MARÇO 2017
O nosso quotidiano Na Liga Portugal não se aplica o conceito - já de si redutor – “ser-se mulher num mundo de homens”. Pelo contrário, há muito que o futebol profissional deixou de ser uma “indústria” tipicamente masculina. As mulheres ocupam lugares de topo em todas as organizações futebolísticas, desde as sociedades desportivas/clubes aos organismos do meio, como a própria Liga, em setores-chave – Administração e Gestão, Direito e até organização das competições - com equidade ao nível das competências e recompensas. Para celebrar o Dia Internacional da Mulher de 2017, a Liga Portugal selecionou 11 “jogadoras”, todas elas “cabeças-de-série” no campeonato dos valores que defendemos: Rigor, Talento, Profissionalismo e Agregação.
SELEÇÂO 2016/17 1 Adelina Trindade Guedes 2 Ana Rita Mansilha 3 Carla Figueiredo 4 Claúdia Ferreira 5 Helena Pires 6 Helena Relvas 7 Margarida Camacho 8 Patrícia Silva Lopes 9 Paula Oliveira 10 Sónia Carneiro 11 Susana Rodas
Adelina Trindade Guedes | Diretora Geral da SAD do Boavista Futebol Clube.
MĂŠdio-Ofensiva
Desde os seis anos de idade que acompanho o fenómeno Futebol, em conjunto com meu pai, na sua atividade de jornalista, deslocando-me variadas vezes ao estrangeiro com os clubes nacionais que disputavam provas europeias. Todos os fins de semana, assistia aos jogos de futebol nos diferentes estádios, acompanhando sempre, de perto, as competições nacionais. Habituada à ideia de que o futebol não seria só para homens, jamais me senti discriminada, não obstante, naquela altura, nos estádios de futebol, escasseavam casas de banho para senhoras. Mas sempre cresci sabendo, de antemão, a evolução que o futebol viria a sofrer, nomeadamente nas suas infraestruturas, o que, com o Euro 2004, aproximou os vários estádios ao modelo atual. Licenciei-me em Direito, mas, ainda enquanto advogada estagiária já elaborava contratos de jogadores profissionais de futebol e ações na FIFA, pelo que, entre a secretária do meu gabinete e o relvado, tem sido um “vai vém” constante, desde então, na minha vida profissional. Com muita persistência, atitude, coragem, maus e bons momentos, tenho conseguido, ao longo destes 20 anos, conseguir “jogar” na posição de médio-ofensiva. Sempre com o intuito de marcar o GOLO da vitória que, com muito esforço e dedicação, muitas vezes tem sido conseguido! É fácil uma mulher estar no futebol. O difícil é mesmo agarrar o desafio que é este fenómeno! NÓS NO FUTEBOL 5
DIA DA MULHER
Determina Não sei dizer há quanto tempo gosto de futebol, mas o certo é que logo em pequena trocava as Barbies pela bola. Mais tarde, na adolescência, todos os fins de semana, o mesmo ritual: eu e o meu pai, fosse na televisão ou no estádio, assistíamos juntos aos jogos do nosso clube de coração. Talvez esta seja a razão para estar aqui hoje. Lembro-me de um dia, enquanto via um jogador a ser assistido, virar-me para ele e dizer: “Ainda vou trabalhar ali”. Juntar fisioterapia, curso que escolhi por vocação, e o futebol era o melhor dos dois mundos. Ele sorriu para mim e afirmou: “Nada é impossível.” E é essa motivação que me inspira. Quando, em 2009, comecei a trabalhar na formação do Atlético Clube de Portugal, rapidamente criei a ambição de chegar à equipa sénior. Sabia que ia ser difícil, mas só precisava de uma oportunidade. Ao fim de quatro épocas, ela surgiu. Ser fisioterapeuta no futebol profissional é extremamente exigente e desafiante. Acredito que aqui, tal como na vida, a luta é ganha por quem se prepara melhor. Todos os dias foco-me para tentar ajudar a minha equipa nessa preparação e não permito a ninguém, nem a mim mesma, que o facto de ser mulher limite qualquer dos meus sonhos e ambições profissionais. NÓS NO FUTEBOL 6
DIA DA MULHER
ação
Ana Rita Mansilha | Fisioterapeuta do CD Cova Piedade
Carla Figueiredo | Assessora de Imprensa do SL Benfica
Apaixonante Chamo-me Carla Figueiredo, sou assessora de Imprensa do Sport Lisboa e Benfica e responsável pelas acreditações dos Media, em todos os jogos nacionais e internacionais. A minha paixão pelo futebol vem desde a infância, quando acompanhava o meu pai a alguns jogos de futebol. Há 13 anos, aceitei o desafio de vir trabalhar para o Maior Clube de Portugal. Foi o realizar de um sonho. Pois, além de vir trabalhar para o MEU clube, entrei também para uma área que, durante muitos anos, foi ‘dominada’ pelos homens (aliás, creio que fui mesmo a primeira mulher na assessoria de Imprensa no Sport Lisboa e Benfica). Mas, aos poucos, as mulheres têm conquistado por direito próprio e capacidades evidenciadas, um papel importante na industria do futebol. Trabalhar no maior clube de Portugal, mais concretamente ligada à área do futebol, torna a minha profissão ainda mais apaixonante. Ao contrário de outras empresas, aqui trabalho também com emoções e sentimentos dos adeptos. Também sou adepta, mas a visão profissional dá-me um ângulo privilegiado de quem colabora numa excelente equipa. NÓS NO FUTEBOL 9
DIA DA MULHER
Das nuvens ao relvado Cheguei ao FC Porto em 2010 de forma “acidental” e acabei por ficar, integrando uma estrutura que me enche de orgulho. O meu percurso profissional é diverso e inclui uma experiência muito comum – a emigração. Antes de vir para o clube, fui hospedeira de bordo no Reino Unido e ali senti a verdadeira liberdade de expressão, género ou crença. Quando regressei a Portugal, senti que o País estava muito aquém da realidade britânica. No FC Porto, no entanto, vivi um contexto diferente daquele que ouvia nas minhas relações pessoais, passando por áreas muito diferentes em várias empresas do grupo, sempre em sentido ascendente. NÓS NO FUTEBOL 10
DIA DA MULHER
Integro, atualmente, a área de Planeamento e, decorrente da relação diária com a FC Porto Desporto, surgiu o convite para Directora de Campo, uma novidade que suscitou curiosidade: uma mulher presente na Zona Técnica e com funções oficiais em jogo! Fui sempre muito bem tratada por todos os agentes desportivos que encontrei no âmbito da função. Foi e será sempre um desafio incrível. Sinto-me grata ao FC Porto por ter dado mais um passo em frente e por ter apostado em mim, reconhecendo que teria capacidades para assumir o cargo. É caso para dizer que, com os pés no relvado, continuo a sentir-me nas nuvens. Cláudia Ferreira | Diretora de Campo do FC Porto B
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DIA DA MULHER
Helena Pires | Diretora de Competiçþes da Liga Portugal
Paixão No nosso país e um pouco por todo o mundo, o futebol assume a condição de desporto-rei. O futebol profissional é o corolário da modalidade e não apenas em termos competitivos. Nenhuma outra atividade desperta no público tão grandes paixões e, nos meios de comunicação social, tanto frenesi. Essa dimensão inigualável acarreta uma enorme responsabilidade para os responsáveis pela organização das competições profissionais de futebol, cuja equipa me orgulho de integrar. Ao profissionalismo da modalidade tem que corresponder um trabalho de planificação, definição de objetivos e de coordenação com todos os intervenientes que, embora frequentemente invisível, me coloca constantemente perante a necessidade de tomar decisões, sem tempo para hesitação ou dúvidas, com rigor e fundamentação, o que apenas é possível com o apoio das minhas extraordinárias equipas. É esta atividade constante de interação com os representantes dos clubes e dos jogadores, as forças policiais e de bombeiros, a proteção civil e o pessoal médico, os delegados, os árbitros e os nossos fantásticos adeptos que me inspira e desafia a fazer melhor e a contribuir todos os dias para que, de norte a sul do país e nas comunidades portuguesas por todo o mundo, todos possamos vibrar com os nossos craques e a equipa do nosso coração. NÓS NO FUTEBOL 13
DIA DA MULHER
Delegacias A paixão pelo futebol, apenas como adepta, levou-me ao lugar onde estou hoje: o de delegada da Liga. É cada vez mais acentuada a presença das mulheres neste meio e nos mais diversos cargos. O ser-se delegada da Liga num mundo maioritariamente masculino é uma oportunidade para poder expressar as minhas capacidades, conquistando o meu espaço com trabalho e dedicação, valorizando o futebol, dando-lhe mais cor, alegria, sensibilidade e inteligência, de uma forma esforçada e com muito menos drama, e sentindo sempre um enorme respeito, por parte de quase todos os agentes desportivos. Enquanto delegada da Liga, foco-me no sentido de ajudar para que todos os jogos sejam um espetáculo de excelência, ajudando a promover os valores da celebração, rigor, talento e agregação, num ambiente de festa em volta do futebol. Li um dia que “O futebol é um desporto de cavalheiros, praticado por rufias”. Embora considere a afirmação algo exagerada, no desempenho da minha missão, cabe-me apelar ao tal de cavalheirismo, a que se dá o nome de Fair-Play, apelando sempre ao profissionalismo, ao bom senso e, acima de tudo, ao respeito entre as equipas que cumprem o seu papel dentro das quatro linhas. NÓS NO FUTEBOL 14
DIA DA MULHER
Helena Relvas | Delegada da Liga Portugal
Competência Num mundo cada vez mais de igualdade de direitos e de oportunidades, ser mulher no futebol é algo que surge de forma natural. Acima de tudo, há a questão da competência, de dia para dia mais valorizada e apreciada, sendo esse o factor determinante para que as mulheres tenham o seu espaço num mundo que, até há bem pouco tempo, era dominado pelos homens. Não somos ainda muitas, mas somos cada vez mais, e isto por uma razão muito simples. Fazemos o nosso trabalho tão bem, e com as mesmas condições que seriam dadas a qualquer homem. No futuro seremos mais, e sempre com grande orgulho. Não por sermos mulheres. Mas porque somos competentes e essa é a grande conquista. NÓS NO FUTEBOL 16
DIA DA MULHER
Margarida Camacho | Vogal do Conselho de Administração da SAD do CD Nacional
PatrĂcia Silva Lopes | Advogada da Sporting, SAD
Partilha Com 43 anos, a colaborar no Sporting Clube de Portugal desde os 25, considero um privilégio ter conseguido concretizar o meu sonho de trabalhar neste clube, para mim, tão especial. Desde criança, tenho uma verdadeira paixão pelo futebol, e é-me impossível esquecer a enorme alegria dos jogos com os amigos, perto de casa, onde às vezes era a única rapariga, das coleções de cromos com os jogadores das equipas dos campeonatos nacionais, do Mundial de 82, da leitura dos jornais desportivos. Nessa altura, já longínqua, em que facilmente acreditava em tudo o que lia, passava tardes a ouvir relatos de futebol que faziam crescer o meu imaginário, sempre ligado a esta modalidade. Reconheço que é, ainda, a essa vivência, tão intensa e ao mesmo tempo tão despreocupada, que me apego e vou buscar energia para as exigências da vida profissional. Apesar desta indústria ser, pela sua natureza, extremamente competitiva, agressiva, voraz e até impiedosa, é, para mim, um desafio contínuo aprender sempre mais e partilhar conhecimento e saber, com vista a um futebol que todos queremos mais credível, transparente, íntegro e sustentável. Num mundo maioritariamente masculino, onde, no entanto, nunca me senti discriminada, iniciei as minhas funções como advogada estagiária no departamento jurídico da Sporting, SAD, liderado por uma grande mulher. Atualmente, continuo a trabalhar com grandes mulheres, e claro, com grandes homens, quer no Sporting, quer na Liga. NÓS NO FUTEBOL 19
DIA DA MULHER
Paula Oliveira | Diretora de Marketing e Eventos da Liga Portugal
PĂŠ na bola
O meu primeiro contacto com o mundo do Futebol foi uma experiência de três anos, no Euro2004, onde trabalhei diretamente com os melhores “professores”: Martin Kallen, Sharon Burkhalter e Stephanie Theinz. Foram anos muito intensos e enriquecedores, com uma equipa de portugueses fantástica, que fizeram deste evento, ainda hoje considerado por muitos, “Best Euro Ever”! Seguiram-se o Euro2012 (Polónia) e Euro2016 (França), uma Taça Africana (CAN2010, em Angola) e um Mundial (FIFA2014, no Brasil), nas mais diversas áreas de operação. Apesar de não podermos negar que o futebol é um mundo onde os homens são a maioria, nunca me senti discriminada. Muito pelo contrário, sempre encontrei o meu espaço e fui respeitada pela minha forma de trabalhar e pelas minhas ideias. As mulheres não têm que atuar como os homens para terem sucesso! Costumo dizer, a brincar, que fisicamente não nos podemos comparar com os homens, mas o que nos torna diferentes é a nossa capacidade de “jogar” com tática, ter competências e muita criatividade, utilizando sempre com o lema “dá o máximo de ti no mínimo que fazes”! A minha principal motivação são todas as emoções que só o desporto - e o futebol em particular - transmite, porque transcende todas as dimensões sociais e culturais. Só quem está por trás da organização de um jogo de futebol ou de uma organização de Europeu ou Mundial tem a verdadeira noção da dimensão deste tipo de eventos. Gosto de utilizar uma frase que resume bem o que então sinto: “El Futbol te torna el que li dónes”. NÓS NO FUTEBOL 21
DIA DA MULHER
Sรณnia Carneiro | Diretora Executiva da LPFP
Encantada
Cheguei ao futebol profissional pela mão do melhor árbitro do Mundo, mas sempre gostei de futebol e fui estando atenta ao fenómeno. Já conhecia as regras, já discutia lances e já apreciava os momentos de magia do relvado, pois na minha casa sempre se respirou o jogo, no relvado e no dirigismo. Tinha já a experiência do Conselho de Justiça da Associação de Futebol do Porto. Por isso, nenhum termo ou conceito foi para mim novidade quando o Pedro Proença me lançou o desafio de ser, inicialmente, sua assessora jurídica, e depois, diretora executiva da Liga. A responsabilidade é que passou a ser diferente. Ver o futebol do ponto de vista da organização está a ser encantador! Sou mulher, é verdade, mas sou hoje profissional na indústria do futebol. Não tenho medo de tomar decisões, não receio os embates, nem as expressões machistas que, a acontecerem, revelam que o meu trabalho está a ser bem feito. Continuo a ver no jogo o mesmo encanto que antes, continuo a achar o talento nos relvados o mais fascinante desta atividade e não acredito na expressão “uma mulher num mundo de homens”. Até hoje, ser mulher nunca me fez ver de forma diferente a realidade do futebol. Acredito na competência, na dedicação, no profissionalismo, na paixão e também, porque não, no talento nos bastidores. NÓS NO FUTEBOL 23
DIA DA MULHER
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Box
Quais as motivações para sair de um mundo completamente diferente como o da consultoria e passar a “jogar” no futebol português? Talvez uma motivação mais forte do que todas as outras! O desafio de pertencer a uma equipa como a da Liga Portugal, com a ambição de fazer e entregar mais e melhor, num dos sectores com maior impacto financeiro e mediático a nível nacional. De tornar a unicidade de cada sociedade desportiva, numa estratégia coletiva de desenvolvimento do Futebol com Talento. Ser mulher no futebol é como ser um médio em campo: ter a destreza de ser capaz de recuar, auxiliando na defesa dos valores da Liga Portugal, e avançando para ajudar no ataque de uma estratégia comum dos seus stakeholders. NÓS NO FUTEBOL 24
DIA DA MULHER
Susana Rodas | | Diretora Executiva da LPFP
A nossa Na nossa casa – a Liga Portugal –, as mulheres representam quase metade dos quadros, cujas competências se espalham na vertical, ocupando todos os níveis de responsabilidade. A Ana Paula Peres e a Manuela Oliveira estão, respetivamente, há 26 e 25 anos ao serviço do futebol profissional, seguidas, de muito perto, pela Paula Fernandes (22) e Estrela Azevedo (21).
NÓS NO FUTEBOL 26
DIA DA MULHER
equipa Com mais de 10 anos de casa, sucedem-lhes Helena Pires (17), Luísa Sousa (14), Andreia Couto e Emília Carmo (13) e Lurdes Marques (12). Sónia Mota (9), Laurinda Silva (5), Flávia Azevedo, Ana Ribeiro e Sónia Carneiro (a completar o segundo ano), Susana Rodas e Paula Oliveira (primeiro ano) completam o grupo de quadros femininos da nossa organização. Todas, sem exceção, acrescentam valor, todos os dias, a este “mundo da bola”.
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DIA DA MULHER
Modernidade e inclusão A igualdade de género é, para mim, um valor universal. Mas o maior orgulho que sinto é perceber que, no futebol profissional, a equidade e a meritocracia promovem esse valor. Claro que ainda há poucas mulheres no futebol profissional, apesar das muitas que se apresentam, hoje em dia, em lugares de topo em todas as organizações relacionadas com o setor e com responsabilidades aos mais variados níveis. Exemplo disso mesmo é a estrutura da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, onde há praticamente o mesmo número de mulheres e homens e onde os níveis de responsabilidade não revelam qualquer discriminação. Contrariando muitas das conotações relacionadas com o “mundo da bola”, é com orgulho que mostramos o exemplo da Liga Portugal, o organismo que é responsável pela organização da Liga NOS, LEDMAN LigaPro e Taça CTT e onde não há feminino ou masculino na hora de decidir. Somos um exemplo de modernidade e inclusão. E assim queremos continuar a ser. Pedro Proença Presidente da Liga Portugal
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