reconstrução da casa à reorganização das vinhas velhas, foi muito rápido. Em 2004, quando terminei o curso em Microbiologia, fui viver para a Quinta do Mondego e este tornou-se o meu projeto de vida. Começámos a ganhar cada vez mais paixão pelo Dão, pela região e pelos vinhos. Plantar novas vinhas - uma vinha por ano desde então e criar novos vinhos tornou-se o nosso projeto. Hoje não me vejo fazer nada que me satisfaça e complete mais que cuidar das vinhas e fazer os vinhos da Quinta do Mondego. “Em 1994, a sua família comprou a “Quinta do Mondego” foi o início da realização do sonho”. Passaram 23 anos e hoje é um projeto consolidado em que a Joana teve um papel determinante. Olhando para trás, como descreve o seu trabalho realizado? Sinto que o projeto Quinta do Mondego, como hoje o conhecemos, nasceu no seio da nossa família e eu fiz parte dele desde o primeiro dia. Tive um papel ativo na definição dos objetivos, no perfil dos vinhos que produzimos e nas marcas Quinta do Mondego, Munda, Mondeco e Rosados. O projeto Quinta do Mondego é hoje o meu quarto filho e pude nestes últimos 23 anos participar no seu crescimento; vê-lo evoluir e ter sucesso.

70 HECTARES

4

MARCAS DE VINHO

25

PRÉMIOS CONQUISTADOS

Encruzado BRANCO 2015 Notas de prova

Cor citrina esverdeada. Bouquet elegante e fresco, misturando citrinos e minerais com as notas de madeira. Na boca confirma este perfil, revelando um vinho encorpado, com fruto sóbrio e distinto e uma acidez muito delicada.

por episódios em que sentiu que se não fosse mulher as coisas poderiam ser mais fáceis? De todo. Como já referi, o mundo dos vinhos é um setor de inovação e com o crescimento da exportação está exposto a enormes diversidades – culturais, de estilos, de géneros. A diferença, quando associada à qualidade, é quase sempre reconhecida e recompensada. Sinto que esse foi o meu/ nosso percurso.

JOANA CUNHA

Apesar da história do vinho estar repleta de figuras femininas lendárias e de cada vez mais existirem mulheres enólogas, antes era um universo exclusivamente masculino. Qual é a sua opinião sobre como a viticultura olha hoje para as mulheres? As mulheres conquistaram o respeito, o reconhecimento e o mérito do seu trabalho em todas as esferas da sociedade. O mundo dos vinhos é um mundo de criatividade, de novas e distintas experiências e de inovação. Hoje, as mulheres são parte desse mundo de igual forma que os homens e é isso que torna o setor tão interessante, eclético e inovador. É neste momento responsável por quatro marcas a nível nacional e internacional elevando assim a região do Dão e os seus vinhos. A sua entrada no mundo dos vinhos foi marcada

Há quem diga que as mulheres têm mais sensibilidade para criar vinhos. Por que será? Hoje muitos dos vinhos são feitos em conjunto por homens e mulheres. Em bastantes casos os enólogos têm enólogas residentes e vice-versa. Ou a viticultura está a cargo de uma mulher e a enologia a cargo de um homen (e vice-versa). Fazer vinhos é uma conjugação do trabalho no campo com o trabalho na adega e em ambos locais temos habitualmente homens e mulheres. Não sei se teremos mais sensibilidade ou uma sensibilidade complementar. Tal como nos vinhos de lote (blend) a complementaridade das castas muitas vezes confere-lhes mais equilibrio e torna-os mais complexos, o mesmo se passa no “matrimónio” viticultura/enologia. Existem em Portugal mulheres capazes de assinar vinhos de classe mundial. Esta é uma verdade conhecida por todos? Sim, creio que sim. Os vinhos portugueses são cada vez mais conhecidos mundialmente. Temos de continuar a promover os nossos produtos, as nossas regiões e as nossas marcas, mas de há 20 anos para cá, muito tem mudado positivamente. As nossas enólogas e enólogos são, na maior parte dos casos, o rosto dos projetos e portanto é natural que sejamos reconhecidas/os como produtoras/es de vinhos de classe mundial. ▪

25 junho 2017

É

“Hoje não me vejo fazer nada que me satisfaça e complete mais que cuidar das vinhas e fazer os vinhos da Quinta do Mondego”, afirma Joana Cunha, Enóloga da Quinta do Mondego e que em entrevista nos deu a conhecer mais desta marca de prestígio e do seu percurso profissional. Conheça mais de uma Mulher que conquistou o respeito, o reconhecimento e o mérito no universo dos vinhos e não só.


LIDERANÇA NO FEMININO

» ROSELY CRUZ EM ENTREVISTA

“QUALQUER PESSOA EM QUALQUER LUGAR DEVE TER CONTROLO SOBRE A SUA VIDA” Rosely Cruz hoje é uma mulher de sucesso mas desde cedo começou a trabalhar para isso. Afirma-se como uma defensora dos Direitos da Mulher e transporta a sua vida e o seu trabalho para a causa que acredita estar esquecida em pleno século XXI no Brasil assim como no resto do mundo. É socia-fundadora do Rosely Cruz Sociedade de Advogados by “neolaw" mas esta é apenas uma das imensas coisas a que se dedica. A própria diz que tudo na vida é possível e aconselha as mulheres a tomarem, também, as rédeas das suas próprias vidas. Conheça a história e as motivações deste exemplo de simplicidade e de luta.

A

presenta-se como empreendedora, empresária, investidora anjo, advogada e pianista. Que palavras a definem? Teve modelos de empreendedorismo na família? Acredito que as características que me definem são: sonhadora, determinada, apaixonada, resiliente, atrevida, destemida, “do bem”, inovadora, flexível e acelerada. Não tive modelos de empreendedorismo na família; mas posso contar um episódio que está descrito no meu livro “Empreendedoras por Natureza”, lançado no mês internacional da mulher, março, cujo prefácio é da grande jornalista brasileira Ana Paula Padrão. No verão de 1982, recebi do irmão mais novo, Alexandre, uma proposta desafiadora: produzir em casa chupa-chupas, uma guloseima muito popular em Campinas, onde morava, e vendê-los nas ruas da vizinhança. Animada com a oportunidade de ganhar um dinheirinho extra com a gelataria caseira e reforçar a mesada paterna, partimos para a ação. Afinal, em teoria, o negócio não tinha como correr mal, sobretudo numa cidade conhecida pela temperatura escaldante. Mas não deu certo! Não foi pela falta de qualidade do produto mas devido a um “pequeno” descuido na logística. “Colocamos os chupa-chupas numa cesta, sem qualquer tipo de refrigeração e quando demos conta, estava tudo derretido antes de percorrermos o primeiro quarteirão. A despeito deste primeiro fracasso, a experiência mal sucedida trouxe uma certeza: descobri, desde pequena, que um dia seria uma empreendedora. E um ensinamento: antecipar barreiras associado a um planeamento adequado é a chave para o êxito de qualquer projeto, do mais simples ao mais complexo.

liderança no feminino

26

ROSELY CRUZ

Formou-se em Direito, o que ambicionava quando terminou o curso? Sempre acreditei – e acredito! - na assertiva e bela frase de Nelson Mandela: “A educação é a arma mais poderosa que podemos usar para mudar o mundo.” Apesar de não ter escolhido ser professora (uma das profissões que mais admiro), outra arma poderosa é a justiça, o justo e o acesso a ela. Neste contexto, idealizei fazer a diferença no mundo (ter ideias, criar, construir, vencer...), tornando possível o acesso à justiça, procurando dar o meu melhor e trazer o resultado aos clientes, o que implica o meu próprio sucesso. Hoje acrescento que deve haver inovação e menos


Assume-se como defensora de causas como empreendedorismo e igualdade de género. Que exemplos pode citar-nos sobre o seu envolvimento na defesa pelos Direitos da Mulher? Empoderar é retomar o poder. Significa que qualquer pessoa, em qualquer lugar, pode ter controlo da própria vida, definir metas, adquirir habilidades e agir. Ao tomarmos o poder, tornamo-nos as nossas próprias ativistas – ao indagar sobre a cultura da violação, ao atuar contra injustiças que afetam as mulheres, ao parar de classificar a mulher pela roupa ou pelo status de relacionamento. Empoderadas, protegemo-nos umas às outras. Neste contexto, cito os seguintes exemplos: sou palestrante na Rede Mulher Empreendedora e procuro dar inspiração às mulheres empreendedoras e mentoring individual e coletivo para mulheres e para os seus negócios, além de participar do MIA (Mulheres Investidoras Anjo) e, pro-bono ajudando mulheres juridicamente em distintas causas (uma delas – e muito sensível – foi quando uma senhora teve a filha presa noutro país por transportar drogas – ela tinha sido “mula” de traficantes). Destaco a minha participação na distinta banca examinadora do programa global do banco de investimentos Goldman Sachs e da Goldman Sachs Foundation, chamada ‘10.000 Mulheres’, o qual proporciona educação em administração e gestão de negócios a mulheres empreendedoras, com o propósito de ajudar a melhorar a qualidade da educação empresarial nos países em desenvolvimento. Como parte da iniciativa, a reconhecida instituição de ensino brasileira, a FGV – EAESP oferece um programa que proporciona às empreendedoras participantes os conhecimentos e ferramentas necessários para que elas tenham sucesso no competitivo mercado global. Projetado em parceria com a Babson College, a mais importante escola de empreendedorismo dos Estados Unidos. Finalmente, gostaria de dizer que acabei de lançar um livro sobre a minha história e da Ana Fontes, um ícone das causas de empreendedorismo feminino (fundadora da Rede Mulher Empreendedora). Trata-se de uma coleção com duas mulheres empreendedoras por livro, a cada ano, num total de cinco volumes, onde contam as suas histórias de sucesso. Seria uma das formas de empoderar as mulheres; de dizer que não importa o ramo do negócio, o estado civil, ou a idade para empreender. Acredito que é possível empreender e a ideia é disseminar essa atitude! Que análise faz sobre o empoderamento feminino no Brasil? Será um tema que, embora cada vez mais trazido para a opinião pública, é ainda exíguo? Embora os avanços sejam inegáveis, ainda há um grande abismo que separa mulheres e os homens de caminharem no mesmo patamar em aspetos profissionais, financeiros e sociais. Para elucidar a desigualdade que ainda persiste e, ao mesmo tempo, mostrar como a procura pelos direitos femininos tem vindo a ganhar peso entre mulheres e homens em toda a sociedade, cito pesquisas que revelam dados com um panorama da questão no Brasil e no mundo. A Ipsos inquiriu pessoas de 24 países para elaborar o relatório Global Advisor, focado nos temas do

Acredito que as características que me definem são: sonhadora; determinada, apaixonada, resiliente, atrevida, destemida, “do bem”, inovadora, flexível e acelerada

feminismo e de igualdade de género. Os resultados mostraram que a situação das brasileiras é preocupante: 41% das entrevistadas no país confessaram terem medo de se expressar e de lutar pelos seus direitos. Esta percentagem é bem maior que a média global, que ficou em 26%. As mulheres do Brasil ficaram apenas atrás das indianas (as mais receosas em defender os seus direitos, com 54%) e das turcas (47%). Apesar de estarmos na segunda década do século XXI, ainda há, pelo mundo inteiro, pessoas que acreditam que as mulheres são inferiores aos homens. No Brasil, 19% dos homens acredita na inferioridade feminina – e algumas mulheres concordam com eles. Segundo a pesquisa da Ipsos, 14% das entrevistadas mulheres disseram que se consideram inferiores aos homens. Na média, a percentagem geral (homens e mulheres) que concordaram com a questão no Brasil foi de 16%. No mundo, essa fatia foi de 18%. Entre os entrevistados pela pesquisa em todo o mundo, 17% disseram que a mulher não deveria trabalhar fora de casa para poder cuidar unicamente da casa e da família. No Brasil, o índice de pessoas que aprovam esta ideia foi um pouco mais baixa: 15%. A pesquisa da Ipsos foi realizada entre 20 de janeiro e 3 de fevereiro de 2017 e feita a 17.551 pessoas entre os 18 e os 64 anos, em 24 países. Em termos de equidade no mercado de trabalho,

a posição de homens e mulheres ainda é diferente. De acordo com a pesquisa realizada pela Câmara Americana de Comércio (Amcham), realizada com 350 executivos (homens e mulheres) de empresas do Brasil, 76% das organizações ainda não trata funcionários e funcionárias com as mesmas condições. Para 80% dos entrevistados, o sinal mais claro desta desigualdade é a baixa presença de mulheres em cargos de liderança. Ainda segundo a pesquisa da Amcham, 47% dos gestores acreditam que igualar os salários deve ser a maneira mais correta de promover equidade de género nos seus quadros. O facto de conciliar a carreira profissional com a maternidade e responsabilidades domésticas ainda é, na opinião dos entrevistados, o principal fator que impede as mulheres de chegarem mais longe em termos profissionais. Para 86%, o papel cultural de dona de casa faz com que muitas mulheres abandonem a carreira por não conseguirem conciliar as duas tarefas. Apesar de reconhecerem esses problemas, os gestores brasileiros ainda fazem pouco, na prática, para tentar corrigi-lo. Segundo a pesquisa, 52% dos entrevistados declararam não ter, nas suas empresas, programas formais de valorização feminina e de combate à desigualdade de género. A grande maioria dos entrevistados no mundo inteiro está consciente da desigualdade existente entre os dois géneros. Globalmente, 72% dos entrevistados disseram que existe desigualdade em termos de direitos sociais, políticos e económicos para as mulheres. No Brasil, a diferença é entendida por 78% das pessoas. O país que menos acredita na desigualdade de género é a Rússia, onde 42% dos entrevistados declararam que existem diferenças sociais e de direitos entre homens e mulheres. Então, devemos continuar a apostar fortemente no empoderamento das mulheres para mudar estes números. Em síntese, com o empoderamento dar-se-á a construção de redes sociais, o exercício do poder em prol de outras mulheres, promoção da inclusão profissional e social, criação de oportunidades por via de relacionamentos discursivos com homens, trabalho na questão da inovação social e inclusão social nos processos de inovação social, aumento da confiança e autoestima, construir uma vida melhor para as famílias, trabalho para legitimar as desigualdades envolvidas no capitalismo competitivo, formação de uma comunidade feminina destinada a reduzir a pobreza, incentivo às atividades empresariais femininas, e, acima de tudo, que as mulheres conquistem o seu espaço e alcancem o seu potencial máximo para conquistar a capacidade de tomada de decisão. Enquanto mulher e profissional houve momentos na sua carreira em que se sentiu discriminada? Como contornou a questão? Uma vez, apresentei-me a uma pessoa que veio ao meu escritório e que me disse: “é melhor aguardar pelo seu sócio”. Acho que a questão se prende na forma de como as mulheres reagem depois de situações como esta. No meu caso, simplesmente sorri e disse: “nós não precisamos dele. Sou a sócia-fundadora. Faço questão de fazê-lo brilhar e ao ter sucesso celebraremos juntos”. Quais são as qualidades que destaca como essenciais para se ser uma empreendedora de sucesso? Saber se ela está disposta a viver, a percorrer o caminho; a vivenciar um turbilhão de verbos dentro dos quais destaco: motivar, criar, liberar, cair, levantar, rir, resilir, planear, realizar, abraçar, vibrar, atrever, ousar, seduzir, chorar, comover e vencer. ▪

27 junho 2017

disrutura no mundo jurídico. Razões pelas quais estou, com os meus sócios, a desenvolver o Golaw, uma plataforma que trabalha com inteligência artificial aplicada ao Direito.


LIDERANÇA NO FEMININO

MULHER

SER MÃE OU TER UMA CARREIRA PROFISSIONAL?

É

Quanto à desigualdade de género, Marlene de Sousa Teixeira, Advogada, Partner da Teixeira&Guimarães Sociedade de Advogados, não tem dúvidas: “É claro que ainda existe, mas as mulheres confiantes, dinâmicas e que acreditam na valia da sua diferença e nas suas competências, não vêm nessa questão uma dificuldade.”

Partner da Teixeira&Guimarães Sociedade de Advogados. Fale-me um pouco sobre o seu percurso. O meu percurso foi igual ao de muitas outras mulheres. Foi o de alguém que viu oportunidades, arregaçou as mangas e pôs-se a caminho, sempre com o objetivo de fazer mais, fazer bem e deixar um marco positivo. O trabalho no terreno, o aprender na base com a consciência prática da forma como tudo se processa neste ramo, desde o início, foram marcantes e decisivos. Desde cedo que tive a noção que gostaria de preparar um caminho, autónomo, independente, de forma bem sustentada pelo que era importante ser multidisciplinar e trabalhar em áreas distintas para tomar opções de carreira. Talvez por essa razão, desde muito cedo, concebi a ideia de criar a minha própria estrutura com o objetivo de fazer algo que se identificasse com esses pressupostos, sempre com o intuito de contribuir para a dignificação da advocacia. A autonomia e a independência são corolários desta tão nobre profissão e de que tanto me orgulho. Este percurso foi surgindo, assim, naturalmente. Privilegiar a proximidade e o trabalho em equipa onde o empenho e a dedicação podem fazer toda a diferença, não é fácil nos dias de hoje.

liderança no feminino

28

Sempre soube que a advocacia era o caminho que queria seguir? Sempre não digo mas, desde muito cedo, certamente. Vejo-me como estando constantemente na busca de equidade, como certamente acontece com tantas outras pessoas que terão decidido enveredar por ramos do Direito, cujos princípios regem e sustentam a nossa sociedade. A profissão deve ser uma vocação. É sempre necessário ver-se os dois lados de uma realidade, mas dela faz parte também, com perseverança e persistência, proporcionar todos os meios que estão ao dispor, a cada um dos lados. Por outro prisma, o meu exemplo familiar sempre foi um modelo pessoal e profissional, o que me inspirou certamente nesta vontade de ter o meu próprio caminho. A advocacia ainda é uma área ligada, maioritariamente, a homens. Em algum momento sentiu esta desigualdade de género? Sim, senti e ainda sinto, mas não tem que ver com a profissão. A desigualdade de género é transversal, na sociedade e, como tal, em todos os quadrantes profissionais. Tenho noção que a nossa sociedade ainda baliza muito as mulheres à aparência física e que a competência é relegada para segundo plano, não valendo por si só. Sinto que as mulheres precisam, ainda, de fazer mais do dobro do que os homens para provar

Marlene de Sousa Teixeira

o seu valor, as suas capacidades. Fui, muitas vezes, a única mulher numa sala de trabalho e não tive problemas porque, na realidade, vi sempre essas situações como uma oportunidade pessoal para demonstrar valor, como mais uma motivação para tentar fazer mais e melhor, marcar positivamente com uma atuação digna, com ânimo, perseverança, resiliência e muito boa disposição. Esse é o meu conselho a todas as mulheres. Hoje já somos mais mas ainda somos poucas, face às enormes exigências que a sociedade nos impõe. Por isso, as mulheres confiantes, dinâmicas e que acreditam na sua diferença e nas suas competências, não vão ter nessa questão uma dificuldade. Considera que as características associadas às mulheres contribuem para uma melhor gestão de pessoas e relacionamento interpessoal? Sem dúvida. A gestão de pessoas e o relacionamento interpessoal é o mais difícil no dia-a-dia. O equilíbrio entre a sensibilidade feminina e a objetividade masculina resulta sempre numa aliança perfeita. Acredito que as vantagens das mulheres se relacionam com a maternidade mas não só, pelas características intrínsecas que as dotam de um enorme bom-senso, altruísmo, dedicação e de grande capacidade de acreditar, ensinar, motivar, cuidar, mimar, organizar, planear, comunicar, negociar. As mulheres trazem o instinto para cima da mesa da sala de reuniões e habitualmente, quando confiam nele, têm sucesso no resultado obtido. Acreditam e porque acreditam chegam mais alto, mais longe

e levam com elas quem as segue. Conseguem ajudar as pessoas e as suas estruturas a capacitarem-se e regozijam-se com o sucesso dos seus membros. Respeitam e incutem o equilíbrio entre a vida familiar e a vida profissional e, por isso, habitualmente têm equipas felizes. Equipas felizes são equipas bem-sucedidas. Ainda é mais fácil para o homem do que para a mulher conciliar os papéis que lhes estão intrínsecos e gerir a vida pessoal com a vida profissional? Julgo que sim, mas cada vez menos. A mulher e o homem têm os seus papéis bem definidos no seio familiar e estão exatamente ao mesmo nível. No entanto, a sociedade ainda exige mais da mulher. Quer muito que as mulheres sejam mães e que sejam as mães a cuidar dos filhos. Ao mesmo tempo, quer-nos presentes como profissionais, mas ainda não está preparada para aceitar bem as nossas ausências ou indisponibilidades por motivos familiares. É uma gestão ainda difícil, mas já bem melhor. Mas a mulher também ainda é muito responsável nessa dificuldade dado que, na verdade, chama a si muitas tarefas que naturalmente devem ser realizadas por ambos, sem qualquer tipo de preconceito. Mas não sinto que a sociedade esteja totalmente preparada para isso. Lá chegará. É um processo. A verdade é que não tenho dúvida que o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional é receita para o sucesso. Acredito que é possível ser-se bem-sucedida pessoal e profissionalmente e acho que todas as mulheres também deveriam acreditar. ▪


LIDERANÇA NO FEMININO

» MARIANA TORRES, RESPONSÁVEL PELA MARCA HELEN DORON EM PORTUGAL

MATERNIDADE OU CARREIRA? É POSSÍVEL CONCILIAR OS DOIS PAPÉIS As sociedades e empresas têm evoluído, no entanto se olharmos para as estatísticas, e segundo um estudo da Informa D&B, as mulheres lideravam apenas 28,5 por cento das empresas portuguesas no final do ano passado. Mariana Torres, Responsável pela marca Helen Doron em Portugal, felizmente, faz parte dessa estatística.

É

responsável pela marca Helen Doron em Portugal há quatro anos. Trata-se de uma instituição mundial com 30 anos de sucesso no ensino da língua inglesa a várias faixas etárias. Como surgiu este projeto na sua vida? O aparecimento da marca Helen Doron na minha vida foi meramente coincidência. Há algum tempo que o desejo empreendedor me motivava a estudar oportunidades de negócio e um dia o meu marido encontrou um anúncio sobre esta metodologia num Portal de Franchising. Desde logo, a aprendizagem precoce da língua inglesa captou a minha atenção e fui de imediato investigar e assistir a aulas num centro já existente. Como costumo dizer, foi amor à primeira vista.

Mariana Torres é uma jovem empresária de 32 anos, licenciada em comunicação e formada pela Católica School of Business and Eco-

MARIANA TORRES

nomics. Que desafios enfrentam hoje em dia os jovens empreendedores? Muitas vezes me têm colocado esta questão. Os maiores desafios que decorrem do empreendedorismo prendem-se com a falta de apoios e com a elevada carga fiscal que enfrentamos. Apesar de existirem alguns incentivos ao investimento e à criação de empresas, destinam-se todos a casos muito específicos em que a minha atividade/empresa não se enquadram. Assim sendo, torna-se difícil constituir equipas de qualidade e mantê-las motivadas quando as compensações financeiras não são compensatórias. Empreendedora, jovem e líder, Mariana também é mãe. E diz que este tem sido o seu principal desafio. Como descreveria o seu dia-a-dia para conseguir conciliar a vida pessoal com a vida profissional? Tenho a sorte de ser uma pessoa extrema-

Estará a sociedade preparada para o facto de as mulheres cada vez mais ocuparem lugares de chefia? Ou ainda exige demasiado da mulher a quem são atribuídos múltiplos papéis como o de mãe, esposa, dona de casa e profissional? Penso que muito se tem evoluído neste campo, felizmente. Hoje temos mulheres extremamente competentes a assumirem cargos de imensa responsabilidade. Parece-me que o mais complicado é conciliar tudo tentando não falhar em casa nem na nossa carreira. Algumas mulheres têm de fazer opções difíceis, pelo bem-estar da sua família. Tenho a sorte de, por enquanto, conseguir conciliar os dois papéis embora, naturalmente, não passe tanto tempo com o meu filho como o desejável. Homens e mulheres têm papéis bem definidos na sociedade. E no que diz respeito aos estilos de liderança também é defendido que estes são bem distintos entre homens e mulheres. O que é para si um bom líder? O género interfere, de facto, na forma de liderar? Para mim a definição de um bom líder é alguém que saiba envolver, motivar e conduzir as suas empresas e colaboradores para uma visão comum. Sou totalmente a antítese da chefia típica de ditar regras, estabelecer objetivos e mandar. Defendo reuniões de equipa regulares, brainstorming e uma delegação consciente de tarefas e responsabilidades. Não me parece que o género interfira nos tipos de liderança, a formação, a crença e os valores sim. ▪

29 junho 2017

Em 2012 abriu sua primeira unidade como franchisada em Odivelas. E apenas um ano depois, em 2013, estava a assumir a gestão da rede Helen Doron em Portugal. Na altura tinha 28 anos. Acresce o facto de ser uma mulher no mundo dos negócios. De alguma forma o género representou um obstáculo para a sua ascensão profissional? Os últimos cinco anos têm sido um desafio profissional muito grande devido a fatores diversos, mas nunca o género constituiu um obstáculo. Tenho a sorte de ter sido criada por pais permissivos e modernos que nunca me diferenciaram do meu irmão, em momento algum da nossa educação. Fui educada de forma autónoma e independente, e desde cedo habituada a viver e viajar sozinha. A única dificuldade que sinto face ao meu género feminino prende-se com a minha recente maternidade. Com efeito, com o nascimento do meu filho tive que adaptar as minhas rotinas, reorganizar os meus horários e tentar não falhar enquanto profissional nem enquanto mãe. Não tem sido fácil...

mente organizada, planeio a minha semana e a minha agenda com bastante antecedência. O meu dia-a-dia é igual à rotina de todas as mães, uma correria constante para fazer face aos meus compromissos profissionais e aproveitar ao máximo o meu filho. Claro que nem sempre é fácil conciliar estes dois papéis, mas tenho a sorte de ter uma excelente equipa a trabalhar comigo e uma família que compreende e me ajuda diariamente.


LIDERANÇA NO FEMININO

» ANABELA ALMEIDA, FUNDADORA DA AA.COM

A ESCOLHA DE SER FELIZ A FAZER O QUE SE GOSTA

A

nabela Almeida começou o seu percurso profissional na Renault onde desenvolveu competências em organização de eventos. Foram nove anos de Renault e garante que foi lá que «nasceu» profissionalmente. Posteriormente surgiu a oportunidade de criar o seu próprio negócio – a AA.COM, que já conta 16 anos. Formou-se em comunicação porque adora relacionar-se com pessoas. A veia de organizadora de eventos revelou-se quando organizou uma festa de final de ano, aos 15 anos. Em 2001 decidiu apostar sozinha numa área que sempre foi a sua paixão: a organização de eventos. “Nesta área quem não tiver paixão não é feliz. É uma área muito exigente, que nos absorve imenso tempo”. Sobre os 16 anos de AA.COM que entretanto passaram, revela que “têm sido anos de grande entrega, de realização profissional e de descoberta… É importante aprendermos algo todos os dias. A nossa obrigação enquanto agência de organização de eventos é entender aquilo que por vezes o cliente não sabe explicar e superar as expectativas. Por isso, acrescentar sempre valor, em todos os eventos, é a nossa máxima”. Na AA.COM trabalham apenas mulheres mas Anabela Almeida garante que não é por ter algo contra os homens, foi algo que simplesmente aconteceu e que é assim que funciona bem: “As mulheres são muito criativas e isso talvez se deva à nossa formatação biológica – a capacidade de conseguirmos fazer várias coisas ao mesmo tempo - e esta é uma característica que se encaixa perfeitamente nesta área”.

A confiança é a base de tudo

30 liderança no feminino

“Confiar tem sido o meu maior desafio. Não é porque considere que só eu sei fazer ou porque não valorize o trabalho, excelente e responsável, que é desenvolvido por quem trabalha comigo. O problema é exatamente ser perfecionista. Sou perfecionista e tenho dificuldade em delegar, confesso. Tenho melhorado, e tenho a noção de que só com confiança é que as relações, sejam elas pessoais ou profissionais, prosperam. Penso que hoje já aperfeiçoei bastante este «defeito», no entanto, continuo a querer estar a par de tudo”.

“Je te donne, tu me donnes”

ANABELA ALMEIDA

“Je te donne, tu me donnes” é uma lógica que lhe foi ensinada por um diretor que conheceu

É apaixonada pelo que faz e nunca quis trabalhar noutra área. Afirma que a confiança é a base para as boas relações profissionais. Em Lisboa, abriu a AA.COM - Produção de Eventos e Comunicação, uma empresa onde apenas trabalham mulheres - algo que não foi propositado mas que “assim resulta perfeitamente”. Conheça Anabela Almeida.


Se uma colaboradora tiver o filho doente não faz sentido ela perder tempo em vir trabalhar. Fica em casa. Nos dias de hoje, com toda a tecnologia disponível, ela pode trabalhar a partir de qualquer lugar. Assim, em casa, ela fica descansada por estar perto do filho e vai estar ao mesmo tempo a trabalhar de uma forma mais produtiva do que se fosse obrigada a vir trabalhar para o escritório estando preocupada com outras questões

A inspiração surge de tudo aquilo que está à nossa volta

A área da organização de eventos é uma área

em que a inspiração e a imaginação são boas aliadas. Mas onde e de que forma é possível encontrá-las? “Em todo o lado. Tenho as melhores ideias com as coisas mais simples”. A nossa interlocutora revela que existe um espaço pelo qual passa todos os dias, duas vezes, e que se trata de um local que, ora é momento de reflexão, ora de inspiração. Falamos da Ponte Vasco da Gama. À primeira impressão parece não ser nada de extraordinário, no entanto, a forma de como a vida da nossa entrevistada melhorou após a construção da ponte é motivo de compreensão. Anabela Almeida demorava cerca de duas a três horas para chegar a Lisboa, algo que fez desde a sua adolescência até 1998. Com a construção da ponte, tudo mudou e hoje cada vez que a percorre aprecia aquilo que muitos ignoram. “A ponte separa os meus dois mundos, o do trabalho e a minha casa. Adoro apreciar a paisagem que muda de acordo com as marés, isso traz-me tranquilidade e lembra-me que a minha vida mudou para melhor”, explica. ▪

Ser mãe e ter uma carreira é algo que ainda requer algum jogo de cintura e um desdobramento por parte da maioria das mulheres, para Anabela Almeida, as dúvidas também se levantam: “estarei a cumprir bem o meu papel de mãe? Os meus filhos compreendem que o meu trabalho exige que esteja muitas vezes ausente?” A resposta é sim, até porque segundo a própria “não me cobram nada apesar de tudo, pelo contrário. Isso acontece porque sabem que sou feliz a fazer o que faço. Os filhos são felizes se souberem que os pais o são e vice-versa. Trabalhar é essencial à mulher. Não é somente a questão monetária que importa, mas sim a necessidade de realização pessoal”. Sobre a posição de mulheres em cargos de liderança, a nossa entrevistada considera que já há bastantes e que a tendência é continuar. “As mulheres são boas líderes assim como os homens também o são, a problemática passa essencialmente pela oportunidade. Hoje já existem muitas mulheres a ocupar cargos de chefia e claramente que a tendência é continuarem a conquistar lugares de destaque não só no trabalho como na própria sociedade”, conclui. 31 junho 2017

na Renault e que hoje aplica no seu próprio negócio. Trata-se de “reciprocidade no trabalho”, assim lhe chamou. Dar para receber. A questão de direitos e deveres das suas colaboradoras é levada a sério. “ Se uma colaboradora tiver o filho doente não faz sentido ela perder tempo em vir trabalhar. Fica em casa. Nos dias de hoje, com toda a tecnologia disponível, ela pode trabalhar a partir de qualquer lugar. Assim, em casa, ela fica descansada por estar perto do filho e vai estar ao mesmo tempo a trabalhar de uma forma mais produtiva do que se fosse obrigada a vir trabalhar para o escritório estando preocupada com outras questões. Esta frase tem-me acompanhado sempre e como filosofia tem resultado muito bem”. Anabela Almeida afirma por isso que “um bom líder é exatamente isso! Dar e receber”.

As mulheres e os seus múltiplos papéis


LIDERANÇA NO FEMININO

» ANA SILVEIRA GOMES, DIRETORA DA AGÊNCIA REMAX 4EVER

O IMPROVÁVEL ALIOU-SE AO SUCESSO Ana Silveira Gomes é Diretora da Agência Remax 4Ever, sediada em Lisboa nas Avenidas Novas, e viu a sua criatividade ser resgatada quando, em parceria com o marido, resolveu apostar no setor imobiliário. Um mundo totalmente desconhecido para a nossa entrevistada mas que depressa se tornou uma mulher de sucesso num negócio que, para si, era “improvável”.

E

Ana Silveira Gomes

star na linha da frente de uma agência com a marca Remax, uma das mais prestigiadas a nível mundial, é para Ana Silveira Gomes, em primeiro lugar, uma enorme responsabilidade. Apesar de não ter tido qualquer experiência na área a facilidade foi encontrada numa simples questão: “este é um negócio de pessoas e nesse campo a adaptação foi natural tendo em conta a minha experiência.” Esteve ligada à área da saúde durante 20 anos e tudo mudou quando reencontrou aquele que viria a tornar-se seu marido. Sobre o mesmo diz que “tem sido um apoio fundamental no crescimento da agência” e por quem sente “uma enorme admiração pelo profissional que ele é”. Sentia-se desmotivada sem razão aparente e descobriu neste negócio que a sua capacidade criativa “estava subaproveitada”. Identificou-se com este projeto e hoje é uma mulher muito mais realizada e feliz no que faz. Há três anos que a oportunidade surgiu e desde então que tem sido “um desafio diário”.

A Remax 4Ever

liderança no feminino

32

Convidar as pessoas a trabalharem no seu projeto é destacado pela nossa interlocutora como o mais desafiante, devido às condições normais aplicadas aos consultores imobiliários – sem ordenado base -, no entanto, diz que ficou surpreendida quando percebeu que as remunerações podem ultrapassar valores de algumas profissões tidas como elite. Existem algumas particularidades na Remax 4Ever e que, embora deliberadas, são verdadeiramente díspares de outras agências da mesma marca. Falamos, por exemplo, do número de consultores – 47 até à data – quando o normal é haver o dobro ou o triplo por loja. A política de menos consultores é explicada como um fator de proximidade às pessoas: “ A partir de um determinado número deixamos de saber quem são as pessoas, não as conhecemos nem sabemos os seus nomes. Aí, tudo se torna impessoal e nós, eu e o meu marido, não queremos perder esta característica de conhecer quem trabalha connosco. São eles quem representam o ADN da empresa e que por isso mostram quem somos e como realmente trabalhamos. A boa relação com a


Uma liderança criativamente feminina

Ana Silveira Gomes destaca a impaciência, a criatividade, o rigor e o perfecionismo como aquilo que trouxe de positivo à agência, por outro lado e sobre aquilo que este negócio trouxe à sua vida lembra a possibilidade de ser o que sempre foi mas que estava adormecida na ocupação anterior: criatividade e realização pessoal. Na opinião da nossa entrevistada o ideal numa liderança é encontrar o equilíbrio entre as qualidades dos homens que são diferentes das qualidades das mulheres. “Os homens são mais focados naturalmente. As mulheres conseguem realizar várias tarefas ao mesmo tempo. Este é um facto e deve ser aproveitado”. Sobre o modo de como as mulheres têm vindo a progredir na carreira e sobre eventuais problemas que possam derivar pelo género, Ana Silveira Gomes acredita que é uma questão de tempo até que homens e mulheres sejam vistos da mesma forma no trabalho e na sociedade: “os números são reveladores. Há mais mulheres na faculdade e com melhores notas do que homens, por isso, o número de mulheres em cargos de liderança será naturalmente invertido. O importante é assumir as nossas diferenças e tirar o melhor proveito que advém daí”, afirma a nossa entrevistada.

“As mulheres vendem mais”

Apesar de considerar que há mercado para todos, a nossa interlocutora afirma que nos últimos anos são as mulheres quem têm dominado os lugares cimeiros na Remax em Portugal. A diferenciação reside na versatilidade que as mulheres possuem no geral, tendo em conta que são mais emocionais e se adaptam de uma forma natural aos vários perfis dos clientes. “Talvez pela sensibilidade ou atenção aos pormenores. Os homens são mais racionais.”

A discriminação

Ficou muito cedo responsável por si mesma e ainda na flor da idade já tinha adquirido grandes responsabilidades profissionais. “Perdi os meus pais quando era ainda muito nova e por isso o meu caminho foi sempre percorrido de forma muito independente, a liderar. No início da minha carreira, na área da saúde, senti dificuldade em fazer com que me levassem a sério, não pelo facto de ser mulher mas sim pela idade. Em 20 anos recordo-me apenas de uma situação em que aconteceu o oposto”. Ana Silveira Gomes conta um episódio que a marcou: “houve um dia em que tinha uma reunião marcada com um diretor de uma empresa que chegou à clínica, da qual era sócia, e simplesmente me disse com toda a frieza que não se iria reunir comigo. Disse-mo da seguinte forma:

«não me reúno com mulheres», respondi-lhe: «tenho um sócio e pode escolher não se reunir comigo, mas garanto-lhe que não se irá reunir nem com ele nem com mais ninguém nesta empresa». Ultrapassei, claramente, essa questão mas ainda hoje me lembro disso, talvez porque ele foi além de sisudo e rude, muito primitivo”. No final, Ana Silveira Gomes confessa acreditar que as diferenças sociais e laborais entre géneros é um tema com prazo de validade face às constantes provas que as mulheres têm dado ao longo dos tempos. Lembra, por fim, que o mais importante não é provar-se que as mulheres são melhores que os homens mas sim que o sucesso de ambos depende de uma convivência em concordância com as diferenças de cada um aproveitando tais disparidades como mais-valias. ▪

33 junho 2017

equipa é essencial para o sucesso de qualquer organização”.

Os homens são mais focados naturalmente. As mulheres conseguem realizar várias tarefas ao mesmo tempo. Este é um facto e deve ser aproveitado


LIDERANÇA NO FEMININO

» fernanda freitas

“QUEM QUER FAZER ARRANJA MANEIRA, QUEM NÃO QUER ARRANJA DESCULPAS” Esta frase deriva de um provérbio árabe mas quem a disse à Liderança no Feminino foi Fernanda Freitas. Uma figura reconhecida pelo jornalismo português mas não só. Mais importa saber que esta é uma mulher de causas, sociais e muito humanas. A simplicidade, a garra e a sensibilidade são as características impossíveis de não notar na personalidade que se afirma apaixonada pelo empreendedorismo social.

D

A importância da mentoria

“A minha vontade de querer saber mais levou-me a integrar a comunidade Women Win Win e a fazer parte da bolsa de Mentoria. Esse foi um ano de muito trabalho e que fez a diferença na minha vida, por isso recomendo vivamente: escolham um mentor na altura de começar. Não é um conceito muito conhecido em Portugal mas devia ser mais divulgado. Hoje sou mentora sempre que me pedem porque considero realmente um ponto importantíssimo para alcançar objetivos e lidar com as complicações – que são muitas – aquando da abertura de um negócio. “Não é dizer às pessoas o que fazer, é apenas orientá-las da melhor forma, dar-lhes algumas direções. Há quem já tenha cometido erros que os de agora não têm de cometer”.

pessoas que olham para o seu universo (sobretudo social), identificam problemas e que os resolvem. Eu já fazia isso sem lhe dar nome”, e como exemplo aponta o desfile de moda «Moda’r Mentalidades», um desfile que visava promover a valorização e integração social da pessoa com deficiência ou o mais recente, que nasceu em 2016, a Associação Nuvem Vitória. Este é “o meu grande projeto de empreendedorismo social”, declara. O mesmo consiste numa ação de voluntariado hospitalar pediátrico que ocorre à noite. Os voluntários vão, diariamente, ler histórias para as crianças adormecerem. Esta era uma lacuna que ainda não estava preenchida em termos de voluntariado. A formação contínua é uma valiosa forma de progredir, segundo Fernanda Freitas que explica como um curso no IES-Social Business School - a primeira escola de negócios focada na Inovação e Empreendedorismo Social- mudou a sua vida: “fiz um curso que foi fundamental, mudou a minha vida. Foi algo que me obrigou a repensar tudo aquilo que tinha na minha cabeça e a reestruturar-me internamente no sentido do meu foco”. ▪

“Afinal existem pessoas como eu”

Alguns conselhos…

“Vai custar quando começam mas vai valer a pena porque acordamos com o ímpeto de que estamos a construir algo. Façam formação contínua. Espreitem o site ou o livro “Blue Ocean Strategy” - um livro que ensina como investir em mercados inexplorados. Sempre que possível invistam num mentor, há pequenas coisas pelas quais não temos de passar e vale a pena ouvir”, conclui.

gal sou eu

fernanda freitas

mpanha portu

Diz-se verdadeiramente apaixonada por empreendedorismo social – um termo relativamente recente – mas já enraizado fazia tempo na antiga jornalista. “Curiosamente, antes de ser empresária era empreendedora social sem saber. Não fazia ideia que o era até mo dizerem”. O termo ainda é pouco conhecido mas basicamente o conceito pode ser definido como a procura pela resolução de um problema no mundo que ainda ninguém foi capaz de resolver. É aí que a sociedade civil ganha corpo e intervém. “ Ao longo de oito anos contactei diretamente com o universo da sociedade civil e descobri que lá se encontram resoluções para muitos problemas que existem. Quando comecei a fazer alguma pesquisa apercebi-me que os empreendedores sociais são

créditos: ca

liderança no feminino

34

escreve-se de forma rápida e muito assertiva: “sou uma mulher com 44 anos, mãe de uma outra já quase com 22 anos, voluntária, empresária e empreendedora social”. Nesta breve, porém, grandiosa, descrição não se lê a palavra “jornalista” porque “o jornalismo ficou lá atrás apesar de “poder um dia regressar já que tudo na vida funciona por ciclos”. Fernanda Freitas coordenou e apresentou durante quase sete anos o programa diário da RTP 2 «Sociedade Civil». “A televisão e o jornalismo foram boas experiências”, afirma mas “em determinada altura deixou de ser aquilo que queria fazer”. Decidida a abraçar novos projetos decidiu encerrar o ciclo do jornalismo e foi então que em 2013, nasceu a Eixo Norte Sul, uma empresa de comunicação e conteúdos - de uma forma improvável, aliás, como a própria confessa: “nunca pensei que me tornaria empresária”. Embora soubesse, também, que já há muito tempo o espírito empreendedor morava em si. E sobre ser empreendedora, a nossa entrevistada tece alguns comentários a ter em conta: “é algo que exige muitas competências que considero que não temos no nosso dia-a-dia, tais noções básicas de gestão ou de contabilidade. Quando comecei, não fazia a mínima ideia do que seria preciso... Entretanto passaram quatro anos desde que abri a empresa! Quando olho para trás vejo arrisquei imenso e se não tivesse tido um ótimo gabinete de contabilidade, um outro jurídico, e estar rodeada das pessoas ‘certas’, que tinham conhecimentos sólidos sobre esta aventura, não sei como teria sido. As pessoas pensam que é muito fácil abrir uma empresa e de facto é. Mantê-la é o grande desafio”. Por isso, alerta que ser empreendedora não é simplesmente ter uma boa ideia “é fundamental termos mentores, que nos indiquem os erros que não precisamos de cometer. Não podemos achar que sabemos tudo só porque tivemos uma boa ideia”. Apesar de nem sempre ter sido fácil, aliás, “nunca o é”, desistir nunca foi opção, porém, reconhece que às vezes é necessário saber até que ponto devemos ser resilientes. A Eixo Norte Sul é já um projeto consolidado e onde apenas trabalham pessoas a contrato, uma vez que, “os recibos verdes foram uma experiência pela qual passei e por isso sei a insegurança e a instabilidade que isso acarreta para as pessoas. Não se pode esperar que as pessoas venham trabalhar altamente motivadas com condições precárias”. Tornar a empresa numa B Corp é o grande objetivo da empresária: uma B Corp não ambiciona “ser a melhor DO mundo, mas a melhor PARA o Mundo!”. Fernanda Freitas só está “à espera que haja legislação nesse sentido em Portugal, para começar a trabalhar para isso”.


LIDERANÇA NO FEMININO

» RAQUEL RIBEIRO, PARTNER E HEAD OF MARKETING AND COMMUNICATION DA TRAVELTAILORS

TRAVELTAILORS

A PRIMEIRA AGÊNCIA PORTUGUESA DE VIAGENS À MEDIDA Sobre a liderança, Raquel Ribeiro, Partner e Head of Marketing and Communication da TravelTailors não tem dúvidas: “Os maiores desafios das empresas e dos seus líderes prendem-se sempre com a dificuldade em fazer escolhas. Na TravelTailors somos três mulheres líderes e tivemos que aprender a tirar partido das nossas diferenças e complementaridades”. foi excelente para as Operações e o Serviço ao Cliente. As Vendas beneficiam de uma personalidade bem-disposta, que gosta muito de contacto humano. Assim cada uma de nós dá o seu melhor.

=

=

Na sua opinião, serão as mulheres melhores líderes? O que diferencia as mulheres em cargos de liderança? Embora não acredite que mulheres ou homens sejam melhores líderes simplesmente pelo seu género, penso que os líderes podem triunfar não só por mérito próprio, mas também em virtude dos contextos sociais e culturais dos respetivos países e das organizações. Os estudos indicam que as mulheres em cargos de liderança tendem a ser mais polivalentes, percetivas e emocionalmente inteligentes do que os seus homólogos masculinos. Se isso for uma valia para uma dada organização, num dado contexto, pode fazer mais sentido que o seu líder seja uma mulher. == =

O

número de mulheres em funções de liderança tem vindo a aumentar nos últimos anos, mas ainda assim a presença feminina em cargos de chefia em Portugal ainda tem um longo caminho a percorrer. Como é estar na linha da frente da marca TravelTailors? Estar na linha da frente da marca TravelTailors é assegurar que todas as viagens que prepararmos visam superar as expectativas de quem as concretiza. Para isso, há que fomentar um atendimento excelente, totalmente personalizado, um desempenho irrepreensível e a criação de uma relação emocional duradoura com os nossos viajantes. Liderar a TravelTailors é instilar inspiração e confiança em quem vai viajar, ao mesmo tempo dando à equipa que prepara cada nova viagem a oportunidade de se sentir também “a viajar”!

Quem é a equipa de líderes da TravelTailors e quais as razões que a levaram a apostar na marca Travel Tailors? A nossa equipa foi fundada pela Lisete Cardoso, pela Paula Alves Monteiro e pela Raquel Ribeiro, colegas e amigas dos tempos de estudantes. Desde cedo, percebemos que a próxima viagem era a nossa grande “cenoura” para meses de intenso trabalho. Após organizarmos as nossas viagens e as dos amigos, em 2010

decidimos criar a TravelTailors para prover às necessidades de viajantes como nós: pessoas apaixonadas por viagens, que gostam de descobrir o mundo ao seu ritmo e ao seu gosto, de viver experiências extraordinárias – e só delas. Por isso, posicionámos a TravelTailors como a primeira agência portuguesa de viagens à medida e há sete anos que nos congratulamos por isso. Quais foram os principais desafios que enfrentaram para chegar até aqui? Os maiores desafios das empresas e dos seus líderes prendem-se sempre com a dificuldade em fazer escolhas. Na TravelTailors somos três mulheres líderes e tivemos que aprender a tirar partido das nossas diferenças e complementaridades. Nos primeiros cinco anos de atividade havia entre nós a tentação típica das mulheres gestores de PME para não “puxar dos galões”, não estabelecer hierarquias nem áreas de responsabilidade estanques. Depois de um processo de coaching, da análise do perfil comportamental DISC, entre outros estudos, percebemos a vantagem de ter um organigrama e identificar funções de autoridade por área de trabalho, por razões de eficiência e eficácia. Uma de nós é mais decidida e frontal – e por isso foi escolhida para CEO. Outra é muito cuidadosa, atenta aos detalhes – o que

Ver uma mulher em cargos de liderança ainda é visto mais como uma exceção do que uma regra. Durante o seu percurso profissional alguma vez sentiu dificuldades acrescidas pelo facto de ser mulher? Felizmente não. No negócio das viagens à medida, sentimos que uma interlocutora (mulher) coloca o seu cliente e o seu colaborador mais à vontade no plano emocional, despertando-lhe maior confiança para exprimir os seus sonhos e partilhar as suas preocupações. Uma mulher beneficia da imagem de cuidado e proteção que dedica aos que lhe são queridos, e nós reforçamos essa preocupação para com os nossos clientes. Uma sociedade equilibrada contempla a integração de homens e mulheres com igualdade de oportunidades. O sexo não torna o indivíduo nem mais nem menos apto para o desempenho de uma determinada função. O que é para si ser um bom líder? Alguém que faz cumprir os objetivos da organização através da felicidade de clientes, colaboradores, parceiros e da sua própria. O que podemos continuar a esperar da equipa de líderes da TravelTailors no futuro? A prossecução de objetivos ambiciosos que tragam alegria a quem viaja, realização a quem prepara viagens e desenvolvimento à comunidade na qual nos inserimos. ▪

35 junho 2017

PAULA ALVES MONTEIRO, LISETE CARDOSO E RAQUEL RIBEIRO


LIDERANÇA NO FEMININO

» PAULA PANARRA, DIRETORA GERAL DA MICROSOFT

“Sou apaixonada pelo que faço”

Paula Panarra

“Para mim, um líder de hoje tem de ser capaz de ser inovador, assertivo, intuitivo, construtor de pontes e inspirador”, afirma Paula Panarra, Diretora Geral da Microsoft. Saiba mais de uma Mulher que é apaixonada pelo que faz.

H liderança no feminino

36

á sete anos na Microsoft Portugal tinha assumido apenas há dois meses a direção interina quando foi nomeada para liderar a subsidiária portuguesa. Como encarou este desafio? Acredito que este é o momento ideal para acompanhar e apoiar os nossos clientes e parceiros no processo de Transformação Digital, ajudando-os a inspirar e liderar esta 4ª Revolução Industrial, que já está a ter impacto na sociedade e nas organizações nacionais. O nosso objetivo como empresa é captar para os nossos clientes e parceiros as inúmeras oportunidades de inovação emergentes no mercado garantindo igualmente o desenvolvimento das suas competências digitais, que serão a nova moeda de valorização do talento nacional. Pessoalmente o que me apaixona é acreditar poder contribuir para um país mais competitivo, inovador e socialmente sustentável e considero que tenho as pessoas, a equipa, os parceiros e a tecnologia certas para juntos o conseguirmos. Licenciada em Engenharia Química-Biotecnologia pelo Instituto Superior Técnico, e com mais de 20 anos de experiência profissional, como descreveria o seu percurso? Licenciei-me em Engenharia Química-Biotecnologia pelo Instituto Superior Técnico, e ingressei a Procter & Gamble como analista financeira. Ao longo de 15 anos desempenhei muitas outras funções, como a gestão da comunicação e marketing operacional da companhia em Portugal. Depois na Microsoft, fui diretora de Marketing, diretora de Marketing e Operações e diretora Executiva do Setor Público. Ocupei sempre posições com responsabilidades de gestão

– quer de negócio, quer de pessoas - que, em última instância, são aspetos fundamentais no dia-a-dia de um diretor geral. Sou muito apaixonada pelo que faço e pela ideia do papel transformador que uma empresa de tecnologia pode ter na sociedade, nos dias de hoje, pelo que é um grande orgulho ter tido um percurso que me permitiu chegar até aqui. Assumiu ao longo da sua carreira diversas funções na área do marketing e hoje é Diretora Geral de uma das maiores tecnológicas no país. Esteve, portanto, sempre ligada a um mundo considerado e ainda liderado, maioritariamente, por homens. Sentiu dificuldades na sua ascensão profissional pelo facto de ser mulher “neste mundo de homens”? Diria que não é propriamente uma novidade para mim. No ano em que concluí os meus estudos, no Instituto Superior Técnico – 76% dos alunos admitidos para os diferentes cursos eram homens, 24% eram mulheres. Segundo sei, este ano, a distribuição geral já está nos 69% de homens e 31% de mulheres… Portanto, as áreas da engenharia e das ciências começam a despertar mais curiosidade nas mulheres e isso é ótimo. Na Microsoft Portugal 50% da equipa de direção são mulheres. Na nossa subsidiária, as mulheres representam 31% dos nossos gestores de equipa. Pessoalmente em toda a minha carreira profissional nunca senti qualquer dificuldade inerente ao facto de ser mulher. E para conciliar papéis e tarefas? É mais difícil para uma mulher fazer a gestão da sua vida pessoal com a vida profissional do que para um homem

Sou apaixonada pelo que faço e isso facilita muito a conciliação. É sempre necessária alguma gestão e se não balizarmos as nossas duas vidas – pessoal e profissional – corremos o risco de falhar em ambas. Por isso, dedico-me muito ao trabalho, mas procuro chegar a casa a tempo de jantar com a minha família, viajar com as minhas filhas e tento desligar a sincronização dos e-mails no telemóvel durante o fim-de-semana. Apesar disso, a minha equipa sabe que estou sempre a um telefonema de distância. Mas para ser feliz preciso na verdade de ambas e isso ajuda a encontrar o equilíbrio certo. Que características considera essenciais para se ser um bom líder? Para si existem diferenças entre homens e mulheres na forma de liderar empresas e equipas? Para mim, um líder de hoje tem de ser capaz de ser inovador, assertivo, intuitivo, construtor de pontes e inspirador. Estas são características que valorizo, independentemente do género. E num processo de liderança contínuo vejo quatro pilares fundamentais: Visão – definir um caminho comum, onde vemos as oportunidades e como nos vamos transformar para alcançar os objetivos a que nos propomos; Energia – entusiasmar a equipa para percorrer esse caminho, para arriscar, para falhar e para celebrar; Capacitação – ser capaz de dotar as equipas de competências, recursos e investimentos, que permitam concretizar esse caminho; Execução – Excelência na execução diária da estratégia. Uma equipa é tanto mais criativa, inovadora e plural, quanto mais equitativa for. ▪


LIDERANÇA NO FEMININO

» SOFIA TENREIRO, DIRETORA GERAL DA CISCO PORTUGAL EM ENTREVISTA

SOFIA TENREIRO

“THE SKY IS THE LIMIT” m 2015 tornou-se Diretora Geral da Cisco Portugal – que foi eleita, este ano, melhor empresa para trabalhar pelo sétimo ano consecutivo - assumir este cargo de liderança traduz-se de que forma para si? É um enorme prazer liderar a Cisco Portugal, um escritório onde se vive uma cultura forte, colaborativa, positiva e diversa. Somos quase 400 colaboradores, onde as 36 nacionalidades existentes criam um ambiente muito rico e colaborativo. De igual modo, usamos a tecnologia e as nossas ferramentas de colaboração por forma a permitir uma total flexibilidade de trabalho, mantendo a produtividade, em qualquer local. Isto permite aumentar muito a motivação das pessoas que podem, assim, gerir da melhor forma, as suas vidas e as suas responsabilidades. Liderar esta enorme diversidade e uma empresa que é diariamente um verdadeiro Great Place to Work é um privilégio e um desafio porque todos procuramos contribuir, cada dia, para a Cisco continuar a ser a melhor empresa para trabalhar. Aceitou também um outro desafio: ser presidente da Câmara de Comércio Americana em Portugal durante três anos. Como descreve este compromisso? É uma honra ter assumido este compromisso que me permite trabalhar mais de perto com um país que me fascina e onde encontro um enorme potencial em termos de relações bilaterais com Portugal. Na maior parte da minha vida trabalhei em empresas americanas, com as quais me identifico muito, e cujas culturas e formas de trabalhar valorizo bastante. Acredito que podemos aprender muito com estes modos de trabalhar, colaborar, bem como o seu pragmatismo, transparência e estruturação. A Câmara de Comércio Americana

está a viver uma transformação motivada pela globalização e rapidez com que o mundo está a mudar, o que obrigou a repensar uma proposta de valor assente na diferenciação, nas parcerias e na partilha de conhecimento entre os dois países. Em Portugal é já uma figura incontornável quando se fala em tecnologia, porém, nem sempre foi este o segmento em que trabalhou… passou por multinacionais e por diferentes países. Podemos considerar que esta diversidade no trabalho combina com a sua personalidade? Gosta de desafios constantes? Gosto de desafios novos, de ter experiências diferentes e que me surpreendam. Por isso, sempre aceitei trabalhar em áreas muito díspares que me enriquecem e me obrigam a sair da minha zona de conforto. Ter vivido em várias cidades enquanto mais jovem (Madrid, Genebra, Porto) fez parte do meu enriquecimento como pessoa e como profissional. Aconselho os jovens de hoje a trabalharem noutros países para acelerarem a sua curva de aprendizagem, antes de voltarem para Portugal podendo, então, maximizar o seu potencial no nosso país fantástico. Por outro lado, a tecnologia é uma paixão que tenho desde os dez anos, tendo sempre estado presente na minha vida, mesmo quando trabalhei em companhias, aparentemente menos tecnológicas. Mesmo nessas, procurei sempre liderar projetos associados à tecnologia (plataformas de venda online, subscrições online, presença online de marcas, etc.). A velocidade com que a tecnologia muda e se atualiza é fascinante! Como se define enquanto líder e quais são as suas prioridades? Aposto numa liderança de proximidade que está

ao serviço da equipa e não ao contrário. Sou focada nas pessoas, quer internas (as minhas equipas), quer externas (os parceiros e clientes). Tiro energia da interação com as pessoas e com as equipas que me rodeiam. Tenho várias prioridades, todas assentes no crescimento do negócio e na transformação digital. Internamente, a prioridade é estar ao serviço das equipas para as ajudar a crescer, a transformar e acompanhar todas as mudanças que acontecem todos os dias. Externamente, foco-me nos clientes e parceiros por forma a ajudar as equipas da Cisco a serem um parceiro credível que ajuda ativamente nos processos digitais dos vários clientes e parceiros. Conhece diferentes ambientes de trabalho tanto a nível nacional como internacional, posto isto, que análise faz sobre as oportunidades que são dadas (ou não) às mulheres em contexto laboral? Apesar das muitas empresas onde trabalhei, sempre tive muita sorte por trabalhar em empresas e com chefias que acreditavam na diversidade e por isso nunca deixei de ter nenhuma oportunidade por ser mulher. Sei que esta não é uma realidade que todas as mulheres experienciam mas acredito que, cada vez mais, as empresas e os líderes entendem os benéficos da diversidade e tomam decisões de contratação e promoção nesse sentido. Por outro lado, nós mulheres temos a responsabilidade de liderar a nossa carreira e de arriscar aceitando cada vez maiores responsabilidades e desafios, saindo da nossa zona de conforto. Se ao seu empenho e motivação perante o trabalho pudesse atribuir um lema qual seria? The sky is the Limit! ▪

37 junho 2017

E

Sofia Tenreiro é Diretora Geral da Cisco Portugal e, em entrevista à Liderança o Feminino, conta de que forma tem liderado uma empresa que é pautada, sobretudo, pela diversidade. Saiba mais.


LIDERANÇA NO FEMININO

“Para uma boa liderança é fundamental empenho, alma e dedicação” “Na minha opinião para uma boa liderança é fundamental empenho, alma e dedicação”, refere Leonor Freitas, Administradora da Casa Ermelinda Freitas, uma Mulher que nunca desiste e que enfrenta todos os desafios sempre com um sentido de vencer enorme, até porque é muito exigente consigo própria.

L

eonor Freitas é a 4.ª geração de mulheres à frente da Casa Ermelinda Freitas, uma empresa familiar que se dedica à produção de vinho há quatro gerações, tendo sempre apostado na qualidade das vinhas e dos vinhos. Como é estar à frente de um negócio comandado, maioritariamente, por homens? A Casa Ermelinda Freitas sempre teve mulheres na gestão da casa, que na primeira e segunda geração, e sendo apenas uma casa agrícola em que as mulheres erram a minha bisavó e avó (Leonilde da Assunção Germana de Freitas devido à morte prematura dos maridos), conseguiram manter e dar continuidade ao negócio. Na terceira geração foi o meu pai o homem que esteve mais tempo à frente de uma casa que já era vitivinícola, também ele faleceu muito cedo. Com a sua morte a minha mãe (Ermelinda de Freitas) necessitava de ajuda e sendo eu filha única, e não tendo sido capaz de vender, mais uma vez é outra mulher que impulsiona e gere a Casa Ermelinda Freitas, a quarta geração (Leonor Freitas). Penso que não está no gene das mulheres da família, mas também penso que acabamos por passar o amor da terra e do setor da vinha e do vinho, de geração em geração. É verdade que quando cheguei ao negócio e a este sector ele era maioritariamente gerido por homens, mas eu estava decidida em ir em frente, porque penso e afirmo com toda a certeza que não há lugares para homens e para mulheres, há as pessoas certas nos lugares certos.

liderança no feminino

38

Com formação fora da área vitivinícola, licenciada em Sociologia, tomou a liderança da empresa reforçando assim a presença feminina na sua gestão. Como foi abraçar este desafio? Porque o fez? Abracei este desafio, Casa Ermelinda Freitas, que resultou do amor que a minha família tinha à terra, as vinhas, e ao vinho, e que me passaram com o seu exemplo de trabalho. Devido a este amor não tive coragem de vender os 60 hectares que a família tinha na altura, bem como uma adega tradicional. é assim que começo na luta de ver se consigo levar a casa em frente e não vender. Não foi um desafio fácil, foi necessária uma luta diária de muito trabalho, de muito respeito pela ajuda e trabalho de todos, e sempre numa grande aposta na qualidade do produto final que é o nosso vinho. Foi com a atual gestão que se deu a grande mudança de se criar marcas próprias. Cria a marca Casa Ermelinda Freitas, em homenagem à mãe, e inicia de imediato a internacionalização dos vinhos, transformando-a num sucesso. Qual é o ‘segredo’ do negócio? Na minha opinião no sucesso não existe segre-

estímulo mas também uma responsabilidade acrescida? Foi para mim uma grande honra, ter sido condecorada em 2009 com esta comenda, pelo Presidente da República sua excelência Dr. Professor Aníbal Cavaco Silva, mas interpretei e manifestei que esta comenda era partilhada com o mundo rural ao qual eu pertenço, tendo recebido a mesma como um sinal de prestigio pelo trabalho rural. Na nossa casa todos os prémios, e tem sido muitos, mais de 700, são recebidos com alegria mas com grande responsabilidade, e sempre na aposta pela continuidade de respeitar e melhorar a qualidade em prol dos nossos consumidores.

Leonor Freitas

dos. Existe sim paixão, acreditar em nós próprios, compreender que não sabemos e aproveitar e valorizar quem sabe, fazendo aqui uma referência especial ao enólogo Jaime Quendera, que também enfrentou, em conjunto comigo, desde o início este grande desafio. Em súmula temos de trabalhar bem, contar com uma boa equipa, que é o caso ainda hoje presente na Casa Ermelinda Freitas, e fazermos o melhor vinho ao melhor preço indo sempre ao encontro do consumidor, pois é ele o nosso maior bem e é para ele que nós trabalhamos. Logo de início criamos as marcas “Terras do Pó”, “Dona Ermelinda”, “Quinta da Mimosa”, mais tarde as Monocastas (atualmente 12 garrafas diferentes), o Moscatel de Setúbal e os Espumantes. O mercado português foi logo o nosso principal mercado, mas em simultâneo começamos a ir para feiras internacionais e fomos persistindo em ganhar mercados externos, e ainda hoje lutamos sempre por novas oportunidades. Começamos a enviar os nossos vinhos para os maiores concursos internacionais, e hoje podemos afirmar que temos mais de 700 prémios ganhos nos principais concursos do mundo. Isto foi muito importante na vertente de aferirmos que estávamos no caminho certo, de que a nível internacional gostavam dos nossos vinhos, e que muito ajudou a divulgar a Casa Ermelinda Freitas. Não basta ser bom, temos também de se conhecidos. Pelo trabalho desenvolvido, Leonor Freitas foi agraciada em 2009 com a comenda de Ordem do Mérito Agrícola, Comercial e Industrial Classe do Mérito Agrícola Comendador. É um

A sua filha, Joana, é responsável pelos mercados internacionais. Perspetiva-se como a sua sucessora, sendo a 5ª mulher a assumir o comando da Casa Ermelinda Freitas? Tenho dois filhos, um João e uma Joana, ambos trabalham na Casa Ermelinda Freitas, e serão a continuidade da família a 5ª geração. O João é o homem das tecnologias e redes de informação, e a Joana é de gestão e com as características para dar a continuidade à gestão da Casa Ermelinda Freitas no feminino. Sendo assim vamos ter mais uma mulher, na 5ª geração à frente da Casa Ermelinda Freitas. É para mim muito compensador e entusiasmante ter dois filhos muito diferentes que se adoram, se complementam, e dão os seus diferentes contributos na continuidade do negócio Leonor Freitas dirige com empenho, alma e dedicação a Casa Ermelinda Freitas. São estes os ingredientes para uma boa liderança? Na minha opinião para uma boa liderança é fundamental empenho, alma e dedicação. Mas é sobretudo importante envolver a equipa com que se trabalha, aproveitar os saberes de cada. É fundamental ter a capacidade de transformar os momentos negativos em positivos, mas também quando tudo está bem ter a humildade de saber que nada é permanente, e que os momentos altos também se podem transformar em baixos. É no equilíbrio da luta, da humildade, e do respeito pelo outro, que eu acho que conseguimos uma boa liderança. Que projetos gostaria de ver ainda realizados? A Casa Ermelinda Freitas é uma casa dinâmica que procura sempre novos projetos e objetivos. O futuro a deus pertence, mas do que depender da nossa parte iremos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para continuar a fazer sempre o melhor. É esta a filosofia da Casa Ermelinda Freitas, fazer sempre o melhor para poder oferecer o melhor aos nossos consumidores, e é para eles que vai o nosso grande agradecimento pelo nosso sucesso. ▪


LIDERANÇA NO FEMININO

» SARA DIAS, DIRETORA COMERCIAL DA JOB IMPULSE

O IMPULSO DA MULHER NOS RECURSOS HUMANOS

Sara Dias é Diretora Comercial da Job Impulse em Portugal e tornou a multinacional alemã especializada em recrutamento numa empresa de sucesso em Portugal.

S

Job Impulse O desafio

“Estou na Job Impulse há três anos. Somos uma empresa multinacional com mais de 12 anos de experiência em Gestão de RH. Em Portugal iniciamos o nosso projeto há quatro anos. A minha carreira profissional nesta área começou há 14 anos, altura em que conclui a minha licenciatura. sempre fui muito dedicada, trabalhadora e focada em atingir os meus objetivos, só assim foi possível adquirir as competências de liderança e de gestão necessárias para chegar onde estou”.

Os números também são motivo de orgulho para a diretora comercial uma vez que, apesar da Job Impulse ter pouco historial em Portugal, quando foi convidada para aceitar este desafio, conseguiu num ano atingir um milhão de euros de faturação. “Acreditei desde o primeiro segundo naquilo que ainda acredito, que este é um projeto de sucesso, assegurado pela excelente equipa de trabalho que temos em Portugal e por uma administração alemã que sabe como motivar e liderar. Temos todas as condições para sermos líderes de mercado”. “Abracei este projeto com toda a minha dedicação e empenho e acredito que é necessário correremos riscos, pois só assim conseguimos perceber até onde poderemos evoluir”.

A participação das mulheres no mercado de trabalho depende…

SARA DIAS

Ao longo do meu percurso profissional contactei com diferentes formas de liderança e gestão que me ajudaram a perceber aquelas que iria ou não adotar

Na opinião de Sara Dias, elas não são melhores nem piores gestoras. “Trata-se de características distintas, nomeadamente a nível de personalidade. As mulheres são mais sensíveis a algumas questões do que os homens. Em empresas mais conservadoras ainda prevalece a ideia de que a liderança é para homens. Já passei por situações em que me perguntaram se queria ser mãe porque a vaga poderia estar dependente dessa minha decisão. Aqui na Job Impulse somos a favor da maternidade e da igualdade e defendemos esse direito de forma séria. No entanto, começo a notar gradualmente que as mulheres têm vindo a assumir cada vez mais cargos de liderança, as mentalidades estão a mudar e são sobretudo as nossas competências que prevalecem e não o nosso género”. A área dos recursos humanos é ainda, tradicionalmente, feminina. “Esta é ainda uma área maioritariamente ocupada por mulheres, de facto, e faz algum sentido. As mulheres por norma são mais sensíveis, têm uma forma diferente de transmitir o conforto necessário para motivar/ajudar os outros, tão importante na função dos RH”, conclui Sara Dias. ▪

39 junho 2017

e não se tivesse dedicado à área dos RH teria seguido a área de intervenção comunitária pelo gosto e facilidade na relação interpessoal. A sua atual área profissional permite-lhe o contacto com muitas pessoas e, em muitos casos, a possibilidade de as ajudar ao mesmo tempo que cria oportunidades de negócio. Sendo uma pessoa versátil, otimista e confiante na apresentação de soluções eficazes e criativas aos clientes e colaboradores, mais facilmente Sara Dias ultrapassa os desafios e obstáculos com que lida diariamente nesta área. Como receita para uma boa gestão e liderança, Sara Dias acredita que devemos sempre manter uma postura de observador. Analisar o que acontece ao nosso redor para desta forma encontrarmos soluções eficazes para cada problema. Não devemos hesitar na tomada de decisões, sermos bons ouvintes, termos sempre muita confiança e iniciativa sem nunca esquecermos a humildade. “Ao longo do meu percurso profissional contactei com diferentes formas de liderança e gestão que me ajudaram a perceber aquelas que iria ou não adotar”. Define-se como uma pessoa confiante, boa ouvinte, versátil e nada avessa à mudança. “Não devemos ter medo da mudança. Ela assusta, mas pode ser a chave daquela porta que tanto desejamos abrir. Tenho uma paixão por aquilo que faço e esse é o segredo para o sucesso”.


LIDERANÇA NO FEMININO

“Perfila-me, sobretudo, o estilo colaborativo”

I

liderança no feminino

40

Para Ana Paula Costa, Responsável de Formação na Fórmula do Talento, ainda estamos muito longe do desejável no que concerne à paridade entre géneros, embora augure um futuro mais justo e equitativo. Saiba mais sobre a nossa interlocutora, que foi reconhecida com o Prémio Formador do Ano, em 2013.

niciou o seu percurso profissional numa multinacional, tendo passado por vários tipos de empresa e diferentes funções, como a formação, a organização de eventos e a consultoria. Explique-nos como foi trabalhar em segmentos tão distintos. Este meu percurso diversificado foi um processo natural, pois comecei a trabalhar muito jovem, para prover aos meus estudos. A minha primeira experiência corporativa deu-se, mal entrei na maioridade, com a sorte de ter sido acolhida por uma multinacional de referência (Xerox), onde pude aprender com os melhores. As minhas melhores escolas foram, sem dúvida, as grandes organizações (a passagem pela farmacêutica Merck foi outra experiência deveras desafiante), mas convivi com uma pluralidade de empresas, quer fazendo parte da estrutura, quer na qualidade de formadora. A formação constitui, claramente, uma grande parte da minha vida. Teimo em dizer que ser formadora não é a minha profissão, ainda que a ela me dedique de há vinte anos a esta parte. Dar formação é, para mim, uma mistura de um arte, missão e vício. A gestão da formação foi uma inevitabilidade: há muito que nela intervinha de forma não oficial, quando aceitei dirigir um centro de formação na área do turismo. Compreender as necessidades das empresas; desenhar soluções de desenvolvimento das suas pessoas; selecionar e apoiar os formadores ao longo do processo pedagógico, de modo a garantir o sucesso dos projetos, é algo que faz todo o sentido para mim. Trabalhar na Fórmula do Talento, o meu mais recente projeto, ofereceu-se-me como uma oportunidade de integrar a formação numa lógica mais ampla, a do desenvolvimento do capital humano, a minha grande área de interesse. De que forma é que esse percurso distinto e multifacetado a fez crescer como líder, e quais as particularidades que melhor a caracterizam como tal? Líder? Quem andou a dizer uma coisa dessas...? (Risos) Se algum tipo de liderança exerço, será, porven-

ANA PAULA COSTA

tura, uma liderança pelo exemplo. Na formação, imodestamente, admito que sim, que poderei ser uma referência para alguns. A qualidade da formação é a minha luta. Sempre fui muito crítica e, confesso, algo contestatária. E sou igualmente exigente na seleção de formadores, inclusive colegas com quem mantenho relações de amizade. É a minha forma de dar o melhor à comunidade no que respeita à aquisição de novas e efetivas competências. Um líder deve ser capaz de orientar pessoas e de extrair o melhor de cada qual, ter o dom da comunicação, forte senso de justiça, capacidade de inspirar e transmitir confiança, de promover o crescimento e incutir responsabilidade. Obviamente, sou uma mera aprendiz de feiticeira, mas todos estes são valores que me perfazem. Nas equipas que liderei, quer em contexto pedagógico, quer corporativo, sempre apostei na complementaridade, procurando saber fazer o que os outros fazem e que estes saibam fazer o que eu faço. Perfila-me, sobretudo, o estilo colaborativo. Em 2013 foi reconhecida com o Prémio Formador do Ano. De que forma este reconhecimento influenciou o seu trajeto profissional?

A visibilidade que isso me trouxe não terá sido tão significativa assim. Era o primeiro congresso nacional de formadores, longe ainda da notoriedade que hoje tem. Mas confesso que foi delicioso assistir ao orgulho e ao afeto dos meus formandos e ao respeito e carinho dos meus pares. Esse sim foi o maior prémio. Uma consequência interessante é que o mercado passa a ter um certo receio de que pratiquemos honorários avultados. Mas como já antes não era low cost, não mudou grande coisa. Outra, é o rótulo que recai sobre o profissional: como se custasse a entender que um formador não tem que ser só formador. Na minha opinião, na maioria dos casos nem deverá sê-lo, e sim um profissional com uma robusta experiência prática na sua área de especialização. Na verdade, ser reputado como especialista de formação pode ter tanto de positivo como ser condicionante. Fica por vezes difícil convencer o mercado de que não sirvo só para formar e treinar pessoas, conceber ações e gerir processos, quando há muitas coisas para as quais considero que tenho jeito e que me fazem feliz, sem ser o que faço ou o que já fiz. Sente que uma mulher tem de fazer e provar mais do que um homem para chegar a uma posição de destaque no seio de uma organização? Estamos muito longe do desejável no que diz respeito à paridade entre géneros, é um facto. Estudos apontam para um claro desfasamento nomeadamente quanto à atribuição de responsabilidade e à remuneração, de entre outras dimensões. É notória, porém, uma evolução, e em algumas áreas profissionais as diferenças são menos flagrantes. Depende também de múltiplos fatores, de entre os quais o tipo de função em causa e, lamentavelmente, a vida privada das profissionais. A maternidade, por exemplo - porventura o mais exigente tipo de liderança que se pode experimentar - continua a ser penalizada. Seja como for, as mulheres são realmente uma força da natureza, capazes de superar o desgaste (físico e emocional) que tantas vezes as acomete. Auguro tempos mais justos e equitativos. ▪


LIDERANÇA NO FEMININO

» DULCE FORTE EM ENTREVISTA

UMA MULHER

QUE PODE MUDAR O SEU MUNDO Dulce Forte, Co-Fundadora e Presidente da Direção da AESS, e Diretora Geral da DSolutions é “mãe de dois filhos adolescentes, voluntária da Acreditar e alguém que acredita que pode mudar o mundo, ou pelo menos, o mundo de algumas pessoas com quem se cruza”. E afirma acreditar, sobretudo, nas pessoas e no potencial que cada uma tem por explorar.

Os portugueses estão bem educados financeiramente? Após dez anos de consultoria financeira e a acompanhar pessoas e famílias com problemas financeiros posso afirmar que não. Esta afirmação é confirmada por dados concretos porque, ao contrário do que era expectável, o endividamento das famílias portuguesas aumentou em 2016. A retoma da economia previa o contrário, mas os dados divulgados pela DECO em janeiro mostram que houve um acréscimo substancial de pedidos de apoio em relação a 2015. De 2014 para 2015 o crescimento tinha sido mínimo. O desafio da AESS, desde a sua constituição, é transmitir a toda a população os conceitos básicos da educação financeira. Começamos pelas crianças porque elas são os futuros cidadãos que queremos formar e educar. A pensar neste pressuposto lançamos em 2015 dois livros sobre a gestão do dinheiro, que têm como destinatários principais, crianças e jovens. Nestes livros pretende-se, de uma forma simples e prática, explicar o que é afinal gerir dinheiro.

Nome: Dulce Forte Função: Diretora Geral da DSolutions Co-fundadora e Presidente da Direção da AESS

Ser um cidadão financeiramente saudável é transformar o dinheiro num aliado

Desenvolvemos também programas de educação financeira para jovens, adultos e seniores. Além destas populações temos uma grande responsabilidade social para com os grupos em risco de exclusão social que têm ainda mais necessidade de ter conhecimentos e educação nesta temática dado que são muito mais vulneráveis.

É, paralelamente, Diretora Geral da DSolutions, uma empresa reconhecida pelo desenvolvimento de projetos de formação tendo em vista a valorização do Capital Humano. Que importância assume, atualmente, o capital humano nas organizações? Sem o Capital Humano as organizações não existem. As pessoas são cada vez mais uma preocupação das organizações, e atualmente são reconhecidas como os principais ativos das empresas, que se preocupam, como nunca, com o seu bem-estar a todos os níveis. Senão vejamos, e fazendo uma ligação à educação financeira, ou à falta dela. Um colaborador endividado tem um impacto, na maior parte dos casos ainda não quantificado, na produtividade de uma empresa e consequentemente nos seus resultados. Uma empresa com recursos humanos financeiramente “doentes” dificilmente será saudável. As empresas começam a estar atentas a este fenómeno e a contratar programas de formação que visam apoiar e colmatar as áreas em que o seu Capital Humano sente mais debilidades. Considera-se uma pessoa com capacidade comercial e de liderança, espírito de equipa e foco na resolução de problemas. São estas as principais características para uma boa liderança? Sim, uma boa liderança tem que ter presentes todas estas características e estar muito ciente disso mesmo. Tenho tido diferentes desafios ao longo dos anos e em cada um deles tem sido necessário dar mais ênfase a uma ou outra característica de forma individual, mas tendo sempre presentes todas como um todo que fazem parte do ser humano que sou, em primeiro lugar. E fora do mundo dos negócios, quem é Dulce Forte enquanto mulher? Mãe de dois filhos adolescentes, voluntária da Acreditar, alguém que acredita que pode mudar o mundo, ou pelo menos, o mundo de algumas pessoas com quem se cruza. Acredito, sobretudo, nas pessoas e no potencial que cada uma tem por explorar. ▪

www.economia-sustentavel.com | Email: geral@economia-sustentavel.com | Telm: +351 219 834 310

41 junho 2017

D

ulce Forte é Co-fundadora e Presidente da Direção da AESS, uma Organização não-governamental que tem como premissa Formar, Educar, e Sensibilizar para a Educação Financeira. De que se trata este conceito de “Educação Financeira? A Educação Financeira trata de um conjunto de informações básicas sobre como fazer uma melhor gestão do próprio dinheiro. Envolve ferramentas para elaborar e controlar o orçamento pessoal ou familiar - como comprar, poupar e investir e, de um modo geral, como gastar o dinheiro de forma saudável visando atingir os objetivos de forma racional e equilibrada. Ser um cidadão financeiramente saudável é transformar o dinheiro num aliado e para isso há que, tal como em tudo na vida, fazer opções, tomar decisões e desenhar um plano, neste caso financeiro. Podemos dividir esse plano em três partes principais: despesas/dívidas, sonhos/objetivos, poupança/investimentos. Isto é “Educação Financeira”!


LIDERANÇA NO FEMININO

“A boa liderança não tem género” “Não somos nós que nos qualificamos como líderes, mas o que procuro fazer é inspirar e motivar os que trabalham comigo”. Quem o afirma é Paula Guimarães, Presidente do GRACE em representação da Fundação Montepio, que lembrou que se continua a verificar desigualdade de género e que há um caminho árduo a percorrer.

A boa liderança não tem género. É fundamental ser verdadeiro, próximo, empenhado. Acreditar em si próprio, nos outros, saber olhar à volta e antecipar o futuro. Há mulheres e homens capazes de serem bons líderes e precisamos de todos a construir em conjunto

PAULA GUIMARÃES

P liderança no feminino

42

aula Guimarães é Presidente do GRACE – Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial desde 2013. Como recebeu este desafio? Com muita satisfação, mas com sentido de responsabilidade. O GRACE é a maior associação de empresas na área da responsabilidade social, reunindo 150 entidades de todos os setores de atividade, dimensões e percursos e é um enorme desafio corresponder às múltiplas expectativas. Quando assumiu a liderança do GRACE afirmou que era cada vez mais importante e imperativo sensibilizar as empresas para as práticas de responsabilidade social e para o compromisso que devem assumir para com o país. E hoje? Por onde passam os objetivos do GRACE? Continua a ser preciso fazer esse trabalho. As empresas portuguesas estão no bom caminho e todos os dias encontramos bons exemplos, mas é preciso estimular as parcerias, a ligação ao território e à comunidade envolvente, a coerência entre responsabilidade interna e externa, a transparência e a convergência da cadeia de valor. Ainda faltam muitas frentes de atuação. Diz que “vivemos hoje um tempo de descredibilização e dessacralização generalizada das formas de exercício do poder, que põe à prova os líderes e a sua estratégia”. O que é preciso

nos dias de hoje para uma boa liderança? É preciso ser autêntico! As pessoas são cada vez mais exigentes relativamente aos decisores e aos detentores do poder. É importante liderar pelo exemplo, exercer as funções com a noção da sua transitoriedade, com espírito de serviço e em colaboração. Investir o máximo no mínimo que se faz. O GRACE tem trabalhado intensamente este tema, procurando refletir sobre as dificuldades de liderar neste tempo de profunda e rápida mudança. E quanto a si o que a caracteriza enquanto líder? Não somos nós que nos qualificamos como líderes, mas o que procuro fazer é inspirar e motivar os que trabalham comigo. Fazê-los acreditar que vale a pena e que temos todos uma missão. O mais difícil é garantir a auto motivação permanente. Temos que ser, antes de mais, líderes de nós próprios. A desigualdade de género que a sociedade ainda enfrenta é uma realidade para si? Em algum momento, durante o seu percurso profissional, o facto de ser mulher significou um obstáculo para a sua ascensão? Continua a verificar-se desigualdade de género e há um caminho árduo a percorrer. Não vivi diretamente nenhuma discriminação mas pertenço a uma minoria e é preciso ter a

noção da realidade vivida por muitas pessoas. Por outro lado, importa desconstruir a ideia de que desempenhar funções de coordenação é uma “ascensão”. A liderança deve ser entendida como um exercício de aperfeiçoamento e uma das coisas de que discordo é com o facto de muitas vezes se encarar a chegada a um cargo de chefia como um processo irreversível de escalada. Fala em liderar para a diversidade. Em que sentido? Creio que é importante dizer que o combate às desigualdades, que é, aliás, um dos objetivos de desenvolvimento sustentável, abrange muito mais do que o género. Diz respeito à idade, à condição económica, à orientação sexual, etc. Liderar para a diversidade significa valorizar as diferenças, rentabilizá-las a favor da organização, tirando partido da multiplicidade de vivências e perspetivas. A promoção da diversidade é uma alavanca de inclusão. Que mensagem gostaria de deixar aos novos líderes e, em especial, às mulheres líderes? A boa liderança não tem género. É fundamental ser verdadeiro, próximo, empenhado. Acreditar em si próprio, nos outros, saber olhar à volta e antecipar o futuro. Há mulheres e homens capazes de serem bons líderes e precisamos de todos a construir em conjunto. ▪


LIDERANÇA NO FEMININO

» Angélica Leandro de Magalhães da Agency Perfect Doll

QUANDO O EMPREENDEDORISMO COMEÇA AINDA EM CRIANÇA Angélica Leandro de Magalhães, nasceu há 24 anos na Queimada do Milho no agreste sertão brasileiro. Empreendedora desde os nove, é trabalhadora independente por opção. Defende que os projetos crescem mais rápido se entendermos o outro como um igual e que as empresas só têm a ganhar se olharem para o trabalho freelancer como sócio dos seus negócios.

Apesar de jovem já conta com dez anos de experiência. Que história pode ser contada sobre o seu percurso? Venho de um lugar remoto, na Bahia, onde as mulheres são quase escravas e casam ainda crianças. As meninas servem para criar os irmãos e assumir toda a lida doméstica. Aos seis anos tomava conta de dois.

FOTO: PEDRO MATOS

Como é um dia normal na sua vida? Felizmente não os tenho. Para quem gosta de aventuras, África é um prato cheio. Luanda é difícil. Apesar de ser a capital de um país rico e promissor, não se engane que é a cidade mais cara do mundo mas as infra-estruturas deixam muito a desejar. O trânsito é caótico e a distância mede-se em horas. Aproveito para responder a e-mails, pôr as redes sociais em dia e gerir a relação com parceiros e clientes. Nem me atrevo a conduzir à semana. As constantes falhas de eletricidade e a falta de combustível obriga até a racionar o gerador. É raro termos luz 24 horas. Sem energia não há água. A gestão rigorosa do tempo e a habilidade de reajuste são uma obrigação. Há que ter sempre um plano B. Mas, quando a atividade começa, como por magia, tudo se vai encaixando na perfeição. Apesar da alguma falta de formação, a capacidade de improviso e a solidariedade dos angolanos é fantástica. No fim tudo acaba bem ainda que muitas vezes já no plano F.

ANGÉLICA LEANDRO DE MAGALHÃES

Para o meu pai, comerciante, a família tinha de trabalhar por casa e comida. Por isso, aventurei-me por conta própria. Aos nove já era empreendedora. Catava vagens, pastoreava ovelhas e limpava casas de idosos a troco de sabonetes, bananas e roupas usadas. Aos 11 comecei a exigir salário e a poupar. Como quase todas as meninas do povoado "saltei" a infância. Aos 14 «casei». Cedo descobri que não queria viver assim e fugi para Salvador. Trabalhei como babysitter a troco de abrigo. A minha avó fez-me regressar. Voltei, mas já como revendedora da Avon. Nas férias, em Maceió, entrei nos eventos para tapar uma falha. Adorei, mas como era menor não pude ficar. Ficou o bichinho. Assim que terminei o secundário fui para Aracaju. Adoptou-me uma mulher fantástica a quem devo muito do que sou, Vanda Gonzaga, dona da churrascaria Brasa Viva. Apaixonei-me pela restauração. Apoiada voltei a estudar. Fiz todos os cursos profissionais que consegui. Com formação comercial e de marketing senti-me capaz de tudo e sai para São Paulo. Fui bater a uma loja onde outra pessoa fabulosa apostou em mim, Catarina Conservani, de quem ainda sou sócia na Sax Grifes. Irrequieta, acumulei a

gestão da loja com o protocolo na Casting Vip. Com a visibilidade dos eventos, surgiu a moda. O fotógrafo Thiago Drumond abordou-me via Instagram e levou-me à Allure. Umas horas de conversa no aeroporto de São Paulo e apaixonei-me pelo meu marido. A inteligência é sexy. Fomos mantendo a relação à distância mas namorar via internet não nos chegava. Na primeira oportunidade parti para a Europa. França, Espanha e Portugal onde ficou a morar o meu coração. No Porto nasceu o meu filho. Como ele vivia a maior parte do tempo em Luanda, vim para cá. O mercado recebeu-me muito bem. Optei por me estabelecer como freelancer. Primeiro porque com um filho pequeno necessitava da flexibilidade, depois porque escolhendo a parceria certa para cada cliente podia servi-los melhor. Consegui que as empresas vissem o freelancer como um sócio dos seus negócios. Os projetos crescem mais rápido quando entendemos o outro como igual. Ser mulher é uma mais-valia nas áreas em que trabalha? Porquê? Apesar de ter nascido no século XX, cresci num lugar onde as mulheres não têm direito à auto-estima. Os homens, pouco cultos, impõem o estatuto. Às meninas é vedado o acesso à educação e as que querem evoluir são muitas vezes vítimas de violência. Hoje vivo num mundo onde se premeia a dedicação como uma característica de um bom profissional que vai além da mera questão sexual. Enquanto empreendedora que mensagem gostaria de deixar a quem vai ler a sua entrevista? Tudo depende de si. A nossa ação surge do que consideramos importante. Só temos de vencer a barreira psicológica que nos impede de encarar desafios. Tive muitos dias confusos, vazios. Nasci num país onde a violência contra a mulher é genericamente aceite. Há as que se conformam e as que, como eu, não. Para chegar onde a maioria não chega, é preciso fazer o que a maioria não faz. Foi difícil, mas só quando sai da minha zona de conforto é que me permiti ser feliz. ▪

43 junho 2017

C

om uma carreira profissional repartida por quatro áreas, a moda, a recessão de eventos, o protocolo e a restauração… como e quando descobriu o que queria fazer? Para ser sincera nem sei se já descobri a minha vocação. As áreas foram-me encontrando. O que sempre quis foi ser uma profissional independente. Poder escolher quem e o que amar. Ser a dona das minhas escolhas. Trabalho desde que me conheço. Aos 15 anos já tinha ganho o suficiente para comprar um terreno, que ainda tenho. Adoro trabalhar. Fico angustiada se não me sinto útil. Todas são tão divertidas que as sinto como hobbies.


LIDERANÇA NO FEMININO

» SOCIEDADE MANO & RODRIGUES EM DESTAQUE

TRÊS PERSONALIDADES UNIDAS PELA ADVOCACIa

Paula Mano, Ana Dias Ferreira e Cátia Silva Pereira são advogadas e sócias na Sociedade Mano & Rodrigues. Afirmam que não é preciso ser-se uma supermulher para construir uma carreira de sucesso, porém, existe uma certeza: é preciso muito trabalho e alguns sacrifícios para o conseguir.

ANA DIAS FERREIRA, CÁTIA SILVA PEREIRA e PAULA MANO

C

ompetência, rigor e dedicação, garantem ser as palavras que as descrevem. São as três advogadas de sucesso, com um empenho visível e gosto enorme pelo que fazem.

liderança no feminino

44

Um conceito com base no cliente

Paula Mano começa por explicar o conceito da sociedade, que não é comum: “a atenção e acompanhamento que vamos dando ao cliente vem de uma política de grande proximidade. Tentamos fazer a diferença desde a fase de contratação, não acredito em currículos, não me dizem rigorosamente nada. Para ser um bom advogado tem de se apresentar bons resultados. Temos uma taxa de sucesso muito elevada e por isso temos conquistado clientes durante estes anos todos, conseguimos mesmo exceder as nossas melhores expectativas. Temos muito mais do que pensávamos algum dia ter. Aqui não podemos perder processos, temos que os ganhar". Esclarecem que por uma questão de rigor e de êxito, as áreas dos profissionais estão divididas por especialidades e que é desta forma que se garantem os bons resultados.

O início

Paula Mano teve um percurso marcado por

dedicação a “tempo inteiro” e antes de constituir a sociedade esteve noutra sociedade onde era uma das seis sócias. “Aquela era uma sociedade com alguma dimensão. Em 2010, percebi que já tinha capacidade para caminhar sozinha e, juntamente com o meu pai, abri esta sociedade, convidei pessoas com quem tinha trabalhado a fazerem parte deste projeto, nas quais acreditava e ainda acredito muito”. Entraram como sócias Ana Dias Ferreira e Cátia Silva Pereira. Outras pessoas também se destacaram, segundo a fundadora, e aponta Carlos Silvares e Daniel Varão Pinto como exemplos. Com uma equipa moldada à sua imagem, Paula Mano diz sentir-se segura das suas escolhas. Cátia Silva Pereira, conta como foi aceitar o desafio de se tornar sócia de uma sociedade com apenas 29 anos: ”aceitar este desafio foi acima de tudo perceber o voto de confiança que a Dra. Paula me deu. Esta é uma luta diária, através do trabalho tenho de provar que esse voto de confiança foi merecido. Isso vê-se no dia-a-dia, ao mantermos um nível de qualidade a que estão habituados os nossos clientes e também conseguir que eles nos tragam mais clientes. É um prazer enorme trabalhar com a Dra. Paula e com a Dra. Ana, são umas sócias à altura mas sobretudo são ótimas colegas e amigas, por isso acho que o projeto está muito bem encaminhado.

Ana Dias Ferreira, quando trabalhava no anterior escritório ambicionava crescer mais… "trabalhava em conjunto com a Dra. Paula e quando recebi o convite para a sociedade não hesitei. Por aquilo que conhecia dela sabia à partida que seria uma ótima aposta por isso abracei este projeto sem pensar. Tentamos ser um pouco diferentes daquilo que se conhece de outros escritórios e tem resultado lindamente. Queremos continuar a ser cada vez mais eficientes”. Refletem sobre o ano em que a sociedade ganhou corpo, 2010, e recordam que foi numa época em que a crise económico-social era grave. “Quando dizemos que os objetivos alcançados superaram as nossas expectativas é referente ao projeto e à situação económica do país. Em 2010, altura em que foi fundada a sociedade, vivia-se uma época de grande crise e isso refletiu-se também em escritórios de advogados. Aqui conseguimos remar contra todas as probabilidades que a crise apresentava e ultrapassámos os objetivos”, explica Cátia Silva Pereira. “Nunca sentimos a crise. Trabalhamos muito numa advocacia preventiva e vamos acompanhando os nossos clientes sempre com o máximo rigor e companheirismo”, esclarece Paula Mano.


Para ser um bom advogado tem de se apresentar bons resultados. Temos uma taxa de sucesso muito elevada e por isso temos conquistado clientes durante estes anos todos, conseguimos mesmo exceder as nossas melhores expectativas

Da sociedade fazem parte clientes que não celebram negócios sem os conselhos das advogadas. Atuam com um caráter preventivo - sempre que possível – e garantem que essa é uma das razões também pelas quais ultrapassaram os objetivos iniciais. O escritório é par em género mas este foi apenas um acaso uma vez que, segundo a sócia-fundadora, Paula Mano, “as características pessoais são o que realmente importam”, e acredita que “qualquer pessoa pode chegar até a um lugar de liderança independentemente do género. Apesar de sabermos que há determinados cargos que são ocupados maioritariamente por homens, na advocacia não tenho essa perceção porque aquilo que nos faz crescer é a competência”.

Conciliar uma vida familiar com uma carreira

Paula Mano revela que o seu objetivo nunca foi outro além do sucesso enquanto profissional e garante que caso não tivesse optado desde sempre pela carreira jamais teria construído uma sociedade sólida. Prescindiu de férias durante anos: “na faculdade enquanto as minhas colegas sonhavam em casar e ter filhos eu sonhava construir uma sociedade de advogados. Dediquei-me muito a esta profissão, nada me foi dado de bandeja. Quando ainda não tinha a sociedade aproveitava os períodos em que os meus colegas iam de férias para atender os clientes e ganhar mais dinheiro, mas além do dinheiro ganhava experiência em outras áreas. Não me arrependo de nada, mas tenho consciência de que tive uma vida fora do comum. Tenho a certeza que não se chega

a um patamar de alto nível sem muito esforço”. Cátia Silva Pereira revê-se em parte no percurso de Paula Mano: “também nada me foi dado de mão beijada, mas tive sempre o apoio da Dra. Paula. O curso não foi fácil, embora tenha sido uma realização pessoal, e em termos de patrono tive um estágio muito completo, era trabalho puro. Em termos de vida pessoal, para a advogada é um pouco diferente do que é para um advogado. Casei cedo, fui mãe cedo e é preciso fazer muitos sacrifícios familiares, mas tudo se consegue se tivermos um bom apoio. Para além de ter tido apoio no trabalho também tenho um excelente apoio familiar. Por isso acho que consigo conciliar as duas coisas, com sacrifício, mas vale a pena. E mais importante, tenho criado o meu filho com a imagem de uma mãe que trabalha e isso é positivo. Conclui afirmando que a mulher “é muito mais lutadora, mais dedicada e penso que isso a faz sobressair muitas das vezes. No direito, existem áreas nas quais as mulheres preferem falar com advogadas e não com advogados”. Ana Dias Ferreira concorda que “embora a sociedade tenha evoluído, a mulher continua a assumir grande parte das tarefas domésticas” e que isso pode ser um entrave à concretização plena da carreira em alguns casos.

Um escritório sempre disponível

O escritório trabalha doze meses do ano porque, de acordo com as sócias, os clientes podem precisar dos seus serviços em qualquer altura.

Aquilo que nunca vai mudar

“As características de cada uma construíram esta sociedade. O objetivo é comum, a forma de atendimento ao cliente e de trabalhar é muito

idêntica e é assim que iremos perdurar”, afirma Paula Mano. “Temos muito sucesso pela forma como trabalhamos nos «bastidores», em harmonia e num ambiente de cumplicidade, isso é extremamente importante”, revela Cátia Silva Pereira. “Não abdicamos da nossa política de proximidade com os clientes”, conclui Ana Dias Ferreira. ▪

45 junho 2017

A proximidade e a confiança dos clientes

MANO & RODRIGUESSOCIEDADE DE ADVOGADOS, RL Edifício Mota Galiza Rua Júlio Dinis, 247 - 5º E 4, 4050-324 Porto - Portugal geral@mradvogados.com www.mradvogados.com


LIDERANÇA NO FEMININO

“O panorama das Mulheres em funções de liderança é hoje mais positivo” Para Alexandrina Pinheiro, Diretora dos Recursos Humanos do Grupo Ideias Dinâmicas SGPS, “o que falta, por vezes, às mulheres é um pouco mais de confiança para poderem demonstrar as suas competências”. Chegou assim o tempo das mulheres se assumirem e confiarem mais em si, porque valor não lhes falta.

A ALEXANDRINA PINHEIRO

liderança no feminino

46

ssume a liderança no âmbito dos Recursos Humanos do Grupo Ideias Dinâmicas SGPS. Que análise perpetua do seu percurso profissional e que género de liderança tenta incutir no quotidiano? A Ideias Dinâmicas SGPS é um grupo empresarial, sediado no Porto, com um sólido conhecimento da sociedade e das culturas africanas, dedicado ao desenvolvimento sustentado da implementação e crescimento dos projetos dos seus clientes. Agrega um conjunto internacional de empresas, que se agrupam em três áreas de atuação distintas: Comunicação e Serviços, Tecnologia e Construção. Presente em Portugal, Angola e Moçambique, tem uma cultura empresarial de excelência e rigor, no qual sou Diretora de Recursos Humanos destes três países. É um desafio diário estar na liderança da Direção de Recursos Humanos, nomeadamente, quando se lida com várias diferenças culturais. Considero-me uma pessoa humana, que sabe escutar e sente empatia pelas preocupações e emoções das pessoas. Quando alguém precisa de ajuda pode contar comigo. Como costumo dizer à minha equipa, eu apenas tenho mais responsabilidades do que eles, e temos sempre de trabalhar em conjunto para alcançarmos os nossos objetivos. Privilegio o trabalho de equipa, já que a empresa é um barco e devemos remar todos para o mesmo lado, para chegarmos a bom porto. Para que tal aconteça, necessitamos de colaboradores motivados, sendo este o meu maior desafio. Precisamos, assim, de manter os colaboradores felizes, com um ambiente estável e saudável nas empresas do Grupo, tendo sempre em consideração a diversidade cultural. Temos que nos sentir bem e confortáveis no local onde trabalhamos! Que análise pode realizar relativamente ao seu trajecto profissional e quais foram as principais vicissitudes/obstáculos que enfrentou até aqui? O meu percurso profissional sempre foi pautado pelos novos desafios que fui abraçando. O facto de ter começado a trabalhar nos Recursos Humanos numa IPSS ajudou-me a perceber que é necessário sermos resilientes, flexíveis e ter grande capacidade de adaptação. A passagem pelo Departamento de Recursos Humanos numa indústria ajudou-me a perceber que os timelines são sempre muito curtos. Trabalhar em contexto internacional, onde o contacto com diversos países é constante e ter múltiplos projetos, foi sem dúvida um dos passos mais importantes que tomei na minha carreira e que me permitiu um desenvolvimento profissional e pessoal muito importante. Quando comecei a viajar para África foi muito enri-


O panorama de mulheres em funções de liderança é hoje mais positivo relativamente a um passado recente, contudo ainda não é suficiente. Como é estar na liderança de uma marca como a o Grupo Ideias Dinâmicas SGPS? Sem dúvida que o panorama das mulheres em funções de liderança é hoje mais positivo. O modelo estratégico de gestão nas empresas mudou, estando mais focado nos resultados e nos contributos das pessoas. Estar num cargo de liderança no Grupo Ideias Dinâmicas é uma experiência enriquecedora. Considero que a exposição internacional e o contacto com uma diversidade cultural de pessoas é, de certa forma, o que mais marca o meu percurso profissional atual. As decisões tomadas ao nível de Gestão de Recursos Humanos afetam todas as empresas do Grupo, portanto é necessário ter uma visão global e alinhá-las com a estratégia do Grupo, o que se torna um desafio bastante motivador. Para si, o que faz um bom líder? É legítimo afirmar que as mulheres são melhores líderes que os Homens? Como analisa os gestores em Portugal? Para mim um bom líder é aquele que sabe exe-

Nome: Alexandrina Pinheiro Função: D iretora de Recursos Humanos (Portugal, Angola e Moçambique)

cutar, ouvir, pedir opinião, delegar, partilhar e agradecer. Eu aprendo e partilho o meu conhecimento com a minha equipa de trabalho. Existem algumas diferenças entre liderança feminina e masculina, mas não considero que seja legítimo afirmar que as mulheres são melhores líderes do que os homens. Considero que a liderança depende sempre das características pessoais e profissionais de cada pessoa, as quais podem ser desenvolvidas ao longo do tempo face às experiências vividas. Acima de tudo, somos todos seres humanos, mulheres ou homens, e temos características diferentes que aportam valor à empresa de forma diferente. Assim, é nesta complementaridade que julgo estar a chave do sucesso. Sinto que os gestores em Portugal estão cada vez mais focados em modelos estratégicos direcionados para as pessoas, permitindo que elas sejam valorizadas pelas suas competências e existe ainda uma preocupação crescente com o seu bem-estar. Uma sociedade equilibrada contempla a integração de homens e mulheres com igualdade de oportunidades. O sexo não torna o indivíduo nem mais nem menos apto para o desempenho de uma determinada função. O que falta, na sua opinião, para que a igualda-

de de oportunidades seja cada vez mais uma realidade? Penso que a nossa capacidade incontestável de realizar várias tarefas em simultâneo começou a demonstrar uma vantagem competitiva, principalmente nos cargos de liderança, pelo que a igualdade de oportunidades já se verifica. Considero que com a nova geração de líderes, a igualdade de oportunidades será cada vez mais uma realidade. O que podemos continuar a esperar de si de futuro? Uma mulher profissional, que lutará para fazer aquilo a que se propõe, procurando concretizar os seus objetivos. Possuo elevada orientação para a gestão de pessoas, nomeadamente na vertente do relacionamento interpessoal e da comunicação, o que permite um elevado grau de eficácia quando se trabalha com equipas diversificadas. Que conselho lhe aprazaria deixar a todas as mulheres? O que falta, por vezes, às mulheres é um pouco mais de confiança para poderem demonstrar as suas competências. É importante que as mulheres encontrem formas de se tornarem mais confiantes com o seu trabalho. ▪

47 junho 2017

quecedor, tanto em termos profissionais como pessoais. Os projetos nos quais estou envolvida em Angola e em Moçambique são aliciantes e motivadores, existindo um intercâmbio cultural que é bastante enriquecedor para ambas as partes. Saliento o facto que, quando estou, por exemplo, em contexto de formação para transferência de saber e passagem das melhores práticas associadas à gestão dos Recursos Humanos, aprendo sempre algo novo com os formandos. É muito gratificante! Sempre fui uma pessoa determinada, com vontade de aprender e fazer sempre melhor, sendo necessário sair da zona de conforto e correr alguns “riscos”, por isso não sinto que tenha tido obstáculos e muito menos por ser mulher. No nosso Grupo empresarial regista-se a igualdade de género e as oportunidades são claramente disponibilizadas para todos, sem qualquer tipo de descriminação.


LIDERANÇA NO FEMININO

» INTEGRAL WOMAN – EVENTO

liderança no feminino

48

INTEGRAL WOMAN PORTUGAL DE MULHER PARA MULHER

Para todas as mulheres empreendedoras: já imaginou um encontro de mulheres onde é possível partilhar, trocar experiências, aprender e crescer, não só profissionalmente, mas também a nível pessoal? Venha connosco conhecer o Integral Woman.

O

Integral Woman é um encontro que reúne mulheres empreendedoras e empresárias em encontros de network, palestras e workshops, tendo também em consideração a saúde da mulher, equilíbrio físico, espiritual e mental. Esta rede de Network internacional começou no Brasil pelas mãos da Tânia Trevisan, CEO & Founder do Integral Woman, e em cada encontro reforça a importância dos mesmos com o objetivo de oferecer oportunidades de networking, inspirar e motivar a mulher para que esta se sinta completa na sua vida profissional e pessoal. Um momento de convívio, motivação,

network, energia e boa disposição. É assim que se pode descrever estes encontros. Em Portugal, este evento surge pelas mãos de Mafalda Flores, Diretora Geral da Blood. Com, uma Agência de Comunicação e Ativação Mediática. “O Integral Woman aparece na minha vida por intermédio de uma amiga. Fui apresentada ao conceito com a finalidade de o promover. Enquanto mulher que aprecia empreendedoras, com objetivos e que, sobretudo, não vejam os filhos como uma menos-valia para conseguirem ser empresárias, aceitei o desafio. Há tempo para tudo. Por vezes é um desafio mas, querendo, todas conseguimos”. Quando conheceu Tânia Trevisan, criadora

desta Comunidade no Brasil, apaixonou-se de imediato: “demo-nos logo bem, por isso aceitei divulgar o evento cá em Portugal. Entretanto, com o sucesso conseguido, assumi a representação no nosso país. Este é um projeto para fazer crescer, com expansão regional, focalizado em empreendedoras. Mulheres integrais com atitude”.

ENCONTRO INTEGRAL WOMAN LUSO-BRASILEIRO

No passado mês de maio o Hotel Dom Pedro, em Lisboa, recebeu um grupo de mulheres empresárias, divertidas e positivas no Encontro Integral Woman Luso-Brasileiro. Com convida-


das especiais foram abordados temas da atualidade que nos despertam todos os dias. Em formato pequeno-almoço Networking foi possível fazer diversas partilhas e potenciar negócios além-fronteiras. “Hoje reunimos 40 mulheres poderosas num Encontro IW especial entre Portugal e Brasil. Partilhas grandiosas, emoção e muita energia positiva ficou espelha-

lhar conhecimentos, engajar-se em projetos e na solução de problemas, comprometer-se com a carreira e a empresa, e dessa maneira ser um profissional mais produtivo, mais preparado e muito mais competente. Tânia Trevisan atualmente é empresária, mentora e dá palestras sobre temas ligados não só à produção de eventos como ao empreendedorismo feminino. Tânia Trevisan anseia atrair mais participantes para o Integral Woman, para que também elas sintam a experiência de pertencer a um grupo diferenciado, com propósitos e valores de uma ’Mulher Integral’. Além disto, expandir esta iniciativa para mais cidades em Portugal com a presença da Embaixadora Integral Woman, gerando novas oportunidades de negócios, “uma onda do bem, em prol de uma sociedade mais justa, equilibrada, feliz e um mundo melhor”. Estes encontros querem proporcionar às participantes informação sobre conteúdos de abrangência profissional, pessoal e cultural, apresentados por palestrantes especializados em diversas áreas, facilitar o acesso a uma rede de networking internacional, partilha de experiências, inspirar e motivar as mulheres que desejam crescer como pessoas íntegras e felizes. ▪

49 junho 2017

Em cada encontro reforça a importância dos mesmos com o objetivo de oferecer oportunidades de networking, inspirar e motivar a mulher para que esta se sinta completa na sua vida profissional e pessoal

da neste momento que nos faz crescer a cada encontro. Um obrigada muito especial às nossas duas Palestrantes - Cláudia Grande e Leila Navarro que nos abriram a mente para temas tão recorrentes do nosso dia-a-dia. Tânia Trevisan, como sempre a Embaixadora das Embaixadoras que une consenso e harmonia entre as mulheres!”, refere Mafalda Flores na página de facebook da Integral Woman. Cláudia Grande, com o seu projeto 60 anos e Leila Navarro, com o seu discurso motivacional contribuíram para o empreendedorismo feminino, encorajar as mulheres empreendedoras, fornecer-lhes informações e elevar-lhes a autoestima. Sobre o Projeto 60 anos de Cláudia Grande, este pretende conectar pessoas que compartilham pensamentos e atitudes com o mesmo objetivo: atingir a maturidade com qualidade de vida e muito charme. É um projeto voltado para o público com mais de 50 anos de idade, promove o envelhecimento com saúde e bem-estar para quem desejar chegar - e ultrapassar! - os 60 anos com leveza e qualidade de vida. Leila Navarro é palestrante motivacional há mais de 18 anos e integra o ranking dos 20 maiores palestrantes do Brasil. Leila mostra nas suas palestras motivacionais como comparti-


MARIA DE SÁ CUMPRE UM SONHO

» JOVEM TALENTO PORTUGUÊS

​Jovem Talento da Póvoa de Varzim no mundo da sétima arte Maria de Sá licenciou-se em representação e cinema em Los Angeles com o objetivo de cumprir o sonho de se tornar atriz.

liderança no feminino

50

I

niciou o contacto no mundo das artes aos quatro anos, quando começou a dançar e a tocar piano. Foi um gosto que cresceu com ela. Aos 14 anos, depois de ter iniciado o secundário, em Portugal, surgiu a oportunidade para uma audição num colégio interno britânico de artes, Tring Park School for the Performing Arts. Agarrou a oportunidade e decidiu fazer a audição para a escola: um mundo novo, uma cultura nova, uma língua diferente, tudo fora da sua zona de conforto. Sempre determinada, mas consciente das dificuldades e obstáculos com que se deparou neste percurso, em junho de 2010, com os pais, irmão e melhor amiga, viajou para Londres ao encontro da audição tão esperada. A escola não hesitou em admiti-la e em setembro, do mesmo ano, embarcou assim numa nova aventura. Maria revela-nos que este sonho não seria possível se não tivesse o constante apoio dos pais, moral e financeiro, e uma bolsa de mérito oferecida pela escola. Depois de provar o gosto pela representação em Londres, as ambições desta jovem cresciam cada dia. Acredita acima de tudo que independentemente da vocação ou área de cada um, a oportunidade de uma educação a nível superior é

Visite o seu site www.mariadesa.com

Foi com coragem, independência e determinação que entrou nos Estados Unidos, sozinha, pela primeira vez, e terminou a licenciatura, com distinção em maio de 2016

uma mais-valia e uma prioridade. Com isto em mente fez várias audições para faculdades de teatro e cinema. A viver em Londres as escolhas eram inúmeras, no entanto, os seus sonhos falavam mais alto. Algumas universidades americanas ofereciam audições em Londres para dar oportunidades a alunos estrangeiros de se candidatarem sem terem que se descolarem aos Estados Unidos. Depois de mais uma dezena de audições, propostas e rejeições, Maria escolheu uma das várias universidades em Los Angeles que lhe

ofereceram um lugar. Admite que enquanto indecisa entre duas escolas americanas, American Academy of Dramatic Arts e New York Film Academy, escolheu a que maior bolsa financeira lhe ofereceu. Assim, em setembro de 2013, com duas malas e uma viagem de ida para Los Angeles, Maria embarcou numa nova etapa. Foi com coragem, independência e determinação que entrou nos Estados Unidos, sozinha, pela primeira vez, e terminou a licenciatura, com distinção em maio de 2016. Considera a Califórnia a sua segunda casa, mas Portugal é incomparável a qualquer outro lugar do mundo, é onde recarrega energias, reencontra as pessoas mais importantes e o apoio incondicional. Onde, ainda, se sente a menina de 14 anos que sonhava conseguir chegar à capital do cinema. Atualmente, encontra-se a dar os primeiros passos na indústria de cinema americana, diz que o mais importante é estar sempre a trabalhar e a realizar novos projetos. Em menos de seis meses, na indústria, já contracenou em dois anúncios, e várias curtas. Confessa ter consciência da enorme competição, mas isso não a assusta, apenas alimenta a sua motivação e relembra-a da maratona tão esperada que finalmente começou a percorrer.▪




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.