PUBLICAÇÃO
TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS ÉPOCA 2018-19
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS ÉPOCAS 2018-19
ÍNDICE 1. Prefácio 2. O Golo. Uma Análise Aplicada ao Campeonato do Mundo de Futebol 2018 Daniela Rangel
3. À (re)conquista da criatividade no Futebol. Diogo Coutinho
4. i.Ticket Diogo Sá
5. Análise da performance da própria equipa, proposta de metodologia para intervenção ao intervalo João Pascoal
6. O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco João Paulo Malho
7. Gestão Estratégica aplicada a uma Sociedade Desportiva de Futebol José Carlos Barbosa
8. Um Novo Organismo Independente no Futebol- A Comissão de Ética José Pedro Pereira
9. A Influência das Diferentes Formas de Suporte Social na Motivação Desportiva em Diferentes Grupos Etários Luciana Correia
10. A Formação Desportiva em Portugal. Os Valores do Futebol Márcio Domingues
11. Administração de Sociedades Desportivas: A ‘Corporate Governance’ e a ‘Business Judgment Rule’ Ricardo Gonçalves
1. PREFÁCIO
PREFÁCIO Dra. Susana Rodas Diretora Executiva de Marketing da Liga Portugal
CONHECIMENTO DE BRAÇOS DADOS COM O FUTEBOL PROFISSIONAL Depois do sucesso registado na primeira edição, a Fundação do Futebol – Liga Portugal manteve a aposta no projeto “Centro de Estudos”. E nem poderia ser de outra maneira, uma vez que para além da sua conhecida preocupação em torno de Grandes Causas Humanitárias, Sustentabilidade Ecológica, Proteção de Valores e Inclusão Social, a Fundação do Futebol tem como uma das suas grandes bandeiras o incentivo à investigação científica e tecnológica em prol do Futebol Profissional, com o claro objetivo de inovar e criar valor nesta área. O propósito é simples: temos os melhores jogadores e treinadores do mundo, pelo que ambicionamos, num curto prazo de tempo, poder dizer que os melhores técnicos da área do futebol são também nossos. Nomes como Cristiano Ronaldo, Bernardo Silva, Rúben Neves e José Mourinho são grandes embaixadores do Futebol com Talento, faltando, no entanto, referências no capítulo da investigação em torno do Futebol Profissional, carência que este projeto visa claramente suprir. Foi com essa meta que, no ano passado, a Fundação do Futebol – Liga Portugal avançou com o ano zero do Centro de Estudos. Uma oportunidade de crescimento única dada a todos os alunos e ex-alunos do Ensino Superior de entrarem, pela via da meritocracia, no meio do futebol, com a elaboração e apresentação de trabalhos de diversas temáticas de extrema importância para o Futebol Profissional. Basta olhar para os primeiros vencedores para concluir que a iniciativa alcançou o êxito inicialmente esperado. Desde propostas de bilheteiras online a modelos de gestão e administração de Sociedades Desportivas, os trabalhos dos candidatos acabaram por revelar-se de grande validade e mostraram que definitivamente este é o caminho a seguir, dada a possibilidade de descoberta de muitos estudantes capazes de serem mais valias nas suas respetivas áreas, ao serviço do futebol. Este ano a receita é semelhante, pelo que os três melhores trabalhos serão premiados com prémios monetários e estágios na Liga Portugal, SABSEG e EY, que, a par da FADU – Federação Académica do Desporto Universitário, são os grandes parceiros deste projeto inovador no Futebol Profissional. Boa sorte a todos os candidatos!
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1. PREFÁCIO
INTRODUÇÃO O projeto do Centro de Estudos da Fundação do Futebol conta com o apoio da EY, SABSEG e FADU-Federação Académica do Desporto Universitário e tem como objetivo permitir aos alunos e ex-alunos do Ensino Superior a exposição das suas aptidões nas várias áreas de atuação ao serviço do Futebol Profissional. Visa, também, promover a investigação científica e tecnológica na área do Futebol e temáticas adjacentes, divulgar estudos/trabalhos de investigação e de desenvolvimento tecnológico entre stakeholders do sector e público em geral, bem como criar uma rede de interação que promova a inovação e a criação de valor na área do Futebol. Na primeira edição, perante o júri composto por Hermano Rodrigues (EY), Rui Romeiro (SABSEG), Manuel Veloso (FADU), Susana Rodas (Diretora Executiva da Liga Portugal) e Sónia Carneiro (Diretora Executiva Coordenadora da Liga Portugal), os candidatos apresentaram trabalhos a concurso sobre diversas temáticas relacionadas com o Futebol português e com conteúdos importantes para o desenvolvimento desta indústria e destacaram-se os três vencedores: Diogo Sá, com o trabalho “I.TICKET - Bilheteira Online”, José Carlos Barbosa com o trabalho “Gestão Estratégica aplicada a uma Sociedade Desportiva de Futebol Estudo de Caso: AD Fafe – Futebol, SAD”, e Ricardo Pinheiro Gonçalves com o trabalho “Administração de Sociedades Desportivas: a ‘Corporate Governance e a ‘Business Judment Rule’. Confira as participações nas páginas seguintes.
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INTRODUÇÃO O futebol é uma modalidade desportiva praticada em todos os países, caracterizando-se por ser uma realidade complexa que exige uma análise e interpretação constantes do comportamento coletivo da equipa (Santos et al., 2016). O golo é o objetivo mais importante no futebol por definir a vantagem ou desvantagem entre os adversários (Drubscky, 2003; Leitão, 2004; Silva et al., 2011), além de diferenciar como bem-sucedida uma equipa das demais pelo poder de marcar golos (Moraes et al., 2012). É através da observação e análise do jogo - funções da responsabilidade do treinador - que este obterá informações fundamentais acerca dos jogadores (e.g., conhecimento das debilidades e fortalezas da própria equipa e equipas adversárias) servindo-lhe de ferramentas no planeamento do treino assim como na definição do plano tático-estratégico (Hughes and James, 2008; Lago-Peñas et al., 2010; Prieto et al., 2014).
OBJETIVOS Objetivo principal Analisar o momento do golo nos jogos que compreenderam o Campeonato do Mundo de Futebol 2018. Objetivos Secundários • Forma como o golo é obtido • Em que parte do jogo • Qual o período de tempo • Em que zona do campo é concretizado • Qual o método empregue
• • • •
Em que zona a bola é recuperada A zona do último passe para finalização De que forma a bola é recuperada O melhor marcador do torneio
RESULTADOS Os 169 marcados na fase final do Campeonato do Mundo 2018, foram analisados de acordo com os seguintes critérios: Parte do jogo: 2ª parte (100) Período do jogo: 46-60’ (33) Forma de recuperação de bola: Bolas perdidas (40) Zona de Recuperação de bola: Média do campo (66) Método de jogo ofensivo: Ataque posicional (45) Último passe: Corredor esquerdo (46) Forma como foi marcado o golo: Pé direito (74) Zona de finalização: Frente à baliza (49) Melhor Marcador: Harry Kane (6)
CONCLUSÕES Os resultados mostram que a metodologia utilizada permite a recolha de informações importantes para os treinadores e que a mesma pode ser utilizada na planificação do treino e da competição. Com esta análise percebeu-se que a zona mais solicitada para a concretização do golo e onde se verificou maior eficácia foi a Central e que, quanto mais perto da baliza do adversário os jogadores recuperarem a bola, mais perto estarão de alcançar o objetivo (o golo). É necessário dar continuidade à análise efetuada dado que não existem estudos prévios que estabeleçam a comparação entre as nacionalidades dos jogadores e, deste modo, perceber de que forma esta variável se relaciona com o sucesso.
O GOLO. UMA ANÁLISE APLICADA AO CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL 2018 Daniela Matos da Silva Rangel
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2. O GOLO. UMA ANÁLISE APLICADA AO CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL 2018
RESUMO O presente estudo de análise descritiva teve por iniciativa dar a conhecer o momento do golo nos jogos que compreenderam o Campeonato do Mundo de Futebol 2018. Para isso, considerámos como elementos de análise (1) a forma como o golo é obtido, (2) em que parte do jogo, (3) qual o período de tempo, (4) em que zona do campo é concretizado, (5) qual o método empregue, (6) em que zona a bola é recuperada, (7) a zona do último passe para finalização, (8) de que forma a bola é recuperada e (9) o melhor marcador do torneio. Todos os jogos foram visualizados através do site Footballia, os respetivos dados da amostra foram recolhidos e registados em folha de excel e posteriormente trabalhados estatisticamente. O período desta análise estatística ocorreu entre janeiro e fevereiro de 2019 no programa Microsoft Office Excel 2016. A amostra é constituída pela totalidade dos golos marcados, 169, na fase final do Campeonato do Mundo de Futebol 2018 disputado na Rússia. Verificou-se que as quatro melhores seleções pertencem ao continente Europeu e no que respeita ao maior número de golos registados evidencia-se a seleção belga como a seleção mais concretizadora. Neste campeonato foram contabilizadas 51 vitórias/derrotas e 13 empates em 64 jogos. Foi no decorrer da segunda parte que ocorreu maior finalização (100 golos; 59%), sendo na sua maioria (28,99%) marcados na grande área em frente à baliza. Por outro lado, o período com maior ocorrência de golos correspondeu aos 46-60’ (33 golos), as formas e os métodos de obtenção do golo mais prevalentes as de bola corrida comparativamente aos esquemas táticos.
Palavras-chave: Futebol, Observação, Golos
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2. O GOLO. UMA ANĂ LISE APLICADA AO CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL 2018
ABSTRACT The present descriptive analyses study had the purpose of giving to know the moment of the goals in all the games of the World Championship of Futebol in 2018. For that efect, we took in consideration the following analysed elements: (1) how the goal is obtained (2) in what part of the game, (3) the period of time when the goal is obtained, (4) in which part of the field the goal is conquered, (5) what was the method (in wich area the ball is recovered, (7) the area from the last pass to the finalization, (8) how the ball is recovered, (9) best marker of the tournament. All the games were visualized through the "Footballia" website, and the respective data from the sample was colected and registered in an excel sheet and later worked on the estatistics. The period of time in which this estatistic analyses occurred was between january and february of 2019 with microsoft office excell 2016 program. The sample has all the goals obtained, 169, on the final of the World championship of futebol 2018, played in Russia. It was verified that the 4 best teams belong to the european continent and after further analyses the bighest number of goals registered were from the Belgian team has the team most successful. On this championship were registered 51 victories/defeats and 13 ties in 64 games. The second half was registered has the period of time in wich more goals were obtained (100 goals; 59%) - most of them (28,99%) scored on the penalty area in front of the goal. The time period with the most goals occurrences corresponds to 46-60' (33 goals) and the most used tactic/methods to obtain a goal were the running ball comparatively to the tactic schemes.
Key-words: Football, Observation, Goals
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2. O GOLO. UMA ANÁLISE APLICADA AO CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL 2018
ÍNDICE CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO .................................................................................................... 6 Amostra ............................................................................................................................................. 7 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................................................. 8 CONCLUSÃO........................................................................................................................................16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................17
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1. Desempenho de cada seleção no Campeonato do Mundo de Futebol 2018, Continente pelo qual se qualificou e respetiva confederação......................................................................................... 8 Tabela 2. Comparação entre formas de recuperação da bola e dos métodos para obtenção do golo nos 64 jogos do campeonato do mundo de futebol 2018, n= 169 ........................................................... 11 Tabela 3 - Formas de obtenção da finalização nos 64 jogos do Campeonato do Mundo de Futebol 2018, n= 169 .................................................................................................................................................... 13 Tabela 4 - Jogadores que marcaram golos no Campeonato do Mundo de Futebol 2018, n=157 ..... 14
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Golos por parte do jogo (n=169). ................................................................................................. 9 Gráfico 2 - Número total de golos (n=169) nos 64 jogos do Campeonato do Mundo de Futebol 2018 por períodos do jogo. ...................................................................................................................................... 10
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Zona de recuperação de bola, n=169 ........................................................................................ 12 Figura 2 - Zona do último passe para finalização....................................................................................... 12 Figura 3 - Quantidade de golos marcados por zona de finalização, n=169 ........................................... 13
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2. O GOLO. UMA ANÁLISE APLICADA AO CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL 2018
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS AFC - Asian Football Confederation AP - Ataque Posicional AR - Ataque Rápido BC - Bola Corrida BP - Bola Perdida BS - Bola de Saída CA - Contra Ataque CAF - Confederação Africana de Futebol CC - Canto Curto CF-P - Comportamento Fair-Play CL - Canto Longo CONCACAF - Confederation of North, Central American and Caribbean Association Football CONMEBOL - Confederação Sul-Americana de Futebol D - Derrota DA - Duelo Aéreo DES - Desarme E – Empate ET- Esquemas Táticos FRB – Formas de Recuperação de Bola GR - Guarda-Redes INT - Interseção LD - Livre Direto LI - Livre Indireto LLL - Lançamento de Linha Lateral MOG – Métodos da Obtenção do Golo PB - Pontapé de Baliza PEN - Penalti SBLF - Saída de Bola pelas Linhas Finais do Campo SBLL - Saída de Bola pelas Linhas Laterais do Campo SBMC - Saída de Bola no Meio Campo SOGF - Sistema de Observação do Golo no Futebol UEFA - Union of European Football Associations V - Vitória
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CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO O estudo do golo no futebol […] é uma importante contribuição para o estudo da análise dos jogos. Junior, 2015
O futebol é uma modalidade desportiva praticada em todos os países, caracterizando-se por ser uma realidade complexa que exige uma análise e interpretação constantes do comportamento coletivo da equipa (Santos et al., 2016). Segundo Machado et al. (2013) o jogo de futebol afigura-se a um sistema dinâmico no qual as equipas operam segundo distintos padrões de ação envolvendo subsistemas e distintos níveis de organização que tendem a refletir padrões comportamentais observáveis na dinâmica do jogo. Atualmente, o futebol de campo tem por base ações estratégicas, com vista ao desenvolvimento de competências nos jogadores que os capacitem para a gestão do esforço face às necessidades que os jogos impõem (Lago-Peñas, 2012; Lames, 2006). No que respeita particularmente aos jogos de futebol, estes apresentam tanto ações regulares e previsíveis, assim como, eventos imprevisíveis, sendo que estes últimos poderão influenciar significativamente o resultado (Marcelino and Sampaio, 2015). Neste sentido, torna-se relevante a análise dos detalhes assim como a interpretação dos resultados, possibilitando ao treinador a otimização dos treinos e, consequentemente, a melhoria do desempenho dos jogadores na competição (Ribeiro et al., 2017). É através da observação e análise do jogo - funções da responsabilidade do treinador - que este obterá informações fundamentais acerca dos jogadores (e.g., conhecimento das debilidades e fortalezas da própria equipa e equipas adversárias) servindo-lhe de ferramentas no planeamento do treino assim como na definição do plano tático-estratégico (Hughes and James, 2008; Lago-Peñas et al., 2010; Prieto et al., 2014). O estudo do jogo de futebol, além do referido anteriormente, é também de enorme importância para que o treinador conheça os motivos do golo e em que momento estes ocorreram (Heuer and Rubner, 2012), pois, ao ser efetuado o estudo do golo, o treinador conseguirá perceber qual o melhor esquema tático que deve ser empregue tendo em conta o resultado e o momento do jogo (Silva et al., 2011). A metodologia observacional tem sido uma solução encontrada para estudar o jogo do futebol, tendo em conta que, analisa o jogo na sua dinâmica habitual e no seu contexto natural (Anguera and HernándezMendo, 2015; Portell et al., 2015). É uma metodologia que consiste num procedimento científico, em função dos objetivos definidos, onde são registadas condutas percetíveis mediante um instrumento construído ad hoc, ou seja, especificamente para cada estudo (Anguera and Hernández-Mendo, 2013). O golo é o objetivo mais importante no futebol por definir a vantagem ou desvantagem entre os adversários (Drubscky, 2003; Leitão, 2004; Silva et al., 2011), além de diferenciar como bem-sucedida uma equipa das demais pelo poder de marcar golos (Moraes et al., 2012). Com isto, tendo em conta o que foi descrito e por concordarmos na totalidade com a citação que introduz este estudo de análise descritiva, tomamos a iniciativa/ objetivo principal analisar o momento do golo nos jogos que compreenderam o Campeonato do Mundo de Futebol 2018. Para isso, considerámos como elementos de análise/ objetivos específicos (1) a forma como o golo é obtido, (2) em que parte do jogo, (3) qual o período de tempo, (4) em que zona do campo é concretizado, (5) qual o método empregue, (6) em que zona a bola é recuperada, (7) a zona do último passe para finalização, (8) de que forma a bola é recuperada e (9) o melhor marcador do torneio.
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2. O GOLO. UMA ANÁLISE APLICADA AO CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL 2018
METODOLOGIA O presente estudo consistiu na visualização dos 64 jogos que decorreram na fase final do Campeonato do Mundo de Futebol 2018 com enfoque no momento do golo. Para cada seleção, em cada jogo, foram realizadas as colheitas dos dados relativos a: (1) Fase da competição, (2) Resultado do Jogo, (3) Minuto do Golo, (4) Marcador do Golo, (5) Continente, (6) Confederação, (7) Parte do Jogo, (8) Zona de Recuperação de bola, (9) Zona do último passe para finalização, (10) Formas de Recuperação de Bola, (11) Métodos para Obtenção do Golo, (12) Formas de Obtenção da Finalização e (13) Zona de Finalização. Para a análise foi utilizado o instrumento Sistema de Observação do Golo no Futebol (SOGF), validado em 2015 e publicado no ano 2016, que combina formatos de campo e sistemas de categorias, nomeadamente, forma de recuperação da bola, zona da recuperação da bola, zona do último passe para finalização, método para a obtenção do golo, forma de obtenção da finalização e zona de finalização. Com a visualização de todos os jogos através do site Footballia, foram recolhidos os respetivos dados da amostra e registados em folha de excel. Posteriormente emitidos gráficos e tabelas com os dados mais relevantes e pertinentes para o estudo em análise. Para comparar as Formas de Recuperação da Bola (FRB) e os Métodos para Obtenção do Golo (MOG) foi dividido a análise em esquemas táticos (ET) e bola corrida (BC). Relativamente às saídas de bola pela linha lateral estas foram consideraras como ET sempre que a reposição da bola pela linha lateral resulta directamente em golo em virtude de planeamento pelo treinador (lançamento direto para o interior da grande área), ou foram consideradas como BC os lances que partem de recuperação de bola através das linhas laterais, mas após lançamento ainda ocorre lance/jogada corrida até à finalização. Após a análise dos golos por período de tempo (primeira parte, segunda parte e prolongamento), foi realizada uma análise dos mesmos em particular com separação do tempo de jogo regular em períodos pré-definidos de 15 minutos (0-15’; 16-30’; 31-45’; 46-60’; 61-75’; 76-90’). Foram considerados os minutos extra ao tempo regular como compensação e, posteriormente, divididos em dois períodos: (1) compensação após os minutos regulamentares (45’) da primeira parte (Compensação 45+) e (2) compensação de minutos antes do término da segunda parte (Compensação 90+). Foi estipulado como compensação o tempo extra atribuído pelo árbitro. Os dados recolhidos foram trabalhados estatisticamente entre janeiro e fevereiro de 2019 em Microsoft Office Excel 2016. Amostra Para o presente estudo foram estudados os 64 jogos do Campeonato do Mundo de Futebol 2018, dos quais, 7 jogos pertencem às seleções: Francesa, Croata, Belga e Inglesa; 5 jogos pertencem às seleções: Uruguaia, Brasileira, Sueca e a Russa; 4 jogos pertencem às seleções: Colombiana, Espanhola, Dinamarquesa, Mexicana, Portuguesa, Suíça, Japonesa, Argentina; 3 jogos pertencem às seleções: Senegalesa, Iraniana, Sul Coreana, Peruana, Nigeriana, Alemã, Sérvia, Tunisina, Polaca, Saudita, Marroquina, Islandesa, Costarriquenha, Australiana, Egípcia e Panamenha, sendo que foram observados e analisados, no total, 169 golos e, conjuntamente, a sequência de ações táticas desde o momento de recuperação da posse de bola.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO No Campeonato do Mundo de Futebol 2018 foram qualificadas 32 seleções (tabela 1). Pela Confederação UEFA – continente Europeu – foram apuradas 14 seleções (França, Croácia, Bélgica, Inglaterra, Suécia, Rússia, Espanha, Dinamarca, Portugal, Suíça, Alemanha, Sérvia, Polónia e Islândia); pela Confederação CONMEBOL – continente América do Sul - 5 seleções (Uruguai, Brasil, Colômbia, Argentina e Perú); pela Confederação CONCACAF – continente América do Norte -3 seleções (México, Costa Rica e Panamá); pela Confederação AFC – continente Asiático - 5 seleções (Japão, Irão, Coreia do Sul, Arábia Saudita e Austrália); e pela Confederação CAF – continente Africano - 5 seleções (Senegal, Nigéria, Tunísia, Marrocos e Egito). Por curiosidade referir que a Austrália, país da Oceânia, desde 2010 que disputa a fase de qualificação na confederação asiática, tendo-se apurado para a fase final deste campeonato do mundo em representação dessa confederação. Da totalidade das seleções que participaram no campeonato verificou-se que as quatro melhores pertencem ao continente Europeu seguindo-se com destaque a América do Sul. No que respeita ao maior número de golos registados evidencia-se a seleção belga como a seleção mais concretizadora. Tabela 1. Desempenho de cada seleção no Campeonato do Mundo de Futebol 2018, Continente pelo qual se qualificou e respetiva confederação. Seleção
Classificação
Continente
Confederação
Golos Marcados
Total de Jogos
V
E
D
França
1º
Europa
UEFA
14
7
6
1
0
Croácia
2º
Europa
UEFA
14
7
4
2
1
Bélgica
3º
Europa
UEFA
16
7
6
0
1
Inglaterra
4º
Europa
UEFA
12
7
3
1
3
Uruguai
5º
América do Sul
CONMEBOL
7
5
4
0
1
Brasil
6º
América do Sul
CONMEBOL
8
5
3
1
1
Suécia
7º
Europa
UEFA
6
5
3
0
2
Rússia
8º
Europa
UEFA
11
5
2
2
1
Colômbia
9º
América do Sul
CONMEBOL
6
4
2
1
1
Espanha
10º
Europa
UEFA
7
4
1
3
0
Dinamarca
11º
Europa
UEFA
3
4
1
3
0
México
12º
América do Norte
CONCACAF
3
4
2
0
2
Portugal
13º
Europa
UEFA
6
4
1
2
1
Suíça
14º
Europa
UEFA
5
4
1
2
1
Japão
15º
Ásia
AFC
6
4
1
1
2
Argentina
16º
América do Sul
CONMEBOL
6
4
1
1
2
Senegal
17º
África
CAF
4
3
1
1
1
Irão
18º
Ásia
AFC
2
3
1
1
1
Coreia do Sul
19º
Ásia
AFC
3
3
1
0
2
Perú
20º
América do Sul
CONMEBOL
2
3
1
0
2
Nigéria
21º
África
CAF
3
3
1
0
2
Alemanha
22º
Europa
UEFA
2
3
1
0
2
Sérvia
23º
Europa
UEFA
2
3
1
0
2
Tunísia
24º
África
CAF
5
3
1
0
2
Polónia
25º
Europa
UEFA
2
3
1
0
2
Arábia Saudita
26º
Ásia
AFC
2
3
1
0
2
Marrocos
27º
África
CAF
2
3
0
1
2
Islândia
28º
Europa
UEFA
2
3
0
1
2
Costa Rica
29º
América do Norte
CONCACAF
2
3
0
1
2
Austrália
30º
Ásia
AFC
2
3
0
1
2
Egito
31º
África
CAF
2
3
0
0
3
Panamá
32º
América do Norte
CONCACAF
2
3
0
0
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2. O GOLO. UMA ANÁLISE APLICADA AO CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL 2018
Nota: A classificação final é determinada através da fase que a seleção alcançou e a sua pontuação, levando em conta os critérios de desempate.
Na competição, quanto mais longe a seleção avançar, mais jogos concretiza, sendo que, dependendo da fase, o número de jogos possíveis são: 7, 5, 4 e 3. Aplicando ao presente estudo, as seleções que foram à final e as que disputaram o 3º e 4º lugar realizaram 7 jogos (França, Croácia, Bélgica e Inglaterra); os que foram eliminados na fase de grupos jogaram apenas 3 jogos (Senegal, Irão, Coreia do Sul, Perú, Nigéria, Alemanha, Sérvia, Tunísia, Polónia, Arábia Saudita, Marrocos, Islândia, Costa Rica, Austrália, Egito e Panamá); seguindo os oitavos de final, com a realização de 4 jogos (Colômbia, Espanha, Dinamarca, México, Portugal, Suíça, Japão e Argentina); e, por fim, os elementos eliminados nos quartos de final com a concretização de 5 jogos (Uruguai, Brasil, Suécia e Rússia não conseguiram passar desta). No Campeonato do Mundo de 2018 foram contabilizadas 51 vitórias/derrotas e 13 empates (Tabela 1).
Na totalidade dos jogos, (n=64), no decorrer da primeira parte foram marcados 66 golos (39%), na segunda parte, 100 golos (59%) e no prolongamento, foram marcados 3 golos (2%) (Gráfico 1). Tendo em conta estes valores, podemos verificar que se concretizam mais golos na segunda parte do jogo, evidência registada em estudos anteriores (Rissati, 2018; Ribeiro et al., 2017; Junior, 2015). Gráfico 1 - Golos por parte do jogo (n=169). 1º Parte
2º parte
Prolongamento
Prolongamento 2%
1º Parte 39% 2º parte 59%
Relativamente aos primeiros 15 minutos dos 64 jogos realizados no Campeonato do Mundo de Futebol 2018 foram marcados 21 golos; dos 16 aos 30 minutos registaram-se 16 golos (período de jogo regulamentar com menos golos marcados) sendo este o período do estudo em que se marcaram menos golos; dos 31 aos 45 minutos efetivou-se um total de 26 golos. Após o intervalo nos primeiros 15 minutos da segunda parte foram concretizados 33 golos, período do estudo com maior número de golos marcados; entre os 61 e os 75 minutos foram marcados 29 golos, verificando-se um decréscimo de golos obtidos nos últimos 15 minutos de jogo finalizando com sucesso 19 vezes, tal como na compensação após os 90’ (Compensação 90+).
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2. O GOLO. UMA ANÁLISE APLICADA AO CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL 2018
Na compensação 90+, a maioria dos golos marcados ocorreram a partir de FALTA (n=9), SBLF (n=3), INT (n=1), BP (n=3), GR (n=2) e DES (n=1). Das 9 faltas marcadas neste período, 7 foram concretizadas através do LI, 1 por LD e 2 por penalti. Na compensação antes do intervalo (compensação 45+), foram marcados 3 golos, assim como no prolongamento, sendo que na compensação 1 dos golos foi por ataque rápido e os outros 2 por grande penalidade (FALTA); já no prolongamento houve 1 golo marcado por livre indireto (FALTA), canto longo e um ataque rápido. Concisamente, 4 esquemas táticos e 2 ataques rápidos, num total de 6 golos. Logo, estas seleções, que marcaram nestes dois intervalos de tempo, tiveram eficácia por situações concretas treinadas e acelerando o jogo, desequilibrando o adversário (Gráfico 2). Contrariamente ao verificado por Rissoti (2018) na análise do “Campeonato Sul-Americano sub-20” e Ribeiro et al. (2017) no estudo do “Campeonato do Mundo de Futebol de 2014”, o período com maior ocorrência de golos no Campeonato do Mundo de 2018 correspondeu ao 46-60’, em contraste com o período 76-90’ dos estudos referidos. Gráfico 2 - Número total de golos (n=169) nos 64 jogos do Campeonato do Mundo de Futebol 2018 por períodos do jogo.
33
26
29 19
16
19
Compensação (90+)
75-90'
61-75'
3 46-60'
Compensação (45+)
31-45'
16-30'
3
Prolongamento
21
0-15'
35 30 25 20 15 10 5 0
Para comparar as Formas de recuperação da bola (FRB) e os Métodos para obtenção do golo (MOG) foi dividida a análise em esquemas táticos (ET) e bola corrida (BC). Nas FRB as seleções recuperaram a bola através de esquemas táticos (FALTA, SBLF, SBLL; n=78) e bola corrida (BP, INT, DES, GR, CP-F; n=82). Só classificamos as SBLL como esquemas táticos em 3 situações, que foram os golos resultantes de LLL. A esta separação, faltam 9 golos, os quais a recuperação de bola foi feita pelas linhas laterais, no entanto, antes da ocorrência do golo, aconteceram diferentes situações que não podemos denominar esquema tático. Estes 9 golos foram registados como CA (n=1), AP (n=7) e AR (n=1). Nos MOG obteve-se o golo mais vezes por bola corrida (CA, AR, AP; n=91) do que esquemas táticos (PEN, LD, LI, LLL, CL, CC; n= 76). As seleções aproveitaram para construir um ataque organizado e manter a posse da bola, de forma a chegar com mais segurança à baliza adversária, visto que o ataque posicional foi o método mais utilizado para a obtenção do golo em todo o campeonato.
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
2. O GOLO. UMA ANÁLISE APLICADA AO CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL 2018
Temos de referir que 2 golos não conseguiram ser selecionados pelos critérios desenvolvidos pelo SOFG para MOG. Esses 2 golos, ocorreram de um passe para o guarda-redes, estes tentaram fintar o avançado da equipa adversária e não foram bem-sucedidos. Tabela 2. Comparação entre formas de recuperação da bola e dos métodos para obtenção do golo nos 64 jogos do campeonato do mundo de futebol 2018, n= 169 Métodos para obtenção do golo, n=169
Formas de recuperação da bola, n= 169 Código do Instrumento
Número
Percentagem
Código do Instrumento
Número
Percentagem
GR
5
2,96%
CA
22
11,83%
INT
23
13,61%
AR
24
13,61%
DA
4
2,37%
AP
45
14,20%
BP
40
23,67%
PEN
23
26,63%
FALTA
51
30,18%
LD
6
11,83%
SBLF
24
14,20%
LI
20
13,02%
ET
3
1,78%
BC
9
5,33%
LLL
3
3,55%
SBMC
0
0%
CL
20
1,78%
CF-P
1
0,59%
CC
4
2,37%
PB
0
0%
BS
0
0%
Não definida
2
1,18%
SBLL
Na zona ofensiva central as seleções observadas recuperaram a bola 21 vezes (12,43%), em que essas ações culmiram em golo. Na zona média do campo foram recuperadas 66 bolas (zona média defensiva – 33, 19,53%; zona média ofensiva – 33, 19,53%). Podemos também verificar que é no corredor central que ocorrem mais recuperações de bola que terminam em golo (n=59; 34,91%). Salientamos o número de ocorrências registadas em que a recuperação de bola aconteceu pela linha do campo, 24 (14,20%) pelas linhas finais e 12 (7,10%) pelas linhas laterais (Figura 1).
2018-19 TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS
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2. O GOLO. UMA ANÁLISE APLICADA AO CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL 2018
24; 14,20%
Figura 1 - Zona de recuperação de bola, n=169
9
9
12
11
5,33%
5,33%
7,10%
6,51%
11
13
14
21
6,51%
7,69%
8,28%
12,43%
10
11
7
5
5,92%
6,51%
4,14%
2,96%
12; 7,10%
De acordo com a Figura 2, as zonas onde ocorrem mais passes para finalização são: zona defensiva esquerda e a zona ofensiva esquerda (n=17; 10,06%). É no corredor esquerdo que acontecem mais passes para suceder o golo (n= 46; 27,22%). É de salientar que um grande número de ocorrências resulta de situações sem passe para finalizar (n=43; 25,44%). Figura 2 - Zona do último passe para finalização
17
5
7
17
10,06%
2,96%
4,14%
10,06%
10
14
14
3
5,92%
8,28%
8,28%
1,78%
16
6
3
14
9,47%
3,55%
1,78%
8,28%
Destacando: (1) Pé Direito (2) Pé Esquerdo (3) Peito (4) Cabeça e (5) Autogolo, o “Pé Direito” foi a forma escolhida pela maioria dos jogadores para obterem a finalização. O “Pé Direito” concretizou 74 golos (43,79%). Em segundo lugar foi o “Pé Esquerdo” com um total de 41 golos (24,26%) e a ocupar o último lugar do pódio foi a “Cabeça” com 39 golos concretizados (23,08%).
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Tabela 3 - Formas de obtenção da finalização nos 64 jogos do Campeonato do Mundo de Futebol 2018, n= 169 Código do Instrumento
N
%
Pé Direito
74
43,79
Pé Esquerdo
41
24,26
Peito
0
0
Outro
5
2,96
Cabeça
39
23,08
Autogolo
10
5,92
Das 10 zonas analisadas para ocorrência de finalização, a mais solicitada foi a zona F (28,99%), centro da área. Seguidamente foi a zona G, exatamente onde se bate o penalti, com 13,61%, o que corresponde a 23 penaltis no Campeonato do Mundo 2018. Na zona D, foram obtidos 11,24% dos golos. Analisando a pequena área, foram marcados mais golos na zona A (7,69%). As duas zonas com menor ocorrência de golos foram as zonas H e J. Como já seria de esperar, as zonas onde aconteceram mais golos foram as correspondentes à grande área (zona D, E, F e G) (Figura 3). Figura 3 - Quantidade de golos marcados por zona de finalização, n=169
7,69%
6,51%
11,24%
5,92% 10,06%
13,61%
28,99%
2,96%
2018-19 TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS
8,28%
22
4,73%
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2. O GOLO. UMA ANÁLISE APLICADA AO CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL 2018
No que diz respeito aos marcadores destacou-se como o melhor do Campeonato do Mundo de Futebol 2018 o Harry Kane, jogador da seleção da Inglaterra, com um total de 6 golos em 6 jogos. Na tabela 4 estão descriminados todos os jogadores, por ordem de número de golos marcados, deste campeonato. Tabela 4 - Jogadores que marcaram golos no Campeonato do Mundo de Futebol 2018, n=157 Golos 6 4
3
2
1
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Jogador Harry KANE Antoine GRIEZMANN Kylian MBAPPÉ Romelu LUKAKU Denis CHERYSHEV Cristiano RONALDO Artem DZYUBA Eden HAZARD Mario MANDZUKIC Ivan PERISIC Yerry MINA Diego COSTA Edinson CAVANI Philippe COUTINHO NEYMAR Junior Wahbi KHAZRI LuIs SUÁREZ Takashi INUI Sergio AGÜERO Heung-min SON Andreas GRANQVIST Mohamed SALAH John STONES Ahmed MUSA Luka MODRIC Mile JEDINAK Juan QUINTERO Radamel FALCAO Juan CUADRADO Kevin DE BRUYNE Dries MERTENS Nacer CHADLI Jan VERTONGHEN Thomas MEUNIER Marouane FELLAINI Michy BATSHUAYI Adnan JANUZAJ Harry MAGUIRE Jesse LINGARD Kieran TRIPPIER Dele ALLI Lionel MESSI Angel DI MARIA Marcos ROJO Gabriel MERCADO Ivan RAKITIC Andrej KRAMARIC Domagoj VIDA Ante REBIC Milan BADELJ Yuya OSAKO Keisuke HONDA Shinji KAGAWA Genki HARAGUCHI PEPE Ricardo QUARESMA
Seleção Inglaterra França França Bélgica Rússia Portugal Rússia Bélgica Croácia Croácia Colômbia Espanha Uruguai Brasil Brasil Tunísia Uruguai Japão Argentina Coreia do Sul Suécia Egito Inglaterra Nigéria Croácia Austrália Colômbia Colômbia Colômbia Bélgica Bélgica Bélgica Bélgica Bélgica Bélgica Bélgica Bélgica Inglaterra Inglaterra Inglaterra Inglaterra Argentina Argentina Argentina Argentina Croácia Croácia Croácia Croácia Croácia Japão Japão Japão Japão Portugal Portugal
Idade 24 26 19 25 27 33 29 27 31 29 23 29 30 25 26 27 31 30 30 25 32 25 24 25 32 33 25 32 30 26 31 28 31 26 30 24 23 25 25 27 22 30 30 27 31 30 26 29 24 29 28 32 29 27 35 34
23
Clube Tottenham Atlético Madrid (Esp) Paris Saint-Germain Mancherter United (Ing) Villarreal (Esp) Real Madrid (Esp) Zenit São Petersburgo Chelsea (Ing) Juventus (Ita) Inter Milão (Ita) Barcelona (Esp) Atlético Madrid Paris Saint-Germain (Fra) Barcelona (Esp) Paris Saint-Germain (Fra) Rennes (Fra) Barcelona (Esp) Eibar (Esp) Manchester City (Ing) Tottenham (Ing) Krasnodar (Rus) Liverpool (Ing) Manchester City Leicester City (Ing) Real Madrid (Esp) Aston Villa (Ing) River Plate (Arg) Monaco (Fra) Juventus (Ita) Manchester City (Ing) Nápoles (Ita) West Bromwich (Ing) Tottenham (Ing) Paris Saint-Germain (Fra) Manchester United (Ing) Chelsea (Ing) Real Sociedad (Esp) Leicester City Manchester United Tottenham Tottenham Barcelona (Esp) Paris Saint-Germain (Fra) Manchester United (Ing) Sevilla (Esp) Barcelona (Esp) Hoffenheim (Ale) Besiktas (Tur) Eintracht Frankfurt (Ale) Fiorentina (Ita) Colónia (ale) Pachuca (Mex) Borussia Dortmund (Ale) Fortuna Dusseldorf (Ale) Besiktas (Tur) Besiktas (Tur)
Posição Av Av Av Av Md Av Av Av Av Av Df Av Av Md Av Av Av Md Av Av Df Av Df Av Md Md Md Av Md Md Av Md Df Df Md Av Av Df Md Df Md Av Md Df Df Md Av Df Av Md Av Md Md Md Df Av
Jogos 6 7 7 6 5 4 5 6 6 7 3 4 4 5 5 3 5 4 4 3 5 2 7 2 7 3 4 4 4 6 6 6 6 5 5 3 1 7 6 6 5 4 3 3 3 7 7 6 6 3 4 3 3 3 4 3
TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
2. O GOLO. UMA ANÁLISE APLICADA AO CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL 2018
Christian ERIKSEN Yussuf POULSEN Mathias JORGENSEN Paolo GUERRERO André CARRILLO Hirving LOZANO Carlos VELA Javier HERNANDEZ Raphaël VARANE Benjamin PAVARD Paul POGBA Samuel UMTITI Victor MOSES Sadio MANÉ Moussa WAGUÉ M´Baye NIANG Xherdan SHAQIRI Granit XHAKA Blerim DZEMAILI Steven ZUBER Josip DRMIC Marco REUS Toni KROOS Thiago SILVA PAULINHO Roberto FIRMINO Renato AUGUSTO ISCO Iago ASPAS NACHO Fernández Ludwig AUGUSTINSSON Ola TOIVONEN Aleksandar MITROVIC Aleksandar KOLAROV Salem AL-DAWSARI Salman AL-FARAJ Mário FERNANDES Aleksandr GOLOVIN Yuri GAZINSKIY Young-gwon KIM Alfred FINNBOGASON Gylfi SIGURDSSON Khalid BOUTAIB Youssef EN-NESYRI Grzegorz KRYCHOWIAK Jan BEDNAREK Ferjani SASSI Fakhreddine BEN YOUSSEF Dylan BRONN José GIMÉNEZ Felipe BALOY Kendall WASTON Karim ANSARIFARD
Dinamarca Dinamarca Dinamarca Perú Perú México México México França França França França Nigéria Senegal Senegal Senegal Suiça Suiça Suiça Suiça Suiça Alemanha Alemanha Brasil Brasil Brasil Brasil Espanha Espanha Espanha Suécia Suécia Sérvia Sérvia Arábia Saudita Arábia Saudita Rússia Rússia Rússia Coreia do Sul Islândia Islândia Marrocos Marrocos Polónia Polónia Tunísia Tunísia Tunísia Uruguai Panamá Costa Rica Irão
26 23 28 34 27 22 29 30 25 22 25 24 27 26 19 23 26 25 32 26 25 29 28 33 29 26 30 26 30 28 24 31 23 32 26 28 27 22 28 28 29 28 31 21 28 22 26 26 22 23 37 30 28
Tottenham (Ing) Leipzig (Ale) Huddersfield (Ing) Flamengo (Bra) Watford (Ing) PSV Eindhoven (Hol) Los Angeles FC (USA) West Ham (Ing) Real Madrid (Fra) Estugarda (Ale) Manchester United (Ing) Barcelona (Esp) Chelsea (Ing) Liverpool (Ing) Eupen (Bel) AC Milão (Ita) Stoke City (Ing) Arsenal (Ing) Bolonha (Ita) Hoffenheim (Ale) Borussia M´Gladbach (Ale) Borussia Dortmund Real Madrid (Esp) Paris Saint-Germain (Fra) Barcelona (Esp) Liverpool (Ing) Beijing SG (Chi) Real Madrid Celta Vigo Real Madrid Werder Bremen (Ale) Toulouse (Fra) Newcastle (Ing) AS Roma (Ita) Al Hilal Al Hilal CSKA Moscovo CSKA Moscovo Krasnodar Guangzhou Evergr. (Chi) Augsburgo (Ale) Everton (Ing) Yeni Malatyaspor (Tur) Málaga (Esp) Paris Saint-Germain (Fra) Southampon (Ing) Al Nassr (A.Sau) Al Ettifaq (A.Sau) Gent (Bel) Atlético Madrid (Esp) Municipal (Gua) Vancouver (USA) Olympiakos (Gre)
Md Av Df Av Av Av Av Av Df Df Md Df Av Av Df Av Md Md Md Md Av Av Md Df Md Av Md Md Av Md Df Av Av Df Md Md Df Md Md Df Av Md Av Av Md Df Md Av Df Df Df Df Av
4 3 3 3 3 4 4 4 7 6 6 6 3 3 3 3 4 4 4 3 3 3 3 5 5 4 3 4 3 2 5 5 3 3 3 3 5 4 4 3 3 3 2 1 3 3 3 3 2 4 1 1 3
Nota: neste campeonato foram marcados 12 autogolos que não estão descritos na tabela 4
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2. O GOLO. UMA ANÁLISE APLICADA AO CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL 2018
CONCLUSÃO […] é importante conhecer não apenas o momento correspondente ao golo, mas também o processo que lhe deu origem. Basto and Garganta, 1996
O presente estudo descritivo analisou o momento do golo ao longo dos 64 jogos do Campeonato do Mundo de Futebol 2018, desde a recuperação de bola até à finalização, e definiu-se em nove objetivos específicos. As conclusões deste estudo serão elencadas nestes objetivos, pelo que referimos desde já a importância da continuidade deste tipo de análise face aos resultados pertinentes obtidos. Sobre (1) a forma como o golo foi obtido já era esperado o resultado de a percentagem mais elevada ser atribuído ao pé direito (43,79%) uma vez a população mundial é mais dextra do que esquerdina. (2) Em que parte do jogo, (3) qual o período de tempo de maior prevalência e (4) em que zona do campo o golo aconteceu, o estudo revela-nos 59% de eficácia na segunda parte, da análise de todos os jogos, especificamente no período 46-60’ e na grande área em frente à baliza com 28,99%. Acrescentamos, inclusive, a compensação 90+ com 19 golos obtidos o que nos leva a refletir sobre a performance psicológica e física dos atletas. Sobre os 46-60’ induz-nos a concluir que a concretização do golo possa estar associada a possíveis modificações tático-estratégicas. Relativamente ao (5) método empregue, (6) em que zona a bola é recuperada, (7) a zona do último passe para finalização e (8) de que forma a bola é recuperada, a análise estatística demonstrou que: as seleções adotaram o ataque posicional tendo com isto concretizado golos em 14,20% das jogadas, recuperando a bola maioritariamente na zona média do campo; com o último passe a surgir preferencialmente no corredor esquerdo (27,22%) e na sequência de 40 bolas perdidas (23,67%) os golos foram obtidos. Ao estudar este campeonato e face estes resultados, percebemos que o ataque posicional é um método de jogo importante para obtenção do golo, sendo essencial tanto para a recuperação de bola como para a finalização o posicionamento e a organização da equipa. Finalizamos com destaque à pessoa que foi (9) o melhor marcador do torneio, com 6 golos marcados, Harry Kane jogador inglês. Este objetivo específico fez sentido neste estudo uma vez que o esforço individual e de equipa tem por base a performance desportiva, sendo muitas vezes avaliada apenas pela capacidade de finalização. Os resultados mostram que a metodologia utilizada permite a recolha de informações importantes para os treinadores, que podem ser utilizadas na planificação do treino e da competição orientando os seus atletas.
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phase
and
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
INTRODUÇÃO No futebol, o treino da criatividade tem despertado a atenção dos treinadores, visto que, o seu desenvolvimento instiga os jogadores a realizarem comportamentos memoráveis e, consequentemente, eleva o seu nível desportivo (Santos, Memmert, Sampaio & Leite, 2016). Contudo, apesar de todos nascermos com potencial criativo, a criatividade diminui com o avançar da idade. Se por um lado o contexto social, no qual impera um pensamento instituído (convergente) em detrimento de um pensamento divergente, o que parece, impactar negativamente o comportamento criativo, a verdade é que as atuais práticas desportivas também não favorecem o seu desenvolvimento. De facto, têm-se vindo a verificar a prevalência de atividades cada vez mais mecanizadas, menos divertidas e desenvolvidas em ambientes estáticos e pouco ecológicos. Acresce ainda, a extinção do futebol de rua como resultado do reduzido tempo que as crianças têm para jogar livremente na rua, que culmina com o desenvolvimento de jogadores com um reportório técnico mais limitado e com claras limitações ao nível da adaptação a contextos mais imprevisíveis e dinâmicos. No entanto, o contexto desportivo tem vindo a ser indicado como um meio facilitador do comportamento criativo, desde que suportado por práticas apropriadas (Coutinho et al., 2018).
OBJETIVOS Tendo em consideração que a criatividade pode ser promovida através do desporto (Coutinho et al., 2018; Santos et al., 2016), é fundamental compreender quais as abordagens mais indicadas para se (re)conquistar o comportamento criativo. Foi com este intuito que recentemente foi criado um modelo para o desenvolvimento da criatividade, intitulado Creativity Developmental Framework, CDF, que visa apresentar um conjunto de pressupostos que pretendem fomentar o comportamento criativo durante o processo de formação desportiva. Assim, das premissas apresentadas por este modelo, procurou-se centrar-se nas seguintes abordagens: a) prática diversificada; b) literacia motora; c) pedagogia não-linear que ostenta a utilização de formas jogadas para promover o ensino; e d) promoção de variabilidade motora, com o intuito de compreender de que modo estas abordagens afetam o desenvolvimento do comportamento criativo em contexto de futebol, visando auxiliar os treinadores na criação de ambientes propícios ao desenvolvimento da criatividade.
RESULTADOS
CONCLUSÕES
Um dos conceitos fundamentais é a prática diversificada que numa fase inicial visa promover a prática de vários desportos, para uma posterior especialização desportiva numa modalidade. Esta prática diversificada favorece a capacidade de adaptação dos jogadores a contextos imprevisíveis. Adicionalmente, possibilita ainda que os jogadores possam transferir padrões de movimento aprendidos num desporto para outro. Por exemplo, é comum o Ibrahimović marcar golos com movimentos típicos de artes marciais, desportos que praticou no seu passado e que lhe confere um maior reportório técnico. Duas outras abordagens a ser contempladas pelos treinadores são a literacia motora e a prática variada. Se no passado estas duas abordagens não tinham papel importante no treino, atualmente e com a redução do tempo passado a jogar na rua, assumem um papel de destaque. Para contrariar o limitado reportório técnico e de movimento, bem como da exploração de novos movimentos, é importante incluir práticas sustentadas na variabilidade, como por exemplo jogar em terrenos irregulares e variados (terra, relva, sintético, cimento), ou usar diferentes tipos de bolas (pequenas, grandes, pesadas). Por fim, todas estas práticas devem ser baseadas em jogo (jogos reduzidos), visto que permite acoplar as ações dos jogadores com a informação do meio-ambiente, permitindo-lhes afinar não só como executar mas também quando executar. Estes jogos têm ainda a vantagem de possibilitar manipular as suas regras favorecendo a emergência de determinados comportamentos. Todas estas abordagens foram implementadas no contexto de futebol, tendo sido verificado um incremento do comportamento adaptativo e criativo dos jogadores (Coutinho et al., 2018).
O desporto tem vindo a ser considerado como um meio privilegiado para contrariar a redução do comportamento criativo ao longo da idade. No decorrer deste trabalho foi enfatizado a importância de expor as crianças e jovens a contextos variados e diversificados que lhes permitam não só desenvolver a sua capacidade de adaptação como também de exploração de novos movimentos. O jogo emerge ainda como elemento fundamental de ensino que visa desenvolver a capacidade dos jogadores em suportar as suas decisões com base na informação ambiental. Assim, pretende-se que os treinadores possam moldar as suas práticas com o intuito de fomentarem o comportamento criativo dos jogadores.
Referências Coutinho, D., Santos, S., Gonçalves, B., Travassos, B., Wong, D.P., Schöllhorn, W., & Sampaio, J. (2018). The effects of an enrichment training program for youth football attackers. PLoS One, 13(6), e0199008. Santos, S., Memmert, D., Sampaio, J., & Leite, N. (2016). The Spawns of Creative Behavior in Team Sports: A Creativity Developmental Framework. 7(1282).
À (RE)CONQUISTA DA CRIATIVIDADE NO FUTEBOL. Diogo Alexandre Martins Coutinho
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INDICE GERAL
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RESUMO ............................................................................................................................. I
4
ABSTRACT ........................................................................................................................ II
5
1.
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
6
2.
CRIATIVIDADE NO DESPORTO ............................................................................... 2
7
2.1.
LITERACIA MOTORA – A BASE DO COMPORTAMENTO ................................ 2
8
2.2.
DIVERSIFICAR........................................................................................................ 3
9
2.3.
ENSINAR ATRAVÉS DO JOGO ............................................................................ 3
10 11
2.4. A VARIABILIDADE COMO INGREDIENTE FUNDAMENTAL NO COMPORTAMENTO CRIATIVO ....................................................................................... 4
12
3.
CONCLUSÕES ........................................................................................................... 5
13
4.
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 5
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ÍNDICE DE FIGURAS
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Figura 1 – Abordagem a ser considerada pelos treinadores na promoção do comportamento criativo .......................................................................................................................................................... 5
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À (re)conquista da criatividade no Futebol.
Resumo A criatividade permite inspirar os jogadores a realizarem ações inesquecíveis, sendo por isso uma predisposição extremamente valorizada no contexto desportivo. No entanto, a evolução da sociedade contemporânea tem contribuído para uma redução dos espaços disponíveis para as crianças brincarem e para a substituição dos estímulos motores pelos tecnológicos. Adicionalmente, as práticas desportivas atuais são caracterizadas por atividades demasiado estruturadas num ambiente monótono. Todos estes fatores têm contribuído para a redução do comportamento criativo ao longo da idade. Apesar destas limitações, o desporto tem vindo a ser considerado como um meio ótimo para promover o comportamento criativo desde que enquadrado em ambientes apropriados. Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo apresentar um conjunto de normas orientadoras que visam auxiliar os treinadores a enquadrar as suas práticas desportivas com o intuito de promover o comportamento criativo dos seus jogadores. Os comportamentos criativos apenas serão manifestados se as crianças forem capazes de se moverem com competência e confiança. Assim é fundamental que os treinadores incluam o desenvolvimento das habilidades de movimento e dos gestos desportivos específicos, visto que existe uma clara redução destas habilidades devido ao menor tempo despendido a brincar na rua. Para este efeito, os treinadores devem ter em consideração o uso de formas jogadas (jogo reduzido), visto que permite refinar as execuções técnicas (como executar) em função do contexto (quando executar). Adicionalmente, as práticas mais repetitivas e monótonas devem ser substituídas por práticas mais variadas e diversificadas visto que parece contribuir para níveis de aprendizagem superior. De facto, vários programas têm sustentado melhorias consideráveis no domínio técnico e criativo, bem como ao nível da capacidade de adaptação dos jogadores a contextos dinâmicos. Por fim, importa reter que o desenvolvimento da criatividade é um processo a longo prazo, sendo fundamental criar contextos nos quais exista liberdade para explorar. Palavras-Chaves: preparação desportiva a longo prazo; variabilidade motora; prática diversificada; jogos reduzidos.
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Re-conquering creativity in Association Football.
Abstract Creativity is an extremely valued disposition in sports since it inspires players to perform unique and remarkable movement behaviors. However, the evolution of modern society has contributed to a decrease in the time that the children have to play, with a consequence replacement of the motor stimulus by a technological one. In addition, current training practices are characterized by rigid and monotonous training environments. All these factors have been leading to a decrease in creativity towards age. Despite these limitations, sports have been viewed as a very promising approach to revert this trend and to promote the creative environment. In this regard, this study aimed to present some normative guidelines to help coaches in designing appropriate and rich training environments for creative development. The creative behavior will only emerge if the children have confidence and competence to move in a range of different environments. The decreased time spent playing in the street has led to a decrease in the players’ fundamental movement and game skills, and thus coaches should include training tasks to develop these abilities. The fundamental movement and game skills should be developed using game-based practices since it allows to couple the players’ actions (how to perform) with the surrounding environment (when to perform). Also, the repetitive and monotonous training tasks should be replaced by more diversified and variable training practices, since these type of activities have been linked with higher levels of learning. In fact, several training programs have shown better technical, creative and tactical development using variable training practices, as well as to an increase in the ability to adapt to dynamic environments. Finally, it is important to know that creativity is a long-term process in which it is required to create environments that encourage the players to explore. Keywords: Long-term development; movement variability; diversified practice; small-sided games.
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1.
INTRODUÇÃO
A criatividade tem vindo a ser descrita como uma característica do pensamento humano que reflete a capacidade de resolver problemas de uma forma única e inovadora (Kaufman & Baer, 2012; Sowden, Pringle, & Gabora, 2015; Sternberg & Lubart, 1999), sendo por isso considerada uma predisposição extremamente valorizada na sociedade vigente (Runco, 2010). Também no desporto, em especial no futebol, o treino da criatividade tem despertado a atenção dos treinadores, visto que, instiga os jogadores a realizarem comportamentos memoráveis e, consequentemente, eleva o seu nível desportivo (Memmert, 2013; Santos, Jimenez, Sampaio, & Leite, 2017a). Contudo, apesar de todos nascermos criativos, a verdade é que esta criatividade parece diminuir com o avançar da idade (Kim, 2011). De facto, um estudo procurou acompanhar cerca de 1600 crianças ao longo de 10 anos, tendo implementado um teste de criatividade aos 5 anos de idade, aos 10 anos de idade a os 15 anos de idade. A percentagem associada ao pensamento criativo reduziu de 98% aos 5 anos para 30% aos 10 anos e posteriormente para 12% aos 15 anos (Land & Jarman, 1992). Posteriormente, o mesmo teste foi aplicado com outro grupo de pessoas, mas desta feita adultos e verificou-se que dos 280 000 adultos testados, apenas 2% parecem ter um perfil criativo (Land & Jarman, 1992). Esta redução da criatividade parece estar associada com a entrada das crianças na escola. De facto, um artigo publicado no The Guardian alerta para este facto, (https://www.theguardian.com/media-network/2016/may/18/born-creative-educated-out-of-us-schoolbusiness) sustentando que até ao momento de entrada na escola, as crianças aprendem a explorar, experimentar e a assumir riscos. Contudo, esta tendência é modificada a partir do momento em que estas entram na escola, visto que são todas encorajadas a interpretar o mundo da mesma forma, havendo limitações na possibilidade como exploram e pensam. Por outro lado, as exigências contemporâneas, no qual impera a velocidade do pensamento em detrimento da qualidade do mesmo, faz com que as crianças sejam sobrecarregadas de atividades extracurriculares, como por exemplo aulas de inglês, de música, de informática,... Todas estas atividades após o horário escolar reduzem consideravelmente o tempo livre que as crianças têm para brincar e explorar o meio-ambiente envolvente, o que também parece ter um impacto negativo na criatividade (por exemplo ver artigo publicado no jornal independente https://www.independent.co.uk/news/uk/home-news/children-learning-creativity-free-play-expert-claimsa8450906.html). Deste modo, é fundamental recriar estratégias que possibilitem reverter esta tendência negativa da diminuição da criatividade através da implementação de ambientes estimuladores. Neste sentido, o contexto desportivo tem vindo a ser indicado como um meio favorável para o desenvolvimento do comportamento criativo (Coutinho et al., 2018c; Santos et al., 2017a). Contudo, à semelhança do ambiente escolar, o contexto desportivo atual também não favorece o desenvolvimento do comportamento criativo. De facto, têm-se vindo a verificar a prevalência de atividades cada vez mais mecanizadas, menos divertidas e desenvolvidas em ambientes muito estáticos. Se por um lado este tipo de práticas persistiu com sucesso ao longo do tempo, a verdade é que no passado os jogadores desenvolviam e aperfeiçoavam os seus movimentos através do futebol de rua ao mesmo tempo que desenvolviam a capacidade de se adaptarem a contextos diversificados. No entanto, no presente verificase a extinção do futebol como resultado do reduzido tempo que as crianças têm para brincar, bem como devido ao aumento do número de veículos em circulação (Fonseca & Garganta, 2006). Como consequência da sua extinção, tem-se assistido ao desenvolvimento de jogadores com um reportório técnico mais limitado e com claras limitações ao nível da adaptação a contextos mais imprevisíveis e dinâmicos. Assim, torna-se imperativo que os clubes possam refletir e atualizar as suas práticas desportivas com o intuito de desenvolverem programas de treino adequados às exigências sociais e desportivas atuais. Deste modo, e considerando que a criatividade pode ser promovida através do desporto (Coutinho et al., 2018c; Santos et al., 2017a), é fundamental compreender quais as melhores abordagens para se poder reconquistar o comportamento criativo através do desporto. Importa ainda destacar que o desenvolvimento do comportamento criativo é um processo que deve ser enquadrado numa perspetiva a longo prazo e que, portanto, deve ser estimulado em fases iniciais. De facto, as crianças devem ser encorajadas a explorar novos comportamentos e a adaptarem-se ao meio-ambiente desde uma fase inicial do seu processo de formação desportiva (Santos et al., 2017a; Santos, Memmert, Sampaio, & Leite, 2016). Foi com este intuito que Santos e colaboradores (2016) criaram um modelo de desenvolvimento da criatividade, intitulado Modelo de Desenvolvimento da Criatividade (Creative Developmental Framework, CDF), que visa apresentar um conjunto de normas orientadoras para estimular o comportamento criativo durante o processo de formação desportiva. É neste contexto que emerge o presente trabalho, que suportado pelas evidências do Modelo de Desenvolvimento da Criatividade, procura apresentar um conjunto de abordagens que possam favorecer o desenvolvimento do comportamento criativo.
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CRIATIVIDADE NO DESPORTO
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Por natureza, os comportamentos criativos têm vindo a ser considerados aqueles que representam uma ação inovadora e única (Memmert & Roth, 2007). No entanto, este tipo de criatividade, designado de Criatividade-H (histórica), é visto como a concretização de um comportamento ou ação histórica e facilmente reconhecido socialmente (Boden, 1996). Apesar de este ser o tipo de criatividade que se procura, é importante que os treinadores de jovens jogadores de futebol tenham em consideração que este não é o tipo de criatividade que deve privilegiar durante uma face inicial do percurso desportivo, visto requerer um elevado domínio de uma determinada área (Cohen, 2011). Em contraste, durante o percurso de formação desportiva, os treinadores devem estimular a emergência do tipo de Criatividade-P (pessoal), que consiste na realização de um comportamento inovador para a pessoa, ou seja, a aquisição ou exploração de um comportamento motor que o indivíduo nunca tenha feito (Boden, 1996). Este tipo de criatividade distingue-se da anterior na medida em que considera a possibilidade de exploração individual, ainda que o comportamento que se crie, não seja inovador para o mundo em geral (Boden, 1996). Por exemplo, uma criança que aprenda a executar a roleta, adquire um comportamento que é novo para si (criatividade do tipo P), ainda que não seja novidade para a sociedade visto que a roleta é um movimento de futebol associado ao futebolista francês, Zinedine Zidane. No entanto este tipo de criatividade parece ser um pré-requisito para Criatividade tipo-H, pelo que as crianças devem auto desafiar-se constantemente no sentido de ultrapassarem as suas limitações pessoais, sem uma comparação direta com a prestação dos pares (Santos et al., 2016). Assim, será fundamental ao longo de todo o processo de formação dar liberdade aos jogadores para explorar novas formas de executar e de se movimentarem.
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2.1.
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A literacia motora consiste num termo que engloba o domínio das habilidades de movimento fundamentais, tais como correr, saltar, empurrar; bem como dos gestos desportivos específicos, como por exemplo rematar ou lançar. Este conceito visa dotar os indivíduos com capacidade para se moverem com competência e confiança num conjunto diferenciado de contextos (Giblin, Collins, & Button, 2014; Santos et al., 2017a; Santos et al., 2016). No entanto, enquanto que no passado a literacia motora era desenvolvida com recurso ao tempo passado a brincar na rua, atualmente, as alterações nos padrões de comportamento atuais tem vindo a afetar o seu desenvolvimento. Por exemplo, hoje em dia as crianças são expostas desde cedo a uma panóplia de estímulos tecnológicos (tablet, smartphone, computadores entre outros) que vieram substituir os estímulos mais motores (correr, saltar, fugir subir árvores, etc). Também com a extinção do futebol de rua, as crianças deixaram de aperfeiçoar os seus gestos desportivos, como por exemplo conduzir a bola em terrenos instáveis. Todas estas alterações comportamentais, têm contribuído para uma redução do domínio das habilidades de movimento fundamentais, bem como do aperfeiçoamento dos gestos desportos específicos. Considerando que a literacia motora é fundamental para se atingir níveis de rendimento superior, e como tal, também o desenvolvimento do comportamento criativo (Santos et al., 2017a; Santos et al., 2016), os treinadores devem estar cientes que tarefas que outrora eram dispensadas, devem agora ser enquadradas no processo de treino. De facto, as crianças apenas vão conseguir mover-se com competência e confiança nos mais variados contextos se possuírem uma elevada aptidão motora (Giblin et al., 2014; Santos et al., 2017a; Santos et al., 2016). Para este efeito, os treinadores devem dedicar parte do seu tempo de treino ao desenvolvimento destas duas componentes (habilidades de movimento fundamentais e aperfeiçoamento dos gestos técnicos específicos), e que assume um papel de relevo entre os 6 e os 12 anos de idade dado tratar-se do seu período ótimo de desenvolvimento (Balyi & Hamilton, 2004; Ford et al., 2011; Gabbard, 2012). Importa ressalvar que ainda que o conceito de literacia física possa levar para um entendimento de uma orientação mais física, na realidade ele traduz uma dimensão mais abrangente na qual inclui a dimensão cognitiva (Smith, 2016). Ou seja, o conceito de literacia física inclui não só o saber como movimentar e executar, mas também quando o fazer (Ford et al., 2011; Smith, 2016). Assim, os treinadores não devem separar a parte da execução do contexto, dado que apenas mediante um cenário representativo é possível afinar e calibrar as fontes de informação para auxiliar o processo de tomada de decisão (Coutinho et al., 2018c; Fajen, 2005; Santos et al., 2016). Por exemplo, o aperfeiçoamento do remate deve incluir uma restrição espacial que possibilite aos jogadores identificarem o espaço disponível que têm para executar, bem como a pressão temporal do defensor e a presença do guarda-redes, dado que os jogadores parecem suportar a decisão mediante a informação contextual (Travassos et al., 2012a). Deste modo, o treino do remate pode ser enquadrado numa perspetiva em que numa fase inicial o treinador inclua uma parte do exercício mais dedicado ao desenvolvimento das habilidades de movimento seguido de uma parte em contexto de 1vs1 que possibilite ao jogador interagir com o meio-ambiente e explorar as suas possibilidades de ação (https://www.youtube.com/watch?v=rfDjV7zJxTs). Importa reforçar que o domínio das habilidades de
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movimento fundamentais, bem como o domínio dos gestos desportivos específicos são também prérequisito para o comportamento criativo, pelo que os treinadores devem estimular tarefas que desenvolva a literacia motora dos seus jogadores.
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O percurso desportivo dos atletas têm vindo a ser uma das temáticas mais abordadas na preparação desportiva dos jovens jogadores e no qual imperam dois tipos de percursos: diversificação e especialização (Hornig, Aust, & Gullich, 2016; Moesch, Elbe, Hauge, & Wikman, 2011; Rees et al., 2016). A principal diferença entre os dois diz principalmente respeito ao número de modalidades praticadas e à idade de início da prática estruturada. Assim, enquanto que a especialização precoce, assenta na prática de uma só modalidade com carácter altamente estruturado e cuja idade de início de prática ronda os 5-6 anos de idade (Ericsson, 2014), em contraste, a prática diversificada é caracterizada pelo envolvimento inicial em vários desportos sustentados em práticas pouco estruturadas, e com idade de especialização a rondar os 16-anos de idade (Côté & Vierimaa, 2014; Leite, Baker, & Sampaio, 2009). Enquanto que durante largos anos estes dois percursos foram vistos como opostos, atualmente são vistos como complementares (Santos et al., 2016). Ou seja, numa fase inicial da preparação desportiva deve haver um foco superior na prática diversificada, visto que expõe os jogadores um diversificado número de contextos, que parece ser benéfico para a desenvolver a capacidade adaptativa e criativa dos jogadores em função da informação ambiental (Abernethy, Baker, & Côté, 2005; Broadbent, Causer, Williams, & Ford, 2015; Memmert, 2006; Santos, Mateus, Sampaio, & Leite, 2017b). De facto, um estudo desenvolvido com estudantes universitários que foram sujeitos a um programa de treino sustentado em variabilidade em basquetebol verificou que de entre 3 grupos: a) prática não estruturada, ou seja, um grupo sem experiência prévia em atividades desportivas estruturadas; b) especialização precoce; e c) especialização tardia, o grupo cujos resultados da intervenção foram melhores foi o da especialização tardia (Santos et al., 2017b). Acresce ainda que o este tipo de programa foi sustentado por práticas centradas em variabilidade e, que, portanto, uma prática mais diversificada parece dotar os jogadores com maior capacidade adaptativa a novos estímulos. Não obstante, é fundamental haver uma especialização numa modalidade numa etapa mais avançada do percurso de formação e que normalmente ronda os 16 anos de idade (Côté & Vierimaa, 2014). Ou seja, apesar da importância da experimentação de diferentes modalidades, é necessário mais tarde especializar num desporto que confira a possibilidade de refinar os movimentos desportivos adquiridos e as respetivas fontes de informação para se poder atingir níveis de desempenho superiores (Santos et al., 2016). Deste modo, e como referido inicialmente, as duas abordagens são complementares, aonde numa primeira instância impera a prática diversificada, e numa segunda a especialização. Neste contexto, os treinadores devem atuar como facilitadores numa fase inicial, proporcionado um leque vasto e rico de atividades desportivas recorrendo a práticas não estruturadas (como por exemplo o kronum https://www.youtube.com/watch?v=S2rO0JpHBLY), para posteriormente e mais tardiamente avançarem para uma prática mais estruturada e especializada.
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O conceito mais recente de criatividade refere a capacidade dos jogadores realizarem comportamentos novos e inesperados para resolver problemas específicos do jogo através do uso da informação ambiental (Santos et al., 2016). Este conceito alerta para o papel essencial que o meio-ambiente tem na emergência de comportamentos criativos. De facto, a tomada de decisão nos jogos desportivos coletivos, está dependente da capacidade dos jogadores em identificarem e usarem a informação relevante do contexto para suportarem a emergência de comportamentos funcionais (Travassos et al., 2012a; Travassos, Duarte, Vilar, Davids, & Araujo, 2012b). Assim, a aprendizagem será mais efetiva se ocorrer com desafios similares aos que existem nos contextos competitivos (Chow, Davids, Button, & Renshaw, 2015). Para este efeito os treinadores devem suportar as suas práticas no uso de tarefas baseadas em jogo, como por exemplo os jogos reduzidos. Os jogos reduzidos consistem em formas modificadas do jogo formal, que geralmente envolvem um menor número de jogadores, espaço reduzido e/ou regras adaptadas (Coutinho et al., 2016; Hill-Haas, Dawson, Impellizzeri, & Coutts, 2011). Uma das grandes vantagens do seu uso é que expõem sistematicamente os jogadores a situações de ataque e defesa, e, portanto, contribui para o aumento do seu conhecimento do jogo (Coutinho et al., 2016; Davids, Araujo, Correia, & Vilar, 2013). Além disso, os jogos reduzidos permitem manter a mesma informação que os jogadores utilizam durante a competição, contribuindo para o acoplamento da ação com informação (Travassos et al., 2012b). Outra vantagem dos jogos reduzidos é a manipulação das suas regras, e que desta forma permite moldar o exercício para enfatizar informação específica com o intuito de guiar os jogadores para os comportamentos pretendidos (Coutinho et al., 2018b; Travassos et al., 2012b; Travassos, Goncalves, Marcelino, Monteiro,
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& Sampaio, 2014). Por exemplo, é possível estimular a pressão sob o portador da bola através da manipulação dos tamanhos dos alvos (https://www.youtube.com/watch?v=Lk8Tw9tXyuQ). De facto, a investigação atual tem procurado compreender quais os efeitos de diferentes constrangimentos no comportamento dos jogadores em jogos reduzidos (Baptista et al., 2018; Coutinho et al., 2018a; Goncalves, Marcelino, Torres-Ronda, Torrents, & Sampaio, 2016; Travassos et al., 2014). Por exemplo, um estudo realizado por Coutinho e colaboradores (2018b), criaram uma tarefa com o campo dividido em corredores e sectores com o intuito de auxiliar os jogadores no ajuste posicional. No entanto, os autores verificaram que o uso de linhas de corredores e sectores modificaram a informação disponível, levando os jogadores a focarem-se mais no espaço e menos nos colegas, afetando o movimento coletivo. Mais recentemente, um outro estudo procurou analisar o comportamento de jovens jogadores de futebol em função da manipulação do tipo de espaço de jogo (campo normal, campo em largura, campo com orientação do corredor lateral e campo cujos limites eram modificados a cada minuto), e verificaram que os jogadores evidenciaram melhores desempenhos nos cenários que lhes eram mais familiares, possivelmente devido à dificuldade de susterem as suas decisões na informação ambiental em contextos mais desconhecidos (Coutinho et al., 2018a). Deste modo, os treinadores devem expor os seus atletas a um conjunto variado de estímulos (diversificação) e de tarefas com o intuito de desenvolver a sua capacidade de adaptação e identificação da informação ambiental. De facto, os jogadores devem ser capazes de manifestar comportamentos novos e inesperados dentro de um determinado contexto informacional (Santos et al., 2018).
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2.4.
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A variabilidade aparenta facilitar a aprendizagem e promover a capacidade de adaptação dos jogadores (Herzfeld & Shadmehr, 2014; Seifert, Button, & Davids, 2013). Neste sentido, a aprendizagem diferencial parece emergir como uma abordagem que possibilita implementar este tipo de variabilidade. De facto, a aprendizagem diferencial tem nas suas premissas a inclusão de flutuações nos movimentos dos jogadores (Frank, Michelbrink, Beckmann, & Schöllhorn, 2008; Santos et al., 2018; Schöllhorn, Hegen, & Davids, 2012). Isto é, esta teoria assenta na ideia de repetir sem repetir, através do aumento do ruído ao nível do movimento provocado pelas flutuações implementadas, que levam o jogador a adaptar sistematicamente o seu padrão de movimento (Frank et al., 2008; Henz & Schöllhorn, 2016; Schöllhorn et al., 2012; Schöllhorn et al., 2006). Exemplos deste tipo de perturbação são: a) jogar com diferentes padrões corporais (braços cruzados na cabeça - https://www.youtube.com/watch?v=oUgslhBLqTk&t=8s), b) com diferentes bolas (pequenas, grandes - https://www.youtube.com/watch?v=G5oQV4U3z-Q&t=4s); c) com manipulação dos diferentes sistemas preceptivos (jogar com um pé descalço https://www.youtube.com/watch?v=Zo0jRo08L18&t=5s), entre outras (Coutinho et al., 2018c). Todos estes movimentos são efetuados sem correções por parte do treinador, e, portanto, são vistos como essenciais para dar liberdade aos jogadores para explorarem movimentos diferentes, e consequentemente aumentar o seu potencial criativo (Coutinho et al., 2018c; Santos et al., 2018). De uma forma geral, esta abordagem aparenta favorecer mais a aprendizagem e desenvolvimento dos gestos desportivos específicos comparativamente a métodos mais tradicionais (Henz & Schöllhorn, 2016; Santos et al., 2018; Schöllhorn et al., 2012; Schöllhorn et al., 2006). De facto, investigações recentes têm comprovado estas evidências. Por exemplo, Santos e colaboradores (2018) procuraram incluir flutuações (aprendizagem diferencial) durante jogos reduzidos e comparar com um grupo que foi sujeito aos mesmos jogos reduzidos mas sem a variabilidade adicional. Para este efeito, jogadores de dois escalões (Sub-13, Juniores D; Sub-15, Juniores C) foram divididos em grupos controlo e experimentais, nos quais os grupos controlo praticavam jogos reduzidos com a manipulação das regras habituais (espaço de jogo e número de jogadores), enquanto que os grupos de aprendizagem diferencial praticavam os mesmos jogos reduzidos mas com variabilidade adicional e imprevisível (jogar com diferentes bolas, jogar com um olho vendado, com mãos atadas) (Santos et al., 2018). O programa foi implementado ao longo de 5 meses, com frequência semanal de 3 vezes por um período de 20-minutos. De um modo geral, os resultados demonstraram que os jogadores que foram sujeitos ao programa de treino variado, melhoraram a sua execução técnica, aumentaram o seu comportamento criativo e ainda evidenciaram comportamentos táticos mais regulares, sugerindo uma melhor compreensão do jogo (Santos et al., 2018). Apesar do programa ter demonstrado resultados positivos em ambos os grupos, o escalão de Sub-13 foi o que mais beneficiou do programa. Mais recentemente, um novo estudo procurou investigar novamente a eficácia de um programa de treino sustentado em variabilidade e literacia física, mas desta feita no posto específico de avançados em 2 escalões distintos em futebol (Sub-15, Juniores C; Sub-17, Juniores B) (Coutinho et al., 2018c). Para tal, foi implementado um programa de treino ao longo de 10 semanas, com 2 sessões semanais com a duração de 25-minutos, constituído por 10-minutos de tarefas sustentadas na literacia motora (por exemplo, realização de movimentos de coordenação nas escadas seguidos de 1vs1) e 15-minutos de jogos reduzidos com variabilidade adicional. Os avançados do grupo de controlo e experimental foram avaliados no comportamento técnico, criativo e tático durante situações de jogo reduzido. Os autores concluíram que
A Variabilidade como Ingrediente Fundamental no Comportamento Criativo
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o programa de treino foi efetivo para desenvolver o comportamento técnico, criativo e tático dos seus jogadores, mas principalmente nos Sub-15 (Juniores C), visto que os efeitos nos Sub-17 (Juniores B) foram muito reduzidos (Coutinho et al., 2018c). Com base nos dois estudos anteriores, foi possível verificar que melhores adaptações ocorreram nos escalões mais inferiores. Deste modo, parece importante reforçar o papel da variabilidade e da diversificação em idades precoces, que permitam futuramente facilitar a adaptação dos jogadores a contextos imprevisíveis e dinâmicos (Santos et al., 2017b). Denote-se ainda que apesar dos resultados apontarem para melhores resultados em escalões inferiores, estes efeitos apenas são evidentes caso exista já adquirido um nível de desempenho motor considerável, pois caso contrário o ruído adicional poderá afetar negativamente a aprendizagem (Santos et al., 2016).
318 319 320
Figura 1 – Abordagem a ser considerada pelos treinadores na promoção do comportamento criativo
321
3.
322 323 324 325 326 327 328 329 330 331 332 333 334 335 336 337 338 339 340 341
A criatividade tem vindo a assumir um papel crucial para fazer face aos problemas contemporâneos, e como tal, também assume um papel de relevo no desporto. No entanto, a redução do tempo disponível que as crianças têm para brincar, bem como a prevalência de práticas muito mecanizadas e monótonas têm conduzido à diminuição do comportamento criativo com a idade. Contudo, o desporto tem vindo a ser considerado como um meio extremamente rico para contrariar esta tendência. Assim, este trabalho teve como objetivo apresentar algumas linhas orientadoras que possam ajudar os treinadores a criarem melhores ambientes de aprendizagem e que consequentemente favoreçam o desenvolvimento do pensamento criativo (ver figura 1). Ao longo do trabalho foi enfatizado a importância das experiências que são proporcionadas às crianças e o modo como estas experiências podem impactar o seu comportamento. De facto, parece crucial expor as crianças e jovens a contextos de variados e diversificados que lhes permitam não só desenvolver a sua capacidade de adaptação como também de exploração de novos movimentos. Importa ainda reter que a ausência da prática na rua, tem vindo a limitar o desenvolvimento das habilidades de movimento e o aperfeiçoamento dos gestos desportivos específicos, pelo que os treinadores devem procurar criar estratégias e tarefas que possibilitem desenvolver a literacia motora dos seus jogadores. Por fim, o desenvolvimento da criatividade é um processo a longo prazo, no qual deve haver espaço e tempo para se explorarem novos padrões de movimento e no qual o erro deve fazer parte da aprendizagem. Assim, pretende-se que os treinadores possam moldar as suas práticas habituais com o intuito de fomentarem o comportamento criativo dos seus jogadores e que será fundamental para fazer frente a um jogo no qual a imprevisibilidade de adaptabilidade impera.
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INTRODUÇÃO No âmbito da Proposta do Centro de Estudos – Fundação do Futebol - Liga Portugal, foi desenvolvido um projeto na área da inovação tecnológica com o objetivo de inovar a aquisição dos ingressos para o futebol profissional. Atualmente, não existe uma plataforma digital oficial para aquisição de ingressos para o Futebol Profissional em Portugal. Para tal, o consumidor apenas consegue adquirir ingressos nas Bilheteiras Tradicionais dos Clubes ou até mesmo em algumas bilheteiras online que poucos clubes profissionais disponibilizam. A Solução passa pelo “I.Ticket”, a única plataforma oficial que vem colmatar necessidade do consumidor em adquirir ingressos online para assistir a um jogo de Futebol Profissional em Portugal. Esta plataforma possibilitará ao consumidor gerir o seu tempo e espaço para a seleção do(s) seu(s) Ingresso(s), evitando assim a pressão de aguardar em filas de espera e a confusão que se gera nas Bilheteiras Tradicionais.
OBJETIVOS A “I.Ticket” terá como objetivo alcançar globalmente todos consumidores e incluir todos os Clubes que queiram disponibilizar ingressos em formato digital para o serviço de Bilheteira Online, serviço disponibilizado pela Liga Portugal em prol do Futebol Profissional. A necessidade de aumentar o número de visitantes aos estádios em Portugal leva à criação de uma plataforma oficial que não existe no mercado do futebol Profissional em Portugal atualmente. Sendo um Canal de Distribuição para os clubes, esta plataforma oferece formas seguras de pagamento dos ingressos, efetuado no momento da aquisição, pagando da forma selecionada, ou seja, multibanco ou Cartão de Crédito.
RESULTADOS
CONCLUSÕES
Foi elaborado um inquérito de forma a recolher informação pertinente sobre a tomada de decisão do consumidor no momento da aquisição de ingressos para espetáculos.
É notória a insatisfação do consumidor ao não existir uma solução de bilheteira Online Oficial das competições de Futebol Profissional em Portugal.
Estes inquéritos foram disponibilizados Online, com uma amostra de 100 inquiridos.
Esta necessidade advém da falta de tempo e longas filas de espera que leva o consumidor a aguardar sem tempo determinado.
Analisando os dados recolhidos, pode-se afirmar que: • 55% - Adquire Ingressos para espetáculos de forma tradicional; • 91% dos inquiridos afirma que as filas de espera são desperdício de tempo; • 65% dos inquiridos também realiza compras de ingressos online; • 81% - Nunca comprou ingressos para o futebol, online; • 83% - Apenas compra em Sites fidedignos; Entrevistas: Em suma, os entrevistados valorizam e preferem a compra de ingressos online, pois a facilidade e comodidade na aquisição dos seus ingressos prevalece na decisão final. O fator Tempo é inegável. Todos os Participantes concordam que existe pouco tempo e disponibilidade para se deslocar a uma Bilheteira Tradicional e aguardar nas filas de espera, pois são demoradas e longas.
Sendo um projeto pioneiro para o Futebol Profissional em Portugal, o seu desenvolvimento focou-se em princípios fundamentais para o seu sucesso, tais como a inovação, clareza, transparência, qualidade e por forma de ser a plataforma oficial da aquisição de ingressos para Futebol Profissional. Dada a análise dos inquéritos efetuados, entrevistas e as restantes recolha de informação, consegue-se definir o projeto como “Promissor”, aferindo desta forma todas as opiniões mencionadas, comparando aos objetivos propostos ao longo deste relatório, os quais, se atingidos, proporcionarão um resultado significante para as Sociedades com resultado num futuro melhor para o Futebol Profissional em Portugal.
i.TICKET Diogo André da Cruz Sá
4. I.TICKET
Índice 2.
Sumário Executivo .............................................................................................................. 4
3.
Influência no contexto Sociocultural ............................................................................. 5
4.
Enquadramento .................................................................................................................. 5
5.
Inovação – Porquê? ............................................................................................................ 6
5.1. Como Funciona? ....................................................................................................... 7 Imagem 1 – Logótipo ........................................................................................................................................... 7
6.
Caracterização do Setor .................................................................................................... 9
7.
Média de Espectadores .................................................................................................... 10 Gráfico 1 -‐‑ Média Espéctadores Época 2016/2017 ............................................................................ 10 Gráfico 2 -‐‑ Média Espéctadores Época 2017/2018 ............................................................................ 11 Gráfico 3-‐‑ Média Espetadores LIGA NOS 2017/2018 ........................................................................ 12 Gráfico 4 -‐‑ Média de Espectadores LEDMAN Liga Pro 2017/2018 ........................................... 13 Gráfico 5 – Média Espectadores Taça da Liga 2018/2019 ............................................................. 14
8.
Importância das formas de adquirir ingressos ........................................................ 15
9.
Caso de Sucesso ................................................................................................................. 17
9.1. BOL – Bilheteira Online........................................................................................ 18 Imagem 2 -‐‑ BOL -‐‑ Bilheteira Online ........................................................................................................... 18 10.
Case Study – Leixões SC ................................................................................................... 20
10.1. O Leixões SC ............................................................................................................ 21 Imagem 3 -‐‑ Bilheteira 1 e 2, Estádio do mar ......................................................................................... 22 10.3. O Estádio do Mar .................................................................................................... 23 Imagem 4 – Estádio do Mar .......................................................................................................................... 23 Imagem 5 -‐‑ Planta Estádio do mar ............................................................................................................ 24 11.
A Plataforma Operacional .............................................................................................. 25 Imagem 6 -‐‑ Ecrã inicial -‐‑ "I.ticket" ............................................................................................................. 25 Imagem 7 – Ecrã 2, Preenchimento de informação pessoal .......................................................... 26 Imagem 8 – Ecrã de Seleção de lugar ....................................................................................................... 27 Imagem 9 -‐‑ Ecrã de Resumo de Compra .................................................................................................. 28 Imagem 10 – Bilhete Adquirido ................................................................................................................... 29
12.
Entrevistas .......................................................................................................................... 30
12.1.
Metodologia de Investigação .............................................................................. 31
12.2.
Descrição da Ferramenta -‐‑ Entrevista ............................................................. 31
12.3.
Amostra .................................................................................................................... 32
12.4.
Objetivos do Estudo .............................................................................................. 32
12.5.
Objetivos Específicos: ........................................................................................... 32
12.6.
As Entrevistas ......................................................................................................... 34
2
2018-19 TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS
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4. I.TICKET
12.6.1.
Ricardo Oliveira................................................................................................................................ 35
12.6.2.
André Viamontes .............................................................................................................................. 40
12.6.3.
Ana Marinho ...................................................................................................................................... 46
12.6.4.
Sérgio Cruz.......................................................................................................................................... 51
12.6.5.
Vasco Ribeiro ..................................................................................................................................... 56
13.
Análise de Conteúdo das Entrevistas .......................................................................... 61 Tabela 1 -‐‑ Análise de conteúdo por objetivo ......................................................................................... 62
14.
Declaração .......................................................................................................................... 65
15.
Inquéritos ........................................................................................................................... 66
15.1. Plataformas Online -‐‑ Compras de Ingressos para espetáculos. ................ 68 Gráfico 6 Frequência de Compras Online ................................................................................................ 71 Gráfico 7 -‐‑ Compras de ingressos para espetáculos nas Bilheteiras Tradicionais ............... 72 Gráfico 8 -‐‑ Aguardar em filas de espera é desperdício de tempo................................................ 72 Gráfico 9 -‐‑ Compra de Ingressos para espetáculos online............................................................... 73 Gráfico 10 -‐‑ Comodidade na compra online .......................................................................................... 74 Gráfico 11 -‐‑ Sites Fidedignos ......................................................................................................................... 74 Gráfico 12 -‐‑ Métodos de Pagamento online ........................................................................................... 75 Gráfico 13 -‐‑ Compras online de ingressos para Futebol................................................................... 75 Gráfico 14 -‐‑ Plataformas de venda de ingressos .................................................................................. 76 Gráfico 15 -‐‑ Género ............................................................................................................................................ 77 Gráfico 16 -‐‑ Grau de Formação.................................................................................................................... 77 Gráfico 17 -‐‑ Faixas Etárias ............................................................................................................................. 78 16.
Considerações Finais ....................................................................................................... 79
17.
Netgrafia .............................................................................................................................. 81
18.
Bibliografia ......................................................................................................................... 81
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
2. Sumário Executivo
No âmbito da Proposta do Centro de Estudos – Fundação do Futebol -‐‑ Liga
Portugal, foi desenvolvido um projeto na área da inovação tecnológica com o objetivo de inovar a aquisição dos ingressos para o futebol profissional.
Atualmente, não existe uma plataforma digital oficial para aquisição de
ingressos para o Futebol Profissional em Portugal. Para tal, o consumidor apenas
consegue adquirir ingressos nas Bilheteiras Tradicionais dos Clubes ou até mesmo em algumas bilheteiras online que poucos clubes profissionais disponibilizam.
A Solução passa pelo “I.Ticket”, a única plataforma oficial que vem colmatar
necessidade do consumidor em adquirir ingressos online para assistir a um jogo de Futebol Profissional em Portugal.
Esta plataforma possibilitará ao consumidor gerir o seu tempo e espaço para
a seleção do(s) seu(s) Ingresso(s), evitando assim a pressão de aguardar em filas de espera e a confusão que se gera nas Bilheteiras Tradicionais.
A “I.Ticket” terá como objetivo alcançar globalmente todos consumidores e
incluir todos os Clubes que queiram disponibilizar ingressos em formato digital para o serviço de Bilheteira Online, serviço prestado pela Liga Portugal em prol do Futebol Profissional.
A Plataforma “I.Ticket” será integrada no site da Liga Portugal, sendo a
quantidade de ingressos disponibilizada pelos clubes, com o objetivo de facilitar o processo de aquisição de bilhetes e consequentemente o número de adeptos presentes nos Estádios.
A Liga Portugal não terá qualquer lucro com o serviço
Este projeto tem por base uma análise de mercado bem estruturada, através
de pesquisa, análise e observação no terreno sob a forma de um Case Study e o
desenvolvimento de inquéritos e entrevistas individuais aos Consumidores.
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2018-19 TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS
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4. I.TICKET
3. Influência no contexto Sociocultural
Para algumas pessoas é como uma religião, para outros uma paixão e para
alguns apenas 22 homens a correr atrás de uma bola. O futebol é o desporto mais
praticado no mundo, onde a emoção e o entretenimento proporcionado durante os
90 minutos, conseguem mover multidões de pessoas por todo o mundo.
Em qualquer cultura, podemos observar que existe um brinquedo que é
afastado de sexismo e no qual todos se podem envolver sozinhos ou em grupo. É o
único brinquedo no mundo que é universal, esse brinquedo é uma bola. Qualquer objeto pode ser visto como uma bola, por exemplo, quando caminhamos na rua e
encontramos uma garrafa, o nosso inconsciente leva-‐‑nos a querer chutar o objeto para uma “baliza” imaginária -‐‑ Só mesmo o futebol.
A “bola” tem o poder de cativar as massas e trabalhar os seus sentidos.
Portugal é um dos países no mundo em que a cultura nutre uma paixão pelo
futebol. Um jogo pode mudar completamente o estado de espírito das multidões e
a forma como essa emoção mexe com o nosso corpo é inexplicável, imprópria para cardíacos. Só quem já assistiu a uma partida de futebol num estádio com cerca de 60 mil pessoas, consegue sentir a emoção que existe e a forma como o tempo de
jogo consegue alterar o nosso comportamento, levando a que os adeptos fiquem
frenéticos, dancem, festejem golos e por vezes expressem sentimentos que só são visíveis num ambiente de jogo de futebol.
4. Enquadramento
O forte desenvolvimento tecnológico e tudo o que este traz de positivo, como o
seu carácter inovador e cómodo, sugere o seu aproveitamento e desenvolvimento na inovação nas empresas.
Surge a “I.Ticket”, serviço capaz de oferecer ao consumidor a possibilidade de,
confortavelmente, adquirir ingressos para o futebol Profissional em Portugal.
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
A necessidade de aumentar o número de visitantes aos estádios em Portugal leva
à criação de uma plataforma oficial que não existe no mercado do futebol Profissional em Portugal atualmente.
Sendo um Canal de Distribuição para os clubes, esta plataforma oferece formas
seguras de pagamento dos ingressos, efetuado no momento da aquisição, pagando da forma selecionada, ou seja, multibanco ou Cartão de Crédito.
Assim, esta aplicação trabalhará em benefício de todos os clubes profissionais
inscritos na Liga Portugal.
Relativamente à aquisição do serviço, a entidade gestora da Liga Portugal irá
sugerir aos Clubes Profissionais da Liga NOS e LEDMAN Liga PRO, a disponibilização de ingressos para venda a partir da plataforma.
Semanalmente (ou sempre que necessário) as informações particulares de
cada jogo serão atualizadas via internet, de acordo com as informações fornecidas
pelos clubes, como por exemplo, atualizações de bilheteira, abertura de portas dos estádios, assim como todas as informações necessárias para a prestação de um serviço de excelência.
5. Inovação – Porquê?
Atualmente em Portugal, não existe qualquer tipo de serviço similar a este,
ou seja, com as mesmas características que a “I.Ticket” oferece.
Esta plataforma digital, de forma rápida e eficaz, oferece ao consumidor a
possibilidade de adquirir qualquer ingresso para qualquer jogo do Campeonato.
Para usufruir deste serviço, basta utilizar o website da Liga Portugal, escolher
a hiperligação de Bilheteira online e selecionar o campeonato que pretende. Após o
preenchimento da informação pessoal, escolha do lugar e número de ingressos,
finaliza-‐‑se o pedido através do pagamento, com ou sem contribuinte (NIF). Após o pagamento, o sistema enviará a informação detalhada e o seu ingresso para o cliente,
ficando disponível de forma imediata através do seu email.
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4. I.TICKET
Esta forma inovadora reflete uma melhoria e evolução contínua, o que
representa grandes avanços nos benefícios percebidos pelo consumidor, modificando a forma como o serviço é adquirido. Assim, todos os clubes que
desejarem estarão incluídos na plataforma oficial da Liga sem qualquer custo adicional.
5.1. Como Funciona?
Atualmente, poucas são estruturas desportivas que têm uma API -‐‑
Application Programming Interface (Interface que trabalha com ligação a um site e que pode estar ligada a diversos sistemas) – o que não permite uma ligação direta entre o sistema informático dos clubes e a Liga. A solução passaria pela cedência de
ingressos á plataforma desenvolvida para venda de ingressos e consequentemente lugares reservados no estádio.
O nome “I.Ticket”, traduzindo “Internet
Ticket”, resulta de uma necessidade geral na forma de obter os ingressos para o futebol e que, em
situações
esporádicas,
permite
ao
consumidor adquirir os seus ingressos online
mas a partir de uma plataforma não oficializada. A plataforma será de fácil utilização,
interativa com o cliente e rápida no processamento dos ingressos. Estes serão
Imagem 1 – Logótipo
Elaboração Própria
disponibilizados pelos clubes promotores do evento, com interesse em angariar um
maior número de clientes/adeptos na visita ao estádio.
Numa fase inicial, os clubes cedem à plataforma um número de lugares numa
zona/área específica do estádio. Estes lugares estarão disponíveis na plataforma da
Liga para a venda ao público, ao abrigo das normas estabelecidas nos Estatutos da
Liga Portuguesa de Futebol Profissional, como no Artigo 34º -‐‑ Regulamento de segurança e utilização dos espaços de acesso público; Artigo 35º -‐‑ Medidas
preventivas para evitar manifestações de violência e incentivo ao fair-‐‑play;
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
Artigo 36º -‐‑ Regulamentos de prevenção da violência; Artigo 102º -‐‑ Emissão e tipo de bilhetes de ingresso; Artigo 103º Distribuição de bilhetes; Artigo 104º Requisição envio e devolução de bilhetes; Artigo 105º Preço dos Bilhetes e Artigo 106º -‐‑ Caracterização, inutilização e validação dos bilhetes de ingresso. A “I.Ticket” consiste num serviço, mais concretamente, uma plataforma digital, a
qual estará inserida exclusivamente no site oficial da Liga Portugal. Aproveitando assim, o forte desenvolvimento tecnológico, aposta-‐‑se na inovação e na problemática da falta de tempo do consumidor, criando um conceito que ainda não existente em Portugal para assim responder às novas e ocultas necessidades do
consumidor.
Esta plataforma trabalhará em benefício de todos os clubes participantes nos
campeonatos profissionais, dada que é gratuita quando utilizada para os clientes
finais (consumidores), satisfazendo as suas necessidades. É cómoda, fácil de utilizar,
rápida, combatendo assim a problemática da falta de tempo e longas esperas nas Bilheteiras Tradicionais.
Relativamente ao mercado na qual a “I.Ticket” estará inserida, o das Bilheteiras
Digitais, esta será pioneira em Portugal. O público-‐‑alvo será todo o consumidor de futebol Profissional geograficamente disperso.
Como Case Study para fundamentar o desenvolvimento da plataforma online, foi
utilizado o exemplo do Leixões SC, com o intuito de perceber o comportamento do consumidor no momento de adquirir o seu ingresso numa bilheteira tradicional.
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4. I.TICKET
6. Caracterização do Setor
Segundo o Anuário do Futebol Profissional em Portugal de 2016/2017,
desenvolvido pela Liga Portugal, o volume de negócios chegou aos 680 milhões de
euros, mais de 21,9 milhões de euros em impostos, mais de 456 milhões de euros para o PIB e 692 milhões de euros em receitas. Estes valores apresentados provêm
das Sociedades Desportivas e da Liga Portugal, onde estão inseridos os valores atribuídos para a Segurança social, imposto de IRC entre outros.
Este aumento significativo é consequência das subidas das receitas das
Sociedades Desportivas da Liga NOS, das próprias empresas que de uma forma
direta ou indireta beneficiam com a indústria do futebol e os seus adeptos que
acompanham os respetivos clubes por Portugal inteiro.
Ainda sobre o Estudo elaborado pela Liga Portugal, o futebol Profissional é o
responsável por pelo menos 2.055 postos de trabalho em Portugal, provenientes das
sociedades desportivas, distribuídos por jogadores, treinadores e outros funcionários.
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
7. Média de Espectadores
Para um estudo mais aprofundado é necessário o levantamento de dados,
para que seja possível a criação de alicerces que legitimem o estudo. Para tal, foram
levantados dados estatísticos da plataforma “TransferMarkt” onde estavam
disponíveis as médias de espectadores presentes nas competições Profissionais organizadas pela Liga Portugal.
Segundo a plataforma “TransferMarkt”, onde é possivel obter dados
estatísticos do número de visitantes aos estádios de clubes de ligas Profissionais em Portugal, o crescimento do número de espectadores presentes nos Estádios Nacionais é notável.
Gráfico 1 -‐‑ Média E spéctadores É poca 2016/2017 Fonte: Transfermarkt, 2018
1.
Na época 2016/2017, houve uma discrepância no número médio de
espectadores dos “três grandes”. O SL Benfica registou um número médio de 55949
espectadores, seguindo-‐‑se do Sporting CP com cerca de 42772 espectadores e por
último o FC Porto com uma assistência média de 31130.
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4. I.TICKET
Média Espectadores Época 2017/2018
53209 43623
42674
FCPORTO
BENFICA
SPORTING
Gráfico 2 -‐‑ Média E spéctadores É poca 2017/2018 Fonte – Transfermarkt, 2018
2.
Na Época de 2017/2018, o número de assistência média nos “três grandes”
sofreu variações positivas e negativas. Segundo os dados recolhidos, apesar de
liderar o top de melhor assistência média, o SL Benfica teve um total de 53209
espectadores, menos 2740 espectadores do que na época 2016/2017. Já o Sporting
CP, manteve-‐‑se como o segundo clube profissional com melhor média de espectadores, com cerca de 43623, mais 851 espectadores que na época transata. O
FC Porto teve uma subida considerável de média de espectadores, sendo que na
Época 2017/2018 registou 42674 espectadores, mais 5544 espectadores que na época transata.
Não focando apenas nos “três grandes” que consequentemente têm a maior
assistência de espectadores em Portugal nas ultimas épocas, o objetivo deste estudo é perceber o comportamento do consumidor no momento de aquisição de ingressos
para futebol Profissional online, mas também com a intenção de aumentar o número de visitantes aos estádios das equipas Profissionais da LIGA NOS E LEDMAN Liga Pro.
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
Através dos dados fornecidos pela “TransferMarkt”, foram analisados o
número médio de espectadores aos estádios dos clubes Profissionais, no que respeita à época de 2017/2018.
Média Espectadores LIGA NOS 2017/2018
Vi to ria SC SC B ra CS ga M ar íti m Bo o av ist a F C Vi tó ria FC CD Fe ire ns e Ri o Av e GD FC FC P C aç ha os ve d s e Os Fe B r el re en ira en se Po s S rti AD m on en se SC CD A CD ves T on M de or la ei re ns GD e E FC st or il P ra ia
18000 16000 14000 12000 10000 8000 6000 4000 2000 0
Gráfico 3-‐‑ Média E spetadores LIGA NOS 2017/2018 Fonte – TransferMarkt, 2018, Elaboração Própria
Na LIGA NOS, após o registo dos “três grandes”, o Vitória SC foi o Clube
Profissional com o maior índice médio de espectadores na época 2017/2018,
seguindo-‐‑se de SC Braga e em último lugar o GD Estoril Praia.
Para algumas Equipas como o SC Braga, esta posição na Tabela de
espectadores, em comparação com a classificação na tabela classificativa do campeonato, não era espectável.
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4. I.TICKET
Média de Espectadores LEDMAN Liga Pro 2017/2018 6000 5000 4000 3000 2000 1000
Ac ad ém ica
de
Co im CD br Sa a O nt AF CD a Cl N ar FC aci a Fa on m al Vi alic tó ão ri Va L a SC e rz im ixõe B Sp s Ac or SC ad ém F t Cl ica C A ub d ro e u CF G Vis ca U il V eu ni ão icen FC d te a M F CD a C C FC dei ov P ra a en da af P iel SL ieda B en de FC fica P B or t UD R o B e O al liv SC ei SC ren B se r SC aga Sp Co B or vil tin hã g C P B
0
Gráfico 4 -‐‑ Média de E spectadores LEDMAN Liga P ro 2017/2018 Fonte: TransferMarkt, Elaboração Própria
Os dados facultados pela “Transfermarkt” relativamente à LEDMAN Liga Pro,
demonstram que a Académica de Coimbra OAF é a Equipa Profissional com maior
índice médio de espectadores na época 2017/2018, com cerca de 4803 espectadores por jogo. A Equipa profissional com menor assistência média foi o Sporting CP B com cerca de 226 espectadores por jogo na competição.
Um fator bastante interessante de comparação entre os clubes da Liga NOS e
a Académica de Coimbra OAF da LEDMAN Liga Pro, é o facto de a Académica de
Coimbra OAF conseguir ter um índice médio de espectadores maior que o CD
Feirense, Rio Ave FC, GD Chaves, FC Paços de Ferreira, Os Belenenses SAD, Portimonense SC, CD Aves, CD Tondela, Moreirense FC e GD Estoril. Este fenómeno,
pode-‐‑se justificar pela forte ligação emocional e regional dos adeptos com o clube,
originado pelo bom trabalho da estrutura do futebol em relacionar o clube com a região e a cidade de Coimbra.
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
Média Espectadores Taça da LIga 2018/2019 30000 25000 20000 15000 10000
Estádio Municipal de Arouca
Estádio Marcolino de Castro
Estádio CD das Aves
Estádio da Madeira
Parq. Desp. e Munic. de Mafra
Estádio Antº Coimbra da Mota
Estádio do Varzim SC
Estádio Municipal 22 de junho
Estádio Capital do Móvel
Portimão Estádio
Estádio dos Barreiros
Estádio do Bonfim
Estádio Cidade de Coimbra
Estádio D. Afonso Henriques
Estádio Algarve
Estádio Municipal de Braga
Estádio Nacional do Jamor
Estádio José Alvalade XXI
Estádio do Dragão
0
Estádio da Luz
5000
Gráfico 5 – Média Espectadores Taça da Liga 2018/2019 Fonte: TransferMarkt, Elaboração Própria
Optou-‐‑se pela análise do número médio de espectadores por jogo na Allianz
Cup da época 2018/2019, pois atualmente a fase de grupos terminou e segue-‐‑se a “Final Four”, como tradição no Estádio Municipal de Braga.
Como podemos confirmar, os “três grandes” estão em grande evidencia no
número de ingressos vendidos para a prova, existindo um grande “fosso” de lugares vazios nos restantes Estádios onde a prova foi realizada.
Em 1º lugar temos o Estádio do Dragão, do FC Porto, com cerca de 27.766
espectadores, seguindo-‐‑se do Estádio da Luz, do SL Benfica, com 23.663 espectadores e o Estádio José Alvalade XXI, do Sporting CP, com 20.213. Quem se segue aos “três grandes” com 15.593 espectadores é o Estádio D. Afonso Henriques,
do Vitória SC e o Estádio Municipal de Braga, do SC Braga com 6.729 espectadores
por jogo. O Estádio com menos espectadores por jogo na Allianz Cup é o Estádio
Desportivo e Municipal de Mafra, do CD Mafra com cerca de 420 espectadores por
jogo.
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4. I.TICKET
Das restantes Equipas, divididas entre a primeira e a segunda liga portuguesa
e participantes na Taça da Liga, os números andam muito abaixo dos 3.000
espectadores por jogo, apesar do valor dos ingressos ser consideravelmente mais acessíveis, as pessoas não frequentam o estádio como era pretendido. Apesar destes
números, segundo o site “Transfermarkt”, a época 2017/2018 registou cerca de 111.810 espectadores e a época 2018/2019 trouxe mais espectadores aos jogos da Allianz Cup, onde se registou cerca de 113.279 espectadores, mais 1469 espectadores do que na época transata.
A Solução da Bilheteira online fornecida pela Liga Portugal, destaca apenas a
Final Four da Allianz Cup. Já o método de venda da “I.Ticket” terá um maior e mais
direto impacto e direto na venda de ingressos para os clubes profissionais, em particular para os de menor dimensão. A possibilidade e a facilidade de um
individuo adquirir um ingresso para qualquer jogo das competições profissionais será muito maior, sendo que a mais valia de poder adquirir o seu bilhete em
qualquer região geográfica trará um maior número de consumidores aos recintos
desportivos e consequentemente será benéfico para todos os clubes, principalmente os que têm uma menor estrutura desportiva e para quem uma plataforma de bilheteira online própria seria insustentável para o clube.
8. Importância das formas de adquirir ingressos
O formato online permite a venda de ingressos de uma forma mais comoda,
rápida e fácil, tornando-‐‑se num dos canais de distribuição favoritos do consumidor para adquirir os seus produtos.
Estima-‐‑se que 90% dos ingressos para grandes eventos são vendidos de forma
online, pois as próprias empresas reconhecem que o facto de ter os seus ingressos disponíveis nas plataformas digitais leva a uma maior divulgação das mesmas, principalmente nos meios de comunicação habituais, as Redes Sociais.
A redução dos custos é um fator bastante importante em ter consideração,
pois a própria venda online, permite uma redução nos recursos utilizados, no
dinheiro investido pelas empresas na venda tradicional e no tempo que é gasto nas 15
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
vendas. Para além disso, o facto de a venda online permitir alcançar o publico que esteja disperso em qualquer parte do mundo.
Para além das muitas vantagens, existe algumas contradições visíveis que
podem levar ao consumidor a optar pelos métodos tradicionais. Na compra online, o cliente está a fazer uma compra não presencial, o que implica comprar o produto
sem tocar, ver ou certificar-‐‑se que poderá utilizar, principalmente quando falamos em roupa.
No caso dos ingressos, o cliente pode optar por adquirir o seu bilhete se o
mesmo considerar que existe um valor emocional em torno do evento, como
exemplo, uma final da Champions League, a primeira visita a um Estádio de Futebol
Profissional, entre outros. As trocas dificultadas também podem ser um fator de
indecisão na compra do ingresso online, pois o cliente pode adquirir um produto que não corresponde ao que idealizava e pretende assim trocar por outro artigo. No
caso de um ingresso, um dos motivos que pode levar a um indivíduo cancelar a sua compra pode variar, sendo que um motivo possível é a alteração do lugar que escolheu não ser o mais indicado. Para muitos utilizadores que não estejam
habituados a fazer compras online, o método de pagamento pode ser um entrave à
compra, apesar de o consumidor se estar a habituar começar às compras online e às obrigações que existem no momento de pagamento dos produtos/serviços.
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4. I.TICKET
9. Caso de Sucesso
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
9.1. BOL – Bilheteira Online
A BOL – Bilheteira Online é uma plataforma online inovadora e de confiança
na área da Bilhética e da cultura, com base na prestação de serviços e promoção de
eventos, entidades, venda especializada e reserva de ingressos, venda de cartões e
produtos, controlo de resultados e apoio à gestão e apoio personalizado aos seus
clientes.
Com 25 anos de experiência em Portugal Continental e nas ilhas, a
experiência adquirida em conjunto com a compreensão do mercado, aliaram-‐‑se ás necessidades dos consumidores e potenciaram uma ferramenta que vem simplificar a aquisição de ingressos para espetáculos.
Imagem 2 -‐‑ BOL -‐‑ Bilheteira O nline Fonte: https://bol.pt/ 3.
Com o objetivo de aproximar o consumidor das Instituições culturais e
Desportivas, Promotores de eventos, prestadores de serviços e consumidores finais,
inovam as funcionalidades da sua plataforma oferecendo uma melhor “User Experience” o que contribui para novos clientes, tornando-‐‑a num espaço útil e de referência em Portugal.
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4. I.TICKET
Pontos Fortes e Pontos Fracos Para completar a análise, apresento alguns pontos fortes e pontos fracos da plataforma BOL – Bilheteira Online.
Pontos Fortes: • Serviço rápido, cómodo e eficiente; • Notoriedade;
• Transparência para com o Cliente: o Formas de pagamento;
• Métodos inovadores de processamento de compra; • Acessibilidade e conveniência:
o Facilidade no acesso e horário alargado para compra;
• Boa relação qualidade/preço;
• Grande Diversidade de escolhas;
Pontos Fracos: • Falhas sucessivas no sistema:
o Bloqueio automático dos endereços de email dos clientes;
• Número de reclamações elevado;
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4. I.TICKET
10.
Case Study – Leixões SC
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4. I.TICKET
De forma a criar alicerces para a investigação, optei por elaborar um Case
Study com uma Equipa Profissional em Portugal. O objetivo foi compreender o
comportamento do consumidor no momento da aquisição do seu ingresso em dia de jogo, numa bilheteira tradicional. Desta forma, optei por dirigir-‐‑me à bilheteira do estádio, adquirir um ingresso e experienciar o jogo. Assim sendo, toda a experiência será transcrita, de forma a perceber as lacunas existentes no momento da aquisição de um bilhete no local.
Este Case Study, em nada tem haver com gostos pessoais ou alguma tentativa
de denegrir a imagem desta entidade prestigiada, na qual tive a honra de presenciar ao jogo aliada ao facto de cederem algum do seu tempo para me acompanhar neste projeto. Considero assim uma oportunidade de promover o clube e de comparação
com outras realidades existentes no Futebol Profissional em Portugal, de forma a encontrar soluções para corrigir lacunas que dificultam a vida dos clubes e principalmente dos seus adeptos.
10.1. O Leixões SC
Estabelecido a 18 de Novembro de 1907 e um Histórico do Futebol
Português, o Leixões SC possui um legado futebolístico de grandes êxitos, do qual se destaca a conquista da Taça de Portugal em 1961 e várias presenças nas
competições europeias. O seu “Estádio do Mar”, em Matosinhos, tem capacidade
para cerca de 6200 adeptos e o facto de atualmente disputar a LEDMAN Liga Pro,
estes são também conhecidos pela sua massa associativa numerosa e fervorosa que os acompanha sistematicamente em todos os desafios da Equipa Profissional. 10.2. O Caso
Com a devida autorização do Exmº Professor José Manuel, atual Diretor
Desportivo do Leixões SC, no dia 23 de Dezembro de 2018, desloquei-‐‑me para o
Estádio do Mar com o intuito de avaliar o processo de compra e o comportamento
do consumidor no momento da compra do seu ingresso para o Jogo Leixões SC vs Cova da Piedade. O jogo tinha hora marcada para as 15h00 de Domingo.
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
Cheguei ao Estádio do Mar pelas 13h30, de forma a poder apresentar-‐‑me á
administração do clube e para solicitar a minha entrada nas bilheteiras.
Comecei por comprar o bilhete, de forma rápido e sem filas, muito devido a
ter chegado bastante cedo ao Estádio e não encontrar muitos adeptos. Após a compra, estive presente na bilheteira, junto de uma colaboradora do clube, onde
assisti, durante 1 hora e 15 minutos ao processo de venda, obtendo informações bastante pertinentes para o desenvolvimento do projeto “I.Ticket”.
Atualmente, o clube tem 5 entradas com bilheteiras disponíveis para adquirir
os ingressos, sendo que as bilheteiras principais do estádio são a 1 e 2 (Imagem 1).
Imagem 2 -‐‑ Bilheteira 1 e 2, E stádio do mar Fonte: Diogo Sá
No entanto, as restantes Bilheteiras estão junto das entradas 3,4 e 5 sendo
que apenas abrem mediante o tipo de jogo e o número de adeptos visitantes.
Durante o tempo permanecido na bilheteira, houve momentos de oscilação
de publico, sendo que a maior onda de adeptos apareceu para comprar os seus
bilhetes cerca de 20 minutos antes do início do jogo. Foram vendidos mais de 200
ingressos, tendo existido fila de espera para a compra dos mesmos, o que levou a
algumas discussões entre os adeptos. Trata-‐‑se de uma bilheteira tradicional, sem 22
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tecnologia aplicada. Por motivos de sigilo profissional, o valor dos ingressos não será referenciado no estudo, apesar de ter influência no número de adeptos no estádio.
10.3. O Estádio do M ar
Como já constatado, o Estádio do Mar tem cerca de 6200 lugares sentados,
com uma arquitetura que possibilita aos adeptos uma boa visão de jogo em qualquer bancada, proporcionando uma boa experiência ao espectador.
Na “Bancada do Mar” (Imagem 2), a visibilidade é bastante agradável, sendo
possível assistir ao jogo sem qualquer inconveniente. De uma forma geral, a sua arquitetura permite ao espectador assistir ao jogo comodamente.
Para o projeto “I.Ticket”, a bancada selecionada com os lugares disponíveis
para venda online, situa-‐‑se no “Setor 13”, destinado aos adeptos visitantes e que se encontra na Entrada 4 da “Bancada Norte”. (Bancada Selecionada a vermelho).
Imagem 3 – E stádio do Mar Fonte: Diogo Sá
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4. I.TICKET
Numa fase inicial, todos lugares do Setor 13 da “Bancada Norte” estarão
disponíveis na plataforma online.
Imagem 4 -‐‑ P lanta E stádio do mar Fonte: www.leixoessc.pt, Elaboração Própria
Esta ação do clube permitirá a existência de um novo canal de distribuição
para a venda dos ingressos e, consequentemente, um aumento do número de espectadores que assistem ao espetáculo “Futebol”.
A Solução “I.Ticket” pode não resultar em vendas imediatas, pois trata-‐‑se de
uma plataforma recente, que precisa de evoluir e prestar provas no mercado. Acredita-‐‑se que a longo prazo, esta será uma plataforma utilizada por indivíduos
cuja disponibilidade para se deslocar a uma Bilheteira Tradicional é Reduzida, ou que não exista grande disponibilidade de tempo.
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4. I.TICKET
11.
A Plataforma Operacional
De forma a exemplificar a plataforma e o processo de compra, foram criados
exemplos de funcionamento da mesma, desde o momento em que seleciona o jogo até ao bilhete adquirido.
Como referido anteriormente, a plataforma será partilhada pela Liga
Portugal, de forma a possibilitar a venda de ingressos de todos os clubes
profissionais nas competições organizadas pela Liga, sem qualquer tipo comissões ou taxas aplicadas.
A plataforma será de fácil utilização para o consumidor, com uma
possibilidade de adquirir até 10 ingressos por compra e para eventos diferentes.
Como exemplo real, segue-‐‑se a exemplificação da aquisição de ingressos para o Leixões SC vs Cova da Piedade.
Imagem 5 -‐‑ Ecrã i nicial -‐‑ "I.ticket" Elaboração Própria
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4. I.TICKET
No Ecrã inicial, vemos a plataforma em funcionamento e com todos os jogos
disponibilizados pelos clubes, para a 12º jornada da LEDMAN LIGA PRO. De forma individual e organizada, os jogos da jornada estão disponíveis, facilitando a sua escolha e melhorando a “Customer Experience”.
Segue-‐‑se uma explicação dos pontos numerados:
1-‐‑ Botão de Seleção para os jogos da Liga NOS;
2-‐‑ Botão de Seleção para os jogos da LEDMAN LLIGA PRO; 3-‐‑ Botão de Seleção para os jogos da Allianz CUP; 4-‐‑ Jogo disponível para seleção;
5-‐‑ Botão de Seleção para compra de jogo;
Imagem 6 – E crã 2, Preenchimento de i nformação pessoal Elaboração Própria
Após a seleção do jogo, o ecrã 2 apresenta a descrição do evento e a seleção do
número de ingressos que o cliente pretende adquirir. De forma a evitar a entrada e
venda ilegal dos ingressos, cada um deverá ter um número de Documento de Identificação inserido na plataforma.
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4. I.TICKET
1-‐‑ O “i” de informação apresenta os regulamentos de utilização e permanência no recinto desportivo;
2-‐‑ Informações acerca do evento (data, hora e local);
3-‐‑ Botões de seleção do número de ingressos para o evento (máximo de 10 ingressos);
4-‐‑ Campo de introdução de Documento de identificação; 5-‐‑ Carrinho de compra da plataforma; 6-‐‑ Planta do Estádio;
7-‐‑ Botão de “Avançar” – Só permite avançar após o preenchimento da informação;
Imagem 7 – Ecrã de Seleção de lugar Elaboração Própria
O Ecrã de seleção de lugar permite ao cliente introduzir as informações
pessoais e a seleção do seu lugar no estádio, mediante a disponibilidade do estádio. Cada Bilhete terá a informação respetiva a cada cliente.
1-‐‑ Número do Documento de Identificação fornecido anteriormente;
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4. I.TICKET
2-‐‑ Mapa de Seleção de lugares;
3-‐‑ Formulário de informação do cliente;
Imagem 8 -‐‑ Ecrã de R esumo de Compra Elaboração Própria
No ecrã de resumo de compra fica disponibilizada a informação do cliente e,
consequentemente, a Entidade, Referência e Montante (IVA Incluído) para
pagamento do ingresso, via multibanco. Fica também disponível as regras de utilização e permanência no Recinto Desportivo. 1-‐‑ Informações Gerais do Cliente
2-‐‑ Informações de pagamento por Multibanco; 3-‐‑ Regras de utilização do Recinto Desportivo
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4. I.TICKET
Imagem 9 – Bilhete A dquirido Elaboração Própria
No fim do processo, o Bilhete é enviado diretamente para o endereço de email
anteriormente facultado no preenchimento da informação. A apresentação do
Documento de Identificação é imprescindível na entrada do Recinto, de forma a
proteger o consumidor de roubos ou uso ilegal dos ingressos. Os códigos de barras
são utilizados nos torniquetes de acesso ao Estádio. A regulamentação de utilização
e permanência no recinto encontra-‐‑se no ingresso, juntamente com a planta do Estádio e com a Marca Registada do Clube.
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4. I.TICKET
12.
Entrevistas
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4. I.TICKET
No capítulo das Entrevistas, segue-‐‑se uma análise e recolha de informações
sobre o comportamento do consumidor no processo de compras online de ingressos para espetáculos, tendo a pesquisa incidido sobre as condições de Compra/preço de
ingressos disponibilizados em plataformas digitais, sob o ponto de vista do consumidor.
12.1. Metodologia de Investigação
Através de Entrevistas individuais, pretende-‐‑se que as conclusões retiradas
deste estudo, permita perceber a importância da política de venda nos diferentes
canais de distribuição, assim como compreender o comportamento do consumidor,
que nos dias de hoje privilegia a pesquisa/compra online de ingressos para espetáculos.
Como metodologia de pesquisa, para o desenvolvimento das Entrevistas,
realizei previamente o planeamento das diferentes etapas que este integra. Comecei por definir os objetivos -‐‑ geral e específicos, de seguida selecionou-‐‑se uma amostra através da qual se pretendia dar resposta aos objetivos do estudo e foi desenvolvido um guião de orientação.
12.2. Descrição da Ferramenta -‐‑ Entrevista
De forma a obter uma compreensão qualitativa das razões e motivações
subjacentes ao comportamento dos consumidores relativamente ao preço e a forma de aquisição de bilhetes online de forma a melhor explorar os fenómenos de acordo com os objetivos propostos.
A Entrevista é uma técnica usada com o objetivo de recolha de informação
qualitativa e de obter opiniões dos entrevistados no projeto de uma forma direta. O objetivo é conseguir o feedback sobre os aspetos relacionados com o tema, onde a discussão é coordenada pelo entrevistador e fornecida de forma voluntária e sem
adulterar opiniões.
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4. I.TICKET
12.3. Amostra
A amostra foi previamente selecionada, com vista a conseguir representar
um público-‐‑alvo misto que pratique a pesquisa e compra de ingressos online, para futebol. Assim, foram entrevistados 5 participantes, com idades entre os 20 e os 30
anos, residentes na cidade do Porto e arredores, com uma experiência em comum – já terem efetuado compras de ingressos para espetáculos, através de diferentes canais.
12.4. Objetivos do Estudo
Nesta etapa, apresento os objetivos qualitativos que guiaram o estudo.
Partindo do objetivo geral – Análise da sensibilidade dos consumidores à aquisição de ingressos para eventos em plataformas online e compreensão dos processos de
decisão dos consumidores relativamente ao serviço de bilheteira online, foram
definidos cinco objetivos específicos que orientaram o guião da Entrevista para, inequivocamente, conseguir obter resultados para o presente estudo.
12.5. Objetivos Específicos:
1. Conhecer o processo de decisão dos consumidores; o Questões:
1-‐‑ Tem por hábito fazer pesquisa de eventos online? Se sim onde?
2-‐‑ As reservas/compras online realizadas são maioritariamente realizadas com fim pessoal ou profissional?
3-‐‑ Com que frequência realiza compras online de ingressos para espetáculos?
4-‐‑ Com que frequência e antecedência realiza compras de ingressos para espetáculos nas Bilheteiras Tradicionais?
5-‐‑ Qual o motivo que o leva a fazer a compra online?
6-‐‑ Com que antecedência efetua as suas compras online?
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4. I.TICKET
2. Determinar os pontos fortes e fracos identificados pelos consumidores na compra de ingressos em plataformas online; o Questões:
7-‐‑ O que mais valoriza neste serviço?
8-‐‑ O que menos valoriza neste serviço?
3. Conhecer a perceção dos consumidores sobre os diferentes canais de distribuição; o Questões:
9-‐‑ Que websites de reserva/compra de ingressos online conhece?
10-‐‑ Dos seguintes meios (website do Agente / Bilheteira Tradicional
/ plataformas online – Bol) qual deles privilegia na compra do seu ingresso?
4. Análise da sensibilidade dos consumidores ao preço dos ingressos no futebol; o Questões:
11-‐‑ Dos seguintes fatores – preço/ qualidade / localização, qual o que
mais valoriza na seleção de um lugar no estádio? (O fator preço é um fator decisivo na seleção de um ingresso?)
12-‐‑ (Preço psicológico) -‐‑ Imagine que irá comprar um ingresso para a
“Final Four” da Liga das Nações, no Estádio do Dragão, que preço estaria disposto a pagar?
5. Identificar o preço psicológico do consumidor relativamente ao fenómeno em estudo. o Questão:
13-‐‑ (Preço psicológico) -‐‑ Imagine que irá comprar um ingresso para a “Final Four” da Liga das Nações, no Estádio do Dragão, que preço estaria disposto a pagar?
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4. I.TICKET
12.6. As Entrevistas Os entrevistados foram André Viamontes, Ana Marinho, Ricardo Oliveira, Vasco e
Sérgio Cruz. Cada um dos intervenientes está ligado de uma forma indireta ao futebol e à compra/reserva de ingressos para eventos online. Toda a informação foi
recolhida através de áudio, com uma declaração assinada pelo entrevistado em que
autoriza a recolha de informação via áudio e que, consequentemente, foram transcritas para o documento.
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4. I.TICKET
12.6.1. Ricardo Oliveira
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4. I.TICKET
Abertura: • Identificação do entrevistador – Diogo André da Cruz Sá
• Identificação do participante – Ricardo Oliveira
o Apenas nome e atividade preferida nos tempos livres – “Ricardo, tenho 30 anos e trabalho na área das tecnologias e informação, sou programador e gosto de jogar futebol”.
• Identificação do objetivo do estudo;
o Sensibilidade na pesquisa das plataformas online de ingressos.
Introdução:
Atualmente, comprar online é conveniente, permite poupar tempo e a
internet apresenta uma grande variedade de produtos. Qual será a sua opinião?
Perguntas chave: Questões:
1. Tem por hábito fazer pesquisa de eventos online? Se sim onde?
“Sim, tenho o hábito, sendo que a minha principal fonte de informação é o Google, porque existe pouca centralidade de informação. Recorro muitas vezes a bilheteiras como a Fnac, TicketLine e Bol”. 2. As reservas/compras online realizadas são maioritariamente realizadas com fim pessoal ou profissional? São maioritariamente feitas no âmbito profissional. “Quase sempre pelo fim pessoal”.
3. Com que frequência realiza compras online de ingressos para espetáculos?
“No total, diria que umas 10 vezes por ano, online cerca de 9/10”. 4. Com que frequência e antecedência realiza compras de ingressos para espetáculos nas Bilheteiras Tradicionais? “Nas Tradicionais compro no momento antes de entrar para o espetáculo, não faço pré-‐‑reserva. Por exemplo, caso exista um concerto a 20 de Janeiro, e seja Dezembro, eu comprarei online, nunca opto pelo processo tradicional”. 36 2018-19 TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS
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5. Qual o motivo que o leva a fazer a compra online? “A simplicidade, o facto de não ter de me deslocar ou estar em filas de espera para adquirir os bilhetes, o facto de já ter um espetáculo indicado e com a intenção de ir ver, adquiro o bilhete no momento que é anunciado, ficando disponível os melhores lugares ou então tenho garantida a presença”.
6. Com que antecedência efetua as suas compras online?
“Efetuo no momento ou em casos esporádicos com antecedência suficiente para garantir lugar”.
Determinar os pontos fortes e fracos identificados pelos consumidores na compra de ingressos em plataformas online
7. O que mais valoriza neste serviço?
“A facilidade com que nós conseguimos comparar em diferentes pontos, embora a informação esteja dispersa, conseguir obter informações conectadas ao espetáculo, por exemplo o que haverá nas redondezas, horários, facilidade de acessos. Isso são as principais vantagens”. 8. O que menos valoriza neste serviço? “Como a informação é mais “livre” e existe mais liberdade de opinião na internet, às vezes a informação não é fidedigna. Às vezes é difícil de encontrar uma “porta única” para os eventos, ou temos de ir a cada uma das agências ou a cada um dos pontos de venda para adquirir os bilhetes, o facto de quase sempre ser obrigatório utilizar cartão de crédito, para mim não é o problema, mas se eu pedir à minha namorada para comprar por mim, será um problema. Tenho conhecimento da existência de pagamentos por multibanco, mas não é uma regra. Despois, um dos problemas é a questão de apresentação do bilhete na entrada do espetáculo, quando eu não consigo imprimir o ingresso e ás vezes dificultam-‐‑me a entrada, acabando por me deixar entrar depois de insistência minha. Já aconteceu levar o meu bilhete em formato digital e mesmo assim não me deixarem entrar porque não têm o equipamento ou então porque o leitor que se encontra na entrada está com algum problema, o que acaba de ser uma contradição para as empresas”. 37 www.ligaportugal.pt
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Conhecer a perceção dos consumidores sobre os diferentes canais de distribuição
9. Que websites de reserva/compra de ingressos online conhece?
“O que mais utilizo e mais conheço é a BOL, sinceramente penso que é o maior player no mercado para venda de ingressos online. Tem a blueticket, que coriosamento é a que menos utilizo, que apenas utilizei para um evento local ”. 10. Dos seguintes meios (website do Agente / Bilheteira Tradicional / plataformas online – Bol) qual deles privilegia na compra do seu ingresso? “Privilegio a BOL, pois acredito que seja a que mais está na moda no momento, para além disso é também a que os próprios sites que anunciam os espetáculos dão preferência. Comprar um ingresso numa bilheteira tradicional é uma perda de tempo, porque tenho de me deslocar e só por aí é um grande transtorno que se evitar, irei evitar, sem duvida nenhuma”.
Análise da sensibilidade dos consumidores ao preço dos ingressos no futebol:
11. Dos seguintes fatores – preço/ qualidade / localização, qual o que mais valoriza na seleção de um lugar no estádio? (O fator preço é um fator decisivo na seleção de um ingresso?)
“O fator preço é um fator decisivo par aa compra do meu ingresso, pois há jogos de futebol que em principio não irão valer o preço do bilhete. A localização é importante por questões de segurança, mas menos importante que o preço. A qualidade/ângulo de visão é mais importante que o preço, pois estar a pagar um bilhete e depois ficar numa zona onde vou ter pouco ângulo de visão para o jogo, que ás vezes acontece, acabo por sentir que não valeu a pena ir e acabo por rejeitar a futura compra dos bilhetes”. 12. (Preço psicológico) -‐‑ Imagine que irá comprar um ingresso para a “Final Four” da Liga das Nações, no Estádio do Dragão, que preço estaria disposto a pagar? “Estaria disposto a pagar o máximo de 90€ se ficar num bom lugar. Se ficar atrás de uma baliza ou então no anel superior do Estádio do Dragão, o máximo que iria pagar 38 2018-19 TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS
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seria 40€/45€. Ou seja, por um bom lugar no estádio cerca de 90€ e no anel superior 45€”.
Identificar o preço psicológico do consumidor relativamente ao fenómeno em estudo.
Questão: 13. (Preço psicológico) -‐‑ Imagine que irá comprar um ingresso para a “Final Four” da Liga das Nações, no Estádio do Dragão, que preço estaria disposto a pagar? “Estou disponível a pagar 90€ por um bom lugar no estádio e 45€ por um lugar com uma visibilidade mais reduzida”. Brindes/Gifts: • Coffee-‐‑break.
Monitorização
• Equipamentos de gravação de voz; • Telemóvel para foto;
• Blocos de notas;
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12.6.2. André Viamontes
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Abertura: • Identificação do entrevistador – Diogo André da Cruz Sá
• Identificação do participante – André dos Santos Víamontes, 29 anos, Porto.
o Apenas nome e atividade preferida nos tempos livres – “Sou o André e gosto de jogar futebol.”
• Identificação do objetivo do estudo;
o Sensibilidade na pesquisa das plataformas online de ingressos.
Introdução:
Atualmente, comprar online é conveniente, permite poupar tempo e a internet apresenta uma grande variedade de produtos. Qual será a sua opinião? “Sim, é verdade, comprar online facilita-‐‑me todos os processos”. Perguntas chave: Questões:
1. Tem por hábito fazer pesquisa de eventos online? Se sim onde?
“Sim, faço pesquisa de eventos na cidade do Porto”. 2. As reservas/compras online realizadas são maioritariamente realizadas com fim pessoal ou profissional? São maioritariamente feitas no âmbito profissional. “Eu trabalho no alojamento turístico na cidade do Porto e a pesquisa por eventos faz com que em determinada data eu aumente os preços e tenha maior rentabilidade em
função desses eventos. No âmbito pessoal, como eu adoro desporto e futebol, costumo fazer pesquisas de eventos relacionados com o futebol e já existe compra de bilhetes a nível online ou de viagens que estejam necessárias agregar a um evento que permita depois ir assistir ao mesmo.”
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4. I.TICKET
3. Com que frequência realiza compras online de ingressos para espetáculos? “Faço com alguma antecedência, por vezes não sendo permitido fazer com meses de antecedência. Como o FC Porto é uma equipa que participa na champions e passou em 1º lugar do grupo, o que permite, a partir de uma pesquisa minha, vai fazer o primeiro jogo fora (internacional) e como esse jogo será no dia 12 ou 19 de Fevereiro (2019), faz com que eu já esteja a planear uma viagem (Dezembro de 2018) para um evento que só vai acontecer no próximo ano e já está a ser preparado, conforme o sorteio. Existe efetivamente a preocupação de procurar um lugar/ingresso com antecedência”. 4. Com que frequência e antecedência realiza compras de ingressos para espetáculos nas Bilheteiras Tradicionais? “Posso dar o meu exemplo, de 2011, no qual eu não era sócio do FC Porto e gostava de ir ver o clássico FC Porto vs SL Benfica e pedi três cartões de sócio de pessoas que eram sócios e não iam ao jogo. Eu sabia a data do jogo e antecipei-‐‑me nesse sentido e fui fazer a compra. Confesso que nos dias de hoje é extremamente difícil alcançares um bilhete, porque se a bilheteira abrir numa segunda-‐‑feira de manhã ás 10h, as pessoas vão para lá num Domingo à tarde para ganhar um lugar.” 5. Qual o motivo que o leva a fazer a compra online? “ A comodidade e a rapidez”.
6. Com que antecedência efetua as suas compras online?
“Como referido anteriormente, depende do evento e do local do evento, principalmente se é dentro ou fora do país”. Determinar os pontos fortes e fracos identificados pelos consumidores na compra de ingressos em plataformas online 42 2018-19 TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS
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7. O que mais valoriza neste serviço? “Facilidade e comodidade que tens, porque por vezes tens de sair do emprego ou pedir ao teu chefe para dar uma parte do dia e por vezes tens aquela situação em que chegas lá e és a última pessoa na fila e já não tens bilhete. Já me aconteceu este ano para a supertaça de Aveiro, em que eu fui comprar bilhetes para outras pessoas e eu fui a última pessoa a receber bilhetes, o que foi incrível e aconteceu, portanto, o comodismo é a parte mais f antástica. A rapidez do acesso ao ingresso e a questão do mundo digital que hoje em dia permite estar em qualquer lado do pais ou do mundo e consegues ter acesso ao que pretendes. “ 8. O que menos valoriza neste serviço? “Por vezes chegas ao site e ele está em atualizações ou então fazes a reserva e não dá, ou então a questão do pagamento e dá erro porque está mal sincronizado com o sistema quando interage com o sistema de reserva do próprio site e por vezes como são muitas pessoas a aceder ao site, automaticamente bloqueia e perdes a oportunidade de conseguir um ingresso”.
Conhecer a perceção dos consumidores sobre os diferentes canais de distribuição; 9. Que websites de reserva/compra de ingressos online conhece? “Conheço a Bluetick, que está muito ligado ao futebol e depois tens aqueles sites normais como a FNAC, o próprio site da Federação Portuguesa de Futebol que permite comprar ingressos de futebol, mas depois também tens espetáculos que têm o seu próprio site e permite a compra de um ingresso”. 10. Dos seguintes meios (website do Agente / Bilheteira Tradicional / plataformas online – Bol) qual deles privilegia na compra do seu ingresso? “O Website do agente, pela questão que já referi anteriormente, porque a questão da bilheteira tradicional faz com que eu tenha de perder menos tempo e não tenho de estar no local e à hora numa fila à espera em que pode estar a chover ou estar sol e 43 www.ligaportugal.pt
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não temos a garantia que vamos ter um ingresso. Enquanto que no website, tu estás no teu emprego ou numa viagem de comboio e apenas perdes 2 minutos na compra online, o que não limita o teu dia”. Análise da sensibilidade dos consumidores ao preço dos ingressos no futebol; 11. Dos seguintes fatores – preço/ qualidade / localização, qual o que mais valoriza na seleção de um lugar no estádio? (O fator preço é um fator decisivo na seleção de um ingresso?) “O fator preço é um fator decisivo na compra de um ingresso. Porque, na minha opinião, existe uma diferenciação muito grande dos valores para aquilo que é a distribuição de um lugar no estádio. De uma forma geral, tens um campo de futebol com 2 balizas e 2 partes laterais e dentro do estádio consegues ter uma visão muito grande do que tens á disposição, portanto eu entendo que deve haver uma diferenciação, mas não uma tão grande como muitas vezes existe. Por exemplo, atrás de uma baliza onde pagas 10€/15€ e numa bancada central pagas 70€/80€ e acho que não justifica a diferença abismal de preços. A zona do estádio que eu prefiro para ver futebol é a bancada central, porque cheguei a uma fase de que já não gosto de ver o futebol atrás de uma baliza, estando com uma claque. Portanto, aprecio futebol numa bancada central, porque também tenho a visualização melhor do jogo e também têm haver com o conforto e não estar nas áreas de maior confusão”. 12. (Preço psicológico) -‐‑ Imagine que irá comprar um ingresso para a “Final Four” da Liga das Nações, no Estádio do Dragão, que preço estaria disposto a pagar? “Estou disponível para pagar um ingresso até 30€, porque para já a Final Four não é um evento equiparado a um Europeu de Seleções, Mundial de Seleções ou uma Champions League, apesar das seleções serem as melhores do mundo não pagaria mais de 30€, pois é uma seleção, não o meu clube principal e não é um evento que seja tão importante como aquilo que possa parecer”. 44 2018-19 TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS
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Identificar o preço psicológico do consumidor relativamente ao fenómeno em estudo. 13. (Preço psicológico) -‐‑ Imagine que irá comprar um ingresso para a “Final Four” da Liga das Nações, no Estádio do Dragão, que preço estaria disposto a pagar? “Estou disponível para pagar um ingresso até 30€”. Brindes/Gifts: • Coffee-‐‑break.
Monitorização
• Equipamentos de gravação de voz; • Telemóvel para foto;
• Blocos de notas;
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12.6.3. Ana Marinho
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Abertura: • Identificação do entrevistador – Diogo André da Cruz Sá
• Identificação do participante – Ana Isabel Silva Marinho, 25 anos, Porto.
o Apenas nome e atividade preferida nos tempos livres – “Sou a Ana e gosto de assistir a jogos de futebol.”
• Identificação do objetivo do estudo;
o Sensibilidade na pesquisa das plataformas online de ingressos.
Introdução:
Atualmente, comprar online é conveniente, permite poupar tempo e a internet apresenta uma grande variedade de produtos. Qual será a sua opinião? “Sem duvida, comprar online é uma mais valia numa época onde não há dinheiro que compre o tempo”. Perguntas chave: Questões:
1. Tem por hábito fazer pesquisa de eventos online? Se sim onde?
“Sim, tenho por hábito fazer pesquisas online, principalmente no Google”. 2. As reservas/compras online realizadas são maioritariamente realizadas com fim pessoal ou profissional? São maioritariamente feitas no âmbito profissional. “Sempre no âmbito pessoal” 3. Com que frequência realiza compras online de ingressos para espetáculos? “Depende da situação, mas pode ser de 3 em 3 meses. Faço uma pesquisa sobre esses espetáculos de forma a saber quais são as datas”. 47 www.ligaportugal.pt
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4. Com que frequência e antecedência realiza compras de ingressos para espetáculos nas Bilheteiras Tradicionais? “Nas Bilheteiras tradicionais, normalmente quando é para concertos. Por exemplo, estamos em Dezembro de 2018, vou a um concerto em Março de 2019 e já comprei os bilhetes”. 5. Qual o motivo que o leva a fazer a compra online? “Rápido, comodo, acessível, simples, poupança de tempo, evito filas, etc. Aguardar
numa fila de espera é um desperdício de tempo, quando o processo de compra podia
ser mais facilitado. Na compra online, eu escolhi os lugares, fiz o pagamento e o processo de compra pode ter demorado no máximo 10 minutos, numa fila de espera, esses 10 minutos são triplicados”.
6. Com que antecedência efetua as suas compras online?
“Tem muito haver com o tipo de concerto. No meu caso, como sabia que é um concerto com muita aderência, poderia esgotar a qualquer momento, por isso comprei com bastante antecedência, depende muito do tipo de evento ou concerto”. Determinar os pontos fortes e fracos identificados pelos consumidores na compra de ingressos em plataformas online 7. O que mais valoriza neste serviço? “Facto de ser rápido e comodo, até mesmo estes sites, tornam-‐‑se simples e rápidos para comprar no imediato. É um processo muito fácil no qual conseguimos ter o ingresso facilmente no nosso email. Enquanto nós no método tradicional temos de nos dirigir ao local, perder tempo e organizar muito bem para ir ao local. Enquanto que online, basta acedermos á plataforma e conseguimos fazer tudo o resto”. 48 2018-19 TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS
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8. O que menos valoriza neste serviço? “Ás vezes essas plataformas podem não ser fidedignas, o que faz o consumidor optar pelo tradicional com medo das burlas. Existe muita informação não centralizada, e depois existem sítios que não são oficiais, o que pode gerar desconforto pelo que a pessoa vai comprar e depois chega ao local do ingresso e não é real, ou seja é burlado. Nunca me aconteceu mas é real”.
Conhecer a perceção dos consumidores sobre os diferentes canais de distribuição; 9. Que websites de reserva/compra de ingressos online conhece? “Conheço a Blueticket e a Ticketline”. 10. Dos seguintes meios (website do Agente / Bilheteira Tradicional / plataformas online – Bol) qual deles privilegia na compra do seu ingresso? “Nunca ouvi falar da BOL, mas prefiro as plataformas online. Eu não tenho um horário de trabalho que me permita ir ás bilheteiras tradicionais quando estão abertos, o que faz com que eu tenha de recorrer ao online para conseguir ter acesso a estes bilhetes”. Análise da sensibilidade dos consumidores ao preço dos ingressos no futebol 11. Dos seguintes fatores – preço/ qualidade / localização, qual o que mais valoriza na seleção de um lugar no estádio? (O fator preço é um fator decisivo na seleção de um ingresso?) “O preço, sem dúvida é um fator decisivo, porque não irei pagar 200€ por um bilhete, sei que existe um determinado valor para pagar e que esse valor não será ultrapassado. A minha escolha do lugar estará em conta com o valor disponível para eu pagar”. 49 www.ligaportugal.pt
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12. (Preço psicológico) – Imagine que irá comprar um ingresso para a “Final Four” da Liga das Nações, no Estádio do Dragão, que preço estaria disposto a pagar? “Não pagaria mais de 40€. Se o preço mínimo de bilhete for 40€ e eu ficar num lugar com pouca visibilidade, não compraria pois não seria compensatório, iria ficar longe do relvado, onde não conseguiria ver com condições e, para mim, o preço de 100€ é muito caro para um bilhete no estádio”. Identificar o preço psicológico do consumidor relativamente ao fenómeno em estudo. 13. (Preço psicológico) – Imagine que irá comprar um ingresso para a “Final Four” da Liga das Nações, no Estádio do Dragão, que preço estaria disposto a pagar? “Não pagaria mais de 40€ por um ingresso”. Brindes/Gifts: • Coffee-‐‑break.
Monitorização
• Equipamentos de gravação de voz; • Telemóvel para foto;
• Blocos de notas;
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4. I.TICKET
12.6.4. Sérgio Cruz
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4. I.TICKET
Abertura: • Identificação do entrevistador – Diogo André da Cruz Sá
• Identificação do participante – Sérgio Cruz, 26 anos, Porto.
o Apenas nome e atividade preferida nos tempos livres – “Sou o Sérgio e gosto de jogar futebol.”
• Identificação do objetivo do estudo;
o Sensibilidade na pesquisa das plataformas online de ingressos.
Introdução: Atualmente, comprar online é conveniente, permite poupar tempo e a internet apresenta uma grande variedade de produtos. Qual será a sua opinião? “Sim, quando é preciso comprar, faço online”. Perguntas chave: Questões:
1. Tem por hábito fazer pesquisa de eventos online? Se sim onde?
“Sim, tudo online. Vejo na Fnac os próximos eventos”. 2. As reservas/compras online realizadas são maioritariamente realizadas com fim pessoal ou profissional? São maioritariamente feitas no âmbito profissional. “Sempre no âmbito. Já fiz compras online sempre 100% seguro”.
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4. I.TICKET
3. Com que frequência realiza compras online de ingressos para espetáculos? “Com alguma frequência. Ás vezes pedem-‐‑me e eu faço, principalmente para o futebol”.
4. Com que frequência e antecedência realiza compras de ingressos para espetáculos nas Bilheteiras Tradicionais?
“Mal são postos á venda, vou logo. Normalmente ás casas do Benfica ou então compro online. Quando é jogos em casa, eu tenho Red Pass, quando é f ora eu compro nas casas. Nunca comprei na Bilheteira do Estádio da luz porque nunca tive essa chance de ir a Lisboa comprar”. 5. Qual o motivo que o leva a fazer a compra online? “ Maneira mais fácil de comprar, não é necessário deslocar-‐‑me porque é mais rápido. No dia do jogo chego ao estádio e levanto o bilhete. Porque eu estou a trabalhar e não posso sempre ir pessoalmente lá. Assim, prefiro online porque acabo por poupar tempo e não tenho de estar nas filas”.
6. Com que antecedência efetua as suas compras online?
“ Normalmente compro o mais cedo possível, antes que esgote. Se o concerto for em Maio e as bilheteiras abrem em Dezembro, eu vou logo, para apanhar promoções”.
Determinar os pontos fortes e fracos identificados pelos consumidores na compra de ingressos em plataformas online
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4. I.TICKET
7. O que mais valoriza neste serviço? “Rapidez e eficácia. Escuso de estar na fila muito tempo á espera. Ás vezes pode falhar o sistema, mas nisso é um caso de ser paciente, mas normalmente apanho sempre disponibilidade, mas se for em cima do jogo de futebol já é mais difícil, também por haver menos lugares disponíveis”. 8. O que menos valoriza neste serviço? “O sistema falhar quando é muitas pessoas a clicar para o mesmo lugar. No pagamento sempre faço bem, por cartão de crédito ou por multibanco. Antigamente era um problema porque nem toda a gente tinha cartão de crédito para comprar, agora já não é, porque abriram para o multibanco”.
Conhecer a perceção dos consumidores sobre os diferentes canais de distribuição;
9. Que websites de reserva/compra de ingressos online conhece?
“Conheço alguns,tipo a FNAC, mas só faço num, no SLBENFICA.PT”. 10. Dos seguintes meios (website do Agente / Bilheteira Tradicional / plataformas online – Bol) qual deles privilegia na compra do seu ingresso? “ Sinceramente prefiro a bilheteira tradicional porque tenho logo o bilhete, online tenho de estar 1 semana á espera que chegue. Mas a maneira mais fácil é a bilheteira online”.
Análise da sensibilidade dos consumidores ao preço dos ingressos no futebol 54 2018-19 TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS
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4. I.TICKET
11. Dos seguintes fatores – preço/ qualidade / localização, qual o que mais valoriza na seleção de um lugar no estádio? (O fator preço é um fator decisivo na seleção de um ingresso?) “ O preço, porque para mim o lugar não interessa, logo que vá ver o jogo está tudo
bem. Se não houvesse mais lugares, pagava 40 euros no sítio mais afastado para ver o jogo”.
12. (Preço psicológico) -‐‑ Imagine que irá comprar um ingresso para a “Final Four” da Liga das Nações, no Estádio do Dragão, que preço estaria disposto a pagar? “O valor máximo para esse jogo são 30€. Por exemplo, 15€ para trás das balizas e 30€ para as centrais. No anel superior do Dragão pagava 25€. Identificar o preço psicológico do consumidor relativamente ao fenómeno em estudo.
13. (Preço psicológico) -‐‑ Imagine que irá comprar um ingresso para a “Final Four” da Liga das Nações, no Estádio do Dragão, que preço estaria disposto a pagar?
“O valor máximo para esse jogo são 30€. Brindes/Gifts: • Coffee-‐‑break.
Monitorização
• Equipamentos de gravação de voz; • Telemóvel para foto; • Blocos de notas;
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4. I.TICKET
12.6.5.
Vasco Ribeiro
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4. I.TICKET
Abertura: • Identificação do entrevistador – Diogo André da Cruz Sá
• Identificação do participante – Vasco Ribeiro, 29 anos, Programador, Porto.
o Apenas nome e atividade preferida nos tempos livres – “Sou o Vasco e gosto de jogar jogos de estratégia.”
• Identificação do objetivo do estudo;
o Sensibilidade na pesquisa das plataformas online de ingressos.
Introdução: Atualmente, comprar online é conveniente, permite poupar tempo e a internet apresenta uma grande variedade de produtos. Qual será a sua opinião? “Acho bastante prático, apesar dos seus inconvenientes”. Perguntas chave: Questões:
1. Tem por hábito fazer pesquisa de eventos online? Se sim onde?
“ Sim, tenho. Costumo fazer no Google e dependendo dos sites que aparecerem, vou procurando por aí. Normalmente encontro na FNAC, onde tenho comprado mais, mas depende”. 2. As reservas/compras online realizadas são maioritariamente realizadas com fim pessoal ou profissional? São maioritariamente feitas no âmbito profissional. 57 www.ligaportugal.pt
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4. I.TICKET
“ Sempre com fim pessoal”. 3. Com que frequência realiza compras online de ingressos para espetáculos? “Quase sempre que vou ver algum espetáculo, compro online. Normalmente, 3 vezes ou 4 vezes por ano”.
4. Com que frequência e antecedência realiza compras de ingressos para espetáculos nas Bilheteiras Tradicionais? “Penso que no próprio dia do espetáculo. Se houver um espetáculo que queria ir em Março e estiver em Dezembro do ano anterior, eu comprarei com antecedência mas não me vou deslocar ao sitio, na pior das hipóteses desloco-‐‑me no dia do espetáculo apenas para levantar o bilhete”. 5. Qual o motivo que o leva a fazer a compra online? “Facilidade de não ter de me deslocar ao local, o pagamento é mais fácil, tenho mais informação e a comodidade”.
6. Com que antecedência efetua as suas compras online? “Cerca de 1 mês ou duas semanas, isto se quiser o bilhete em formato físico, para dar tempo de ele ser processado e enviado para minha casa”. Determinar os pontos fortes e fracos identificados pelos consumidores na compra de ingressos em plataformas online 7. O que mais valoriza neste serviço? “Segurança ao comprar, pois eu não compro nada de fora do país. Já tive problemas em comprar ingressos e não me darem uma segurança daquilo que comprei. A própria
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4. I.TICKET
rapidez do serviço também é importante, porque se eu pretender o ingresso no momento, ele em minutos estará disponível no meu email”. 8. O que menos valoriza neste serviço? “ A apresentação do site não importa muito, mas ser prático e fácil de utilização é o principal. Ou seja, não gosto de sites muito confusos”.
Conhecer a perceção dos consumidores sobre os diferentes canais de distribuição; 9. Que websites de reserva/compra de ingressos online conhece? “Conheço a Fnac, Ticketline e a Blueticket, apesar desta ultima nunca ter usado”. 10. Dos seguintes meios (website do Agente / Bilheteira Tradicional / plataformas online – Bol) qual deles privilegia na compra do seu ingresso? “A Plataforma online, porque é muito mais prático do que me deslocar e aguardar numa fila de bilheteira. Já tive a experiência de ter estado com o meu pai numa bilheteira para comprar ingressos para o SL Benfica, onde tivemos de aguardar umas boas horas, foi um jogo para a 1º Liga e não era muito importante, por isso não se percebeu o tempo de espera”. Análise da sensibilidade dos consumidores ao preço dos ingressos no futebol 11. Dos seguintes fatores – preço/ qualidade / localização, qual o que mais valoriza na seleção de um lugar no estádio? (O fator preço é um fator decisivo na seleção de um ingresso?) “Valorizo a localização, mesmo em concertos a localização é muito importante. Quando ás vezes vou ver jogos de futebol com o meu pai, gosto de estar num bom sitio para ver o jogo, porque senão, não vale a pena estar lá. Relativamente ao preço, este influencia, mas se vamos gastar dinheiro é preferível gastar mais dinheiro e estar num bom local”. 59 www.ligaportugal.pt
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4. I.TICKET
12. (Preço psicológico) -‐‑ Imagine que irá comprar um ingresso para a “Final Four” da Liga das Nações, no Estádio do Dragão, que preço estaria disposto a pagar? “O fator localização é muito importante, e se o valor do bilhete for 50€ e o único lugar disponível for no último anel do estádio e nas últimas filas, não vou comprar, porque não quero ir ver o jogo de binóculos. O máximo que pagaria por um bom lugar seria 50€ nas bancadas centrais não muito junto á relva”. Identificar o preço psicológico do consumidor relativamente ao fenómeno em estudo. 13. (Preço psicológico) -‐‑ Imagine que irá comprar um ingresso para a “Final Four” da Liga das Nações, no Estádio do Dragão, que preço estaria disposto a pagar? “O máximo que pagaria por um bom lugar seria 50€, nas bancadas centrais e não muito junto á relva”. Brindes/Gifts: • Coffee-‐‑break.
Monitorização
• Equipamentos de gravação de voz; • Telemóvel para foto;
• Blocos de notas;
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4. I.TICKET
13.
Análise de Conteúdo das Entrevistas
Depois de recolhidas todas as respostas e informações dos participantes das
Entrevistas, procedeu-‐‑se a sua transcrição e respetiva análise explicativa. Neste
tópico, será representada a análise de conteúdo através de um quadro que resume
todas as intervenções dos participantes, ao mesmo tempo que permite organizar os inputs principais. Questão
Opções
Palavras-‐Chave
1ª
Sim
•
Âmbito Profissional
•
Frequência
“Tenho por hábito fazer compras online”
5
Âmbito Pessoal 2ª
“Sempre no âmbito pessoal”
1
2 vezes/ano 3ª
Mais de 4 vezes/ano
1 •
3
“Depende do tipo de eventos”
Sem precisão 4ª
5ª
Antecedência da compra de ingressos
1
•
Com antecedência de 3 ou 4 meses
5
Preço
5
5
Rapidez
Comodidade
•
“Facilidade e Comodidade”
5
Fator Tempo
5
Na véspera do Espetáculo
1
5
•
Semanas Meses
7ª
5
Facilidade
Acessível
6ª
5
Segurança Facilidade
•
“Se o espetáculo for em Março e eu estiver em Dezembro, compro o bilhete em Dezembro”
“Segurança ao comprar, pois os sites têm de ser fidedignos”
0 4 8 5 61
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
5 Comodidade
8ª
Simplicidade
1
Rapidez
5
Informação dispersa Erros no Pagamento
2
•
Bugs do Sistema
“Quando estou a selecionar um ingresso e o sistema dá Bug”
1
Ticketline
3
4
BOL
•
“Conheço todos, mas apenas utilizo um”
3
Website do Agente
1
Bilheteira Tradicional
Plataformas online 11ª
1
Blueticket
2
Site do agente
10ª
1
Burla
FNAC
9ª
3
Preço
Qualidade
Localização
• •
“Plataformas online porque é muito mais prático” “Prefiro o website do Agente”.
1 3 3
• •
“Valorizo o Preço e a Localização” “Não interessa o preço nem a localização”
1 1
Tabela 1 -‐‑ A nálise de c onteúdo por objetivo Elaboração Própria
Depois de construir o esquema acima representado, sentiu-‐‑se a necessidade
de desenvolver um pouco mais os resultados deste estudo. Aqui, organizou-‐‑se os
inputs dos participantes com os objetivos específicos, analisando cada informação à
luz dos bjetivos.
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2018-19 TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS
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4. I.TICKET
13.1. Conhecer o processo de decisão dos consumidores
Relativamente ao processo de decisão consegue-‐‑se apurar que todos os
participantes já realizaram compras de ingressos online, maioritariamente a título pessoal. Sendo que os principais motivos que levam os participantes a realizar as compras dos ingressos online são a facilidade e comodidade como principal fator, seguido da rapidez, segurança e simplicidade.
A FNAC é a plataforma privilegiada para este efeito. Relativamente à
frequência com que são efetuadas as compras de ingressos online, estas ocorrem mais de 4 vezes por ano, com uma antecedência média de 3 a 4 meses.
13.2. Determinar os pontos fortes e fracos identificados pelos consumidores na reserva/compra de ingressos online
A Comodidade e facilidade foram os fatores mais valorizados pelos
entrevistados. Já os erros no pagamento e Bugs do Sistema são os pontos fracos mais comuns na compra dos seus ingressos online.
13.3. Conhecer a perceção dos c onsumidores sobre os diferentes canais de distribuição.
AFNAC surge como Top Of Mind neste tópico, tendo ainda sido referidas as
No que diz respeito à compra online, esta é efetuada, preferencialmente,
plataformas online, como o Ticketline, BOL, Blueticket e o Website do agente. através da FNAC e Ticketline.
13.4. Análise da sensibilidade dos c onsumidores ao preço da reserva hoteleira e a Identificação do preço psicológico do consumidor relativamente ao fenómeno em estudo.
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
Quanto à questão “Qualidade/Localização/Preço”, a qualidade foi o fator
menos valorizado pelos participantes. Sendo que o fator Localização/Preço são fatores muito importantes na escolha de um ingresso.
Conseguindo também aferir que os participantes estariam dispostos a
despender de um valor entre os 30€ a 80 €, por um ingresso para a Final Four da Liga das Nações no Estádio do Dragão.
Em suma, os entrevistados valorizam e preferem a compra de ingressos
online, pois a facilidade e comodidade na aquisição dos seus ingressos prevalece na decisão final.
O fator Tempo é inegável. Todos os Participantes concordam que existe
pouco tempo e disponibilidade para se deslocar a uma Bilheteira Tradicional e aguardar nas filas de espera, pois são demoradas e longas.
Todos os entrevistados já tiveram a experiência da compra de ingressos para
o futebol numa bilheteira tradicional e afirmam que o fato de aguardar numa fila de espera, durante tempo indeterminado começa a ser insuportável.
“já é pouco usual, para muitos espetáculos culturais, ter de me dirigir a uma
Bilheteira tradicional para comprar os bilhetes. Porque razão, no futebol, não é assim?” – Ana Marinho. Os participantes, concordam que a Bilheteira Online seria uma ferramenta
bastante útil para a aquisição dos seus ingressos, pois atualmente já utilizam as
plataformas semelhantes para a compra de ingressos para eventos culturais e uma
plataforma oficial de venda de ingressos para o futebol seria a “Cereja no Topo do Bolo – Sérgio Cruz”.
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4. I.TICKET
14.
Declaração
Para a recolha de informação através de entrevistas individuais, foi pedido a
todos os participantes o preenchimento e assinatura da Declaração de cedência de imagem e voz.
Eu, _______________________________ (Primeiro e último nome) AUTORIZO o uso da minha imagem em suporte de fotografia e vídeo, para ser utilizada como análise de dados e comportamento do consumidor no presente Focus Group.
Por esta ser a expressão da minha vontade declaro que autorizo o uso acima descrito sem que nada haja a ser reclamado a título de direitos conexos à minha imagem ou a qualquer outro, e assino a presente autorização.
Também declaro que não ficou acordada nenhuma contrapartida monetária em troca. ______________________, dia _____ de ______________ de ___________. (assinatura)
Nome Completo: Telefone p/ contato:
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
15.
Inquéritos
66
2018-19 TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS
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4. I.TICKET
O inquérito por questionário, serviu para obter informações quantitativas, sendo
respondido por indivíduos do sexo Masculino e Feminino, com idades iniciadas a partir dos 18 anos e residentes do grande Porto. Este tem como objetivos:
• Determinar a aceitação das compras online;
• Determinar a aceitação de compra de ingressos para espetáculos online;
Optou-‐‑se por inquirir cerca de 100 pessoas, sendo os questionários distribuídos
via online, através do envio de email, Facebook e Linkedin.
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
15.1. Plataformas Online -‐‑ C ompras de Ingressos para espetáculos. O presente inquérito servirá para obter informações quantitativas sobre a
possibilidade de aquisição de ingressos em plataformas online para Eventos desportivos, musicais, cinema, teatro, etc.
Respostas válidas apenas para indivíduos com idades iniciadas a partir dos 18 anos e do sexo Masculino e Feminino.
Em média, com que frequência faz compras de ingressos para espetáculos online?
1 vez de 6 em 6 meses
Nunca
1 vez de 3 em 3 meses
1 vez por semana
1 vez por mês
Relativamente às suas motivações e h ábitos em relação à compra de ingressos para espetáculos online, responda a cada uma das afirmações com um X no quadrado.
Discordo Totalmente
Discordo Indiferente Concordo
Concordo Totalmente
Costumo fazer
Aguardar em filas
compras online de espera é um desperdício de tempo
Costumo realizar compras de
ingressos para
espetáculos nas
68
2018-19 TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS
110
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4. I.TICKET
Bilheteiras
Tradicionais Já tive más
Faço comparações
Comprar online é
Comprar online é
Não compro online
Compro apenas em
experiências a
comprar online
Costumo realizar compras de
ingressos para
espetáculos online de preços antes de comprar
Compro online por impulso
Faço compras
online por ser mais acessível comodo confuso
com medo de burla sites Fidedignos Confio nos
métodos de
pagamento online 69 www.ligaportugal.pt
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
Já comprei
ingressos online
para assistir a um jogo de futebol Conheço
plataformas de
venda de ingressos para espetáculos online
Idade: ____________
Género: Feminino
Masculino
Situação Profissional: Empregado/a Empregado/a Estudante
Desempregado/a
por Conta
por Conta de
Própria
Outrem
Reformado/a
Grau de Formação: Ensino Básico
Ensino Secundário
Universitário
Pós-‐‑Graduação
70
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4. I.TICKET
15.2. Análise dos Inquéritos Numa Amostra de 100 inquiridos, foi elaborado um inquérito online de forma
a compreender o comportamento do consumidor na pesquisa e aquisição de ingressos para espetáculos online.
Em média, com que frequência faz compras online?
31%
5% 4%
37%
23%
Nunca
1 vez de 6 m 6 meses
1 vez por mês
1 vez por semana
1 vez de 3 em 3 meses
Gráfico 6 Frequência de Compras O nline Elaboração Própria
37% dos inquiridos fazem compras online uma vez de três em três meses.
31% dos inquiridos faz compras 1 vez por semana. Analisando o total da amostra, apenas 5% nunca fez compras online.
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113
TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
Costumo realizar compras de ingressos para espetáculos nas Bilheteiras Tradicionais 7%
22%
10%
28% 33%
Discordo Totalmente
Discordo
Indiferente
Concordo
Concordo Totalmente
Gráfico 7 -‐‑ Compras de i ngressos para e spetáculos nas Bilheteiras T radicionais
Elaboração Própria
55% dos inquiridos efetua compras de ingressos nas bilheteiras tradicionais,
enquanto 17% não adquire os seus ingressos tradicionalmente.
Aguardar em filas de espera é um desperdício de tempo 1% 2% 6% 48% 43%
Discordo Totalmente
Discordo
Indiferente
Concordo
Concordo Totalmente
Gráfico 8 -‐‑ A guardar em filas de e spera é desperdício de tempo
Elaboração Própria
72 2018-19 TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS
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4. I.TICKET
91% dos inquiridos admite que é um desperdício de tempo aguardar em filas
de espera.
Costumo realizar compras de ingressos para espetáculos online 11%
27%
10% 14%
38%
Discordo Totalmente
Discordo
Indiferente
Concordo
Concordo Totalmente
Gráfico 9 -‐‑ Compra de Ingressos para e spetáculos online Elaboração Própria
65% dos inquiridos realiza as compras de ingressos em plataformas digitais.
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
Comprar online é comodo 1% 1% 7% 25%
66%
Discordo Totalmente
Discordo
Indiferente
Concordo
Concordo Totalmente
Gráfico 10 -‐‑ Comodidade na c ompra online
Elaboração Própria
91% dos inquiridos afirma que comprar online é mais comodo. Compro apenas em sites Fidedignos 3%2%
55%
Discordo Totalmente
Discordo
12%
28%
Indiferente
Concordo
Concordo Totalmente
Gráfico 11 -‐‑ Sites Fidedignos Elaboração Própria
83% dos inquiridos apenas faz compras online em sites fidedignos. 74
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4. I.TICKET
Confio nos métodos de pagamento online 1% 6%
9%
52% 32%
Discordo Totalmente
Discordo
Indiferente
Concordo
Concordo Totalmente
Gráfico 12 -‐‑ Métodos de Pagamento online Fonte: Elaboração Própria
84% dos inquiridos confia nos métodos de pagamento disponíveis nas
plataformas digitais.
Já comprei ingressos online para assistir a um jogo de futebol 9%
1% 5%
5%
80%
Discordo Totalmente
Discordo
Indiferente
Concordo
Concordo Totalmente
Gráfico 13 -‐‑ Compras online de i ngressos para Futebol Elaboração Própria
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
81% dos inquiridos nunca comprou ingressos para futebol numa plataforma
digital. 19% possivelmente adquiriu os seus ingressos no site de algum clube ou numa revenda em plataformas como o OLX, Custo Justo, etc.
Conheço plataformas de venda de ingressos para espetáculos online 2% 10% 36%
16%
36%
Discordo Totalmente
Discordo
Indiferente
Concordo
Concordo Totalmente
Gráfico 14 -‐‑ P lataformas de venda de i ngressos Elaboração Própria
72% dos inquiridos conhece plataformas de venda de ingressos online,
enquanto que 12% não conhece e 10% considera indiferente.
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4. I.TICKET
Género
45% 55%
Masculino
Feminino
Gráfico 15 -‐‑ Género Elaboração Própria
55% dos inquiridos são do sexo Masculino e 45% do Sexo feminino.
Grau de Formação 9% 3% 23%
65%
Ensino Básico
Ensino Secundário
Univeritário
Pós-‐Graduação
Gráfico 16 -‐‑ Grau de Formação Elaboração Própria
65% dos inquiridos são licenciados, 9% Pós-‐‑Graduados, 23% apenas com
Ensino Secundário e 3% com o Ensino Básico.
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
Idade 50-‐57
4%
42-‐49
12%
34-‐41
21%
26-‐33
37%
18-‐25
26% 0%
5%
10%
Gráfico 17 -‐‑ Faixas Etárias Fonte: Elaboração Própria
15%
20%
25%
30%
35%
40%
37% dos inquiridos têm idades compreendidas entre os 26 e os 33 anos.
78 2018-19 TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS
120
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4. I.TICKET
16.
Considerações Finais
79
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121
TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
4. I.TICKET
Ao longo do desenvolvimento do projeto “I.Ticket” foi notória a insatisfação
do consumidor ao não existir uma solução de bilheteira Online Oficial das competições de Futebol Profissional em Portugal. Esta necessidade advém da falta
de tempo e longas filas de espera que leva o consumidor a aguardar sem tempo determinado.
Sendo um projeto pioneiro para o Futebol Profissional em Portugal, o seu
desenvolvimento focou-‐‑se em princípios fundamentais para o seu sucesso, tais
como a inovação, clareza, transparência, qualidade e por forma de ser a plataforma oficial da aquisição de ingressos para Futebol Profissional.
Quanto á sua organização, a plataforma vai necessitar de uma estrutura
digital forte e reforçada, de forma a proteger os interesses do consumidor e das Sociedades com interesse na venda dos seus ingressos online. Toda a estrutura
envolvente será desenvolvida e suportada tecnológica e financeira pela Liga Portugal.
Este serviço será em Prol do Futebol Profissional, sem qualquer fim lucrativo
para a Liga Portugal.
Contudo, para o culminar de todas estas ideias e objetivos, foi elaborada uma
análise do modelo de negócio relacionado com a criação de uma ideia tecnológica e inovadora. Não foi indicado qualquer orçamento a uma empresa de programação,
sendo que não é possível apurar que se trata de um projeto de investimento elevado. Dada a análise dos inquéritos efetuados, entrevistas e as restantes recolha de
informação, consegue-‐‑se definir o projeto como “Promissor”, aferindo desta forma
todas as opiniões mencionadas, comparando aos objetivos propostos ao longo deste relatório, os quais, se atingidos, proporcionarão um resultado significante para as
Sociedades com resultado num futuro melhor para o Futebol Profissional em Portugal.
80 2018-19 TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS
122
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4. I.TICKET
17.
Netgrafia
http://www.ligaportugal.pt – Acesso a 29 de Novembro de 2018
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18.
Bibliografia
A Avaliação do Desenvolvimento Socioeconómico, MANUAL TÉCNICO II: Métodos e Técnicas A Recolha de Dados: Entrevistas Individuais
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
INTRODUÇÃO No âmbito do estágio académico/curricular do Mestrado em Desporto da Escola Superior de Desporto de Rio Maior foi realizado, para um dos momentos de avaliação do mesmo, a construção de um estudo de aplicação prática no contexto/entidade acolhedora, que visa-se o desenvolvimento de uma temática da área de interesse do aluno. O estudo em causa foi realizado numa equipa de futebol de formação (sub-16) de um clube de elite nacional/internacional. Um dos motivos pelos quais o aluno optou pela temática foi o fato de a área da observação e análise de jogo ser a sua área de interesse pessoal e profissional. Para além disso, o aluno pretendeu implementar uma metodologia, junto da equipa em causa, que permitisse criar um impacto positivo ao nível do processo de competição (qualitativa e estrategicamente), visando a importância da área, e que promovesse o seu trabalho enquanto estagiário do clube. Para o desenho experimental foi idealizado um cenário onde fosse possível transformar uma recolha de informações qualitativas (filmagem da 1ª parte) numa apresentação, a ser realizada ao intervalo (direcionada para os atletas). O mesmo foi alvo de adaptações até ao protocolo final.
OBJETIVOS • Criação, desenvolvimento e aplicação de uma metodologia que permitisse a realização de uma apresentação qualitativa da performance da própria equipa durante o intervalo; • Otimização do feedback transmitido durante o intervalo; • Preparação da equipa técnica e dos atletas para um possível cenário a vivenciar no futebol profissional; • Introdução/Desenvolvimento/Consolidação de competências inerentes à área da observação e análise de jogo; • Promoção do trabalho criado e desenvolvido pelo departamento de observação e análise de jogo.
RESULTADOS
CONCLUSÕES Dashboard final
• Foram cumpridos os objetivos propostos (criação, desenvolvimento e aplicação de uma metodologia, otimização do feedback: foco atencional e perceção da mensagem por parte dos atletas; reflexão sobre o processo (recursos envolvidos), introdução, desenvolvimento e consolidação de competências específicas (observação “in loco”); • Foi possível construir um protocolo sucinto e objetivo (ca-
Esquematização da recolha
pacidade de reflexão e proposta do treinador); • Metodologia aplicada e protocolo final de caráter adaptativo ao contexto em causa; • A captura/codificação deve ser interrompida a 10 minutos do intervalo (edição dos clips de vídeo); • A apresentação deve ser o mais sintética possível; • O estudo apresentou potencialidades anexas, tais como: controlo da qualidade da filmagem, revisão de lances específicos, exportação de clips ao vivo para o banco de suplentes, e aplicabilidade em situação de treino;
Protocolo final
• É necessário testar a validade do analista 3; • É necessário testar a metodologia na condição de visitante; • É necessário controlar o tempo despendido no intervalo durante a fase de teste (para correção dos focos de perda de tempo).
ANÁLISE DA PERFORMANCE DA PRÓPRIA EQUIPA, PROPOSTA DE METODOLOGIA PARA INTERVENÇÃO AO INTERVALO João Pedro Mendes Pascoal
5. ANÁLISE DA PERFORMANCE DA PRÓPRIA EQUIPA, PROPOSTA DE METODOLOGIA PARA INTERVENÇÃO AO INTERVALO Centro de estudos da Fundação do Futebol e da Liga Portugal - Prémio Fundação do Futebol - Concurso 2018/2019
Índice geral I. Índice de figuras ...................................................................................................................................... 3 II. Índice de tabelas ..................................................................................................................................... 3 III. Índice de anexos .................................................................................................................................... 3 Resumo........................................................................................................................................................ 4 1. Introdução ............................................................................................................................................... 5 2. Revisão da literatura .............................................................................................................................. 6 2.1. O jogo de futebol ............................................................................................................................... 6 2.2. O que é a observação e análise de jogo? ......................................................................................... 6 2.2.1. O que é um analista de futebol? .................................................................................................... 7 2.2.2. Qual é a sua importância e que funções deve desempenhar? ...................................................... 7 2.2.3. Que competências deve apresentar? ............................................................................................ 8 3. Objetivo(s) ............................................................................................................................................... 9 4. Metodologia .......................................................................................................................................... 10 4.1. Caraterização da amostra ............................................................................................................... 10 4.2. Recursos necessários ..................................................................................................................... 11 4.3. Procedimentos utilizados ................................................................................................................ 14 4.4. Desenho experimental..................................................................................................................... 23 4.5. Limitações ....................................................................................................................................... 23 4.6. Cronogramas ................................................................................................................................... 25 4.7. Recomendações .............................................................................................................................. 26 4.8. Protocolo final .................................................................................................................................. 28 5. Considerações e reflexões finais ....................................................................................................... 34 6. Referências bibliográficas ................................................................................................................... 36 7. Anexos ................................................................................................................................................... 38
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I. Índice de figuras Figura 1 - Processos inerentes ao Futebol (Mendes, 2016) ....................................................................... 8 Figura 2 - Desenho experimental idealizado para o estudo ...................................................................... 23 Figura 3 - Desenho experimental ideal ...................................................................................................... 30 Figura 4 - Dashboard final ......................................................................................................................... 32 Figura 5 - Esquematização da recolha ...................................................................................................... 32
II. Índice de tabelas Tabela 1 - Aplicações práticas do estudo (jogos) ...................................................................................... 11 Tabela 2 - Cronograma idealizado para o estudo ..................................................................................... 25 Tabela 3 - Cronograma aplicado durante o estudo ................................................................................... 26 Tabela 4 - Cronograma final ...................................................................................................................... 28
III. Índice de anexos 7.1. Esboço inicial da entrevista pré-estudo................................................................................................38 7.2. Entrevista pré-estudo final ....................................................................................................................38 7.3. Esboço inicial da entrevista pós-estudo ...............................................................................................39 7.4. Entrevista pós-estudo final ...................................................................................................................39
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Resumo No âmbito do estágio académico/curricular do Mestrado em Desporto da Escola Superior de Desporto de Rio Maior foi desenvolvido um estudo de aplicação prática numa equipa de futebol de formação de um clube de elite nacional/internacional. Estudo esse que teve como matriz a área da observação e análise de jogo. O mesmo foi definido com base nos seguintes objetivos: criação, desenvolvimento e aplicação de uma metodologia que permitisse a realização de uma apresentação qualitativa da performance da própria equipa durante o intervalo, otimização do feedback transmitido durante o referido período, preparação da equipa técnica e dos atletas para um possível cenário a vivenciar no futebol profissional, introdução/desenvolvimento/consolidação de competências inerentes à área da observação e análise de jogo (momento formativo para todos os elementos envolvidos) e promoção do trabalho criado e desenvolvido pelo departamento de observação e análise de jogo (junto dos diversos departamentos do clube, assim como do restante meio desportivo e científico). Para o desenho experimental do estudo foi idealizado um cenário onde fosse possível enquadrar uma recolha de informação visual qualitativa, sob a forma de vídeo (filmagem da 1ª parte), que seria enquadrada no plano de jogo, nomeadamente no período do intervalo. Ou seja, através de uma colaboração com a equipa técnica, procurámos aliar a filmagem da 1ª parte com uma codificação ao vivo da mesma, que permitisse a construção de uma apresentação em formato de vídeo, a ser realizada durante o intervalo dos jogos. A apresentação seria direcionada para os atletas, tendo os objetivos anteriormente mencionados como meta final. A aplicação do estudo permitiu a criação de um protocolo final, que será sempre alvo de adaptação em função do contexto ou das necessidades (importância do processo de reflexão ser realizado em conjunto com os recursos humanos envolvidos).
Palavras-chave: Futebol; Observação e análise de jogo; Análise qualitativa; Codificação ao vivo.
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1. Introdução No âmbito do estágio académico/curricular do mestrado em Desporto da Escola Superior de Desporto de Rio Maior, foi realizado, para um dos momentos de avaliação do mesmo, a construção de um estudo de aplicação prática no contexto/entidade acolhedora, que visa-se o desenvolvimento de uma temática da área de interesse do autor (observação e análise de jogo). O estudo em causa é da autoria do aluno João Pedro Mendes Pascoal e tem como tema: “Análise da performance da própria equipa, proposta de metodologia para intervenção ao intervalo”. Um dos motivos pelos quais o autor do estudo optou pela temática anteriormente mencionada foi o fato de a área da observação e análise de jogo, nomeadamente a função de analista de futebol, ser a sua área de interesse pessoal e a sua meta em termos profissionais. Para além disso, o autor deste estudo pretendeu implementar uma metodologia, junto da equipa em causa, que permitisse criar um impacto positivo ao nível do processo de competição (em termos do planeamento e operacionalização do mesmo (durante um período do jogo que pode influenciar o resultado final), visando a importância da área da observação e análise de jogo neste momento) e que, em simultâneo, promovesse o trabalho desenvolvido enquanto estagiário do clube (analista estagiário de uma equipa de futebol de formação de um clube de elite nacional/internacional). Em termos estruturais, o presente estudo encontrase dividido da seguinte forma: revisão da literatura (onde serão apresentadas referências bibliográficas de enquadramento/suporte), objetivos (onde, tal como o nome indica, serão apresentados com maior profundidade os objetivos associados ao estudo), metodologia (onde serão apresentadas as várias etapas que constituíram a elaboração teórico-prática (científica) do estudo), e considerações e reflexões finais (onde serão apresentadas de forma suscita as conclusões retiradas durante e após a definição do documento). Com este estudo, para além de o aluno colocar em prática os conhecimentos que adquiridos em sala de aula (mestrado) e as competências adquiridas durante o processo de estágio, também procurou explorar uma temática que visa-se/potencia-se a “profissionalização”, desenvolvimento e promoção da função do analista de futebol.
Dicionário de termos técnicos: o
Clip de vídeo: porção/segmento de um vídeo (corte);
o
Playlist: conjunto de clips de vídeo;
o
Dashboard: sistema de observação incorporado no software de captura/codificação.
Notas iniciais: Ao longo do trabalho a escrita será redigida na 1ª pessoa do plural, uma vez que a mesma fará
o
referência ao autor do estudo, assim como ao orientador académico (professor doutor Nuno Loureiro); Foram omitidos nomes e outros dados/informações consideradas pessoais ou relevantes
o
institucionalmente, com o intuito de garantir a confidencialidade e respeito pelas partes envolvidas.
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5. ANÁLISE DA PERFORMANCE DA PRÓPRIA EQUIPA, PROPOSTA DE METODOLOGIA PARA INTERVENÇÃO AO INTERVALO Centro de estudos da Fundação do Futebol e da Liga Portugal - Prémio Fundação do Futebol - Concurso 2018/2019
2. Revisão da literatura 2.1. O jogo de futebol Atualmente o futebol apresenta-se inequivocamente como o jogo desportivo coletivo mais mediático e entusiástico a nível mundial. A sua identidade e natureza intrinsecamente atrativa, envolve direta e indiretamente milhões de pessoas (Almeida, 2014). Isto torna-o num elemento expressivo a nível cultural e com impacto na sociedade, manifestando-se nas mais diversas vertentes e domínios que esta comporta (Almeida, 2014). Segundo Castelo (2009) “o jogo de Futebol tem uma história, um presente e um futuro, tem um discurso hipotético/dedutivo que o deve organizar sob o domínio de dois vectores: o tempo e o espaço, de acordo com os conhecimentos adquiridos e da sociedade em que está inserido.”. Este autor considera ainda o jogo de futebol se encontra dividido em seis subsistemas: o cultural (finalidade, intenção, objetivo e leis de jogo), o estrutural (racionalização do espaço de jogo e das missões táticas dos jogadores), o metodológico (métodos de jogo ofensivo e defensivo), o relacional (princípios de jogo ofensivo e defensivo), o táticoestratégico (ações individuais e coletivas ofensivas e defensivas) e o estratégico-tático (planificação conceptual, estratégica e tática). Para Castelo & Matos (2009) o futebol é um jogo coletivo onde os atletas se agrupam em duas equipas, que se opõem uma à outra. Ambas lutam pela posse da bola, respeitando as regras do jogo, com o objetivo de obter o maior número de golos possível na baliza adversária, impedindo que o mesmo aconteça na sua baliza, procurando assim obter a vitória. Por outras palavras, “o jogo desenvolve-se em situações de natureza problemática e contextual, em que o desempenho motor dos jogadores, está estritamente relacionado com a capacidade destes responderem de forma eficaz às constantes modificações situacionais, que se desenvolvem à sua volta.” (Castelo & Matos, 2009).
2.2. O que é a observação e análise de jogo? O futebol há muito tempo que deixou de ser apenas um jogo (Silva, Castelo & Santos, 2011). Por isso mesmo, atualmente esta modalidade apresenta o estatuto de atividade profissional altamente remunerada, com crescente interesse comercial, político e social (Silva, Castelo & Santos, 2011). Estes fatores levam a que a obtenção de sucesso seja imprescindível (Silva, Castelo & Santos, 2011). A necessidade de se jogar ao mais alto nível requer que as equipas técnicas e clubes se dotem dos melhores meios existentes para esse efeito (Carling, 2001). Um dos focos passa pela obtenção de informação objetiva e precisa sobre as performances dos atletas em competição (García, 2000), isto com a utilização dos mais diversos auxiliares de memória, que vão desde o papel e caneta até aos mais sofisticados softwares (Silva, Castelo & Santos, 2011). Por outras palavras, a observação e análise do jogo de futebol é uma etapa fundamental no processo preparação (treino - competição), à semelhança de outros jogos desportivos coletivos (Moutinho, 1991). Mas porquê? O futebol apresenta como caraterística distintiva uma realidade complexa, onde o comportamento individual e coletivo da equipa necessitam de uma constante interpretação e análise (Clemente, Couceiro, Martins, Figueiredo & Mendes, 2014). Dito isto, a associação entre a observação e análise de jogo e o futebol justifica-se pela importância e necessidade de se compreenderem os padrões comportamentais relativos à modalidade, assim como apetrechar os diferentes níveis de planeamento com informação, que vise o aumento do rendimento individual e coletivo da equipa (Hughes Análise da performance da própria equipa, proposta de metodologia para intervenção ao intervalo - João Pascoal Página | 6
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& Franks, 2005). Alguns autores diferenciam a análise do jogo de futebol em duas parcelas distintas: a análise da equipa adversária e a análise de jogo da própria equipa (Silva, Castelo & Santos, 2011). A função dentro da equipa técnica correspondente à análise de jogo é o analista/observador/scouter (Wright, Atkins, Jones & Todd, 2013). Em termos específicos do futebol, têm-se vindo a analisar diferentes aspetos do jogo, tais como: a transição defesa-ataque/forma de recuperação da bola (Barreira, Garganta, Guimarães, Machado & Anguera, 2014; Malta & Travassos, 2014; Santos, Moraes & Costa, 2015), a organização ofensiva (Castelão, Garganta, Afonso & Costa, 2015) e os pontapés de canto (Ardá, Maneiro, Rial, Lousada & Casal, 2014).
2.2.1. O que é um analista de futebol? O analista de futebol é um profissional responsável pela análise da própria equipa e das equipas adversárias (Pedreño, 2014). Para Sánchez (2015) o analista de futebol é o responsável pela dissociação entre os conceitos “ver” (“dirigir a vista/olhar para um determinado objeto”) e “observar e analisar” (“examinar algo com atenção e propósito”). O mesmo autor reforça ainda que, os analistas vivem, estudam e analisam o jogo de futebol como nenhum outro profissional na área, daí a área da observação e análise ser o seu domínio. Soares (2017) acrescenta que o analista também é responsável pela análise do ponto de vista individual (performance dos atletas).
2.2.2. Qual é a sua importância e que funções deve desempenhar? O trabalho do analista de futebol é fundamental para qualquer equipa técnica, tanto em jogo como em treino (Ventura, 2013). Porquê? Soares (2017) defende que durante um jogo existem inúmeros aspetos contextuais, que podem influenciar e limitar a capacidade de observação, análise e recuperação de momentos chave por parte de um treinador. Soares (2017) afirma que um treinador apenas é capaz de reter entre 30% a 50% dos acontecimentos “chave” de um jogo. Além disso, Pedreño (2014) concluiu que a capacidade de observação e análise dos treinadores é limitada pelo campo visual restringido, pelo posicionamento desfavorável (visão do jogo), pela limitação da memória humana, pelo efeito das emoções e pela parcialidade (efeito Halo). Por outras palavras, o analista é responsável por dar soluções eficientes às fragilidades anteriormente mencionadas. Para Mendes (2016), a importância do trabalho do analista de futebol remete-se para o sentido, que o mesmo atribui ao ciclo de treino-competição. Isto é, a função que o mesmo desempenha dentro do grupo de trabalho/equipa técnica é decisivo no que diz respeito à seleção de conteúdos/informações a desenvolver e a replicar no processo de treino e de competição, tal como a figura/esquema seguinte ilustra (adaptado em relação ao original).
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Figura 1 - Processos inerentes ao Futebol (Mendes, 2016)
Em suma, o analista de futebol permite: interpretar a organização e as ações que concorrem para a qualidade do jogo, planificar e organizar o treino (tornar os conteúdos mais específicos), estabelecer planos táticos adequados ao próximo adversário e regular a aprendizagem e o treino (Garganta, 1997 citado por Soares, 2017).
2.2.3. Que competências deve apresentar? Para Pedreño (2014) o analista de futebol tem de ter capacidade de leitura e análise do jogo, capacidade para utilizar meios tecnológicos (diferentes tipos de ferramentas hardware e software), capacidade comunicativa (conseguir decompor conteúdos/informações complexas em conteúdos/informações apreensíveis para o público alvo) e ter um conhecimento profundo daquilo que o treinador/equipa técnica/organização desportiva pretendem (o seu trabalho tem de ser desenvolvido através de uma metodologia definida pela organização), assim como do modelo de jogo em vigor. Sánchez (2015) acrescenta que o analista de futebol deve ter formação específica de treinador da modalidade, com o intuito de compreender o jogo e o seu funcionamento nas diversas dimensões. Mais recentemente, Gama, Dias, Couceiro & Vaz (2017) definiram que o analista de futebol tem de ser capaz de caraterizar o jogo, assim como a sua constante evolução (tendências evolutivas do jogo). Para além disso, deve ser capaz de compreender as dimensões da análise do jogo e a evolução das técnicas de análise (novos paradigmas, sendo para isso fundamental uma formação contínua específica).
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3. Objetivo(s) Um dos aspetos mais importantes de qualquer estudo ou projeto é a definição de objetivos, ou seja, o que se pretende atingir com a sua aplicação. Como já foi referido anteriormente, duas das principais motivações que levaram à criação, desenvolvimento e aplicação deste estudo foram o fato de se pretender implementar uma metodologia, junto da equipa em causa, que permitisse criar um impacto positivo ao nível do processo de competição (em termos do planeamento e operacionalização do mesmo (durante um período do jogo que pode influenciar o resultado final), visando a importância da área da observação e análise de jogo neste momento) e que, em simultâneo, promovesse o trabalho desenvolvido enquanto estagiário do clube (promoção junto dos departamentos envolvidos). Dito isto, tornou-se crucial definir um conjunto de objetivos que contribuíssem diretamente para a realização de ambas as premissas. Com base nestas ideias foram definidos os seguintes objetivos: Criação, desenvolvimento e aplicação de uma metodologia que permitisse a realização de uma
o
apresentação qualitativa da performance da própria equipa durante o intervalo (ferramenta/tarefa complementar/útil ao plano de jogo); Otimização do feedback transmitido durante o intervalo (maior transfere da mensagem entre o
o
treinador(es) ↔ atleta(s): qualitativa e/ou estratégica); Preparação da equipa técnica e dos atletas para um possível cenário a vivenciar no futebol
o
profissional (inovação no contexto/escalão: impacto positivo); Introdução/Desenvolvimento/Consolidação de competências inerentes à área da observação e
o
análise de jogo (momento formativo e de reflexão dos próprios utilizadores e elementos dos departamentos envolvidos); Promoção do trabalho criado e desenvolvido pelo departamento de observação e análise de jogo
o
(junto dos diversos departamentos do clube, assim como do restante meio desportivo e científico).
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4. Metodologia No tópico seguinte iremos apresentar as diversas etapas que realizámos para concretizar o estudo propriamente dito. Por outras palavras, com base da revisão da literatura efetuada e nos objetivos definidos, procurámos idealizar, aplicar e refletir sobre uma metodologia de cariz teórico-prático, que cumprisse com todos os procedimentos concorrentes para a sua validez científica.
4.1. Caraterização da amostra Para a amostra do estudo utilizámos o contexto específico de estágio, ou seja, a equipa do escalão de sub-16 do clube em causa na época desportiva de 2017/2018. A escolha da mesma baseou-se em dois aspetos: conveniência, uma vez que era o escalão ao qual o estágio estava alocado, e abertura com que a administração/direção, o departamento de observação e análise de jogo e a equipa técnica (treinador principal) receberam a ideia e a proposta de estudo. Neste momento iremos apresentar e caraterizar o treinador principal de todo o processo, assim como os jogos que foram alvo da metodologia do estudo. Face ao exposto, de seguida iremos apresentar os dados caraterizantes da amostra: Treinador principal: o
41 Anos de idade;
o
Nacionalidade portuguesa;
o
Licenciado em Educação Física e Desporto pela Universidade Lusófona de Lisboa;
o
Treinador em atividade desde a época 1999/2000;
o
Experiência profissional: o
Contexto 1 (7 épocas): sub-17 (juvenis A);
o
Contexto 2 (12 épocas): sub-14, sub-15 (treinador principal e coordenador), sub-16 e sub19 (treinador adjunto);
o
6 Épocas de experiência no escalão (sub-16) do clube em causa;
o
Treinador a concluir o grau III da UEFA.
Com base nas informações recolhidas salientámos o seguinte: o
Treinador com vários anos de experiência no clube (12) e no escalão em causa (6), sendo um fator aliciante para a aplicação do estudo. Isto é, o fato de o mesmo já ter vivenciado um leque considerável de experiências, fez com que o desafio inerente à aplicação e resultado do estudo aumenta-se (o contexto e a experiência do treinador potenciaram diversos cenários técnicos ao mesmo, aumentando assim, de uma forma positiva e saudável, o grau de dificuldade de cumprimento dos objetivos definidos).
Para terminar, iremos apresentar os 8 jogos nos quais aplicámos o estudo em causa (de forma a completar a amostra do mesmo), fazendo referência aos seguintes aspetos: tipo de jogo (oficial ou particular), data (mês/ano: foi ocultado o dia com o intuito de manter a confidencialidade do processo), equipa visitada e visitante (a equipa alvo do estudo foi denominada por “equipa A” e as restantes equipas por “equipa 1”, “equipa 2” e assim sucessivamente) e estudo (forma de aplicação do mesmo utilizada durante o jogo).
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Nota: apenas iremos apresentar os jogos onde foi realizada a aplicação do estudo. Todas as informações complementares sobre a mesma serão apresentadas nos tópicos seguintes. Tabela 1 - Aplicações práticas do estudo (jogos)
4.2. Recursos necessários Devido ao cariz do estudo tornou-se essencial ter em consideração os equipamentos/materiais de suporte (hardware e software), assim como os recursos humanos necessários. De seguida, iremos apresentar, por pontos, todos os recursos utilizados/necessários, sendo cada um acompanhado por uma justificação em termos de utilização (principal utilidade e motivo(s) da seleção dos recursos): 1 Computador portátil: “HP - Omen”:
o
o
Utilidade: equipamento necessário para o suporte físico/informático de todas as operações: codificação, edição e exportação de playlists/clips de vídeo, apresentação no balneário;
o
Motivo(s): equipamento com especificações (sistema operativo, memória RAM e processador) ideais para o estudo: propriedade do autor;
Software para captura/codificação da filmagem: “LongoMatch”:
o
o
Utilidade: software que permite a realização de uma captura ao vivo, codificação da filmagem, edição e exportação de playlists específicas;
o
Motivo(s): software que dá resposta às necessidades do estudo (captura ao vivo, codificação da filmagem, edição e exportação de playlists específicas): disponibilizado pelo clube;
1 Dispositivo de captura de imagem/som (câmara): “Sony - Handycam HDR CX24OE”:
o
o
Utilidade: equipamento necessário para a captura/filmagem do jogo;
o
Motivo(s): equipamento com especificações (qualidade da imagem e entradas/saídas de dados/sinal compatíveis com os restantes dispositivos) ideais para o estudo: disponibilizado pelo clube;
1 Tripé para fixação/suporte da câmara: “Vitem Pro”:
o
o
Utilidade: equipamento necessário para a estabilização da câmara durante a filmagem;
o
Motivo(s): equipamento com especificações (capacidade de estabilização e suporte de cabos) ideais para o estudo: disponibilizado pelo clube;
Análise da performance da própria equipa, proposta de metodologia para intervenção ao intervalo - João Pascoal Página | 11
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o
1 Placa de captura: “Blackmagic Intensity Shuttle USB 3.0”: o
Utilidade: equipamento necessário para a transformação do sinal da câmara e consequente leitura por parte do software de captura/codificação;
o
Motivo(s): hardware listado como compatível com o software de captura/codificação escolhido: adquirido pelo autor;
o
3 Cabos para as diferentes ligações: 1 “Hama: high speed micro HDMI”: 2 metros (câmara ↔ placa de captura), 1 “Blackmagic Intensity Shuttle USB 3.0: default cable” (placa de captura ↔ computador portátil), e 1 “Hama: high speed HDMI”: 3 metros (computador portátil ↔ monitor): o
Utilidade: equipamentos necessários para as diferentes ligações entre os hardwares em causa (transmissão dos dados/sinal entre os diferentes “macro” equipamentos);
o
Motivo(s): equipamentos com especificações (durabilidade/resistência e comprimento dos cabos) ideais para o estudo (não perturba o manuseamento dos restantes equipamentos, nem compromete a segurança dos utilizadores): equipamentos adquiridos pelo autor;
o
Software de registo: “Office: Word”: o
Utilidade: software que permite a realização de anotações em simultâneo com o software
o
Motivo(s): software selecionado após a primeira aplicação da metodologia completa (dá
de captura/codificação (informação presente na playlist/clip de vídeo, por exemplo); resposta a uma necessidade encontrada no momento): disponibilizado pelo clube; o
1 Par de walkie-talkies: “Motorola: TLKR T41”: o
Utilidade: equipamento necessário para a realização da comunicação entre os analistas e o banco de suplentes;
o
Motivo(s): equipamento que dá resposta às necessidades do estudo (alcance do sinal e manuseamento de baixa complexidade para os utilizadores): adquirido pelo autor;
o
1 Monitor: “HP - 24’’ Monitor”: o
Utilidade: equipamento necessário para o suporte físico/visual da apresentação no balneário;
o
Motivo(s): equipamento com especificações (tamanho do ecrã (que permita a visualização da apresentação por parte de todos os presentes) e entradas/saídas de dados/sinal compatíveis com os restantes dispositivos) ideais para o estudo: adquirido pelo autor;
o
1 Mochila e 2 malas: 1 mochila “Sport Zone”, 1 mala “Staples” e 1 mala “Paco Martinez”: o
Utilidade: equipamento necessário para o transporte de todo o material: mochila (câmara, placa de captura, cabos e walkie-talkies), mala 1 (computador portátil) e mala 2 (monitor);
o
Motivo(s): equipamento com especificações (capacidade de armazenamento e acondicionamento em segurança do material) ideais para o estudo: adquirido/propriedade do autor;
o
1 Extensão elétrica: “Intertek”: 25 metros: o
Utilidade: equipamento necessário para o fornecimento de energia elétrica ao monitor durante a apresentação (eventualmente ao computador portátil);
o
Motivo(s): equipamento com especificações (alcance/raio do cabo/ficha e número de tomadas: 4) ideais para o estudo: adquirido pelo autor;
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De seguida, iremos apresentar os equipamentos/materiais que ponderámos utilizar, assim como o(s) motivo(s) pelo(s) qual(ais) não os selecionámos para a aplicação do estudo: 1 Bloco de notas e 1 caneta: marca/modelo indiferente: para registo notacional (realização de
o
anotações em simultâneo com o software de captura/codificação): o
Motivo(s): maior tempo despendido para o registo (notacional > suporte informático) através desta solução, fazendo com que o analista perca tempo de ação sobre o software de captura/codificação (solução encontrada mais viável: “Office: Word”: podendo ambos ser operacionalizados na mesma tela (software de captura/codificação e de registo));
1 Projetor: marca/modelo por definir: equipamento necessário para o suporte físico/visual da
o
apresentação no balneário: o
Motivo(s): adversidades criadas pelo projetor em relação ao monitor (necessidade de controlo da luminosidade do balneário (na condição de visitado teríamos de cobrir as janelas do balneário, por exemplo), condições da parede alvo da projeção (dimensões, cor, rugosidade e presença de objetos irremovíveis): necessidade de colocar uma tela ou, por exemplo, um lençol branco), espaço necessário (ocupação da zona central do balneário, existindo uma maior dificuldade para o analista responsável pelo controlo do computador portátil de ocupar um ângulo morto (dificuldade não verificada com a utilização do monitor) e rácio de qualidade/preço/manutenção em relação ao monitor). Por outro lado, verificámos vantagens na, possível, utilização do projetor como por exemplo: facilidade de armazenamento/transporte;
2 Telemóveis: marca/modelo dos utilizadores em causa: equipamento necessário para a
o
realização da comunicação entre os analistas e o banco de suplentes: o
Motivo(s): adversidades criadas pelos telemóveis em relação aos walkie-talkies (consumo de bateria, dados móveis (ou até de uma rede wi-fi, não existente na maioria dos campos) e/ou de saldo considerável (consoante as caraterísticas (tarifários) e/ou estado dos equipamentos, podendo nem ser uma adversidade em causa) e conveniência da sua utilização (maior facilidade de utilização (equipamento de finalidade única, uma vez que não tem interferência de outras aplicações) e armazenamento/repouso/segurança dos walkie-talkies). Por outro lado, verificámos vantagens na, possível, utilização dos telemóveis como por exemplo: privacidade na comunicação (canal privado (rede) e com recurso a auriculares (o modelo de walkie-talkies utilizado não o permitiu: consultar tópico das recomendações)).
Para terminar, iremos fazer referência aos recursos humanos necessários para a aplicação do estudo (recolha + apresentação), nomeadamente a quantidade e caraterísticas dos mesmos: Elementos da equipa técnica com funções/competências de observação e análise de jogo (analista
o
de jogo e/ou treinador adjunto), principalmente durante a competição da própria equipa; Elementos com um conhecimento profundo do modelo de jogo da equipa, assim como da
o
estratégia do jogo em causa (domínio dos conteúdos específicos, nomeadamente da visão do treinador e daquilo que o mesmo pretende para o momento); No mínimo 2 analistas a operacionalizarem diretamente a metodologia (analista 1 responsável
o
pela filmagem da 1ª parte + analista 2 responsável pela captura, codificação, seleção (em Análise da performance da própria equipa, proposta de metodologia para intervenção ao intervalo - João Pascoal Página | 13
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conformidade com o banco de suplentes), edição, exportação de playlists/clips de vídeo, comunicação com o banco de suplentes e manuseamento informático da apresentação), sendo que o número ideal seriam 3 analistas, de forma a evitar uma sobrecarga de tarefas ao analista 2 (analista 3 responsável pela seleção de clips de vídeo (observação e análise do jogo “in loco”) e pela comunicação com o banco de suplentes), ficando o analista 2 com maior foco sobre o manuseamento do software de captura/codificação da filmagem, e da apresentação). Dito isto, os recursos humanos definidos (que se enquadravam no perfil anteriormente mencionado) para a aplicação do estudo foram: a dupla de analistas estagiários (analista estagiário 1 com as funções do analista 1, e autor do estudo (analista estagiário 2) com as funções do analista 2) e um dos treinadores adjuntos com as funções do analista 3 (treinador adjunto que tinha as caraterísticas e a experiência necessárias para desempenhar a função: analista de jogo em épocas anteriores). Como este último tinha de desempenhar tarefas específicas no banco de suplentes durante os jogos, decidimos adaptar as tarefas dos analistas 2 e 3 para o seguinte: o
Analista 2: responsável pela captura, codificação, edição, exportação de playlists/clips de vídeo e comunicação com o banco de suplentes;
o
Treinador adjunto (analista 3): responsável por auxiliar o analista 2 na observação e análise do jogo “in loco” e na seleção dos clips de vídeo (as ações de jogo a utilizar na apresentação).
4.3. Procedimentos utilizados Com base na pesquisa/revisão da literatura realizada e nos objetivos idealizados, procurámos desenvolver uma metodologia que fosse de encontro a ambos. Através do nosso conhecimento empírico foi possível constatar que existem contextos a nível nacional que aplicam metodologias semelhantes nos seus processos de equipa (competição). A partir desse conhecimento procurámos adaptar e conceptualizar aquilo que, do nosso ponto de vista, seria a construção, desenvolvimento e aplicação ideal do estudo. No entanto, a pesquisa/revisão da literatura efetuada não nos presenteou com um estudo equiparado, pelo que todos os procedimentos aplicados foram realizados, também, com o intuito de tornar o mesmo cientificamente válido. De seguida, iremos apresentar, por pontos, os procedimentos que adotámos com o objetivo de desenvolver a metodologia idealizada, assim como as informações relevantes associadas a cada um. De salientar que neste momento iremos apresentar, tal como o nome indica, os procedimentos utlizados durante o estudo, sendo que quaisquer alterações ou recomendações serão descritas nos tópicos específicos para o efeito. o
Idealização da metodologia (desenho experimental): nesta fase procurámos contruir um plano conceptual daquilo que seria a metodologia matriz do estudo, nomeadamente os procedimentos que iriamos adotar para sustentar a mesma (pontos descritos seguidamente), assim como a sua aplicação propriamente dita no terreno (enquadrando-a no plano de jogo). Para esta última decidimos dividi-la em dois momentos sequenciais: o
Recolha: composta pelas tarefas de filmagem e captura da 1ª parte, codificação das ações de jogo (com base na dashboard utilizada pelos analistas até então, dividida em 9 botões distintos: #1 (organização e transição ofensiva), #2 (organização e transição defensiva), #3 (esquemas táticos: livres e cantos ofensivos, e livres e cantos defensivos), #4 (lances
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padrão ofensivos), #5 (lances padrão defensivos), #6 (golos), #7 (faltas), #8 (cruzamentos) e #9 (remates)), comunicação com o banco de suplentes (analistas ↔ treinador adjunto), criação, edição e exportação de duas playlists (ofensiva e defensiva); o
Apresentação: composta pelas tarefas de apresentação e discussão das playlists finais no balneário durante o período do intervalo (treinador principal ↔ atletas);
Apresentação do estudo à entidade acolhedora: nesta fase procurámos apresentar o estudo (sob
o
a forma de desenho experimental) e obter autorização junto da entidade acolhedora (administração/direção, departamento de observação e análise de jogo e equipa técnica); Revisão da literatura: nesta fase realizámos uma pesquisa/revisão daquilo que seria o suporte
o
teórico do estudo, ou seja, tendo por base um conjunto de trabalhos considerados como clássicos e/ou como recentes na área do futebol, nomeadamente na área da observação e análise (livros, artigos e notícias), procurámos adquirir/desenvolver/consolidar conhecimentos que nos pudessem garantir a solidificação cientifica do estudo (consultar tópico específico); Criação e desenvolvimento de um diário do estudo: nesta fase procurámos criar e desenvolver
o
(progressivamente) um documento que compila-se todas as fases (etapas) e consequentes reflexões do estudo. Isto é, para uma melhor organização e registo dos diferentes eventos do estudo (para consulta/revisão posterior), procurámos descrever todas as fases (criação, validação e aplicação das entrevistas, recolhas e apresentações), assim como as reflexões efetuadas nos diferentes momentos; Seleção dos recursos necessários: nesta fase procurámos verificar quais eram os recursos
o
adequados para a aplicação do estudo, ou seja, quais eram os recursos, materiais/equipamentos e humanos, que davam resposta às necessidades do estudo. Para isso, elaborámos a lista presente no tópico anterior com o objetivo de esquematizar o processo (utilidade e motivo(s) de seleção: onde averiguamos igualmente a disponibilidade do recurso no imediato ou se existia a necessidade de o adquirir); Criação, validação e aplicação de uma entrevista ao treinador principal (pré-estudo): nesta fase
o
procurámos criar uma primeira entrevista que visa-se a recolha de informações complementares ao estudo, tendo por base a visão do treinador principal da amostra. Por outras palavras, pretendíamos aplicar uma entrevista pré-estudo ao treinador principal com o objetivo de recolher informações que nos permitissem refletir e adaptar a metodologia numa fase conceptual (conhecimento teórico-prático de metodologias semelhantes, procedimentos ideais, como poderia o estudo contribuir para uma intervenção mais eficaz, vantagens, limitações). Para isso, com base nas ideias anteriores, desenvolvemos uma primeira entrevista com 7 questões (anexo 7.1.), submetendo-a à apreciação de 3 especialistas na área do desporto (doutorados e com, pelo menos, 10 anos de experiência na área do treino desportivo). Após realizarmos uma breve apresentação do estudo aos mesmos, de forma a contextualizar a sua intervenção, procedemos à validação da entrevista pré-estudo (após recolha, análise e aplicação das alterações propostas). Terminado este procedimento, obtivemos a entrevista pré-estudo final, composta por 4 questões (anexo 7.2.). De seguida, passámos à aplicação da entrevista num ambiente controlado (sala), que coloca-se o treinador numa posição de conforto (que não cria-se qualquer tipo de interferência). Aplicação essa realizada em março de 2018. Por sua vez, a entrevista ao mesmo foi gravada através de um software de captura de som (predefinido no computador portátil) com o Análise da performance da própria equipa, proposta de metodologia para intervenção ao intervalo - João Pascoal Página | 15
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intuito de registar na integra o momento. Posteriormente, a entrevista em formato áudio foi transcrita para protocolo escrito, onde o seu conteúdo foi analisado, refletido e consequente replicado no desenho experimental idealizado (adaptação de procedimentos). Tal como já temos vindo a referenciar, por uma questão de confidencialidade e proteção de dados não iremos apresentar o protocolo escrito da entrevista pré-estudo. No entanto, seguidamente iremos apresentar os resultados obtidos da análise da entrevista préestudo: o
Oportunidade para mostrar aos atletas ações de jogo a manter (a potenciar) ou a melhorar: uma imagem pode criar um maior impacto ao nível do feedback;
o
A observação tem de ser realizada por alguém que domina o modelo de jogo da equipa, a estratégia para o jogo, assim como o trabalho realizado diariamente;
o
Síntese e clareza da informação apresentada (entre 2 e 4 clips de vídeo no máximo);
o
Recursos adequados: materiais, humanos (no mínimo duas pessoas), condições no balneário (fora do contexto do clube, por norma não existem condições ideais);
o
Necessidade de treinar a aplicação da metodologia, de forma a que mesma seja automatizada (para que seja aplicada em jogos oficiais na integra);
o
No contexto do escalão a aplicação de uma metodologia semelhante não é uma prioridade;
o
Aplicação prática do estudo (metodologia): nesta fase, após reunidas todas as condições, foi possível dar início à aplicação prática do estudo. Um dos pedidos da equipa técnica foi que a metodologia fosse, numa fase inicial/de adaptação/teste, apenas aplicada em jogos particulares, uma vez que aí a margem de manobra/erro poderia ser maior (influencia do público presente, tipo e forma de comunicação com o banco de suplentes (treinador principal e/ou adjunto a poderem posicionar-se na zona da filmagem/captura) e tempo despendido durante o intervalo para a apresentação). Desta forma, e para rentabilizar o tempo restante da época desportiva, decidimos aplicar a metodologia da seguinte forma: o
Jogos oficiais: aplicação apenas da metodologia de recolha (filmagem, captura e codificação) sem edição e exportação de clips, e comunicação com o banco de suplentes (durante o jogo na totalidade): “recolha adaptada”, ou seja, não existindo interferência com o trabalho dos restantes elementos da equipa técnica (objetivo(s): adaptação e criar hábitos de trabalho relacionados com as tarefas de cada um dos analistas (1 e 2) durante o momento da recolha (manuseamento da placa de captura e do software especifico) e reflexão sobre o processo (potencialidades, aspetos a melhorar, limitações));
o
Jogos particulares: aplicação da metodologia na integra (recolha + apresentação): consultar desenho experimental.
De seguida, iremos apresentar todas as aplicações efetuadas durante o estudo, fazendo referência ao jogo em causa, aos objetivos da aplicação, ao tipo de aplicação, ao resultado obtido, assim como aos comentários e/ou reflexões que surgiram das mesmas. Apresentaremos o feedback transmitido pelo treinador principal e restante equipa técnica (antes e após a aplicação da metodologia), sempre que se justifique.
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Nota: devido ao momento (tardio) da época em que iniciámos a aplicação do estudo propriamente dito (devido ao tempo despendido para o cumprimento de todos os procedimentos necessários para a sua construção e validação) não nos foi possível aplicar o mesmo em todos os jogos que restavam, salientando-se os seguintes motivos (de forma individual ou em simultâneo): o
Condições existentes nos jogos (condições climatéricas adversas, condições do local de filmagem/captura e do balneário, ou recursos materiais/humanos indisponíveis);
o
Número reduzido de jogos particulares (devido ao momento da época: fase decisiva do período competitivo e próxima do período transitório, fazendo com que a metodologia não fica-se automatizada/pronta para aplicar em jogos oficiais).
1ª Aplicação - Jogo 1 (oficial) equipa 1 x equipa A (03/2018): o
Objetivo(s): teste e adaptação (1º contato) à nova metodologia de recolha durante um jogo, e teste de confrontação com as condições exigidas (posicionamento do equipamento/espaço ao qual não estávamos habituados: condição de visitante);
o
Tipo de aplicação: recolha adaptada (sem edição e exportação de clips, e comunicação com o banco de suplentes);
o
Resultado: interrupção da recolha a meio da 2ª parte devido às condições climatéricas verificadas: chuva e vento forte (perda parcial da filmagem, e total da captura e da codificação);
o
Comentário(s)/Reflexão(ões): procurar recolher o máximo de informações possível sobre o local de filmagem à priori (aproveitar a recolha efetuada pelo departamento de observação e análise de jogo, para que exista um conhecimento daquilo que serão as condições para a filmagem/captura: poderá ser necessária uma recolha de mais informações de forma autónoma (consultar recomendações). Verificar se é possível e de que forma podemos interromper a captura (suspensão do computador portátil, por exemplo) sem comprometer ou perder a mesma. Foi possível utilizar a própria estrutura do tripé para estabilizar o cabo micro HDMI; Na próxima aplicação será necessário reduzirse a tela da dashboard, de forma a aumentar a tela da filmagem no software; A metodologia em causa foi/poderá ser um instrumento útil para a transmissão de feedback sobre a qualidade da filmagem do colega a desempenhar a tarefa (analista 1); A dashboard terá de ser modificada em termos dos botões necessários (eliminar aqueles que não são precisos e deixar apenas os estritamente necessários, aumentando consequentemente o tamanho dos mesmos (ficando visíveis com a redução da tela); Evitar a fixação num dos planos por parte do analista 2: plano ao vivo + plano de filmagem/captura (utilizar uma mistura dos dois planos, ou seja, utilizar apenas o plano da filmagem/captura durante lances específicos, como por exemplo, esquemas táticos, ou lances mais afastados do local base).
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2ª Aplicação - Jogo 2 (oficial) equipa A x equipa 2 (03/2018): o
Objetivo(s): teste e adaptação (2º contato) à nova metodologia de recolha durante um jogo, e teste de confrontação com as condições exigidas (posicionamento do equipamento/espaço ao qual estávamos habituados: condição de visitado, onde iremos aplicar a metodologia mais vezes);
o
Tipo de aplicação: recolha adaptada (sem edição e exportação de clips, e comunicação
o
Resultado: conclusão da recolha com sucesso (filmagem, captura e codificação);
o
Comentário(s)/Reflexão(ões): permitiu rever lances específicos imediatamente após estes
com o banco de suplentes);
acontecerem (golos marcados/sofridos, foras-de-jogo); Permitiu uma disponibilização imediata da filmagem completa no computador portátil utilizado durante a captura; Foram encontradas condições ideais para se aplicar a metodologia de recolha. 3ª Aplicação - Jogo 3 (particular) equipa A x equipa 3 (03/2018): o
Objetivo(s): teste e adaptação (1º contato com a metodologia completa: recolha + apresentação) à nova metodologia de recolha e apresentação durante um jogo;
o
Tipo de aplicação: recolha + apresentação;
o
Resultado: conclusão da recolha (filmagem, captura, comunicação, edição e exportação de playlists: por ser um jogo particular, durante a 2ª parte apenas realizámos a filmagem: consultar recomendações) e da apresentação ao intervalo com sucesso (não se verificaram quaisquer problemas associados ao equipamento, no entanto verificaram-se questões relacionadas com a metodologia de recolha e de apresentação: consultar pontos seguintes);
o
Feedback antes da aplicação: a informação/clips de vídeo devia ser selecionada por quem estava a codificar/observar e analisar o jogo do plano “de cima” (inclusive ser responsável por realizar a apresentação ao intervalo, por estar mais familiarizado com a informação recolhida, no entanto, por ser uma fase embrionária em termos da aplicação prática do estudo, a informação foi selecionada pela equipa técnica presente no banco de suplentes (treinador principal + treinador adjunto);
o
Feedback após a aplicação: criar uma lista que identifique o que se vai apresentar/ver em cada clip de vídeo (principalmente para facilitar a tarefa de quem vai apresentar): momento de jogo + aspeto a salientar (positivo ou a melhorar), procurando ordenar os clips pela ordem dos momentos de jogo e não por ordem cronológica;
o
Comentário(s)/Reflexão(ões): colocámos a mesa de suporte do monitor no local onde o treinador faz habitualmente as suas palestras/intervenções na condição de visitado (procurar aproximar/criar condições que coloquem o treinador e os atletas numa situação confortável para o momento ser o mais rentável/produtível possível: adaptação ao contexto). Apesar do local anterior ficar mais longe da tomada elétrica, verificou-se a utilidade/motivo pelo qual selecionámos uma extensão com 25 metros de cabo (passagem do cabo por baixo de um dos bancos, fazendo com que estivessem reunidas as condições de segurança para o momento, tanto para os envolvidos, como para o equipamento); Procurar adaptar o posicionamento do computador portátil e do elemento responsável pelo
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seu manuseamento (analista 2) às entradas/saídas dos cabos, e/ou ao ângulo morto do monitor (fazendo com que não se perda nenhum lugar útil a um atleta ou elemento da equipa técnica); Foram criadas duas playlists no software antes do início do jogo: sugestão dos analistas à equipa técnica (fase ofensiva e fase defensiva: a manter); Devemos verificar as condições de utilização dos walkie-talkies à priori (canal e volume, com o intuito de evitar perturbações na comunicação analistas ↔ banco de suplentes: nos jogos na condição de visitado devemos estar principalmente atentos às interferências com os canais de comunicação da equipa de segurança do local); Devemos ter em consideração o público presente (procurar criar condições que não comprometam a privacidade da comunicação: baixar o volume (do próprio utilizador e do instrumento) e síntese da informação transmitida); Existiu uma falha de comunicação daquilo que deveria ter sido a metodologia implementada (nem o analista 2, nem o treinador adjunto registaram as informações presentes nos clips: clarificar a metodologia entre todos os elementos envolvidos: consultar as recomendações). Como efeito desta situação, no momento em que íamos dar início à apresentação, ninguém sabia que informações estavam presentes nos clips, tendo a palestra de ser improvisada; Verificámos que a dashboard utilizada e a limitação informática do software colocaram em causa a especificidade necessária para os clips de vídeo a apresentar, isto é não foi possível cortar com precisão os clips requisitados pelo banco de suplentes (excesso de tempo, corte no momento errado, ou desorganização em termos dos momentos de jogo). Por isso, a solução encontrada, em concordância com a equipa técnica e a implementar na próxima aplicação, foi a de interromper a captura a 7 ou 5 minutos do final da 1ª parte, para que o analista 2, responsável pelos cortes, pudesse ter tempo para corrigir a duração e a organização dos clips (apenas possível com a captura interrompida no software: das poucas lacunas informáticas encontradas); Para dar resposta à questão específica, salientada pelo treinador, referente à lista da informação presente nos clips, considerámos duas soluções: efetuar uma gravação áudio (através do computador portátil) da informação existente num determinado clip (informação a ser revista no período de interrupção da captura), ou utilização de um software que permita a realização de anotações em simultâneo com o software de captura/codificação (opção selecionada: software apresentado na lista de recursos necessários); Ter em consideração a segurança do equipamento no local de filmagem/captura durante o período do intervalo (no caso de a dupla ou o trio de analistas descer até ao balneário): tarefa, cordialmente, cumprida pelo fisiologista estagiário; Apesar de não termos continuado a codificação na 2ª parte, devemos ter em consideração o procedimento restante para não comprometer a codificação que servirá de suporte para a elaboração do relatório qualitativo (no caso dos jogos oficiais): manter a metodologia de recolha (câmara + placa); Devia ter existido uma preocupação com o tempo de transição entre o balneário e o local de filmagem/captura).
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4ª Aplicação - Jogo 4 (particular) equipa A x equipa 4 (04/2018): o
Objetivo(s): teste e adaptação (2º contato com a metodologia completa: recolha + apresentação) à nova metodologia de recolha e apresentação durante um jogo;
o
Tipo de aplicação: recolha + apresentação;
o
Resultado: conclusão da recolha (filmagem, captura, comunicação, edição e exportação de playlists) e da apresentação ao intervalo com sucesso;
o
Comentário(s)/Reflexão(ões): revelámos capacidade para alterar de local e montar o equipamento em tempo útil, face a uma mudança de campo imprevista. Para evitar a repetição de problemas semelhantes considerámos as seguintes soluções: confirmação prévia (no dia anterior ou no próprio dia) do local do jogo, montagem do equipamento antes de todos entrarem no balneário, colocando o mesmo numa zona que não interfira com a atividade de ninguém (não colocando assim o equipamento em risco (possíveis derrubes), nem colocando ninguém em desconforto (sem espaço para equipar, por exemplo), ou montagem no período em que os atletas saem do balneário para o aquecimento e regressam para as últimas palavras, fazendo com que a interferência na sua atividade e na da restante equipa técnica seja mínima ou nula. Para a arrumação final do equipamento considerámos duas soluções (metodologia com apenas 2 analistas): caso os analistas mantenham as suas tarefas na 2ª parte, não existe necessidade de ajustar o posicionamento/altura do tripé, aumentando consequentemente o tempo disponível para a transição do balneário para o local de filmagem/captura após a apresentação: podendo esse tempo extra ser ocupado pela arrumação do equipamento presente no balneário, ou caso exista troca de tarefas na 2ª parte, não é realizada a arrumação após a apresentação, mas sim no final do jogo, imediatamente após o apito final: um fica responsável por arrumar todo o equipamento no local de filmagem/captura, e o outro por arrumar o equipamento no balneário; Devido a ser a primeira vez que implementávamos esta nova alteração, decidimos interromper a captura a 10 minutos do final da 1ª parte (aumentar o tempo em relação ao planeado), verificando-se ser o tempo ideal para preparar a apresentação; Antes da exportação dos clips de vídeo devemos ter em consideração a sua velocidade de reprodução (evitar criar constrangimentos na apresentação).
5ª Aplicação - Jogo 5 (oficial) equipa A x equipa 5 (04/2018): o
Objetivo(s): continuação da aplicação/adaptação à nova metodologia de recolha durante um jogo;
o
Tipo de aplicação: recolha adaptada (sem edição e exportação de clips, e comunicação com o banco de suplentes);
o
Resultado: conclusão da recolha com sucesso (filmagem, captura e codificação);
o
Comentário(s)/Reflexão(ões): permitiu dar início à discussão/debate sobre o relatório qualitativo (análise da própria equipa), assim como à revisão de lances específicos durante o
período
do
intervalo
(lances/situações
padrão
(ofensivas
e
defensivas)
e
abordagem/estratégia de jogo).
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6ª Aplicação - Jogo 6 (oficial) equipa A x equipa 6 (04/2018): o
Objetivo(s): continuação da aplicação/adaptação à nova metodologia de recolha durante um jogo;
o
Tipo de aplicação: recolha adaptada (sem edição e exportação de clips, e comunicação com o banco de suplentes);
o
Resultado: conclusão da captura e codificação com sucesso (interrupção/perda parcial da
o
Comentário(s)/Reflexão(ões): permitiu que a filmagem de jogo fosse salva devido à
filmagem de jogo); captura realizada pelo software e placa (verificaram-se problemas técnicos com a câmara durante o jogo, o que fez com que houvesse uma perda parcial da filmagem de jogo: assegurada pela captura do sinal da câmara: mais valia de existir uma captura em simultâneo com a filmagem). 7ª Aplicação - Jogo 7 (oficial) equipa 7 x equipa A (04/2018): o
Objetivo(s): continuação da aplicação/adaptação à nova metodologia de recolha durante um jogo;
o
Tipo de aplicação: recolha adaptada (sem edição e exportação de clips, e comunicação com o banco de suplentes);
o
Resultado: conclusão da filmagem com sucesso (perda total da captura e codificação do jogo);
o
Comentário(s)/Reflexão(ões): ao contrário da situação verificada na última aplicação, ocorreu um erro informático (bug) que levou à perda total da captura e codificação do jogo (risco associado à aplicação da metodologia em causa).
8ª Aplicação - Jogo 8 (oficial) equipa A x equipa 8 (05/2018): o
Objetivo(s): continuação da aplicação/adaptação à nova metodologia de recolha durante um jogo;
o
Tipo de aplicação: recolha adaptada (sem edição e exportação de clips, e comunicação com o banco de suplentes);
o
Resultado: conclusão da recolha com sucesso (filmagem, captura e codificação);
o
Comentário(s)/Reflexão(ões): permitiu dar início à revisão/discussão/debate sobre a abordagem estratégica: início da elaboração do relatório qualitativo (análise da própria equipa, tendo por base as alterações efetuadas estrategicamente: revisão de lances específicos durante o período do intervalo (lances/situações padrão (ofensivas e defensivas)).
Criação, validação e aplicação de uma entrevista ao treinador principal (pós-estudo): nesta fase
o
procurámos criar uma segunda e última entrevista que visa-se a recolha de informações complementares ao estudo, tendo por base a visão do treinador principal da amostra. Por outras palavras, pretendíamos aplicar uma entrevista pós-estudo ao treinador principal com o objetivo de recolher informações que nos permitissem refletir e adaptar a metodologia numa fase final (efeitos provocados, vantagens em relação à rotina pré-estudo, aspetos a melhorar e recomendações para futuras aplicações). Para isso, com base nas ideias anteriores, desenvolvemos uma primeira Análise da performance da própria equipa, proposta de metodologia para intervenção ao intervalo - João Pascoal Página | 21
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entrevista com 4 questões (anexo 7.3.), submetendo-a à apreciação dos mesmos 3 especialistas na área do desporto. Desta forma, procedemos à validação da entrevista pós-estudo (após recolha, análise e aplicação das alterações propostas). Terminado este procedimento, obtivemos a entrevista pós-estudo final, composta pelas mesmas 4 questões (não foram consideradas alterações em relação ao esboço inicial: anexo 7.4.). De seguida, passámos à aplicação da entrevista, novamente, num ambiente controlado (sala), que coloca-se o treinador numa posição de conforto. Aplicação essa realizada em junho de 2018. Por sua vez, foram cumpridos os mesmos procedimentos aplicados na entrevista anterior (gravação através de um software de captura de som, transcrição para protocolo escrito, análise e reflexão do seu conteúdo, e consequente replicação no desenho experimental próprio (adaptação de procedimentos), incorporado no protocolo final. Seguidamente iremos apresentar os resultados obtidos da análise da entrevista pós-estudo: o
Evolução positiva ao longo das aplicações realizadas;
o
Não foi suficientemente explorado e operacionalizado (reduzido número de aplicações: recolha + apresentação) para se obter uma relação de causa-efeito sobre o processo;
o
Ferramenta a ser utilizada e que provocou a necessidade de refletir sobre o processo em causa (aplicação, utilidade, adaptações, aspetos positivos e/ou a melhorar em relação ao planeamento e intervenção em termos do plano de jogo);
o
Aspetos a melhorar: definir com maior clareza o protocolo de aplicação (playlists/clips de vídeo, critérios de seleção, operacionalização, apresentação a ser realizada pelo treinador ou pelo analista que criou as playlists (questão de conhecimento do conteúdo das mesmas, uma vez que o treinador tem de estar preocupado com jogo em si));
o
Teste e aplicação (adaptação) desde o início da época desportiva (desenvolvimento do protocolo/metodologia ideal para o contexto: criar rotina).
o
Definição/Construção do protocolo final: nesta fase procurámos agrupar todas as aprendizagens e reflexões resultantes da aplicação da metodologia e construir um protocolo que seria o produto final do estudo (protocolo esse que será apresentado em tópico próprio). De salientar, que o protocolo teria como finalidade a aplicação na época seguinte (estudo teórico-prático de cariz continuo), de forma a desenvolver e a aperfeiçoar o mesmo (tendo sempre por base a sua especificidade em relação ao contexto).
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4.4. Desenho experimental Para uma melhor descrição/visualização e desenvolvimento da metodologia idealizada, tornou-se essencial contruir um desenho experimental. Desenho esse, que seria composto por um esquema da metodologia idealizada e que serviria de guia para as fases seguintes.
Figura 2 - Desenho experimental idealizado para o estudo
Foram efetuadas alterações em relação ao desenho anterior (ao longo das aplicações, fruto das reflexões/necessidades encontradas), pelo que as mesmas serão explicitas no protocolo final.
4.5. Limitações Como em qualquer estudo, foram identificadas limitações que se devem ter em consideração em futuras aplicações. Isto é, com o intuito de se realizar uma antecipação de problemas e de se programarem soluções que visem a sua superação, decidimos construir uma lista em conformidade. Dificuldade significativa para transportar todo o equipamento: quantidade de equipamento
o
considerável para transportar para cada aplicação da metodologia (principalmente quando o equipamento é propriedade de uma única pessoa e mesma se desloca através de transportes públicos). Solução: equacionar deixar parte (ou a totalidade) do equipamento na sala/gabinete do departamento no dia anterior ao do jogo/aplicação (na condição de visitado), ou utilizar carro próprio em dias de jogo (visitado/visitante); Condições dos locais de filmagem/captura e dos balneários: um dos fatores que contribuiu para o
o
sucesso das aplicações foram as condições dos locais de filmagem/captura e dos balneários (foram efetuadas recolhas em 3 locais de filmagem/captura diferentes (um dos quais nas condições de visitado), e apresentações em apenas um balneário (igualmente nas condições de visitado). Por outras palavras, o fato de o clube da equipa da amostra apresentar condições estruturais de excelente qualidade, o que possibilita/facilita consideravelmente a aplicação da metodologia, o mesmo não se verifica na maioria dos locais e balneários dos restantes clubes, pelo que consideramos essencial ter em mente esta condicionante. Solução: realizar uma pesquisa e consequente registo (para futuras aplicações no local) das condições existentes em Análise da performance da própria equipa, proposta de metodologia para intervenção ao intervalo - João Pascoal Página | 23
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cada clube, tendo em consideração os seguintes aspetos para os locais de filmagem/captura: clube, nome do campo, localidade, tipo de plano (alto, médio ou baixo), distância para o campo (longe, média ou perto), existência de cobertura, orientação do sol (à hora da aplicação: ter também em consideração se é no horário de verão ou inverno), obstáculos existentes, acesso, posicionamento/interferência do público e observações (existência e distância das tomadas elétricas, mesa para estabilizar o computador portátil e a placa de captura, condicionantes ao nível do local base e posicionamento do tripé (montar com antecedência para não perder o lugar, ajuste necessário a degraus, por exemplo) e se a aplicação da metodologia foi autorizada pelo clube em causa. Para os balneários, devemos ter em consideração o seguinte: clube, nome do campo, localidade, nº do balneário (podendo o mesmo variar entre jogos), distância para o campo (longe, médio ou perto: tempo necessário para as transições de espaços), espaço existente (para definição do timing de montagem e desmontagem do equipamento, espaço para o analista responsável pelo manuseamento do computador portátil se posicionar/sentar, espaço para o treinador principal, analista(s) e/ou restante equipa técnica intervir (em algumas situações o fisioterapeuta pode ter de intervir sobre um atleta que necessita de assistir à apresentação, sendo necessário espaço para o efeito), espaço para os atletas se posicionarem confortavelmente e conseguirem assistir à apresentação: sem terem de se estar a reajustar constantemente), condições da zona alvo da apresentação (mesa para estabilizar o monitor, obstáculos existentes (necessidade/possibilidade de os remover)) e observações (existência e distância das tomadas elétricas, luminosidade do local, eco criado pelo local); o
Limitações ao nível da filmagem resultante da captura (software para captura/codificação e placa utilizada): qualidade da imagem (dificulta a visualização do número dos atletas, o que poderá condicionar a utilização da filmagem para a elaboração de certos trabalhos: relatórios qualitativos e quantitativos, por exemplo) e ausência de som na filmagem produto da captura (o que poderá condicionar, igualmente, a utilização da mesma na elaboração de certos trabalhos: vídeos motivacionais, relatórios qualitativos das ações dos guarda-redes (verificar a comunicação), por exemplo). Solução: realizar sempre em simultâneo a filmagem do jogo com a câmara (ficheiro próprio), e o software de captura/codificação e a placa, uma vez que os mesmos permitem a criação de um ficheiro de filmagem, mesmo que a câmara não esteja a gravar (situação verificada durante o jogo 6);
o
Limitações e erros informáticos (bugs) dos softwares envolvidos: ao longo das aplicações verificámos limitações ao nível da operacionalização do software de captura/codificação da filmagem, assim como ao nível da sua programação. Isto é, em termos operacionais verificámos que o software não permite corrigir/editar a duração dos clips de vídeo durante a captura (algo que poderia ser realizado durante uma paragem de tempo: lesão, falta e demora na continuação do jogo), sendo este aspeto uma limitação do mesmo. Em termos da sua programação verificámos que o software pode interromper/cancelar a captura, existindo consequentemente uma perda total da codificação realizada. Solução: manter sempre o sistema operativo do computador portátil atualizado, assim como o software específico da placa de captura (não criou problemas durante o estudo) e o software de captura/codificação da filmagem (licenças em dia).
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Limitações temporais para a aplicação do estudo: devido ao início tardio da aplicação
o
propriamente dita da metodologia, não nos foi possível explorar a potencialidade total do estudo, assim como criar rotinas/hábitos sólidos em termos da sua aplicação. Solução: tal como foi sugerido na entrevista pós-estudo, o teste e aplicação da metodologia deve ocorrer desde o início da época desportiva com o objetivo de se criar uma adaptação e desenvolvimento do protocolo ideal para o contexto em causa (reflexão conjunta de todos os recursos humanos envolvidos).
4.6. Cronogramas De seguida, serão apresentados os cronogramas desenvolvidos durante o estudo, nomeadamente o cronograma idealizado e o cronograma aplicado. O cronograma idealizado (tabela 2) foi o cronograma desenvolvido na fase conceptual do estudo com o intuito de orientar todo o processo relacionado com o estudo. Tal como foi previsto, o cronograma em questão foi alvo de alterações, face a diversas questões que surgiram durante o período de execução do estudo (alteração/substituição de procedimentos inicialmente previstos, tempo despendido para o cumprimento dos mesmos, tais como: autorização do contexto e, principalmente, tempo necessário para adquirir a verba necessária para a compra dos equipamentos em falta: placa de captura, monitor, por exemplo). Tabela 2 - Cronograma idealizado para o estudo
Por sua vez, o cronograma aplicado (tabela 3) foi o cronograma desenvolvido ao longo do estudo, com o objetivo de registar todo o processo efetivamente aplicado (alterações estruturais e temporais em relação ao plano inicial). De seguida, apresentamos o cronograma que resultou da aplicação do estudo, sendo que o mesmo serviu de esquema (ilustração) e objeto de análise e reflexão sobre o processo. Isto é, com base na tabela 3 foi possível salientar: Tempo considerável despendido para a seleção dos recursos necessários (motivo(s) explícitos
o
anteriormente), e para a criação e validação da entrevista pré-estudo (no momento deveríamos ter definido assertivamente os objetivos e os especialistas alvo); Momento tardio da época desportiva em que foi iniciada a aplicação do estudo (consequência do
o
ponto anterior); Necessidade de separar e criar novos procedimentos para adaptar às necessidades e/ou
o
problemas verificados (“recolha adaptada”, por exemplo).
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Tabela 3 - Cronograma aplicado durante o estudo
Com base no cronograma anterior, foi possível definir com maior clareza aquele que seria o cronograma ideal para um estudo deste cariz (consultar o protocolo final).
4.7. Recomendações Neste tópico iremos apresentar todas as recomendações (para além daquelas que foram apresentadas ao longo do estudo) que considerámos essenciais para futuras aplicações (ou de estudos semelhantes no âmbito da área da observação e análise jogo). As recomendações em causa surgiram fruto da análise e reflexão por parte dos recursos humanos envolvidos (departamentos, analistas, equipa técnica, resultados das entrevistas), efetuada ao longo da aplicação da metodologia, assim como no final da mesma. o
Realização de uma breve reunião/apresentação formal da metodologia no início da época desportiva com o objetivo de clarificar os procedimentos entre todos os envolvidos (ajustar consoante o conhecimento dos recursos humanos: caso seja o primeiro contato, o momento deve ser composto por uma apresentação na integra da metodologia com esclarecimento de dúvidas e debate no final, caso contrário, o momento pode ser meramente dedicado à delineação da metodologia para os momentos competitivos seguintes);
o
Aplicação contínua da metodologia logo a partir do período pré-competitivo (primeiro jogo) com o intuito de se criarem hábitos/rotinas e adaptações à mesma (reflexão contínua por parte dos recursos humanos envolvidos sobre a mesma), para que o produto final se aproxime da conceção ideal para o contexto;
o
Consideramos que seja fundamental logo a partir do período pré-competitivo dividir a metodologia em aplicação ideal para o contexto de visitado e aplicação ideal para o contexto de visitante. Ou seja, se necessário, devem ser criados dois protocolos distintos em função da condição do jogo, fazendo com os objetivos da aplicação da metodologia se mantenham mesmo em cenários distintos;
o
Aplicar alterações nas entrevistadas validadas: na entrevista pré-estudo as questões 1 e 2 provocaram dúvidas numa fase inicial (clarificar o que é pretendido: fazer uma breve apresentação/enquadramento das entrevistas antes do início das mesmas), podemos adicionar Análise da performance da própria equipa, proposta de metodologia para intervenção ao intervalo - João Pascoal Página | 26
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uma questão relacionada com experiências/vivências em cenários semelhantes (uma vez que, posteriormente, constatámos que o treinador principal tinha vivenciado uma metodologia simétrica à aplicada), e na entrevista pós-estudo a questão 1 deixou igualmente dúvidas de interpretação; Aplicação das entrevistas pré e pós-estudo aos restantes elementos da equipa técnica
o
(treinador(es) adjunto(s), treinador de guarda-redes), com o intuito de retirar mais informações complementares à metodologia do estudo; o
Testar a validade (mais valia ou não) da participação do analista 3 (que diferenças provoca);
o
Testar a validade/utilidade da metodologia em termos da observação e análise de equipas adversárias (relacionado com a abordagem estratégica); Simplificação da dashboard utilizada (criar apenas 4 botões: um para a fase ofensiva (organização
o
+ transição), um para a fase defensiva, um para os esquemas táticos ofensivos e um para os esquemas táticos defensivos: não consideramos que seja essencial dividir o jogo em mais ações, sendo que apenas interessa identificar o momento de jogo, transferir o clip para a playlist específica e editar a sua duração); O recurso selecionado para a realização da comunicação entre os analistas e o banco de
o
suplentes apresentou uma lacuna na sua operacionalização (incompatibilidade com um sistema de auriculares: que garantiria a privacidade da comunicação). Para isso, procurámos uma solução alternativa, que recomendamos para futuras aplicações: walkie-talkies alternativos: Geonaute - On Channel 510 (preço semelhante ao equipamento utilizado); A apresentação deve ser mantida o mais simples (sem edição específica: capas e
o
marcações/efeitos) e direta possível (2 clips de vídeo no máximo sobre uma determinada ação/padrão de jogo, e 6 clips no máximo na totalidade da apresentação: evitar que a duração total das duas playlists ultrapasse os 3 minutos); A apresentação deve ser realizada pelo analista 2 (ou 3), uma vez que o mesmo tem um
o
conhecimento efetivo das playlists constituintes da apresentação. Isto é, o fato de o treinador principal desempenhar um papel de intervenção direta sobre o jogo (não está em comunicação direta com os analistas), faz com que o mesmo não tenha conhecimento do conteúdo da apresentação, sendo por isso, a solução anterior a que consideramos melhor para o efeito; Criação, validação e aplicação de duas entrevistas aos atletas alvo da metodologia, na mesma
o
ótica da ideia do presente estudo: pré e pós-estudo (perceções, aspetos positivos e a melhorar (recomendações), experiências/vivências em cenários semelhantes: seleção nacional, por exemplo): complemento/estudo paralelo;
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4.8. Protocolo final Um dos aspetos mais importantes do presente estudo resume-se a este tópico, a elaboração e apresentação do protocolo final da metodologia aplicada. Para o efeito, seguidamente e com base no cronograma, iremos apresentar, por pontos, todas as etapas que consideramos como determinantes para a aplicação da metodologia de uma forma geral (posteriormente iremos fazer referência a aspetos de teor técnico). De salientar, que considerámos uma época desportiva compreendida entre setembro e maio/junho (por norma correspondente a equipas militantes em campeonatos distritais), sendo o cronograma ajustável em função da sua duração: Tabela 4 - Cronograma final
Aspetos gerais: o
Apresentação e reflexão da metodologia com todos os recursos humanos envolvidos (autorização (no caso de ser a primeira aplicação no contexto) + delineação do desenho experimental ideal) no início da época desportiva/período pré-competitivo;
o
Revisão da literatura recente (existe a possibilidade de, que durante o período em que foi realizada a última revisão e o momento do início da época em causa, terem surgido novos livros, artigos ou notícias que possam servir de objeto de reflexão sobre a metodologia (tendências evolutivas na área da observação e análise de jogo, por exemplo);
o
Criação ou continuação do desenvolvimento do diário de metodologia (documento que compile todos os registos das condições dos locais de filmagem/captura e dos balneários, aplicações (recolhas + apresentações) e consequentes reflexões): para registo e consulta posterior;
o
Aplicação da entrevista pré-estudo, individualmente, à equipa técnica (com principal foco no treinador principal), e análise e reflexão sobre o conteúdo das mesmas (adaptação da metodologia caso seja necessário);
o
Aplicação teste em todos os jogos do período pré-competitivo (reflexão conjunta dos recursos humanos com o intuito de aproximar a metodologia ao produto final/ideal para o contexto): preparação as aplicações do período competitivo;
o
Aplicação propriamente dita da metodologia (aspetos técnicos explicados de seguida);
o
Aplicação da entrevista pós-estudo, individualmente, à equipa técnica (com principal foco no treinador principal), e análise e reflexão sobre o conteúdo das mesmas (adaptação da metodologia caso seja necessário);
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Realização de uma breve reunião para balanço e reflexão final da aplicação da metodologia na
o
época (analistas + equipa técnica, eventualmente com o departamento de observação e análise de jogo, separadamente caso se justifique). Face à experiência que obtivemos com a aplicação prática do estudo, seguidamente, iremos apresentar todos os instrumentos e recursos humanos necessários para uma correta aplicação da metodologia. Instrumentos: 1 Computador portátil: marca/ modelo indiferente: desde que o seu sistema operativo, memória
o
RAM e processador sejam compatíveis com as especificações dos restantes equipamentos (500€ ou 700€); o
Software para captura/codificação da filmagem: “LongoMatch” (0€: open source);
o
1 Dispositivo de captura de imagem/som (câmara): “Sony - Handycam”: qualquer modelo Handycam desta marca é compatível com as especificações dos restantes equipamentos (200€ ou 300€); 1 Tripé para fixação/suporte da câmara: “Vitem Pro”: compensa pela estabilização que oferece,
o
no entanto, só deve ser equacionado se o clube permitir uma aquisição deste tipo (preço elevado), caso contrário a marca Hama oferece uma gama de tripés mais baratos e que cumprem com os requisitos mínimos (Hama: 40€); o
1 Placa de captura: “Blackmagic Intensity Shuttle USB 3.0” (200€);
o
3 Cabos para as diferentes ligações: 1 “Hama: high speed micro HDMI”: 2 metros, 1 “Blackmagic Intensity Shuttle USB 3.0: default cable”, e 1 “Hama: high speed HDMI”: 3 metros (30€);
o
Software de registo: “Office: Word” (0€: versões gratuitas disponíveis online);
o
1 Par de walkie-talkies: “Geonaute - On Channel 510” (40€);
o
1 Monitor: “HP - 24’’ Monitor” (80€ ou 120€);
o
1 Mochila e 2 malas: 1 mochila “Sport Zone”, 1 mala “Staples” e 1 mala “Paco Martinez” (60€);
o
1 Extensão elétrica: “Intertek”: 25 metros (25€).
Orçamento mínimo previsto em equipamento: 1175€.
Recursos humanos No mínimo 2 analistas, 3 se possível (para rentabilizar recursos/orçamento, o analista 1
o
(responsável pela filmagem) poderá ser um atleta não convocado ou encarregado de educação, por exemplo); Cenário com 2 analistas: analista 1 responsável pela filmagem da 1ª parte e pelo manuseamento
o
informático da apresentação no balneário, analista 2 responsável pela captura, codificação, seleção, edição, exportação de playlists/clips de vídeo, comunicação com o banco de suplentes e realização da apresentação propriamente dita; Cenário com 3 analistas (2º em função de quem realizar a filmagem): analista 1 responsável pela
o
filmagem da 1ª parte, analista 2 responsável pela captura, codificação, edição, exportação de playlists/clips de vídeo e manuseamento informático da apresentação no balneário, e analista 3 Análise da performance da própria equipa, proposta de metodologia para intervenção ao intervalo - João Pascoal Página | 29
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responsável pela seleção de clips de vídeo, comunicação com o banco de suplentes e realização da apresentação propriamente dita; o
Treinador adjunto para o processo de comunicação com os analistas (não necessita de ter esta função exclusivamente).
Tendo por base o desenho experimental ideal (figura 3), de seguida iremos apresentar a operacionalização propriamente dita da metodologia (aspetos específicos/técnicos):
Figura 3 - Desenho experimental ideal
Operacionalização o
Consulta das condições do local de filmagem/captura e do balneário;
o
Pedido antecipado de autorização ao clube na condição de visitante (filmagem/captura): aproveitar para garantir as condições ideais (reserva do local de filmagem, material complementar (mesas, cadeiras), por exemplo);
o
Transporte dos equipamentos para o local (visitado: deixar o material no dia anterior na sala do departamento, ou numa sala que garanta as condições de segurança dos mesmos; visitante: levar carro próprio para o local);
o
Preparação do balneário (apresentação): em função do espaço/tempo verificar se é viável montar antes dos atletas entrarem, ou no momento em que os mesmos saem para o aquecimento (não esquecer de evitar perturbações espaciais ou riscos de segurança para os atletas ou equipamentos): nesta fase um dos analistas pode preparar o balneário e o outro o local da recolha. Deve ser realizado um teste dos equipamentos específicos para o momento (verificar se existem anomalias, tais como: erros/danos nos equipamentos que dificultem/impossibilitem
a
apresentação); o
Preparação do local de recolha: montagem dos equipamentos no local pré-definido (câmara + tripé + computador portátil + placa de captura: consultar figura 5), teste dos mesmos e uniformização de últimos detalhes (confirmação final dos procedimentos seguintes);
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Recolha (procedimentos antes do início do jogo):
o
o
Criação de uma captura no software específico (LongoMatch):
o
Novo jogo (criação de um novo
separador para o momento);
o
Seleção
do
tipo
de
captura
(captura com dispositivo: câmara);
o
Informações
gerais
(época
desportiva, competição, descrição do jogo e data) e específicas do jogo (equipas), e configurações da captura (output da placa (nome e local de gravação
do
ficheiro
da
filmagem/captura), placa, qualidade e resolução da captura e seleção da dashboard; o
Criação da captura no software
(procedimentos concluídos para dar início à codificação do jogo em causa); o
Criar duas playlists distintas: fase
ofensiva e fase defensiva (local para enviar os clips de vídeo selecionados para
edição
e
consequente
apresentação).
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o
Recolha (procedimentos a cumprir durante a 1ª parte): o
Dar início à filmagem, captura e codificação (iniciação nos respetivos equipamentos);
o
Codificar todos os momentos/ações de jogo com base na dashboard final (figura 4);
Figura 4 - Dashboard final
o
Em conformidade com o treinador adjunto (comunicação), selecionar no momento, se uma determinada ação (cortada no clip de vídeo criado pela codificação) entra nas playlists definidas (eventualmente com o analista 3). Critérios de seleção: momentos de jogo ofensivos e defensivos padrão ou significativos (positivos e/ou a melhorar), com base no modelo de jogo e estratégia definida;
o
Interromper a captura a 10 minutos do final da 1ª parte (no minuto 35 sensivelmente) para iniciar a edição dos clips selecionados (2 clips no máximo sobre uma determinada ação/padrão de jogo, e 6 clips no máximo na totalidade da apresentação: evitar que a duração total das duas playlists ultrapasse os 3 minutos);
o
Exportação das duas playlists (no momento em que a edição é concluída, podendo este procedimento ser realizado durante a transição para o balneário): ofensiva e defensiva (ter em atenção a velocidade de reprodução, e a ordem dos clips: por momentos de jogo e não por ordem cronológica).
Figura 5 - Esquematização da recolha
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Transição entre local de filmagem/captura e balneário:
o
o
Deslocamento/Transição de espaços (logo no momento em que a edição está concluída e é iniciada a exportação);
o
Transportar o computador portátil com a apresentação (playlists exportadas ou em exportação) para o balneário;
o
Garantir a segurança dos restantes equipamentos do local de filmagem/captura (elemento da equipa técnica que não necessite de ir ao balneário ou alguém do staff do clube);
o
Preparação da apresentação (iniciação do monitor, conexão de cabos (computador portátil ↔ monitor) e teste da apresentação (qualidade da imagem, atalhos de reprodução). Idealmente, este último ponto deve ficar concluído até ao momento da entrada dos atletas/equipa técnica no balneário;
Apresentação (procedimentos a cumprir):
o
o
O analista responsável pelo manuseamento informático da apresentação posiciona-se num ângulo/lugar morto (que não interfira no campo visual do público alvo);
o
Permitir ao treinador principal tempo e espaço para intervir sobre o que achar pertinente
o
Quando for concedida autorização por parte do treinador principal, o analista responsável
(controlo emocional dos atletas, por exemplo); inicia a apresentação das playlists da 1ª parte (momentos de jogo ofensivos e defensivos padrão ou significativos positivos e/ou a melhorar); o
Realizar um debate, de forma ordeira, onde todos os elementos envolvidos intervêm (analistas, equipa técnica e atletas);
o
Evitar que a apresentação em si exceda os 5 minutos (dar tempo e espaço ao treinador principal para concluir a sua intervenção no momento);
Conclusão da aplicação:
o
o
Continuação da filmagem/captura e codificação da 2ª parte (continuação da elaboração do relatório qualitativo coletivo do jogo);
o
Reflexão em conjunto com os recursos humanos (posteriormente ao jogo, numa reunião de preparação do próximo microciclo, por exemplo) e consequente registo da mesma no diário de aplicações.
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5. Considerações e reflexões finais Para terminar, iremos apresentar um conjunto de considerações (comentários) e reflexões que realizámos durante e após a aplicação do estudo com o objetivo de realizar um balanço final do mesmo. Balanço esse que servirá de suporte para futuras aplicações, tanto para os próprios autores, como para potenciais interessados na temática/área (observação e análise de jogo): o
Foram cumpridos na integra os objetivos propostos no início do estudo, a salientar: o
Foi criada, desenvolvimento e aplicação de uma metodologia que permitisse a realização de uma apresentação qualitativa da performance da própria equipa durante o intervalo;
o
Existiu uma otimização do feedback transmitido durante o intervalo: notório foco atencional dos atletas durante a apresentação, tendo um dos quais ficado impressionado com o fato de irmos visualizar clips de vídeos de ações ocorridas à instantes atrás;
o
Existiu uma preparação da equipa técnica e dos atletas para um possível cenário a vivenciar no futebol profissional: impacto positivo e necessidade de reflexão sobre o processo evidenciado pelo treinador principal durante a entrevista pós-estudo;
o
Foram introduzidas, desenvolvidas e consolidadas competências inerentes à área da observação e análise de jogo: manuseamento de uma captura/codificação vivo, necessidade de aumentar a capacidade de observação e análise do jogo “in loco”;
o
Existiu uma promoção do trabalho criado e desenvolvido pelo departamento de observação e análise de jogo: junto do clube/equipa técnica, através das publicações efetuadas em congressos/seminários da área do desporto, e do interesse criado junto de outros contextos de futebol profissional (apresentações/entrevistas e/ou aquisição de equipamentos específicos para a aplicação da metodologia por parte dos mesmos);
o
Verificámos diferenças ao nível da metodologia idealizada, aplicada e do protocolo final (procedimentos reajustados/melhorados), devendo-se, principalmente, à capacidade de reflexão que aplicámos ao longo do estudo (idealizar → testar → refletir → adaptar = evolução positiva). De salientar a importância de termos mantido um registo de todo o processo (diário);
o
A metodologia aplicada durante o estudo, assim como a proposta desenvolvida, no protocolo final, apresentaram um caráter adaptativo ao contexto onde foram inseridas, pelo que as mesmas poderão não se enquadrar em outras realidades (no protocolo final fizemos referência ao orçamento mínimo previsto apenas em equipamentos, sendo um aspeto decisivo);
o
Conseguimos construir um protocolo final (escrito) sucinto e objetivo sobre a forma como acreditamos que deva ser realizada a aplicação da metodologia (recolha + apresentação): um dos aspetos mencionados pelo treinador principal na entrevista pós-estudo (necessidade de existir uma definição com maior clareza);
o
O estudo presenteou-nos com diversas potencialidades, que não foram previstas na sua fase conceptual, como por exemplo: o
Existir um controlo da qualidade da filmagem do analista responsável pela mesma, através da captura realizada (feedback sobre os planos, zooms, velocidade de deslocamento horizontal e vertical do ângulo da câmara);
o
Revisão de lances específicos, imediatamente, após os mesmos acontecerem (abordagem estratégica ao jogo (comportamentos coletivos e/ou individuais), golos
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marcados/sofridos,
foras-de-jogo):
uma
das
valências
do
software
escolhido
(LongoMatch); o
Exportação ao vivo de clips específicos para um tablet no banco de suplentes (a serem visualizados pelo treinador adjunto, por exemplo, com o intuito de existir uma intervenção mais direta/imediata sobre os acontecimentos do jogo);
o
Aplicação em situação de treino (se o treinador pretender rever alguma situação posteriormente no final do mesmo);
Por outro lado, gostaríamos de registar um conjunto de aspetos a melhorar para futuras
o
aplicações/estudos: o
Poderíamos ter realizado uma pesquisa mais exaustiva dos equipamentos disponíveis no mercado para a aplicação do estudo (situação verificada com os walkie-talkies);
o
Número reduzido de aplicações (procurámos colmatar essa condicionante com a definição de uma “recolha adaptada”, assim como a tentativa de aplicar em outros escalões do clube);
o
Deveríamos
ter
aplicado
a
metodologia
completa
na
condição
de
visitante
o
Deveríamos ter continuada a recolha (completa) durante a 2ª parte dos jogos onde
(testar/experienciar e refletir sobre o processo); aplicámos a metodologia completa (rentabilizar ao máximo o número de jogos que tínhamos disponíveis para testar a mesma); o
Deveríamos ter controlado/testado o tempo despendido para a apresentação durante o intervalo (o fato de os jogos particulares nos permitirem uma maior margem de erro e controlo sobre a variável tempo, deveria ter sido aproveitada no sentido de compreendermos e reajustarmos os aspetos/pontos responsáveis por maiores perdas de tempo, face ao previsto/aceitável: 15 minutos).
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6. Referências bibliográficas - Almeida, R. (2014) - “Da conceptualização dos métodos de treino à operacionalização prática no quadro do modelo de jogo adotado”. Dissertação apresentada para obtenção do Grau de Mestre em Treino Desportivo com especialização em Alto Rendimento Desportivo conferido pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (Faculdade de Educação Física e Desporto de Lisboa); - Ardá, T., Maneiro, R., Rial, A., Lousada, J. & Casal, C. (2014) - “Análisis de la eficacia de los saques de esquina en la copa del mundo de fútbol 2010. Un intento de identificación de variables explicativas”. Revista de Psicología del Deporte. 23(1), 165-172; - Barreira, D., Garganta, J., Guimarães, P., Machado, J. & Anguera, M. T. (2014) - “Ball recovery patterns as a performance indicator in elite soccer”. J. Sports EngTechnol, 228, 61-72; - Carling, C. (2001) - “Choosing a computerised match analysis system”. Insight, v. 4, nº 3, p. 30-1; - Castelão, D., Garganta, J., Afonso, J. & Costa, I. (2015) - “Análise Sequencial de comportamentos ofensivos desempenhados por seleções nacionais de futebol de alto rendimento”. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, 37 (3), 230-236; - Castelo, J. (2009) - “Futebol - Organização dinâmica do jogo”. Centro de estudos de Futebol da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa - 3ª Edição; - Castelo, J. & Matos, L. (2009) - “Futebol - Concepção e organização de 1100 exercícios específicos de treino”. Visão e contextos - 2ª Edição; - Clemente, F.; Couceiro, M.; Martins, F.; Figueiredo, A. & Mendes, R. (2014) - “Análise de jogo no futebol: Métricas de avaliação do comportamento coletivo”. Motricidade, 10 (1), 1426; - da Costa, I. T., da Silva, J. M. G., Greco, P. J. & Mesquita, I. (2009) - “Tactical Principles of Soccer Game: concepts and application”. Motriz. Journal of Physical Education. U. N. E. S. P., 15(3), 657–668; - Gama, J.; Dias, G.; Couceiro, M. & Vaz, V. (2017) - “Novos métodos para observar e analisar o jogo de Futebol”. Estoril (Portugal): PrimeBooks; - García, J. (2000) - “Balonmano: perfeccionamiento e investigación”. Barcelona: I. N. D. E.; - Hughes, M. & Franks, I. (2005) - “Analisys of passing sequences, shots and goals in soccer”. Journal of Sports Science 23(5), 509-514; - Lago, C., & Martín, R. (2007) - “Determinants of possession of the ball in soccer”. Journal of Sports Sciences,
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- Pedreño, J. M. (2014) - “Scouting en Fútbol - Del Fútbol base al alto rendimiento”. Vigo (Espanha): MCSports (Moreno & Conde, S. L.). Colección: Preparación futbolística; - Sánchez, F. (2015) - “¿Qué esconde tu rival?”. Barcelona (Espanha): FútbolDLibro (Fútbol de libro, S. L.). Colección: Fútbol profesional; - Sarmento, H. M. B. (2012) - “Análise do jogo de futebol: Padrões de jogo ofensivo em equipas de alto rendimento: uma abordagem qualitativa”. Tese de Doutoramento não publicada. Universidade de Trás-osMontes
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Alto
Douro,
Vila
Real.
Disponível
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consulta
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https://repositorio.utad.pt/handle/10348/2382; - Silva, P. M., Castelo, J. & Santos, P. (2011) - “Caracterização do processo de análise do jogo em clubes da 1ª liga portuguesa de Futebol na época 2005/2006”. Revista brasileira de Educação Física - Esporte, São Paulo, v. 25, nº 3, p. 441-53; - Soares, R. (2017) - “Observação e análise de Futebol - Certificação “Beginner” LongoMatch”. Formação certificada e organizada por: Sapienta Sports: Lisboa (Portugal); - Sport Lisboa e Benfica (2017) - “Site oficial do Sport Lisboa e Benfica”. Disponível em: www.slbenfica.pt; - Tenga, A., Holme, I., Ronglan, L. & Bahr, R. (2010) - “Effect of playing tactics on achieving score-box possessions in a random series of team possessions from Norwegian professional soccer matches”. Journal of Sports Science, 28 (3), 245-255; - Ventura, N. (2013) - “Observar para ganhar - O Scouting como ferramenta do treinador”. Estoril (Portugal): PrimeBooks.
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7. Anexos 7.1. Esboço inicial da entrevista pré-estudo Entrevista 1 1. Questão: o que entende por codificação ao vivo? Objetivo: verificar se o treinador conhece o termo inerente à matriz do projeto. 2. Questão: conhece alguma ferramenta capaz de desempenhar essa necessidade/função? Objetivo: verificar se o treinador conhece algum software, ou hardware específico. 3. Questão: com que tipo de objetivo poderá ser realizada uma codificação ao vivo? Objetivo: verificar se o treinador consegue enquadrar o estudo no plano de jogo, ou no microciclo de trabalho. 4. Questão: qual acha que deverão ser os procedimentos ideais para a aplicação de uma codificação ao vivo? Objetivo: verificar se o treinador consegue discriminar um conjunto de procedimentos, podendo alguns dos quais serem inseridos/adaptados ao estudo. 5. Questão: quais acha que poderão ser as potenciais valências de um estudo deste cariz? Objetivo: identificar aspetos positivos resultantes da aplicação do estudo. 6. Questão: quais acha que poderão ser as potenciais ameaças de um estudo deste cariz? Objetivo: identificar aspetos negativos/ameaças resultantes da aplicação do estudo. 7. Questão: que expetativas tem em termos da aplicação do estudo? Objetivo: verificar o grau de significância que o estudo poderá ter no microciclo de trabalho (plano de jogo).
7.2. Entrevista pré-estudo final Entrevista 1 1. Quais as vantagens de utilizar a observação ao vivo na recolha de informação para a intervenção do treinador? 2. Quais os procedimentos a adotar para que uma observação consiga fornecer informação importante? 3. Quais as informações mais relevantes a ser retiradas para contribuir para uma intervenção mais eficaz? 4. Quais as limitações que podem estar inerentes a este processo?
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7.3. Esboço inicial da entrevista pós-estudo Entrevista 2 1. Questão: a aplicação do estudo provocou algum efeito positivo, tendo como comparação a rotina aplicada até então? Objetivo: verificar, do ponto de vista do treinador, se o estudo causou algum impacto, tendo como termo de comparação a rotina pré-estudo. 2. Questão: quais acha que foram as principais valências da aplicação do estudo? Objetivo: identificar um conjunto de aspetos positivos que resultaram da aplicação do estudo. 3. Questão: quais acha que são os principais aspetos a melhorar? Objetivo: identificar um conjunto de aspetos a melhorar na metodologia após a aplicação do estudo. 4. Questão: que recomendações aconselharia para futuras aplicações? Objetivo: identificar um conjunto de recomendações, em termos metodológicos, para futuras aplicações do estudo.
7.4. Entrevista pós-estudo final Entrevista 2 1. A aplicação do estudo provocou algum efeito positivo, tendo como comparação a rotina aplicada até então? 2. Quais acha que foram as principais valências da aplicação do estudo? 3. Quais acha que são os principais aspetos a melhorar? 4. Que recomendações aconselharia para futuras aplicações?
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INTRODUÇÃO Nos dias de hoje, a sociedade e como parte desta – o desporto, vê-se mergulhada numa crise de valores sociais, tendo esta um impacto prejudicial na harmonia e no bem-estar social. Os valores do desporto, à semelhança dos valores sociais, têm vindo a perder o seu protagonismo por causa da excessiva industrialização do futebol e pelo sentimento de segregação promovido pelo mesmo. Com esta mudança surgem ameaças que põem em causa os princípios que o desporto promove, tais como o fair play, o respeito e a tolerância. Começam por isso a surgir comportamentos desviantes como a violência, o racismo e a corrupção. Estes comportamentos no âmbito desportivo provêm de uma sociedade igualmente egoísta, discriminatória, e onde se constata uma busca desmensurada pela vitória, independentemente das circunstâncias em que ocorra a derrota do outro. Este trabalho visa contribuir para o reconhecimento da perspetiva pedagógica do desporto e bem como para a consciencialização da responsabilidade social dos seus stakeholders, apresentando resultados e desafios com base numa investigação que incidiu sobre as potencialidades educativas do desporto no contexto da promoção da inclusão social de jovens em situação de risco, através do Projeto Futebol de Rua da Associação CAIS.
OBJETIVOS Este trabalho assume como objetivo geral a identificação de quais os contributos do desporto para a inclusão social de jovens em risco em Portugal. Relativamente aos objetivos específicos, estes passam por: • descrever de que forma é que o desporto pode contribuir para a inclusão social de jovens em risco; • aprofundar os conceitos de Exclusão e Inclusão Social, Educação Não Formal, Empowerment e estabelecer uma correlação entre eles e o objeto de investigação; • explorar a dimensão social e educativa do desporto no contexto específico dos projetos de intervenção social junto de jovens em risco; • contribuir para a maior divulgação e valorização social do Projeto Futebol de Rua, coordenado pela Associação CAIS.
RESULTADOS
CONCLUSÕES
Esta é uma investigação do tipo qualitativo, assumindo por isso um processo descritivo e interpretativo dos fenómenos, afastando-se da apresentação de dados estatísticos/numéricos. Procedeu-se à realização de entrevistas à amostra pré-estabelecida, composta por stakeholders do Projeto Futebol de Rua, promovido pela Associação CAIS. As questões que integraram as entrevistas serviram para analisar qual o impacto do projeto na vida pessoal, social e profissional dos participantes. Abaixo surgem alguns dados analisados através da técnica da análise de conteúdo,
A análise de conteúdo das entrevista permitiu constatar que, numa fase inicial do projeto, os participantes assumiam-no como o projeto que incidia apenas na prática desportiva. Contudo, no decurso do projeto os participantes começaram a inteirar-se dos seus objetivos, na medida em que a prática desportiva era intercalada com ações pedagógicas, com dinâmicas de grupo e treino de desenvolvimento de competências. Alguns dos indicadores pré-estabelecidos vieram a ser confirmados pelos entrevistados, referindo que o Projeto Futebol de Rua, e o desporto em geral, permitiram o desenvolvimento de competências pessoais, ao nível do autoconhecimento e da melhoria dos níveis de autoestima; de competências sociais, ao nível do relacionamento com os pares; e por fim, de competências académicas/profissionais, através da motivação pela frequência dos vários níveis de ensino, assim como através das oportunidades de trabalho promovidas pelo projeto. Alguns desses indicadores foram: fairplay; ética; respeito; tolerância; amizade; superação; resiliência; integração; igualdade; entre outros. A educação não formal e o empowerment são parte integrante da metodologia participativa deste paradigma mais pedagógico do desporto. Neste sentido esta metodologia permite potencializar o crescimento dos stakeholders de uma forma holística, fomentando a participação ativa na sociedade, tornando-os também mais capazes de desempenharem papéis de liderança e de resolução de problemas/conflitos dentro da comunidade.
“Foi a melhor experiência da minha vida, sem dúvida. Não só dentro do campo, mas principalmente mais fora do campo (E1) “(…) há valores transparecidos para dentro do campo, e para fora do campo, e é isso que nós trabalhamos, e tentamos trabalhar, com os jovens de uma instituição” (E2) “ (…) até podes arranjar um emprego, mas aquilo não vai correr bem, é preciso criar as bases e os alicerces, e para nós, antes de poderem vir as tuas competências profissionais, vêm as sociais e vêm as pessoais, por esta ordem.” (E6) “Fiz a licenciatura em Serviço Social, e no 1º ano o diretor da instituição convidou-me (…) para avançar com o projeto com e ficar responsável pelo futebol de rua, para trabalhar os jovens e as competências, aceitei. (E2)”
O PAPEL DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO João Paulo Rodrigues Malho
6. O PAPEL DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO
AGRADECIMENTOS
O meu agradecimento a todos, por tudo…
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6. O PAPEL DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO
RESUMO O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco A sociedade, e como parte desta – o desporto, vê-se mergulhada numa crise de valores sociais, tendo esta um impacto prejudicial no bem-estar e na harmonia social. Os verdadeiros valores do desporto têm vindo a perder o seu protagonismo devido à comercialização do mesmo. Com esta mudança surgem ameaças que põem em causa os princípios que o desporto promove, tais como o fair play, o respeito e a tolerância. Estas ameaças dizem respeito às pressões comerciais, através do comércio de direitos desportivos e de imagem dos atletas, a exploração de desportistas jovens, o consumo de doping, o racismo, a violência, a corrupção e o branqueamento de capitais (Livro Branco do Desporto (2007 p.60). Estas ameaças provêm de uma sociedade igualmente egoísta, discriminatória, e onde se constata uma busca desmensurada pela vitória, independentemente das circunstâncias em que ocorra a derrota do outro. Contudo, pelo menos o desporto pode dar resposta ao problema que nele mesmo se instalou, através da possibilidade de restruturação dos princípios deste domínio mais competitivo, afim de que se venha a atingir o fim maior da reorganização da sociedade. Esta crise de valores pode ser combatida através do poder educativo e capacitador do mesmo. Neste sentido, educação não formal e o empowerment têm um papel determinante, na medida em que, através do desporto, é possível trabalhar as competências pessoais e sociais dos praticantes, as condições de saúde e até mesmo as suas habilitações académicas, tudo isto fora do contexto institucional de aprendizagem. O carácter educativo do desporto permite ainda a criação e o fortalecimento das relações sociais, promovendo assim a inclusão social de jovens em risco. A presente investigação centra-se numa reflexão aprofundada sobre este tema a fim de dar a conhecer quais os contributos do desporto para a inclusão social de jovens em risco. Em coerência com a componente teórica da investigação, este trabalho visa dar a conhecer um projeto o Projeto Futebol de Rua, coordenado pela Associação CAIS, Lisboa. Palavras-chave: Desporto; Educação; Empowerment; Inclusão Social; Jovens em Risco
O PAPEL DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
6. O PAPEL DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO
ABSTRACT The Role of Sport for the Social Inclusion of Young People at Risk Society, and as part of it – sport, is plunged into a crisis of social values, which is harmful for the social welfare and harmony. The authentic values of sport have been losing their prominence because sport is now treated as business. This shift threatens to undermine the foundations that sports promote, such as fair play, respect and tolerance. These threats are related to commercial pressures, which reflect themselves in the acquisition of the athletes’ sports and image rights, the exploitation of young athletes, doping, racism, violence, corruption and money laundering (Livro Branco do Desporto (2007 p.60). These threats come from a selfish and discriminatory society, in which we find an excessive pursuit of victory irrespective of the circumstances in which the other is defeated. However, at least sport can respond to the problem that has arisen in itself, through the possibility of restructuring the principles of this competitive field, in order to achieve the reorganization of society. In this regard, non-formal education and empowerment play a decisive role, to the extent that, through sports, it is possible to develop personal and social skills, health conditions and even educational attainment, all of these taking part outside the context of institutional learning. The educational character of sports also enables the creation and strengthening of social relations, thus fostering the social inclusion of young people at risk. This research focus on a detailed reflection on this subject in order to raise awareness for the contribution of sport for the social inclusion of young people at risk. Hand in hand with the theoretical component of this investigation, this work also aims to promote Projeto Futebol de Rua, coordinated by Associação CAIS, Lisbon.
Key Words: Sport; Education; Empowerment; Social Inclusion; Young People at Risk
O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
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6. O PAPEL DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ........................................................................................................................ III RESUMO ........................................................................................................................................... IV ABSTRACT ........................................................................................................................................ V INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 7 Definição do Problema .......................................................................................................... 7 Justificação e Pertinência do Estudo..................................................................................... 8 Objetivos do Estudo............................................................................................................. 12 ENQUADRAMENTO TEÓRICO ...................................................................................................... 13 VISÃO CRÍTICA DO DESPORTO ...................................................................................................... 13
Comercialização do Desporto ............................................................................................. 13 Violência no Desporto.......................................................................................................... 18 CARACTERIZAÇÃO DA EXCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO..................................................... 22
Exclusão e Inclusão social .................................................................................................. 22 Jovens em Risco ................................................................................................................. 25 PROCESSOS DE INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO ............................................................... 28
Educação Não Formal e o Empowerment........................................................................... 28 CONTRIBUTO DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO
................................ 36
ESTUDO DE CASO DO PROJETO FUTEBOL DE RUA – ASSOCIAÇÃO CAIS ........................................... 44
METODOLOGIA .............................................................................................................................. 50 AMOSTRA E INSTRUMENTOS UTILIZADOS....................................................................................... 51
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................................................... 54 PROCESSAMENTO DOS DADOS ..................................................................................................... 54 ANÁLISE DE CONTEÚDO DAS ENTREVISTAS GUIADAS ..................................................................... 55
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 82 PROPOSTA PARA FUTUROS ESTUDOS ..................................................................................... 88 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 89 ANEXOS........................................................................................................................................... 95
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6. O PAPEL DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO
INTRODUÇÃO Definição do Problema Atualmente a sociedade debate-se contra uma crise profunda em todos os seus domínios. Crise essa que tem repercussões diretas no funcionamento das relações entres os indivíduos uma vez que, segundo Hespanha (1996, p. 3), um dos efeitos do capitalismo selvagem passa pela «difusão de ideologias que paralisam a ação coletiva (tais como a sobrevalorização da iniciativa privada, do individualismo e da competição e a consequente desvalorização do esforço coletivos, da solidariedade e da cooperação) (…).». A crise no domínio económico, em regra geral, leva a que se acentuem as diferenças entre os mais ricos e os mais pobres, e, por conseguinte, que aumentem as dificuldades de acesso às oportunidades por parte destes últimos. Esta dificuldade de acesso aos serviços, aos bens e às oportunidades leva a que se iniciem ruturas parciais e totais no tecido social, dando origem a processos de marginalização e de exclusão social. Aliada à crise no domínio económico e financeiro, também a crise de valores sociais contribui para os processos de exclusão dos indivíduos. A ausência de valores éticos e morais é uma grande ameaça à coesão de uma sociedade, uma vez que potencia os movimentos de individualismo (Bachur, 2004) e de confrontação entre indivíduos do mesmo grupo. Em coerência com aquilo que foi dito acima, Estivill (2003, p. 39) caracteriza o conceito de exclusão social como um «processo acumulativo e pluridimensional que afasta e inferioriza, com ruturas sucessivas, pessoas, grupos, comunidades e territórios dos centros de poder, dos recursos e dos valores dominantes (…)». Esta questão de afastamento e marginalização dos indivíduos tem um grande impacto junto dos jovens que estão inseridos num ambiente de risco. Neles emerge o sentimento de revolta por lhes estar a ser dificultado e até mesmo negado estes acessos aos centros de poder, aos recursos e aos valores dominantes da sociedade. Yunes e Szymanski (2001, p. 24) consideram o risco como «todo o tipo de eventos negativos da vida que, quando presentes, aumentam a possibilidade do indivíduo apresentar problemas físicos, sociais ou emocionais». A exclusão social é considerada pelas ciências sociais como um problema complexo, sendo ainda considerado extremamente difícil a quebra do seu ciclo. Esta dificuldade leva os indivíduos, na maioria dos casos, a entrar numa espiral de comportamentos desviantes, como o abandono escolar, o consumo de álcool e de estupefacientes, a delinquência, entre outros.
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6. O PAPEL DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO
Justificação e Pertinência do Estudo “Sport has the power to change the world” (Mandela1). Se todo este trabalho tivesse que ser resumido numa só frase, esta serviria na sua plenitude para caracterizar todo o enquadramento que se segue. Em jeito de provocação, desafia-se o leitor a transformar a famosa citação de Nelson Mandela numa pergunta retórica de modo a estimular previamente a reflexão acerca deste poder que, à partida, o desporto tem para gerar mudança. Desde já, e de forma a que o leitor não perca o foco do essencial, a investigação, e todo o trabalho de revisão da literatura e consequente imersão no terreno que se lhe seguiu, visa dar a conhecer quais os contributos do desporto para a inclusão social de jovens em contexto de risco. Tal como a sociedade, também o desporto tem vindo a ser fustigado por uma profunda crise de valores éticos e morais. Atualmente, o desporto é visto pela maioria das pessoas como um espetáculo lucrativo, capaz de atrair as massas, de desenvolver as economias e um mecanismo de fomento do sentimento de pertença a um grupo, consoante os gostos e os ideais de cada um. Contudo, este dito desporto espetáculo (Sérgio, 2014) tem vindo a ser consumido freneticamente e atualmente deparamo-nos com situações gravosas que nos permitem fazer o paralelismo entre a crise de valores na sociedade e a crise de valores no desporto. O Livro Branco do Desporto (2007, p. 60) dá conta dessa mesma transversalidade da crise, referindo que os problemas que têm assolado o desporto relacionam-se com o racismo, a violência, a corrupção, o branqueamento de capitais, entre outros. O mesmo documento, revela que dentro dos problemas específicos com que o desporto moderno se depara, destacam-se ainda a pressão comercial, a exploração dos desportistas jovens e a dopagem. De igual modo, também a UNESCO (2015)2 faz uma explanação clara sobre os problemas que afetam o desporto e alerta para o papel que todos os intervenientes no desporto devem desempenhar para evitar que tais problemas sejam mitigados.
1
Nelson Mandela foi o primeiro Presidente negro eleito na África do Sul. Ganhou o Prémio Nobel da Paz em 1993 após ter
contribuído para o fim do Apartheid, para o fim da violência e do racismo naquele país, e para a reconciliação e saudável convivência entre a população branca e negra. Fonte: https://www.nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/1993/ 2
In Carta Internacional da Educação Física, Atividade Física e Desporto (1978 [rev.2015]).
Fonte: http://unesdoc.unesco.org/images/0023/002354/235409e.pdf
O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
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6. O PAPEL DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO
All forms of physical education, physical activity and sport must be protected from abuse. Phenomena such as violence, doping, political exploitation, corruption and manipulation of sports competitions endanger the credibility and integrity of physical education, physical activity and sport and undermine their educational, developmental, and health promoting functions. Participants including referees, public authorities, law enforcement, sports organizations, betting operators, owners of sports-related rights, the media, non-governmental organizations, administrators,
educators,
families,
the
medical
profession
and
other
stakeholders must collaborate to ensure a coordinated response to integrity threats. (UNESCO, 2015, p.7, art. 10.1)
Bento (2004, p. 16)3 apresenta alguns fatores que podem estar na origem de alguns dos problemas associados ao desporto moderno, referindo que «a competitividade e o egoísmo desmedidos, atualmente presentes na mentalidade dominante, levam a um esquecimento e atropelo do outro, tendo inevitavelmente consequências no eu, uma vez que a responsabilidade (exclusivamente) humana impõe a alteridade, obriga ao comprometimento consigo e com o outro». Este carácter individualista presente no desporto e todos os problemas a ele associados, como a discriminação, o egoísmo, a intolerância, a competitividade obsessiva e os outros, alastram-se para a esfera social motivando o surgimento de ruturas no tecido social. Estas ruturas estão associadas à problemática da exclusão social, que acompanha a sociedade desde os seus primórdios, mas que atualmente e muito por culpa dos problemas acima referidos, se tem vindo a agravar, alastrando-se por todas as esferas da sociedade. Contudo, é na franja social mais baixa que este processo se reproduz como maior facilidade, marginalizando os indivíduos da sociedade, impossibilitando-lhes o acesso a «oportunidades de emprego, rendimento e educação, bem como das redes e atividades sociais e das comunidades. Têm pouco acesso a organismos de poder e decisão e sentem-se, por esse motivo, impotentes e incapazes de assumir o controlo das decisões que afetam as suas vidas quotidianas.» (Comissão das Comunidades Europeias, 2003, p. 9). Este claro e preocupante afastamento entre a sociedade e os indivíduos em situação de exclusão, em muito se deve à acentuação de uma profunda crise de valores éticos e morais, que impossibilita a reinserção dos indivíduos na sociedade.
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Formação humana - O contributo do desporto, obra de Helena Bento, publicada em Sociedade Científica de Pedagogia do
Desporto. Fonte: http://www.ipg.pt/scpd/4congresso-scpd/files/Book_Abtracts_PD_6.pdf
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Ambas as partes têm a sua responsabilidade na quebra do ciclo da exclusão, sendo importante quebrar a ideia de que os únicos culpados pela situação são os próprios indivíduos excluídos. A teoria de Willian Ryan (1971) dá suporte à afirmação anterior, uma vez que através do seu do livro Blaming the Victim, em português a Culpabilização da Vítima, tentou demonstrar que desde há muito tempo existe uma tendência para responsabilizar as vítimas pelos crimes de que as próprias são alvo. Neste sentido é fundamental que se desmistifique a ideia suportada pela sociedade de que os indivíduos excluídos são os únicos responsáveis pela rutura do vínculo social. Relativamente ao trabalho de intervenção realizado pelos profissionais de serviço social junto dos indivíduos, no caso concreto desta dissertação junto dos jovens em situação de risco, é perentório que este seja feito preventivamente, sempre que assim for possível. A intervenção numa fase precoce serve para mitigar os estigmas que os jovens têm em relação à forma como são vistos pela sociedade. A intervenção tem como objetivo promover uma mudança social e para isso utiliza a educação como um processo para a alteração de comportamentos, para a capacitação e valorização das competências, e para a promoção dos valores pessoais e sociais do indivíduo. A educação, fora do contexto escolar formal, tem um potencial muito proveitoso, uma vez que permite ao serviço social utilizar estratégias de intervenção mais incisivas e processos alternativos e complementares para implementação da sua ação. A educação não formal surge aqui como uma alternativa complementar à educação formal, não estando esta sujeita à realização provas de avaliação de conhecimentos nem à rigidez das normas de funcionamento, permitindo assim uma maior flexibilidade nos processos de aprendizagem e uma maior proximidade com os jovens em questão. É através da valorização e da implementação de estratégias de educação não formal e informal, que está a chave para o desenvolvimento saudável da aprendizagem dos valores inerentes à sociedade. O desporto pode ser considerado uma dessas estratégicas educativas, contribuindo para estimular o processo de aprendizagem, permitindo a abordagem de temas sensíveis de uma forma mais subtil e indireta o que motiva os jovens a interessarem-se mais por tais temas. Pode parecer contraproducente, mas o desporto, apesar de ter todos aqueles problemas associados que acima já foram referidos, constituí um campo de aprendizagem para os valores que ele mesmo, a par da sociedade, tem vindo a perder. Marivoet (2010) posiciona o desporto como «constitui uma manifestação cultural com enormes potencialidades na aproximação das pessoas, das culturas e das nações, quer através da dinamização de sociabilidades, quer no veicular de sentidos identitários, de pertença, de fazer parte, isto é, de inclusão. A ética do desporto e os princípios fundamentais do Olimpismo expressos na Carta Olímpica, veiculam justamente valores associados ao princípio do fair play, que orientam a ação desportiva para a inclusão e o combate a qualquer tipo de discriminação.».
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O desporto aufere então, de acordo, com Elias e Dunning (1986) e em concordância com Marivoet (2010) de um caráter potenciador de inclusão, da promoção da tolerância, do respeito pelo outro, da cooperação, lealdade e amizade, valores associados ao fair play4, princípio basilar da ética do desporto. Este processo de inclusão inicia-se com a socialização, que segundo Escartí (2003) é tida como um «processo mediante o qual os indivíduos aprendem os conhecimentos básicos, as atitudes, os valores e os comportamentos que lhes permitam adaptar-se à sociedade em que vivem». Neste sentido os conhecimentos, as atitudes, os valores e os comportamentos podem ser trabalhados através do desporto, de forma a que os indivíduos em situação de exclusão possam estar mais bem preparados para se reinserirem na sociedade. Importa, por fim, deixar uma nota para evitar algumas confusões conceptuais. O estudo visa clarificar o papel do desporto (todas as modalidades no geral) na inclusão social de jovens. Numa das partes constituintes do enquadramento teórico, será apresentado um estudo de caso sobre um projeto social que utiliza o desporto para promover a inclusão social de jovens, recorrendo à modalidade do futebol de rua. Quer isto dizer que não deve ser feita uma ligação de desporto e futebol de rua de sinónimo.
4 «Fair play é uma expressão inglesa que significa modo leal de agir, e que, em português, no desporto, significa jogo justo, jogar limpo, ter espírito desportivo. A expressão está vinculada à ética no desporto, onde os praticantes devem procurar jogar de maneira que não prejudiquem o adversário de forma propositada.» Antunes, J. & Galvão, A. (p.100) In Renaud, M. (org) (2014). Ética e Valores no Desporto. Edições Afrontamento.
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Objetivos do Estudo A presente investigação tem como tema o papel do desporto para a inclusão social de jovens em risco. Para isso este trabalho assume a responsabilidade de enquadrar o desporto enquanto instrumento capaz de promover a inclusão social de jovens em situação de risco através de metodologias de intervenção, assentes na educação não formal. Sendo que para isso, e de modo a orientar o esquema da investigação, definiu-se como objetivo principal a identificação de quais os contributos do desporto para a inclusão social de jovens em risco em Portugal. Uma vez identificado o objetivo geral da investigação, importa agora definir os objetivos específicos que a vão conduzir a linha de pensamento. Considera-se então, para o efeito, os seguintes objetivos específicos:
descrever de que forma é que o desporto pode contribuir para a inclusão social de jovens em risco;
aprofundar os conceitos de Exclusão e Inclusão Social, Educação Não Formal, Empowerment e estabelecer uma correlação entre eles e o objeto de investigação;
explorar a dimensão social e educativa do desporto no contexto específico dos projetos de intervenção social junto de jovens em risco;
contribuir para a maior divulgação e valorização social do Projeto Futebol de Rua, coordenado pela Associação CAIS; Contribuir com esta dissertação para o aumento de documentação científica produzida sobre o
tema da Inclusão Social através do desporto. Serão estas as linhas orientadoras da pesquisa, propondo assim dar resposta a cada uma delas através do aprofundamento dos conteúdos teóricos e do estabelecimento de uma relação direta com a sua implementação prática ao nível da intervenção social expressa no Projeto que também se apresenta.
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ENQUADRAMENTO TEÓRICO Visão Crítica do Desporto Comercialização do Desporto Podemos dizer que o desporto caminha lado a lado com a evolução do ser humano, desde os seus primórdios até às sociedades ditas contemporâneas. Deve ser caracterizado pela sua componente multidimensional, uma vez que o desporto se correlaciona com os sistemas social, económico, político, cultural e de saúde das sociedades modernas. Costa (1997, p. 13) define o desporto de uma forma holística, sendo por isso uma das definições que melhor se identifica com os assuntos que aqui irão ser debatidos, uma vez que enquadra o desporto enquanto um fenómeno social total, como sendo parte integrante de um sistema mais amplo. Como fenómeno social total, de natureza e funcionamento simbólicos, e perfeitamente integrado na realidade social concreta, o desporto é capaz de todos os investimentos sociais e de representar simbolicamente a sociedade, tanto no seu funcionamento global, como nas suas vertentes mais diversas. (Costa,1997, p.13)
Costa (1992) apresenta-nos a ideia de que o desporto moderno nasceu com a sociedade capitalista industrial, sociedade esta que se centra na economia, através dos princípios da eficácia, rendimento e progresso. Através de um olhar (mais) antropólogo sobre o desporto, é possível constatar que esta proximidade com a sociedade capitalista tem influência direta naquilo que são as bases estruturais do desporto moderno, uma vez que a eficácia, o rendimento e o progresso estão claramente presentes na busca intrínseca pela conquista, pela vitória, desejo de se superiorizar em relação ao adversário. O mesmo autor (idem 1992) defende que o desporto, sendo um produto da sociedade capitalista industrial, reflete também a própria imagem da sociedade, uma vez que partilha com ela, não só, a sua estrutura de funcionamento, como acima já foi referido, bem como as suas crises e contradições e também os seus sonhos e a suas esperanças. Na sociedade capitalista o desporto moderno (Costa 1992) ou desporto espetáculo (Sérgio, 2014) ganham uma dimensão muito mais competitiva, uma vez que esta vertente se começou a alargar para outros campos que não somente o campo desportivo. Deparamo-nos então com uma crescente proximidade do desporto ao campo económico e político, seja através da obtenção de lucros, da legislação ou até mesmo do controlo das massas. O Desporto tem ainda o poder de promover alterações sociais em termos éticos e de justiça. A importância sobre a intemporalidade destes aspetos sociológicos do desporto não é de agora, Bourdieu (1978) através das suas reflexões em Sociologia do Desporto, caracteriza o sistema do campo social do desporto como um campo que inclui as instituições privadas ou publicas que defendem os O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
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interesses e regulam e governam as práticas dos participantes nos diversos desportos, os produtores e vendedores de equipamentos de desporto, os serviços necessários à prática do desporto, incluindo os sistemas de treino e educação desportiva e os sistemas de distribuição ligados ao desporto. Esta reflexão visa demonstrar o carácter multidimensional que desporto possui, uma vez que passou a ser visto como um produto sociedade capitalista, que integra um sistema complexo de comercialização e de mediatização em todos os seus aspetos. Resultado disso, o desporto deixou de ser jogado somente dentro de campo, passando a ser jogado também nos “bastidores”. A visão de Sousa (2015) vai ao encontro do que acima foi referido uma vez que caracteriza a comercialização do desporto da seguinte forma:
Desde logo, porque o desporto e, de forma perigosamente excessiva, o futebol, que, como réplica do capitalismo libertino vigente, se mercantilizou quase, se não mesmo, a raiar a obscenidade. E, sabemos bem que quando entram em jogo tão astronómicas somas associadas à vitória, esta converte-se num absoluto, que há que obter a todo o custo, falseando-se a verdade desportiva, o fair play e negligenciando-se a ética. (Sousa,2015, p. 22)
A própria Comissão Europeia, através do Livro Branco do Desporto (2007, p. 6) reconhece que o desporto moderno é confrontado com novas ameaças e desafios emergentes na sociedade europeia, como a pressão comercial, a exploração dos desportistas jovens, a dopagem, o racismo, a violência, a corrupção e o branqueamento de capitais. Neste sentido, e infelizmente para a verdade desportiva, é muito comum virem a público escândalos de corrupção e jogos combinados, relacionados com apostas ilegais de agentes de jogadores, dirigentes de clubes e até mesmo dos próprios jogadores. As preocupações das entidades reguladoras do desporto incidem também nas questões de propriedade, gestão e controlo dos clubes, a indisciplina financeira, os custos salariais e a organização e gestão das próprias autoridades desportivas. O Conselho Europeu tem vindo a realizar já há algum esforços para mitigar os problemas que afrontam o desporto, resultado disso foi a divulgação da Declaração de Nice5 (2000), documento pretende dotar todos os agentes desportivos (jogadores, dirigentes, presidentes, voluntários e adeptos) de linhas orientadores que fomentem a função social do desporto e que regulem, de forma universal, a função económica do mesmo. Apesar de todo os esforços das entidades responsáveis, a conotação mercantil do desporto continua a ganhar impacto junto das massas, na medida em que, segundo o Livro Branco do Desporto (2007, p. 20), publicado pela Comissão Europeia, parte crescente do valor económico do desporto está
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http://www.idesporto.pt/ficheiros/file/Declaracao_Nice_Desporto_2000.pdf
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ligada aos direitos de propriedade intelectual. Estes direitos dizem respeito aos direitos de autor, às comunicações comerciais, às marcas registadas, aos direitos de imagem e aos direitos de transmissão audiovisual. Foquemos a nossa atenção para o impacto que o marketing desportivo tem junto dos praticantes/consumidores. Este tem vindo a dar provas de que é capaz de atrair e mobilizar massas significativas de praticantes/consumidores, quer seja para a participação em organizações e eventos desportivos, quer seja para o consumo de produtos ligados ao desporto. Miranda (2011) através do seu artigo “O Desporto como Mito e o Conceito de Inclusão Social (…)”, faz uma associação bastante pertinente entre o conceito de mito e o consumo de artigos desportivos. A essência do mito, de acordo com Lévi-Strauss (1958, p. 232), é "a história que aí está contada". Não se trata de uma história qualquer, mas sim de uma história que é percebida como "mito por todo leitor no mundo inteiro". Tratando-se de uma história que está a ser contada, o mito, segundo Miranda (2011), tem a capacidade de fazer o individuo esquecer a realidade social em que vive e passar a viver, talvez subconscientemente, num mundo imaginário em que ele se realiza e em que possivelmente será um herói. Estas histórias ou narrativas contadas pelos mitos através da publicidade transmite a ideia de que, com o uso de um determinado artigo, o individuo terá mais facilidade em chegar perto deste mundo imaginário. As grandes marcas mundiais de produtos desportivos tendem a contratar figuras desportivas de renome, bem-sucedidas na esfera desportiva, para conseguirem não só, a mediatização da marca, como também passar ao consumidor a ideia de que aquele atleta só alcançou o topo porque usou determinados produtos daquela determinada marca. Adolf Dassler, fundador da marca desportiva alemã Adidas, tinha como principal objetivo divulgar a marca de sua empresa junto do mundo desportivo. Para isso acontecer, ele fez com que os melhores atletas e as melhores equipas usassem seus produtos através de contractos de patrocínio muito vantajosos para ambas as partes, fazendo assim com que os outros atletas e equipas também estes produtos quisessem vir a usar. Esta estratégia de promoção de produtos apoia-se na ideia do mito, uma vez que em muitos dos casos estas figuras desportivas bem-sucedidas são oriundas de contextos frágeis e desestruturados e em que o seu passado em nada se pode comparar com o seu presente. Os atletas oriundos destes contextos têm um maior impacto juntos do público, Teixeira, A. & Mendonça, J. (2016, p.7) referem isso mesmo dizendo que: «Embora a identificação com as vedetas desportivas seja frequentemente efémera, ela é suficiente para instituir um modelo de êxito social. Mais eficaz, ainda, quando o herói desportivo partilha com os seus apoiantes a mesma origem social.». A ideia que está expressa nos anúncios desportivos em que as celebridades provêm destes contextos, é a ideia da superação, sendo que o talento e a perseverança do atleta são aliados ao uso de
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determinado produto de uma determinada marca desportiva. É transmitida a ideia de que esta fusão cria condições para que o desportista, outrora um jovem oriundo de um contexto desfavorável e à partida com poucas oportunidades para singrar tanto na vida como no mundo desportivo, se possa vir a tornar um dos melhores desportistas do mundo. Olhemos para um caso que nos é tão familiar, o caso de Cristiano Ronaldo, jogador português, capitão da seleção nacional, jogador de uma das equipas mais prestigiadas do mundo, a Juventus FC, eleito por diversas vezes o melhor jogador do mundo e distinguido por inúmeros prémios internacionais pelas suas conquistas desportivas, também ele cresceu num dos bairros mais pobres da Ilha da Madeira, enfrentando inúmeras carências durante a sua infância. Hoje em dia, aparentemente, Ronaldo conseguiu superar todas as adversidades e construir uma carreira de sucesso que todos nós tão bem conhecemos e sobre a qual lhe atribuímos todo o mérito. De acordo com revista FORBES6, Ronaldo é o atleta mais bem pago do mundo, auferindo anualmente cerca de 82 milhões de euros, divididos entre salários (52 milhões de euros por ano – Real Madrid e Seleção Nacional de Portugal) e contractos publicitários (30 milhões de euros por ano – NIKE que é a que tem maior valor, Herbalife, MEO, entre outros.) Quando Ronaldo e todos os outros “super-atletas” dão a cara por uma determinada marca, subsequentemente os anúncios poderão estar a originar mecanismos profundos de exclusão social, uma vez que nem todos os consumidores têm poder de compra para adquirem determinado produto. Se um jovem é constantemente alvo destes anúncios, poderá acabar por desenvolver o desejo de adquirir o produto em causa, e em muitos dos casos os jovens não têm capacidade financeira para fazer essa aquisição, o que pode originar, em situações extremas, situações de criminalidade ao nível de roubos ou até mesmo da contrafação do produto. À semelhança do que aconteceu/acontece com a Adidas, com Cristiano Ronaldo, também a NIKE adotou esta estratégia para tentar salvar a marca depois de ter mergulhado numa crise de vendas face às acusações de exploração de trabalhadores nas fábricas de produção de calçado da marca na Coreia do Sul, Vietname, Indonésia e China como Klein (1999) faz referência. Fazendo frente a esta realidade, e de acordo com Klein (1999) a Nike recorreu aos bairros pobres da cidade de New York e começou a direcionar os seus produtos para os jovens negros e latinos pobres,
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https://www.forbespt.com/listas/os-maiores-desporto-mundial/?geo=pt
Data da publicação 6 de outubro, 2017. Autor Chris Smith. Consultada a 13/03/2018
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passando uma ideia de emancipação das camadas mais pobres, utilizando a imagem de atletas afroamericanos bem-sucedidos, como é o caso de Michael Jordan7. Klein (1999) no seu livro “SEM LOGO, A Tirania das Marcas num Planeta Vendido”, afirma o seguinte: “Para a Nike, os seus Air Jordans de 150 dólares não são calçado, mas sim uma espécie de talismã com o qual os jovens pobres podem sair do gueto e melhorar a sua vida”. Outro dos problemas que este tipo de propaganda vem acentuar, é a questão da ilusão e da consequente desilusão sentida pelos próprios jovens consumidores, uma vez que os anúncios demonstram que é possível singrar na vida desportiva através do talento e especialmente através do consumo/uso do produto. Mas, na verdade, as razões do sucesso são bem mais complexas. Para alcançar o estatuto de profissional desportivo é necessário que haja uma combinação muito forte de diversos fatores, tais como o talento, a perseverança, as condições de treino/trabalho; o acompanhamento profissionalizado de quem dá o treino ou potencia o atleta, bem como o fator sorte. Nos dias que correm, devido à concorrência feroz dos adversários, é normal que um clube crie condições para que estes fatores se alinhem e que permitam por isso que um atleta se desenvolva até ao expoente máximo da sua capacidade humana. Na maioria dos casos os jovens atletas, enquanto consumidores, confrontam-se com esta perigosa ilusão que os pode levar para o caminho do individualismo e do excesso de competitividade, mantendo os indivíduos num limbo de frustração, desespero e de desilusão quando não conseguem “conquistar o seu lugar ao sol”. Esta preocupação é identificada e caraterizada por outro autor da seguinte forma:
(…) temos uma individualização da questão, cabendo aos jovens, por meio dos seus esforços e talentos, galgarem o seu espaço, uma vez que todos teriam condições de alcançar o sucesso desportivo, bastando a dedicação. A premissa parece ser a de que aqueles que não lograram sucesso talvez não se tenham dedicado o suficiente. (Melo, 2005, p.78) Tal preocupação remete-nos de novo para Ryan (1971) e para a sua obra sobre a culpabilização das vítimas, responsabilizando nette caso concreto, os jovens pelo seu fracasso. Esta questão tem um tremendo impacto junto de jovens em situação de risco, jovens esses que serão caracterizados mais à frente nesta dissertação, uma vez que esta situação de fracasso e frustração poderá vir a trazer consequências para o acentuar dos processos de exclusão social
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Michael Jordan é considerado um dos melhores basquetebolistas de todos os tempos. Ganhou o apelido de Air (ar) Jordan, por
causa da maneira como “voava” até ao cesto para fazer afundanços. Terminou a carreira como jogador em 2013. Fonte: http://www.laparola.com.br/michael-jordan
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Violência no Desporto O desporto dito moderno, é-nos apresentado como um espetáculo mediático capaz de aproximar e movimentar massas em redor de uma modalidade ou de uma equipa. Contudo, esta visão atual do desporto, tanto é capaz de promover a aproximação de indivíduos tornando-os parte integrante de um grupo, como também de promover e incitar o ódio e a violência entre diferentes grupos rivais, não fazendo distinção entre idade, género, raça ou etnia. Neste sentido o desporto, enquanto fenómeno social, acaba por sofrer com toda esta mediatização económica em seu redor. Para além da crise económica, este impacto observa-se através da profunda crise de valores com que sociedade contemporânea se depara. Elias & Dunning (1992) caracterizam o desporto da seguinte forma: é uma atividade emocionante no marco de uma sociedade escassamente emocionante. A emoção e excitação, por exemplo, que se pode viver na partida do fim-de-semana, tanto por parte dos seus membros como dos próprios espectadores, contrastam com a monotonia da vida durante o resto dos dias de trabalho. (Elias & Dunning,1992, p. 48)
Souza (2015, p. 22), partilha uma ideia semelhante quando refere que o desporto se ampara entre uma indispensável e óbvia dose de jogo/diversão e uma dose adequada de luta e competição. Desporto é uma combinação exaltante de razão e paixão. Estes sentimentos de emoção, excitação e paixão, quando são experienciados em excesso podem resultar na criação de problemas sociais complexos, nomeadamente a violência no desporto, quer seja entre praticantes e/ou dirigentes, quer seja entre espectadores. Dunning (1992, p. 356) classifica a violência no desporto, e em concreto no futebol, da seguinte maneira: “As desordens dos fãs do futebol, que passaram a designar-se pela etiqueta de «hooliganismo do futebol», enquanto forma de comportamento, constituem algo de complexo e de multifacetado.” Sousa (2015) caracteriza o hooliganismo da seguinte forma: (…) o holiganismo, por exemplo, consubstancia uma modalidade de violência, manifestamente parasitária do fenómeno desportivo, sobretudo do futebol e que se caracteriza, desde logo, por esse comensalismo mediático, aproveitando o impacto global do evento desportivo, mas igualmente pelo teor gratuito, fruitivo das próprias manifestações de violência – uma violência ritualizada, exibicionista, narcísica. (Sousa,2015, p. 21)
A crise de valores no desporto não se resume somente à questão da violência levada a cabo pelo holiganismo ou por grupos de adeptos emocionalmente descontrolados, prende-se também com o facto
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de afetar diretamente os clubes, algo mais profundo e complexo e que em muitos dos casos não está visível aos olhos dos espectadores. Fala-se então do clima de suspeição que é levantado em torno das vitórias e em torno das conquistas. A corrupção sempre atuou paralelamente junto ao universo do desporto, algo que já foi referido no primeiro momento desta dissertação, contudo o que é importante trazer agora para a discussão, é exatamente o efeito provocado por essa corrupção, ou hipotética corrupção (em muitos dos casos). Este fenómeno tem-se vindo a propagar um pouco por todo o mundo desportivo, nomeadamente ao nível do futebol. A europa tem vindo a ser alvo de sucessivos episódios que em momento algum glorificam o desporto. Marivoet (2009), através do seu estudo publicado em Configurações Revista de Sociologia, faz referência a este clima de suspeição, afirmando o seguinte: A violência que se foi manifestando no desporto português, em especial nos jogos de futebol, sugere o aumento da tensão dos jogos decorrente da intensificação da competição desportiva, mas também o agravamento das desconfianças em torno da justiça assegurada nos campeonatos. (Marivoet 2009, p. 5-6)
Este clima de instabilidade e desconfiança, especialmente em Portugal tem um vasto número de protagonistas socialmente apontados como culpados, mas não necessariamente reconhecidos judicialmente como tal, englobando adeptos, jogadores, treinadores, dirigentes desportivos, meios de comunicação social, entre muitos outros. Todos eles de uma forma ou de outra tiram proveito deste clima de instabilidade sob a justificação de aos poucos irem enfraquecendo os seus rivais. À semelhança de Portugal, também a Grécia8 tem tido alguns problemas ao longo dos últimos anos face a acusações e investigações sobre possíveis esquemas de viciação de resultados, contudo no caso grego a situação saiu mesmo do controlo das autoridades que regulam o desporto e a sociedade, o que tem vindo a causar graves confrontos entre adeptos rivais e entre as forças policiais do mesmo país. Este ano de 2018, o campeonato grego tem vindo a ser marcado por episódios de violência extrema, dentro e fora dos recintos desportivos e ameaças à integridade física dos próprios protagonistas, nomeadamente para com os jogadores e treinadores. O episódio mais grave aconteceu no passado mês de março (2018), de acordo com o Jornal The Guardian, quando Ivan Savvidis9, presidente do Paok Salonika10 invadiu o relvado durante o jogo para
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Noticia 14 março 2018: “O Futebol grego está â beira do precipício”. Fonte: Diário de Noticias
https://www.dn.pt/desporto/interior/fifa-diz-que-futebol-grego-esta-a-beira-do-precipicio-9186459.html https://www.theguardian.com/football/2018/mar/12/greek-football-match-stopped-after-team-owner-invades-pitch-with-a-gun
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Clube profissional que milita na primeira liga de futebol grega.
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pedir justificações ao árbitro por este ter anulado um golo da sua equipa perto do fim do jogo, golo esse que daria o empate à formação do PAOK. Se esta situação já seria considerada grave, mais grave se tornou quando todos se aperceberam no local e os espetadores através da transmissão televisiva que o presidente entrou no relvado com uma pistola à cintura com o intuito de intimidar o árbitro. Foi posteriormente retirado do relvado pelos seguranças do recinto e o árbitro terminou de imediato o jogo. Mais tarde, já no balneário, o árbitro viria a alterar a sua decisão, validando o golo e confirmando essa alteração no relatório escrito do jogo. Este episódio teve um impacto muito forte no mundo desportivo, levando a UEFA a atuar, e de acordo com o The Guardian11, o campeonato grego foi suspenso desde então e foi aplicada uma punição que interdita o Ivan Savvidis de entrar em recintos desportivos por um período de 3 anos. Após este tipo de acontecimentos é de extrema importância que haja momentos de reflexão, seja eles em público ou em privado por todos os intervenientes que compõe o mundo do desporto. Adeptos, jogadores, árbitros, presidentes, dirigentes, meios de comunicação social e sobretudo, os decisores políticos, têm de averiguar a multidimensionalidade do problema. É fundamental para perceber os motivos para a ocorrência de tais episódios, as condições em que ocorreram, a maneira mais ou menos eficaz com que todos os elementos em redor lidaram com a situação, de que forma é que se pode consciencializar e preparar todos os intervenientes de modo a que estes episódios deixem de ocorrer, atuando assim numa ótica preventiva e formador. Estes não são problemas ou atos isolados, pelo que têm vindo a acontecer com maior frequência um pouco por todo o mundo, e em especial na Europa como vimos anteriormente. É preciso que haja políticas públicas, regras e advertências capazes de alterar o paradigma atual do desporto. A emergência de se criar espaços de reflexão e de regulação legislativa para combater os comportamentos desviantes que tanto afligem o desporto não é de agora, Marivoet (2006), refletia que: Os factos parecem apontar para uma tendência na mobilização das instâncias políticas no estabelecimento de espaços de concertação com vista à definição de compromissos, bem como de acções legislativas que lhe atribuem poderes de fiscalização, prevenção e sanção dos actos que colocam em causa os princípios éticos consagrados. (Marivoet, 2006, p. 17)
Existem várias medidas governamentais e não governamentais que direcionam a sua intervenção para o combate desta esta crise de valores sociais, através da utilização do desporto como catalisador
https://www.theguardian.com/football/2018/mar/29/greek-club-president-ivan-savvidis-banned-stadiums-three-years-gun-incidentpaok-salonika-aek-athens 11
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para a mudança social, refletindo muitas vezes as suas preocupações face ao aumento de casos de violência no desporto. Tal como já antes ficara expresso na publicação da Comissão Europeia através da publicação do Livro Branco sobre o Desporto (2007) manifesta a sua preocupação acerca da violência no desporto, referindo o seguinte: A violência que acompanha certos eventos desportivos, nomeadamente nos campos de futebol, continua a ser preocupante e pode assumir formas diferentes, tendo se deslocado do interior dos estádios para o exterior e passado a afetar zonas urbanas. (Comissão Europeia, Livro Branco sobre o Desporto,2007, p. 15)
Partilhando das mesmas preocupações, também o Plano Nacional de Ética no Desporto (PNED) direciona a sua missão para o combate à visão simplista e mercantil do Desporto trazendo-o, de novo, para a esfera da sua verdadeira essência: dotar o processo e a educação e formação dos jovens de uma caraterística de natureza humanista e única. O PNED afirma também que a “prática desportiva deve contribuir para a formação e desenvolvimento integral do cidadão, incluindo a aprendizagem e desenvolvimento dos princípios da ética, fundamentais ao exercício da cidadania, para a diversidade e inclusão social.” O atual panorama do desporto é o espelho da sociedade contemporânea, refletindo uma ausência de valores sociais, deixando de ser um espaço social em que através do ócio e do lazer se apelava à participação, à cidadania ativa, ao respeito pelo outro e aos princípios da diversidade e da inclusão social junto dos cidadãos. Pior do que esta ausência de valores, é a propagação e propaganda que é feita assente em valores opostos, em linhas de pensamento e de atuação extremistas que põe em causa o equilíbrio social, uma vez que incentivam a segregação dos grupos, apelando ao ódio e à violência. O desporto moderno tem vindo a dar origem a problemas complexos e objetivo desta breve crítica passou por referir alguns deles. Seja a violência no desporto, seja a pressão do marketing desportivo sobre os jovens, seja a viciação de resultados, a corrupção financeira, todos estes problemas afetam direta e indiretamente a sociedade em geral, o que fará com que a linha que separa a inclusão e a exclusão de pessoas na sociedade seja cada vez mais ténue. Isto irá por sua vez acentuar os processos de exclusão social de pessoas desfavorecidas e manter os problemas sociais ainda mais complexos, como a pobreza e a criminalidade, entre outros.
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Caracterização da Exclusão Social de Jovens em Risco Exclusão e Inclusão social O desporto visto como uma metodologia que promove a inclusão social de jovens em risco, permite que a sua intervenção seja ampla ao ponto de ser capaz de atuar em vários eixos estratégicos, estando inerente a essa intervenção vários conceitos que se tornam fulcrais de definir a fim de que se possa compreender como se processa todo este processo. Irei focar a próxima análise na definição de conceitos basilares com o conceito de Inclusão Social, o de Exclusão Social assim como trazer para a discussão a caraterização de Jovens em Risco. Comecemos então por analisar o conceito de Exclusão Social recorrendo a autores conceituados, assim como a várias perspetivas sobre o mesmo conceito. De acordo com o Relatório Conjunto sobre a Inclusão Social (2003) a exclusão social carateriza-se por ser: um processo através do qual certos indivíduos são empurrados para a margem da sociedade e impedidos de nela participarem plenamente em virtude da sua pobreza ou da falta de competências básicas e de oportunidades de aprendizagem ao longo da vida, ou ainda em resultado de discriminação. Este facto distancia-os de oportunidades de emprego, rendimento e educação, bem como das redes e atividades sociais e das comunidades. Têm pouco acesso a organismos de poder e decisão e sentem-se, por esse motivo, impotentes e incapazes de assumir o controlo das decisões que afetam as suas vidas quotidianas. (Relatório Conjunto sobre a Inclusão Social,2003, p. 9)
Para Lopes (2006) e de acordo com a citação acima referida, a exclusão social está na maioria das vezes associada a um campo de causalidade bastante complexo e multidimensional, podendo ir desde a falta de competências básicas até às questões da discriminação. Estivill (2003) faz também referência ao caráter multidimensional da exclusão social afirmando que esta é: processo acumulativo e pluridimensional que afasta e inferioriza, com ruturas sucessivas, pessoas, grupos, comunidades e territórios dos centros de poder, dos recursos e dos valores dominantes (...). As manifestações de exclusão estão relacionadas, portanto, com a ideia de processo. (Estivill,2003, p. 39)
Tendo a exclusão social um caráter multidimensional, importa então que estes sejam apresentados, como tal, Bruto da Costa (2008) profere a ideia de que existem várias dimensões da
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exclusão social e de que também várias “exclusões sociais”, sendo ela de tipo económico, social, cultural, de origem patológica ou por comportamentos autodestrutivos. Relativamente à dimensão da exclusão social de tipo económico, Bruto da Costa (2008) identifica a pobreza, quanto à de tipo social, o mesmo autor identifica a rutura dos laços sociais como é exemplo do caso do isolamento de idosos. Quanto à dimensão da exclusão social de tipo cultural o autor identifica a rejeição ou discriminação de minorias étnicas. A exclusão social de tipo patológico pode ser causada por distúrbios mentais assim como a exclusão social por comportamentos autodestrutivos pode ter origem no consumo descontrolado de álcool e no consumo de drogas. Estivill (2003) apresenta-nos uma definição mais ampla na medida em que estabelece uma caracterização da exclusão através dos circuitos de privação, como podemos ver em seguida: A exclusão tem uma base material relacionada com a falta de meios de subsistência, não sendo apenas produto da diferenciação social. São os circuitos de privação, as desvantagens acumuladas, o que caracterizam a exclusão. As origens familiares, um nível de escolarização baixo, nulo ou deficiente, uma formação profissional escassa ou reduzida, a falta de trabalho, o trabalho precário ou sazonal, uma alimentação deficiente, vencimentos reduzidos, uma habitação inadequada ou em más condições, estado de saúde debilitado e doenças crónicas ou repetitivas, a falta de prestações sociais e sem acesso aos serviços públicos, entre outros, costumam ser os elementos mais evidentes destes circuitos empobrecedores. (Estivill,2003)
Castel (1998, citado por Marivoet 2016) caracteriza a exclusão social como uma forma de desfiliação, resultado da perda de participação na atividade produtiva associada ao isolamento relacional, considerando ainda que vulnerabilidade social é uma zona intermediária instável, que conjuga a precariedade do trabalho com a fragilidade dos suportes de proximidade e de apoio. Em suma, conclui-se que a exclusão social é um processo, e posteriormente um produto, que faz com que os indivíduos sejam colocados à margem da sociedade, ficando impedidos de ter o acesso a oportunidades e serviços de qualidade que lhes permitam romper o ciclo de pobreza. Este circuito de privação alarga-se à dificuldade em encontrar um emprego estável, condições básicas de vida (alimentação, saúde e habitação), níveis de escolaridade entre outros. Para que se consiga romper o ciclo de exclusão social é necessário que se dê origem a um processo inverso, capaz de reconstruir ou criar novos laços de modo a que os indivíduos excluídos socialmente possam integrar o tecido social. De acordo com o Relatório Conjunto sobre a Inclusão Social (2003) a inclusão social caraterizase por ser:
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um processo que garante que as pessoas em risco de pobreza e exclusão social acedem às oportunidades e aos recursos necessários para participarem plenamente nas esferas económica, social e cultural e beneficiarem de um nível de vida e bem-estar considerado normal na sociedade em que vivem. Asseguralhes, pois, uma participação acrescida no processo decisório que afeta as suas vidas e o acesso aos seus direitos fundamentais. (Relatório Conjunto sobre a Inclusão Social – 2003, p. 9)
O processo de inclusão social passa por criar oportunidades e ambientes favoráveis para que os indivíduos, até então excluídos, tenham acesso às estruturas económicas, sociais e culturais que regulam a sociedade. As medidas de promoção da inclusão passam muitas das vezes por serem respostas de programas institucionais de encontro com a exclusão social (Lopes, 2006, p. 22) e propostas de melhoria de capital humano por meio da educação, do treino e de empregos de melhor qualidade (Mazza, 2005, p. 183).
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Jovens em Risco Os conceitos de exclusão e inclusão social estão sempre interligados uma vez que a inclusão é a resposta ao problema da exclusão e nesse sentido é importante adequar o processo de inclusão às necessidades da população-alvo. Neste sentido é preciso clarificar o tipo de população-alvo de acordo com os objetivos desta investigação, sendo pertinente trazer algumas considerações acerca da população de Crianças e Jovens em Risco. Segundo o artigo 3.º12 da Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo o conceito de crianças e jovens em risco define-se da seguinte forma: «A intervenção para promoção dos direitos e proteção da criança e do jovem em perigo tem lugar quando os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda de facto ponham em perigo a sua segurança, saúde, formação, educação ou desenvolvimento, ou quando esse perigo resulte de ação ou omissão de terceiros ou da própria criança ou do jovem a que aqueles não se oponham de modo adequado a removê-lo.». A mesma lei considera que uma a criança ou o jovem está em perigo quando se encontra numa das seguintes situações: a) está abandonada ou vive entregue a si própria; b) sofre maus tratos físicos ou psíquicos ou é vítima de abusos sexuais; c) não recebe os cuidados ou a afeição adequada à sua idade e situação pessoal; d) é obrigada a atividades ou trabalhos excessivos ou inadequados à sua idade, dignidade e situação pessoal ou prejudiciais à sua formação ou desenvolvimento; e) está sujeita, de forma direta ou indireta, a comportamentos que afetem gravemente a sua segurança ou o seu equilíbrio emocional; f)
assume comportamentos ou se entrega a atividades ou consumos que afetem gravemente a sua saúde, segurança, formação, educação ou desenvolvimento sem que os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda de facto se lhes oponham de modo adequado a remover essa situação.» De acordo com a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens
(CNPDPC) existem duas situações fundamentais a atender aquando se procede o diagnóstico de algum caso, sendo que existem as situações de risco e as situações de perigo. Entende-se então, segundo a CNPDPC, situações de risco como situações que “revelam um perigo potencial para a concretização dos direitos da criança (e.g.: as situações de pobreza)”, embora não tenham alcançadas o elevado grau de probabilidade de ocorrência que o conceito legal de perigo encerra. Na mesma ótica, uma situação de perigo ocorre quando existe uma “manutenção ou a agudização dos fatores de risco (…) na ausência de fatores de proteção ou compensatórios”. Neste sentido na maioria
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dos casos quando os fatores considerados de risco não forem mitigados através das estratégias de intervenção primárias e secundárias, a situação tende em agravar-se ao ponto de ser considerada uma situação de perigo para a criança ou jovem. A Direção Geral de Saúde (2011) procede a uma definição muito sucinta dos conceitos de risco e de perigo, indo de encontro com as definições acima referidas da CNPDPC: O RISCO, sendo um conceito mais lato que o de perigo, diz respeito à vulnerabilidade da criança/jovem vir a sofrer de maus tratos. O PERIGO, que adquire um sentido mais concreto, corresponde à objetivação do risco. (Direção Geral de Saúde, 2011, p. 10)
Em relação às situações que classificam a criança ou o jovem como estando numa situação de risco, estas são pluridimensionais ao nível das tipologias de risco/perigo. De acordo com o Guia Prático de Abordagem, Diagnóstico e Intervenção - Maus Tratos Em Crianças E Jovens da autoria da Direção Geral de Saúde, existem várias tipologias, entre as quais a negligência (incluindo nesta tipologia o abandono e a mendicidade), o mau trato físico, o mau trato psicológico/emocional e o abuso sexual. A negligência, e segundo este guia prático, define-se pela “incapacidade de proporcionar à criança ou ao jovem a satisfação de necessidades básicas de higiene, alimentação, afeto, educação e saúde, que são consideradas indispensáveis para o crescimento e desenvolvimento adequados”. O mau trato físico é caraterizado por qualquer ação ou comportamento não acidental realizado pelo responsável educacional da criança, sendo que esta ação possa ser isolada ou repetida, e que de alguma resulte em danos físicos na criança ou jovem, como por exemplo hematomas, fraturas ou cortes, etc. O mau trato psicológico é uma ação ou um comportamento que incide contra o bem-estar e o equilíbrio emocional da criança ou jovem, resultando assim na quebra ou na inexistência de laços afetivos e de proteção, originando situações de isolamento social, transtorno psicológicos e em muito casos tendências suicidas, face às pressões psicológicas de que as crianças e os jovens são sujeitas. O abuso sexual dá-se quando um adulto satisfaz as suas necessidades sexuais envolvendo-se com uma criança. Por norma, estas situações são muito difíceis de diagnosticar aquando dos primeiros abusos, revelando-se na maioria dos casos atos de abuso contínuo e que vão tendo impacto prejudicial ao nível físico e psicológico a curto, médio e longo prazo na vida das vítimas. De acordo com o Guia Prático de Abordagem, Diagnóstico e Intervenção - Maus Tratos Em Crianças E Jovens da autoria da Direção Geral de Saúde as situações de abuso sexual são extremamente difíceis de diagnosticar numa fase inicial devido estádio de desenvolvimento em que se encontra a criança, inibindo esta de ter capacidade de perceber que está a ser vítima de abuso ou então, em caso de perceção desse mesmo abuso, não ter capacidade de o nomear como abuso sexual. O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
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Importa agora perceber como é que as crianças e jovens em situação quer de risco, quer de perigo podem ser apoiadas, de forma a que os seus direitos como seres humanos possam vir a ser salvaguardados. De acordo com o site oficial da Segurança Social e especificamente na área informativa acerca de Crianças e Jovens em Situação de Perigo, é definido como prioridade a promoção dos direitos e da proteção das crianças e jovens em risco, de modo a que se proporcione um ambiente equilibrado e seguro. As estratégias de intervenção têm o seu objetivo assente no desenvolvimento pessoal e social destas crianças e jovens. Existem por isso, e de acordo com a mesma entidade, várias respostas sociais para salvaguardar a qualidade de vida de crianças e jovens. Sendo elas as seguintes:
a) Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental (CAFAP) É uma resposta desenvolvida para dar acompanhamento a famílias com crianças e jovens. Esta intervenção é assente nas bases da prevenção e da preparação da família para situações de risco através do desenvolvimento de competências parentais, pessoais e sociais das famílias.
b) Equipa de Rua de Apoio a Crianças e Jovens É uma resposta que visa apoiar crianças e jovens em rutura familiar e social, estando inseridos num contexto de risco por via de comportamentos desviantes e que não estejam a receber qualquer apoio institucional. Um dos principais objetivos desta resposta passa por realizar uma prevenção primária da toxicodependência e de comportamentos desviantes assim como um eventual encaminhamento para estruturas de rede existentes para promover a inserção social.
c) Acolhimento Familiar É uma resposta direcionada para crianças e jovens em situação de perigo em que a sua guarda é entregue a uma família ou a uma pessoa singular capaz de proporcionar um ambiente saudável ao desenvolvimento de uma criança. Esta medida de promoção e proteção é aplicada apenas quando a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens ou o Tribunal assim a declara. Um dos principais objetivos desta resposta passa por retirar a criança ou o jovem de um ambiente de risco e recolocá-la/o num ambiente saudável visando assim a sua integração em meio familiar.
d) Centro de Acolhimento Temporário
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É uma resposta social que tem por base a medida de promoção e proteção de crianças e jovens e que atua através do acolhimento urgente e temporário dos mesmos. O período de acolhimento nestes centros nunca (em teoria) poderá exceder os seis meses. Um dos principais objetivos desta resposta passa por assegurar alojamento temporário a crianças e jovens em risco/perigo, concedendo-lhes o direito ao usufruto de um ambiente seguro e saudável, enquanto que paralelamente se elabora o diagnóstico da criança ou jovem em causa, traçando as eventuais estratégias de intervenção que a posteriori serão implementadas.
e) Lar de Infância e Juventude É uma resposta social que tem por base a medida de promoção e proteção de crianças e jovens e que atua através do acolhimento por um período superior a seis meses destas mesmas crianças. Um dos principais objetivos desta resposta passa por proporcionar condições que permitam proteger e promover a segurança, saúde, formação, educação, bem-estar e desenvolvimento integral da criança ou jovem. É fundamental para que se garanta a bem-estar familiar entre a criança e a família, que haja uma sólida articulação os responsáveis técnicos do LIJ e os familiares.
f) Apartamento de Autonomização É uma resposta social que consiste na inclusão de jovens, com idade superior a 15 anos, em apartamentos inseridos numa localidade, cujo objetivo passa por promover a sua autonomização e a transição para a vida adulta. Em 2017, através da Lei n.º 23/2017 de 23 de maio, procedeu-se a alteração importante na legislação, uma vez que a lei prevê o alargamento do período de proteção concedido a um jovem, passando o limite de apoio e acompanhamento de 21 anos para 25 anos.
a pessoa com menos de 18 anos ou a pessoa com menos de 21 anos que solicite a continuação da intervenção iniciada antes de atingir os 18 anos, e ainda a pessoa até aos 25 anos sempre que existam, e apenas enquanto durem, processos educativos ou de formação profissional (…). Neste sentido, o alargamento do período de tempo de intervenção e acompanhamento destes jovens vai permitir que a intervenção seja feita de forma mais continuada e sustentada, permitindo aos jovens em causa que consigam terminar o processo de fortalecimento pessoal que lhes deverá facilitar o processo de reinserção social. Processos de Inclusão Social de Jovens Em Risco Educação Não Formal e o Empowerment
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Uma vez que esta dissertação tem como objetivo principal realizar uma investigação sobre quais os contributos do desporto para a inclusão social de jovens em risco, torna-se essencial estabelecer uma articulação entre os jovens em situação de risco e estratégias de intervenção que se afastam, de forma conceptual, dos formalismos utilizados pela Segurança Social através das políticas sociais do Estado. Atentamos então para a importância que o terceiro sector tem na facilitação dos processos de inclusão social desta tipologia de crianças e jovens. Comecemos por uma breve contextualização sobre o terceiro sector, sector este que começou a ser introduzido nas reflexões políticas em meados da década de 1970. Segundo Ferreira (2013) o terceiro setor está intimamente ligado às discussões sobre o estadoprovidência no sentido de clarificar o papel do estado e o papel da sociedade civil na integração e no bemestar das populações. A mesma autora define de forma clara e objetiva o terceiro setor, como um conjunto de organizações e iniciativas da sociedade civil que, uma vez que não pertence ao Estado, produz bens e serviços e que, sendo privadas, não têm fins lucrativos (Ferreira, 2009). Evers e Laville (2004) posicionam o terceiro setor numa parte central de um triângulo cujos vértices são o mercado, o Estado e a comunidade, articulando e agilizando as relações entre estes três vértices através das suas organizações. Importa trazer para a discussão, uma reflexão sobre as principais divergências entre estes três vértices, e diz o seguinte: as ONGs sabem que nem o Estado nem o mercado são capazes de produzir o máximo de bem-estar para todos na medida em que se organizam e atuam na lógica da excludência e da perpetuação das desigualdades. As ONGs querem democratizar o mercado (…) e o Estado (…) Elas não têm vocação do estado, não compartem a obsessão por lucros do mercado, não substituem os actores sociais do mundo presente. (Souza, 1991, p. 8)
O terceiro setor emerge numa altura em que o estado providência estava numa profunda crise que o impossibilitava de ter capacidade de resposta para as necessidades da comunidade. Nesse sentido, e com o objetivo claro de colmatar essa falha, o terceiro setor, através das suas instituições começou a ter um peso maior no que diz respeito às repostas sociais. Ferreira (2009) identifica algumas destas instituições do terceiro sector, caracterizando-o através de «(…) a uma grande variedade de iniciativas, como organizações de caridade, associações, fundações, grupos de autoajuda, iniciativas populares de base, redes e movimentos sociais, mutualidades, cooperativas, empresas sociais e outras.» Além das diferentes formas das organizações do terceiro setor, todas elas possuem diferentes características: O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
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Estas podem referir-se a características organizacionais – como o carácter privado, a ausência de finalidades lucrativas, o objetivo de beneficiar a comunidade ou os seus membros, o seu carácter autogovernado e voluntário e o seu grau de organização formal – ou a racionalidades ou valores específicos – solidariedade, participação democrática, enraizamento local. (Ferreira, 2009)
Uma caraterística fundamental das organizações do terceiro sector é a pluralização e hibridização dos seus recursos, sendo este capaz de recorrer à utilização de recurso variados entre os quais, e de acordo com Evers (1995) se destacam os financiamentos públicos ou privados, vendas e fundos próprios, quotas e o capital social. Este último, o capital social, que é visto como recurso cívico e comunitário, presente nas relações entre os indivíduos e nas comunidades com o objetivo de criar bem-estar social. O capital social é também visto como um catalisador para a mudança, para a criação de redes, para a promoção da solidariedade, para compromisso com a causa, entre outro. Estes recursos são potencializados pelo terceiro setor através das suas metodologias diferenciadoras de intervenção, na medida em que é dado especial destaque à participação cívica da população, permitindo assim o envolvimento e responsabilização da mesma na resolução dos problemas sociais. As metodologias de intervenção do terceiro setor caracterizam-se por se afastarem daquilo que carateriza intervenções do Estado e do Mercado, uma vez que recorrem à educação não formal e ao empowerment para gerar condições para que seja possível a ocorrência de uma mudança social. Ao longo dos próximos parágrafos cada um destes conceitos irá ser definido, sendo também especificadas as características de cada um deles. Comecemos então pelo conceito de educação não formal, sendo ele um conceito difícil de definir pois não existe uma consensual opinião relativamente ao seu significado. Esta dificuldade de definição do conceito preside na inevitável comparação entre aquilo que é a educação não formal e aquilo que é a educação formal. O Memorando de Aprendizagem ao Longo da Vida13, serve de mote para dar início ao debate sobre os métodos de aprendizagem e os seus consequentes efeitos na sociedade, fazendo referência à importância da oferta diversificada destes mesmos métodos. A motivação individual para aprender e a disponibilização de várias oportunidades de aprendizagem são, em última instância, os principais fatores para a execução bem-sucedida de uma estratégia de aprendizagem ao longo da vida. É essencial aumentar a oferta e a procura de oportunidades de
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Comissão Europeia (2000) - https://infoeuropa.eurocid.pt/files/database/000033001-000034000/000033814.pdf
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aprendizagem, principalmente para os que menos beneficiaram de ações educativas e de formação. Todas as pessoas deveriam ser capazes de seguir percursos de aprendizagem da sua escolha, em vez de serem obrigadas a trilhar caminhos pré-determinados conducentes a destinos específicos. Implica isto, simplesmente, que os sistemas de educação e formação deverão adaptar-se às necessidades e exigências individuais e não o contrário. (Comissão Europeia, 2000, p.9)
Neste sentido, importa desde o início clarificar o conceito de educação formal de uma forma muito clara e sucinta, na medida em este se prende com um caráter rígido e avaliativo, geralmente associado a um contexto institucional escolar ou de formação. Uma vez que este conceito possuí um carácter avaliativo, é recorrente que haja uma certificação institucional da aprendizagem. Gadotti (2005), carateriza a educação formal da seguinte forma: A educação formal tem objetivos claros e específicos e é representada principalmente pelas escolas e universidades. Ela depende de uma diretriz educacional centralizada como o currículo, com estruturas hierárquicas e burocráticas, determinadas em nível nacional, com órgãos fiscalizadores dos ministérios da educação. (Gadotti, 2005)
Na tentativa de criar alternativas à burocratização e rigidez do sistema de aprendizagem formal, começaram a ser introduzidos os conceitos de educação informal e educação não formal. De acordo com Gohn (2014) a educação informal prende-se com aquela que os indivíduos aprendem ao longo do seu processo de socialização, ocorrendo esta em espaços sociais e em locais como a igreja, espaços culturais, clubes desportivos, entre outros. Para Pinto (2005, p. 3) a definição de educação informal vai ao encontro da definição de Gohn acima referenciada, na medida em que esta se define como «(…) tudo o que aprendemos (…) a partir do meio em que vivemos: das pessoas com quem nos relacionamos informalmente, dos livros que lemos ou da televisão que vemos, da multiplicidade de experiências que vivemos quotidianamente com mais ou menos intencionalidade (…)». Por sua vez, a educação não formal é caracterizada por Gadotti (2005) da seguinte forma: A educação não formal é mais difusa, menos hierárquica e menos burocrática. Os programas de educação não-formal não precisam necessariamente seguir um sistema sequencial e hierárquico de “progressão”. Podem ter duração variável, e podem, ou não, conceder certificados de aprendizagem. (Gadotti,2005)
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Outra perspetiva sobre a educação não formal parte de Gohn (2001), que esclarece o conceito da seguinte maneira: Aborda processos educativos que ocorrem fora das escolas, em processos educativos da sociedade civil, ao redor de ações coletivas do chamado terceiro setor da sociedade, abrangendo movimentos sociais, organizações nãogovernamentais e outras entidades sem fins lucrativos que atuam na área. (Gohn ,2001, p. 32)
A educação não formal é vista como a aprendizagem que o indivíduo procura realizar ao longo da vida, sob forma de completar a sua aprendizagem pessoal e social, estando ela relacionada com os processos de partilha de experiências em grupo, nos movimentos sociais, nos programas de formação sobre os temas dos direitos humanos, da cidadania, da luta contra as desigualdades sociais, entre outros. Todos estes espaços sociais de partilha de experiências e de convivência permitem uma ampliação da ação de educar e de aprender, na medida em que está aqui em causa um processo de formação, de emancipação, de humanização pela via da cidadania ativa, de uma melhor convivência na sociedade entre indivíduos, que a instituição escola, por via da educação formal, parece não estar a alcançar. Sob o mesmo ponto de vista, para Luís Castanheira Pinto (2005), o conceito de educação não formal relaciona-se intrinsecamente com a ideia do desenvolvimento de saberes e competências dos indivíduos. Este processo de aprendizagem engloba valores sociais e éticos, apresentado como exemplos, os direitos humanos, a tolerância, a promoção da paz, a justiça social, a cidadania democrática, entre outros. Gohn (2014) caracteriza a forma de atuar da educação não formal como um conjunto de práticas socioculturais de aprendizagem e produção de saberes, que envolve organizações/instituições, atividades, meios e formas variadas, assim como a multiplicidade de programas e projetos sociais. Estas definições permitem-nos desde já perceber algumas diferenças entre os conceitos, nomeadamente a questão da burocratização e da rigidez da educação formal em relação à flexibilidade da educação não formal, livre de processos avaliativos e em teoria, menos dependente de uma formulação hierárquica. Relativamente à diferença entre a educação não formal e a informal, esta encontra-se assente no princípio da intencionalidade, ou seja, na educação não formal a maioria dos indivíduos têm uma intencionalidade na realização da ação, uma vez que à priori possuem uma vontade, tomam posteriormente a decisão de realizá-la, procurando os caminhos e os procedimentos para tal ação (Gohn 2014, p. 40). Todos estes autores têm perspetivas que se aproximam e em todas estas definições há uma ideia consensual que posiciona a educação não formal como uma metodologia familiar ao terceiro setor. Esta
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proximidade ao terceiro setor por parte da educação não formal, está presente através de atividades, projetos e programas de cariz social levados a cabo por organizações sem-fins lucrativos, associações, movimentos sociais, entre tantas outras formas de intervenção caraterísticas do terceiro setor. Esta ligação da educação não formal ao terceiro setor é formalizada por Nogueira (2007) quando afirma que Existem, pois, hoje, em Portugal, os Terceiros Lugares Educativos e um Terceiro Sector, por excelência locais de educação não formal ou informal. Foram se aperfeiçoando nas duas últimas décadas, com especial incidência nos anos 90, dando respostas organizadas e alternativas ao sistema formal de ensino, no âmbito da Educação Formação. Recolocaram também a questão da participação cívica e introduziram o debate na territorialização da educação, desenvolvimento local, direitos humanos, solidariedade social e outros. (Nogueira, 2007, p.12)
Para Gohn (2014, p. 42), a ideia de que as várias formas de educação se devem articular é defendida quando a autora afirma que «(…) jamais um cidadão se forma apenas com a educação não formal.» Na mesma linha de pensamento Cavaco (2002, pág. 27) afirma que a «valorização das modalidades educativas não-formal e informal, como complementares da educação formal». A educação não formal pode então ser vista como uma forma de completar o ciclo de aprendizagem do indivíduo, tirando assim partido dos aspetos positivos de cada forma de educação. A educação não formal pode servir também para resolver os conflitos e promover a educação formal, com base nos projetos sociais, de modo a que o indivíduo melhore o seu rendimento enquanto aluno. Contudo e para que isso aconteça, é fundamental que haja um conhecimento e uma articulação eficaz dos princípios da educação formal e não formal entre os agentes promotores. Esta articulação potencia a criação de redes colaborativas de ação junto dos movimentos sociais, criando assim sinergias fundamentais para que o impacto destas aprendizagens seja cada vez mais eficaz. Em suma, podemos classificar a educação não formal como um processo metódico, de cariz voluntário (na medida em que existe intencionalidade na participação) e onde a aprendizagem não é sujeita a avaliação nem a uma “escada” de níveis de aprendizagem. Esta aprendizagem tem como foco a formação e a capacitação do indivíduo, por meio da aprendizagem de habilidades e/ou desenvolvimento das suas potencialidades, voltadas para a cidadania e para a ética com o objetivo de colocar os indivíduos no centro do processo de resolução dos seus próprios problemas sociais. Para além da educação não formal, existem outras metodologias educativas utilizadas na intervenção social, como é o caso do empowerment.
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A abordagem ao empowerment será feita na perspetiva da intervenção social, atuando junto de crianças e jovens em risco, delegando-lhes assim o poder e a autonomia para que sejam capazes de participar ativamente na resolução dos seus problemas. Originalmente utilizado na área da gestão empresarial, o empowerment começou a ser utilizado pela intervenção social como um gerador de mudança social da década de 70, através do trabalho social nos Estados Unidos da América (Simon, 1994). O empowerment era visto no mundo corporativo como uma ferramenta de transmissão de poder e de autonomia por parte dos gestores para os trabalhadores, de modo a que estes últimos pudessem participar na resolução de problemas e no desenvolvimento de novas ideias, afim de melhorar a produtividade da empresa (Rodrigues & Kovaleski, 2015). A tradução real de empowerment para a língua portuguesa é a de “empoderamento”, sendo que o próprio dicionário (Priberam) apresenta o seu significado como: “Ato ou efeito de dar ou adquirir poder ou mais poder” (in Dicionário Online Priberam). Neste sentido, a ideia central do conceito de empowerment passa por delegar ou receber poder e autonomia. O conceito de empowerment não reúne grande consenso, existindo diversas linhas de pensamento e autores assim como tais diversas áreas em que o empowerment pode ser utilizado. Isto para dizer que provavelmente a única característica que é comum a todas as linhas de pensamento é mesmo a questão de dar poder a alguém, o ato de empoderar. Sendo o que mais importa para o debate é a perspetiva da intervenção social, o empowerment não se pode resumir meramente ao ato de dar poder a alguém. No mínimo, o mais importante não é dar o poder a alguém, mas sim a capacitação e a emancipação de alguém a utilizar esse mesmo poder. Para Pinto (1998, p. 247), o empowerment é caraterizado por “Um processo de reconhecimento, criação e utilização de recursos e de instrumentos pelos indivíduos, grupos e comunidades, em si mesmos e no meio envolvente, que se traduz num acréscimo de poder – psicológico, sociocultural, político e económico – que permite a estes sujeitos aumentar a eficácia do exercício da sua cidadania” Nesta perspetiva o empowerment é um processo que visa o acréscimo de poder, partindo da ideia de que todos os indivíduos que integrem estruturalmente a sociedade detém já algum poder, seja a nível social, económico ou politico. A linha de pensamento de Friedmann (1996, p. 8) vai ao encontro ao que acima foi dito na medida em que interpreta o empoderamento como “todo acréscimo de poder que, induzido ou conquistado, permite aos indivíduos ou unidades familiares aumentarem a eficácia do seu exercício de cidadania”. O empowerment está associado a uma mudança social através da perspetiva da participação cívica, uma vez que se espera que uma mudança no individuo possa vir a desencadear uma mudança do mesmo na sociedade, quer seja a nível social, comunitário ou político.
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No seguimento desta perspetiva, Costa (2002, p.7) define o empowerment como um “mecanismo pelo qual as pessoas, as organizações e as comunidades tomam controlo dos seus próprios assuntos, da sua própria vida e do seu destino, consciencializando-se da sua habilidade e competência para produzir, criar e gerir”. Friedmann (1996) apresenta-nos o empowerment dividido em três níveis, o social, o político e o pessoal. O empowerment pessoal vai ao encontro do despertar da consciência em relação à autonomia da pessoa e do seu desenvolvimento pessoal. Esta é uma das caraterísticas do empowerment, servindo por isso para a valorização e motivação dos indivíduos em se tornarem agentes de mudança. Em forma de conclusão, podemos considerar o empowerment no campo social como processo e um resultado de transformação e emancipação do indivíduo enquanto ser singular e como elemento da sociedade, tratando-se, portanto, de todo aquele acréscimo de poder que o indivíduo adquire e que lhe permite chegar mais próximo das tomadas de decisão através de uma democracia participativa. Não há coerência alguma em utilizar o empowerment como uma metodologia individualista, na medida em que o objetivo de empoderar um individuo é torna-lo capaz de utilizar esse poder para bom proveito da sociedade. Pinto (2001, p. 260), considera que esta democracia participativa “implica o envolvimento direto e ativo na tomada de decisões que dizem respeito à comunidade, e mesmo na sua execução, por parte de todos os elementos da comunidade.”. Umas das definições que melhor aproxima o empowerment às questões do trabalho social é a de Villacorta e Rodríguez (2003), que o caracterizam como: um processo de construção e/ou ampliação das capacidades que têm as pessoas e grupos pobres para: assumir o controlo dos seus próprios assuntos; produzir, criar, gerar novas alternativas, mobilizar as suas energias para o respeito dos seus direitos; mudar as suas relações de poder; obter controlo sobre os recursos físicos, humanos e financeiros e também, sobre as ideologias (crenças, valores e atitudes); poder discernir como escolher; levar a cabo suas próprias opções. (Villacorta e Rodríguez,2003, p. 47)
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Contributo do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
Raros são os fenómenos sociais que têm o impacto que o desporto tem na sociedade. O desporto, no geral, tem uma abrangência de grande escala através das suas potencialidades, contudo, o desporto que se pretende aqui valorizar é visto como um prolífico campo de possibilidades de resposta no que diz respeito às questões educativas, culturais e de saúde da sociedade contemporânea. Mais concretamente, o desporto tem uma relação muito direta e frutuosa com as questões da aprendizagem e da educação, no sentido de que o rigor do treino, bem como toda a versatilidade dos seus métodos, permite que os jovens estimulem a lógica do pensamento e o raciocínio enquanto se desenvolvem como indivíduos e atletas. O rigor do treino assume desde logo uma hierarquização, quanto mais não seja pela delegação de papéis, o foco central está nos treinadores e educadores, bem como nos principais protagonistas, os jogadores. Um dos motivos que leva a crer que o desporto é um poderoso mecanismo de reinserção de jovens em risco na sociedade, prende-se com o facto desta hierarquização, na maioria dos casos, ser fácil de ser respeitada. Santos (2010, p. 3), defende esta ideia em torno do desporto e do desenvolvimento físico e intelectual dos jovens, referindo ainda que este tipo de atividades “físicas e mentais que favorecem a sociabilidade e estimulando as reações afetivas, cognitivas, sociais, morais, culturais e linguísticas.” Entendamos então o Desporto, tendo por base a Carta Europeia do Desporto (2001, Ap. Livro Branco sobre o Desporto, 2007, p. 2), como “todas as formas de atividade física que, através da participação ocasional ou organizada, visam exprimir ou melhorar a condição física e o bem-estar mental, constituindo relações sociais ou obtendo resultados nas competições a todos os níveis”. O Livro Branco sobre o Desporto (2007, p. 2), da responsabilidade da Comissão das Comunidades Europeias, que faz a apresentação da atualidade e dos desafios na área do desporto, afirma que “o desporto é um fenómeno social e económico crescente, que contribui de forma importante para os objetivos estratégicos de solidariedade e prosperidade da União Europeia”. Importa ressalvar nas definições anteriores, a referência ao contributo do desporto para as relações sociais, sendo considerado em muitas ocasiões como um pacificador e unificador de povos em situação de conflito. Mais ainda, e segundo o mesmo documento, O Livro Branco sobre o Desporto (2007, p. 3) refere que “as instituições europeias reconheceram a especificidade do papel que o desporto, cujas estruturas se baseiam no voluntariado, desempenha na sociedade europeia, em termos de saúde, educação, integração social e cultura”. O desporto deve proteger e desenvolver a resistência, a força, a velocidade, a flexibilidade, etc., ou seja, todas as capacidades físico-motoras. Mas não te limites à corporeidade, enquanto contexto biológico. Também estás inserido num O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
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clube, ou numa escola e fazes parte de uma equipa. Depois, o desporto continua terra virgem de uma nova teoria ética, de um novo sentido da responsabilidade. Quando o sucesso e a vitória se exprimem tão-só em números, o desporto transforma-se de certo num universo concentracionário, onde se salvam as estruturas materiais, o lucro, a arrogância dos adeptos facciosos e, muitas vezes, se perdem os homens. (Sérgio, 1994, p. 35)
Este pequeno excerto contempla aquilo que é a visão ampla do desporto, bem como todas as suas potencialidades. O filósofo e professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana e Provedor para a Ética no Desporto, Professor Doutor Manuel Sérgio, remete-nos para a ideia de que o desporto tem um papel fundamental no processo de construção não só do (ou de cada) atleta, mas mais importante ainda, na construção do individuo. Esta construção do individuo faz-se através das aprendizagens que este adquire nos mais diversos momentos da sua vida, permitindo o desporto a aquisição de novas aprendizagem e apetências e valores que estão inerentes à sua prática. Mais importante do que um individuo se saber enquadrar de acordo com os regulamentos e as consequentes regras desportivas, é estar consciente do lado humano, emotivo e social de todos os participantes do jogo, sejam eles adversários, colegas de equipa, treinadores, dirigentes, árbitros, adeptos, etc… Huizinga (2000), remete-nos para esta harmonia entre as regras do jogo e as relações sociais, referindo que: jogo é uma atividade ou uma ocupação voluntária, praticada dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente aceites, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão, alegria e de uma consciência de ser diferente da «vida quotidiana» (Huizinga,2000, p. 24).
Após esta análise mais subjetiva sobre as potencialidades desta harmonia entre o respeito pelas regras do jogo e pelas normas sociais, é tempo agora de refletir mais concretamente como é que o desporto pode contribuir para a inclusão social de jovens em risco.
O desporto como meio de formação da condição humana, promotor e corporizador da transcendência e da excelência reclama a presença do outro, exige a integridade, a heroicidade, a humanidade, intima ao estado de se ser bom no mais alto grau. O que urge ao desporto são valores, formação, pessoas O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
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humanas e excelência, porquanto a aliança entre o conhecimento e a educação boa é um imperativo no combate à letargia, à mesquinhez, ao egoísmo, à indiferença e à desconsideração. O desporto como possibilitador da ascensão do homem ao absoluto, ao ilimitado, carece de pessoas humanas formadas com valores de elevação. Bento, 2014, p. 16)
O Livro Branco sobre o Desporto (2007, p. 2) posiciona o desporto como um catalisador de mudança social e um potenciador de valores importantes, como o espírito de equipa, a solidariedade, a tolerância e a competição leal (fair play), contribuindo assim para o desenvolvimento e a realização pessoais.
Promove
a
contribuição
ativa
dos
cidadãos
comunitários
para
a
sociedade
e,
consequentemente, a cidadania ativa. O Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), e através da sua publicação Código de Ética Desportiva (2014) faz referência a uma lista ainda mais detalhada destes valores, referindo então que existem: valores que, pela sua natureza, são inerentes à prática desportiva, nomeadamente: o respeito pelas regras e pelo adversário, árbitro ou juiz; o fair play ou jogo limpo; a tolerância; a amizade; a verdade; a aceitação do resultado; o reconhecimento da dignidade da pessoa humana; o saber ser e estar; a persistência; a disciplina; a socialização; os hábitos de vida saudável; a interajuda; a responsabilidade; a honestidade; a humildade; a lealdade; o respeito pelo corpo; a imparcialidade; a cooperação e a defesa da inclusão social em todas as vertentes. (IPDJ, 2014, p. 10)
Estes valores transversais à prática desportiva e à vida em sociedade contribuem também a para uma participação ativa dos cidadãos na sociedade, na medida em que os jovens fazendo uso desses valores, os disseminam nas suas mais diversas tarefas. Tarefas estas que se podem traduzir não só no modo como simplesmente cada jovem é enquanto cidadão/ã na sua vida do dia a dia, mas também pelo papel que os jovens desempenham ou podem vir a desempenhar em associações recreativas e desportivas amadoras, nomeadamente na organização de dinâmicas educativas, de competições desportivas ou até mesmo na realização de projetos sociais. Sendo estas associações desportivas amadoras, organizações ou clubes maioritariamente sem fins lucrativos, os jovens realizarão a sua intervenção na base do voluntariado, trazendo-lhes assim mais competências e conhecimentos inerentes à sua prática. O voluntariado assume-se assim como uma forma de contribuir para a sociedade de forma intencional. O Voluntariado é definido pelo art.º 2º. do Decreto Lei nº71/98 de 3 de novembro em Diário da República Portuguesa, como um “conjunto de ações de interesse social e comunitário, realizadas de forma O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
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desinteressada por pessoas, no âmbito de projetos, programas e outras formas de intervenção ao serviço dos indivíduos, das famílias e da comunidade, desenvolvidos sem fins lucrativos por entidades públicas ou privadas” Ao longo de todo este processo encontramos, na maioria das situações, processos claros e objetivos de educação não formal. Neste sentido, e de alguma forma para justificar esta ideia, importa trazer de novo para a discussão um dos conceitos de educação não formal, anteriormente já debatido, e que diz o seguinte: Aborda processos educativos que ocorrem fora das escolas, em processos educativos da sociedade civil, ao redor de ações coletivas do chamado terceiro setor da sociedade, abrangendo movimentos sociais, organizações nãogovernamentais e outras entidades sem fins lucrativos que atuam na área. (Gohn,2001, p. 32)
A Carta Internacional da Educação Física e do Desporto da UNESCO (21 de novembro de 1978) considera a relação do desporto com a educação um complemento à educação formal e institucional, assumindo através do artigo 2/ 2. que: a educação física e desporto, como dimensões essenciais da educação e da cultura, devem desenvolver habilidades, força de vontade e autodisciplina em todos os seres humanos, como membros plenamente integrados na sociedade. A continuidade da atividade física e a prática de desporto devem ser assegurados por toda a vida, por meio de uma educação ao longo da vida, integral e democrática. (UNESCO,1978)
É através desta perspetiva cívica, democrática, educativa de longo prazo do desporto que surgem oportunidades de respostas a problemas sociais, como é o caso da exclusão social de jovens em situação de risco, conceitos esses também já caraterizados anteriormente nesta dissertação. Neste sentido, muitas são as organizações do Terceiro Setor que executam projetos sociais capazes de fazer face ao problema da exclusão utilizando mecanismos de educação não formal. Os projetos sociais que utilizam o desporto, assim como outras áreas mais dinâmicas, através de metodologias de capacitação e valorização das competências cívicas dos jovens em situação de risco, têm vindo a surgir cada vez mais, sendo que esse aumento muito se deve à especial atenção dada a estas práticas por parte dos programas de financiamento comunitários Considera-se fundamental que para que um projeto educativo através do desporto consiga atingir os objetivos a que anteriormente se propôs, este recomenda-se que seja construído e implementado de
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acordo com as especificidades de cada população, como nos indica o Livro Branco do Desporto (2007, p. 14) “há que ter em conta as necessidades e a situação específica dos grupos sub-representados e o papel especial que o desporto pode representar para os jovens”. Os projetos sociais assentes na ideia educativa do desporto e que atuem com jovens em contexto de risco, podem vir a ter um impacto fundamental no percurso de vida dos mesmos (PNED,2014). Para que não haja confusões conceptuais, importa definir e diferenciar desde já o conceito de inclusão no desporto do conceito de inclusão pelo desporto. Marivoet (2016, p. 198) considera por inclusão social no desporto, «a existência real de igualdade de oportunidades no seu acesso, constituindo boas práticas a promoção da prática desportiva generalizada, e a presença de pessoas tendencialmente excluídas na sociedade no exercício das atividades dirigentes e técnicas, i.e., que não seja exercida discriminação no acesso a estes cargos por motivos raciais, étnicos, religiosos, deficiência, género, orientação sexual, classe social ou outros.» Assim, os projetos sociais que recorram ao desporto como uma metodologia de intervenção junto de crianças e jovens em risco, terão que ter sempre como fundamento principal que o desporto deve ser para todos e que todos devem ter acesso ao mesmo. Em coerência com a posição defendida por Marivoet (2016), o Livro Branco do Desporto (2007, p. 16) refere que em nenhum momento este acesso pode ser negado em função do sexo, raça, idade, deficiência, religião, convicções e orientação sexual, bem como do meio social ou económico de origem. Relativamente ao conceito de inclusão social através do desporto, este remete-nos, segundo Marivoet (2016) «para o desenvolvimento de competências pessoais, sociais, motoras ou outras, capazes de produzir empowerment junto dos grupos-alvo em intervenção, em que as boas práticas se dirigem à promoção do desporto formativo, isto é, privilegiando os princípios éticos do desporto e valores associados junto de crianças e jovens em meio escolar ou em situações de risco de discriminação». O desenvolvimento de todas estas competências visa gerar uma mudança de comportamentos na vida dos jovens, promovendo mudanças significativas a nível individual, a nível social, a nível da saúde, a nível educacional e até mesmo a nível profissional. Mais se indica que «o Desporto tem o potencial para fomentar o desenvolvimento das qualidades físicas, morais e sociais que perduram para a vida.» (Gonçalves, 2014, p.92)14. A aquisição de competências e desenvolvimento de outras através da educação não-formal neste tipo de projetos permite aos jovens um crescimento emocional específico, uma vez que o desporto potencia o sentimento de pertença e permite que os jovens interajam com outros na mesma situação em que eles se encontram, realizando assim uma produtiva aprendizagem pelos pares. Estas relações interpessoais
14 Gonçalves, C. in Renaud, M. (org.) (2014). Ética e Valores no Desporto. Edições Afrontamento.
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permitem que os jovens contruam outras amizades que não apenas aquelas que estão dentro do seu meio mais próximo. Ao nível pessoal, o desporto confere um contributo importante nas questões da autoconfiança, da valorização do indivíduo perante si mesmo e perante os outros. De todos os princípios que o desporto potencia no domínio pessoal, destacam-se a autoestima, a ética, a perseverança, a humildade, tolerância e transcendência (Renaud,2016)15. A transcendência é definida como o ato que leva um indivíduo a superar-se a si mesmo, a transcender-se e é vista como o elo de ligação que une o desporto com a vida ética (idem,2016). O desporto revela-se essencial para o fortalecimento mental individual e vai ter um contributo fulcral na superação das vicissitudes da vida destes jovens no futuro, não esquecendo que são, na maioria dos casos, jovens fragilizados emocionalmente pelos seus passados (potencialmente) traumáticos. Deste modo, o esforço de se superar a si próprio, a aceitação dos próprios limites, a aceitação do outro e da sua eventual superioridade, a humildade necessária para este efeito, o sentido de confraternização com a tolerância amiga que implica, a disciplina do caráter com o domínio sobre si próprio, o gosto pela iniciativa, a assunção de um risco cujo o excesso deve ser evitado, o fair play nos encontros, a recusa a priori da violência, eis um conjunto de «excelências» da ação que fazem do desporto um meio de formação e de crescimento ético. Renaud (2016, p.120)
Ao nível social, o desporto visa reforçar os laços entre os jovens, jovens estes que se encontram na mesma situação de vulnerabilidade, mas que pertencem a diferentes instituições, bairros ou associações geograficamente distantes. Os projetos sociais que utilizam o desporto como uma metodologia, na sua maioria tomam em atenção as questões da interação dos jovens permitindo que haja uma aproximação dos mesmos, seja através de competições desportivas, de formações, workshops ou viagens de estudo. Renaud (2016, p.120) aponta que desporto têm um impacto relevante no individuo ao nível social, uma vez que «Na confraternização que se forja nas atividades desportivas, as pessoas vivem uma solidariedade que, em geral, transborda para os outros setores da vida quotidiana.». Uma das mais valias do desporto é que este fomenta o sentimento de presença, permitindo aos jovens um maior sentido de união em torno da causa. Pouco importa se são colegas de equipa ou adversários, irá prevalecer sempre a ideia de que todos fazem parte do projeto e que todos merecem de igual modo fazer parte dele, independentemente se tem ou não mais capacidade e talento para praticar o
15 Renaud, M. in Teixeira, A. & Mendonça, J. (coord) (2016). Desporto, Ética e Transcendência. Edições Afrontamento
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desporto. A noção de participação permite ainda que os jovens sintam que estão a contribuir para algo, ainda que não tenham a plena consciência disso, mais tarde, em jeito de introspeção, espera-se que venham a perceber que participar num projeto social desportivo é muito mais que praticar desporto. Todas estas questões visam também a prevenção de comportamentos anti sociais e de isolamento destes jovens. Outro dos contributos fundamentais do desporto ao nível da social prende-se que as questões da prevenção dos incidentes de violência e racismo, uma vez que está sempre subjacente, e como anteriormente já foi referido, a ideia de que o desporto é de todos e para todos. O contributo do desporto para as questões da saúde está, de uma forma geral, relacionado com uma melhoria da qualidade de vida dos jovens. O próprio Livro Branco do Desporto (2007, p. 8) faz referência à melhoria da saúde pública, uma vez que desporto contribui para o combate do estilo de vida sedentário, que potencia o excesso de peso, a obesidade e o surgimento de algumas patologias crónicas, como as doenças cardiovasculares e a diabetes, por exemplo. Em termos escolares e académicos o desporto, enquanto metodologia de intervenção junto de crianças e jovens em risco, pode vir a contribuir para a luta contra o abandono escolar precoce, fomentado na íntegra a motivação dos jovens para continuarem a sua formação académica. Na maioria dos casos, os projetos deste tipo aproximam-se do sucesso através de parcerias estratégicas na área da educação, como é o caso das parcerias escolares apoiadas pelo programa Comenius16; como também pelo Programa Leonardo da Vinci17, através do ensino e formação profissional; e por fim pelo Programa Erasmus18, através das suas ações no âmbito da mobilidade de estudantes no ensino superior. Todos estes protocolos académicos e profissionais estão registados no Livro Branco do Desporto (2007, p. 11) como parcerias essenciais para a educação e formação dos jovens através do desporto. Por fim, e não menos importante, o desporto pode vir a ter um impacto fundamental na vida profissional dos jovens uma vez que pode dar a oportunidade, caso sejam reunidas todas as condições de se tornarem atletas profissionais e de alto rendimento, e caso seja esse o seu desejo. Ao longo dos projetos existem seguramente várias atividades de capacitação e formação dos jovens onde se esperar serem adquiridas novas competências, assim como a potencialização das que já existem de modo a que o jovem as possa por em prática na vida profissional futura. Poderão, muitos dos projetos, estabelecer parcerias estratégicas com o mercado de trabalho, um pouco à semelhança dos programas escolares falados no item anterior, de modo a que possam ter oportunidade de entrar no mercado profissional por essa via, quer seja recorrendo a estágios remunerados, regimes part-time ou até mesmo a contrato de trabalho.
16 Programa de intercâmbio europeu para alunos do ensino básico e secundário por um período entre os 3 a 10 meses. Fonte: http://ciedbraganca.ipb.pt/wp/diversos/comenius/
17 Programa de mobilidade transnacional de trabalhadores que visa a realização de estágios fora do país de origem. Fonte: http://www.uc.pt/driic/estGraduados/Guia_candidatura-LdV_BeWISE.pdf
18 Programa de mobilidade para estudantes, formandos, recém-graduados, docentes e profissionais de educação e formação. Fonte: https://erasmusmais.pt/erasmus-ef/acoes-chave#acao-chave-1
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Em jeito de conclusão, deixo aqui um pensamento construído por Bento (2010), que nos remete para a ideia que tem sido defendida até então e que coloca o desporto como um modificador de comportamentos, quer sejam eles ao nível individual ou social e que diz o seguinte: O desporto e todas as outras expressões da cultura humana servem exatamente para isso: para arrancar o homem do estado animal, dos instintos e impulsos primitivos, das formas originárias e arcaicas. Para sublimar a nossa natureza original e, em cima dela, edificar uma condição humana, marcada pela racionalidade, pela técnica, pela arte, pela virtude, pela ética e pela estética, isto é, pela excelência. (Bento,2010, p. 17)
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Estudo de Caso do Projeto Futebol de Rua – Associação CAIS
O Projeto Futebol de Rua é um projeto implementado pela Associação CAIS (Lisboa) desde 2004, e tem vindo a crescer exponencialmente ano após ano, culminando com um aumento significativo de participantes no projeto, assim como o recebimento de prémios e distinções nacionais e internacionais pelo impacto que tem vindo a ter. O Futebol de Rua é um projeto que está inserido num programa internacional, o Football For Hope que é da responsabilidade da FIFA (Fédération Internationale de Football Association), organismo máximo do futebol mundial. através da sua fundação, FIFA FOUNDATION. Neste sentido o Projeto Futebol de Rua responde a dois eixos de intervenção, que irão ser abordados mais à frente de forma mais objetiva, sendo um deles a facilitação do acesso ao desporto e o outro a inclusão social pelo desporto. Desta forma, o projeto pretende promover o acesso ao desporto e igualmente ser um instrumento de capacitação, nomeadamente no que diz respeito ao desenvolvimento de competências pessoais e sociais, indispensáveis à inclusão social, junto de um público-alvo fragilizado. O Futebol de Rua direciona a sua estratégia de intervenção junto deste público-alvo específico, que engloba mulheres e homens com mais de 15 anos de idade que se encontrem em situações de fragilidade social e consequentemente fragilidade habitacional (que residem em centros de acolhimento, internatos, quartos - subalugados ou de pensão, habitações ilegais, habitações degradadas – sem as condições básicas de habitação e/ou habitações, promovendo assim as questões da prática desportiva e da convivência em direitos e igualdade de homens e mulheres. Neste sentido, dentro dos objetivos do projeto, destacam-se:
Promoção da participação e da mudança de cada participante fora do ambiente institucional e de intervenção tradicional;
O desenvolvimento pessoal e a consciência da pertença a um grupo social e dos seus direitos de cidadania, impulsionando novas propostas de vida em sociedade;
O desenvolvimento de competências pessoais e sociais básicas e assertivas, o reforço e restabelecimento de redes de sociabilidade e afetividade;
A partilha de responsabilidades e objetivos, na procura de soluções, oportunidades e instrumentos de promoção e inclusão social. A forte componente socioeducativa do projeto está visível nos objetivos a que o mesmo se propõe
alcançar, contudo o Futebol de Rua também é uma competição desportiva e os seus objetivos, nessa perspetiva, passam também pela promoção da atividade física regular enquanto forma de melhorar a condição física em termos de saúde, bem como a potencialização, sempre que possível, do rendimento desportivo dos participantes.
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Os eixos referidos anteriormente alavancam diferentes tipos de atividades e iniciativas promovidas pelo projeto, consoante os objetivos específicos de cada um deles. Para que se perceba a dimensão do projeto importa definir todas as fases destes eixos, de forma clara e objetiva, de modo a que haja a plena noção de como é que a metodologia é implementada. No eixo do acesso ao desporto, que dá enfase à prática desportiva entre os participantes, destacam-se três tipos de atividades, as competições distritais, as nacionais e as internacionais. Em termos concretos, o programa Football For Hope da FIFA FOUNDATION19, é um programa mundial que atua em vários países, sendo que é necessário que haja uma instituição ou organização do terceiro sector que acolha e implemente o projeto no seu território. No caso concreto de Portugal, o promotor nacional é Associação CAIS desde 2004. Cabe então à CAIS, responsabilizar-se posteriormente em divulgar e implementar o projeto junto de cada distrito que se mostre interessado em se envolver com o projeto. Após a divulgação pelo país, com a ajuda de parcerias estratégicas, a promotora nacional começa a montar uma rede de trabalho com a abertura de candidaturas para se elegerem instituições e organizações que irão ficar responsáveis pelo projeto no seu distrito. Montada a rede de trabalho a CAIS, promotora nacional, inicia um processo de formação aos técnicos das promotoras distritais para que se comece a desenvolver o projeto. Surgem então as competições distritais, da responsabilidade dos promotores distritais e com o apoio da CAIS e são desenvolvidas através da divulgação e consequentemente da criação de equipas desportivas junto de instituições ou organizações sem fins lucrativos daquele determinado território. Estas equipas distritais podem ser constituídas por jovens de um determinado lar de acolhimento ou de um determinado bairro, assim como poderão ser mistas, onde se podem encontrar jovens de vários lares de infância e juventude ou de vários bairros daquele distrito. A par dos 8 jogadores definidos, é ainda obrigatório a inscrição de um técnico da instituição e de um treinador, este último, em muitos casos é um participante do projeto enquanto jogador. Havendo uma lista de equipas, o promotor distrital é responsável pela organização de um torneio entre elas, onde será apurado o campeão distrital. No caso de haver apenas uma equipa no distrito, essa será considerada de imediato campeã distrital passando assim à fase nacional. Terminada a fase de competições distritais, cabe agora à promotora nacional, a CAIS, organizar e promover o torneio nacional, onde apenas estarão presentes os campeões distritais em título e que por sua vez disputam entre si o título de campeão nacional de Futebol de Rua. Após o apuramento do campeão nacional, dá-se início a uma nova fase do projeto, sendo esta, à semelhança do campeonato nacional, da inteira responsabilidade do promotor nacional.
19 Site oficial da FIFA Foundation - https://www.fifa.com/about-fifa/stories/y=2018/m=5/news=fifa-foundation-2951480.html#Foundation_festival
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Nesta fase, é da responsabilidade da CAIS, através da sua equipa técnica e do selecionador nacional, definir uma Seleção Nacional de Futebol de Rua, em que todos os jogadores envolvidos no campeonato nacional são elegíveis para seleção. Esta equipa nacional vai então representar, com todo o orgulho e ambição, Portugal nas provas internacionais. A organização das provas internacionais é da inteira responsabilidade da FIFA FOUNDATION. Estas provas tanto poderão ser Campeonatos Europeus, Campeonatos do Mundo e diversas demonstrações internacionais do futebol de rua. Estas competições internacionais permitem que jovens e adultos em situação de fragilidade socio-habitacional, tenham a possibilidade de representar o seu país fazendo uma coisa que tanto gostam, como é o caso da prática do desporto e em concreto o futebol. Na terminologia do programa internacional, o evento maior, o campeonato do mundo denominase por Homeless World Cup20. O trabalho em rede entre organizações está muito presente na metodologia deste programa uma vez que são os promotores distritais que permitem que haja equipas para a fase nacional, e que por sua vez, as promotoras nacionais permitem que haja equipas para disputar as provas internacionais. Todo este mecanismo é inserido no eixo do acesso ao desporto. Por sua vez, o eixo da inclusão pelo desporto, detém o maior foco de todo este projeto, pois é através de iniciativas paralelas às competições que se conseguem atingir os objetivos educativos do projeto. Neste sentido são promovidas várias iniciativas, compostas por dinâmicas de educação não formal, e que visam o desenvolvimento de competências pessoais e sociais do público-alvo e que resultam de uma forte e heterogénea rede de parceiros, permitindo assim que a intervenção seja o mais multidisciplinar possível. Neste eixo o poder da capacitação e participação ativa dos participantes é fomentada através de uma metodologia baseada na educação não formal de modo a que estas competências possam ser trabalhadas num contexto motivador para os jovens. Dentro destas iniciativas destacam-se três, as Sessões MOVE; Move-te, Faz Acontecer; Curso de Arbitragem através da APAF21. As Sessões MOVE são iniciativas destinadas apenas aos participantes do Distrito de Lisboa, no âmbito da iniciativa MOVE PILOT, promovidas 1 a 2 vezes por semana, e que aliam a prática de futebol à utilização da educação não formal.
20 Site oficial do torneio mundial de futebol de rua - https://homelessworldcup.org/
21 APAF – Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol
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A iniciativa “Move-te, faz Acontecer” já é destinada aos participantes e profissionais de todo o país e que façam parte da rede do projeto. Estas sessões têm uma maior abrangência ao nível do público-alvo e visam sobretudo a promoção do desenvolvimento de competências pessoais e sociais dos participantes através da educação não formal. Esta iniciativa conta com o apoio PNED do Programa Eramus+ Juventude em Ação. O Curso de Árbitro de Futebol de Rua, desenvolvido em parceria com a APAF é destinado a antigos participantes do Projeto Futebol, o que permite que estes continuem a sua ligação ao projeto desempenhando agora outras funções, pois o regulamento de competição do projeto não permite ao participante realizar mais de três participações, sejam elas contínuas ou interruptas, no papel de jogador. Todas estas iniciativas têm o objetivo comum de preparar os jovens para as competições sendo que, por norma, são realizadas pouco tempo antes do início de cada competição. Esta preparação está assente numa perspetiva educativa, que se reproduz através de sessões de sensibilização para condutas violentas, reuniões de reflexão em grupo, dinâmicas e jogos lúdicos, visitas a espaços culturais e de outras atividades propostas pelos jovens. É fundamental que competências como o respeito, a resiliência, a cooperação, o trabalho de equipa, a motivação, a liderança, a superação, o controlo emocional e a comunicação sejam trabalhadas antes das competições para que estas decorram com a maior normalidade possível, evitando assim o risco de comportamentos desviantes em pleno recinto desportivo. O projeto defende a ideia de que todas estas competências são inerentes a uma prática desportiva exemplar e que por sua vez também são transversais à vida em sociedade, o que visa facilitar uma inclusão mais estruturada na sociedade por parte destes jovens. Relativamente ao financiamento a CAIS recebe o financiamento anual ou bianual de vários programas que ajudam a implementar o projeto e a colmatar as despesas organizacionais, sendo que o orçamento médio de execução do projeto é de aproximadamente 100 000 euros anuais. Entre eles, destacam-se o financiamento do Football For Hope – FIFA FOUNDATION; do Programa Nacional de Desporto para Todos da responsabilidade do Instituto Português do Desporto e da Juventude; da Fundação Luso; e do Programa Erasmus + Juventude em Ação. O projeto conta ainda com uma rede de parcerias estratégicas, de protocolos e de contratospatrocínio com várias entidades, recebendo apoio financeiro e logístico nomeadamente do grupo Minipreço/DIA; do Banco Montepio; da BP Portugal; da Fundação Benfica; da Delta Cafés; da Adidas; da Playstation; da RTP22; da RFM23 entre outros. Alguns destes patrocinadores são fundamentais não só para o financiamento do projeto, mas também por integrarem uma nova visão do mesmo, que consiste em criar condições para receber,
22 Rádio e Televisão de Portugal
23 Renascença FM
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contratualmente, os jovens, dando-lhes a possibilidade de entrarem no mercado de trabalho por via do Futebol de Rua. Entidades como a BP de Portugal e o grupo Minipreço/dia fazem parte dessa lista. Relativamente aos resultados do projeto, este é-nos apresentado em números através do seu Relatório Anual, (neste caso) referente a 2017, e consegue-se observar o seguinte:
A envolvência de 16 + 2 equipas a participar no projeto (16 distritos + 2 regiões autónomas)
19 torneios distritais
336 jogos disputados
1161 participantes (jogadores)
410 técnicos e voluntários
121 Instituições
6º lugar na edição 2017 na Homeless World Cup, em Oslo, Noruega. (O torneio contou com mais de 500 participantes em representação de 50 países24.)
124 referências nos meios de comunicação social Em termos de comparação, o igual relatório anual, referente ao ano de 2016 apresenta-nos os
seguintes dados: o Projeto Futebol de Rua já envolveu 922 jogadores, 308 técnicos sociais e treinadores, 68 voluntários, oriundos de 102 equipas, de 98 instituições (in Relatório Anual de 2016). A comparação entre os dois relatórios revela-nos a crescente abrangência do projeto a nível nacional. O impacto social do projeto é feito através da avaliação de cada uma das atividades realizadas de acordo com a aplicação de inquéritos com critérios pré-definidos pela promotora nacional. Também de acordo com o relatório anual de 2017, o projeto teve o seguinte impacto junto dos participantes:
94% dos participantes revelaram aumento da sua motivação
83% dos participantes revelaram aumento da sua capacidade de liderança
89% dos participantes revelaram aumento da sua capacidade de cooperação
88%dos participantes revelaram aumento da sua capacidade empática
92% dos participantes revelaram aumento da sua autoestima
84% dos participantes revelaram aumento da sua capacidade de resiliência
95% dos participantes revelaram aumento do respeito / fair play De acordo com os dados o projeto está a possibilitar, intrinsecamente, mudanças mais profundas
na vida dos participantes, nomeadamente na (re)integração no sistema de ensino, (re)integração no mercado de trabalho, melhoria da situação habitacional. Os inquiridos reconhecem a influência da sua participação no Projeto Futebol de Rua na sua vida em sociedade.
24 https://homelessworldcup.org/oslo-2017/
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Por fim, importa deixar algumas curiosidades sobre o projeto, nomeadamente os prémios e distinções que tem vindo a receber. Em termos de reconhecimento público o Projecto Futebol de Rua foi distinguido, pela sua edição de 2017 com o Prémio Futebol Inclusivo atribuído pela Federação Portuguesa de Futebol e com o prémio UEFA Children Foundation Award, permitindo que o Projeto Futebol de Rua passasse a ser reconhecido como uma referência na Inclusão pelo Desporto em Portugal (Relatório Anual 2017, p. 3). Portugal, através do Projeto Futebol de Rua, sagrou-se campeão europeu de Futebol de Rua em 2016, sendo até então a sua melhor classificação em provas internacionais. Passaram pelo Projeto Futebol de Rua, ainda que numa fase muito jovem das suas vidas, participantes que mais tarde viram a ser jogadores profissionais de futebol, sendo dois dos exemplos maiores, o Éder que conta com passagens pela Académica de Coimbra, Sporting Clube de Braga, Lille (França) e Locomotivo de Moscovo (Rússia) e com internacionalizações pela Seleção Nacional A de Portugal, tendo-se sagrado campeão europeu e marcando o golo da vitória diante da França, em 201625. O outro exemplo é o caso do Bebé26 que cresceu na Casa do Gaiato, de Santo Antão do Tojal, em Loures e que participou no projeto da CAIS, tendo sido convocado para o Europeu de Futebol de Rua em 2009 na Bósnia onde acabou por dar nas vistas. Bebé tornou-se jogador profissional de futebol quando assinou contrato com o Vitória de Guimarães, transferindo-se rapidamente para o Manchester United de Inglaterra onde acabou por não se adaptar. Conta com passagens pelo Besiktas (Turquia) Benfica, Eibar e Rayo Vallecano (ambos em Espanha). Estes dois casos, são vistos como exemplos para todos os miúdos que fazem parte do projeto, contudo, por muito importante que seja ter exemplos concretos com os quais os jovens se podem motivar, o projeto visa acima de tudo potenciar as capacidades pessoais e sociais de cada um, surgindo apenas em segundo plano, e sempre que se reúnam as condições necessárias, a potencialização do rendimento dos jovens enquanto atletas. Este é o grande risco do projeto, uma vez que tem de haver muita ponderação e controlo em relação às espectativas de cada jovem, pois nem todos têm capacidade técnica, tática e física para almejar o patamar do desporto de alto rendimento.
25 https://www.publico.pt/2016/07/10/desporto/noticia/portugal-campeao-europeu-de-futebol-1737897 Data: 10 de julho de 2016. Fonte: Jornal Publico
26 https://desporto.sapo.pt/futebol/la-liga/artigos/bebe-o-gaiato-que-foi-demasiado-cedo-para-o-manchester-united 13 de Abril de 2018. Fonte: Sapo
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METODOLOGIA No âmbito desta investigação, e tendo em conta, não só os objetivos propostos, como também as caraterísticas da amostra e da adequação dos instrumentos de recolha de dados à mesma, esta investigação assume as características de um estudo tipo qualitativo, o que orienta assim todo o processo de estudo face às suas características específicas. Helena Almeida (2011)27 caracteriza a investigação qualitativa como um processo descritivo, substanciado na escrita e/ou nas imagens, afastando-se da mera apresentação de dados numéricos, tão associada à investigação quantitativa. Por sua vez, e em coerência com a autora anterior, Vilelas (2017) aponta a investigação qualitativa como tendo duas características chave, sendo elas a interpretação dos fenómenos e a atribuição de significados, afastando-se também do uso de técnicas e métodos estatísticos, e centranto no trabalho sobre os valores, as crenças, as representações, as atitudes e as opiniões. Outro dos aspetos diferenciadores do método qualitativo é a questão da flexibilidade da investigação, uma vez que permite ao investigador, mesmo durante o decorrer do processo de investigação, direcionar a mesma para aspetos considerados relevantes e que não estavam previstos numa primeira instância. Existem duas perspetivas teóricas de pesquisa que assentam na pesquisa qualitativa, Almeida (2011 - citando Bogdan & Taylor 1986), definia-as como as positivistas e as fenomenológicas. No caso concreto deste trabalho, o tipo a perspetiva teórica de pesquisa centra-se na fenomenologia, na medida em que, de acordo com Almeida (2011), esta assume um caráter descritivo dos fenómenos estudados. Vilelas (2017), defende a mesma ideia, fazendo referência que os estudos tipo qualitativos assumem esse carácter descritivo, considerando ainda o ambiente natural como fonte direta para a recolha de dados A investigação qualitativa assume como objeto do seu trabalho, de acordo com Vilelas (2017), a compreensão da realidade social das pessoas, dos grupos e das culturas. Essa compreensão é considerada uma categoria epistemológica fundamental na investigação qualitativa, sendo feita através da interpretação e da compreensão dos fenómenos, ou seja, dos comportamentos, das perspetivas e das experiências dessas pessoas. De forma a que a recolha de dados sobre esses fenómenos seja mais pormenorizada, o investigador, de acordo com Vilelas (2017) pode observar as pessoas e as interações entre elas, pode
27 Material teórico da unidade curricular Questões Aprofundadas de Investigação - Epistemologia e Perspectivas Teóricas do Método Qualitativo do mestrado em Intervenção Social, Inovação e Empreendedorismo.
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participar nas atividades, pode realizar entrevistas a pessoas consideradas chave para a investigação, pode realizar estudos de caso e recorrer à análise de documentos já existentes sobre o tema em estudo.
Amostra e Instrumentos utilizados Este momento passa por caracterizar a amostra na qual incidiu a investigação, e, por conseguinte, a recolha de dados. Sendo que na grande maioria das investigações, quer sejam elas qualitativas ou quantitativas, o processo de seleção da amostra é fundamental para se atingir os objetivos propostos. Na impossibilidade de utilizar a totalidade da população, tornou-se lógico ter que proceder a este processo de seleção, tendo como objetivo conseguir selecionar uma amostra representativa. Esta amostra representativa corresponde, segundo Vilelas (2017), a uma pequena porção da população total que, ao ser observada e analisada, permite ao investigador tirar conclusões suscetíveis de serem generalizadas, a respeito a um grupo muito circunscrito. Neste sentido, e de acordo com os pressupostos teóricos da investigação qualitativa, recorreu-se à seleção de uma amostra representativa do tipo intencional (Vilelas 2017) ou criterial (Coutinho, 2016). Este tipo de amostra é selecionado através de critérios (Coutinho, 2016) relevantes e definidos pelo investigador, afastando essa seleção do princípio arbitrário. A amostra intencional é característica dos estudos qualitativos uma vez que a possibilidade de garantir as conclusões é maior. Nesse sentido, importa que a seleção da amostra seja feita com base nos participantes que melhor representem ou tenham conhecimento dos fenómenos a investigar (Vilelas 2017). Contudo, e de acordo com o mesmo autor (idem, p.153), este chama a atenção para o facto de que os objetivos dos estudos qualitativos passam pela compreensão e identificação de vivências de realidade múltiplas, pelo que a generalização não é um elemento primordial. Foi então definida a amostra para observação através destes fundamentos teóricos, sendo esta constituída por 5 jovens em situação de risco que estavam a participar atualmente no Projeto Futebol de Rua da Associação CAIS, assim como por 2 técnicos do mesmo projeto. Face à intencionalidade seletiva da amostra, a seleção dos cinco jovens abrangidos pelo projeto foi definida através dos seguintes critérios:
Ter participado em 3 edições do projeto como jogador (o projeto não permite mais de 3 participações como jogador);
Ter regressado ao projeto após a participação como jogador, desempenhando agora outras funções (árbitro, treinador, responsável técnico); A amostra é composta ainda por dois elementos do projeto, sendo eles o coordenador do projeto e a
psicóloga que o acompanha. Sendo a amostra constituída por cinco participantes do projeto e dois técnicos, houve necessidade de criar três guiões de entrevista distintos (ver ANEXO I). Esta multiplicidade
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de recursos humanos no grupo da amostragem, ao nível da função que cada um desempenha, visa permitir que todos os objetivos propostos sejam alcançados. De acordo com Coutinho (2016)28, a composição da amostra num estudo fenomenológico deverá ser feita por cerca de seis elementos, sendo, portanto, considerados suficientes para atingir a saturação dos dados numa investigação do tipo qualitativa. Relativamente aos instrumentos de recolha de dados, estes são considerados mecanismos úteis para a investigação e servem para conhecer os fenómenos e extrair deles a mais completa informação possível (Vilelas 2017, p. 288). A adequada construção dos instrumentos de recolha de dados, segundo Vilelas (2017), é que vai definir a qualidade da investigação e a coerência necessária entre a teoria e os factos analisados. Neste sentido, recorreu-se numa primeira fase à observação científica como instrumento de recolha de dados, na medida em que, e de acordo com Vilelas (2017, p. 291) «observar cientificamente é perceber ativamente a realidade exterior com propósito de obter dados que previamente, forma definidos como de interesse para a investigação». Considerando que, para um estudo qualitativo a observação participante seria o mais aconselhado, no sentido de que o reconhecimento do investigador como “parte do grupo” pela população, permitiria o estabelecimento de uma relação de confiança mais favorável para a realização das entrevistas. Contudo, tive de tomar a decisão de optar por não a fazer uma vez que só consegui estar junto de toda a amostra uma vez. A própria calendarização do projeto só permite a reunião de todos os jovens uma vez em cada ciclo do projeto, mais concretamente no momento do Campeonato Nacional de Futebol de Rua. Não seria possível realizar a observação de outra forma, que não a científica, visto que os indivíduos que constituem a amostra pertencem a várias regiões geográficas, como por exemplo da Região Autónoma dos Açores. Posto esta justificação, a observação científica regeu-se através de critérios que ditam ou põem em causa o sucesso da investigação. Esses critérios são definidos por Vilelas (2017), onde se destacam a coerência da observação com o objetivo do estudo e o relacionamento da observação com conceitos e teorias do enquadramento teórico. A observação científica realizada comprometeu-se a analisar várias modalidades de observação e que de acordo com Vilelas (2017), são o lugar, as pessoas, a ação. O lugar, na medida em que foi observado o local onde se realizou o Campeonato Nacional de Futebol de Rua e onde foi permitido a captação de registo fotográfico. As pessoas, na medida em que o foco da observação se centrou nas pessoas que entram no estudo, observando os seus comportamentos e as suas emoções.
28 Número recomendado para constituir uma amostra de um plano fenomenológico
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A ação, na medida em que se observou as relações interpessoais e os laços de comunicação entre elas. Outro dos instrumentos de recolha de dados utilizados foi a realização de entrevistas, neste caso concreto, a realização de entrevistas semiestruturadas à amostra pré-definida. Este instrumento é composto por combinação entre perguntas abertas e perguntas fechadas, o que possibilita uma maior flexibilidade na condução da mesma, e ao mesmo tempo possibilita ao entrevistado relatar as suas experiências sobre o tema de forma mais espontânea. A aplicação deste instrumento obrigou a que houvesse, para além da preparação prévia e teórica da entrevista através da construção dos guiões para os jovens e para os técnicos (ver ANEXO I) e do consentimento informado para a recolha de dados (ver ANEXO II), um esforço acrescido de modo a que fosse criada uma relação de proximidade entre o entrevistador (eu) e os entrevistados (amostra). Neste sentido, num contexto informal, foram-se criando laços de empatia e confiança entre as partes fora do contexto de entrevista, permitindo assim uma maior naturalidade, veracidade e profundidade nos dados recolhidos. O registo das entrevistas foi feito através do recurso à gravação áudio, tendo sido posteriormente transcritas.
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APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Processamento dos dados Seguindo a investigação uma ordem lógica, assente no rigor e na coerência, é tempo de nos focarmos na fase do processamento de dados, que anteriormente foram recolhidos. Esta fase permite que os dados recolhidos sejam selecionados, analisados e interpretados de forma a que se consiga obter respostas concretas para todas a hipóteses teóricas, levantadas ao longo da investigação. Sendo esta uma investigação qualitativa, os dados serão tratados como informação não quantificada, mantendo assim a sua forma verbal através do uso da técnica de análise de conteúdo. Segundo Vilelas (2017), a investigação qualitativa surgiu nas ciências sociais de modo a que se pudesse interpretar e valorizar dados que não se consigam traduzir em valores numéricos. Neste sentido, a análise qualitativa foca-se na dinâmica social, individual e perspetiva holística do ser humano, permitindo a interpretação dos valores, da cultura e das relações humanas. A análise de conteúdo, técnica usada para o tratamento dos dados desta investigação, é caracterizada, segundo Bardin (2009), como um processo composto por várias técnicas de explicitação, sistematização e expressão do conteúdo das mensagens, que permitem a construção de deduções lógicas e justificadas dessas mesmas mensagens, assumindo assim contornos descritivos. Efetuada a transcrição, procedeu-se à leitura das entrevistas realizadas, pretendendo com isso codificar (salientar, classificar, agregar e categorizar) os excertos mais relevantes das entrevistas transcritas. Essa codificação foi realizada no formato de tabelas de análise de conteúdo. Neste sentido, na coluna Categoria identifica-se o elemento principal de cada pergunta contemplada no guião. Por sua vez, na coluna Subcategoria localizam-se todos os elementos que constituem a coluna Categoria, elementos esses que permitem teorizar a partir dos dados e, desse modo, alcançar as categorias que convergirão para o tema referido ou para o tema a considerar aquando da redação de teoria/ interpretação a partir dos dados. Na coluna Unidade de Registo situam-se os indicativos de uma ou várias características presentes no excerto retirado da entrevista para análise. Por fim, na coluna Unidade de Contexto encontram-se os fragmentos transcritos do texto, de forma a contextualizar os indicativos apresentados na coluna anterior. Estes fragmentos são as palavras tal como os indivíduos as organizaram nas suas narrativas, partindo do discurso e dando origem à descrição contextualizada de um determinado fenómeno. Terminada a contextualização do método de processamento de dados, procede-se, no ponto a seguir, à realização prática da análise de conteúdo das entrevistas transcritas.
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Análise de Conteúdo das Entrevistas Guiadas Antes de se analisar o conteúdo propriamente dito das entrevistas, importa fazer uma breve caracterização dos participantes que foram entrevistados, assumindo desde já a confidencialidade e o anonimato dos entrevistados com a atribuição de códigos às narrativas.
Tabela 1 Caracterização dos entrevistados
Identificação
E1
Idade
Duração de participação
(anos)
projeto
23
no
5/6 anos
Função atual no projeto
Treinador e responsável pela equipa de jovens
E2
25
9 anos
Treinador e responsável pela equipa de jovens
E3
30
Desde 2007, (com algumas interrupções)
E4
33
Treinador e responsável pela equipa de jovens
Desde 2012, (3 anos como jogador, restantes como
Treinador e responsável pela equipa de jovens
treinador) E5
24
Desde 2011 (3 anos como
Árbitro de Futebol de Rua
jogador, 2 anos como árbitro) E6
Desde 2008
Equipa técnica do Projeto Futebol de Rua Associação CAIS
E7
Desde 2014
Equipa técnica do Projeto Futebol de Rua Associação CAIS
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Análise de conteúdo de entrevistas semiestruturadas aos jovens participantes no projeto
Tabela 2 Expectativas aquando da primeira participação no Projeto Futebol de Rua
Categoria – Expectativas aquando da primeira participação no Projeto Futebol de Rua Subcategorias Expectativas sobre
o
Unidades de registo
Unidades de Contexto
Apenas para jogar
(…) pensei simplesmente vai ser um torneio, vamos
futebol
projeto antes
jogar à bola (E1) Julgava que fosse uma brincadeira, que ia brincar
de
como brinco com os meus amigos na rua (E3)
participarem
Eu quando entrei foi só para jogar à bola (…) (E5) (…) nossa expectativa era só jogar e ganhar, ir lá ao torneio jogar e ganhar (E4) Querer ganhar e chegar longe
As expectativas eram altas, obviamente que para ganhar é difícil (E2) (…) nossa expectativa era só jogar e ganhar, ir lá ao torneio jogar e ganhar (E4) eu acho que a nível pessoal qualquer um de nós gosta de chegar ao topo, e eu tive essa sorte, tive a sorte de representar Portugal no mundial em Paris em 2011 (E2)
Realidade do
Alteração da forma
Depois quando chegamos lá damos de cara com os
projeto depois
como olhavam o
workshops preparados (…) vimos que isto é um
de
projeto
começarem a conhecer
projeto mesmo de reinserção social (E1) Entretanto comecei a conhecer melhor as regras, as
o
pessoas, comecei a apaixonar-me pelo projeto e
mesmo
depois essa paixão foi crescendo de ano para ano (E5) O projeto é muito
(…) desviar dos maus caminhos, incutir valores que
mais do que jogar
precisamos na nossa vida, como o companheirismo,
futebol
espírito
de
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equipa,
amizade,
entreajuda.
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6. O PAPEL DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO
Pessoalmente, não contava encontrar isso ao início e surpreendeu-me bastante (E1) (…) há valores a serem transparecidos para dentro do campo, e para fora do campo, e é isso que nós trabalhamos, e tentamos trabalhar, comos jovens de uma instituição (E2)
Tabela 3 Participação em competições internacionais
Categoria – Participação em competições internacionais no projeto Subcategorias Seleção
Unidades de registo O
momento
Unidades de Contexto
da
Fui chamado à seleção nacional (…) O mundial foi
Nacional
de
convocação para a
na Escócia, Glasgow, 2016, ficámos em 5º lugar
Futebol
de
Seleção Nacional de
(E1)
Rua
Futebol de Rua
fiz só o mundial em 2011 (Paris) (E2) (…) depois fui selecionado para ir representar Portugal no campeonato do mundo na Dinamarca. Isto em 2007 (E3) (…) depois em 2013 fui eu, calhou-me a mim. A minha prestação no mundial quando a gente foi à Polónia não foi muito boa porque tinha uma lesão no pé (…) (E5) (…) recebi a noticia que eu ia representar a seleção em 2013 (Polónia) (…) (E5)
Significado de
O
representar
representar Portugal
Portugal
que
no
estrangeiro
sente
ao
Foi a melhor experiência da minha vida, sem dúvida. Não só dentro do campo, mas principalmente mais fora do campo (E1) Eu acho que foi uma coisa assim do outro mundo, porque a gente às vezes pensa e fala, mas estar ali com a camisola de Portugal vestida a ouvir e cantar
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o hino é assim mesmo uma coisa que mexe com toda a gente. (E5) (…) é aquele sonho de criança que todas as crianças sonham: “um dia vou jogar na seleção” (…) (E5)
O que muda com a
(…) a partir do momento que eu recebi a noticia (…)
presença
numa
eu comecei a ver o futebol de outra forma, temos de
competição
deste
ser mais otimistas, confiantes e lutar pelos nossos
tipo
objetivos, a partir daí tornei-me uma pessoa mais confiante e responsável também (…) (E5)
A experiência
mas o importante foi aquilo que foi passado, a
em participar
experiência em si - conhecer outra realidade,
numa
conhecer outras pessoas, outras nacionalidades
competição
(…) Toda a gente gostava de ir e não é para todos,
internacional
por isso todos os que vão, deviam aproveitar ao máximo (E2)
Tabela 4
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Valores e Competências
Categoria – Valores e Competências Subcategorias
Unidades de registo
Unidades de Contexto
Os princípios e
Convívio
(…)
os
Amizade
essencialmente praticar competências e valores
desenvolvidos
Interação
fora e dentro do campo porque é o impacto que
no projeto
Superação
o futebol de rua tem na nossa vida e eu acho
Resiliência
que as pessoas ainda não têm bem essa noção
Integração
e consciência (E2)
Inclusão
valores
o
objetivo
do
futebol
de
rua,
é
O que eu aprendi foi a conviver com outras pessoas, eu não falava com ninguém, estava calado
e
(Portugal
quando
cheguei
Continental)
para
ao
continente
vir
jogar
os
nacionais, as coisas mudaram completamente. (E3) Ensinou-me acima de tudo que isto do futebol é como a vida, às vezes a gente perde, às vezes a gente ganha, mas o que importa é que a gente tem de saber superar os momentos em que a gente perde (…) (E4) (…) isto envolve muita amizade, é o que liga a maior parte das pessoas que estão aqui. É o convívio, o facto de fazermos sempre novos amigos, conhecermos pessoas (…) (E5) A parte mais positiva para mim, em relação ao projeto, é a integração e inclusão que nós temos uns com os outros (E6) Alteração
de
Respeito
Eu (…) reclamava muito com os árbitros era
comportamentos
Amadurecimento
muito mandão na minha equipa era mesmo
Tornar-se mais
assim e quando chego primeiro ano aqui e fui
sociável
aos workshops mudei um bocadinho. Não vou dizer que mudei totalmente. (…) mas quando fui à seleção nacional, o estágio é outro mundo, a gente aprende coisas que eu deixei de falar com os árbitros. (E1)
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Não é só futebol, eu acho que as pessoas continuam ainda iludidas, já ultrapassaram um pouco a fase de virem para o futebol de rua só por causa do futebol. (E2) (…) tenho noção que sou uma pessoa mais madura também devido ao futebol de rua porque quer queiramos, quer não isto muda a nossa vida, não só pessoal como também profissional (E2) Fiz amizades, uma coisa que era difícil. E para mim o futebol de rua é isso, é conviver umas pessoas umas com as outras e não há competição. Para mim no futebol de rua não há competição, há conviver, há essas coisas todas. O futebol de rua é uma coisa que não há explicação (E3) A parte mais positiva para mim, em relação ao projeto, é a integração e inclusão que nós temos uns com os outros. (E5)
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Tabela 5 Voltar a participar no projeto
Categoria – Voltar a participar no projeto Subcategorias
Unidades de registo Enquanto treinador
Determinação
Difícil de largar o
Unidades de Contexto Este ano em Beja ninguém pegou no projeto e eu dei o braço a torcer, faltei ao trabalho, disse “Vou, vai ter que haver futebol de rua!” (E1)
projeto
Regressei porque é difícil largar o futebol de rua,
Viciante
estou um bocado emocionado, mas isto é verdade! (E2) (…) fui convidado em 2009 para vir treinar a seleção dos Açores, onde tive de 2009 a 2012. Depois parei,
Razões voltar
estive a estudar e a acabar o meu curso e depois
para
regressei. (E3)
a
(…) porque eu acho que isto é um vício, este projeto
participar
é um vício muito agradável em que a gente tem oportunidade de conhecer pessoas, conviver com pessoas que já não vê há algum tempo e ajudar as outras pessoas que tem mais alguma dificuldade (…) (E4) Enquanto árbitro
Oportunidade de continuar ligado
Depois no meu último ano abriu o curso de árbitros e eu vi isso como uma oportunidade de eu continuar integrado no projeto, continuar aqui envolvido. (E5)
ao projeto
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Tabela 6 Passagem de Testemunho
Categoria – Passagem de Testemunho Subcategorias
Unidades de registo Enquanto treinador
E mesmo fora de campo, eles dão-se com toda a gente, faço questão que eles cumprimentem toda a
Interação saudável
entre
todos
os
jogadores
e
equipas
Depois
de
várias
que
em
(…) não se podem esquecer que no distrito deles
representar o seu
ficaram mais uns quantos que gostariam de estar
distrito
aqui e aproveitar (…) (E2)
aos
de
todos
os e
outros
a
oportunidade
nem toda a gente tem essa possibilidade, na nossa vida há poucas pessoas que tem essa possibilidade nem que seja 1 ou 2 dias num hotel. É diferente, sais do teu mundo, convives com outro tipo de pessoas convives com outras nacionalidades, Bélgica,
Agarrar para
Digo isto, desta forma - viver num hotel estes 5 dias,
que não estás habituado. Sais do teu habitat natural,
proporciona
transmite agora
Desfrutar
projeto
se
importante do futebol de rua. (E1)
a instituição e o concelho que estão a representar
condições que o
no projeto, o
interajam com as outras equipas, que é o mais
e
momentos
participações
gente, que vão visitar as outras equipas, que
(…) desfrutem ao máximo e dignifiquem ao máximo
Orgulho Dignidade
Unidades de Contexto
se
Inglaterra... e conheces experiências novas, além de terem o futebol de rua para participar. (E2) Eles (os miúdos) têm de perceber que isto vai mudar
destacarem
as vidas deles, quem quer, quem não quer aprender
Bom
parede, até aprender, obviamente (E2)
aproveitamento
(…) a mensagem que eu lhes tento passar é a
escolar é tido em
experiência, que agarrem esta oportunidade porque
conta na seleção
nem toda a gente tem a possibilidade de vir aqui
dos jogadores
desfrutar. (E2)
e não liga vai bater muitas vezes com a cabeça na
Capacidade
de
enfrentar
os
Para fazer convívio, que é o mais importante, estarem aí a brincar ou por exemplo estarmos ali à frente da Inglaterra (Seleção), eles não nos estão a
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problemas e dar
perceber, mas fazemos uma brincadeira e tem que
a volta por cima.
ser assim e não andemos cá com coisas (E3) (…) podíamos ter feito uma seleção muito mais forte do que esta, mas não fizemos, porque quisemos dar oportunidade a miúdos que terminem o ano escolar com boas notas e isso é algo importante (…) (E3) (…) independentemente do resultado dentro ou fora de campo, a vida é saber levantar a cabeça sempre e ter força de vontade para continuar (E4)
Tabela 7 Por um
Enquanto árbitro Respeito e tolerância entre
todos
os
intervenientes
do
jogo e do projeto
Como já fui jogador, tento criar essa ligação com
Futuro
eles, tento que eles não me vejam só como árbitro,
Melhor
aquele que julga, porque normalmente veem o arbitro como o mau da fita ou mauzão. Eu tento explicar o meu lado e digo também que já fui jogador e tento também jogar com isso. (E5)
Categoria – Contributo do desporto para a melhoria das condições escolares e profissionais Subcategorias
Unidades de registo
Oportunidades
Motivação
Escolares promovidas pelo projeto
para
continuidade
Unidades de Contexto
a
(…) posso dizer que me motivou mais na escola (…)
nos
eu na escola era daqueles que me sentava lá atrás,
estudos,
a professora dava a matéria e eu se calhar apanhava
nomeadamente
a
escolaridade
10%, nos testes fazia as minhas cabulazinhas e iame safando. (…) eu saí da seleção (Nacional) e fui
obrigatória
e
o
para a minha licenciatura, primeiro ano, mudei um
acesso
ensino
bocadinho, tento fazer as coisas todas, tento passar
ao
superior
às disciplinas todas (E1) (…) aos 21 fui tirar uma especialização em serviço social (…) foi uma mudança muito radical fiz uma especialização primeiro antes de ir para a licenciatura (…) (E2)
Oportunidades
Abertura
de
Fiz a licenciatura em Serviço Social, e no 1º ano o
profissionais
oportunidade para os
diretor da instituição convidou-me (…) para avançar
promovidas
jovens que viveram
com o projeto com e ficar responsável pelo futebol de
pelo projeto
na instituição possa
rua, para trabalhar os jovens e as competências,
vir a trabalhar nela de
aceitei. (E2)
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futuro,
mediante
formação técnica e superior adequada
Hoje trabalho na melhor clínica do país, a CUF, tenho noção que sou um privilegiado, devido também ao que o futebol de rua me deu e à formação, educação, a todos os valores que o projeto me deu. (E2)
Oportunidade
de
(…) o Casa, que é uma instituição que me abriu
formação profissional
portas (…) Depois eu acabei o meu curso
enquanto Árbitro de
(Licenciatura em Desporto), fui estagiar para lá e
Futebol Profissional,
agora aceitaram-me lá na instituição. (E3)
promovida
pelo
projeto em parceria com a APAF
(…) A nível profissional eu acho que no fundo foi essa vontade de superação, porque eu por acaso quando vim para cá pela primeira vez como jogador não tinha um emprego fixo e se calhar o futebol de rua acrescentou um pouco isso na minha vida (E4)
Oportunidades profissionais através
No meu caso, foi a arbitragem, porque eu tirei o curso
de protocolos com
com o objetivo de continuar ligado ao projeto,
entidades
a
entretanto fui gostando e através da APAF surgiu
GALP ou o Grupo
também a oportunidade de tirar o curso (Profissional
Dia/Minipreço
de Árbitro de Futebol) (E5)
como
(…) tenho amigos que integraram por exemplo a Galp e recentemente tive uma entrevista no mini preço (E5)
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6. O PAPEL DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO
Tabela 8 Reflexão da participação no projeto
Categoria – Reflexão Se nunca tivesses participado no projeto, onde/como estarias agora? Subcategorias Momento
de
reflexão que
se
Unidades de registo de
Provavelmente já não estudava, ou se estudasse,
em
abandono escolar
em vez de me faltar só acabar este ano e o estágio
faz
precoce
e 3 disciplinas, ia-me faltar umas 10 disciplinas ou
Hipótese
Unidades de Contexto
uma
15. Se calhar era muito diferente como jogador e
retrospetiva e se o
Desemprego
tinha tomado outros caminhos, mesmo lá no bairro,
tenta
com certeza, acredito que sim. E nem estava aqui
se
a esta hora, que era o que mais… ei, nem me
imaginar tudo
que
Estar sem rumo
Determinação
imagino, nem imagino… nem quero… (E1)
conseguiram alcançar
era
possível, sem
e
Força de vontade
a participação
(…) sem o futebol de rua não sei se estaria aqui agora, se calhar não estaria, e se calhar não estaria empregado, não teria tirado a licenciatura, se calhar não teria feito nada, se calhar estava como
no projeto.
Falta estipulação de
objetivos
na
muitos andam aí na rua, perdidos. (E2) (…) Eu fui sempre subindo e graças a Deus que no
vida
patamar que eu estou hoje em dia, não sei. Futebol
Reformulação
projeto é espetacular e se eu não tivesse entrado
de Rua foi importante, isso sem dúvida que foi, o
sobre
como
se
olha
para
o
desporto
era muito diferente, de certeza (E3) Conseguir imaginar, eu consigo! Talvez não fosse a mesma pessoa, mas tenho a certeza absoluta que iria procurar ter esta mesma força de vontade, eu acho que isto vem com a idade. Há um certo momento na nossa vida em que a gente abre os olhos, por assim dizer, e que a gente começa a ter essa força de vontade de superação e perceber que sem ela, a gente não consegue nada na vida. Não sei mesmo exatamente aquilo que estaria a fazer, mas… (E4)
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6. O PAPEL DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO
Se eu não tivesse entrado no projeto, possivelmente já nem jogava à bola e não seria tão objetivo, porque eu agora tenho objetivos traçados e antigamente jogava por mera diversão (…) eu aconselho todos os anos, aos meus amigos lá do bairro. Este ano tenho ali 2 rapazes lá do meu bairro na equipa de Setúbal, eles não queriam participar, mas eu disse para participarem no distrital que depois fazem uma seleção e para virem que aquilo abria portas e eles vieram. (E5)
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6. O PAPEL DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO
Interpretação dos dados recolhidos através das entrevistas aos jovens Pergunta 1: Quais as expectativas aquando da tua primeira participação no Projeto Futebol de Rua? Resultado da análise das respostas à pergunta 1: É de notar que todos os inquiridos, direta ou indiretamente, manifestaram as mesmas ideias preconcebidas em relação aquilo que iriam encontrar no Projeto Futebol de Rua. A principal ideia, e a mais referenciada pelos entrevistados, é que se tratava de um projeto desportivo e que a participação estaria assente, somente, na ideia de jogar futebol, vendo o projeto como um espaço de brincadeira, como nos mostra a seguinte citação: “uma brincadeira, que ia brincar como brinco com os meus amigos na rua “(E3). É de notar ainda as referências à vontade de ganhar o jogo, a competição, visível de seguintes afirmações: “a nossa expectativa era só jogar e ganhar, ir lá ao torneio jogar e ganhar” (E4); “As expectativas eram altas, obviamente que para ganhar é difícil” (E2). De forma contraditória, os entrevistados rapidamente demonstram que as ideias preconcebidas que levavam sobre o projeto deixaram de fazer sentido quando se aperceberam da dimensão educativa do mesmo. Relembrando Bento (2014), ele que refere que desporto é visto como um meio para a formação da condição humana. Esta mudança é visível na alteração do discurso de alguns entrevistados, começando a surgir algumas referências ao poder educativo do desporto, como a seguintes afirmações elucidam: “Depois quando chegamos lá damos de cara com os workshops preparados (…) vimos que isto é um projeto mesmo de reinserção social” (E1); “há valores a serem transparecidos para dentro do campo, e para fora do campo, e é isso que nós trabalhamos, e tentamos trabalhar, comos jovens de uma instituição.” (E2) A mudança permite que os participantes vejam o projeto e o desporto em geral como um espaço de educação, onde se desenvolvem competências pessoais e sociais, bem como para os valores que são transversais à prática do desporto e à vida em sociedade. Gonçalves (2014, p.92) explana esta ideia na perfeição uma vez afirma que «o Desporto tem o potencial para fomentar o desenvolvimento das qualidades físicas, morais e sociais que perduram para a vida.». O projeto e o desporto em geral são vistos, de acordo com uma declaração, como uma forma de “desviar dos maus caminhos, incutir valores que precisamos na nossa vida, como o companheirismo, espírito de equipa, amizade, entreajuda. Pessoalmente, não contava encontrar isso ao início e surpreendeu-me bastante” (E1). Pergunta 2: O trajeto de participação em competições internacionais no projeto Resultado da análise das respostas à pergunta 2: O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
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6. O PAPEL DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO
Em relação a esta pergunta, os entrevistados fizeram uma reflexão sobre aquilo que significou para eles a participação em competições internacionais representando Portugal. É unânime o sentimento de orgulho por terem a oportunidade de representar o seu país através daquilo que mais gostam de fazer. Nesta reflexão, uma das coisas que desperta o interesse é a gratidão pela oportunidade bem como a noção de que poucos são aqueles que atingem o patamar da seleção. Observa-se isto no caso concreto do seguinte excerto: “Toda a gente gostava de ir e não é para todos, por isso todos os que vão, deviam aproveitar ao máximo” (E2). O Projeto Futebol de Rua para conseguir implementar todas as suas atividades, tem também como fim, proporcionar momentos inesquecíveis aos seus participantes, estando consciente de que esses momentos muito dificilmente seriam experienciados pelos jovens fora do âmbito do projeto, ou de projetos semelhantes. Este ponto faz com que haja o interesse claro de criar espaços de partilha e de interação entre os jovens. As seguintes afirmações demonstram a importância de determinadas atividades e experiências na vida dos joves: “Foi a melhor experiência da minha vida, sem dúvida. Não só dentro do campo, mas principalmente mais fora do campo” (E1); “(…) é aquele sonho de criança que todas as crianças sonham: «um dia vou jogar na seleção» “(E5). Os participantes não vivem estas experiências sozinhos, vivem-nas em grupo e isso traz consigo enormes mais valias. Os processos de educação não formal estão presentes neste aspeto na medida em que a aprendizagem e produção de saberes é feita através de práticas socioculturais (Gohn, 2014) e ocorrem fora das escolas, em processos educativos da sociedade civil. (Gohn, 2001). Estas experiências, sendo elas experienciadas em grupo, permitem também a quebra do ciclo individualista que muitas das vezes afeta estes jovens. As competições que o projeto organiza ou em que participa, são sempre espaços de criação de novas amizades, de realização de novos conhecimentos e de contacto com outras realidades, fazendo com que valores como o espírito de grupo e o trabalho de equipa prevaleçam e sejam desenvolvidos a fim de contribuir para o sentimento de presença destes jovens.
Pergunta 3: Que valores e que competências é que o projeto te transmitiu? Resultado da análise das respostas à pergunta 3: Na análise às respostas a esta pergunta, fica bem presente a transversalidade dos valores e das competências que têm tanto impacto dentro e fora do campo, na prática desportiva e na sociedade, respetivamente. Esta ideia de transversalidade está bem presente na afirmação: “(…) o objetivo do futebol de rua, é essencialmente praticar competências e valores fora e dentro do campo porque é o impacto que o futebol de rua tem na nossa vida e eu acho que as pessoas ainda não têm bem essa noção e consciência” (E2). Os espaços de interação do projeto permitem o convívio, a interação entre os participantes e consequentemente a sua integração, revelando-se também num espaço importante para a criação de novas amizades. A importância que estas interações com outros jovens têm na vida dos participantes é
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6. O PAPEL DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO
transformadora, tanto a nível pessoal como a nível social, como a seguinte afirmação sugere: “O que eu aprendi foi a conviver com outras pessoas, eu não falava com ninguém, estava calado e quando cheguei ao continente (Portugal Continental) para vir jogar os nacionais, as coisas mudaram completamente.” (E3). As respostas a esta pergunta remetem-nos também para os valores da superação e da aceitação da derrota e da superioridade do outro, na medida em que os participantes afirmam que o projeto permite que estes estejam mais preparados para enfrentar os problemas, estando mais capazes de tomar decisões corretas quando estão perante algum problema. O princípio da superação ficou definido ao longo do estudo, contudo importa relembrar que este se prende o valor da transcendência e a ideia associada de o individuo se superar a si mesmo (Renaud, 2016). O seguinte excerto, retirado de uma entrevista, demonstra bem esse carácter de se superar perante uma dificuldade, dizendo o seguinte: “Ensinou-me acima de tudo que isto do futebol é como a vida, às vezes a gente perde, às vezes a gente ganha, mas o que importa é que a gente tem de saber superar os momentos em que a gente perde (…)” (E4). Este excerto remete-nos para outros dos princípios claros do desporto, o respeito pelo adversário, a aceitação da derrota e o reconhecimento da superioridade do outro. Estes princípios foram referidos ao longo deste estudo, fazendo parte de uma ampla lista produzida pelo IPDJ (2014) que contempla princípios como respeito pelas regras e pelo adversário, árbitro ou juiz; a amizade; a aceitação do resultado; o reconhecimento da dignidade da pessoa humana; o saber ser e estar; a persistência entre tantos outros. O contributo do projeto para o desenvolvimento do caráter do indivíduo fica demonstrado na seguinte afirmação: “(…) tenho noção que sou uma pessoa mais madura também devido ao futebol de rua porque quer queiramos, quer não isto muda a nossa vida, não só pessoal como também profissional”. (E2).
Pergunta 4: Porque motivos é que regressaste ao projeto, agora no papel de treinador ou de árbitro? Resultado da análise das respostas à pergunta 4: Tendo em conta que o regulamente do projeto só permite que os participantes se inscrevam em 3 edições enquanto jogadores, muitos são aqueles que pretendem continuar ligados ao projeto e nesse sentido regressam desempenhando outro tipo de funções. Existem 3 tipos de funções: treinador, árbitro ou voluntário. Da amostra selecionada referente aos jovens, todos eles regressaram ao projeto sendo que 4 deles o fizeram no papel de treinador e um, na qualidade de árbitro. Todos os entrevistados demonstraram gratidão para com o projeto, reconhecendo a importância que o mesmo teve nas suas escolhas e nos seus percursos de vida.
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6. O PAPEL DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO
Reconhecem ainda ser difícil não querer continuar ligado ao projeto, na medida em que se torna “um vício” (E4), no bom sentido da palavra. Num dos casos, um dos regressos ao projeto deveu-se à falta de técnicos da instituição para desenvolverem o projeto, fazendo com que a participação no Futebol de Rua ficasse interrompida. Face a isto, e devido à experiência vivida enquanto jogador, E1, comprometeu-se a assumir o papel como treinador para que a equipa da instituição pudesse participar em mais uma edição. A sua afirmação demonstra bem a vontade dos jovens em querer fazer parte do projeto, referindo que “Este ano em Beja ninguém pegou no projeto e eu dei o braço a torcer, faltei ao trabalho, disse «Vou, vai ter que haver futebol de rua!»” (E1). Esta afirmação, demonstra acima de tudo impacto que o projeto tem na vida destes jovens e também a sua consciencialização para que o projeto continue ativo. É de referir que está presente neste excerto, e de forma clara, a valor da solidariedade. Pergunta 5: O que tentas transmitir aos novos atletas, agora no papel de treinador ou árbitro? Resultado da análise das respostas à pergunta 5: As respostas a esta questão reúnem consenso uma vez que todos estes intervenientes pegam naquilo que foram as suas experiências e aconselham os novos participantes a aproveitarem ao máximo a sua participação no projeto. Esta ideia é nos remetida através da seguinte afirmação “(…) a mensagem que eu lhes tento passar é a experiência, que agarrem esta oportunidade porque nem toda a gente tem a possibilidade de vir aqui desfrutar” (E2). Na mesma ótica, também a afirmação que se segue também nos remete para a consciencialização por partes dos participantes mais experimentados acerca do saber aproveitar as oportunidades que o projeto dinamiza, a afirmação é: “Digo isto, desta forma - viver num hotel estes 5 dias, nem toda a gente tem essa possibilidade, na nossa vida há poucas pessoas que tem essa possibilidade nem que seja 1 ou 2 dias num hotel. É diferente, sais do teu mundo, convives com outro tipo de pessoas que não estás habituado. Sais do teu habitat natural, convives com outras nacionalidades, Bélgica, Inglaterra... e conheces experiências novas, além de terem o futebol de rua para participar. (E2). É unânime a ideia de que é necessário consciencializar os novos participantes para o poder educativo que o desporto tem, para a capacidade e na influência que o projeto tem/terá nas suas vidas a curto, médio e sobretudo a longo prazo. É necessário que haja uma predisposição para aprender e esta seja feita de forma consciente e intencional (Gohn 2014). A seguinte afirmação elucida bem esta questão: “Eles (os miúdos) têm de perceber que isto vai mudar as vidas deles, quem quer, quem não quer aprender e não liga vai bater muitas vezes com a cabeça na parede, até aprender, obviamente” (E2).
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6. O PAPEL DO DESPORTO PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS EM RISCO
Pergunta 6: O projeto abriu-te oportunidades, nomeadamente, profissionais? Resultado da análise das respostas à pergunta 6: Relativamente à análise das respostas à pergunta 6, estas demonstram a importância e o impacto que o projeto tem em termos de vida académica e profissional. O desenvolvimento de competências que o projeto ambiciona, não se restringe apenas às de carácter pessoal ou social. O projeto também potencia o desenvolvimento de competências profissionais. Estes três tipos de competências então intrinsecamente ligadas umas com as outras na medida em que são uma mais valia para a vida do jovem participante. Tomemos o seguinte exemplo, de pouco serve a uma empresa ter um carpinteiro muito bom, se este não tiver as competências pessoais e sociais básicas para estar inserido num grupo de trabalho. Nas respostas a esta questão é visível o contributo que o desporto, e o projeto em concreto, na vida académica e na vida profissional dos jovens, na medida em que comprova, através dos testemunhos, que o projeto contribuiu para aumentar os níveis de motivação dos jovens, permitindo assim o combate ao abandono escolar precoce, através consciencialização sobre a importância continuar e concluir do ensino escolar obrigatório, assim como a motivação para progressão em termos académicos, através do acesso ao ensino superior. Existem dois jovens (E2 e E3) que entraram no ensino superior e que após terminarem a sua formação, foram trabalhar para instituições de apoio social de modo a que se tornassem responsáveis por dinamizar o projeto ao nível regional/distrital. As seguintes afirmações são prova disso: “Fiz a licenciatura em Serviço Social, e no 1º ano o diretor da instituição convidou-me (…) para avançar com o projeto com e ficar responsável pelo futebol de rua, para trabalhar os jovens e as competências, aceitei (E2); “Depois eu acabei o meu curso (Licenciatura em Desporto), fui estagiar para lá e agora aceitaram-me lá na instituição” (E3). Existe ainda um terceiro jovem (E1) que está a frequentar a licenciatura em desporto afirmando o seguinte: “eu saí da seleção (Nacional) e fui para a minha licenciatura, primeiro ano, mudei um bocadinho, tento fazer as coisas todas, tento passar às disciplinas todas” (E1). A nível profissional, existe o reconhecimento do contributo do projeto para o ingresso no mercado de trabalho por via de medidas concretas, através de protocolos entre o projeto e entidades empregadores e também pela parceria com a APAF através do curso de arbitragem, e por medidas mais indiretas, na medida em que o projeto permitiu desenvolver competências necessárias para a busca de um emprego.
Pergunta 7:. Se nunca tivesses participado no projeto, consegues imaginar-te onde/como é que estarias hoje? Resultado da análise das respostas à pergunta 7:
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Esta pergunta pretendia que os jovens fizessem um balanço introspetivo daquilo que foi o impacto do projeto nas suas vidas e, posteriormente, pedia que imaginassem que nunca tivessem participado no projeto e refletissem onde e como é que estaria no dia em que a entrevista foi realizada. Esta questão serviu para perceber que tipo de influência é que o projeto teve nas suas vidas, na forma como as guiou de modo a que hoje fossem indivíduos melhores e mais capazes de fazerem parte integrante da sociedade. Foram recolhidos testemunhos de tal forma emotivos, que em muitos momentos os entrevistados não conseguiram terminar o seu raciocínio, deixando algumas afirmações em suspenso, como é o caso da seguinte afirmação: “Se calhar era muito diferente como jogador e tinha tomado outros caminhos, mesmo lá no bairro, com certeza, acredito que sim. E nem estava aqui a esta hora, que era o que mais… ei, nem me imagino, nem imagino… nem quero…” (E1). Outra das afirmações que demonstra a importância do projeto na vida de um jovem, diz o seguinte: “(…) sem o futebol de rua não sei se estaria aqui agora, se calhar não estaria, e se calhar não estaria empregado, não teria tirado a licenciatura, se calhar não teria feito nada, se calhar estava como muitos andam aí na rua, perdidos.” (E2) Existe o claro reconhecimento do projeto como uma mais-valia para a vida destes jovens, contribuindo para o desenvolvimento do seu carácter, na aquisição de competências, na mudança de comportamentos e no abandono de comportamentos desviantes. A seguinte afirmação remete-nos de novo para a ideia já debatida sobre o princípio da superação, bem como o desenvolvimento da maturidade do indivíduo ao longo do trajeto da sua vida e no projeto, e diz o seguinte: Conseguir imaginar, eu consigo! Talvez não fosse a mesma pessoa, mas tenho a certeza absoluta que iria procurar ter esta mesma força de vontade, eu acho que isto vem com a idade. Há um certo momento na nossa vida em que a gente abre os olhos, por assim dizer, e que a gente começa a ter essa força de vontade de superação e perceber que sem ela, a gente não consegue nada na vida. Não sei mesmo exatamente aquilo que estaria a fazer, mas… (E4).
Análise de conteúdo de entrevistas semiestruturadas aos técnicos do Projeto Futebol de Rua da Associação CAIS
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Tabela 9 Objetivos do Futebol de Rua
Categoria – Objetivos do Projeto Futebol de Rua Subcategorias
Unidades de registo
Unidades de Contexto
Pilares
Acesso ao desporto
Os objetivos do futebol de rua são claros:
fundamentais
Desenvolvimento de
promover o acesso ao desporto e promover o
competências
desenvolvimento pessoal através da prática
da intervenção
desportiva, ou seja, as competências pessoais e
do projeto
sociais, o treino de competências (E6)
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Tabela 10 Educar através do Desporto
Categoria – Educar através do desporto Subcategorias
Unidades de registo
Unidades de Contexto
Como usar o
Atividades
desporto
durante os estágios de
competências,
preparação
recreativa por dia (E6)
como
um
educativas para
método
competições
pedagógico
internacionais
as
O estágio da seleção tem então treino de uma
atividade
cultural
ou
Tentamos antecipar quais é que são os problemas que eles antecipam que vão lá acontecer para conseguir colmatá-los antes de
Objetivos
das
ações
educativas
Antecipar
os
problemas e arranjar estratégias para que quando/se aparecerem,
eles os
jovens saibam como responder de modo
existirem e dar-lhes estratégias para eles os resolverem na altura. (E7) promover o diálogo, o intercâmbio, a partilha e troca de aprendizagens e ser também um espaço que aproveita o facto deles se juntarem todos em torno do futebol, que é esse o mediador comum para lhes dar o acesso a um conjunto de oportunidades culturais, criativas e educativas (E7)
assertivo
Promover
um
espaço de interação para
os
através
jovens de
atividades culturais, criativas
e
educativas
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Tabela 11 Valores e Competências no Desporto
Categoria – Valores e competências que o projeto/desporto permite desenvolver Subcategorias
Unidades de registo
Unidades de Contexto
Tipo de valores
Treino de competências
(…) acreditamos que estas competências são
e
pessoais,
basilares à inclusão social e que se não forem
competências
profissionais
sociais
e
trabalhadas não é possível ter uma inclusão
são trabalhadas no projeto
social sustentável. (…) Estamos a tapar o sol com a peneira, até podes arranjar um emprego,
Competências
mas aquilo não vai correr bem, é preciso criar as
referenciadas:
bases e os alicerces, e para nós, antes de
Trabalho de equipa
poderem vir as tuas competências profissionais,
Tolerância
vêm as sociais e vêm as pessoais, por esta
Respeito
ordem (E6)
Interação
Autoconhecimento
Tomada de decisão
Comunicação
Igualdade Género
Xenofobia
de
(…) depois em relação aos jovens que os obriga a trabalharem em conjunto, em contextos mais rurais obriga a que jovens que nem se conheciam se deem e interajam (…) há aqui uma interação e uma partilha que é importante. (E6) No caso dos grandes centros urbanos (…) há rivalidades entre estes bairros (…) são bairros que não se falam que têm ódios de morte que têm guerras abertas e isto obriga-os a entrarem ali e esquecerem tudo (…) isto é engraçado, porque acabas por ter pessoal de bairros rivais a jogar na mesma equipa e acabas por ter pessoal de bairros rivais a apoiá-los, sentados na bancada lado a lado, o que é interessantíssimo. (E6) todos os anos são escolhidas competências especificas para serem trabalhadas (…) Todos os anos são escolhidas competências, o futebol
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de rua tem um referencial de 20 competências (…) (E7) (…) autoconhecimento, tomada de decisões, comunicação, etc (…) (E7) perceber como é que se comportam em grupo (…) podes transformar um simples jogo de futebol de rua num treino de competências, em que podes trabalhar comunicação, liderança, tomada de decisão e até resolver problemas entre eles, trabalhar a desigualdade de género, intolerância, xenofobia (E7)
Tabela 12 Contributo do Desporto para a Inclusão Social
Categoria – O contributo do desporto para a inclusão social de jovens Subcategorias
Unidades de registo
Unidades de Contexto
Concretamente
Estabelecimento
de
(…) principalmente nestes últimos dois anos,
em que medida
protocolos entre o projeto
aqui a Cais investiu muito na parte da
é
e
empregabilidade (…) fizemos uma data de
que
o
desporto
entidades
empregadoras
contactos com empresas e tivemos uma série
contribui para a
inclusão
social
de empresas que são nossas parceiras hoje em Estabelecimento
de
protocolo entre o projeto e a APAF, para a realização do curso de arbitragem
Influência do projeto no desenvolvimento competências
das
pessoais,
socias e profissionais
dia e que nos pedem diretamente pessoas para trabalhar (E7) (…) BP, dos postos de abastecimento de combustíveis, trabalhamos com o grupo Dia, com o Mini Preço (…) (E7) Em 2016 e 2017 começámos a trabalhar a questão da empregabilidade com a BP e conseguimos oportunidades para os jovens que tinham ido à seleção nacional. (E6) Em 2018, um novo mecanismo com o grupo dia-mini preço em que é possível a todos os participantes serem recrutados pelo grupo mini
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Reflexão sobre o porquê do desporto ser capaz de
preço e serem incluídos nos seus quadros, ou seja, nas suas equipas (E6)
promover a inclusão num
Em 2015, surge (…) o curso de árbitro de
contexto e noutro não
futebol de rua e que permite a antigos participantes que já atingiram os 3 anos de jogador (…) estes participantes têm formação com a APAF e ficam com a possibilidade de serem árbitros profissionais de futsal ou futebol de 11. Isto permite-lhes continuar ligados ao projeto futebol de rua, permite-lhes ainda envergar numa carreira de árbitro profissional e assim ter uma fonte de rendimentos (E6) Quando nos perguntam se o desporto ou o futebol contribui para a inclusão social, eu posso dizer hoje, ao contrário do que eu te diria há 10 anos atrás, que era, eu acho que sim ou tenho aqui 8 pessoas que te dizem que sim e eu hoje posso dizer que tenho mil pessoas que me dizem que sim ,que dizem que (…) o futebol de rua, teve uma influência ou impacto positivo no
seu
desenvolvimento
pessoal
e
concretamente no desenvolvimento das suas competências pessoais e sociais e que mais, me conseguem dizer em quais e isso é muito interessante. (…) (E6) eu acho que não podemos dizer que não promove. Não promove, porque cada vez mais só promove os valores errados. Não, de forma alguma. Depende de quem é que está a promover e de quem está responsável (…) (E6) As aprendizagens que fazem na vida ativa são úteis no desporto e as aprendizagens que fazem no desporto são muito úteis na vida ativa (…) (E6) (…) Temos é que nos questionar porque é que num contexto está a promover e noutro não
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está e é preciso olhar e perceber quem é que são os responsáveis. (E6) (…) tu, a trabalhar na educação não formal, como é que se trabalham competências dos jovens, quase numa primeira fase em que eles estão a trabalhar competências e nem se apercebem que o estão a fazer (E7)
Breve interpretação dos dados recolhidos nas entrevistas aos técnicos Pergunta: Quais são os objetivos do Projeto Futebol de Rua Resultado da análise das respostas à pergunta: Os objetivos principais do projeto foram definidos de forma clara e sintetizada pelo coordenador do mesmo. É de referir que existem dois objetivos que definem posteriormente os dois eixos de intervenção do projeto. O primeiro objetivo passa por promover o acesso ao desporto, tornando-o num momento desportivo de todos e para todos. Este primeiro objetivo do projeto vai de encontro ao que Marivoet (2016) e o Livro Branco do Desporto (2007) defendem, referindo que jamais o acesso ao desporto pode ser negado função do género, raça, idade, deficiência, religião, convicções e orientação sexual, bem como do meio social ou económico de origem. O segundo objetivo visa a promoção do desenvolvimento pessoal através da prática desportiva, contemplado nesta medida o treino de competências pessoais e sociais. Este objetivo espelha a reflexão de Marivoet (2016) sobre a inclusão social através do desporto, caraterizando o desporto como um espaço de desenvolvimento de competências pessoais, sociais e motoras, e onde se privilegia os princípios éticos e os valores do desporto.
Pergunta: Que tipo de ações educativas com base no desporto se promovem no projeto? Resultado da análise das respostas à pergunta: A pergunta visava perceber de que forma é que, recorrendo à educação não formal, o projeto utiliza o desporto como o veículo de desenvolvimento de ações educativas. É visível na análise de conteúdo que uma competição está sempre associada a uma preparação prévia, sendo ela física e pedagógica. Esta preparação pedagógica é realizada com o objetivo de preparar os jovens na resolução dos problemas, treinando antecipadamente através da suposição, quais os problemas que poderão aparecer no futuro e de que forma é que os poderão resolver. A importância de tais competências, a par
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da competição desportiva, é referida através da seguinte afirmação: “o estágio da seleção tem então treino de competências, uma atividade cultural ou recreativa por dia” (E6). Existe, portanto, a preocupação de organizar e enquadrar nos programas de atividade momentos desportivos e de competição, assim como momentos educativos, culturais e de lazer. Isto permite que os jovens possam interagir entre si, realizando uma aprendizagem pelos pares, criando laços afetivos entre eles e ainda a possibilidade de partilharem experiências. A próxima afirmação remete-nos exatamente para essa importância, referindo a importância de: “promover o diálogo, o intercâmbio, a partilha e troca de aprendizagens e ser também um espaço que aproveita o facto deles se juntarem todos em torno do futebol, que é esse o mediador comum para lhes dar o acesso a um conjunto de oportunidades culturais, criativas e educativas” (E7).
Pergunta: Valores e competências que o projeto permite desenvolver Resultado da análise das respostas à pergunta: Em análise às respostas sobre esta questão, foi possível elaborar uma lista de valores e de competências que são trabalhadas no projeto, através da educação não formal, e perceber de que forma é que elas são trabalhadas. Essa listagem contempla valores e competências tão diversas como a tolerância, o respeito, da igualdade de género, a tomada de decisão, a comunicação, entre outras. O próprio projeto criou um referencial composto por 20 competências, sendo que em todas as edições são definidas 4, sendo que essas 4 serão trabalhados ao longo do projeto, durante aquele ano. Contudo, não foram indicadas a totalidade das competências ao longo da entrevista por se tratarem de um número elevado e consequentemente difícil de memorizar. Uma das afirmações mais pertinentes remete-nos para a ideia explanada na análise de conteúdo de uma resposta anterior, e que diz o seguinte: acreditamos que estas competências são basilares à inclusão social e que se não forem trabalhadas não é possível ter uma inclusão social sustentável. (…) Estamos a tapar o sol com a peneira, até podes arranjar um emprego, mas aquilo não vai correr bem, é preciso criar as bases e os alicerces, e para nós, antes de poderem vir as tuas competências profissionais, vêm as sociais e vêm as pessoais, por esta ordem (E6). A afirmação que se segue demonstra a importância do contributo projeto para a promoção da paz entre os indivíduos, através do desenvolvimento dos valores do respeito, da tolerância (IPDJ, 2014) e diz o seguinte: “caso dos grandes centros urbanos (…) há rivalidades entre estes bairros (…) são bairros que não se falam que têm ódios de morte que têm guerras abertas e isto obriga-os a entrarem ali e esquecerem tudo (…) isto é engraçado, porque acabas por ter pessoal de bairros rivais a jogar na mesma equipa e acabas por ter pessoal de bairros rivais a apoiá-los, sentados na bancada lado a lado, o que é interessantíssimo.” (E6).
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A afirmação que se segue demonstra o carácter flexível e ajustável da educação não formal (Gohn,2014), fazendo uma referência clara à forma como é que as competências e os valores podem ser trabalhadas através do desporto. “(…) podes transformar um simples jogo de futebol de rua num treino de competências, em que podes trabalhar comunicação, liderança, tomada de decisão e até resolver problemas entre eles, trabalhar a desigualdade de género, intolerância, xenofobia” (E7).
Pergunta: O contributo do desporto para a inclusão social Resultado da análise das respostas à pergunta: Tendo em conta a análise feita às entrevistas, o projeto tem vindo a desenvolver não só a parte das competências pessoais e sociais como também tem vindo, nas ultimas edições, desenvolver as competências profissionais dos participantes, possibilitando-lhes ainda o facto de estes puderam entrar no mercado de trabalho por força dos protocolos que o projeto estabeleceu com entidades trabalhadoras. Na entrevista e posteriormente na análise de conteúdo é possível fazer referência a algumas delas, como é o caso “da BP, (…) o grupo Dia, com o Mini Preço (…)” (E7). O carácter transversal dos valores e das competências está bem presente a afirmação que se segue: as aprendizagens que fazem na vida ativa são úteis no desporto e as aprendizagens que fazem no desporto são muito úteis na vida ativa (…) (E6) Existe ainda a situação, que anteriormente já foi referida tanto na descrição do projeto como nas entrevistas aos participantes, de o projeto possibilitar, através do seu protocolo de parceria com a APAF, que os jovens possam realizar a formação em arbitragem afim de estarem aptos para arbitrarem os jogos do campeonato nacional de futebol de rua. Todavia, o projeto permite ainda aos jovens que frequentem o curso profissional de árbitro de futebol 11 ou futsal, de modo a que possam vir a obter uma fonte de rendimento no futuro. “o curso de árbitro de futebol de rua e que permite a antigos participantes que já atingiram os 3 anos de jogador (…) estes participantes têm formação com a APAF e ficam com a possibilidade de serem árbitros profissionais de futsal ou futebol de 11. Isto permite-lhes continuar ligados ao projeto futebol de rua, permite-lhes ainda envergar numa carreira de árbitro profissional e assim ter uma fonte de rendimentos (E6). Esta última questão permite ainda fazer uma reflexão sobre o motivo pelo qual o desporto é bemsucedido em alguns processos de inclusão e noutros casos fracassa totalmente, havendo quem faz referência a isso mesmo da seguinte forma:“(…) Temos é que nos questionar porque é que num contexto está a promover e noutro não está e é preciso olhar e perceber quem é que são os responsáveis.” (E6) A diferença de um projeto intervenção através do desporto ter sucesso ou fracassar depende muito da equipa que o está a gerir. A diferença está nos profissionais e na forma como eles utilizam o desporto como instrumento pedagógico, na medida em que permite o desenvolvimento das competências pessoais, sociais, profissionais dos participantes.
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A próxima afirmação está relacionada com o que acabou de ser dito, referindo que: “eu acho que não podemos dizer que não promove. Não promove, porque cada vez mais só promove os valores errados. Não, de forma alguma. Depende de quem é que está a promover e de quem está responsável (…)” (E6). A última questão levantada na entrevista prendeu-se com o facto de o contribuir ou não para a inclusão social de jovens em risco. A resposta foi clara referindo que:” Quando nos perguntam se o desporto ou o futebol contribui para a inclusão social, eu posso dizer hoje, ao contrário do que eu te diria há 10 anos atrás, que era, eu acho que sim ou tenho aqui 8 pessoas que te dizem que sim e eu hoje posso dizer que tenho mil pessoas que me dizem que sim ,que dizem que (…) o futebol de rua, teve uma influência ou impacto positivo no seu desenvolvimento pessoal e concretamente no desenvolvimento das suas competências pessoais e sociais e que mais, me conseguem dizer em quais e isso é muito interessante. (…) (E6). Esta resposta remete-nos para a dimensão do Projeto Futebol de Rua, através de todas as suas iniciativas dinamizadas, assim como para o impacto que o projeto tem na vida dos jovens que dele fazem/fizeram parte. De edição para edição o projeto tem vindo a conseguir reinventar-se, na medida em constantemente são adicionados inputs ao projeto, revelando assim um acompanhamento enquadrado com as necessidades dos jovens.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na introdução deste trabalho fez-se referência à tão proclamada expressão de Nelson Mandela sobre o poder que o desporto tem em mudar o mundo. E será que o desporto tem mesmo o poder de mudar o mundo? A resposta é sim, o desporto tem esse poder de mudar o mundo. Se não o mundo, pelo menos parte dele. Mas esta não era a questão de investigação deste trabalho. O foco deste trabalho, em coerência com a sua pergunta de investigação, centrou-se em explicar de que forma é que o desporto pode contribuir para a inclusão social de jovens em situação de risco ou vulnerabilidade social, enumerando em concreto que contributos são esses. Importa, antes de focar sobre a questão, abordar de forma mais holística o tema do desporto, fazendo uma breve resenha critica sobre aquilo que Sérgio (2014, p. 65) considera como desporto espetáculo. A abordagem foi feita, levantando uma série de consequências negativas que esse tipo de desporto traz para o seu ambiente e para a sociedade em geral. Esses problemas foram identificados ao longo do trabalho, e podem-se resumir através da violência, do racismo, da xenofobia, do branqueamento de capitais, da corrupção, do consumo de doping e outras substâncias nefastas, entre tantos outros, tão bem presentes no desporto. Assiste-se à multiplicação de casos de corrupção, ao mercantilismo dos atletas, ao uso frequente da violência, verbal e física, à ingestão de substâncias dopantes cada vez mais sofisticadas, ao abandono progressivo dos princípios e valores inerentes ao fair play, ao aumento despudorado dos casos de racismo e xenofobia nos terrenos desportivos. (Gonçalves, 2006, p. 94)
Segundo Nery & Neto (2014, p. 156) «o aumento da competitividade, associado à determinação económica dos objetivos, contribuiu para tornar a ação desportiva incompatível com a ética e o fair play nos níveis mais elevados da competição». Neste sentido, afastámo-nos do compromisso de querer trabalhar a função educativa do desporto no patamar do desporto espetáculo e de alto rendimento. Em análise, muitos dos problemas encontrados nas diversas conceções de desporto estão também presentes na sociedade e vice-versa, sendo que é de extrema importância perceber de que forma é que essa transversalidade pode ser convertida para a realização do ponto de viragem nesta crise de valores no desporto e na sociedade. Desde logo, porque o desporto e, de forma perigosamente excessiva, o futebol, que, como réplica do capitalismo libertino vigente, se mercantilizou quase, se
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não mesmo, a raiar a obscenidade. E, sabemos bem que quando entram em jogo tão astronómicas somas associadas à vitória, esta converte-se num absoluto, que há que obter a todo o custo, falseando-se a verdade desportiva, o fair play e negligenciando-se a ética. (Sousa, 2015, p.22)
É muito importante perceber de que forma é que se pode construir boas práticas, capazes de desenvolver, primeiramente, os indivíduos na sua plenitude e só depois os desenvolver como desportistas. O foco deste trabalho centrou-se então no nível mais puro da prática desportiva, o desporto social (Sérgio, 2014). Gonçalves (2014, p.85) refere que «o desporto forma o carácter, diz-se.», sendo que é aqui que o desporto começa a dar o seu contributo para a inclusão social. Assumindo que esse carácter é regido por uma série de competências e saberes inerentes à formação idónea do ser humano, o desporto quando associado a estímulos pedagógicos pode, efetivamente, contribuir para o desenvolvimento dessas competências. As competências possuem um carácter multidisciplinar e podem variar entre as competências pessoais, sociais e profissionais, sendo muitas delas transversais à vida em sociedade e à prática desportiva, em semelhança às consequências negativas que desporto espetáculo traz. A amizade, o respeito pelo outro, o espírito desportivo, o respeito pelas regras e a competição são alguns dos aspetos essenciais para uma prática desportiva justa e verdadeira, onde se repudia todos os antivalores que a põem em causa, como é o caso do doping, da violência, da discriminação, da corrupção, da batota (Antunes & Galvão, 2014, p. 101). Gonçalves (2014) faz uma listagem de competências morais e sociais que podem ser transferidas para a esfera desportiva, enumerando-as da seguinte forma: (…) a) o saber estar no treino e na competição assumindo atitudes e comportamentos considerados socialmente positivos: cumprir regulamentos e convenções, ser digno nas vitórias e nas derrotas; b) saber fazer e adquirir competências de bom desportista: pontualidade, assiduidade, respeito pelos compromissos assumidos, ser capaz de entender diferentes papéis, saber conviver com os outros.» Gonçalves (2014, p.85)
Uma das afirmações retiradas da análise de conteúdo de entrevistas (ver tabela 4), reflete essa transversalidade das competências, referindo que: “o objetivo do futebol de rua, é essencialmente praticar competências e valores fora e dentro do campo porque é o impacto que o futebol de rua tem na nossa vida e eu acho que as pessoas ainda não têm bem essa noção e consciência” (E2).
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Continuando a estabelecer uma ligação de coerência entre a teoria e os dados recolhidos na investigação, é possível completar a lista de competências e de valores (Gonçalves, 2004), apresentada anteriormente, com outras tantas fundamentais para que o processo de inclusão social dos jovens seja feito de forma mais sustentada. Acrescentam-se, de acordo com a tabela 4 – Valores e Competências da análise de conteúdo de entrevistas, as seguintes competências e valores: amizade, interação, integração, superação, resiliência, respeito e socialização. Foi possível ainda identificar outras competências e valores apresentados ao longo do estudo e que posteriormente foram referidas, em algum momento, pela amostra no decorrer das entrevistas. Sendo elas a ética, a solidariedade, a responsabilidade, a transcendência, a tolerância, a igualdade género, o trabalho em equipa, a comunicação e a autoestima. Importa agora, fazer um pequeno resumo sobre o passo que se segue à identificação das competências e dos valores, passo esse que foi demonstrado ao longo deste trabalho em 3 partes distintas, numa primeira fase no enquadramento teórico, depois no estudo de caso do Projeto Futebol de Rua da Associação CAIS e por fim na análise de conteúdo das entrevistas realizadas à amostra selecionada. Esse passo não é nada mais nada menos que a passagem da teorização à prática, isto é, uma vez feito o inventário das competências e valores que se podem desenvolver através do desporto, importa refletir sobre a forma como estas podem ser trabalhadas em contexto real. Este processo remete-nos para a educação e para os seus moldes de atuação. Conjugar a educação e o desporto é um processo rigoroso, metódico e holístico na medida em que se trabalha o indivíduo como um todo, como um ser multifacetado e complexo. O desenvolvimento destas competências através de metodologias educativas contribui de forma assertiva, como foi possível ver ao longo deste trabalho, para a capacitação de jovens em risco, permitindo que a sua inclusão social seja feita de forma mais sustentada e consistente. Se é certo que os pais transmitem aos filhos, de acordo com as leis genéticas, determinadas características e traços identificadores, não o é menos de que os valores, os princípios, as atitudes e os comportamentos não são transmissíveis de acordo com estas leis. O que implica a «obrigatoriedade» do seu ensino e fundamentalmente sua prática. (…) A educação (para os valores) é algo que se constrói! (Gonçalves [2004] in Gonçalves, 2013, p. 91)
Esta afirmação remete-nos para a importância da educação para os valores, apontando que o processo de aprendizagem e posteriormente a sua aplicabilidade prática são cruciais para que o processo seja realizado de forma eficaz.
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Surge neste contexto a educação não formal associada ao desporto. O sentido transformador dos projetos sociais junto de públicos vulneráveis, tem como intuito gerar uma mudança na vida do individuo, seja ela a nível pessoal, social, económico, profissional e/ou cultural. Neste sentido a educação não formal pode caracterizar-se da seguinte forma: Aborda processos educativos que ocorrem fora das escolas, em processos educativos da sociedade civil, ao redor de ações coletivas do chamado terceiro setor da sociedade, abrangendo movimentos sociais, organizações nãogovernamentais e outras entidades sem fins lucrativos que atuam na área. (Gohn,2001, p. 32)
Para que isso seja possível, este trabalho tentou demonstrar de que forma é que a educação não formal através da associação ao carácter social do desporto, pode ajudar os jovens em situação de risco, neste caso concreto, a desenvolverem as suas competências pessoais, sociais e profissionais. educação física e desporto, como dimensões essenciais da educação e da cultura, devem desenvolver habilidades, força de vontade e autodisciplina em todos os seres humanos, como membros plenamente integrados na sociedade. A continuidade da atividade física e a prática de desporto devem ser assegurados por toda a vida, por meio de uma educação ao longo da vida, integral e democrática. (UNESCO,1978)
Este processo de aprendizagem visa permitir a emancipação dos jovens, conferindo-lhes uma maior capacidade para quebrarem o ciclo da exclusão social. A análise de conteúdo da Categoria – Valores e competências que o projeto/desporto permite desenvolver - Tabela 11, permite-nos perceber na prática, e de forma simples, como é que se pode utilizar o desporto para desenvolver competências, referindo que “(…) podes transformar um simples jogo de futebol de rua num treino de competências, em que podes trabalhar comunicação, liderança, tomada de decisão e até resolver problemas entre eles, trabalhar a desigualdade de género, intolerância, xenofobia (E7)”. Este dinamismo da aprendizagem não formal vai fazer com que os jovens, em muitos momentos, nem se apercebam que estão a trabalhar tais competências. Ao longo do trabalho foi-se fazendo referência à multidisciplinariedade das competências desenvolvidas, o enfoque nas competências pessoais e sociais terá sido mais notório, uma vez que as poderemos considerar a base da pirâmide das competências.
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Contudo, as competências profissionais e académicas também foram abordadas, convergindo assim na menção feita às mesmas pelos elementos da amostra durante a realização das entrevistas. A Categoria – Contributo do desporto para a melhoria das condições escolares e profissionais – Tabela 7, remete-nos para essa ideia, na medida em que os entrevistados referem que, de uma maneira ou de outra, o Projeto Futebol de Rua, e o desporto em geral, contribuíram para o desenvolvimento das suas competências a nível escolar e profissional. A nível escolar, o desporto deve contribuir para a consciencialização dos jovens para a importância do ensino obrigatório, e deve contribuir também para o aumento dos níveis de motivação dos jovens para conclusão desses mesmos estudos, e posteriormente, havendo todas a condições para isso, motivar os jovens para o acesso ao ensino superior. Algumas das reflexões presentes na Categoria – Contributo do desporto para a melhoria das condições escolares e profissionais – Tabela 7 demonstram o contributo motivacional que o desporto permite trabalhar. Como é o caso: “(…) aos 21 fui tirar uma especialização em serviço social (…) foi uma mudança muito radical fiz uma especialização primeiro antes de ir para a licenciatura (…) (E2)” e também: (…) eu saí da seleção (Nacional) e fui para a minha licenciatura, primeiro ano, mudei um bocadinho, tento fazer as coisas todas, tento passar às disciplinas todas (E1). Relativamente às competências profissionais, o desenvolvimento destas assume-se como parte importante na procura de emprego, a par das competências pessoais e sociais. Na mesma Categoria – Contributo do desporto para a melhoria das condições escolares e profissionais – Tabela 7, o desporto traduz-se num importante mecanismo, por um lado permite aos jovens se manterem ligados ao projeto e por outro terem uma formação certificada que lhes permita ser uma fonte de rendimento, como é o caso do curso de arbitragem realizado através da parceria entre o Projeto Futebol de Rua e a APAF. No caso concreto do projeto, existem ainda vários protocolos assinados com empresas que possibilitam aos jovens a entrada no mercado de trabalho, como refere a afirmação que pode ser encontrada Categoria – O contributo do desporto para a inclusão social de jovens – Tabela 12, e que refere duas dessas empresas. (…) BP, dos postos de abastecimento de combustíveis, trabalhamos com o grupo Dia, com o Mini Preço (…) (E7). Nesta mesma categoria, está presente uma nota muito curiosa onde um entrevistado levanta a questão de sobre porquê de o desporto contribuir em alguns casos para a inclusão de jovens e noutros casos não o fazer. De facto, o desporto pode permitir ou não a inclusão de jovens, contudo essa questão está tão somente relacionada com os princípios orientadores de cada projeto, de cada intervenção. Ficou demonstrado ao longo de todo o estudo que o desporto pode contribuir para a inclusão social de jovens, através da educação não formal e promovendo o desenvolvimento de todas as competências que já foram referidas.
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Por fim, e em jeito de reflexão sobre a coerência da investigação relativamente aos objetivos propostos numa fase inicial e a linha de pensamento que delimitou todo o percurso da investigação, posso dizer que todos aqueles que foram propostos, foram atingidos. Ao longo do enquadramento teórico realizou-se uma abordagem aos conceitos propostos num dos objetivos específicos da investigação, que visava o aprofundamento dos conceitos da Exclusão e Inclusão Social, da Educação Não Formal e do Empowerment, estabelecendo-se assim uma ligação positiva entre eles, em concordância com o tema da investigação. Outro dos objetivos passava pela exploração da dimensão social e educativa do desporto no contexto específico dos projetos de intervenção social junto de jovens em risco, que também ela foi realizada em algum momento deste trabalho, nomeadamente com descrição da forma como é que se utiliza a educação não formal associada ao desporto nos projetos de intervenção social. Contribuir para uma maior divulgação e valorização social do Projeto Futebol de Rua, foi igualmente alcançado com este trabalho, através da realização do estudo descritivo do projeto assim como toda a recolha de dados feita aos intervenientes do projeto ao longo da investigação. Por fim, mas não menos importante, almejou-se que esta dissertação pudesse servir para o aumento de documentação científica produzida sobre o tema da inclusão social através do desporto. Espera-se que possa vir a ser útil para quem, assim como eu, se dedica a estudar sobre esta causa e ambiciona utilizar o desporto como uma forma de educação e de construção de uma sociedade mais justa, mais tolerante e mais solidária no futuro.
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PROPOSTA PARA FUTUROS ESTUDOS
Sendo “a dúvida” o ponto central da ciência e atuando como guia da investigação, ambiciona-se que este estudo possa vir a dar origem a outros estudos sobre o desporto e o seu papel catalisador de mudança social. Este principio orientador da ciência permite que haja sempre forma de compreender uma dada realidade, situação ou questão de maneira diferente de todas aquelas que até então foram perspetivadas. Ao longo deste estudo, e de acordo com os objetivos propostos, a investigação centrou-se nos jovens em situação de risco, e de que forma é que o desporto os pode ajudar a se reinserirem na sociedade. Esta vertente educativa do desporto visa permitir a atuação junto dos jovens em contexto de risco, podendo ser realizada tanto na prevenção como também numa fase de facilitação da inclusão. Contudo, e recorrendo uma vez mais à obra de Ryan (1971) que retrata a culpabilização das vítimas, seria importante estudar da forma mais holística possível o fenómeno da inclusão social através do desporto. Não se deve responsabilizar somente os jovens na quebra dos laços sociais, importando por isso perceber o papel de cada indivíduo, de cada cidadão que, pela sua ação, pelo seu modo de estar na vida, acolhe ou rejeita 'O Outro' sem sequer procurar saber se esse outro precisa de ser convidado a fazer parte, ou se esse outro está excluído por uma série de circunstâncias e/ou falta de oportunidades que serão, então aí sim, responsabilidade de um coletivo a que chamamos comumente sociedade. Neste sentido, seria interessante e pertinente para a abordagem ao tema, a compreensão, investigando não só sobre o papel que a sociedade tem nos movimentos de exclusão de jovens em risco, como também a importância que ela tem na prevenção destes movimentos. Por fim seria de igual modo importante estudar a forma como a própria sociedade pode contribuir para a inclusão social destes jovens. Esta é a proposta deixada para eventuais estudos futuros acerca da compreensão do fenómeno da inclusão social de jovens através do desporto.
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ANEXOS
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Guiões de entrevistas semiestruturadas
Recolha de dados para efeitos de investigação académica Instrumento de recolha: Entrevista semiestruturada Objetivo da entrevista: Conhecer em que medida é que o projeto contribui para a inclusão social de jovens em risco. Entrevistados: Jovens ao abrigo do projeto (definidos pela amostra) Entrevistador: João Paulo Malho Guião de entrevista: Fase 1 - Apresentação:
Nome
Idade
Instituição ou distrito que representas
Duração da ligação com o projeto
Papel desempenhado atualmente no projeto
Nível de escolaridade
Fase 2 - Questões:
Durante quanto tempo é que fazes pu fizeste parte do Projeto Futebol de Rua?
Quais eram as tuas espectativas em relação ao projeto quando participaste pela primeira vez?
Descreve-me o teu trajeto ao longo do projeto, quais foram as competições em que participaste.
Que valores é que o projeto te transmitiu?
O projeto abriu-te oportunidades profissionais?
O que tentas transmitir aos jovens participantes?
Se nunca tivesses participado no projeto, consegues imaginar-te onde/como é que estarias hoje?
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Recolha de dados para efeitos de investigação académica Instrumento de recolha: Entrevista semiestruturada Objetivo da entrevista: Conhecer em que medida é que o projeto contribui para a inclusão social de jovens em risco. Entrevistado/a: Membro da equipa técnica do Projeto Futebol de Rua Associação CAIS Entrevistador: João Paulo Malho Guião de entrevista: Apresentação:
Nome
Função no projeto
Duração dessa função
Perguntas abertas e fechadas
Há quanto tempo está no projeto?
Relativamente ao contexto profissional, em que medida é que um psicólogo pode ser útil nestes projetos?
Tipo de acompanhamento prestado ao projeto
Competências pessoais e sociais desenvolvidas ao longo do projeto
É possível constatar uma evolução dessas competências ao longo do tempo?
Em que medida é que o Futebol de Rua contribui para a empregabilidade dos jovens?
Que impacto tem o desporto na inclusão social de jovens em risco?
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Recolha de dados para efeitos de investigação académica Instrumento de recolha: Entrevista semiestruturada Objetivo da entrevista:. Conhecer em que medida é que o projeto contribui para a inclusão social de jovens em risco. Entrevistado/a: Membro da equipa técnica do Projeto Futebol de Rua Associação CAIS Entrevistador: João Paulo Malho Guião de entrevista: Apresentação:
Nome
Função no projeto
Duração dessa função
Descrição do Projeto:
Inicio do projeto
Fontes de financiamento
Objetivos do projeto
Competições (distrital, nacional, mundial)
Iniciativas (Sessões MOVE; Move-te, Faz Acontecer; Curso de Arbitragem APAF)
Contributo do Desporto:
Segundo a experiência do projeto, de que forma é que o desporto contribuiu para a inclusão social de jovens?
Reconhecimento do projeto
Prémios e distinções
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CONSENTIMENTO INFORMADO PARA PARTICIPAÇÃO EM ESTUDOS DE INVESTIGAÇÃO Título do estudo: O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco Enquadramento: O presente estudo é realizado no âmbito da dissertação para a obtenção do grau de mestre em Intervenção Social, Inovação e Empreendedorismo, da Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação e da Faculdade de Economia, ambas unidades orgânicas da Universidade de Coimbra, sob a orientação da Professora Doutora Maria Jorge Ferro. Pretende-se com este estudo, realizar uma investigação de cariz qualitativo em que se vai aprofundar acerca de quais as potencialidades do desporto na promoção da inclusão social de jovens em risco. A recolha de informação necessária para a investigação será feita através de entrevistas para preencher, sendo gravadas e transcritas posteriormente. Confidencialidade e anonimato: assegura-se uso exclusivo dos dados recolhidos somente para o presente estudo, garantindo confidencialidade e o anonimato dos participantes envolvidos, assegurando assim que em momento algum os dados pessoais serão tornados públicos. Contatos do investigador: João Paulo Malho - joaopaulomalho@gmail.com
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Transcrição de entrevistas realizadas
Codificação – E1, tem 23 anos, é treinador e responsável pela equipa de jovens.
P: Há quanto tempo é que fazes parte do projeto Futebol de Rua? R: Mais ao menos, 5 anos, talvez 6. P: Quais foram as tuas expectativas em relação ao projeto? Ou seja, quando te disseram vais entrar, o que é que estavas à espera? R: Quando entrei no projeto em Beja pensei simplesmente vai ser um torneio, vamos jogar à bola. Depois quando chegamos lá damos de cara com os workshops preparados pelo Gonçalo e pelo Cais. Vimos que isto é um projeto mesmo de re-inserção social e que é para incutir valores que não aprendemos logo no futebol ou futsal ou nas modalidades que estamos inseridos e tudo o que vem do Futebol de Rua é para o nosso crescimento, tudo! Principalmente, desviar dos maus caminhos, incutir valores que precisamos na nossa vida, como o companheirismo, espírito de equipa, amizade, entre-ajuda. Pessoalmente, não contava encontrar isso ao início e surpreendeu-me bastante. P: Consegues descrever-me assim, em traços gerais, os anos que tiveste, como jogador, os torneios que fizeste, competições? R: Comecei em Beja, o primeiro ano, 2014, ganhámos o torneio distrital, a minha equipa. Viemos, veio uma equipa de 3 ao campeonato nacional em Braga e fomos campeões nacionais. Nunca tinha pisado num campo de futebol de rua, porque em Beja era futsal. Viemos cá (Braga) fomos campeões nacionais, tudo vitórias, só tivemos um empate. Segundo ano, não participei. Participei só no distrital, mas depois por motivos profissionais não consegui participar. Fiquei muito triste. No fim desse ano fui chamado à seleção nacional sem participar, porque esse ano o mundial foi antes do torneio nacional. Fui chamado à seleção nacional, fui o melhor marcador da seleção nacional. O mundial foi na Escócia, Glasgow, 2016, ficámos em 5º lugar, perdemos em pénaltis com o Brasil. Não perdemos nenhum jogo em jogo jogado e acho que foi o ponto mais alto do futebol de rua para mim. Depois, ano a seguir, em Beja, em casa, finalistas vencidos contra Faro. E no ano passado na Batalha com uma equipa totalmente nova, o meu objetivo já era passar aos mais novos que estavam na minha equipa tudo o que aprendi e tentar que alguns deles fossem à seleção, foi o caso de dois colegas meus, o Luís e o Ruben, foram a seleção nacional do ano passado. Este ano, tudo diferente. Treinador, vim como treinador e responsável, com uma equipa com idades compreendidas entre os 17, tenho 2 menores, e os 20 anos, o mais velho da equipa fez 20 anos no dia em que chegámos cá a Braga. E agora, conseguimos chegar às meias-finais nos nacionais perdemos contra uma equipa super madura, como é a da Madeira, com jogadores muito experientes, como é o caso do Vítor e Leo e saímos de pé, como toda a gente viu. Com miúdos que só tenho 2 repetidos, ou seja que
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é o segundo ano que vem, que é o André, guarda-redes, e o Tiago que é o capitão. O resto é tudo miúdos que jogaram pela primeira vez futebol de rua. P: Ao longo do projeto, um bocadinho do que estávamos à bocado em off, a questão dos valores, o que é que achas que o futebol de rua transmite, o que é que tu aprendeste com o projeto? R: Eu, principalmente, como jogador no futsal, jogo futsal, reclamava muito com os árbitros, era muito mandão na minha equipa, era mesmo assim e quando chego, primeiro ano aqui, e fui aos workshops mudei um bocadinho. Não vou dizer que mudei totalmente, porque também fui logo vencedor e aquela coisa toda. Mudei um bocadinho, mas quando fui à seleção nacional, o estágio é outro mundo, a gente aprende coisas que, eu deixei de falar com os árbitros. A minha equipa são os melhores, podem não ser, mas para mim são os melhores, os meus atletas são os melhores e isso são coisas que… E nunca perdemos, nunca perdemos, ganhemos, percamos, dentro do campo, porque fora nunca perdemos!
P: O que é que tu sentiste quando representaste a seleção fora de Portugal ? R: Foi a melhor experiência da minha vida, sem dúvida. Não só dentro do campo, mas principalmente mais fora do campo. P: Porque é que regressaste ao projeto agora como treinador? Alguma coisa te motivou? Fizeste os 3 anos de jogador… R: Tudo! Fiz os 3 anos de jogador, aproveitei os 5 anos de distrital que se pode e este ano em Beja, as entidades tiveram de se afastar, como é o caso do Francisco sair também por motivos profissionais, ele que era o treinador da seleção nacional. Teve de se ausentar, ninguém pegou no projeto e eu dei o braço a torcer, faltei ao trabalho, disse “Vou, vai ter que haver futebol de rua!” e na sexta-feira tínhamos 5 equipas inscritas, telefonemas, tínhamos miúdos de Barrancos, a cento e tal km de Beja, pertence ao distrito, mas é muito longe. E, fiz o torneio distrital com 13 equipas. Das 13 tinha de convocar 8 jogadores, só consegui convocar 7, porque só podia vir uma carrinha e tinha de trazer o motorista e eu. Queria trazer 8 jogadores e só consegui trazer 7. Principalmente, motivou-me tudo, porque eu queria dar-lhes o que eu tive, e se conseguisse, algo melhor. Consegui dar aos meus atletas coisas que se calhar tive pouco no primeiro ano, eles chegam aqui com umas bases, eles chegaram aqui com umas bases, não é me estar a elogiar, mas toda a gente diz que parecem uns matraquilhos a jogar, super mecanizados. Tivemos um jogo em que a primeira parte, em 7 minutos, tivemos 6 minutos a bola. E mesmo fora de campo, eles dão-se com toda a gente, faço questão que eles cumprimentem toda a gente, que vão visitar as outras equipas, que interajam com as outras equipas, que é o mais importante do futebol de rua.
P: O projeto já te abriu alguma oportunidade profissional? Quer seja a nível profissional, de trabalho mesmo ou na questão do curso de treinador, formação?
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R: Eu não levo a pergunta por aí, mas posso dizer que me motivou mais na escola. O Gonçalo disse uma coisa no estágio que foi “Entre fazer bem e fazer mal, custa o mesmo” e eu na escola era daqueles que me sentava lá atrás, a professora dava a matéria e eu se calhar apanhava 10%, nos testes fazia as minhas cabulazinhas e ia-me safando. Quando o Gonçalo disse isso, eu saí da seleção e fui para a minha licenciatura, primeiro ano, mudei um bocadinho, tento fazer as coisas todas, tento passar às disciplinas todas, e isso principalmente, motivou-me a nível escolar.
P: Foi fundamental o projeto para ires para o ensino superior? R: Foi, pelo menos motivou-me completamente.
P: Chegou agora a questão de perceber o que é que tu transmites aos teus jogadores, mas foste dizendo isso ao longo da entrevista. Tenho aqui uma pergunta, que tem sido a pergunta que menos me conseguem responder e sei porque. Imagina que nunca tivesses participado no projeto, o que é que acontecia? Onde é que estarias, o que é que farias?
R: Provavelmente já não estudava, ou se estudasse, em vez de me faltar só acabar este ano e o estágio e 3 disciplinas, ia-me faltar umas 10 disciplinas ou 15. Se calhar era muito diferente como jogador e tinha tomado outros caminhos, mesmo lá no bairro, com certeza, acredito que sim. E nem estava aqui a esta hora, que era o que mais… ei, nem me imagino, nem imagino… Nem quero.
P: acho que está tudo, se quiseres dizer mais alguma coisa, estás a vontade. R: Queria só frisar que a minha irmã, que tem menos um ano e um mês que eu, também ingressou no projecto quando eu e foi campeã nacional comigo em Braga e acho que é das poucas atletas femininas que foi aos nacionais de equipas mistas e toda a gente pergunta por ela todos os anos, mas ela já não consegue, porque ela joga na primeira liga de Futebol 11 e graças a Deus também tomou bons caminhos, mas todos os anos quer vir ao futebol rua e jogar, ainda este ano quis vir, mas por motivos profissionais não conseguiu, teve jogo no dia do campeonato distrital, se não ela estava presente, de certeza. Ela acompanhou desde o início disto tudo e desde a vida.
Codificação - E2, tem 25 anos, é treinador e responsável pela equipa de jovens. P: Quando te disseram que ias participar no projeto enquanto jogador, quais eram as expectativas? Sabias para o que ias?
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R: Sim, normalmente nós, distrito de Portalegre - casa de acolhimento, sempre tivemos uma relação muito aberta com a associação Cais na qualidade do Gonçalo. Sou suspeito para falar do Gonçalo porque tenho uma relação muito grande e muito próxima com ele, mas sempre tivemos uma relação muito aberta, falávamos o ano inteiro, ele dizia-me o que é que estava a pensar para a fase final, íamos falando. As expectativas eram altas, obviamente que para ganhar é difícil. Nós não temos matéria prima para combater contra Lisboa, contra Setúbal, contra o Porto... é complicado mas tentamos sempre dignificar o nosso distrito e a nossa instituição, porque foi o que vimos cá fazer. Obviamente que há valores a serem transparecidos para dentro do campo, e para fora do campo, e é isso que nós trabalhamos, tentamos trabalhar, com jovens de uma instituição. Como estava a dizer, eu acho que a nível pessoal qualquer um de nós gosta de chegar ao topo, e eu tive essa sorte, tive a sorte de representar Portugal no mundial em Paris em 2011. Para fazer um bom torneio, em 2011, já o tinha feito em 2010 quando o mundial foi no Brasil fiquei préselecionado na altura e no ano a seguir a minha afirmação num torneio do distrito nacional que me levou ao mundial, foi uma experiência fantástica, ainda hoje eu digo aos miúdos que se não fosse o instituição eu nunca tinha ido ao mundial, nunca tinha chegado a este nível e ter conhecido tanta gente fantástica. Porque as pessoas que sejam mais limitadas ou não, que tenham mais ou menos capacidades estão ao mesmo nível. Nós temos de pensar que o problema dos outros amanhã pode ser o nosso, e eu acho que é nesse sentido que devemos pensar. Trabalhamos os miúdos dessa forma, fazê-los ver que amanhã vai ser sempre um dia melhor do que hoje e do que ontem. P: A nível de competições fizeste o mundial, fizeste algum europeu ou alguma representação fora? R: Não, fiz só o mundial em 2011, e foi uma experiência fantástica. Em termos desportivos não foi bom, não foi o melhor. Houveram diversos problemas, mas isso faz parte em qualquer comitiva, apenas retirei as partes boas, obviamente que temos de tirar as partes más também para aprender no futuro, mas o importante foi aquilo que foi passado, a experiência em si - conhecer outra realidade, conhecer outras pessoas, outras nacionalidades - acho que desfrutei ao máximos e quem vai ao mundial o que tem de fazer é desfrutar e agarrar a oportunidade porque vão ao mundial e 200 e tal é que ficam na fase distrital e nacional. Toda a gente gostava de ir e não é para todos, por isso todos os que vão, deviam aproveitar ao máximo. P: O processo de aprendizagem deste projeto não é só futebol, pois não? R: Não é só futebol, eu acho que as pessoas continuam ainda iludidas, já ultrapassaram um pouco a fase de virem para o futebol de rua só por causa do futebol. O Gonçalo e a equipa dele tem trabalhado bem esse aspecto, que trabalham as suas competências e voltam a praticá-las dentro e fora do campo. Esse é o objectivo do futebol de rua, é essencialmente praticar competências e valores fora e dentro do campo porque é o impacto que o futebol de rua tem na nossa vida e eu acho que as pessoas ainda não tem bem essa noção e consciência. Eu falo por mim, quando comecei a praticar futebol de rua tinha 16 anos e agora O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
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tenho 25, acho que foi uma experiência que marcou a minha vida, tenho noção que sou uma pessoa mais madura também devido ao futebol de rua porque quer queiramos, quer não isto muda a nossa vida, não só pessoal como também profissional. Abre-nos portas, outros horizontes. Estou muito grato pelo que o futebol fez por mim, eu também dei muito ao futebol de rua com o meu contributo aos miúdos. O futebol de rua precisa de pessoas - não só como eu, que estejam interessadas de participar, jogar, colaborar, acho que esse é o grande espírito do futebol de rua. P: Porque é que regressaste ao projeto, agora noutro cargo? R: Regressei porque é difícil largar o futebol de rua, estou um bocado emocionado, mas isto é verdade! Estava em Lisboa este fim de semana e não era para vir mas senti que tinha de vir cá cima vê-los, até mandei uma mensagem ao Gonçalo - Arranja-me um quarto aí no hotel que está tudo cheio. Fiquei num quarto com os miúdos, partilhamos sem problema porque o espírito que isto traz não é só dentro das tabelas, é cá fora também. É mais importante cá fora, sem sombra de dúvidas. P: Este projeto abriu-te oportunidades profissionais? Como é que estás a orientar a tua vida? R: Tive 2 anos e meio na instituição, enquanto aluno residi 7 anos na instituição, depois fiz a minha autonomia de vida, aos 21 fui tirar uma especialização em serviço social porque tinha feito o curso tecnológico de desporto no ensino secundário, e como foi uma mudança muito radical fiz uma especialização primeiro antes de ir para a licenciatura. Fiz a licenciatura em Serviço Social, no 1º ano o diretor da instituição convidou-me juntamente com a equipa técnica para avançar com o projeto com a equipa educativa e ficar responsável pelo futebol de rua, para trabalhar os jovens e as competências, aceitei. Financeiramente na altura estava só a receber bolsa, não tinha qualquer tipo de rendimentos aceitei também por isso, e foi através do futebol de rua que me abriu essa porta. Estou à vontade para dizer que sem a instituição toda a minha educação e toda a minha formação foi a instituição e o futebol de rua que contribuíram para isso. Depois dos 4 anos de licenciatura, aceitei o convite como treinador. Este ano deve ser a minha ultima participação diretamente, já falei com o Gonçalo e tudo o que ele precisar de mim está à vontade, agora vai ser um pouco mais difícil estando a trabalhar em Lisboa contribuir diretamente, mas eles sabem que estão à vontade comigo, tudo aquilo que eles necessitarem podem contar com a minha disponibilidade e com a minha ajuda. P: No papel de treinador o que é que pretendes transmitir aos teus jogadores? R: O que eu lhes transmito enquanto atleta e enquanto treinador enquanto participante do futebol de rua é que eles desfrutem ao máximo e dignifiquem ao máximo a instituição e o concelho que estão a O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
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representar, porque quem vem ao futebol de rua - a fase nacional - não se pode esquecer que no distrito deles ficaram mais uns quantos que gostariam de estar aqui e aproveitar. Digo isto, desta forma - viver num hotel estes 5 dias, nem toda a gente tem essa possibilidade, na nossa vida à poucas pessoas que tem essa possibilidade nem que seja 1 ou 2 dias num hotel é diferente, sais do teu mundo, convives com outro tipo de pessoas que não estás habituado. Sais do teu habitat natural, convives com outras nacionalidades, Bélgica, Inglaterra... e conheces experiências novas, além de terem o futebol de rua para participar. Amanhã vai ser sempre uma experiência que eles vão contar aos amigos, aos familiares, temos o exemplo do Bebé e do Éder, que são jogadores profissionais que passaram por aqui também, e eles ainda hoje nunca se esquecem onde foram formados, das raízes deles. O impacto do futebol de rua é que transforma as nossas vidas e é isso que eu lhes faço passar. Eles (os miúdos) tem de perceber que isto vai mudar as vidas deles, quem quer, quem não quer aprender e não liga vai bater muitas vezes com a cabeça na parede, até aprender, obviamente. Vai se lembrar no futuro - afinal o que Manuel o Joaquim disse tem razão é essa a mensagem que eu lhes tento passar a e experiência, que agarrem esta oportunidade porque nem toda a gente tem a possibilidade de vir aqui desfrutar. Eles têm camas e roupa lavada, e comida da melhor sem pagar nada. P: Em termos de valores o que é que isto te transmitiu? Com a passagem do projeto que valores é que consegues tirar daqui? R: Além de trabalharmos todos os dias, certos e determinados valores, nós tentamos passar para os jovens embora não seja fácil, porque cada jovem vem da sua instituição, eles são 30 e não é fácil trabalhar os 30 da mesma forma, cada um tem o seu feitio e maneira de ser, às vezes tentamos trabalhar valores ao nível da competência. Em certos e determinados espaços e tempo, não podemos pedir a um jovem que adquira certos valores num curto espaço, porque a minha capacidade de absorção é diferente da tua, ainda por cima miúdos problemáticos, que foram traídos pela vida. Às vezes torna-se chato, mas tentamos passar mesmo não sendo fácil. Temos um miúdo, o Daniel que em termos futebolísticos deu um salto muito grande, mas em termos de valores do miúdo - ele perdia a bola, não dizia nada, se fosse o colega dele a perder a bola ou a falhar um golo ele quase que o esfolava - veio agora ao futebol de rua e nós vamos trabalhá-lo aqui, porque às pessoas diziam: - tu vais levar o Daniel, ele vai ser conflituoso - mas se ele nunca for ao futebol de rua se calhar vai continuar a se igual, nós vamos trabalhar o Daniel no futebol de rua durante este 5 dias e vamos fazer ver que ele vai cometer os erros que os outros cometem, ele vai ver outras pessoas e outras equipas que jogam melhor que ele, vão cometer os mesmos erros que a equipa dele comete, ele não vai poder ter esse tipo de comportamento. Está a ter um comportamento desgastado, e é isso que nós tentamos passar.
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P: Se não fosse o projeto onde estarias/como é que estarias hoje, imaginas? Não imagino porque desde o primeiro dia em que nós participamos no projeto, logo aí muda radicalmente a nossa vida. Quem desfruta e sabe aproveitar o futebol de rua, como eu soube aproveitar, sabe estar mais perto do sucesso, isto é a realidade. Tenho uma frase tatuada, que fiz depois das minhas 4 participações no futebol de rua "Ninguém pode atrasar quem nasceu para vencer" isto significa que o projeto do futebol de rua me deu muito sucesso a nível pessoal e profissional. Hoje trabalho na melhor clínica do país, a Cuf, tenho noção que sou um previligiado, devido também ao que o futebol de rua me deu e à formação, educação, a todos os valores que o projeto me deu. E é isso que nós passamos para eles, que eles consigam captar estes valores todos para amanhã transmitir a quem têm ao lado deles, e eu soube aproveitar muito bem, se não fosse o futebol de rua não sei se estaria aqui agora, se calhar não estaria, e se calhar não estaria empregado, não teria tirado a licenciatura, se calhar não teria feito nada, se calhar estava como muitos andam aí na rua, perdidos. Eu acho que isto me transformou um bocado e tenho sorte, o Gonçalo está farto de me dizer que eu soube aproveitar o projeto.
Codificação – E3, tem 30 anos, treinador e responsável pela equipa de jovens
P: Há quanto tempo é que fazes parte do projeto? R: É assim, participei no Futebol de Rua em 2006 pela primeira vez. P: Como jogador certo? R: Sim e em 2007 também participei a representar os Açores cá, a nível nacional e depois fui selecionado para Portugal onde fui para Dinamarca depois. Praticamente desde 2006. P: Quais é que eram as tuas expectativas do projeto? Ou seja, a partir do momento em que te inscreveste ou disseram vais participar, o que é que estavas à espera que isto fosse? R: Julgava que fosse uma brincadeira, que ia brincar como brinco com os meus amigos na rua. É assim quando eu também participei já fazia parte de um clube, era jogador e ainda sou, mas nunca fazia ideia que ia a uns nacionais e depois ia por Portugal. Quando entrei era naquela de brincar e depois as coisas foram empurrando, foram empurrando. P: Estavas a falar que foste à seleção, que foste à Dinamarca, descreve-me um bocadinho o teu percurso a nível de competições?
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R: É assim, eu participei em 2007 e depois a partir daí viemos cá. Em 2007 havia ainda quem ganhasse lá em São Miguel, vinha a equipa completa, não havia ainda seleção dos Açores. Ganhámos, viemos cá, depois fui selecionado para ir representar Portugal no campeonato do mundo na Dinamarca. Isto em 2007. Depois ocorreu uma coisa muito boa na Dinamarca e eu fui selecionado para ir fazer uns testes por um clube profissional, que era Copenhaga. Porque era uma coisa muito vivida lá e passou do 8 para o 80 assim do nada e foi uma sensação única. É isso que eu digo aos meus miúdos, eu trabalho numa instituição com miúdos problemáticos e eu digo a eles “opa vocês não se metam em porcarias e ponham-se no desporto” porque eles assim perdem tempo e não fazem porcaria, eu também nunca quis nada com a escola, mas pronto. Opa, mas em Copenhaga foi uma sensação única. P: Foste fazer treinos ao Copenhaga no torneio ou foste lá depois? R: Foi mesmo no torneio. P: Essa experiência internacional foi a única vez? R: Sim, sim P: Como jogador foi o que? Os 3 anos na mesma ou como foi? R: Eu só joguei 1 ano. P: Então foste logo selecionado? R: Sim, fui logo. P: Diz-me uma coisa a nível de valores, o que é que o projeto te transmite? Já falamos na questão de que não é só futebol e não é só jogar com os amigos. R: É o que eu te digo e o que eu digo aos meus miúdos… O que eu aprendi foi a conviver com outras pessoas, eu não falava com ninguém, tava calado e quando cheguei ao continente para vir jogar os nacionais, as coisas mudaram completamente. Fiz amizades, uma coisa que era difícil. E para mim o futebol de rua é isso, é conviver umas pessoas umas com as outras e não há competição. Para mim no futebol de rua não há competição, há conviver, há essas coisas todas. O futebol de rua é uma coisa que não há explicação. P: Diz-me uma coisa tu foste jogador e o que é que te fez regressar ao projeto agora como treinador? Foi logo direto ou ainda esperaste uns anos? R: Não, não. É assim, em 2007 eu fui como jogador para jogar o futebol lá nos Açores, depois em 2008 não viemos cá com o Bruno Cadente e depois fui convidado em 2009 para vir treinar a seleção dos Açores, onde tive de 2009 a 2012. Depois parei, tive a estudar e acabar o meu curso e depois regressei. P: A nível de oportunidades profissionais ou académicas, abriu-se alguma porta? O projeto proporcionou algo, tiveste aquela questão da Copenhaga. R: Sim, por exemplo a instituição que eu vim participar cá, o Casa, que é uma instituição que me abriu portas e para o futuro foi uma coisa muito importante, o Casa. Depois eu acabei o meu curso, fui estagiar para lá e agora aceitaram-me lá na instituição. O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
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P: Deu-te essa margem de progressão para trabalhares lá. Agora sim, sendo tu treinador o que é que tu transmites aos teus jogadores? R: Para fazer convívio, é o mais importante, tarem aí a brincar ou por exemplo estamos ali à frente da Inglaterra, eles não nos estão a perceber, mas fazemos uma brincadeira e tem que ser assim e não andemos cá com coisas. Por exemplo, podíamos ter feito uma seleção muito mais forte do que esta, mas não fizemos, porque quisemos dar oportunidade a miúdos que terminem o ano escolar com boas notas e isso é algo importante. P: Diz-me uma coisa, a última pergunta e eu sei que é difícil de imaginares, mas imagina que se em algum momento não tivesses participado no projeto futebol de rua, o que seria de ti hoje, o que é que farias hoje, quem serias? R: Não sei… P: Eu sei que é complicado, mas não tens assim a mínima ideia? R: Uma coisa que é fácil, por exemplo eu já tenho o meu curso de treinador e sou jogador de futebol já desde os meus 8 anos e tenho 30 e já são 22 anos no futebol e por exemplo eu jogo e treino miúdos e é uma coisa que… Eu fui sempre subindo e graças a Deus que no patamar que eu tou hoje em dia, não sei. Futebol de Rua foi importante, isso sem dúvida que foi, o projeto é espetacular e se eu não tivesse entrado era muito diferente, de certeza. P: Ok , muito obrigado!! R: Obrigado eu.
Codificação – E4, tem 33 anos, treinador e responsável pela equipa de jovens
P: Há quanto tempo é que fazes parte do projeto, lembras-te? R: Eu tenho ideia que foi em 2012. P: Já havia a regra dos 3 anos de jogador? Fizeste 3 anos de jogador, como foi? R: Sim, eu fiz os 3 anos de jogador e desde aí fui sempre treinador P: Lembras-te de quais eram as tuas expectativas quando entraste no projeto ou aquilo que achastes que ia ser? R: No fundo eu não tinha expectativas nenhumas e isto começou tudo numa brincadeira em que nós na altura não éramos os promotores distritais e fomos convidados a participar num torneio distrital de futebol de rua que havia muito em Chelas, no Bairro do Armador. Eu sei que primeiramente foi lá uma equipa do Companheiro na qual eu não participei, eu fui depois no ano a seguir e a nossa expectativa era só jogar e ganhar, ir lá ao torneio jogar e ganhar. Eles depois disseram que íamos ao torneio nacional e a gente nem tínhamos equipamentos, nem nada, era aquilo que a gente tinha e mais nada. E prontos acabámos por ir O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
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e depois nesse ano por acaso ganhámos e fomos campeões distritais. Depois fomos a nível nacional, ao nosso primeiro nacional, em Beja e ficámos em 4º lugar surpreendentemente, porque chegámos la, pensámos que era uma coisa e afinal era outra completamente diferente e então fomos assim um bocadinho surpreendidos. Aliás na altura nem sequer era hotéis, nem nada, ficávamos no quartel militar e acabamos por ficar surpreendidos e conseguimos ficar em 4 lugar, o que não foi mau, porque ficamos entre as 4 melhores. P: Havia de haver equipas mais bem organizadas que vocês, não? R: Sim, havia já equipas muito boas, por exemplo o Porto já era campeão há 4 anos seguidos ou já tinha sido 4 anos campeão, havia Aveiro que tinha sido campeã no ano anterior, havia Beja que era uma equipa fortíssima e Setúbal que tinha imensa experiência e nós sem experiência nenhuma nestes andamentos. No meu primeiro ano houve 2 companheiros meus de equipa que foram à seleção e depois em 2013 fui eu, calhou-me a mim. A minha prestação no mundial quando a gente foi à Polónia não foi muito boa, porque tinha uma lesão no pé, umas dores no pé e mesmo nos treinos ainda aqui em Portugal tinha bastantes dificuldades, eu esforçava-me muito em cima do pé e quando chegámos ao mundial eu não consegui estar no meu melhor. Não conseguia mesmo, mas pronto entreguei tudo o que eu tinha, dei tudo o que conseguia, a nível de campo e ca fora, tentei entregar o melhor de mim e nesse ano conseguimos ficar em 5º lugar. P: O que é que isso significou para ti ou o que é que sentiste na altura quando jogaste por Portugal fora de Portugal? R: Eu acho que foi uma coisa assim do outro mundo, porque a gente às vezes pensa e fala, mas estar ali com a camisola de Portugal vestida a ouvir e cantar o hino é assim mesmo uma coisa que mexe com toda a gente. Acho que mesmo assim ao fim de tantos anos acaba por mexer. P: Em termos de valores o que é que o projeto Futebol de Rua te transmitiu, o que é que tu aprendeste, tanto dentro como fora de campo? R: Ao longo destes anos fui jogador e agora sou treinador, já estou no meu 3º ano seguido como treinador. Ensinou-me acima de tudo que isto do futebol é como a vida, às vezes a gente perde, às vezes a gente ganha, mas o que importa é que a gente tem de saber superar os momentos em que a gente perde, por mais difícil que seja nós temos de saber superar e no fundo o projeto ajudou-me muito nisso, porque por exemplo no meu primeiro ano nós fomos a Beja onde tivemos de jogar à bola debaixo de 42º graus, o que foi assim uma coisa de outro mundo, mas nós superámos isso, apesar de todas as dificuldades que tínhamos e conseguimos sempre ir mais longe e foi sempre assim sucessivamente. Com todas as dificuldades que fomos encontrando, tanto dentro como fora de campo nós fomos sempre superando. Ter sempre aquela força de vontade para superar e fazer melhor. Eu acho que no fundo foi isso. P: O que é que te levou a continuar a estar ligado ao projeto? Agora com um papel diferente. R: Porque… É assim porque eu acho que isto é um vício, este projeto é um vício muito agradável em que a gente tem oportunidade de conhecer pessoas, conviver com pessoas que já não vê há algum tempo e
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ajudar as outras pessoas que tem mais alguma dificuldade em aumentar um pouco a auto-estima, perceber que aquilo que a gente ganhámos, essa tal vontade de superação, que eles também a conseguem ter. P: Que impacto é que teve o projeto na tua vida? A nível social, profissional. R: A nível profissional eu acho que no fundo é essa vontade de superação, porque eu por acaso quando vim para cá pela primeira vez como jogador não tinha um emprego fixo e se calhar o futebol de rua acrescentou um pouco isso na minha vida pessoal. A nível mesmo que me tenha caraterizado talvez mesmo a liderança, a vontade de dizer aos outros “vamos em frente” e “não precisamos ter medo”, eu acho que foi muito isso. P: O que é que hoje em dia transmites aos teus jogadores? Qual é aquela passagem de testemunho? R: Que independentemente do resultado dentro ou fora de campo, a vida é saber levantar a cabeça sempre e ter força de vontade para continuar. P: Última pergunta, agora mais difícil de todas, ainda ninguém me conseguiu responder a isto. Se nunca tivesses participado no projeto, onde estarias agora? O que é que estarias a fazer agora? Como é que tu serias como pessoa? Consegues imaginar? R: Conseguir imaginar, eu consigo! Talvez não fosse a mesma pessoa, mas tenho a certeza absoluta que iria procurar ter esta mesma força de vontade, eu acho que isto vem com a idade. Há um certo momento na nossa vida em que a gente abre os olhos, por assim dizer, e que a gente começa a ter essa força de vontade de superação e perceber que sem ela, a gente não consegue nada na vida. Não sei mesmo exatamente aquilo que estaria a fazer, mas… P: Serias um bocadinho menos pessoa ou melhor pessoa? R: Exatamente, acho que seria um bocadinho menos humano. P: Ok, Ricardo, da minha parte está tudo. Se quiseres acrescentar alguma coisa que te lembras ou frisar algo da tua intervenção, estás a vontade. R: Não, acho que no fundo é isto. P: Estás mais crescido, não é? R: Exatamente, no fundo é isto, é mostrar que este projeto Futebol de Rua faz a gente crescer muito na vida. P: Ok, obrigado! R: Obrigado eu.
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Codificação – E5 - tem 24 anos, árbitro no projeto R:De momento não estou em nenhuma instituição, entrei no projeto através da Santa Casa da Misericórdia do Seixal, instituição que estava a frente do projeto em Setúbal Eu era jogador da Santa casa do Seixal e era o coordenador da nossa equipa comandava o projeto em Setúbal. Quando entrei a equipa distrital de Setúbal ja estava feita, por isso fiz parte equipa de reservas em 2011, depois fui parar ao nacional em Beja na equipa da casa e fizeram a melhor classificação da Santa Casa até ao momento, ficaram em 5 lugar. Desde aí comecei a jogar muito do projeto e o pessoal foi dando umas dicas. Em 2012, 2013 e 2014 participei como jogador. Em 2013 foi chamado à seleção nacional e fui jogar ao mundial na Polónia. Em 2015 tirei o curso de árbitro, o ano passado comecei a apitar jogos no projeto e este ano estou cá outra vez. P: Já falaste um pouco sobre a tua entrada no projeto, mas diz o que é que estavas à espera quando entraste no projeto? Qual foi o primeiro impacto quando soubeste que ias fazer parte da equipa de reservas, o que achaste? R: Eu quando entrei foi só para jogar à bola, eu já jogava futebol e como estávamos no final da época tínhamos jogos e torneios, mesmo que não fosse no concelho e descobri que havia um torneio em Beja de Futebol de rua e pensei “vamos jogar!”. Entretanto comecei a conhecer melhor as regras, as pessoas, comecei a apaixonar-me pelo projeto e depois essa paixão foi crescendo de ano para ano. Depois no meu último ano abriu o curso de árbitros e eu vi isso como uma oportunidade de eu continuar integrado no projeto, continuar aqui envolvido. Entretanto também tirando o curso de arbitragem, apaixonei-me pela arbitragem e depois através da APAF acabei por tirar o curso profissional de árbitro em Setúbal e aqui estou. P: Diz-me uma coisa, a nível de valores. Já falaste que é muito mais que futebol, não é? Tiveste essa perceção logo que entraste? O que é que tiras do projeto? Se tivesses de dizer a alguém, olhando para trás, e dizer alguém que pense como tu “só venho para jogar à bola” o que lhe dizias, que isto é mais que futebol, isto é o que? R: Não, isto envolve muita amizade, é o que liga a maior parte das pessoas que estão aqui. É o convívio, o facto de fazermos sempre novos amigos, conhecermos pessoas, por exemplo quando a minha equipa foi ao nacional em 2013, eu apeguei-me logo muito a um rapaz da Madeira e todos os anos nos encontramos aqui, brincamos sempre muito, estamos sempre muito alegres. É bom por causa disto, conhecemos pessoas de outro lado, criamos outras amizades. A parte mais positiva para mim, em relação ao projeto, é a integração e inclusão que nós temos uns com os outros. P: A nível de oportunidades profissionais, o projeto abriu-te alguma porta? Falaste na questão da arbitragem. R: A nível profissional abriu, tive outras oportunidades também, só que não avancei. Mas já abriu para alguns amigos meus. No meu caso, foi a arbitragem, porque eu tirei o curso com o objetivo de continuar ligado ao projeto, entretanto fui gostando e através da APAF surgiu também a oportunidade de tirar o curso também no meu distrito, que é o que eu tenho feito até agora. E tem também vantagens, que é, a CAIS O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
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como tem parcerias abre portas para o mercado de emprego, eu por acaso tive uma entrevista na Galp, só que entretanto surgiu-me outra proposta e não avancei, mas tenho amigos que integraram por exemplo a Galp e recentemente tive uma entrevista no mini preço. A nível profissional também abre muitas portas. P: O Gonçalo tem-me dito e eu tenho acompanhado essa parte. Diz-me uma coisa, não sendo tu treinador, mas sendo árbitro, o que é que tu transmites aos atletas, quais são as regras que tu impões, os conselhos que tu dás dentro de campo? R: Eu, neste caso, dou conselhos como árbitro e jogador. Como já fui jogador, tento criar essa ligação com eles, tento que eles não me vejam só como árbitro, aquele que julga, porque normalmente veem o arbitro como o mau da fita ou mauzão. Eu tento explicar o meu lado e digo também que já fui jogador e tento também jogar com isso.
P: Última pergunta, se não tivesses participado no projeto, onde é que estarias hoje? O que é que farias? É quase impossível de imaginar, mas tens alguma ideia do que é isto mudou? R: Se eu não tivesse entrado no projeto, possivelmente já nem jogava à bola e não seria tão objetivo, porque eu agora tenho objetivos traçados e antigamente jogava por mera diversão e a partir do momento que entrei no projeto, é aquele sonho de criança que todas as crianças sonham: “um dia vou jogar na seleção”. A partir do momento que eu recebi a noticia que eu ia representar a seleção em 2013, eu comecei a ver o futebol de outra forma, temos de ser mais otimistas, confiantes e lutar pelos nossos objetivos, a partir daí tornei-me uma pessoa mais confiante e responsável também. P: O que é que sentiste quando te dizem que vais defrontar outro país? R: Naquele momento, foi como eu disse, eu quando era mais novo jogava por mera diversão e para mim era mais uma brincadeira, mais um desafio. P: Nunca te imaginaste alguma vez a ir jogar fora do país por Portugal? R: Não, isso não. P: Nem noutra modalidade? R: Se eu me imaginei foi em futsal, mas sendo futebol é basicamente o mesmo, é sempre um motivo de orgulho. P: Acho que está tudo, queres acrescentar mais alguma coisa? Já aconselhaste o projeto a alguém, a um amigo? R: Eu aconselho todos os anos, aos meus amigos lá do bairro. Este ano tenho ali 2 rapazes lá do meu bairro na equipa de Setúbal, eles não queriam participar, mas eu disse para participarem no distrital que depois fazem uma seleção e para virem que aquilo abria portas e eles vieram.
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Codificação – E6, , faz parte da equipa técnica da Associação CAIS.
Neste projeto, digamos que tenho aqui 2 funções, faço parte do staff e também da logística de toda a organização dos torneios, e etc. Tenho uma função mais específica que é do acompanhamento dos miúdos. Os miúdos que são selecionados para ir à seleção nacional têm um estágio e, portanto, tenho todo o acompanhamento que nós fazemos, juntamente com uma colega minha, que trabalha cá com connosco, que é voluntária e é psicóloga clínica. E fazemos ali um acompanhamento no estágio, um bocadinho para saírem daquele foco que é a equipa e treinos e “estamos aqui” e etc. E tem ali duas pessoas externas para falar doutros assuntos e normalmente abordamos uma série de coisas como “Estás com algum receio?”, “Estás com algum problema?”. Tentamos avaliar por dinâmicas e jogos e esquemas que fazemos quem são as pessoas na equipa que eles têm mais confiança, com quem é que se sentem mais à vontade para jogar. Tentamos antecipar quais é que são os problemas que eles antecipam que vão lá acontecer para conseguir colmatá-los antes de existirem e dar-lhes estratégias para eles os resolverem na altura. E depois temos toda uma questão pessoal mais de perceber de onde é que eles vêm, se deixaram algum problema em casa, se há alguma coisa que os vai afetar durante estes dias, se é preciso ter em atenção em alguma coisa e até a própria ligação deles com a equipa técnica que lá está, com os treinadores responsáveis, neste caso o Gonçalo e o Hélder de “ok, quem é a tua figura de referência?”, “Se houvesse um problema a quem é que recorrerias?”. Temos feito ali uma série de coisas muito para dar ali, a nível pessoal recolher informações para depois trabalhar com eles quando eles voltarem e depois a nível mesmo de grupo e de juntar aquele grupo para que o desempenho deles lá tanto a nível pessoal, como a nível desportivo seja o melhor possível e seja uma experiência de sucesso e não frustrante para eles. Pronto, basicamente é isto. P: Exclusivamente na seleção nacional? R: Exclusivamente na seleção nacional, vendo aqui este panorama maior, porque depois nós também acompanhamos, não sei se o Gonçalo lhe falou, nós temos uma vertente ligada à Fifa, é os festivais da Fifa e etc. e normalmente sou eu que os acompanho e também faço um estágio com eles e depois levoos ao festival. Só que esse festival da Fifa normalmente é com miúdos mais novos, normalmente eles têm todos 15 ou 16 anos, ou seja é uma faixa etária mais baixa do que quando eles vão para a seleção e aí, nestes festivais, é basicamente, quase toda retirada a competitividade e o ganhar e que são treinadas competências, tem uma metodologia que é o F3 em que basicamente são os próprios miúdos que controlam o jogo, não há árbitros, mas há mediadores e eles tem que estabelecer as regras técnicas do jogo, como é que o jogo vai ser jogado, estabelecer regras de Fair Play, regras de como é que jogam e respeitam os outros, igualdade de género e etc. Portanto é muito mais virado para competências, para os miúdos crescerem e aprenderem e conhecerem outras culturas, do que propriamente ter esta vertente desportiva de “eu vou lá enquanto Cais, ou enquanto Portugal para estar num torneio”. Há um torneio, sim, mas é de equipas mistas, portanto há logo ali uma descaraterização total, porque aí “eu já não sou da Cais, nem vim de Portugal, sou da equipa X que se chama X e a minha equipa é este conjunto de jogadores que vem um pouco de todo o lado”.
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P: Há quanto tempo está no projeto? R: Ora, eu estou no projeto, eu entrei na Cais em 2013 e entrei no projeto em 2014. Primeiro como responsável pelas sessões Move que se fazem aqui na Cais, portanto era responsável por isso, com os utentes da Cais e depois no ano seguinte passei então para o staff de estar lá logisticamente. Tu estiveste lá, viste tudo o que o Nuno faz e a Patricia, tu conheceste, estar ali um bocadinho naquela parte e está também muito ligada, este ano eu não fui, era a minha responsabilidade, mas está ali muito ligada às sessões Move que fazemos lá. Falar com os facilitadores, organizar as coisas e perceber como é que aquilo vai funcionar e com quem é que eles vão trabalhar, um bocado também na experiência da educação não-formal. P: Relativamente ao contexto profissional, em que medida é que um psicólogo pode ser útil nestes projetos? R: Eu acho que é bastante útil, porque eu acho que, imagina, a meu ver, o desporto e, neste caso, o futebol é o desporto que tem mais peso em Portugal e principalmente para estes miúdos que vem assim de contextos mais desfavorecidos e vulneráveis e o futebol e o desporto é sempre uma porta de entrada bestial para eles entrarem seja para onde for. Depois o que é difícil a seguir é eles darem o passo ou o salto do “ok, nós não estamos aqui só a jogar futebol e estamos aqui a fazer outras coisas” e acho que, não sei se é de ser psicóloga ou se é a formação académica que tem assim tanto peso nisso, mas acho que é muito importante quando tens conhecimentos a nível de avaliação de pessoas e avaliação de grupos, perceber como é que se comportam em grupo, acho que tens aqui uma mais-valia quando trabalhas nesta área que é saber como é que podes transformar um simples jogo de futebol de rua num treino de competências, em que podes trabalhar comunicação, liderança, tomada de decisão e até resolver problemas entre eles, trabalhar a desigualdade de género, intolerância, xenofobia. Portanto, existe aí uma série de coisas e acho que tens de ter mesmo alguma base, tu, a trabalhar na educação não formal, como é que se trabalham competências dos jovens, quase numa primeira fase em que eles estão a trabalhar competências e nem se apercebem que o estão a fazer. Portanto fugimos aqui um bocadinho da lógica do treinador que vai lá aos sítios e dá treinos, a função dele é mesmo essa, é torná-los tecnicamente melhores e formá-los numa equipa, claro que sim, os treinadores não estão só orientados para aí, pelo menos os treinadores de futebol de rua não estão. Mas quando tu estás de fora e vais, eu acho que consegues estar ali, porque o teu foco e o meu foco não é que eles ganhem jogos ou deixem de ganhar, o meu foco é outro, é que esta seja uma experiência enriquecedora e que eles adquiram competências com isto e tendo o foco totalmente desligado também consigo olhar para o grupo de outra maneira. P: Pegando nessa questão das competências, são desenvolvidas seguramente competências sociais, pessoais e profissionais. Consegues explicar um bocadinho como é que elas são trabalhadas concretamente, há alguma dinâmica que seja mais utilizada? R: O Gonçalo já deve ter dito, nós aqui temos os roteiros do Move- faz acontecer. E todos os anos são escolhidas competências especificas para serem trabalhadas nesses roteiros a nível nacional e que vão ser depois aprofundadas no torneio nacional, que este ano foi em Braga. Todos os anos são escolhidas competências, o futebol de rua tem um referencial de 20 competências, nós estamos agora a fazer um O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
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manual, que está a ser feito por duas pessoas que trabalham connosco à imenso tempo nesta área e são pessoas com muita muita experiência na educação não formal e estamos a fazer um manual em que basicamente estão espelhadas estas 20 competências, eu não te sei dizer agora de cor, mas é o autoconhecimento, tomada de decisões, comunicação, etc. E basicamente é assim que nós as trabalhamos, ou seja, é pegar na educação não formal e através de experiências vividas e de trabalho uns com os outros, é retirar ali conteúdos e aprendizagens que não tiras de outra forma numa educação mais formal, porque normalmente são jovens que fugiram da escola, de um método que não se ajusta às necessidades, nem que capta a atenção deles, portanto só mesmo a fazer e acontecer e a verem as coisas aparecer e depois quando tu fazes a ponte com a vida real, eles ficam “ok, já estou a perceber, efetivamente, eu também me comporto assim na vida e eu já percebi que eu próprio tive a experienciar isto”. Portanto, nós utilizamos muito dinâmicas, roleplays, tudo muito ligado sempre à educação não formal. P: Ok, relativamente ao acompanhamento do projeto, seguramente que nos tempos em que acompanhaste a seleção nacional, consegues-me traçar um bocadinho o caminho da evolução destas competências? R: Sim, o que nós temos feito agora, principalmente nestes últimos dois anos, aqui a Cais investiu muito na parte da empregabilidade e etc. e é a parte em que eu sou responsável aqui na Cais, que são os projetos de empregabilidade e portanto aqui numa primeira abordagem nós fizemos uma data de contactos com empresas e tivemos uma série de empresas que são nossas parceiras hoje em dia e que nos pedem diretamente pessoas para trabalhar e muitas delas a nível nacional e o que nós temos feito nestes últimos dois anos é, como o futebol de rua é um projeto nacional e ilhas, então em vez de cingir isto a Lisboa e aos nossos utentes e parceiros daqui que nos são próximos e como estas empresas conseguem recrutar pessoas por Portugal inteiro temos feito então esta passagem para o futebol de rua. O que nós temos conseguido agora é, ou seja, tu acompanhas na seleção, normalmente voltas a vê-lo nos anos a seguir, porque voltam a participar e acho que quando os vês a jogar e vês a atitude deles em campo e até fora de campo e depois quando os voltas a ver quando passaram pela seleção, a atitude muda completamente, acho que eles sentem que tem de ter outra postura, porque já foram à seleção e portanto tem de dar o exemplo a nível de comportamentos e etc. e eles tem uma carga ainda enorme durante o estágio, durante a seleção e durante a ida para o mundial, que é muito de treino de competências. Existem imensos treinos de competências, todas as noites existem reuniões para partilharem aquilo que aprenderam e portanto tem ali uma carga de trabalho muito intensa a esse nível e portanto eu consigo ver logo diretamente a forma como abordam os colegas, a forma como conseguem motivar, a forma como não perdem a cabeça em campo, como fora de campo conseguem organizar as coisas e lidar com a frustração e conseguir falar com toda a gente. Para mim, eu vejo logo uma enorme diferença entre passaram pela seleção ou não passaram pela seleção e em alguns casos do ok, já é o 3º ano que participam aqui e a postura deles já é diferente do que quando entraram lá no 1º ano e não percebem muito e vem do género “ah, isto é para jogar e para ganhar e tou-me a lixar”. Até porque o futebol português, hoje em dia dá um exemplo tremendo de más práticas, portanto é um bocadinho por aí. Eu vejo aqui uma grande diferença nestes miúdos e depois consigo ver também, aqui com esta vertente nova que temos de empregabilidade, como é que eles vem e no fim tu dizes “olha, nós temos estas parcerias e se precisares de emprego” e eles aí vem atrás O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
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de ti e contactam-me e dizem “Joana, toma lá o meu currículo, arranja-me lá emprego, eu sei que tu podes arranjar”, o que não acontecia antes. Portanto, eu acho que eles ganham um bocado o sentido de “ok, se estas pessoas confiaram em mim para ir representar o meu país num campeonato mundial é porque veem em mim mais valores e competências e eu tenho de fazer alguma coisa da minha vida e ser um exemplo para as pessoas” e a maior evolução que eu vejo é essa e é notória.. P: Ok, há alguns exemplos, se é possível dar, de empresas que estão viradas para esta questão de empregabilidade? R: Olha, nós trabalhamos muito com a Bp, dos postos de abastecimento de combustíveis, trabalhamos com o grupo Dia, com o Mini Preço e agora são basicamente estas. Também trabalhamos com outras empresas, mas são mais ao nível local, mais direcionadas para os miúdos de Lisboa e Setúbal. Agora a nível nacional, para todos, são estas. P: Então, na tua opinião pessoal e profissional, o desporto tem um forte impacto na inclusão social destes jovens? R: Sim, acho que é a melhor porta que podes abrir, se tu abrires um curso de inglês não te vão aparecer, se for de informática não te vão aparecer, mas se disseres que são treinos de futebol, que podem competir e que ainda tem a hipótese de ir representar a cidade deles num torneio a nível nacional e que ainda tem a hipótese de irem ao mundial, aí, esquece, aí vão todos! Os miúdos gostam de jogar futebol e é sempre um cartão que tu metes e eles vem todos e a partir daí é o teu trabalho enquanto técnico em que fazes aqui o caminho deles. P: Certíssimo, muito obrigado, alguma coisa que queiras acrescentar? R: Não, não. Obrigada
Codificação – E7, faz parte da equipa técnica da Associação CAIS.
P: Descrição do projeto. R: Quando cheguei à CAIS. O projeto existe desde 2004, que foi o primeiro ano da CAIS em Portugal (…) o mundial já tinha acontecido em 2003, em Portugal aproveitaram o euro 2004 para começar, através da formação de uma seleção com os centros de acolhimento de Lisboa e participaram no campeonato do mundo. (…) Em 2005 houve pela primeira vez um torneio nacional, que aos moldes que temos hoje em dia seria uma espécie de distrital. Foi em Sintra, eu assisti a esse torneio sem nunca pensar que passado 3 anos estaria na CAIS com o projeto de futebol de rua. (…) Em 2006 e 2007 houve um torneio nacional, nos mesmos moldes, e a CAIS fez cerca de 99%, divulgação, montar campo, implementação, tudo feito pela CAIS, mas isto não era sustentável. (…)
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Entre 2007 e 2008 houve uma reformulação na CAIS e no projeto, eu entrei aqui. Deixámos de querer acreditar que uma só pessoa seria capaz de criar o projeto sozinha, criamos aqui um modelo de rede, a semelhança de outros países e passamos a ter promotores distritais, que ficavam responsáveis pela divulgação do projeto e torneios, mas sempre apoiados pela CAIS. (…) Nesta altura havia apenas 5 ou 6 distritos, 300 participantes, que contrasta com os 17 distritos atuais (exceção de vila real) e das 2 regiões autónomas, 1200 participantes. Em 2013, surgiu um conjunto de novos parceiros (…) que nos permitiu voltar a dar um conjunto de condições diferentes nos torneios. Começámos a trabalhar a parte das competências, (…) Foi aqui que criámos 2 eixos, o da inclusão pelo desporto e o eixo do acesso ao desporto. (…) Começaram a fazer workshops com o Erasmus+ para o treino de competências, todos os anos focamos num conjunto de valores diferente e em paralelo, formações para os responsáveis pelos jovens para lhe dar as ferramentas necessárias para que eles possam ajudar os jovens diariamente. (…) Foi também em 2013 que aumentámos os dias do torneio nacional para 5 dias, em 2010 tínhamos aumentado de 3 para 4 e aqui aumentamos mais um dia, porque assim temos um dia de atividades e workshops Em 2015, surge uma nova atividade que se insere no eixo de inclusão pelo desporto, que é o curso de árbitro de futebol de rua e que permite a antigos participantes que já atingiram os 3 anos de jogador. O curso é em parceria com a APAF (…) O curso é feito nos dias que antecedem o torneio nacional, estes participantes tem formação com a APAF e ficam com a possibilidade de serem árbitros profissionais de futsal ou futebol de 11. Isto permite-lhes continuar ligados ao projeto futebol de rua, permite-lhes ainda envergar numa carreira de árbitro profissional e assim ter uma fonte de rendimentos. Em 2016 e 2017 começámos a trabalhar a questão da empregabilidade com a BP e conseguimos oportunidades para os jovens que tinham ido a seleção nacional. Em 2018, um novo mecanismo com o grupo dia-mini preço em que é possível a todos os participantes serem recrutados pelo grupo mini preço e serem incluídos nos seus quadros, ou seja, nas suas equipas.
O projeto futebol de rua na verdade só é projeto no nome, se analisarmos a sua estrutura vemos que ele é um programa que dentro dele tem 2 eixos, que têm em si várias iniciativas. Quais é que são as vantagens ou desvantagens de uma seleção… Ora, são mais as vantagens (…) vantagens, permite à entidade promotora garantir a sua representação institucional no nacional, mesmo que não leve nenhum jogador seu, que normalmente leva, está representado institucionalmente, ou seja, os técnicos que vão a acompanhar são dessa entidade (…) depois permite que não só uma entidade daquele distrito, mas várias estejam representadas, porque se há jovens de várias entidades, são várias as que estão representadas, permite envolver os apoios a nível politico para irem mais facilmente, porque a CAIS cobre tudo no nacional, mas as entidades são responsáveis, por duas coisas: os seus equipamentos e a sua chegada à cidade, neste caso chegarem a Braga, neste ano que passou. (…) Por isso se tu tiveres ali 8 jovens que são da mesma cidade e talvez da mesma instituição ou se tu tiveres ali 8 jovens de freguesias diferentes, todas as freguesias querem ser a O Papel do Desporto para a Inclusão Social de Jovens em Risco
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boa da festa que paga a viagem aos meninos para irem a Braga ou então que fazem os equipamentos. Então, uma paga a viagem, outra paga a carrinha, a outra dá as lembranças ou as medalhas e essas coisinhas, facilita. (…) isto é engraçado, porque acabas por ter pessoal de bairros rivais a jogar na mesma equipa e acabas por ter pessoal de bairros rivais a apoiá-los, sentados na bancada lado a lado, o que é interessantíssimo Quais é que são as desvantagens, é que, bem para a entidade promotora dá muito mais trabalho, tem de estar a trabalhar com técnicos (…) e com jogadores de sítios diferentes (…) (…) não podemos ter cenários com equipas de 8 jogadores, em que 6 são muito bons e depois levamos mais 2 para dizer que fica bem, isso é que não pode acontecer (…) a competitividade tem de ser limpa, clara, digna, não pode ser cega. P: Objetivos do projeto R: Os objetivos do futebol de rua são claros: promover o acesso ao desporto e promover o desenvolvimento pessoal através da prática desportiva, ou seja as competências pessoais e sociais, o treino de competências. P: Segundo a experiência do projeto, de que forma é que o desporto contribuiu para a inclusão social de jovens? R: Ali em 2010 já estávamos a fazer alguma coisa com a seleção, mas a nível distrital, o promotor preparava a seleção distrital, ou equipa vencedora para vir ao nacional e antes disso as associações tinham-nos preparado para ir ao distrital, mas estamos a partir de muitos se’s. E o que fomos percebendo era que não, era que muitas vezes esse trabalho não era feito. Não era feito, não porque as associações não valorizassem a necessidade de desenvolver as competências pessoais dos jovens (…) tu formas um carpinteiro magnífico, mas se ele não percebe o que é trabalhar em equipa, cumprir horários, respeitar uma hierarquia e isto e aquilo e aqueloutro não vai funcionar. Pronto e portanto, e ao mesmo tempo, tens as multinacionais todas a dizerem-te “não, a gente não precisa que nos dêem o carpinteiro, o pedreiro ou o sapateiro, nós temos formação, à nossa maneira, nós precisamos que nos dêem pessoas com isto, isto e isto” e isto, isto e isto era o quê: valores, competências. Então era isso que tinha de ser trabalhado! Mas como? E isto coincide assim com a nossa aproximação ao Erasmus+ e com muitas idas aos estrangeiro e as redes internacionais em que nós participamos e somos membros e percebermos ok, a educação formal não funcionou para 99% destes participantes. Não significa que não possa a voltar a funcionar, pode! (…) Surge aqui a educação não formal, não é? Aprender a aprender, aprender com os pares, não alguém a dizer para aprenderes com os teus pares (…) e percebemos que este é o espaço ou a arena, ou aliás, a metodologia perfeita, porque tem os métodos necessários para trabalhar com este público-alvo, competências pessoais e sociais. Parceria estratégica que já leva então 5 anos, no 1º ano fazemos formação, em 2013, no nacional em Aveiro, para jovens e para os técnicos ao mesmo tempo e abrimos a caixa de pandora, depois nesse inverno de 2013 vamos fazer formação aos técnicos todos e depois já em 2014 fazemos formação já aos
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jovens todos. (…) Decidimos fazer o quê, aos técnicos damos-lhe formação uma vez por ano nos nacionais (…) aproveitando que os técnicos de todos os distritos estão todos juntos ali no nacional (…) Aos jovens damos-lhes formação a nível local, 1 dia, sempre antes do torneio, ou tradicionalmente, sempre antes do torneio e depois voltamos a trabalhar as mesmas competências no nacional para as consolidar. Agora tu dizes-me: “um jovem que vá seleção continuas a trabalhar 20 competências por ano, para os que vão a nível distrital só trabalhas 4”. Sim, mas trabalho bem as 4, “ah e um dia chega?”. Não, não chega. A questão é tu ao fazeres bem um dia tu despertas o interesse deles. (…) Vivemos numa geração que sabe pedir (…) Se tu lhes deres uma boa sessão em que trabalhaste aquelas 4 competências, já tinham participado no ano anterior e trabalharam outras 4 e também adoraram, eles sentiram que mudou a sua visão, que teve um impacto positivo neles, então eles vão exigir mais à organização que os apoia e a organização que os apoia recebeu formação e aí sim, com um técnico, com um responsável com 2/3 dias de formação, ajuda imenso e já se aprende imensa coisa. A CAIS acredita e, hoje em dia, temos uma monitorização e avaliação do impacto social feito já há 5 anos nesta parte, por terceiros, isenta, objetiva, baseada no self-accessment, portanto na avaliação dos próprios, porque é isso que dita a avaliação não formal, temos dito por eles, mas de forma anónima, portanto ninguém têm que estar a ser simpático connosco (…) sabemos que todos os participantes que vão às sessões locais e nacionais, 80% deles desenvolvem as competências em causa. Ou seja, sabemos que nestes 5 anos, através das sessões que fizemos 80% do nosso universo desenvolveu as competências pessoais e sociais. (…) Nós, CAIS, acreditamos que estas competências são basilares à inclusão social e que se não forem trabalhadas não é possível ter uma inclusão social sustentável. (…) Estamos a tapar o sol com a peneira, até podes arranjar um emprego, mas aquilo não vai correr bem, é preciso criar as bases e os alicerces, e para nós, antes de poderem vir as tuas competências profissionais, vêm as sociais e vêm as pessoais, por esta ordem. (…) Tens de começar pela base e se essa base não foi trabalhada, ou se foi trabalhada e entretanto perdeu-se, então temos de voltar a trabalhá-la. Quando nos perguntam se o desporto ou o futebol contribui para a inclusão social, eu posso dizer hoje, ao contrário do que eu te diria há 10 anos atrás, que era, eu acho que sim ou tenho aqui 8 pessoas que te dizem que sim e eu hoje posso dizer que tenho mil pessoas que me dizem que sim (…) que dizem que, ou seja, o futebol de rua, teve uma influência ou impacto positivo no seu desenvolvimento pessoal e concretamente no desenvolvimento das suas competências pessoais e sociais e que mais, me conseguem dizer em quais e isso é muito interessante. (…) Para quem está a fazer um estudo como tu estás, eu acho há uma coisa que é muito importante que é este ponto, ou seja, não são 85% que desenvolveram tudo e 15% que não desenvolveram nada, (…) quando aparece 85% é a média daquele ano e depois tu vais ver que há competências que variam entre os 80, 71, 79, como já aconteceu, varia muito. E depois varia também, estamos a medir o universo todo, estamos a medir tudo junto, estamos a medir todo um universo de beneficiários, ou estamos só a medir os participantes, ou seja só os jogadores, ou jogadores, treinadores e responsáveis, porque eles também respondem. (…) Os jogadores o ano passado disseram que a competência que desenvolveram menos e
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no ano passado, que são os dados que temos, não temos deste ano, os treinadores dizem que a competência que desenvolveram mais foi a competência. Agora se me perguntares se o futebol promove, pode promover a inclusão social, pode! Eu acho que, ou seja, não é o 8 nem é o 80, ou seja, eu acho que não podemos dizer que não promove. Não promove, porque cada vez mais só promove os valores errados. Não, de forma alguma. Depende de quem é que está a promover e de quem está responsável. Portanto, aqui há uns tempos numa cerimónia de entrega dos prémios da Ética alguém referiu isso e o secretário de estado que estava presente interrompeu e a seguir disse perfeitamente o oposto, que não podia aceitar. Nós estávamos na sala porque íamos receber a bandeira da ética e ele dizia exatamente isso, eu olho para os resultados do futebol de rua e mais importante, eu, eu secretário de estado, conheço os miúdos do futebol de rua e vejo que há valores no desporto, vejo que há, mas depois oiço as histórias que o senhor me está a dizer e percebo que também há uma crise de valores no desporto; agora, não podemos é dizer que o desporto deixou de incutir valores, não deixou! Temos é que nos questionar porque é que num contexto está a promover e noutro não está e é preciso olhar e perceber quem é que são os responsáveis. (…) O futebol pode, a questão aqui, a meu ver, é que não podemos inviabilizar aqui o futebol ou o desporto no seu todo, dizendo que não pode, que perdeu todos os valores, está em crise, etc. Não, não! Pode, especialmente com os mais jovens que estão nos escalões de formação. (…) Pede-se às pessoas que formam as equipas técnicas e as estruturas conseguirem perceber que mais do que estarem a formar jogadores em atletas, estão a formar homens e mulheres e perceber que mais do que estarem a formá-los e capacitá-los, e mais do que estarem a prepará-los para a prática desportiva, deveriam estar a prepará-los, formá-los e capacitá-los para a vida ativa (…) As aprendizagens que fazem na vida ativa são úteis no desporto e as aprendizagens que fazem no desporto são muito úteis na vida ativa e portanto, para mim, este modelo que nós temos funciona muito bem, porque tu tens a educação não formal que pode ser feita em contexto de sala, num contexto mais formal, em contexto exterior, ou no campo e se tu fizeres as dinâmicas no campo torna-se assim uma lição muito mais fácil, porquê? Porque estão num contexto que eles gostam, que é o do futebol e depois porque te dá uma outra coisa, (…) ao termos uma competição cega que exige a vitória a todos os custos, permite que os jovens e as jovens ponham as aprendizagens em prática e portanto solta-os, portanto cria o espaço indicado para esse processo. (…) Ou seja, o desporto e o futebol, em concreto, podem e devem ser uma plataforma e um espaço ideal para a promoção da inclusão social, se forem capazes de promoverem então esse desenvolvimento pessoal, um desenvolvimento de valores, que frequentemente dizemos que estão intrínsecos ao desporto, mas não estão. (…) Estão na teoria e devem estar na prática. Em resposta final à pergunta se o desporto permite a inclusão social, eu acredito que sim, se tivermos a falar em desportos coletivos, mas se estivermos a falar em desportos individuais, eu acredito que não ou melhor, corrigindo, (…) poderá funcionar, mas o investimento de retorno pode não funcionar, ou seja, porque tudo custa dinheiro e se tu vais investir x num projeto semelhante ao futebol de rua com atletismo,
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os resultados vão ser muito inferiores e no final o que tu queres é promover a inclusão social do maior número de pessoas. pode ser inclusivo se tu criares espaços para que as pessoas joguem (…)
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Termo de autorização de uso da imagem do projeto
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Fotografias do projeto
Figura 1 - Workshops de desenvolvimento de competências. Torneio Nacional de Futebol de Rua 2018, Braga. Fonte: Associação CAIS
Figura 2 - Workshops de desenvolvimento de competências. Torneio Nacional de Futebol de Rua 2018, Braga. Fonte: Associação CAIS
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Figura 3 – Partida disputada durante o Torneio Nacional de Futebol de Rua 2018, Braga. Fonte: Associação CAIS
Figura 4 - Os vencedores confortam os jogadores da equipa que perdeu o jogo. Momento de Fair play ocorreu no Torneio Nacional de Futebol de Rua 2018, Braga. Fonte: Associação CAIS
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Figura 5 - Momento de respeito e desportivismo num jogo que contou com equipas mistas durante o Torneio Nacional de Futebol de Rua 2018, Braga. Fonte: Associação CAIS
Figura 8 - Celebração do Fair Play, do respeito, da diversidade e tudo aquilo que o projeto Futebol de Rua promove. Fonte: Associação CAIS
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A título de curiosidade, mas também como prova da projeção que o projeto tem, o lendário jogador de futebol Eric Cantona, visitou, a 03/10/2018, o projeto Futebol de Rua num bairro em Lisboa, através da parceria com a Criar-T e a convite dastreetfootballworld.
Figura 9 - Eric Cantona em Lisboa, para conhecer o Projeto Futebol de Rua. Fonte: Associação CAIS
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INTRODUÇÃO O crescimento e a profissionalização do futebol têm impulsionado mudanças no consumo, produção e gestão de eventos. Neste sentido, a gestão desportiva tem vindo a desempenhar um papel crucial no desenvolvimento e na obtenção de resultados dos clubes de futebol. Assim, a crescente necessidade de otimização de recursos passou a exigir competências específicas e profissionais dos gestores. Note-se que o futebol para além de ser um jogo, é um negócio e, por isso, é necessário rentabilizar custos que possam potenciar as receitas e os resultados desportivos. A gestão estratégica traduz-se na gestão dos recursos da organização, de modo a determinar a direção e a definir os processos que apoiam a sua estratégia. Na prática, representa um plano de ação que determina o sentido estratégico da organização, a longo prazo, e define como a visão poderá ser alcançada. A sua aplicabilidade, no contexto do futebol, é essencial para a obtenção de uma vantagem competitiva.
OBJETIVOS O objetivo geral do estudo consiste em identificar o papel da gestão estratégica nas organizações de futebol. Assim, os objetivos específicos são: 1) Identificar a importância da aplicação da análise estratégica, nos clubes de futebol; 2) Compreender as etapas da formulação estratégica e a relevância da sua aplicabilidade no contexto do futebol; 3) Identificar metas, objetivos e indicadores estratégicos, em prol dos resultados desportivos e financeiros; 4) Conceber e preparar ações estratégicas que permitam capitalizar e otimizar os recursos do clube de futebol; 5) Identificar o marketing como uma ferramenta útil na criação de valor para os stakeholders. Desta forma, considera-se que este Projeto contribui favoravelmente para a identificação do papel do gestor desportivo na análise, formulação e implementação da estratégia. Para além de apresentar uma abordagem atual, este estudo engloba o caso prático da Associação Desportiva de Fafe – Futebol, SAD.
RESULTADOS
CONCLUSÕES
Através do enquadramento teórico, verificou-se que o plano estratégico, a 3 anos, da ADF inclui as seguintes fases:
Através da aplicação da gestão estratégica, foi possível concluir que esta temática potencia os resultados financeiros e desportivos dos clubes de futebol. Este projeto permitiu identificar as etapas necessárias a uma gestão focada nos resultados, que se antecipa e adapta eficazmente às mudanças, cada vez mais acentuadas da indústria futebolística.
1.
Análise do Ambiente (5 Forças de Porter e PEST) e da Organização (Organograma, Infraestruturas, Associados, Merchandising, Assistência aos Jogos e Resultado Operacional). Assim, resumiu-se na Análise SWOT e no Modelo de Negócio Canvas os principais fatores influentes na definição da estratégia;
2.
Formulação da Estratégia definindo: Missão, Visão e Valores da ADF; Eixos Estratégicos e Objetivos, Indicadores e Metas, a atingir em 3 anos, sob a forma de Planos de Ações e Recursos (PAR’s);
3.
Implementação dos PAR’s;
4.
Monitorização através da avaliação dos indicadores.
Após a implementação das ações estratégicas delineadas, prevê-se que os proveitos operacionais da ADF aumentem em 30%, nos próximos três anos. Assim, na época 2020/2021, estima-se que as receitas totais possam chegar aos 360 000€. Por outro lado, é expectável que os custos operacionais aumentem numa proporção mais reduzida, devido a despesas (Scounting, Fan Zone e Recursos Humanos) que se traduzem num valor anual de 12 000€. Potencializando a receita, a ADF obtém uma vantagem competitiva, na indústria do futebol.
Os resultados da pesquisa sublinham a necessidade de um planeamento estratégico metodicamente orientado, implementado e avaliado. Assim, para que o clube alcance uma vantagem competitiva, no mercado, é necessário considerar as seguintes etapas: 1) Análise estratégica; 2) Formulação da estratégia; 3) Implementação; 4) Monitorização e 5) Utilização do marketing como uma ferramenta para a criação de valor e posicionamento no mercado. Assim, a gestão estratégica identifica três principais benefícios, nomeadamente, consistência da ação, gestão proactiva e maior envolvimento do pessoal. A implementação de sistemas de informação destaca-se como um instrumento essencial para a gestão e tomada de decisão, em prol da monitorização dos resultados obtidos. Em suma, a aplicação da gestão estratégica, na ADF, resultou na implementação de uma estratégia de otimização da receita, em 30%, a longo prazo. Através do envolvimento do clube com os adeptos, sócios e clientes é possível obter uma maior capacidade de investimento a aplicar no plantel e staff, despoletando, assim, o círculo virtuoso entre a performance desportiva e financeira.
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Agradecimentos Foram muitas as pessoas com quem interagi, ao longo do meu percurso académico, e, por isso, este Projeto representa muito do seu contributo. Ao meu orientador, Professor Doutor Pedro Mortágua Soares, por ter feito parte deste Projeto, pela disponibilidade e pela partilha de conhecimento. À Associação Desportiva de Fafe pela recetividade, integração e apoio na elaboração deste Projeto. Um especial agradecimento ao Filipe Marques que me proporcionou todas as condições necessárias para a elaboração deste trabalho. À minha mãe pelo amor e apoio incondicional. Ao meu pai por todo o conhecimento e experiência transmitida. Às minhas irmãs pela presença e por todas as alegrias. À minha família por acreditarem sempre em mim. À Isabel pela ajuda, persistência e perfecionismo. Aos meus amigos, pela amizade, companheirismo e dedicação.
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Resumo O futebol começou por ser um desporto amador, mas rapidamente atingiu proporções extraordinárias pela envolvência do espetáculo inerente. O seu desenvolvimento foi de tal forma exponencial que, nos dias de hoje, é claramente interpretado como um negócio global. Os clubes perceberam que alcançando uma performance desportiva de excelência, atraíam mais adeptos e sócios, a favor de maiores proveitos financeiros. Esta troca entre resultados desportivos e financeiros, denomina-se círculo virtuoso. Na tentativa de despoletar este círculo, os clubes antecipavam receitas para contratar os melhores jogadores. Este investimento desmedido provocou elevados níveis de dívida sem o retorno financeiro esperado. Numa área tão imprevisível, como o futebol, os princípios da gestão estratégica permitem contrariar a gestão “on the run” e salientar a importância do planeamento. Desta forma, a proatividade da gestão desportiva é determinante na redução do risco, onde a performance em campo tem um efeito decisivo no sucesso do clube. A gestão estratégica aplicada a uma sociedade desportiva pretende salientar os benefícios do pensamento estratégico, a longo prazo, como potenciador de uma vantagem competitiva. Desta forma, os conceitos depreendidos foram aplicados no clube AD Fafe – Futebol, SAD, com o intuito de comprovar a pertinência da implementação da estratégia, adotando o seguinte procedimento: análise, formulação, execução e monitorização. Os resultados perspetivam um desenvolvimento e um crescimento considerável do clube, reforçando, assim, a importância do gestor desportivo na rentabilização económica das sociedades desportivas e, consequentemente, na obtenção de resultados desportivos.
Palavras-Chave: Futebol, Gestão Estratégica; Círculo Virtuoso; Vantagem Competitiva.
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Abstract Football started out as an amateur sport, but quickly reached extraordinary proportions due to the inherent spectacle. Its development has been so exponential that, today, it is clearly interpreted as a global business. The clubs soon realized that achieving a sporting performance of excellence, attracted more fans and partners, in favor of higher financial income. This exchange between sports and financial results is called the virtuous circle. In an attempt to spark this circle, clubs anticipated revenue to hire the best players. This over-investment led to high levels of debt without the expected financial return. In an area as unpredictable as football, the principles of strategic management make it possible to counteract "on the run" management and stress the importance of planning. In this way, the proactivity of sports management is decisive in reducing risk, where field performance has a decisive effect on the success of the club. The strategic management applied to a sports society intends to emphasize the benefits of strategic thinking, in the long term, as an enhancer of a competitive advantage. In this way, the concepts learned were applied to the AD Fafe - Futebol, SAD club, in order to prove the pertinence of the strategy implementation, adopting the following procedure: analysis, formulation, execution and monitoring. The results are expected to develop and grow considerably, thus reinforcing the importance of the sports manager in the economic profitability of football clubs and, consequently, in obtaining sports results.
Key-words: Football; Strategic Management; Virtuous Circle; Competitive Advantage.
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Índice
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................. I RESUMO ................................................................................................................................................ II ABSTRACT ........................................................................................................................................... III ÍNDICE .................................................................................................................................................. IV ÍNDICE DE FIGURAS.......................................................................................................................... VI ÍNDICE DE TABELAS ........................................................................................................................VII LISTA DE ABREVIATURAS ........................................................................................................... VIII 1
INTRODUÇÃO............................................................................................................................... 1
2
ENQUADRAMENTO TEÓRICO....................................................................................................... 2
2.1
EVOLUÇÃO DO FUTEBOL ........................................................................................................ 2
2.1.1
EVOLUÇÃO DO FUTEBOL EM PORTUGAL ................................................................................ 3
2.1.1.1
SOCIEDADES DESPORTIVAS ............................................................................................... 3
2.1.1.2
ORGANIZAÇÃO DAS COMPETIÇÕES .................................................................................... 4
2.1.2
IMPACTO SOCIOECONÓMICO DOS CLUBES DESPORTIVOS NA COMUNIDADE ........................ 5
2.1.3
NEGÓCIO DO FUTEBOL ........................................................................................................... 6
2.2
GESTÃO ESTRATÉGICA ........................................................................................................... 9
2.2.1
ANÁLISE ESTRATÉGICA ........................................................................................................ 10
2.2.1.1
ANÁLISE DO AMBIENTE ................................................................................................... 10
2.2.1.1.1
ANÁLISE DO AMBIENTE GERAL: PEST ....................................................................... 10
2.2.1.1.2
ANÁLISE DO AMBIENTE COMPETITIVO: “5 FORÇAS DE PORTER” ............................... 11
2.2.1.2
ANÁLISE DA ORGANIZAÇÃO ............................................................................................ 12
2.2.1.3
ANÁLISE SWOT ............................................................................................................... 12
2.2.2
MODELO DE NEGÓCIO .......................................................................................................... 13
2.2.3
FORMULAÇÃO DA ESTRATÉGIA ............................................................................................ 14
2.3
MARKETING DESPORTIVO .................................................................................................... 18
2.3.1
MARKETING MIX .................................................................................................................. 18
2.3.2
CONSUMIDORES .................................................................................................................... 19
2.3.3
PATROCINADORES ................................................................................................................ 20
3
METODOLOGIA .......................................................................................................................... 21
3.1
OBJETIVOS ............................................................................................................................ 21
3.2
ABORDAGEM METODOLÓGICA ............................................................................................. 22
IV
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4
TEMA DO PROJETO .................................................................................................................... 23
4.1
APRESENTAÇÃO DA ENTIDADE ............................................................................................ 23
4.2
ANÁLISE ESTRATÉGICA ........................................................................................................ 23
4.2.1
ANÁLISE DO AMBIENTE ........................................................................................................ 23
4.2.1.1
ANÁLISE “5 FORÇAS DE PORTER” .................................................................................... 24
4.2.1.2
ANÁLISE PEST ................................................................................................................. 25
4.2.2
ANÁLISE DA ORGANIZAÇÃO ................................................................................................. 28
4.2.2.1
ORGANOGRAMA ............................................................................................................... 28
4.2.2.2
INFRAESTRUTURAS........................................................................................................... 29
4.2.2.3
ANÁLISE ASSOCIADOS ..................................................................................................... 30
4.2.2.4
ANÁLISE LOJA AMARELA ................................................................................................ 35
4.2.2.5
ANÁLISE DA ASSISTÊNCIA AOS JOGOS ............................................................................. 35
4.2.2.6
ANÁLISE DO RESULTADO OPERACIONAL ........................................................................ 36
4.2.3
ANÁLISE SWOT ................................................................................................................... 39
4.3
MODELO DE NEGÓCIO .......................................................................................................... 40
4.4
FORMULAÇÃO DA ESTRATÉGIA ............................................................................................ 41
4.4.1
MISSÃO, VISÃO E VALORES DA ADF ................................................................................... 41
4.4.2
EIXOS ESTRATÉGICOS........................................................................................................... 42
4.4.3
OBJETIVOS, INDICADORES E METAS DA ESTRATÉGIA ......................................................... 42
4.4.4
PLANOS DE AÇÕES E RECURSOS ........................................................................................... 46
4.5
RESULTADOS PREVISTOS ...................................................................................................... 49
5
CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 50
6
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................... 51
7
ANEXOS ..................................................................................................................................... 54
7.1
ANEXO I – FORMULÁRIO DO QUESTIONÁRIO “SATISFAÇÃO SÓCIOS” ................................. 54
7.2
ANEXO II – FORMULÁRIO DO QUESTIONÁRIO “SATISFAÇÃO ADEPTOS” ............................. 55
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7. GESTÃO ESTRATÉGICA APLICADA A UMA SOCIEDADE DESPORTIVA DE FUTEBOL
Índice de Figuras Figura 1. Impacto económico do clube na sua região (Adaptado de Preuss et al., 2017). ........ 6 Figura 2. Ecossistema do desporto: fluxo de dinheiro (Adaptado de Collignon & Sultan, 2014). ............................................................................................................................................ 6 Figura 3. Ganhar é um círculo virtuoso (Adaptado de Collignon & Sultan, 2014). .................. 7 Figura 4. Círculo virtuoso: clubes de pequena dimensão (Adaptado de Baroncelli & Lago, 2006). ................................................................................................................................. 8 Figura 5. Modelo “5 Forças de Porter”: clubes de futebol. ..................................................... 11 Figura 6. Matriz SWOT. .......................................................................................................... 12 Figura 7. Modelo de Negócio Canvas (Adaptado de Osterwalder, 2010). .............................. 13 Figura 8. As 4 componentes do Marketing-Mix (Adaptado de Kotler, 2002). ........................ 19 Figura 9. Número empresas por volume de faturação em Fafe, 2016. .................................... 27 Figura 10. Organograma da ADF 2017/2018. ......................................................................... 29 Figura 11. Descrição da Amostra: Interesse dos sócios na adesão a novos métodos de pagamento. ....................................................................................................................... 33 Figura 12. Descrição da Amostra: Fatores principais de associação à ADF. .......................... 33 Figura 13. Descrição da Amostra: Interesse dos adeptos em se tornarem sócios. ................... 34 Figura 14. Descrição da Amostra: Nível de satisfação geral dos sócios. ................................ 34 Figura 15. Análise comprativa: Frequência aos jogos entre sócios e adeptos (não sócios)..... 36 Figura 16. Resultado operacional - Época 2017/2018. ............................................................ 39 Figura 17. Análise SWOT: ADF. ............................................................................................ 39 Figura 18. Modelo de Negócio Canvas: ADF. ........................................................................ 40 Figura 19. Fluxograma retenção de sócios: ADF. .................................................................. 48 Figura 20. Previsão das receitas: ADF 2017-2021. ................................................................. 49
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Índice de Tabelas Tabela 1. Enquadramento jurídico do desporto em Portugal. .................................................... 3 Tabela 2. Organização das competições nacionais de futebol 2018/2019. ................................ 4 Tabela 3. Variáveis da análise PEST. ...................................................................................... 10 Tabela 4. Caracterização dos recursos intangíveis da organização. ........................................ 12 Tabela 5. Exemplo de elaboração de um KPI. ......................................................................... 16 Tabela 6. Análise do salário médio e da taxa de desemprego de Fafe, 2014 (PORDATA). .. 26 Tabela 7. Análise do volume de negócios empresarial de Fafe e Paços de Ferreira, 2016 (PORDATA). ................................................................................................................... 26 Tabela 8. Distribuição da população por faixa etária de Fafe, 2011(PORDATA). ................. 27 Tabela 9. Distribuição da população por género de Fafe, 2011 (PORDATA). ....................... 28 Tabela 10. Distribuição dos sócios por faixa etária. ................................................................ 31 Tabela 11. Distribuição dos sócios por género. ....................................................................... 31 Tabela 12. Categoria de sócio de acordo com o valor da quota e respetiva distribuição. ....... 32 Tabela 13. Meios de contacto disponíveis dos sócios.............................................................. 32 Tabela 14. Classificação dos espectadores por categoria e assistência média por jogo. ......... 36 Tabela 15. Receitas operacionais - Época 2017/2018. ............................................................ 37 Tabela 16. Custos operacionais - Época 2017/2018. ............................................................... 38 Tabela 17. Objetivos Estratégicos: Meta nº 1. ......................................................................... 43 Tabela 18. Objetivos Estratégicos: Meta nº 2. ......................................................................... 44 Tabela 19. Objetivos Estratégicos: Meta nº 3. ......................................................................... 45 Tabela 20. Objetivos Estratégicos: Meta nº4. .......................................................................... 45 Tabela 21. Objetivos Estratégicos: Meta nº5. .......................................................................... 46 Tabela 22. Descrição “Parceiros Silver”. ................................................................................. 46 Tabela 23. Plano anual de retorno financeiro "Parceiros Silver"............................................. 47
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Lista de Abreviaturas ADF – Associação Desportiva de Fafe – Futebol, SAD CMF - Câmara Municipal de Fafe CMV – Custo das Mercadoria Vendidas FA – Football Association FIFA - Fédération Internationale de Football Association FPF – Federação Portuguesa de futebol KPI – Key Performance Indicator PAR – Plano de Ação e Recursos SA – Sociedade Anónima SAD – Sociedade Anónima Desportiva SD – Sociedade Desportiva SDUQ – Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas UEFA - Union of European Football Associations
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Introdução O futebol envolve milhões de pessoas em todo o mundo, é praticado e assistido por uma
grande maioria da população e, a nível profissional, deixou de representar um passatempo amador passando a ser uma indústria competitiva (Hoye, Smith, Nicholson, Stewart, & Westerbeek, 2009). Assim, o crescimento e a profissionalização do futebol têm impulsionado mudanças no consumo, produção e gestão de eventos (Durdová, 2014). No inicio do século XXI, a gestão das Organizações desportivas principia a implementação de técnicas e estratégias que visam o sucesso dos clubes. Desta forma, a gestão desportiva tem vindo a desempenhar um papel crucial no desenvolvimento e na obtenção de resultados dos clubes de futebol (Hoye et al., 2009). Neste sentido, a crescente necessidade de otimização de recursos passou a exigir competências específicas e profissionais dos gestores desportivos (Ko, Henry, & Kao, 2011). As suas principais funções passam por planear os objetivos estratégicos, organizar o trabalho e o conjunto das pessoas envolvidas, liderar e motivar a equipa e controlar e monitorizar o grau de realização das metas da organização desportiva (Hoye et al., 2009). O futebol para além de ser um jogo, é um negócio e, por isso, o gestor desportivo assume uma especial relevância na rentabilização de custos que possam potenciar as receitas e, consequentemente, os resultados desportivos (Szymanski & Kuypers, 1999). De salientar que o desempenho desportivo está positivamente relacionado com o valor global da receita e com o investimento aplicado no plantel (Szymanski, 1998). Numa área tão imprevisível como o futebol, os princípios da gestão estratégica permitem contrariar a gestão “on the run” e salientar a importância do planeamento. Aliado a este conceito, surge o Marketing como uma ferramenta de criação de valor para os stakeholders. Desta forma, a proatividade da gestão desportiva é determinante na redução do risco, onde a performance em campo tem um efeito decisivo no sucesso do clube (Hoye et al., 2009). Face ao apresentado anteriormente, surge a necessidade de aplicar os conceitos da gestão estratégica, nos clubes de futebol, de forma a definir a direção e o propósito da organização a médio e longo prazo. Este tópico é fundamental para alcançar uma vantagem competitiva num ambiente em mudança, como o do futebol (Johnson, Scholes, & Whittington, 2008). Surge, assim, o Projeto “Gestão Estratégica aplicada a uma Sociedade Desportiva de Futebol – Caso de Estudo: AD Fafe - Futebol, SAD”, cujo objetivo é otimizar a performance do clube através da implementação de ações estratégicas. Com este estudo pretende-se destacar a importância da realização de um plano estratégico para o cumprimento das metas da organização desportiva. 1
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Enquadramento Teórico 2.1 Evolução do Futebol O futebol contemporâneo nasceu em 1863, em Inglaterra, através da divergência de
regras de jogo entre a Rugby Football e a Association Football. Surge, assim, a primeira entidade governativa do futebol, a Football Association (FA), que tinha como objetivo normalizar as regras deste desporto. Oito anos após a sua fundação, a FA organizou a primeira competição desportiva oficial, The FA Cup. Em 1904, foi criado o órgão mundial governativo do futebol, a Fédération Internationale de Football Association (FIFA), por seis países fundadores, nomeadamente a França, a Espanha, a Holanda, a Suécia, a Bélgica e a Suíça. Em 1930, realizou-se a primeira FIFA World Cup, no Uruguai, a maior competição internacional de futebol (FIFA). Com mais de 100 anos de história, os primeiros clubes de futebol foram formados por estudantes universitários ingleses que organizavam e promoviam a prática desportiva amadora. Desde muito cedo, os jogos começaram a atrair bastantes adeptos pela admiração inerente ao domínio de bola e pelo espetáculo empolgante. O futebol tornou-se, assim, parte da indústria de entretenimento, sendo necessária a construção de infraestruturas para acomodar os adeptos. Face ao investimento exigido, começou-se a cobrar as entradas para assistir ao espetáculo futebolístico e, desta forma, o futebol dá os primeiros passos como um negócio (Szymanski & Kuypers, 1999) Mais tarde, os clubes começaram a percecionar que os resultados desportivos tinham um grande impacto na envolvência dos adeptos e, por isso, iniciaram esforços financeiros para contratar jogadores mais talentosos. Surgiram, assim, os primeiros atletas e clubes profissionais de futebol. A partir da década de 80 verificou-se um aumento de 18% na receita anual gerada pela indústria do futebol. Entre 1980 e 1996 as receitas globais cresceram de 300 para 1 300 milhões de Libras. As fontes de rendimento dos clubes diversificaram e o peso das receitas da bilheteira, no balanço global, diminuiu drasticamente (Szymanski & Kuypers, 1999). A indústria do futebol em Portugal seguiu um ritmo de popularidade semelhante e, por isso, o próximo tema sumariza a evolução e o funcionamento do futebol português.
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2.1.1 Evolução do Futebol em Portugal O futebol foi introduzido em Portugal por um grupo de jovens ingleses, na década de 80 do século XIX. Rapidamente, o desporto se proliferou pela sociedade portuguesa e foram fundados os primeiros clubes. A fundação da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), em 1914, foi um marco importante do futebol português. Os seus principais objetivos consistem em criar associações por todo o país e promover a competição de futebol, no âmbito nacional. Em 1921, organizouse a primeira competição oficial, o Campeonato de Portugal, atualmente intitulado de Taça de Portugal. A profissionalização do futebol iniciou-se após a 2ª Guerra Mundial, devido ao crescimento económico do país e ao aumento da qualidade de vida da população (Neves, 1994). Os clubes portugueses começaram a contratar jogadores estrangeiros e ultramarinos, especialmente de colónias portuguesas, como o Eusébio da Silva Ferreira e o José Mário Coluna. Nesta fase, as transferências de jogadores entre clubes tornou-se se cada vez mais usual e o Governo português percebeu a necessidade de os enquadrar juridicamente. 2.1.1.1 Sociedades Desportivas Até 1990, os clubes portugueses eram considerados associações privadas sem fins lucrativos, evidenciando a sua componente amadora. Após esse ano, o legislador introduziu um novo elemento, a sociedade com fins desportivos para diferenciar o futebol profissional (Meirim, 1999). A partir desta Lei de Bases foram estabelecidos e implementados novos diplomas no sentido de legislar sobre o ordenamento desportivo português (Tabela 1). Tabela 1. Enquadramento jurídico do desporto em Portugal. Enquadramento Legal
Decreto-Lei
Ano
Descrição
Lei de Base do Sistema Desportivo Decreto-Lei
nº1/90
1990
nº146/95
1995
nº 67/97
1997
Introdução da forma jurídica “Sociedade com Fins Desportivos”. A SD tem como fim o lucro. Este diploma consagrou, no Artigo 9º, a impossibilidade de distribuição de dividendos pelos acionistas. A SD sob a forma de SAD. A distribuição de dividendos pelos sócios passa a ser possível.
nº 10/2013
2013
Regime Jurídico das Sociedades Anónimas Desportivas Decreto-Lei
Obrigatoriedade dos clubes, que participem em competições profissionais, em adotar o regime SAD ou SDUQ.
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Conforme se infere da tabela anterior, em 1995, a introdução da Sociedade Desportiva (SD) sem a possibilidade de distribuição de dividendos levou à rejeição desta figura jurídica por potenciais interessados, nomeadamente investidores de capital (Tabela 1) (Ribeiro, 2015). Devido a este contrassenso, em 1997, surge a hipótese de os clubes formarem uma Sociedade Anónima (SA) que possibilita a redistribuição de lucro pelos acionistas. Os clubes que participavam nos campeonatos profissionais tinham que optar entre a constituição de uma Sociedade Anónima Desportiva (SAD) ou a manutenção do seu estatuto de Pessoas Coletivas Privadas Sem Fins Lucrativos, fiscalizado sob um Regime Especial de gestão. A última alteração ao regime jurídico desportivo foi realizada em 2013, implementando a obrigatoriedade dos clubes, que participam nas competições profissionais, em adotar a forma jurídica de SAD ou Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas (SDUQ). A principal diferença entre a SAD e a SDUQ é que a primeira permite a obtenção de financiamento externo, através da possibilidade de venda das suas ações a um número indeterminado de sócios. Em contraponto, a SDUQ só consente um único sócio, o clube fundador, portanto não consegue obter financiamento externo (Ribeiro, 2015). 2.1.1.2 Organização das Competições Face à dimensão da indústria de futebol, atualmente, em Portugal existem seis competições: a Liga NOS, a Liga Ledman, o Campeonato de Portugal, a Taça de Portugal, a Taça da Liga e a Supertaça. A organização dos campeonatos profissionais, nomeadamente o 1º e 2º escalão e a Taça da Liga, são da responsabilidade da Liga Portugal. Por outro lado, o 3º escalão, a Taça de Portugal e a Supertaça estão ao encargo da FPF. Na época 2018/2019 os campeonatos nacionais de futebol serão organizados de acordo com a Tabela 2. Tabela 2. Organização das competições nacionais de futebol 2018/2019. Escalão
Competição
Descrição 18 clubes 2 clubes despromovidos 1 clube campeão nacional 18 clubes (incluindo equipas B) 2 clubes promovidos à 1ª Liga 2 clubes despromovidos ao Campeonato Portugal 4 Séries de 18 clubes 2 clubes promovidos à 2ª Liga 6 clubes de cada série despromovidos às distritais
1º Escalão 2º Escalão 3º Escalão
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De salientar que a Taça de Portugal, a Taça da Liga e a Supertaça são competições que decorrem paralelamente aos campeonatos acima mencionados e, por isso, não foram incorporados na Tabela 2. Note-se que os quatro primeiros classificados do 1º escalão e o vencedor da Taça de Portugal têm acesso às provas organizadas pela Union of European Football Associations (UEFA). A organização dos campeonatos de futebol representa um elevado impacto socioeconómico, principalmente, nas localidades envolvidas, salientando a relevância do futebol para a economia. 2.1.2 Impacto Socioeconómico dos Clubes Desportivos na Comunidade O impacto económico resultante dos eventos e das atividades desportivas reflete a alteração económica líquida, numa determinada região ou localidade (Gillentine & Crow, 2009). Os clubes desportivos e os eventos inerentes afetam, de forma direta e indireta, as comunidades onde estão inseridos, tanto ao nível social como económico. Do ponto de vista social, os clubes são um importante fator de inclusão, promovem a autorrealização pessoal e o desenvolvimento das comunidades (Hassan & Connor, 2009). Além disso, o sucesso do clube está correlacionado, positivamente, com o nível de felicidade da população residente (Bale, 2000). Ao nível económico, os clubes originam um efeito positivo na zona onde estão inseridos, através de fluxos monetários diretos, indiretos, induzidos e intangíveis (Figura 4) (Gratton, Dobson, & Shibli, 2000). O impacto económico direto na comunidade é imediato e corresponde ao dinheiro que entra no mercado local pela organização do evento. Estes fluxos financeiros são originados por duas vias: despesas dos espectadores na região e gastos que o clube tem no desenvolvimento da sua atividade (Preuss, Konecke, & Schutte, 2010). Os restantes efeitos económicos não são diretos nem imediatos, mas é necessário tê-los em conta. Note-se que os eventos desportivos também geram um fluxo monetário através dos gastos indiretos e da receita induzida. Os primeiros refletem-se nas compras a fornecedores locais, por parte de hotéis e restaurantes. Por outro lado, a receita induzida resulta dos rendimentos que a comunidade recebe durante o evento e, mais tarde, aplica localmente (Dwyer, Forsyth, & Spurr, 2005; Gratton et al., 2000). Para além disto, o impacto económico intangível (Dwyer et al., 2005) relaciona-se com os efeitos futuros ao nível do turismo e da
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popularidade da comunidade para o exterior (Gratton et al., 2000; Preuss, Konecke, & Schutte, 2017). Na Figura 1 estão descritos os fluxos monetários causados por um evento desportivo.
Figura 1. Impacto económico do clube na sua região (Adaptado de Preuss et al., 2017).
Atualmente, o futebol representa um negócio mundial, essencialmente, por três fatores: o valor dos ativos do clube, o montante gerado através da transmissão televisiva dos jogos e o número de pessoas que trabalham, direta e indiretamente, na indústria. No desporto, o futebol é a modalidade com maior peso económico e as receitas geradas ascendem a 35 000 milhões de Dólares (Collignon & Sultan, 2014). Desta forma, é de extrema importância compreender o funcionamento pormenorizado da indústria do futebol. 2.1.3 Negócio do Futebol Identificada a dimensão e o peso económico do futebol, torna-se relevante perceber os cash-flows que este origina e quem são as partes interessadas envolvidas.
Figura 2. Ecossistema do desporto: fluxo de dinheiro (Adaptado de Collignon & Sultan, 2014).
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Através da análise da Figura 2, depreende-se que o negócio do futebol é composto, essencialmente, por seis stakeholders: adeptos, clubes, jogadores, ligas, media e marcas. Dentro deste ecossistema, circulam fluxos financeiros que tornam o futebol num negócio de grandes dimensões (Collignon & Sultan, 2014). As principais fontes de receita dos clubes são provenientes dos adeptos, através da bilheteira e merchandising, dos media ou da Liga, pela venda dos direitos de transmissão televisivos e das marcas, derivado de patrocínios. De salientar, que os clubes desempenham um papel central no ecossistema da indústria, porque, para além, de serem os responsáveis pelo envolvimento com os adeptos, representam a última etapa dos fluxos de gerados (Collignon & Sultan, 2014). Na Figura 3, é possível relacionar a alocação de recursos de acordo com os ativos e fontes de receita dos clubes.
Figura 3. Ganhar é um círculo virtuoso (Adaptado de Collignon & Sultan, 2014).
Numa outra perspetiva, é possível salientar três aspetos chave na otimização da receita do clube, nomeadamente os resultados desportivos, as estrelas e a lealdade dos adeptos. A primeira fonte gera o interesse dos media, através da transmissão dos jogos. Já as estrelas, os jogadores talentosos, proporcionam uma maior receita de ingressos, merchandising e patrocinadores. Por fim, a lealdade dos adeptos impulsiona, em particular, a receita da bilheteira (Collignon & Sultan, 2014). Desta forma, os clubes procuram despoletar o denominado círculo virtuoso, entre resultados desportivos e ganhos económicos (Baroncelli & Lago, 2006). Assim, esforçam-se para contratar os jogadores talentosos, com o objetivo de proporcionar melhores resultados 7
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desportivos e, consequentemente, obter um maior volume de receita (Szymanski & Kuypers, 1999). De facto, este círculo virtuoso é uma proposição válida, apenas, para certos clubes, uma vez que a maioria não consegue capitalizar os resultados desportivos (Baroncelli & Lago, 2006; Szymanski, 1998). Os grandes clubes antecipam receitas ou solicitam empréstimos à banca para contratar os melhores jogadores. Por outro lado, os clubes de pequena dimensão não apresentam capacidade de alavancagem financeira e, por isso, o círculo virtuoso só pode ser despoletado através da prospeção e captação de talentos que participem em divisões inferiores com reduzido custo salarial (Baroncelli & Lago, 2006).
Figura 4. Círculo virtuoso: clubes de pequena dimensão (Adaptado de Baroncelli & Lago, 2006).
Conforme podemos depreender da Figura 4, os clubes de pequena dimensão podem atingir uma relação positiva entre os objetivos desportivos e financeiros, essencialmente, através da compra e venda dos direitos económicos de jogadores. Assim, as receitas extraordinárias obtidas poderão ser repartidas pelos acionistas e pelo plantel para investir na época seguinte (Baroncelli & Lago, 2006). Identificada a importância do futebol na economia global, torna-se pertinente abordar os conceitos de gestão que os clubes devem implementar, de forma a potenciar o valor gerado. Desta forma, o próximo tema dedica-se à gestão estratégica, como ferramenta essencial para a criação de uma vantagem competitiva, na indústria do futebol.
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2.2 Gestão Estratégica A gestão estratégica é a gestão dos recursos da organização, de modo a determinar a direção e a definir os processos que apoiam a sua estratégia (Minstzberg, Lampel, & Ahlstrand, 2009). Na sua essência, trata-se de um plano de ação que determina o sentido estratégico da organização, a longo prazo, e define como a visão poderá ser alcançada (Johnson et al., 2008; Kartakoullis, Thrassou, Vrontis, & Kriemadis, 2013). Sendo este um processo dinâmico e contínuo, as organizações analisam o ambiente onde estão inseridas, assim como os recursos que têm disponíveis, definem as suas metas e objetivos e, por fim, selecionam as ações necessárias para concretizar a sua missão (A. J. R. Santos, 2008). Note-se que a estratégia é relevante para o desempenho da organização, por que representa o que a empresa faz e como o faz para entregar um valor único ao cliente (Grant, 2010; Lafley & Martin, 2013; Porter, 1980; J. Santos, 2015). A gestão estratégica, quando bem aplicada, proporciona às organizações um conjunto de benefícios que se traduzem em vantagens competitivas, permitindo uma rentabilidade sustentadamente mais elevada face aos seus concorrentes (R. S. Kaplan & Norton, 2008). Fundamentalmente, podem considerar-se três grandes benefícios: consistência da ação, gestão proactiva e maior envolvimento do pessoal (Teixeira, 2011). A forma como as empresas exploram as suas competências nucleares para atingir uma vantagem sobre os concorrentes pode assumir várias modalidades, entre elas (Porter, 1980; Teixeira, 2011): •
Liderança em custos, pela oferta de produtos mais acessíveis;
•
Diferenciação, na conceção de um produto exclusivo;
•
Foco, no fornecimento a um mercado de nicho.
Em suma, a gestão estratégica identifica como a organização se posiciona em relação à concorrência e reconhece as oportunidades e ameaças a enfrentar, sejam elas internas ou externas (David, 2011). Este processo traduz a forma como os gestores tomam as decisões necessárias à formação e desenvolvimento da estratégia que inclui três fases: análise, formulação e implementação (López & Martín, 2013). Num meio cada vez mais competitivo, como a indústria do futebol, os gestores desportivos assumem um papel preponderante para o sucesso das organizações, através de quatro tarefas básicas: planeamento, organização, direção e controlo (Teixeira, 2011). A compreensão dos princípios da gestão estratégica e a sua aplicabilidade, no contexto do futebol,
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são essenciais no alcance de uma vantagem competitiva (Hitt, Ireland, & Hoskisson, 2003; Hoye et al., 2009). 2.2.1 Análise Estratégica O primeiro passo para a implementação da estratégia coincide com a analise do meio envolvente da organização, isto é, o conjunto de forças que externa e internamente condicionam a sua atuação. Assim, a análise estratégica depende, essencialmente, de dois fatores: ambiente e organização. O enquadramento da estratégia com as características do ambiente e da organização é essencial para o sucesso da mesma (Grant, 2010). 2.2.1.1 Análise do Ambiente A análise do ambiente externo divide-se em dois grandes grupos, de acordo com a origem dessa influência. O primeiro grupo, o ambiente geral, é constituído pelas variáveis que exercem a sua influência de uma forma difusa. Por outo lado, o segundo grupo visa analisar o meio envolvente mais próximo, o ambiente competitivo. De salientar, que esta análise é o ponto de partida para fundamentar a estratégia e, assim, otimizar os resultados. 2.2.1.1.1 Análise do Ambiente Geral: PEST O ambiente geral é composto por dimensões mais abrangentes da sociedade, que influenciam os resultados da indústria. Estas dimensões podem ser agrupadas em segmentos ambientais como: Político e Legal, Económico, Sociocultural e Tecnológico (PEST) (Tabela 3) (Teixeira, 2011). Tabela 3. Variáveis da análise PEST. Variáveis Político-Legais
Económicas
Socioculturais
Tecnológicas
| Estabilidade
| Salário médio
| Taxa de crescimento
| Desenvolvimento de
governativa;
nacional;
populacional;
novas tecnologias;
| Legislação comercial;
| Taxa de desemprego;
| Distribuição etária da
| Aumento da
| Legislação fiscal;
| Taxa de inflação;
população;
produtividade através
| Legislação laboral.
| Taxa de juro.
| Estilo de vida;
da automação.
| Fluxos migratórios.
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A análise das variáveis político-legais deve dar a conhecer o tipo de governo, a sua estabilidade, a força política e o grau de intervenção na indústria. Já as económicas, dão informação da distribuição dos recursos de uma região. A componente sociocultural engloba as características da sociedade em que a empresa desenvolve a sua atividade. Por fim, a variável tecnológica pretende conhecer o desenvolvimento das tecnologias e o seu efeito na empresa e nos consumidores e as suas implicações nas escolhas estratégicas. 2.2.1.1.2 Análise do Ambiente Competitivo: “5 Forças de Porter” O ambiente competitivo da indústria engloba o conjunto de fatores que podem influenciar a performance da empresa, no seu mercado. De acordo com Porter, a organização pode ser afetada por cinco forças distintas, sendo a rivalidade entre concorrentes a variável central. Face ao tema do projeto, a Figura 5 exemplifica a aplicação deste modelo num clube de futebol (Porter, 1979).
Figura 5. Modelo “5 Forças de Porter”: clubes de futebol.
Esta análise adaptada ao meio futebolístico, permite descrever certos fatores que podem afetar os clubes. O objetivo passa pelo posicionamento da organização na indústria, com o intuito de maximizar as oportunidades e minimizar as ameaças, em prol das suas metas estratégicas (Hitt et al., 2003).
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2.2.1.2 Análise da Organização Para que a estratégia esteja devidamente fundamentada, é importante ter em conta a capacidade interna da organização, de forma a responder eficientemente às oportunidades e ameaças, oferecidas pelo ambiente. Assim, através da análise do ambiente interno, a empresa é capaz de identificar as suas forças e fraquezas e aquilo que consegue fazer com os recursos disponíveis. As organizações possuem dois tipos de recursos, tangíveis e intangíveis. Os primeiros são compostos pelos recursos financeiros, organizacionais, físicos e tecnológicos. Os segundos incluem recursos humanos, recursos de inovação e a reputação da empresa (Hitt et al., 2003). A caracterização destes é de extrema importância, porque retrata fatores diferenciadores e dificilmente replicáveis (Tabela 4). Tabela 4. Caracterização dos recursos intangíveis da organização. Recursos Humanos | Conhecimento; | Competências; | Capacidades de gestão; | Processos; | Estrutura.
Recursos de Inovação | Ideias, | Capacidade científica; | Capacidade de inovação.
Reputação da Empresa | Clientes; | Marca; | Perceção da qualidade dos seus produtos/serviços; | Relação com fornecedores.
2.2.1.3 Análise SWOT As forças e fraquezas da organização são discriminadas tendo como referência os concorrentes. Designa-se análise SWOT ao estudo das oportunidades e ameaças, do ambiente externo, e dos pontos fortes e fracos, do ambiente interno. Esta ferramenta permite, através de uma análise simples, rápida e esquematizada, revelar a situação estratégica da empresa(Teixeira, 2011). A Figura 6 apresenta a estrutura da matriz SWOT.
Figura 6. Matriz SWOT.
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Em resumo, a empresa deve (Teixeira, 2011): •
Tirar o máximo partido dos seus pontos fortes, tentando maximizar o aproveitamento das oportunidades do ambiente externo;
•
Minimizar o efeito negativo dos pontos fracos e, simultaneamente, aproveitar as oportunidades emergentes;
•
Tirar o máximo partido dos pontos fortes para minimizar os efeitos das ameaças detetadas;
•
Minimizar ou ultrapassar os pontos fracos e, tanto quanto possível, fazer face às ameaças.
Posto isto, o objetivo da técnica SWOT é encontrar os principais fatores que possam desempenhar um papel na adequação e direção da estratégia (Hoye et al., 2009).
2.2.2 Modelo de Negócio A estratégia exige o desenvolvimento de um modelo de negócio. Este descreve a lógica de como uma organização cria, proporciona e obtém valor (Spitzer, 2007). O modelo pode ser enquadrado como o esquema de uma estratégia que será implementada pela organização, através das suas estruturas organizacionais, processos e sistemas. No entanto, este modelo não tem em conta fatores externos e tendências de mercado, por isso é, apenas, parte da Estratégia. O modelo de negócio Canvas é uma representação gráfica constituída por nove blocos, que demostram como a organização pretende ganhar dinheiro (Osterwalder, 2010). Os blocos integrantes da representação gráfica do modelo são descritos na Figura 7.
Figura 7. Modelo de Negócio Canvas (Adaptado de Osterwalder, 2010).
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A partir do esquema gráfico demonstrado na figura anterior, podemos construir os princípios da estratégia de qualquer organização. O primeiro passo é definir a proposta de valor, uma vez que a clareza da mesma é preponderante para uma estratégia de sucesso (R. S. Kaplan & Norton, 2004, 2008). Satisfazer os clientes está na base da sustentabilidade da criação de valor (Osterwalder & Pigneur, 2014). No contexto do futebol, a proposta de valor é a declaração clara dos resultados tangíveis e intangíveis que o adepto obtém por usufruir dos serviços do clube, o que decorre diretamente da diferenciação que a organização é capaz de criar e desenvolver. Este conceito, moldará todos os planos subsequentes e decisões tomadas pelo clube, abrangendo toda a organização, das suas competências à sua cultura (Cruz, 2006). 2.2.3 Formulação da Estratégia Nos tópicos anteriores, procedeu-se ao estudo da análise do ambiente externo e interno da organização. Dessa análise, resulta o conhecimento das oportunidades e ameaças do ambiente externo, bem como os pontos fortes e fracos da empresa. Desta forma, salienta-se a importância de um perfeito conhecimento dos fatores críticos de sucesso e das competências chave da organização. A formulação da estratégia deve envolver os diferentes níveis hierárquicos e funcionais da organização e adotar a seguinte estrutura sequencial. 1) Declaração da Missão, Visão e Valores da Organização O aspeto mais basilar e importante de uma estratégia é a definição da sua missão, visão e valores com que pretende atingir esses objetivos. O propósito de maximizar o lucro é necessário, mas não é a razão da empresa existir. As organizações que não definirem, claramente, a sua missão e visão correm um maior risco de não alcançar resultados financeiros favoráveis (Grant, 2010; Lafley & Martin, 2013). A seleção e implementação de uma estratégia implica o perfeito conhecimento do propósito da organização, ou seja, da sua missão. Esta, traduz a definição dos fins estratégicos gerais e a finalidade da empresa, proporcionando orientações para o seu desenvolvimento futuro (Teixeira, 2011). A visão descreve o cenário que se pretende atingir no médio longo prazo, respondendo à questão: “O que queremos ser?” (Grant, 2010). Por fim, os valores representam os princípios essenciais e duradores de uma organização. Estes resumem-se num pequeno
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conjunto de princípios orientadores e intemporais de enorme importância para o interior da organização (Collins & Porras, 1996). 2) Definição dos Eixos Estratégicos Os eixos estratégicos iniciam o mapeamento da estratégia e respondem ao tópico “Quais são os pilares da nossa estratégia?”. Estes devem ser abrangentes e transversais e toda a organização deve estar focada nas diretrizes definidas para atingir níveis de excelência e, consequentemente, perseguir a sua visão e concretizar a missão. 3) Definição de Metas e Objetivos Estratégicos Tendo como base a situação atual da organização, é necessário definir as metas e os objetivos da estratégia a implementar. Segundo Carvalho (2016), as metas são objetivos a atingir a longo prazo e os objetivos são valores a alcançar num prazo de um ano. A estratégia traduz o modo como se pretende atingir as metas e os objetivos inerentes. Desta forma, as metas e os objetivos estratégicos devem ser SMART, isto é, específicos, mensuráveis, atingíveis, relevantes e temporizados (Carvalho, 2016; Teixeira, 2011). Neste sentido, os objetivos devem ser articulados com os temas estratégicos, consistentes e coerentes entre eles, financeiros e não financeiros e desdobráveis pelas diferentes estruturas da organização. Para além disso, o conjunto de objetivos deve explicar bem a estratégia, refletir a lógica de raciocínio que fundamenta e ser tanto operativo quanto possível. 4) Key Performance Indicator’s Os Key Performance Indicator’s (KPI’s) são indicadores de desempenho focados na avaliação dos aspetos mais relevantes para a organização. Estes funcionam como instrumentos vitais de navegação e de monitorização dos negócios, necessários para quantificar os níveis de performance atingidos e compará-los com as metas delineadas (R. Kaplan & Norton, 2001). As medidas de avaliação dos resultados devem ser fiáveis, unidimensionais, relevantes, consistentes, acessíveis, claras e motivadoras (Carvalho, 2016). Os indicadores podem, ainda, ser definidos como generalizados, caso avaliem os valores das metas estabelecidas, ou específicos, se analisam os Key-Drivers com impacto no resultado da meta (Stene, 2016). Desta forma, os KPI’s devem ser assumidos como foco para as equipas que contribuem para o alinhamento da organização no processo de organização, execução e controlo da estratégia (R. Kaplan & Norton, 2001). A sua definição vem reforçar a capacidade informativa da organização e evitar a ineficácia do controlo e, por isso, na sua análise devem ser 15
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considerados os seguintes aspetos: viabilidade técnica, rendibilidade, adequada combinação com a indução de resultados e o risco de comportamentos disfuncionais (Spitzer, 2007). Na seguinte tabela estão descritas as caraterísticas fulcrais para definir um indicador de desempenho (Tabela 5). Tabela 5. Exemplo de elaboração de um KPI. Responsável
Gabinete Apoio Associado
Descrição do objetivo estratégico
Implementação sistema de pagamento de quotas por débito automático Taxa de adesão débito automático
Designação Fórmula de cálculo
Número de sócios aderentes a dividir por número total de sócios Analisar taxa de adesão às novas formas de pagamento Mensalmente
Justificação Periocidade de avaliação Fonte de recolha de informação
Software gestão associados
5) Plano de Ações e Recursos As metas, objetivos e indicadores da organização requerem a elaboração de Planos de Ações e Recursos (PAR’s) com uma forte ligação aos principais drivers de criação de valor, de forma a que as ações estratégicas sejam devidamente implementadas. Os PAR’s devem ser documentados e construídos de forma coerente e alinhado com o propósito estratégico. De uma forma geral, estes incluem: metas, objetivos e indicadores, identificação e caracterização das ações, os recursos necessários para a sua execução, assim como o cronograma para a sua implementação. Sendo esta a última fase da formulação da estratégia, os seguintes passos englobam a implementação das ações estratégicas delineadas e a avaliação de resultados, utilizando os KPI’s definidos. No contexto do futebol, uma estratégia bem formulada permite ao clube atingir as suas metas e objetivos, otimizando os seus recursos e adaptando-os ao meio envolvente. A vantagem competitiva é um fator preponderante para que a Organização tenha mais sucesso que os seus concorrentes(Szymanski & Kuypers, 1999). Neste sentido, o clube de futebol deve: •
Determinar o desafio estratégico, através da definição da missão, visão e valores;
•
Mapear a estratégia, recorrendo à identificação dos eixos estratégicos e respetivos objetivos; 16
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•
Medir e focalizar o desempenho da estratégia, através da delineação de KPI’s e metas estratégicas;
•
Executar a estratégia seguindo fielmente os PAR’s;
•
Avaliar e monitorizar o desempenho do clube, de forma a identificar possíveis desvios, numa atitude preventiva e corretiva.
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2.3 Marketing Desportivo Num ambiente cada vez mais competitivo como o do futebol, surge a necessidade de criar e desenvolver um valor acrescido ao produto ou serviço oferecido. Atualmente, a fidelidade dos adeptos não está garantida pelo seu vínculo afetivo ao clube, sendo necessário recompensar o cliente pela sua lealdade. Assim, a retenção da massa adepta é fundamental para as Organizações desportivas e estas devem alocar esforços nesse sentido (Kotler, Rein, & Shields, 2007). Surge, assim, o marketing como o conjunto de métodos, processos e meios que uma organização dispõe para promover, nos públicos pelos quais se interessa, os comportamentos favoráveis à realização dos seus próprios objetivos (Dionísio, Lévy, Vicente, & Lendrevie, 2015). O propósito de qualquer estratégia de marketing é aumentar a receita da organização. Note-se que algumas estratégias podem não visar, imediatamente, o lucro, contudo esse é sempre o objetivo final (Gillentine & Crow, 2009). Por isso, as empresas devem fidelizar e gerir relações lucrativas com os seus clientes e parceiros (Kotler & Armstrong, 2016). O marketing desportivo é uma subdivisão do marketing caracterizada pelo conjunto de atividades cuja meta é responder, de forma eficiente, às necessidades dos consumidores. Neste sentido, é possível salientar duas categorias: o marketing de produtos e serviços relacionados diretamente com o desporto, como é o caso do merchandising dos clubes e ingressos e o marketing de produtos e serviços não-desportivos, onde as marcas utilizam o desporto como forma de comunicar os seus produtos e serviços aos seus consumidores (Hoye et al., 2009; Mullin, Hardy, & Sutton, 2000). No caso particular do futebol, o clube deve definir-se a si próprio não pelo serviço que presta, mas pelo valor percecionado pelos adeptos (Silk, 2006). Para formularmos e executarmos um plano estratégico mais rentável é necessário identificar e conquistar os adeptos certos através do marketing. De salientar que o clube deve conhecer os pensamentos e preferências dos adeptos para definir as melhores ações e, assim, aumentar as vendas e serviços de forma orientada (McDonald & Meldrum, 2013). 2.3.1 Marketing Mix A importância decisiva da seleção do mercado alvo e do posicionamento é confirmada pelo conceito marketing mix (Kotler, 1997). Este representa o conjunto de ferramentas de marketing que a organização utiliza para atingir os seus objetivos no mercado alvo (Kotler, 2002). O marketing mix (os 4P’s): product (produto), price (preço), promotion (promoção) e 18
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place (lugar) corresponde, no essencial, à execução dos detalhes táticos do posicionamento estratégico (Figura 8). Entende-se como posicionamento o conjunto de traços salientes e distintivos da imagem que permite aos consumidores situar e distinguir o produto ou serviço no mercado (Kotler, 1997).
Figura 8. As 4 componentes do Marketing-Mix (Adaptado de Kotler, 2002).
Definindo os 4P’s, coletivamente identificados como um "mix", estes devem ser combinados e coordenados para implementar a estratégia de posicionamento no mercado, de forma eficiente (Hoye et al., 2009). No âmbito do futebol, o desenvolvimento de uma estratégia de marketing deve considerar o valor entregue ao adepto, integrando no produto e serviço oferecido as seguintes componentes: atributos tangíveis e intangíveis, marca e reputação, facilidade de acesso e relação entre o prestador de serviço e o adepto. Desta forma, torna-se pertinente conhecer o comportamento dos principais clientes de um clube futebol, os consumidores e os patrocinadores. 2.3.2 Consumidores Na análise do perfil dos consumidores desportivos, é possível identificar duas características chave, o envolvimento e o compromisso. O primeiro está relacionado com aspetos cognitivos, comportamentais e afetivos. Por outro lado, o compromisso está relacionado com a frequência, duração e intensidade do consumidor (Mullin et al., 2000). De salientar que estas duas características representam os dois princípios basilares do marketing de 19
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relacionamento. Esta ramificação do marketing caracteriza-se pelo processo contínuo de identificação e criação de valor acrescentado, com os consumidores, e depois partilhar os seus benefícios através de uma associação vitalícia (Gordon, 1998). A sua principal preocupação é a retenção dos clientes lucrativos para a organização (Christopher, Payne, & Ballantyne, 2002). No caso específico do futebol, a fidelização dos clientes apresenta inúmeras vantagens, entre elas a redução da rotação de clientes, da incerteza, do número de reclamações, dos custos de aquisição e da recuperação e recrutamento de clientes. A conjugação dos benefícios mencionados assegura a permanência e o crescimento dos negócios, no futebol (Marques, 2002). 2.3.3 Patrocinadores As receitas provenientes das empresas, sob a forma de patrocínios, representam uma parte considerável das receitas de uma organização desportiva. O patrocínio é a provisão de recursos por parte de uma empresa a um indivíduo ou pessoa coletiva (o patrocinado), para apoiar o fim da atividade deste. Em troca o patrocinador espera obter benefícios de acordo com a sua estratégia de promoção, e que poderá ser expressa em termos de objetivos empresariais, de marketing ou media (Gillentine & Crow, 2009; Pope, 1998). Na sua essência, o patrocínio desportivo representa a relação entre uma empresa e uma entidade desportiva, onde a empresa fornece dinheiro, recursos ou serviços à entidade desportiva, em troca de direitos e privilégios (Gillentine & Crow, 2009). Os principais benefícios para os patrocinadores numa relação desportiva são: a consciência da marca (brand awareness), a melhoria de imagem (image enhancement), o aumento da quota de mercado, a aquisição de novos clientes e a criação de novas oportunidades de negócio. Fundamentalmente, estes benefícios devem proporcionar aos patrocinadores um retorno financeiro pelo investimento realizado (Lough & Irwin, 2001). Note-se que este é o indicador mais favorável que o clube pode apresentar ao patrocinador. Para além disso, existem outras vantagens inerentes ao patrocinador, que não são possíveis de medir a curto prazo, como por exemplo o aumento da motivação dos colaboradores da organização. Este tópico reflete-se na organização de ações conjuntas com a entidade desportiva, provocando maiores índices de produtividade.
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Metodologia Após a apresentação dos conceitos teóricos que fundamentam o Projeto “Gestão
Estratégica aplicada a uma Sociedade Desportiva de Futebol - Estudo de Caso: AD Fafe Futebol, SAD” é importante clarificar quais são os seus principais objetivos e de que forma estes foram atingidos, através da abordagem metodológica. Os clubes de futebol, em Portugal, são governados, na maioria, de uma forma não profissional e sem uma direção estratégica definida. Desta forma, a relevância do presente Projeto deve-se à ausência de referências literárias que apliquem a gestão estratégica nos clubes de futebol, evidenciando a sua pertinência na criação de uma vantagem competitiva. 3.1 Objetivos Posto isto, o objetivo geral deste estudo consiste em identificar o papel da gestão estratégica nas organizações de futebol. Neste seguimento, os objetivos específicos são: 1) Identificar a importância da aplicação da análise estratégica, nos clubes de futebol; 2) Compreender as etapas da formulação estratégica e a relevância da sua aplicabilidade no contexto do futebol; 3) Identificar metas, objetivos e indicadores estratégicos, em prol dos resultados desportivos e financeiros; 4) Conceber e preparar ações estratégicas que permitam capitalizar e otimizar os recursos do clube de futebol; 5) Identificar o marketing como uma ferramenta útil na criação de valor para os stakeholders. Apesar de existirem diversos estudos em torno do planeamento estratégico, verificou-se a ausência de uma abordagem no contexto futebolístico, nomeadamente nos clubes de pequena dimensão. Desta forma, considera-se que este Projeto contribui favoravelmente para a identificação do papel do gestor desportivo na análise, formulação e implementação da estratégia. Para além de apresentar uma abordagem atual, este estudo engloba o caso prático da Associação Desportiva de Fafe – Futebol, SAD (ADF), com o intuito de promover e comprovar a importância do enquadramento estratégico, nos clubes de futebol. A escolha da ADF justifica-se pelo seu histórico futebolístico e pela promoção de valores académicos. Os seus recursos organizacionais, como é o caso dos sistemas de informação, permitem fundamentar a implementação da estratégia e, assim, otimizar os
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resultados. A transparência e envolvência da ADF possibilitam, ainda, a recolha de informação, que potencia o impacto do estudo. 3.2 Abordagem Metodológica Após determinar os objetivos do Projeto, optou-se por implementar o método do estudo de caso, através de um Estágio Curricular na ADF, durante a época desportiva 2017/2018. O propósito inerente passa por explorar, compreender e descrever acontecimentos e contextos envolvidos no âmbito do clube (Veal & Darcy, 2014). A aprendizagem intrínseca à realização de um Projeto desta categoria é considerada uma vantagem, face à interação educativa entre a componente teórica e a circunstância real (Dubois & Gadde, 2002). Dada a natureza desta investigação optou-se por implementar uma análise estratégica, no sentido de recolher dados e obter resultados, no intervalo de tempo disponível, favoráveis à gestão do clube. Desta forma, o estudo é de índole descritiva e apresenta um delineamento transversal, ou seja, descreve pessoas, eventos e condições, num curto espaço de tempo (Veal & Darcy, 2014). Além da categoria descritiva, a presente investigação adota uma metodologia quantitativa e, como tal, foram aplicados dois questionários. O questionário “Satisfação Sócios” (Anexo I), com uma amostra de 42 espectadores, foi implementado para complementar a análise e caracterização dos sócios. Desta forma, foram avaliados os seguintes aspetos: frequência de assistência aos jogos; motivo de associação ao clube; adequação do valor da quota; acessibilidade de pagamento das quotas; disponibilidade para aderir a um sistema de pagamento de referência de multibanco e/ou débito direto e satisfação geral dos serviços prestados pela ADF. Por outro lado, o questionário “Satisfação Adeptos” (Anexo II), com uma recolha de 18 respostas, foi direcionado ao estudo do comportamento dos adeptos não sócios, com o intuito de melhor fundamentar e direcionar a estratégia a implementar. Neste questionário, foram avaliados os seguintes tópicos: frequência de assistência aos jogos; adequação do valor da quota; justificação para não se tornar sócio; aquisição de merchandising e interesse em se inscrever como associado da ADF. Para além disso, foi possível aceder ao software de gestão de associados e aos dados contabilísticos da ADF essenciais para o posicionamento do clube, na indústria do futebol. Note-se que a recolha de dados se iniciou em outubro de 2017 e findou a 18 de junho de 2018, de forma a obter uma abordagem atual.
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Tema do Projeto O Projeto “Gestão Estratégica aplicada a uma Sociedade Desportiva de Futebol” visa a
implementação de conceitos de gestão estratégica nas organizações desportivas, como parte integrante do cumprimento da missão e dos objetivos do clube. Desta forma, ao longo deste tópico, a teoria abordada anteriormente será aplicada no contexto prático da ADF, sob a forma de um plano estratégico. 4.1 Apresentação da Entidade A ADF foi fundada a 28 de junho de 1958 através da fusão de dois clubes rivais que coexistiam no concelho de Fafe, o Futebol Clube de Fafe e o Sporting Clube de Fafe (Coimbra, 2008). O clube, naquela data apenas destinado à prática de futebol, foi, ao longo do tempo, desenvolvendo a prática de outros desportos como a natação, o andebol, desportos de combate e futsal. Hoje em dia, conta nos seus quadros com cerca de 500 atletas inscritos nas diversas modalidades, sendo o futebol o desporto com o maior número de praticantes. Em 2016, a equipa sénior de futebol foi promovida à 2ª Liga e o clube foi obrigado a criar uma SAD, fruto das exigências impostas pela Liga Portugal. Esta nova entidade, ADF SAD, é uma sociedade desportiva, com fins lucrativos, responsável pela gestão do futebol sénior. Atualmente, a ADF compete no 3º escalão do futebol português e ambiciona ser promovido aos campeonatos profissionais. 4.2 Análise Estratégica A análise estratégica é o primeiro passo para a formulação de uma nova estratégia. No caso prático da ADF, considerou-se pertinente realizar a análise do ambiente e da organização como forma de melhor fundamentar o planeamento estratégico. Nesta fase, consideraram-se os resultados obtidos nos questionários “Satisfação Sócios” (Anexo I) e Satisfação Adeptos” (Anexo II), como parte complementar da análise interna do clube. 4.2.1
Análise do Ambiente
O ambiente onde as organizações estão inseridas apresenta, conforme analisado no enquadramento teórico, um impacto determinante na sua performance. Assim, para o estudo de caso da ADF utilizaram-se as análises “5 forças de Porter” e “PEST”, de forma a estudar o ambiente organizacional da mesma. 23
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4.2.1.1 Análise “5 Forças de Porter” As “5 Forças de Porter” auxiliam na análise da indústria, sendo, assim, possível identificar o posicionamento do clube pela avaliação do poder negocial dos fornecedores e clientes, da ameaça de novos concorrentes e serviços substitutos e da rivalidade entre concorrentes. Poder Negocial dos Fornecedores Os principais fornecedores da ADF são os atletas, a equipa técnica e as organizações de material desportivo. Face à competitividade envolvida no mercado de jogadores, o clube apresenta poder negocial reduzido, na medida em que a elevada performance de um atleta pode acarretar um custo elevado para a sua retenção ou aquisição. O mesmo se verifica relativamente à equipa técnica, uma vez que a experiência e o bom desempenho podem suscitar o interesse de outros clubes e, consequentemente, levar a um aumento dos salários auferidos com vista à sua retenção. Por fim, no que respeita os fornecedores de material desportivo, existe uma elevada concorrência no setor e, neste caso, considera-se que a ADF apresenta um grande poder negocial. Este pressuposto deve-se à elevada quantidade de encomendas realizadas, e, por isso, o clube pondera acerca do preço, tempo de resposta e qualidade do produto, entre as mais variadas empresas do setor. Poder Negocial dos Clientes Os principais clientes da ADF são os adeptos, os consumidores de merchandising do clube, os patrocinadores e a Câmara Municipal de Fafe (CMF). Conforme foi possível apurar através de contactos informais, os adeptos do clube apresentam uma elevada sensibilidade perante o valor dos ingressos para os espetáculos desportivos, não estando, por isso, dispostos a pagar preços elevados. Neste sentido, é possível adicionar os adeptos à descrição de consumidores de merchandising. Estes adquirem os produtos por se identificarem com o clube e os preços praticados devem estar ajustados, de acordo valor percecionado da marca. Por outro lado, os patrocinadores adquirem espaços publicitários, quer através da aquisição anual de camarotes, de publicidade no estádio ou nos equipamentos de jogo. Face à importância destes parceiros estratégicos, o clube deve primar por uma relação próxima, de forma a mitigar o risco de estes desertarem. No entanto, é de 24
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salientar que o objetivo da maioria dos patrocinadores passa, essencialmente, por apoiar a ADF, sem equacionar o retorno financeiro. Por fim, a CMF apoia o clube através da cobrança de uma renda simbólica das infraestruturas e, ainda, atribui uma verba anual com objetivo de promover a prática do desporto. Neste caso, a ADF apresenta um poder negocial considerável, uma vez que se considera socialmente relevante o impacto que o apoio ao futebol tem na esfera política, num centro urbano da dimensão de Fafe. Ameaça de Novos Concorrentes A ameaça de novos concorrentes provém, essencialmente, de clubes que passam a ter os mesmos objetivos desportivos da ADF, neste momento, a promoção ao 2º escalão. Ameaça de Serviços Substitutos Os serviços substitutos estão implícitos noutros desportos e atividades recreativas, como por exemplo o parque aquático, o kartódromo e outros espetáculos culturais e desportivos de Fafe. Rivalidade entre Concorrentes Atualmente, a ADF compete desportivamente com o Futebol Clube Vizela e o Vilaverdense Futebol Clube pelo apuramento ao play-off de acesso à 2ª Liga. Numa perspetiva não desportiva, a ADF rivaliza com o Futebol Clube do Porto, o Sport Lisboa e Benfica, o Sporting Clube de Portugal e o Arões Sport Clube pela considerável comunidade de adeptos locais. 4.2.1.2 Análise PEST Face à importância da análise PEST para a caraterização do ambiente, neste tópico é relevante identificar as características especificas do setor que enquadra a ADF. Para além disso, é crucial salientar os principais fatores que promovem a mudança no ambiente desportivo da ADF e qual o seu impacto no futuro. Político-Legal Como abordado anteriormente, a CMF apoia a ADF por questões políticas e eleitorais. Nesta análise, deve ainda ser considerada o peso da tributação sobre os salários e as decisões
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governamentais com impacto nas organizações, como por exemplo a definição do salário mínimo. Económico O nível económico local é um fator preponderante na análise ambiental e, por isso, torna-se pertinente comparar a taxa de desemprego e o rendimento médio da população do concelho com a média nacional (Tabela 6). Tabela 6. Análise do salário médio e da taxa de desemprego de Fafe, 2014 (PORDATA). Indicador Taxa de Desemprego Salário Médio
Fafe 15% 741€
Portugal 13% 1093€
Conclui-se, assim, que o poder económico e os níveis de empregabilidade da população residente em Fafe são inferiores à média nacional. Assim, é possível inferir que a comunidade local apresenta uma reduzida predisposição para alocar parte dos seus recursos financeiros em bens terciários. Na Tabela 7, executa-se uma comparação entre o volume de negócios empresarial de Fafe e Paços de Ferreira. Tabela 7. Análise do volume de negócios empresarial de Fafe e Paços de Ferreira, 2016 (PORDATA). Indicador Volume de Negócios Empresarial
Fafe
Paços de Ferreira
867 830 000 €
1 229 936 000 €
As empresas sediadas no concelho de Fafe apresentaram um volume total de faturação anual inferior a Paços de Ferreira, um concelho demograficamente semelhante. Posto isto, indicia-se que o meio empresarial se encontra menos propenso no apoio financeiro à ADF. Face à dependência da ADF em relação ao meio empresarial envolvente, considerou-se pertinente analisar o número de empresas por volume de faturação. Esta informação adicional permite segmentar a massa empresarial de Fafe, concluindo que o volume de faturação anual de 52% das empresas é inferior a 100 000€. Este dado económico permite adaptar a parceria estratégica do clube com o meio empresarial (Figura 9).
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Figura 9. Número empresas por volume de faturação em Fafe, 2016.
Sociocultural Atualmente, o concelho de Fafe conta com cerca de 51 000 habitantes, sendo a maioria de idade adulta (Tabela 8) e do género feminino (Tabela 9) (PORDATA). Conhecida pela pronúncia local diferenciada, a comunidade de Fafe caracteriza-se como um povo unido, destemido e orgulhoso. Um dos ícones dos Fafenses é a lenda “Viva a justiça de Fafe”, que reflete a luta pelos direitos de igualdade e justiça. O concelho de Fafe foi um dos mais afetados pela emigração para o centro da Europa e Brasil, no século passado. Assiste-se, assim, nos meses de julho e agosto, ao regresso de milhares de emigrantes à cidade. Este fator é preponderante na envolvência da ADF com a comunidade emigrante, refletindo-se numa oportunidade para capitalizar o apoio ao clube. Tabela 8. Distribuição da população por faixa etária de Fafe, 2011(PORDATA). Faixa Etária
População
Percentagem (%)
0-4
2 142
4%
5-19
8 737
17%
20-29
6 256
12%
30-44
11 427
23%
45-64
13 630
27%
+65
8 441
17%
Total
50 633
100%
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Tabela 9. Distribuição da população por género de Fafe, 2011 (PORDATA). Género
População
Percentagem (%)
Homem
23 946
47%
Mulher
26 687
53%
Total
50 633
100%
Tecnológico Face ao avanço tecnológico, as organizações desportivas têm vindo a adotar novas ferramentas de comunicação, nomeadamente a transmissão de jogos em direto e o conteúdo digital, que acarretam um baixo investimento. Estes meios democratizados são fundamentais para fomentar a envolvência do clube com a comunidade. Neste tópico, é de realçar a crescente utilização dos smartphones cada vez mais capacitados. Extrapolando para o meio futebolístico, estes podem evitar a impressão do bilhete ou do cartão de associado, facultar novas possibilidades de pagamento e promover o contacto com o clube, através da criação de uma app. 4.2.2 Análise da Organização A análise da organização representa um fator preponderante na determinação do perfil do clube, realçando as suas principais potencialidades e dificuldades. Desta forma, é importante conhecer o organograma da ADF e os seus recursos. 4.2.2.1 Organograma Na abordagem ao organograma da organização futebolística, é pertinente esquematizar os recursos humanos da ADF (Figura 10). Neste caso, trata-se da SAD, porque se refere à gestão do futebol profissional. O Presidente da Direção da ADF exerce a full-time e é o principal decisor no planeamento desportivo e financeiro do clube. A ADF encontra-se subdividida em três departamentos, nomeadamente o Desportivo, Jurídico e de Marketing. O primeiro é responsável pelas atividades que envolvem o plantel sénior e equipa técnica, como por exemplo a sua constituição, a logística dos jogos e o bem-estar dos jogadores. O Departamento Jurídico tem como principais funções zelar pela 28
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legalidade dos contratos desportivos e salvaguardar os interesses do clube. Por fim, o Departamento Marketing encarrega-se da gestão dos associados, dos patrocínios, da Loja Amarela (loja oficial do clube) e da organização dos jogos do clube. Para além disso, este departamento elabora e controla o plano financeiro e económico, garantindo a sustentabilidade da ADF. Para além dos colaboradores pertencentes aos quadros, a ADF estabeleceu protocolos com escolas e universidades para acolher alunos em regime de estágio curricular, nomeadamente em funções de comunicação, marketing, design, fotografia e gestão, contribuindo para uma dinâmica positiva de inovação e desenvolvimento na organização.
Figura 10. Organograma da ADF 2017/2018.
4.2.2.2 Infraestruturas Como mencionado anteriormente, a CMF facilita as infraestruturas ao clube, por um período indeterminado, a um preço simbólico. Esta cedência inclui o Estádio Municipal de Fafe, o campo sintético, uma casa para habitação e um edifício destinado à prática de desporto de combate. O estádio encontra-se próximo do centro da cidade, facilitando o seu acesso. É importante salientar que o estacionamento é privativo, no dia dos jogos, dificultando o uso do 29
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automóvel. O complexo desportivo inclui duas entradas, uma para sócios e adeptos e outra destinada a apoiantes da equipa adversária, garantido o acesso ao espetáculo de forma eficaz. É de salientar que o estádio se encontra adaptado à população de reduzida mobilidade e a deficientes, sendo este tópico de extrema importância na igualdade de acesso. Para além disso, o estádio é composto por duas bancadas centrais, uma delas com cobertura para melhorar o conforto dos adeptos, principalmente, em condições meteorológicas adversas. Nas instalações do estádio, os adeptos têm à sua disposição quatro zonas de restauração, perfeitamente adaptadas às necessidades da massa adepta. De notar que apenas um dos bares está ao encargo do clube, o dos camarotes, e os restantes encontram-se em regime de aluguer ao “Snack-Bar O Jorge”. Por fim, as quatro casas de banho do estádio encontram-se dividas por género, no entanto não estão adaptadas à população de mobilidade reduzida e deficientes. Após esta descrição e análise, foi possível identificar uma zona favorável à implementação de uma Fan Zone. Esta área situa-se entre a entrada principal e a zona de jogo e, por isso, representa um grande potencial por ser um local de passagem obrigatória. 4.2.2.3 Análise Associados O clube utiliza um software de gestão de associados que permite armazenar, informaticamente, os dados relativos aos sócios inscritos, nomeadamente o nome, o género, a data de nascimento, os contactos e a categoria de sócio. Além disso, o programa permite obter informação sobre os sócios que apresentam quotas por debitar e o resumo do encaixe financeiro desta fonte de receita. Neste sentido, a análise de associados da ADF foca-se nos seguintes tópicos: caracterização, posição financeira e motivação. Caracterização dos Associados Na caracterização dos sócios identificou-se: a distribuição de associados por faixa etária (Tabela 10) e por género (Tabela 11), as categorias de sócio e o respetivo valor da quota (Tabela 12) e a informação existente na base de dados da ADF (Tabela 13). Através desta análise, é possível verificar que a maioria dos sócios pertence à faixa etária dos 45 aos 64, sendo este um risco para o clube. Verifica-se, ainda, que os jovens de idade adulta representam, apenas, 11% do total e, por isso, a ADF deve implementar estratégias que visem o aumento desta percentagem, em prol do rejuvenescimento da massa adepta.
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Tabela 10. Distribuição dos sócios por faixa etária. Faixa Etária
Número de Sócios
Percentagem (%)
0-4
103
4%
5-19
455
19%
20-29
272
11%
30-44
476
19%
45-64
661
27%
+65
475
19%
Total
2442
100%
Neste seguimento, a Tabela 11 sumariza a distribuição dos sócios por género, permitindo concluir que, apenas, 9% pertence ao sexo feminino. Este tópico é um ponto de partida para a delineação de uma estratégia que permita cativar o público feminino. Tabela 11. Distribuição dos sócios por género. Género
Número de Sócios
Percentagem (%)
Homem
2216
91%
Mulher
226
9%
Total
2442
100%
Para além disso, torna-se pertinente concluir que a categoria “Homem Central” é a mais significativa (57%) e a que proporciona mais receita à ADF. Este dado deve orientar o clube para a atração e retenção desta categoria, com o intuito de otimizar os resultados financeiros. Relacionando os dados das Tabelas 10 e 12, salienta-se a pertinência de planear uma ação estratégica que promova a atração dos jovens adultos para a categoria “Homem Central”. O objetivo passa por potenciar a fidelização, de longo prazo, dos jovens adeptos à categoria de sócio mais rentável.
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Tabela 12. Categoria de sócio de acordo com o valor da quota e respetiva distribuição. Categoria de Sócio
Valor da Quota
Número de Sócios
Percentagem (%)
Homem Central
6€
1404
57%
Homem Superior
4€
80
3%
Mulher
4€
209
9%
3,5 €
262
11%
2€
340
14%
Gratuito
147
6%
Reformado Menor (14-18 anos) Menor Isento (0-14 anos)
Com o avanço tecnológico, a informação digital é cada vez mais importante para estabelecer um contacto rápido e fácil com os associados. Desta forma, a ADF deve primar por recolher o email dos sócios, face ao reduzido número de contactos disponíveis (Tabela 13). Tabela 13. Meios de contacto disponíveis dos sócios. Tipo Informação
Quantidade de Informação
Percentagem (%)
Contactos telemóvel
1412
58%
543
22%
Posicionamento Financeiro Neste parâmetro, subdividiu-se os sócios em duas categorias, tendo como base a sua situação financeira perante o clube. Os associados com doze ou menos quotas em atraso são considerados “sócios pagantes”, enquanto os restantes são identificados como “sócios não pagantes”. Esta distinção foi realizada, porque o clube não tem expectativa que os últimos regularizem a sua situação. Posto isto, na última análise aos dados do software, o clube apresentava 2 526 associados registados, no entanto apenas 2 048 foram considerados “sócios pagantes”. Destes, 951 apresentavam quotas por liquidar, o que correspondia a um saldo negativo de 20 515€. Perante a situação financeira identificada, torna-se fulcral estudar meios que colmatem esta lacuna. Assim, entendeu-se relevante perceber a aceitação dos sócios face aos métodos de pagamentos alternativos, débito direto e referências de multibanco, com o intuito de estudar a relação custo/beneficio e viabilidade da sua implementação. Note-se que estas alternativas podem levar à diminuição dos riscos relativos à gestão de tesouraria e, porventura, à perda de associados. Através da análise dos resultados do questionário “Satisfação Sócios”, depreende32
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se que 30% dos inquiridos aderem com certeza à forma de pagamento por referência de multibanco e que 21% aceitam aderir ao sistema de débito direto (Figura 11).
Figura 11. Descrição da Amostra: Interesse dos sócios na adesão a novos métodos de pagamento.
Motivação Por fim, torna-se pertinente identificar a motivação dos sócios na fidelização com o clube (Figura 12) e medir o interesse dos adeptos, que assistem aos jogos, em se tornarem sócios (Figura 13). A motivação dos associados foi analisada no questionário “Satisfação Sócios”, sendo possível concluir que o fator mais relevante da associação é, simplesmente, apoiar o clube. Note-se que dos 42 inquiridos, 32 consideram este fator como “Muito Relevante”. Outra das razões que fundamenta a motivação dos sócios é a vantagem económica oferecida na aquisição de bilhetes e merchandising da ADF.
Figura 12. Descrição da Amostra: Fatores principais de associação à ADF.
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Por outro lado, o questionário “Satisfação Adeptos” estudou o interesse dos adeptos em se tornarem associados. Os resultados evidenciam que 44% dos adeptos, não sócios, que assistem aos jogos expressam vontade em ser sócios (Figura 13).
Figura 13. Descrição da Amostra: Interesse dos adeptos em se tornarem sócios.
Conclui-se, assim, que existe uma margem para aumentar a base de associados da ADF. O desafio passa por perceber o motivo pelo qual ainda não se associaram, de forma delinear
Nº de Respostas
uma estratégia de cativação.
Figura 14. Descrição da Amostra: Nível de satisfação geral dos sócios.
De uma forma geral, os sócios encontram-se muito satisfeitos pelos serviços prestados pela ADF, embora os objetivos desportivos não tenham sido atingidos (Figura 14). Este indicador demonstra o elevado nível de envolvimento existente entre a comunidade e o clube.
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4.2.2.4 Análise Loja Amarela A Loja Amarela é responsável pela comercialização dos produtos oficiais do clube. A loja tem disponível uma gama com cerca de vinte artigos, onde se incluem as camisolas oficiais, os equipamentos de treino, os cascóis, as pulseiras, os galhardetes e o livro comemorativo dos cinquenta anos de história da ADF. Estes produtos são destinados à comunidade fafense, existindo apenas a segmentação entre o adulto e a criança, nos tamanhos de vestuário disponíveis. O produto estrela é a camisola oficial, sendo este o produto mais vendido e com a maior margem de rentabilidade. Durante a época 2017/2018 foram vendidas 930 camisolas oficiais. Salienta-se, ainda, que os associados têm direito a um desconto na compra de merchandising, uma das principais motivações do associativismo fafense, como foi analisado anteriormente. O clube, durante os meses de julho e agosto, utiliza um espaço no centro da cidade para expor os produtos da Loja Amarela, por ser uma época de maior afluência de vendas. Durante os restantes meses do ano, o ponto de venda é exclusivamente na sede do clube. Note-se que a Loja Amarela disponibiliza, unicamente, a possibilidade de pagamento em numerário, refletindo um efeito negativo sobre o volume das vendas. Este tópico relacionase com a indisponibilidade para efetuar a compra e pela menor perceção do custo do produto quando o pagamento é realizado por multibanco (Thomas, Desai, & Seenivasan, 2010). 4.2.2.5 Análise da Assistência aos Jogos As entradas dos jogos são controladas de forma eletrónica através do sistema de código de barras, apoiado pelo software de gestão de associados. Desta forma, a ADF consegue quantificar a assistência por jogo e por categoria de adepto (Tabela 14). A assistência média aos jogos registada durante a época 2017/2018 foi de 788 espectadores. Comparando este valor com a média das assistências dos jogos do 2º escalão, a ADF ocupa o 13º lugar no ranking, situando-se entre o Futebol Clube Penafiel e o Clube Desportivo Cova da Piedade, com uma média de 846 e 784 espectadores respetivamente, segundo os dados da Liga Portugal.
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Tabela 14. Classificação dos espectadores por categoria e assistência média por jogo. Categoria de Adepto Homem Mulher Reformado Sócios Cativo Superior Bilhete Anual/Menor Camarotes CMF Cartões FPF Não Sócios Menores Central Superior Visitante Total
Assistência Média 151 42 60 43 41 132 65 22 19 61 54 77 21 788
Os questionários “Satisfação Sócios” e “Satisfação Adeptos” analisaram a frequência de assistência aos jogos, por parte do sócios e adeptos, durante a época 2017/2018 (Figura 15).
Figura 15. Análise comprativa: Frequência aos jogos entre sócios e adeptos (não sócios).
Posto isto, verificou-se que os sócios são muito mais assíduos ao espetáculo desportivo, do que adeptos (não sócios). Desta forma, a captação de mais associados levará a um aumento da assistência aos jogos. 4.2.2.6 Análise do Resultado Operacional A análise do resultado operacional fornece informações financeiras fundamentais para a tomada de decisão. O avanço da tecnologia e a disponibilidade de informação, em tempo real, acrescentam valor diferencial e de qualidade às decisões estratégicas do clube. Desta forma, as
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demonstrações financeiras apresentam a situação atual da organização e identificam a sua posição económica, a margem de crescimento e a capacidade para investimentos. No caso da ADF, salienta-se a importância de criar e manter indicadores económicos, que permitam comparar a situação financeira, ao longo do tempo. Posto isto, neste tópico serão identificadas as receitas e os custos operacionais referentes à época 2017/2018. Receitas e Custos Operacionais As receitas operacionais da ADF subdividem-se em publicidade e patrocínios, quotas dos associados, estádio e bilheteira e merchandising (Tabela 15). A publicidade e os patrocínios representam a maior percentagem dos proveitos, cerca de 40%, e são obtidos através da promoção dos parceiros no equipamento de jogo e no estádio. No caso específico da ADF, apenas três organizações são responsáveis por 50 % desta fonte de receita. Assim sendo, o clube deve promover e fomentar uma relação próxima com estes stakeholders, mantendo-os informados e satisfeitos. Para além disso, é importante realçar o risco associado à forte dependência do clube perante os patrocinadores. As quotas dos associados, também, apresentam uma percentagem significativa, aproximadamente de 35%, das receitas operacionais. É de salientar que as quotizações são receitas do clube, no entanto são consignadas à ADF para a gestão do futebol profissional. Os principais riscos associados a esta rúbrica são o atraso no pagamento das quotas e a desistência de associados. Face à elevada ponderação dos sócios na receita do clube, este dado é fundamental para definir os objetivos da estratégia. Tabela 15. Receitas operacionais - Época 2017/2018. Categoria
Valor (€)
Percentagem (%)
Publicidade e Patrocínios
110 000
40%
Quotas dos Associados
97 178
35%
Estádio e Bilheteira
35 648
13%
Merchandising
35 000
12%
Total
277 826
100%
A receita inerente ao estádio e bilheteira representa 13% dos ganhos da ADF e inclui os ingressos, os lugares anuais, o bar dos camarotes e os sorteios do dia de jogo. Estes proveitos operacionais não devem ser desvalorizados pela ADF, porque, para além de refletirem o
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envolvimento do clube com os adeptos, permitem cobrir os custos com a organização dos jogos. Ainda associado a esta rubrica, surgem os custos operacionais, numa percentagem de 8% (Tabela 16), que refletem gastos fixos e, por isso, não existe grande margem de redução. Nesta categoria, inclui-se a taxa a pagar à FPF de 10 200€, a segurança privada e outros gastos diversos. As receitas de merchandising devem-se exclusivamente à atividade da Loja Amarela e representam 13% dos ganhos (Tabela 15). O maior volume de vendas ocorre durante os meses de julho e agosto, como analisado anteriormente. Os proveitos totais da Loja durante a época 2017/2018 foram de, aproximadamente, 35 000€ e o Custo de Mercadorias Vendidas (CMV) foi de 17 000€ (Tabela 16). Desta forma, a margem da venda foi superior a 50%, o que significa que a ADF deve apostar na comercialização de merchandising. Tabela 16. Custos operacionais - Época 2017/2018. Categoria
Valor (€)
Percentagem (%)
Plantel e Equipa Técnica
180 000
59%
Custos com Pessoal
54 000
18%
Fornecimento de Serviços Externos
30 000
10%
Custo de Organização de Jogos
23 000
8%
Custo de Mercadorias Vendidas
17 000
6%
Total
304 000
100%
Os custos referentes ao plantel e equipa técnica representam cerca de 59% dos gastos operacionais. Esta categoria engloba os salários, o alojamento e a alimentação dos jogadores e equipa técnica. Face aos objetivos desportivos do clube, a redução do gasto inerente ao plantel e equipa técnica acarreta um grande risco. Desta forma, os custos operacionais devem ser ponderados para que a performance desportiva da ADF não seja prejudicada. Os custos com o pessoal representam a segunda maior fatia das despesas operacionais. Neste tópico, surgem os salários de todos os membros referenciados no organograma (Figura 9), exceto o plantel e a equipa técnica. O objetivo da ADF é profissionalizar e especializar a equipa de trabalho em prol de um resultado desportivo e financeiro cada vez melhor. A rúbrica fornecimento de serviços externos representa os gastos provenientes da utilização e manutenção do estádio, nomeadamente a água, a luz, o gás e o tratamento do relvado, realizado por uma empresa externa. Ainda nesta categoria é possível destacar outros gastos inerentes ao estágio da equipa em dia de jogos. 38
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Em resumo, o resultado operacional da ADF, na época 2017/2018, (Figura 16) foi negativo em 26 174€, no entanto ainda é necessário apurar o valor das quotas a receber até 30 de junho de 2018. Do exercício da época anterior derivou um resultado líquido de 24 000€, o que compensará a diferença verificada entras as receitas e despesas operacionais. Resultado Operacional Época 2017/2018
€-
€(26 174,00)
€(10 000,00) €(20 000,00) €(30 000,00)
Figura 16. Resultado operacional - Época 2017/2018.
4.2.3 Análise SWOT Após a análise do ambiente interno e externo da ADF, resumiu-se na Figura 17 os principais fatores influentes na definição da estratégia.
Figura 17. Análise SWOT: ADF.
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Cada um dos aspetos mencionados, nesta análise, pode e deve contribuir para a determinação das metas e objetivos da ADF. Através desta metodologia, o clube justifica a direção, os padrões de atuação e o seu comportamento estratégico. A resposta aos tópicos: donde vimos (passado), onde estamos (presente) e para onde vamos (futuro) é obtida através do pensamento inconformista e estratégico da organização. 4.3 Modelo de Negócio Assume, também, um papel decisivo neste processo a identificação precisa da proposta de valor. Esta representa a declaração clara dos resultados tangíveis e intangíveis, que decorre diretamente da diferenciação que a ADF é capaz de criar e desenvolver. Sendo a proposta de valor o coração da estratégia, os planos e decisões subsequentes, abrangem toda a organização, desde o segmento dos clientes às parcerias-chave. Surge assim o modelo de negócio canvas, na definição gráfica de uma proposta de valor (Figura 18).
Figura 18. Modelo de Negócio Canvas: ADF.
Definidos os recursos e competências da ADF, o próximo passo coincide com a formulação da estratégia a implementar, a médio prazo.
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4.4 Formulação da Estratégia No tópica anterior, procedeu-se à analise do ambiente externo e interno da ADF e desta resultou o conhecimento das oportunidades, oferecidas pelo ambiente externo, e ameaças a evitar ou a neutralizar. Conhecendo os pontos fortes e fracos do clube, é importante considerar os fatores críticos de sucesso e as competências chave para dar início à formulação da estratégia. A ADF deverá seguir uma estratégia de foco, segmentando o seu nicho de mercado tendo por base o fator geográfico. Esta estratégia decide responder às necessidades específicas dos adeptos, em vez de satisfazer as necessidades do mercado global. Assim, o nicho de mercado é composto por toda a população de Fafe, ou com ligações familiares à cidade, e pela massa empresarial do concelho. Desta forma, é possível obter um conhecimento profundo do segmento de clientes e, assim, diferenciar-se das restantes organizações desportivas. 4.4.1 Missão, Visão e Valores da ADF A Missão, a Visão e os Valores, apesar de serem conceitos muito próximos, são fundamentais para que os clubes identifiquem a sua identidade, os seus objetivos e os elementos fundamentais para definir e implementar a estratégia. No caso específico do ADF, estas diretrizes não estavam devidamente documentadas, penalizando o envolvimento da equipa na concretização das metas. Este desafio estratégico deve ser abordado em parceria com o Órgão Diretivo, de forma a que esteja enquadrado com a realidade do clube. Missão A ADF visa alcançar o sucesso desportivo, promover a prática de exercício físico e organizar eventos futebolísticos que valorizem a experiência de jogo e divulguem a identidade do clube. Uma organização genuína e cultural, apreciada e respeitada pela comunidade local pelos valores que transmite, desde a procura da honra e justiça dentro e fora de campo. Visão Um clube líder no desenvolvimento económico, social, cultural e desportivo da localidade. A ADF propõe-se a atingir o patamar mais alto do futebol nacional, como resposta à expectativa dos seus seguidores. Preservar o seu importante legado histórico, dirigir o seu património com dedicação e orgulho, em beneficio dos seus sócios, e atuar com critérios de gestão eficiente e responsabilidade social.
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Valores Honra, Ética e Responsabilidade nos compromissos assumidos com os Sócios, Jogadores, Fornecedores e Colaboradores.
Trabalho como parte integrante do núcleo do clube e essencial na superação dos desafios e obstáculos do dia a dia do futebol. Profissionalismo numa atitude de respeito e compromisso com a gestão e interesses da organização. Cumprimento dos objetivos com qualidade, otimização dos recursos e brio. Formação na permanente descoberta e educação de valores desportivos e académicos, privilegiando não só a formação futebolística e profissional, como também a formação social e ética. Justiça como orientador de uma atitude de igualdade e imparcialidade face aos interesses, prosperidade e oportunidades inerentes ao clube. 4.4.2 Eixos Estratégicos Após definida a identidade do clube, a próxima etapa coincide com a identificação dos pilares da estratégia. Surgem, assim, os eixos estratégicos que devem ser transversais à ADF para que toda a equipa esteja focada em perseguir a Visão e concretizar a Missão já definida. Em parceria com a Direção da ADF, definiram-se as seguintes diretrizes estratégicas: •
Performance desportiva;
•
Envolvimento do clube com a comunidade de Fafe.
Note-se que os dois temas estão interligados, porque para atingir resultados desportivos é necessário otimizar os recursos financeiros, obtidos, essencialmente, pelos adeptos e patrocinadores locais. Assim, o planeamento das ações deve cativar o apoio da comunidade local para maximizar a receita. Seguidamente, apresentam-se metas e objetivos estratégicos que visam o aumento de receita para potenciar a performance desportiva.
4.4.3 Objetivos, Indicadores e Metas da Estratégia Após a definição dos eixos estratégicos da ADF, o próximo passo coincide com a definição das metas, objetivos e indicadores da estratégia a implementar. Note-se que as metas a atingir têm como ponto de partida os valores obtidos na análise realizada, anteriormente.
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Desta forma, estabeleceram-se cinco objetivos e as respetivas metas a atingir, num prazo de três anos: •
Meta nº 1: Aumentar a receita de patrocinadores para 150 000 €/ano (Tabela 17);
•
Meta nº 2: Aumentar o número de sócios pagantes para 2 500 (Tabela 18);
•
Meta nº 3: Aumentar receita total de merchandising para 45 000 € (Tabela 19);
•
Meta nº 4: Aumentar a assistência média aos jogos em casa para 1 000 espectadores (Tabela 20);
•
Meta nº 5: Aumentar a receita da comercialização dos direitos económicos dos jogadores (Tabela 21).
Tabela 17. Objetivos Estratégicos: Meta nº 1. Meta nº1: Aumentar a receita de patrocinadores para 150 00€ /ano, em 3 anos. Responsável: Diretor Comercial Recolha de Informação: Folha de cálculo – Patrocinadores Indicador Ações Estratégicas Periodicidade: Mensal - Criar um produto segmentado para as Soma do valor pequenas empresas; (€) recebido por - Motivar a força de vendas do clube a parte dos encontrar patrocinadores. patrocinadores
1º ano
2º ano
3º ano
Objetivo 1.1.1
Objetivo 1.2.1
Objetivo 1.3.1
130 000€
140 000€
150 000€
A Meta nº1 surge da análise do tecido empresarial de Fafe, onde se verifica que mais de 50% das empresas faturam menos de 100 000€, anualmente. Note-se que da análise interna do clube, existe uma grande dependência dos patrocinadores. Desta forma, o objetivo das ações estratégicas enumeradas passa por aumentar a rede de patrocinadores e, consequentemente, a receita total da ADF, potenciando o seu poder negocial. Por outro lado, a Meta nº 2 relaciona-se com o número de associados do clube e surge como um potencial a explorar. De salientar que um dos eixos estratégicos da ADF fomenta o envolvimento do clube com a comunidade e, como tal, este é um indicador chave. Neste ponto, pretende-se tomar medidas de retenção e aquisição de associados. A primeira medida foca-se na recolha de informação acerca dos sócios, de forma a desenvolver ações de bloqueio para a sua desvinculação. Por outro lado, a segunda medida incide no público feminino e na população não residente, por representarem um segmento por explorar, como analisado anteriormente.
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Tabela 18. Objetivos Estratégicos: Meta nº 2. Meta nº2: Aumentar o número de sócios pagantes 2 500, em 3 anos. Responsável: Gabinete de Apoio ao Associado Recolha de Informação: Software gestão de Associados Indicador Ações Estratégicas Periodicidade:Mensal - Prémios de fidelização de 5 e 11 anos de associado; - Plano de ação para influenciar o sócio a regularizar as quotas.
Contagem do número de sócios pagantes
- Aumentar número de sócios do género feminino.
Soma do número de sócios do género feminino
- Criar a categoria de “Sócio Estrangeiro”; - Angariar sócios estrangeiros.
Soma do número de sócios não residentes
- Recolha de informação para completar a base de dados dos sócios.
Proporção entre número de dados disponíveis e o total de sócios (%)
- Implementação do sistema de pagamentos por débito automático; - Plano de Marketing & Comunicação.
Taxa de sócios aderentes (%)
1º ano Objetivo 2.1.1
2º ano Objetivo 2.2.1
3º ano Objetivo 2.3.1
2 150
2 300
2 500
Objetivo 2.1.2
Objetivo 2.2.2
Objetivo 2.3.2
300
350
400
Objetivo 2.1.3
Objetivo 2.2.3
Objetivo 2.3.3
100
150
200
Objetivo 2.1.4
Objetivo 2.1.5
Objetivo 2.2.4 - 75% Contactos Telemóvel - 35% Emails Objetivo 2.2.5
Objetivo 2.3.4 - 80% Contactos Telemóvel - 40% Emails Objetivo 2.3.5
5%
10%
15%
- 70% Contactos Telemóvel - 30% Emails
No que diz respeito à Meta nº3, é importante mencionar que esta surge da necessidade de reforçar a gama de produtos da Loja Amarela para novos segmentos de clientes, nomeadamente bebés e crianças e turistas. Além disso, propõe-se a instalação de uma prensa térmica, de modo a que a personalização das camisolas possa ser executada no ato da compra. Com a Meta nº 4 pretende-se desenvolver o interesse da comunidade pelos eventos desportivos, de forma a atingir assistências médias de 1000 espectadores por jogo. As ações 44
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estratégicas envolvidas visam atingir esta meta através da oferta de novas formas de entretenimento e da promoção do evento desportivo, entre o público feminino e jovem. Tabela 19. Objetivos Estratégicos: Meta nº 3. Meta nº3: Aumentar receita total de merchandising para 45 000€, em 3 anos Responsável: Diretor Comercial Loja Amarela Recolha de informação: Folha de cálculo – Loja Amarela Ações Estratégicas
- Personalização das camisolas oficiais no ato da compra. - Novos produtos para o segmento de bebe/criança e produtos representativos da cidade; - Possibilidade de pagamento por multibanco.
Indicador Periodicidade: Mensal Volume de camisolas vendidas (unidades)
Volume de vendas total da loja (€)
1º ano
2º ano
3º ano
Objetivo 3.1.1
Objetivo 3.2.1
Objetivo 3.3.1
1 000
1 000
1 000
Objetivo 3.1.2
Objetivo 3.2.2
Objetivo 3.3.2
- 27 500€ julho e agosto - 12 500€ resto ano
- 30 000€ Julho e Agosto - 12 500€ resto ano
- 30 000€ julho e agosto - 15 000€ resto ano
Tabela 20. Objetivos Estratégicos: Meta nº4. Meta nº4: Aumentar a assistência média aos jogos “em casa” para 1 000 espectadores Responsável: Diretor da organização dos Jogos Recolha de informação: Folha de cálculo – Bilheteira Indicador Ações Estratégicas Periocidade: Por jornada “em casa” - Entretenimento antes e Número de espectadores a durante o jogo; dividir por número de jogos - Cativar mulheres a assistir aos jogos;
- Entrada de jovens da formação com a equipa principal em todos os jogos
Número de entradas de mulheres a dividir por número de jogos
Número de entradas de jovens a dividir por número de jogos
1º ano Objetivo 4.1.1
2º ano Objetivo 4.2.1
3º ano Objetivo 4.3.1
850
950
1 000
Objetivo 4.1.2
Objetivo 4.2.2
Objetivo 4.3.2
70
100
120
Objetivo 4.1.3
Objetivo 4.2.3
Objetivo 4.3.3
100
125
150
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7. GESTÃO ESTRATÉGICA APLICADA A UMA SOCIEDADE DESPORTIVA DE FUTEBOL
Tabela 21. Objetivos Estratégicos: Meta nº5. Meta nº 5: Aumentar a receita da comercialização dos direitos económicos dos jogadores Responsável: Diretor Desportivo Recolha de informação: Ações Estratégicas - Criação de um departamento de Scouting;
Indicador Periocidade: Anual
1º ano Objetivo 4.1.1 Vender 1 jogador
2º ano Objetivo 4.2.1 Vender 1 jogador
3º ano Objetivo 4.3.1 Vender 1 jogador
Por fim, a Meta nº5 pretende potenciar as receitas obtidas através da comercialização dos direitos económicos dos jogadores e, desta forma, propõem-se a criação de um departamento de Scountig para captar novos talentos. 4.4.4 Planos de Ações e Recursos Após a definição das metas e objetivos da ADF, decidiu-se detalhar três das ações estratégicas descritas anteriormente, como forma de exemplificação prática. 1) Plano de Ação: Desenvolvimento e implementação “Parceiros Silver”. Meta nº1 Responsável: Diretor Comercial Caracterização: A maior fonte de receita do clube (40%) provém de patrocinadores, sendo, apenas, três responsáveis por metade deste valor. Face ao risco inerente, é importante diversificar e aumentar o número de parceiros. Perante a realidade empresarial de Fafe, surge o “Parceiros Silver”, um produto adaptado a organizações de reduzida dimensão (Tabela 22). Tabela 22. Descrição “Parceiros Silver”. Descrição Dois cartões anuais transmissíveis que permitem a entrada nos jogos, em casa, de futebol (bancada coberta) e Futsal Autocolante Publicitário “AD Fafe | Parceiro Silver” Porta cartões Dois lugares cativos transmissíveis Valor (€)
Categoria Silver Silver Plus Sim
Sim
Sim Sim Não 280 €
Sim Sim Sim 500 €
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Processo: 1. Listar potenciais empresas interessadas no produto; 2. Imprimir os cartões com o nome das firmas; 3. Apresentar, pessoalmente, o produto às empresas; 4. Caso a proposta seja aceite: a. Preencher o formulário de adesão; b. Entregar o pacote. 5. Proceder à cobrança; 6. Ativar os cartões; 7. Preencher a base de dados dos “Parceiros Silver”. Retorno financeiro: A Tabela 23 demonstra o retorno financeiro, caso os objetivos de vendas sejam atingidos. Tabela 23. Plano anual de retorno financeiro "Parceiros Silver". Categoria
Nº de Unidades
Preço de Venda Unitário
Custo Unitário
Retorno
Silver
60
280 €
9€
16 260 €
Silver Plus
40
500 €
9€
19 640 €
Total
100
-
-
35 900 €
Conclui-se assim que o sucesso deste plano de ação tem um efeito positivo sobre o valor das receitas, esperando-se um aumento de 30% de receita na rúbrica “Publicidade e Patrocínios”. 2) Plano de Ação: Implementação do sistema de cobranças de quotas por débito direto. Meta nº2 Responsável: Gabinete de Apoio Associado Caracterização: Através do software de gestão de associados, verificou-se que um elevado número de sócios não pagava as suas quotas, atempadamente. Note-se que dos 2 048 sócios pagantes, 951 não apresenta as suas quotizações em dia, o que equivale a um valor negativo de 20 515€. Além dos problemas de tesouraria que pode originar, a não regularização das quotas levar à desvinculação do sócio. 47
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Plano de Marketing (4 P’s): Serviço: Adesão ao débito direto; Preço: Gratuito; Promoção: Desenvolvimento de um plano de comunicação que inclua redes sociais, publicidade na zona envolvente ao estádio e oferta de prémios associados à adesão. Lugar: Sede da ADF. 3) Plano de Ação: Ações de bloqueio à desistência dos associados. Meta nº2: Responsável: Gabinete de Apoio ao Associado Análise: A retenção dos associados deve ser interpretada como uma área de foco, uma vez que o custo da captação de novos associados é superior à manutenção dos fidelizados (Figura 19).
Figura 19. Fluxograma retenção de sócios: ADF.
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Na Figura 18 está descrito o fluxograma que seve ser cumprido pelo responsável da tarefa, neste caso o Gabinete de Apoio ao Associado. 4.5 Resultados Previstos Após a implementação das ações estratégicas delineadas, prevê-se que os proveitos operacionais da ADF aumentem nos próximos três anos. Na época 2017/2018, as receitas totais foram de 277 826€, no entanto estima-se que, na época 2020/2021, a receita cresça para, aproximadamente, 360 000€ (Figura 20). Por outro lado, é expectável que os custos operacionais aumentem numa proporção muita mais reduzida do que as receitas, devendo-se essencialmente às seguintes despesas: departamento de Scouting, prensa térmica, Fan Zone e, porventura, um colaborador para coordenar, implementar e avaliar as ações estratégicas propostas. Estes custos representam um valor acrescido de aproximadamente 12 000€ / ano.
Figura 20. Previsão das receitas: ADF 2017-2021.
Através da potencialização da receita do clube, a ADF obtém uma vantagem competitiva, na indústria do futebol. Com o crescimento das receitas em 30%, a ADF poderá investir no plantel, em prol de melhores resultados desportivos. Nesta fase, inicia-se, o círculo virtuoso que promove, positivamente, a relação entre a performance financeira e desportiva. Note-se que os resultados desportivos estão inteiramente relacionados com o envolvimento da massa adepta. Nesta fase, a ADF concretiza os eixos estratégicos delineados.
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Conclusão Através da aplicação dos conceitos inerentes à gestão estratégica, foi possível concluir
que esta temática potencia os resultados financeiros e desportivos dos clubes de futebol. Este Projeto, permitiu identificar as etapas necessárias a uma gestão focada nos resultados, que se antecipa e adapta eficazmente às mudanças, cada vez mais acentuadas da indústria futebolística. Desta forma, o estudo efetuado veio contrariar a gestão “on the run” aplicada, na maioria dos clubes de futebol, onde o principal objetivo é a performance desportiva a curto prazo, muitas vezes, em prejuízo do âmbito financeiro. Os resultados da pesquisa sublinham a necessidade de um planeamento estratégico metodicamente orientado, implementado e avaliado. Assim, para que o clube alcance uma vantagem competitiva, no mercado, é necessário considerar as seguintes etapas: •
Análise estratégica: caracterização e avaliação pormenorizada do ambiente externo e interno do clube de futebol;
•
Formulação da estratégia: definição da direção estratégica e identificação das metas, objetivos e indicadores do clube;
•
Implementação e monitorização dos planos de ações e recursos;
•
Utilização do marketing como uma ferramenta essencial para a criação de valor e, respetivo, posicionamento no mercado.
Um outro aspeto de relevo recai na implementação de sistemas de informação, como um instrumento essencial para a gestão e tomada de decisão, em prol da medição e monitorização dos resultados obtidos. O presente Projeto inclui, assim, um guia de ação a ser aplicado nos clubes com uma visão desportiva ambiciosa e financeiramente sustentável. O estudo pretende alertar os gestores desportivos para a importância de um pensamento estratégico e para o alcance de um desempenho superior, na indústria do futebol. Em suma, a aplicação dos conceitos da gestão estratégica, na ADF, resultou na implementação de uma estratégia de otimização da receita, em 30%, a longo prazo. Através do envolvimento do clube com os adeptos, sócios e clientes é possível obter uma maior capacidade de investimento a aplicar no plantel e staff, despoletando, assim, o círculo virtuoso entre a performance desportiva e financeira.
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Anexos 7.1 Anexo I – Formulário do Questionário “Satisfação Sócios”
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7.2 Anexo II – Formulário do Questionário “Satisfação Adeptos”
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INTRODUÇÃO Enquanto desporto-rei o Futebol tem sofrido diversas alterações e, desde meados da década de 70, verificamos uma maior profissionalização dos seus atletas e das leis do jogo, com maior rigor da modalidade. A par dessa evolução, novos desafios e obstáculos surgem, em questões cruciais como a ética, a credibilidade, integridade bem como o respeito pelos direitos humanos. Devido ao clima atual em que o Futebol se encontra inserido, a necessidade de mudança é cada vez mais uma obrigação. Discutir todos estes temas é algo desafiante e complexo mas considero que para o Futebol Português, esta análise é necessária de forma a que se encontrem soluções para que se possam atingir novos patamares.
OBJETIVOS De forma a que dentro das quatro linhas o espetáculo e competitividade se encontrem assegurados, fora de campo importa traçar um novo paradigma. Numa Indústria analisada ao pormenor e onde a exigência de rigor e transparência cada vez mais se acentuam como prementes, vejo com o meu projeto uma possibilidade de idealizar e explorar aquela que se afigura como a solução, ou pelo menos como um ponto de partida para o Futebol Português e consequente revitalização da sua reputação, uma Comissão de Ética. Com fundamento no Decreto-lei 80/2018 de 15 de outubro, que estabelece os princípios e regras aplicáveis à composição, constituição, competências e funcionamento das Comissões de Ética em matéria de investigação clínica, adapto o diploma mencionado à realidade da modalidade.
RESULTADOS
CONCLUSÕES
Introdução de um órgão colegial, multidisciplinar e independente no universo futebolístico, com preocupações de cariz ético, onde são analisados todos os comportamentos suscetíveis de violação dos valores intrínsecos à modalidade. Da Comissão, resultariam relatórios, pareceres, informações e recomendações, por parte de um grupo de personalidades com notoriedade em áreas profissionais distintas, das quais, o Direito, a Filosofia/Ética, Anticorrupção, Boa Governação, Direitos Humanos, Segurança. Entre algumas das funções da Comissão, destacar-se-iam o acompanhamento de processos sobre os quais incidam matérias de ética e integridade; idealização e elaboração de projetos identificados como imprescindíveis para restaurar os valores éticos no Futebol; promoção de mecanismos de combate ao match-fixing, através de um suporte proativo, acessível e de comunicação segura, através de um canal rápido e efetivo com as forças policiais; promoção de educação e treino, no combate à corrupção, nas diversas organizações desportivas, desde federações, associações e clubes de futebol; identificação regular de casos de match-fixing, corrupção, má governação ou lavagem de dinheiro na realidade do futebol português.
Dificilmente um projeto desta amplitude conseguirá atingir os seus objetivos se apenas for movido pelo esforço de algumas individualidades. O esforço coletivo de todos os intervenientes do Futebol, começando no simples adepto, até atletas ou dirigentes, afigura-se a meu ver como a melhor estratégia. Os próximos anos no Futebol serão decisivos. O Futebol depende de todos, e é responsabilidade de todos preservar a modalidade, nas suas variantes e aceções. Assim, de forma a permitir uma evolução no Futebol, alicerçada num controlo forte e rigoroso de toda a envolvente da modalidade, onde impere a verdade desportiva, deve ser o objetivo primeiro de todos.
UM NOVO ORGANISMO INDEPENDENTE NO FUTEBOL- A COMISSÃO DE ÉTICA José Pedro Costa Gonçalves Pereira
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8. UM NOVO ORGANISMO INDEPENDENTE NO FUTEBOL- A COMISSÃO DE ÉTICA
Um Novo Organismo Independente no Futebol- A Comissão de Ética
When people ask me why I played football the way I did, this is the answer. Football gives meaning to life, yes. But life also gives meaning to football. Eric Cantona
José Pedro Costa Gonçalves Pereira Fevereiro de 2019
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8. UM NOVO ORGANISMO INDEPENDENTE NO FUTEBOL- A COMISSÃO DE ÉTICA
Agradecimentos Inicio o meu projeto com uma breve nota de agradecimento para todos os que permitiram e colaboraram comigo para torná-lo possível. Primeiramente, os meus familiares mais próximos, que me aconselharam vivamente a traçar o meu percurso quanto a esta obra e seguir com as minhas convicções. De seguida, salientar o papel de alguns dos meus amigos, cada um deles com o seu contributo particular e essencial nesta etapa. Numa componente mais profissional, uma palavra aos que me forneceram um contributo importante, dentro do futebol profissional, em especial no aconselhamento do tema a adotar, e, neste sentido, no prosseguir da ideia por mim proposta. À Liga Portugal, em especial à Fundação do Futebol, pela oportunidade e proposta que nos foi feita, com a possibilidade de um aluno poder, caso assim o entendesse, mostrar a sua visão e identificar oportunidades de melhoria e evolução neste desporto que move paixões. E de alguma forma vê-la replicada ao mundo real e objeto de análise de forma rigorosa pelas diversas entidades.
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8. UM NOVO ORGANISMO INDEPENDENTE NO FUTEBOL- A COMISSÃO DE ÉTICA
Resumo Delinear uma ideia que prime pela inovação, no futebol, desde já se adivinha como algo desafiador. Em 2019, numa indústria tão exposta como a de que é alvo o projeto, ainda assim, exige-se inovação e mudança, em várias componentes do futebol. Neste sentido, e alicerçada na minha licenciatura em Direito, pretendo expor e clarificar aquele que segundo o meu ponto de vista, pode realmente ser um ponto de partida no que se pode chamar um processo de renovação ou revitalização do futebol, e de forma particular, do futebol português. O patamar onde o futebol se encontra, exige cada vez mais rigor e transparência, mas, diariamente o universo futebolístico é alvo de suspeita e de falta de ética. Como tal, inclusive para não comprometer o futebol do desporto-rei, urge uma mudança que a meu ver começa pela criação de uma Comissão de Ética. No entanto, e para poder enquadrar a ideia deste projeto, começo por uma introdução onde evidencio os pontos de vista de personalidades do futebol que partilham esta mesma conceção, dos quais, António Oliveira - antigo profissional do futebol - com um trajeto meritório, quer a nível de clubes nacionais como seleções. Mostrando o impacto internacional deste fenómeno surge a perspetiva de Raí, antigo jogador brasileiro, que também se debruçou sobre as grandes temáticas do futebol e sobre este grande ponto de interrogação que sobrevoa a modalidade em matérias de integridade e ética. Não sendo possível fugir ao plano nacional, expõe-se em traços gerais, o fenómeno da corrupção em Portugal e como esta atingiu patamares inadmissíveis até aos dias de hoje. O projeto marca um ponto de partida que tem como intenção criar um órgão independente, capaz de debater e aconselhar todas as necessidades identificadas e que seja possível de se adaptar no futuro do dia-a-dia do futebol.
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8. UM NOVO ORGANISMO INDEPENDENTE NO FUTEBOL- A COMISSÃO DE ÉTICA
Abstract Discussing an original idea in football, easily becomes challenging. Around 2019, in an industry like the one that is discussed in this projet, inovation and change is still demanding, in several aspects of football. Embraced with my Law degree, i want to present and clarify my point of view, that trully can be the first step in a process that can be called the reborn of football, and in this particular case, in portuguese football. The level where football is today, demands transparecy and clarity, and instead of that, football is regularly a target of suspect and lack of ethic. A change in football is crucial, and for me, it´s important to creat an Ethic Comission. However, to frame this idea, in the introduction, I show the different points of view of football personalities, such as António Oliveira, an old football player, with a rewarded route, and in a international point of view, the quote of Raí, old brazilian football player, that has also studied this subject. Not being possible to runaway the national frame, the corruption in Portugal is analyzed in this project. This project marks the starting point that has the intention to creat an independent organization, capable of discussing and debating every need identified as crucial, and being capable to adapt to the evolution of this sport.
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8. UM NOVO ORGANISMO INDEPENDENTE NO FUTEBOL- A COMISSÃO DE ÉTICA
Índice
Agradecimentos ...................................................................................................................................... 2
Resumo .................................................................................................................................................. 3
Introdução............................................................................................................................................... 6
A Ética. A Ética no Desporto ................................................................................................................... 8
Transparency International.....................................................................................................................11
Fabio Quagliarella- O Impacto de uma perseguição na performance desportiva .....................................20
A Corrupção no Futebol Português ........................................................................................................22
Solução - Comissão de Ética .................................................................................................................28
Conclusão..............................................................................................................................................37
Bibliografia .............................................................................................................................................38
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8. UM NOVO ORGANISMO INDEPENDENTE NO FUTEBOL- A COMISSÃO DE ÉTICA
Introdução Enquanto desporto-rei o futebol tem sofrido diversas alterações, desde meados da década de 70, verificamos uma maior profissionalização dos seus atletas e das leis do jogo, com maior rigor e completude da modalidade. Este avanço cria a necessidade de se analisar um novo paradigma, a indústria do futebol. Resultado desta evolução, observa-se constantemente um grande ponto de interrogação em questões cruciais, como as de ética, credibilidade, integridade, e respeito pelos direitos humanos. A necessidade de mudança é cada vez mais uma obrigação. O clima permanente de suspeita no futebol, e em especial no futebol português, não traz consigo nada de benéfico, tanto agora, como inclusive, para as gerações futuras que serão por demais essenciais para o alavancar do futebol, nos seus mais variadíssimos planos. Nesse sentido, espero que numa perspetiva otimista, o futebol venha a ser discutido e forma clara, célere e íntegra. O futebol português necessita de uma mudança. Como refere António Oliveira, o futebol português continua a ser um universo onde impera a opacidade, de forma a proteger “interesses individuais”, bem como “clãs familiares, desportivos e empresariais” Citando Raí, antigo jogador brasileiro, “precisamos de algo novo, diferente, com compromisso e transparente”. Vejo com o meu projeto uma possibilidade de explorar e idealizar aquela que se afigura como a solução, ou pelo menos como um ponto de partida para o futebol português e a revitalização da sua reputação, uma Comissão de Ética. Após pesquisa e estudo, constatei que uma Comissão de Ética não se afigura de todo como uma ferramenta completamente inovadora em Portugal. Quero com isto dizer que tal instrumento já foi implementado, noutros setores da sociedade, e como tal, sempre me questionei sobre a inexistência da mesma, naquela que é a indústria de maior dimensão, na área do entretenimento e lazer, que é o futebol. Assim, nos capítulos seguintes, explico sumariamente as linhas orientadoras e definições essenciais da Ética bem como o seu impacto no Desporto, em especial em Portugal. Seguidamente, apresentarei as recomendações e conselhos da Transparecy International, organismo sem fins lucrativos que se debruça detalhadamente sobre os grandes problemas do desporto, em específico a corrupção, numa perspetiva internacional. Práticas e comportamentos que tenham sido adotados em países diversos, desde a Alemanha à Roménia serão identificados, tendo em vista o combate aos grandes males do futebol, desde o match-fixing, à gestão danosa, e corrupção desportiva. 6
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8. UM NOVO ORGANISMO INDEPENDENTE NO FUTEBOL- A COMISSÃO DE ÉTICA
Posteriormente, e tendo como base a dissertação “A Corrupção no Futebol Português: Tendências e Trajetórias”, pretendo uma contextualização nacional da corrupção no futebol nacional, exemplificando alguns dos casos com maior mediatismo. Por fim, expor, de forma detalhada, a minha ideia de projeto que poderia ser um contributo, a meu ver, essencial no futebol, a já mencionada Comissão de Ética, tendo por base o decreto-lei 80/2018 de 15 de outubro, que “estabelece os princípios e regras aplicáveis à composição, constituição, competências e funcionamento das comissões de ética”
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8. UM NOVO ORGANISMO INDEPENDENTE NO FUTEBOL- A COMISSÃO DE ÉTICA
A Ética. A Ética no Desporto
1. Breves Notas: Para abordar a temática “Ética”, importa desde logo sublinhar o seu significado mais literal. Com certeza, num plano filosófico, a ética resume-se a tudo o que envolve o caráter. Numa abordagem distinta, é possível reconduzir o termo em estudo para as mais variadíssimas áreas da sociedade, das quais, a ética médica, a ética jornalística, empresarial ou até a ética pública. Importa sublinhar que, ética e lei podem confundir-se em determinadas circunstâncias. Um indivíduo pode ser punido por um comportamento ilegal e não será necessariamente considerado um comportamento menos ético. Não obstante e em variadíssimos casos, a lei, constrói-se com base em princípios éticos. Neste sentido, mencionar ética significa liberdade, a liberdade do ser humano em agir. A ética direciona-se às ações humanas sem que estas se encontrem determinadas por um comportamento externo, vulgo norma, que diz ao ser humano como se deve comportar e atuar. Assim, de salientar os chamados códigos de ética profissionais que se debruçam sobre a forma como o indivíduo se deve comportar numa profissão específica, sendo um tema que permanece no centro da discussão atual da sociedade. A ética, não podendo dissociar-se do comportamento político, também se direciona para planos como os de cidadania ou a comunidade. A ética na cidadania visa uma reflexão profunda sobre os comportamentos da sociedade, segundo noções do correto e do errado, do justo ou do injusto. No fundo, a ética na cidadania tem como objetivo atingir um meio, meio este que permita interação entre as pessoas em sociedade de maneira a que estas possam respeitar as leis morais. Crucial salientar que ninguém nasce com estes conceitos devidamente apreendidos, ou seja, a educação mostra um papel preponderante como meio para a construção de uma personalidade moral e ética. No entanto, fruto da globalização e da economia de mercado, é necessária uma mudança conceptual, visto que, em todos os planos da sociedade se verificam diariamente, em Portugal, julgamentos morais. Como tal, conciliar um projeto moral com um projeto desportivo torna-se essencial quer pela formação do indivíduo enquanto pessoa, bem como agente no futebol, em qualquer atividade que venha a exercer. Segundo Aristóteles, a ética enquanto ciência que estuda o comportamento do ser humano, tanto na sua perspetiva individualizada, como enquadrado no plano da comunidade, exige-se tanto de cada um, como da sociedade como um todo, com dignidade nos seus atos.
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2. A Ética no Desporto: No Desporto imperam três realidades: a prática, o espetáculo desportivo e por fim, os resultados. No entanto, a realidade atual mostra que o Desporto não se molda apenas por tais parâmetros. Existe muito mais para discutir, analisar e combater, uma vez que os resultados desportivos suscitam o principal interesse. Observa-se uma ideia de que o fim justifica todos os meios, sejam eles quais forem. Esta conceção não poderia ser mais errada. Neste sentido, realidades como a violência, a falta de lealdade, a fraude e corrupção, ou até o doping, espelham os grandes males de uma realidade como o Desporto, que inevitavelmente acompanha a transformação dos valores da sociedade. Constata-se, por isso mesmo, um processo de desmoralização do fenómeno desportivo, além de uma descredibilização social do desporto, em especial no que à alta competição diz respeito. Assim, debruçando sobre a Ética no Desporto, o grande objetivo é o de alcançar um sistema desportivo civilizado, ou seja, ver a ética desportiva como uma estrutura moral. Sobre a Ética no Desporto, incumbe salientar as suas grandes valências, a prioridade da competição enquanto meio para o desenvolvimento dos jovens; o sentido cultural e formativo que caracteriza a prática desportiva, através dos seus grandes valores, como a solidariedade, honestidade, lealdade, disciplina, respeito pelo outro e pela regra e superação.
2.1. A Ética Desportiva e Fair-Play: Aristóteles defende que a Ética é o compromisso efetivo do homem que o deve levar ao perfeccionismo pessoal. O Desporto e os seus valores encontram-se cada vez mais sobrepostos pelos valores comerciais que em certa medida, não dão o relevo adequado à ética desportiva. Não quer com isto dizer que participar numa competição não deva ser feito com esse grande objetivo, mas o papel da “vitória” é sem dúvida umas das grandes causas para o ataque à ética desportiva. Discutir ética desportiva significa discutir o Desporto como um espaço de moralidade inserido num contexto sociocultural, onde imperam os valores morais existentes na prática desportiva e consequentemente se condena a corrupção, violência, dopagem, entre outras. A ética desportiva delimita, por isso, os limites do “custo do sucesso” pois a Ética determina o “significado de uma vitória a qualquer preço”. Quando se tem como foco a Ética Desportiva, torna-se impossível dissociar de um outro conceito, talvez até com maior notoriedade, que é o de Fair-Play. Enquadrar o termo “fair” remete para a sua origem na Idade Média, em mercados “onde se cultivava a honestidade, lealdade, cavalheirismo, justiça e seriedade”.
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Num plano mais atualista, expor o termo Fair-play significa, mais do que respeitar as regras, a amizade e com certeza o respeito pelo outro. Para além disso, diz respeito à cooperação entre o Homem, muito além do círculo desportivo. No entanto, hoje, o Desporto não explora ao máximo o seu potencial pelas situações conflituosas que se observam, por culpa das competições realizadas fora do contexto legal, contexto esse que se afigura como prejudicial para crianças e jovens atletas. Assim, desenvolver uma Ética Desportiva significa um desenvolvimento Cultural, Educativo e Cívico. Nestes termos, não parte apenas da responsabilidade dos agentes desportivos e organizações desportivas o rejuvenescer desta Ética Desportiva. Salienta-se e exige-se um papel forte desde os monitores, a treinadores bem como Pais. O fair-play depende, por isso, do atual contexto social, das ações dos dirigentes da sociedade em geral, do Desporto e da Educação, onde o fair-play deve ser visto como uma componente fundamental para o desenvolvimento da cidadania. Salientar a importância redobrada da Ética no Desporto no que diz respeito ao desenvolvimento das crianças e jovens, sendo que aqui se revela crucial a intervenção da criança no seu processo de aprendizagem, mas também o papel do adulto, zelando e promovendo os valores desportivos.
“O espírito desportivo valoriza a inteligência, o corpo e o espírito do homem, que se distinguem pelos seguintes valores: ética, fair play e honestidade, saúde, excelência no rendimento, carácter e educação, diversão e alegria, trabalho de equipa, dedicação e respeito pelas regras e leis, respeito por si e pelos outros participantes, coragem, comunidade e solidariedade” (Comentário numa reunião do programa mundial Anti Doping)
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Transparency International
1. Introdução à Transparency International: Em março de 1993, fruto da necessidade de criar uma organização que permitisse colocar um fim à corrupção, abuso de poder e, por exemplo, o tráfico de influências, surge a Transparency International (doravante denominada T.I.), um movimento global que visa combater estes e outros problemas. Vários campos da sociedade civil são alvo de estudo na T.I. e como não poderia deixar de ser, o futebol e o desporto em geral são um dos focos desta organização sem fins lucrativos que reúne governos, empresas e cidadãos a trabalhar em conjunto. Importa logo referir aqui que o ordinário cidadão atualmente não acredita na credibilidade das pessoas que conduzem e guiam os diversos desportos, ou seja, em exemplos práticos, os cidadãos não têm total confiança na FIFA - entidade máxima do futebol. Desde a gestão danosa à lavagem de dinheiro, a corrupção no desporto é uma realidade com diversas facetas e que coloca em causa os valores que são a base do desporto e que prendem milhões de adeptos nas mais variadíssimas modalidades. Num estudo realizado em vinte e oito países e consequentemente a vinte cinco mil adeptos, 69% destes não depositam a sua confiança na FIFA. As últimas décadas evidenciam a indústria do futebol como um setor propício para a corrupção. No entanto, se as pessoas e os mecanismos certos estiverem em posição, o desporto conseguirá limpar esta má imagem. Cobus de Swardt, diretor geral da Transparency International, salientou que quando os resultados de eventos desportivos, resultados de concursos ou resultados de eleições para cargos de gestão em organizações desportivas são determinados não por integridade e verdade, mas por corrupção, há a sensação de que os adeptos e cidadãos se sentem traídos.
2. Corrupção e Desporto, construção de integridade para prevenção de abusos: Desde logo, importa definir o que realmente está em causa: •
Diariamente milhares de milhões de pessoas assistem a diversas modalidades desportivas através de diferentes meios locais, nacionais ou internacionais e/ou praticam o seu desporto favorito. Este alto nível de participação e seguidores tem influência na política, economia e cultura dos respetivos países, o que claramente revela a importância do desporto para a identidade nacional, saúde, vida social e igualdade.
•
A indústria do desporto é altamente impactante e é um mercado que movimenta a economia, transformada no espaço de duas décadas por um fluxo de fundos, desde os direitos televisivos, aos patrocinadores e demais investimentos. Estimando o valor único das transmissões premium
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do desporto, estas rondavam aproximadamente os 24 mil milhões de euros em 2014, sendo que ¾ desse valor eram gerados por apenas 10 competições. •
O Comité Olímpico Internacional angariou sensivelmente 5 mil milhões de euros entre 2009-2014 enquanto a FIFA teve um turnover e reservas a rondar os 1,4 mil milhões apenas no ano de 2013.
A influência política e a corrupção subjacente ao desporto, tornam-se cada vez mais evidentes e muitas vezes com um impacto até superior ao real, pela imensa envolvência publica e mediatismo que lhe estão associados. Há, como tal, uma urgência para proteger e promover a integridade do desporto de todos os stakeholders, incluindo atletas, apoiantes e demais indivíduos dentro das organizações desportivas. Enquanto algum progresso tem sido realizado de forma a reconstruir a integridade no desporto, ainda bastante falta ser realizado. Neste sentido, o tal progresso mencionado foi alavancado pela 5º Conferência de Ministros responsáveis pela Educação física e Desporto que apelou à proteção da integridade no mesmo. Fruto do registo favorável demonstrado pela UNESCO, tais indicações tornaram-se parte da Declaração de Berlim, em maio de 2013. Para além disto, a UNODC, “UN Office on Drugs and Crime” publicou em 2013 “A strategy for safeguarding against corruption in major public events”, um documento meramente orientativo e que define em traços gerais alguns mecanismos a adotar perante estas situações. A declaração dos líderes do G20 em São Petersburgo, em 2013, inclui provisões de desenvolvimento de uma aliança global para a integridade no desporto, tendo como principal preocupação eventos de grande dimensão. Ainda em 2013, a Global Compact da União Europeia publicou em dezembro um guia para o combate à corrupção nos patrocínios e hospitalidade nos desportos, salientando medidas que asseguram integridade e visam reduzir os riscos de corrupção.
3. Recomendações da Transparency: Desta forma, e numa projeção mais prática, a T.I. enuncia medidas e recomendações que, segundo a mesma, urgem como práticas necessárias a uma renovação do desporto, e neste caso específico, no futebol: • Abertura plena das organizações à sua forma de operação, o dinheiro que geram e de que forma o investem; • Cidades que recebam grandes eventos, devem questionar de que forma a sociedade civil pode interagir de forma ativa nos mesmos e de que forma desejam que o procedimento seja realizado; • Os grandes eventos devem assegurar as barreiras essenciais para garantia de ética e integridade, respeito pelos direitos dos funcionários e respeito pelo ambiente; • Sponsors que devem garantir e promover integridade e boa governação; 12
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• Governo e Associações intergovernamentais devem exigir a transparência de forma a que não sejam realizados acordos “à porta fechada”, e o público possa ver o investimento a ser devidamente utilizado; O Desporto é também sustentado por uma ideia de autonomia, no entanto muitas entidades e organizações são intituladas de “não governamentais” ou que não visam o lucro, situação que permite que estas sejam geridas e estruturadas sem qualquer tipo de “controlo”, isto é, sem o denominado “effective external oversight”.
4. Soluções: ‘While I have a mandate from the membership of FIFA, I do not feel that I have a mandate from the entire world of football – the fans, the players, the clubs, the people who live, breathe and love football…’ Joseph Blatter, Presidente da FIFA entre 1998 e 2015
Primordialmente, exige-se uma consciencialização desde as organizações desportivas internacionais até às entidades regionais e locais, de que todos devem ter uma responsabilidade pelo Desporto. O atual clima de suspeição em volta da FIFA mostra que uma vez despertada esta problemática, mais serão os adeptos e interessados pelo desporto que se vão debruçar e interessar por tudo o que se passa, tanto dentro como fora de campo. Atacar as raízes da corrupção deve ser o objetivo primeiro de qualquer comunidade desportiva, começando desde logo, com uma consciencialização do problema em si. Deve haver um compromisso sério e respeito pelos verdadeiros valores que têm de imperar numa modalidade como o futebol. Ao mesmo tempo, reformas internas devem ser recetivas a perspetivas externas, incluindo visões e ideias de jogadores, atletas, sponsors, governantes e comunidade em geral. Apresentam-se algumas das soluções identificadas: •
Chefes das organizações desportivas internacionais serem eleitos por um número aberto de membros;
•
Diretores executivos que devem ser eleitos, e não nomeados;
•
O corpo executivo de uma organização desportiva deve ter consigo um membro executivo independente;
•
O balanço de género no corpo executivo deve ser reflexo do género de participação desse mesmo desporto;
•
Promover rotatividade, impedindo que os mesmos diretores possam ser reeleitos num determinado período de tempo;
•
Supervisão da integridade dos corpos das organizações desportivas internacionais a ser gerida centralizadamente e com supervisão externa. Estas supervisões devem ser periodicamente revistas, sendo que estas diligências devem ter em especial atenção, potenciais conflitos de interesse comerciais, bem como atenção a investigações sobre condutas impróprias; 13
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•
Organizações desportivas internacionais que devem ter consigo comités de governação interna, presididos por um diretor não executivo e independente, que forneça e contribua para a supervisão externa contínua das decisões do futebol. Qualquer comité deve ter a possibilidade de rever qualquer atividade da entidade, tanto presente, como passada;
•
Organizações desportivas internacionais que devem estabelecer e criar comités independentes de ética e consultivos, com um poder de supervisão efetivo forte e um poder disciplinar sobre qualquer comportamento contra o comportamento de conduta e ética;
•
Unidades especializadas dentro destas O.D.I. para regularmente monitorizarem as associaçõesmembro e promovam apoio e consulta no que a contabilidade e governação digam respeito.
•
Reformas estruturais dentro das O.D.I;
•
Criação de uma Agência, em consulta com stakeholders relevantes, independente e global de anticorrupção para o desporto.
As Organizações Desportivas devem estabelecer e determinar uma cultura de transparência que exponha não só o bom trabalho já feito, mas também o bom trabalho a ser desenvolvido. Como ideia base, o acesso e partilha de informação como fator crucial: •
Publicação periódica dos gastos e receitas das O.D.I em separado;
•
Organizações desportivas que devem aderir aos pedidos de divulgação das finanças e comunicar adequadamente, tanto aos seus stakeholders internos como ao público em geral;
•
Divulgação das remunerações dos corpos executivos e administrativos das O.D.;
•
Os desembolsos em fundos que são atribuídos a associações desportivas que devem também elas ser divulgadas;
Como tal, fundamental uma parceria entre: as organizações desportivas internacionais, governos, atletas, sponsors, adeptos e sociedade civil.
4.1. Melhores práticas para denúncias eficazes no Desporto: Neste capítulo, pretende-se a enumeração daquelas que são as práticas detetadas pela Transparency International como as mais eficazes, visando denunciar e combater a corrupção, o match fixing e outros comportamentos ilegais e pouco éticos no desporto. A variedade de jogadores envolvidos, as empresas privadas, institutos públicos, instituições sociais, associações amadoras, sociedade civil e adeptos, todos estes “players” dificultam os esforços que se perspetivam como necessários para o combate à corrupção, tanto dentro como fora do campo. As denúncias observam, por isso, desafios numerosos quando o tema é a corrupção no desporto, desafios esses que resultam do facto de o tema propiciar facilmente a retaliação, em especial por oficiais do desporto, organizações criminais e inclusivamente atletas. Medidas devem ser adotadas de forma a promover a denúncia no desporto, através de mecanismos de suporte proativo para denunciantes, que podem proteger e encorajar atletas, staff e outros oficiais a tomarem iniciativa. 14
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Enquanto a corrupção no desporto já data de antigos jogos olímpicos, o ataque a esta conduta, ganha nova atenção fruto de novos escândalos que atingiram algumas das grandes organizações desportivas. Os rendimentos e lucros do desporto, e os privilégios muitas vezes dados às entidades desportivas governamentais, não se traduzem num aumento das proteções e barreiras contra a corrupção. A maioria dos escândalos de corrupção do desporto moderno não originaram investigações internas por parte de equipas, clubes, mas por parte apenas de um reduzido número de indivíduos que reportam tais condutas ilegais. No entanto, “soprar o apito” sobre a corrupção no desporto é diferente de outros setores, pois neste caso em especial, aborda desafios específicos. Notoriamente, a Indústria do Desporto envolve fluxos avultados de receitas, estando a corrupção presente em todos os países e com pouca supervisão. Há um número de boas práticas que garantem que as denúncias são entregues a quem de direito e que aqueles que decidem tomar a iniciativa quanto à mesma, sejam efetivamente protegidos. A título de exemplo, o processo de receber e resolver uma denúncia ou queixa por parte de um funcionário de uma construtora por fraude ou desvio na construção de um estádio deve ser distinto do de um atleta que faz denúncia de match-fixing ou doping. O tipo de transgressão e atores envolvidos têm um impacto grande no modelo de proteção que deve ser oferecido. É importante, para tal, envolver um grupo de stakeholders no desenvolvimento de políticas de denúncia de forma a identificar os riscos que causam nas estruturas organizadoras e restantes redes de fornecimento.
4.1.1.
Acessibilidade e Comunicação Segura:
É crucial que os denunciantes recorram a canais seguros para reportar informação ou para testemunharem contra práticas corruptas. Órgãos colegiais devem estabelecer linhas diretas, caixas de entrada digitais ou escritórios presenciais onde os denunciantes podem fornecer informação, mas também estes passarem a ter conhecimento de como podem vir a ser protegidos. No caso de atletas não profissionais, que muitas vezes não beneficiam de recursos para a remuneração de apoio jurídico, aquando de julgamento ou que possam vir a sofrer eventuais retaliações, deve ser assegurado o aconselhamento por parte dos órgãos colegiais. Com esta ação é garantida a igualdade em processos de defesa e proteção. É também determinante que os denunciantes possam assumir o seu papel sob forma anónima ou protegida, caso temam uma retaliação direta pelas denúncias por eles feitas. Neste sentido, órgãos colegiais devem logo à priori determinar linhas de orientação claras se o denunciante deve inicialmente contactar um reforço para si (law enforcement) de forma a garantir a sua segurança pessoal antes de se deslocar ao órgão colegial. No caso de atletas em específico que decidem tomar iniciativa, é importante monitorizá-los na sua performance, estando atentos inclusive a qualquer retaliação que possa ocorrer dentro de campo, 15
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oferecendo para isso aconselhamento tanto físico como psicológico de forma a contrariar os efeitos que as denúncias feitas por eles lhes possam causar. De forma a obter uma acessibilidade e comunicação segura, o contacto direto e eficaz entre o órgão colegial e as forças policiais é determinante, de maneira a alcançar uma segurança plena para quem realize a denúncia, em especial se esta envolver organizações de foro criminal ou qualquer tipo de crime organizado. Autoridades que se dediquem às denúncias devem ser unidades independentes de variantes políticas. Estas mesmas autoridades devem ser equipadas com recursos e com mandato que as possibilite chegar aos pontos mais profundos das camadas das organizações e de forma a estabelecer pontos de contacto com outros intervenientes. Neste sentido, e de forma a que este corpo de medidas chegue até aos patamares amadoras e não profissionais, importa que as autoridades transmitam toda a informação necessária a um controlo efetivo e seguro, não só a oficiais ou staff e atletas, mas também até aos próprios tutores e/ou responsáveis parentais que encontrem receios e dúvidas nas competições infantis, receios esses sobre condutas das organizações.
4.2. Exemplos de práticas de denúncias eficazes no Desporto: 4.2.1.
Federação de Hóquei no Gelo da República Checa:
Em parceria com a Transparency International, a Federação de Hóquei no Gelo da República Checa, no ano de 2015 criou uma linha direta e um serviço especial digital direto para atletas, staff e órgãos sociais oficiais que entrem em conflito com casos de corrupção dentro das operações da organização. Para isso, a Transparency International Checa promoveu um treino anticorrupção. O acordo entre ambas as entidades, delega na T.I. Checa uma responsabilidade de armazenamento das denúncias que são tratadas, e permite que seja um mediador entre denunciantes e a organização. Neste sentido, a T.I. pode atuar como terceira parte enquanto assistente dos denunciantes no acesso a respostas pelas instituições oficiais. A T.I. Checa encarrega-se de procedimentos de profissionalização e confidencialidade e oferece serviços, tanto em Inglês como em Checo.
4.2.2.
Asian Football Confederation (AFC):
Em 2016, a AFC lançou a política “Do the Right Thing” que promove três variantes de abordagem no ataque à corrupção no desporto e no fortalecimento de sistemas de denúncia internos. Primeira variante, o estabelecimento de um “corpo de controlo de entrada” que resguarda as associações de futebol para envolvimentos diretos ou indiretos em qualquer atividade que sirva para organizar ou influenciar o resultado de um jogo a nível nacional ou internacional e que determina aqueles que são analisados como ilegíveis para participação por uma época desportiva. 16
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A segunda componente do plano, um corpo de integridade independente, isto é, uma autoridade de denúncias encarregue de poder de investigação de potenciais casos de match-fixing e crimes no desporto. Desde a sua conceção, uma plataforma digital direta foi criada e pode ser usada em contacto pleno com a IHI, Institute for Healthcare Improvement. A terceira componente desta política, uma revisão completa do procedimento de denúncia com órgãos sociais de forma a garantir um posicionamento forte da IHI na receção de queixas de denúncias e divulgações e também de forma a garantir apoio legal e guiar os denunciantes que decidam avançar com a denúncia. Este procedimento inclui o modus operandi para a intervenção de forças oficiais legais bem como possibilidade de revisões e auditorias do programa de forma a garantir que o trabalho continua a ser realizado da forma mais eficaz.
4.2.3.
DFL – Liga de Futebol Alemã – “Staying on Side”:
Tendo início em 2012, a T.I. Alemã começou o seu estreito trabalho com a Liga Alemã de futebol “Bundesliga” para se endereçar ao problema do match-fixing nesta modalidade. O programa, denominado de “Staying on Side”, promove treino sobre match-fixing a oficiais, jovens atletas e staff de treinadores associados à Liga. Progressivamente, sessões de treino direcionadas a assuntos como corrupção ou integridade e Fair-Play no futebol, o papel dos Patrocinadores neste contexto, a sustentabilidade necessária no desporto e logicamente, a atividade de denúncia como atividade em prol da dignidade e integridade da modalidade. Como resultado direto desta parceria, a nomeação de um “oficial do governo para o match-fixing” em 2013 para a Liga Alemã e para a Federação Alemã de Futebol. Este oficial do governo tem uma dupla tarefa com ambas organizações: primeiro, garantir que estas promovam educação e treino para atletas, treinadores e staff e posteriormente para todo o staff tanto da Liga como da Federação. Neste sentido, o próprio oficial do governo, por exemplo, lançou uma campanha intitulada de “Tackle Match-fixing – Play Fair” que promove a entrega de materiais como folhetos e divulga plataformas digitais para jogadores jovens no sentido de os apoiar e para que entendam desde cedo o problema do matchfixing e como o podem contrariar. Como papel secundário ao oficial, apoio aos denunciantes através de suporte legal e conselho, com permanente diálogo com as devidas autoridades de forma a que identifiquem também comportamentos não éticos. O programa foi expandido numa parceria com a EPFL, a Associação Europeia de Ligas de Futebol, que inclui a participação de representantes da Grécia, Alemanha, Portugal, Itália e Reino Unido.
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4.2.4.
Roménia: Adaptação do desporto à legislação sobre as denúncias no futebol:
Em 2004, a Roménia tornou-se um dos primeiros países na União Europeia a estabelecer legislação para proteção de denúncias. De forma a adaptar as linhas definidas pela lei, a Federação Romena de Futebol desenvolveu uma plataforma de atuação em várias áreas denominada de “Clean Football”, que permite que staff, atletas e oficiais possam participar as suas denuncias através de canais institucionais e de acordo com a lei. Uma prática meritória elaborada pela Federação foi a inclusão de uma variedade de atores externos que promovem, ouvem e avaliam a plataforma. Atores de outros órgãos colegiais, como a UEFA, até a uma empresa privada denominada de Sport Integrity Monitor e inclusive de um projeto sem fins lucrativos, a “whistlebowing for harmful Irregularities in Sport through Learning and Education”, que foi financiada pela Erasmus Plus Sport.
5. Competições Desportivas e o Match-Fixing: A manipulação das competições desportivas é um problema sério em vários desportos e a vários níveis, encontrando-se relacionado com a manipulação de eventos em jogos e manipulação de resultados finais de forma a garantir maiores lucros. O recente aumento do match-fixing é primeiramente relacionado com o aumento cada vez mais exponencial das apostas online à escala global e abrange todos os desportos. Atletas, oficiais, e outros profissionais são alguns dos meios pelo qual o match-fixing ocorre. Determinados indivíduos podem aproveitar-se da posição e estatuto destes tendo em vista benefícios para si, e usualmente sob forma de coação. Por exemplo, em 2012 a união de jogadores de Futebol (FIFPro) publicou uma análise realizada na Europa de Leste sobre até que ponto os jogadores se encontram vulneráveis, particularmente em Ligas onde os salários não são pagos prontamente e a horas, e onde organizações criminais monitorizam jogadores.
5.1. Medidas a adotar contra o match-fixing: A Transparency International destaca as medidas que considera adequadas para o combate ao MatchFixing: • Os Estados que devem ratificar a Convenção do Conselho da Europa contra a Manipulação das Competições Desportivas, obrigando os Estados a investigarem e sancionarem todo o match-fixing que exista, inclusive através de cooperação transfronteiriça quando seja necessário, e colaboração para a prevenção, incluindo uma contínua educação e sensibilização sobre a matéria. Um claro objetivo de cooperação em rede; • Criação de sistemas de denúncia independentes, confidenciais e seguros; • Os Governos devem proibir, de forma mais incisiva, os atletas de apostar nas suas modalidades; • Plataformas de apostas devem denunciar às autoridades qualquer tipo de atividade suspeita; 18
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• Toda as pessoas envolvidas na modalidade têm de ter conhecimento e detetar um eventual match-fixing antes de qualquer tipo de manipulação que se pretenda realizar.
6. O Papel dos Patrocinadores: Até aos dias de hoje não se estabelecia uma relação direta entre a corrupção no Desporto e a sua relação com sponsors. Contudo, esta situação começa a alterar-se. Em 2013 a United Nations Global Compact lançou as linhas de guia e orientação para os patrocínios e hospitalidade e entretenimento, que salienta a corrupção como inata nestas atividades. Os riscos incluem o uso fraudulento e corrupto no alcance a sponsors, o potencial conflito de interesses e o uso de bilhetes de eventos para influenciar decisões empresariais. Mas os riscos também incidem no potencial dano financeiro e na reputação que assiste a um sponsor quando a modalidade em causa começa a ser alvo de denúncias e os jogadores desse desporto a comportarem-se de forma pouco ética. Os sponsors precisam de ter consciencialização dos riscos e usarem a sua influência e poder financeiro de forma diferente para que detenham um papel ativo na devolução da integridade no desporto. Começam a tornar-se evidentes alguns sinais de mudança, a partir do momento que se tem conhecimento de notícias e denúncias de fraude nas eleições para o Mundial de 2022, no Qatar. Perante esta situação os sponsors reuniram-se com a própria FIFA para se debaterem sobre estas matérias.
7. Eventos de grande escala: Licitação e Hospedagem: Importa mencionar que os grandes eventos desportivos internacionais produzem já por si grandes riscos de corrupção entre outros abusos. Estes factos ocorrem em específico em processos de licitação de forma a assegurar eventos e de forma a tentarem inclusive assegurar os eventos a tempo. A notoriedade de factos deste género atingiu eventos como Jogos Olímpicos em 2008, em 2014 e 2016; os jogos da Commonwealth em Nova Deli em 2010, Mundiais desde 2010 até 2022. Estes distintos eventos sofreram alegados casos de corrupção, violação dos direitos humanos, falhas nos standards internacionais de trabalho, problemas ambientais entre outros. O processo de licitação em eventos de grande escala implica grandes quantias de dinheiro para os países e cidades interessadas em recebê-los, pois têm de submeter todo um plano detalhado, desde as despesas que o evento implicará, onde será recebido e examinação dos votos dos decisores. Estas avaliações originam problemas. O Comité Olímpico Internacional foi acusado de suborno no seguimento da premiação de Salt Lake City em 2002 para os Jogos Olímpicos de Inverno. A controversa atribuição dos mundiais de 2018 e 2022 foi acompanhada de alegações de compra de votos e manipulações. A FIFA suspendeu dois membros da sua comissão executiva antes da tomada de voto e prontamente começou uma investigação. O que acontece nestes casos é que uma vez ganha uma licitação, a cidade ou país encontra-se logo à priori sob grande pressão de forma a fornecer toda a infraestrutura e logística no prazo determinado para receção do evento. Todas estas exigências, combinadas com grandes investimentos financeiros, criam 19
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uma situação na qual a corrupção se torna um caminho propício a desenvolver (a se propagar). No caso da Índia, aquela que devia ser uma fonte de orgulho nacional acabou por ser desacreditada quando os oficiais do Comité de Organização do evento foram detidos por denúncias de corrupção dias antes dos jogos se iniciarem, em 2010, Na Rússia, os custos dos Jogos Olímpicos em Sochi atingiram um valor de despesa de aproximadamente 51 mil milhões de euros e este valor encontra-se atualmente sob escrutínio de eventual corrupção. No Brasil, os custos de receção de um Mundial e os alegados escândalos de corrupção, além das más condições disponibilizadas? aos trabalhadores e custo de vida elevado, contribuíram para uma extensão em massa de protesto.
Fabio Quagliarella- O Impacto de uma perseguição na performance desportiva
Neste capítulo, pretendo explorar um caso verídico com o objetivo de elucidar o impacto de um “stalker” na vida pessoal e profissional do atual jogador da equipa Sampdória, Fabio Quagliarella, que só recentemente se debruçou sobre tudo o que aconteceu, já depois da resolução do caso. Durante cerca de 5 anos, o jogador resistiu a um período de constante angústia e medo de um stalker que não só o aterrorizou a ele, como à sua família, tendo inclusivamente conseguido que Fabio fosse alvo de severas críticas pelos adeptos da sua então equipa, o Nápoles, por culpa da sua performance desportiva e falta de rendimento. Anos mais tarde exibiram uma bandeira com uma mensagem de perdão, que traduzida em português, significava: “Viveste no Inferno com enorme dignidade. Abraçamos-te de novo, Fabio, filho desta cidade”. Tudo começou a partir do momento em que o jogador se transferiu para o Nápoles, clube da sua terra natal, em 2009. Inesperadamente, o jogador inicialmente começou a ter problemas com a password do seu portátil. Na altura, um colega seu, Raffaelle Piccolo resolveu a situação. Não obstante, Quagliarella começou a receber sucessivas mensagens de carácter suspeito à sua família e a si, desde menção a de que o jogador se encontraria envolvido em escândalos de pedofilia, envolvido no crime organizado, de que se drogava, consumia substâncias ilícitas ou de que o jogador se envolvia em match-fixing, entre outros cenários possíveis. Uma vez que Piccolo exercia um cargo importante no departamento de investigação da Polícia, encarregou-se do assunto, disponibilizando-se para ajudar Quagliarella, que lhe dizia sucessivamente que a investigação se encontrava quase concluída, que seria apenas necessário mais tempo, pedindo inclusive a Fabio para que não mencionasse o sucedido a terceiros, sob risco de comprometer todo o processo. Devido a toda esta envolvência e clima de instabilidade recorrente, o jogador teve de abandonar a equipa, contra a sua própria decisão, pois Quagliarella mencionou recentemente que pretendia ter permanecido em Nápoles e possivelmente tornar-se capitão da equipa, assegurando até que caso não tivesse ocorrido este problema, ainda hoje jogaria em Nápoles.
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Como tal, sempre que regressava à sua terra natal, Fabio tinha de se esconder da multidão, e de forma a evitar qualquer tipo de confronto, pois os adeptos viam o atleta como um traidor da equipa e da cidade. Fruto da situação, o pai do Quagliarella começou a suspeitar de Piccolo, e quando o atleta novamente se deslocou à Polícia, verificou que nenhuma das suas queixas tinham dado entrada nos registos, visto que todas estavam com Piccolo. O “pesadelo” de Quagliarella terminou apenas em 2017, com a condenação de Raffaelle Piccolo a quatro anos e três meses de prisão, pelos crimes de chantagem e extorsão. Face ao sucedido, o jogador valorizou o trabalho da justiça por assegurar que a verdade seria conhecida. Menciona Quagliarella que ninguém conseguirá devolver quase nove anos da sua carreira enquanto jogador, nem reparar os danos psicológicos causados à sua família. A bandeira exibida em 2017, pelos adeptos do Nápoles, significou bastante para o Quagliarella, que definiu o momento como o reconciliar do atleta com os adeptos da sua cidade.
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A Corrupção no futebol português
1. Introdução: “Surpreendeu-me a dimensão da corrupção em Portugal” Joana Marques Vidal, antiga Procuradora-Geral da República
Seria por demais essencial, por culpa do debate que proponho no projeto, enquadrar os grandes fenómenos que ocorrem em Portugal, após uma análise no capítulo anterior onde a abrangência foi a uma escala internacional. A corrupção atingiu níveis exorbitantes, fenómeno esse que é alvo de investigação e debate nos grandes panoramas da sociedade, em especial no plano da Política, contexto de onde retiro o excerto da antiga Procuradora-Geral da República, e que reflete bem o cenário atual do País. Como tal, o Desporto em Portugal e o Futebol em particular, não consegue escapar a esta realidade.
2. Fenómeno da Corrupção em Geral – Autores e Obras: Conforme mencionado anteriormente, a corrupção não atinge apenas o futebol. Importa sublinhar a existência da Corrupção, e que ocorre não apenas em classes inferiores e com menores rendimentos, mas também em altos quadros da sociedade, os chamados “white-collar crimes”, isto é, “um crime cometido por uma pessoa de elevado estatuto económico-social no exercício da sua atividade profissional” (Andrade, 1999: 12). Como exemplos mais recorrentes neste perfil de corrupção, os casos mais paradigmáticos revelam-se essencialmente em áreas como as da corrupção financeira ou subornos. As mudanças políticas e sociológicas que marcaram o final do século XX foram também acompanhadas por uma grande permeabilidade para o fenómeno corrupto se dilacerar pelas democracias europeias. A obra de Della Porta e Meny (1995) evidencia este contexto, segundo uma ótica económica e de comparação, enumerando e destacando os principais envolventes, bem como instrumentos utilizados, entre outras matérias elucidativas. Importa destacar também os trabalhos realizados com vista a um enquadramento destas matérias, no contexto da sociedade portuguesa, através de autores como Morgado e Vegar (2007), Santos (2006, 2009) e Sousa (2011). Da obra, “Corrupção e os portugueses: Atitudes, práticas, e valores”, de Sousa e Triães (2008) consta um estudo que serve de análise ao fenómeno da Corrupção na perceção dos portugueses.
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Neste sentido, os portugueses referem o “combate à Corrupção” como um tema prioritário para o país, estando em quarto lugar com 12,7%, apenas atrás do combate ao desemprego, à saúde e ao crescimento económico. De igual importância, neste estudo, na apreciação dos portugueses, é a área que constitui o principal “locus” da corrupção em Portugal, que é o futebol, apontada por 24% dos inquiridos, permitindo ir de encontro aos resultados obtidos no estudo levado a cabo por Santos (2009), onde foi possível observar que 28,9% dos inquiridos consideravam os “Dirigentes Desportivos” como a classe onde existia mais corrupção, ficando apenas atrás da “Classe Política” (68,4%) e dos “Autarcas” (29,4%). Wolfgang Maennig, na obra ““On the economics of doping and corruption in international sports”, (2002) o autor expõe alguns temas como a corrupção e o doping, em contexto de Jogos Olímpicos, salientando que ambos os problemas têm um elevado grau de decisão económica. W. Maennig propõe algumas medidas económicas de combate à corrupção no sector desportivo, defendendo que este fenómeno pode ser atenuado se o processo de seleção das cidades-sede para os jogos olímpicos for mais claro, e se for possível a diminuição das receitas da seleção de um país como país-sede, aumentando e promovendo o incentivo para um comportamento mais transparente e livre de interesses desleais. Em 2005, o mesmo autor, na obra “Corruption in International Sports and Sport Management: Forms, Tendencies, Extent and Countermeasures”, enuncia duas categorias claras de corrupção: a primeira enquanto adulteração de resultados, e a segunda como adulteração de decisões de órgãos desportivos em decisões. Segundo Luís Sousa, em “Corrupção” (2011), três processos de troca podem ser identificados como mais comuns, sendo o primeiro a simples corrupção que envolve um agente ativo e um agente passivo; um segundo processo onde há uma mediação feita por um terceiro, denominado de mediador, que surge como um facilitador da “troca” na negociação entre os agentes; e por fim, a corrupção complexa que envolve uma multiplicidade de agentes e de níveis, bem como de capital. Em Portugal, salientar que a corrupção se manifesta, essencialmente das seguintes formas: no setor público, através de decisões públicas, distribuição de recursos, adjudicação de serviços ou celebração de contratos vantajosos para certas entidades (Sousa 2011, Morgado e Vegar, 2007), mesmo que colidam com interesse do Estado. Neste sentido, a corrupção permite a supremacia de interesses privados sobre interesse público, compromete as bases de um Estado de Direito, negando os princípios da igualdade e da transparência e permitindo o acesso privilegiado e sigiloso a determinados agentes a receitas e fundos públicos (Della Porta e Mény, 1995:14). Importa, também, entender por que motivos a Corrupção se torna passível de ser exercida, isto é, as “estruturas de oportunidade”, que permitem que o fenómeno se propague. As causas estruturais (Sousa 2011), são as relacionadas “com os níveis de desenvolvimento, os seus processos de modernização, com a cultura cívica dominante, e com a qualidade das suas instituições”. Salientar, por isso, a “deficiente informatização, funcionamento, e controlo do setor estatal, anormalmente vulnerável a práticas corruptas” (Morgado e Vegar, 2007:75), bem como o controlo sobre os funcionários, a burocracia existente no aparelho estatal bem como o desejo incessante de enriquecimento ilícito. 23
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Importa por isso enquadrar o Desporto neste contexto. De facto, o Desporto define-se claramente como um setor onde se envolvem vários interesses económicos, enquadrando-se numa posição de vulnerabilidade constante a comportamentos ilícitos e corruptos. Em “A corrupção no fenómeno desportivo: Uma análise crítica”, de Sampaio (2011) sublinhe-se quando o autor refere que os “valores inerentes à prática desportiva assumiram tal importância na organização do Estado, que passaram a deter características de verdadeiros valores e interesses públicos, não apenas pela importância que assumem para os cidadãos que o integram, como também pelo que representam para a organização do próprio Estado”. O Desporto, fruto de mobilizar constantemente e a uma grande escala paixões, sustenta-se numa massa adepta exorbitante que vibra com a sua imprevisibilidade de resultados. Como tal, a viciação e adulteração de resultados de uma competição atingem tudo o que são interesses dos espectadores e intervenientes e de uma forma direta toda a veracidade e integridade da modalidade, dos seus resultados, e repercussões que daí advêm. Quer se trate do campo meramente desportivo, pelos resultados da equipa, ou de repercussões económicas e financeiras, como por exemplo a descida ou subida de uma equipa de um campeonato profissional, fruto de um jogo viciado.
3. A Evolução do Fenómeno: A corrupção no Futebol Português tem vindo a apresentar um constante desenvolvimento no que diz respeito ao seu modus operandi, observando-se uma crescente sofisticação no mesmo. Pode se retirar, após uma análise cuidada, que 95% dos casos de corrupção ou de tentativa, foram através de pelo menos um agente desportivo no lado ativo, e pelo menos um árbitro no lado passivo, visto que o árbitro é dos únicos, senão o único agente utilizado para influenciar o resultado desportivo. Na grande maioria das vezes, este procedimento ocorre com recurso a artefactos em ouro. O grande objetivo nestes casos prende-se com o alcance de um resultado desportivo favorável. No que diz respeito às tendências da corrupção em Portugal, os jogos da atual Ledman Liga Pro foram, em 90% dos casos, alvo de tentativa de corrupção, reflexo da realidade em causa e do ponto de situação que exige uma reflexão forte e adoção de medidas tendo em vista, pelo menos como ponto de partida, um atenuar destes números, de forma a retomar os valores que segundo Vítor Serpa, em “História do Futebol em Portugal”, se prendem com “rigor, fair-play e integridade”. Segundo o mesmo autor, “a lei, no jogo da bola, fez precisamente desse jogo o futebol. E é nessa noção de rigor, de critério, de disciplina, de ação regrada, que condiciona a utopia do jogo, que delimita o movimento, que controla a emoção do sucesso e do desaire, que segura a ambição e a natureza primária do poder de conquista individual do mais forte, abrindo caminhos de sucesso aos mais hábeis, aos mais velozes, aos mais inteligente, aos mais coletivos (à equipa), que faz nascer o futebol e lhe dá a oportunidade de vir a transformar-se num dos mais importantes fenómenos sociais do século XX”. O Futebol enquanto indústria moderna visa por isso, potenciar ao máximo todo o seu produto, permitindo espaço a disputas financeiras, e que como tal, incita a práticas ilegais e abusivas. 24
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Segundo Baer-Hoffman (2013), Hill (2016), Poli (2016) e TI (2009, 2011, 2013), os conflitos institucionais, o mercado de transferências, a manipulação de resultados, as apostas desportivas e o crime organizado são os maiores riscos para o Futebol.
4. O Impacto da Indústria do Futebol: A corrupção desportiva enquadra-se como infração disciplinar, à luz do Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol (R.D.F.P.F), legislação essa que regulamenta e organiza os comportamentos suscetíveis de comprometer valores como a verdade, ou lealdade, a correção da competição desportiva e o seu consequente resultado. Em sintonia com o preceituado previamente, não só este comportamento deve ser enquadrado como processo crime, mas também como processo disciplinar, segundo o 3º do artigo 221º do R.D.F.P.F., e, como tal, findo o processo disciplinar, as deliberações da F.P.F. são impugnáveis, nos termos gerais do Direito, independente das instâncias da própria Federação, sendo exceção todas as deliberações que se incidam em questões desportivas, dos quais não cabe qualquer tipo de recurso fora das instâncias competentes (Meirim, 2001). Atualmente, e segundo Magalhães (2004), o futebol encontra-se atualmente num período denominado de “Idade da Maturidade”, onde subsiste e se impõe o poder económico, pelos avultados investimentos das equipas e inclusive no próprio jogo, de onde emerge, segundo Cédric Duvinage (2012), “uma clara comercialização do futebol”. Daqui resulta inclusive que o próprio desporto que aqui se discute, acaba em certos casos, por ter um valor superior ao próprio PIB de alguns países, fruto em especial de perspetivas de crescimento anual deste setor de que possa atingir 8%. Importa acrescentar os números revelados pela Deloitte, que salientam o impacto da indústria do Desporto no PIB mundial em 3%, sendo o Futebol como a décima sétima economia mundial, constituindo-se como 0,4% a 1% do PIB Mundial. Assim, e como resultado dos interesses distintos dos mais variadíssimos stakeholders, numa modalidade onde existe poder, dinheiro e competição, a corrupção surge como uma ameaça tremenda e real. Para tal, é necessária uma proteção forte.
5. Contextos de Risco: Importa mencionar, em primeira medida, a já mencionada escassa supervisão de distribuição de fundos das organizações desportivas, a pouca transparência nas atividades destas entidades, permitindo consequentemente, um contexto bastante acessível a práticas corruptas. Neste campo, sublinhe-se o mencionado no capítulo referente à T.I. onde são referidas as principais áreas de atuação da Corrupção no Desporto e no Futebol em particular, desde a alocação de grandes eventos desportivos, aos subornos e viciação de resultados, ou o crime organizado, que se encontra na compra de jogadores, treinadores, clubes, direitos de imagem ou patrocínios, tendo em vista o branqueamento de capitais que resultam dessas atividades criminosas. 25
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Neste sentido, relevo seja feito ao contexto do mercado de transferências, como janela extremamente apetecível para a ocorrência de abusos dentro do futebol. Atualmente, o mercado de transferências envolve diversos stakeholders, visto que os jogadores pretendem aceitar a proposta mais aliciante para o seu percurso desportivo e financeiro. O clube, que visa adquirir um ativo para o poder rentabilizar durante um certo período e vir a obter maiores receitas com esse jogador, e os empresários, que funcionam como mediadores nestes processos, com a sua quota parte de interesse aqui inevitavelmente. Dentro deste cenário, devemos ver a corrupção como um “facilitador” nos processos de forma a que todos saiam a ganhar na transferência, onde o papel do agente nem sempre se resume apenas a servir de auxílio legal ao seu cliente/jogador, visto que muitas vezes o agente acaba por exercer fortes pressões ao seu jogador de maneira a que este aceite a proposta que mais favoreça o próprio intermediário e não o jogador, sendo obviamente estas pressões comportamentos abusivos, podendo inclusive serem comportamentos de assédio moral. De facto, e de acordo com a FIFA Transfer Market System, as comissões para empresários na época 2013/14 perfaziam cerca de 5% do valor total do mercado. O Transfer Market System acaba por conseguir controlar grande parte das comissões, no entanto, prevêse que a grande maioria seja realizada de forma dissimulada, ludibriando o sistema, havendo para tal, contrapartidas não divulgadas e não controláveis pelas entidades competentes.
6. Trajetórias da Corrupção no Futebol Português: 6.1. O caso Calabote: À data de 1959, observa-se o primeiro registo de corrupção no futebol português, mesmo que num período sem qualquer tipo de legislação sobre a matéria em causa. A 22 de março de 1959, Futebol Clube do Porto e Sport Lisboa e Benfica disputavam entre si o título de campeão nacional, sendo que, antes desta jornada, o clube do Norte encontrava-se em primeiro com mais quatro golos de diferença sobre o rival de Lisboa. Inocêncio Calabote, árbitro do jogo entre Sport Lisboa e Benfica e CUF, assinalou três penalidades a favor do Benfica tendo inclusive expulso três jogadores do CUF, e alargado o período de compensação do jogo. Esta partida terminou com um resultado de 7-1, mesmo assim insuficiente fruto da vitória por 3-0 do Porto ao Torreense. O árbitro Inocêncio Calabote foi acusado posteriormente de deturpar o relatório do jogo, mais em específico nas horas de início e término da partida, através de um inquérito federativo. Fruto do sucedido, o mesmo foi acusado de corrupção, e consequentemente irradiado do futebol português, tendo sido o primeiro árbitro a receber tal sanção através de uma decisão federativa.
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6.2. Caso PenafielGate: Data de 10 de novembro de 1990, o árbitro Francisco Silva, iria arbitrar o jogo entre Penafiel e Belenenses. Lourenço Pinto, à data Presidente do Conselho de Arbitragem da F.P.F, surpreendeu o árbitro com uma gravação em como este teria recebido um cheque do na altura Presidente do Penafiel, de 2000 euros. Esta gravação daria, como é obvio, Francisco Silva como culpado, pois comprovaria a solicitação do árbitro ao Presidente da referida quantia. O mesmo árbitro foi alvo de um processo disciplinar pela Federação Portuguesa de Futebol, vindo a ser acusado de extorsão ao presidente do Penafiel, na altura Manuel Rocha. Findo o processo, a F.P.F fez queixa no tribunal cível, tendo esta sido arquivada, por falta de provas.
6.3. Apito Dourado: O Apito Dourado destaca-se pelo caso de maior mediatismo no futebol português até à data. Inicialmente abordado num plano de corrupção desportiva, que mais tarde se alastrou para a existência de matéria criminais em contexto económico-financeiro, de onde se verificou um estreitamento entre o poder político e o futebol. O caso surgiu por denúncia de um árbitro desportivo, ao Conselho Disciplinar da Liga. A mesma foi remetida ao DIAP, no Porto, e mais tarde, expedida, para o tribunal de Gondomar. Inicialmente tendo em vista jogos do Gondomar SC, rapidamente as chamadas telefónicas envolveram altas entidades da modalidade e alastrou-se o caso para um plano nacional. Consequentemente, foram abertos processos conexos no caso A.D. Verificou-se o benefício a árbitros nas classificações, que colaborassem com o “sistema”, e viciação de resultados. As conclusões destes casos são difíceis de clarificar e simplificar, dada a complexidade do caso, no entanto até à data, observaram-se 8 condenações, 4 por corrupção passiva, 3 por ativa, e 1 por cumulação entre ativa e passiva.
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Solução - Comissão de Ética 1. Introdução e Fundamento: O ponto de partida da minha ideia alicerça-se em diversos testemunhos recolhidos recentemente, por profissionais e ex-profissionais do futebol. Em 2019, a exigência de um “abanão” na sociedade civil em questões de transparência e ética, é premente, em especial, num setor da sociedade tão mediático e onde as suas disfunções nos são divulgadas diariamente. Como tal, o ponto de revitalização desta indústria, a meu ver, começaria com a criação de uma Comissão de Ética, enquanto órgão colegial, independente e multidisciplinar. Prontamente explicarei as grandes bases e estrutura do órgão, que considero crucial para um retomar de um diálogo indispensável, e de uma estratégia consertada que permita uma envolvência de todos os stakeholders do futebol. A exigência avista-se como grande, no entanto, a dimensão da ideia reflete-se a meu ver na dimensão do problema que assola o futebol português, na falta de reputação do mesmo, e consequente insustentabilidade e valor financeiro. A reputação do Futebol Português deve ser, desde o primeiro dia, um dos objetivos mais importantes para a Comissão, pois, “Como alicerce mais exposto e menos defendido por todos os stakeholders está a reputação”, sendo que a mesma se pode definir como “ativo intangível que influencia os resultados do FUTEBOL e como tal contribui para a sua diferenciação e para a construção da sua sustentabilidade e valor financeiro” (Pedro Tavares, Indústria do Futebol). Neste sentido, idealizo e projeto a Comissão de Ética, primeiramente definindo-a, e a sua natureza, para posteriormente dar lugar a uma exposição da sua estrutura e funcionamento, tendo por base, o DecretoLei 80/2018 de 15 de Outubro, que organiza e regula “a composição, constituição, competências, e funcionamento das comissões de ética que funcionam integradas em instituições de saúde dos setores público, privado e social, assim como em instituições de ensino superior que realizem investigação clínica e centros de investigação biomédica que desenvolvam investigação clínica”. Concluir a minha introdução mencionando que toda a estrutura da “Solução – Comissão de Ética” se recalca, em certa medida, da própria estrutura do Decreto-lei, não obstante as nuances que lhe são exigidas, fruto da distinta matéria em análise.
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2. O que é uma Comissão de Ética – A sua Natureza: Comissão de ética para o Decreto-Lei mencionado previamente, define-se como um órgão dotado de independência técnica e científica, com uma natureza consultiva. O decreto-lei permite a criação de Comissões de Ética, segundo menciona o artigo 1º, “integradas em instituições de saúde dos setores público, privado e social, assim como em instituições de ensino superior que realizem investigação clínica e centros de investigação biomédica que desenvolvam investigação clínica”. Com certeza que o grande enfoque da Comissão de Ética que proponho, debruçar-se-ia sobre todos os temas e questões no Futebol Português, incidindo-se sobre questões de Ética nesta área, através de reflexões e análises. Consequentemente, a Comissão teria como missão um contributo importante na observância dos princípios de ética desportiva na atividade das variadíssimas instituições que compõem o futebol português, na realização de debate, investigação e deteção do incumprimento daqueles que são os princípios éticos da dignidade humana enquanto garantes do exercício dos direitos fundamentais, inclusive da integridade, confiança e segurança no cumprimento de procedimentos. Como premissa base da Comissão, em sintonia com a revitalização da reputação do futebol português, compete à mesma a proteção da modalidade e consequente valorização.
3. Exemplos de Comissões de Ética: 3.1. Universidade do Porto: Comissão com origem numa iniciativa do Senado Universitário. A mesma é organizada em subcomissões, das quais, Ciências da Vida, Ciências Sociais e Humanas, Tecnologia, e, por fim, Artes. A periodicidade de reunião da Comissão é mensal. Caracteriza-se, com certeza, como órgão colegial, multidisciplinar e independente (características que revejo na Comissão de Ética que idealizo para o meu projeto). Como competências, destacam-se a observância e fomento da ética na U.P., o apoio às subcomissões, a análise de questões éticas, tanto por iniciativa da Comissão como a pedido dos Órgãos de Governo da U. Porto. Da Comissão resultam documentos, pareceres e recomendações, que são facilmente acedidos e divulgados na plataforma universitária SIGARRA.
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3.2. Águas de Portugal: A Comissão de Ética do Grupo AdP, enquanto órgão independente, nomeado pelo Conselho de Administração, foi criado em 2008, e tem como grande objetivo a garantia de um sistema onde haja um controlo interno efetivo, visando o cumprimento do Código de Conduta e Ética, análise de questões que lhe sejam pedidas, bem como propor ações de melhoria ao Conselho de Administração da AdP SGPS. Tanto o plano de gestão de riscos e Corrupção e infrações conexas, bem como o Código de Conduta e Ética do Grupo AdP encontra-se disponível, via online, no website respetivo do Grupo AdP.
3.3. Universidade do Minho: Antes de mais, salientar que, enquanto Instituição de Ensino Superior, a componente “Ética” encontra grande enfoque, a partir do momento em que nesta existe uma Comissão de Ética, com subsequentes subcomissões de Ética, um Código de Ética e Conduta, e por fim, um relatório de atividades. Analisando a Comissão de Ética propriamente dita, criada por despacho RT-51/2011, de 7 de setembro, não difere das restantes mencionadas nos pontos anteriores. Destaque para a necessidade de promoção de uma reflexão e contributo para aquelas que são as orientações que visam uma política de salvaguarda as diretrizes éticas e deontológicas, nas mais variadas áreas, como investigação científica, ensino, interação com a comunidade e inclusive o próprio funcionamento geral da Universidade. Tal como nas prévias Comissões de Ética, insurge-se sobre esta a criação de pareceres, recomendação e propostas que se incidam em questões éticas, fraude académica, o plágio ou direitos de autor, a proteção de dados, a aplicação dos também já mencionados códigos, inclusive códigos deontológicos profissionais, e inclusive aplicação de diretrizes e declarações que se incidam em questões de ética ou bioética.
4. Competências da Comissão de Ética no Futebol Português: O Decreto-lei mencionado previamente, no que diz respeito à matéria sobre o qual se debruça, elabora um elenco exaustivo sobre as competências da Comissão de Ética, no artigo 3º, que passarei desde logo a enumerar, tendo em vista a apreensão de noções sobre as efetivas competências da mesma, primeiramente, enquanto competências gerais: •
“Zelar, no âmbito do funcionamento da respetiva instituição, pela observância de padrões de ética, salvaguardando o princípio da dignidade e integridade da pessoa humana;
•
Emitir pareceres, relatórios, recomendações e outros documentos, por sua iniciativa ou por solicitação, sobre questões éticas relacionadas com as atividades da respetiva instituição, e divulgar os que considere particularmente relevantes na área da comissão ética no site da instituição;
•
Elaborar documentos de reflexão sobre questões de bioética de âmbito geral, designadamente com interesse direto no âmbito da atividade da instituição, e divulgá-los na área da comissão de ética no site da instituição, promovendo uma cultura de formação e de pedagogia na esfera da sua ação, incluindo a divulgação dos princípios gerais da bioética na respetiva instituição; 30
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•
Colaborar, a nível regional, nacional e internacional, com outras entidades relevantes no âmbito da ética e bioética, tendo em vista a partilha de melhores práticas;
•
Promover ações de formação sobre assuntos relacionados com a ética e bioética na respetiva instituição;
•
Pronunciar -se sobre a elaboração de documentos institucionais que tenham implicações no domínio da ética”.
Posteriormente, o diploma debruça-se sobre as competências específicas da Comissão, diferenciando as componentes que a Comissão detém, fruto das matérias distintas de que são alvo. Com certeza que, e num sentido de adaptação à Comissão de Ética no futebol português, as competências da Comissão plasmadas no diploma podem ser um modelo de referência, com certeza, no entanto, vocacionadas mais propriamente às matérias em estudo no projeto, através neste caso, da promoção dos padrões éticos em todas as áreas consideradas relevantes atualmente no futebol, o acompanhamento de processos sobre os quais incidam tais matérias, a idealização e elaboração de projetos que se identifiquem como imprescindíveis para o restaurar dos valores éticos no Futebol. Identifico, de seguida, algumas das competências específicas que consideraria imprescindíveis na Comissão de Ética, sendo um elenco aberto, suscetível de retificações e/ou novas competências: •
Promoção dos padrões éticos em todas as áreas consideradas relevantes atualmente no futebol;
•
Acompanhamento de processos sobre os quais se incidam matérias de carácter ético e de credibilidade;
•
Idealização e elaboração de projetos que se identifiquem como imprescindíveis para o restaurar dos valores éticos no Futebol (como seria a criação de um Código de Ética);
•
Promoção de mecanismos de combate ao match-fixing, através de um suporte proativo de combate, acessível e de comunicação segura, através de um canal rápido e efetivo com as forças policiais;
•
Promoção de educação e treino, no combate à corrupção, nas diversas organizações desportivas, desde federações, associações e clubes de futebol;
•
Identificação regular de casos de match-fixing, corrupção, má governação ou lavagem de dinheiro na realidade do futebol português;
•
Divulgação de recomendações, pareceres e relatórios sobre questões-chave e que sejam essenciais a que a sociedade tenha acessibilidade de forma a que o conhecimento seja possível de ser transmitido, não só aos profissionais da modalidade;
•
Realização de cursos, conferências e workshops em matérias consideradas de relevo para a ética desportiva;
•
Preocupação com pedagogia e formação, em especial nas camadas jovens;
•
Clareza de intenções e compromissos.
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5. Pedido de Pareceres, Informações e Recomendações: Cita o artigo 5º do Decreto-Lei com a epígrafe que serve de título a este ponto: “1 — Podem solicitar às comissões de ética a emissão de pareceres, relatórios, recomendações e outros documentos: a) O órgão máximo ou as direções intermédias da instituição; b) Qualquer profissional da respetiva instituição; c) Qualquer investigador que pretenda realizar estudos de investigação clínica na instituição; d) Qualquer participante ou potencial participante em estudos de investigação clínica a realizar na instituição; e) Os utentes da instituição, seus representantes ou familiares que demonstrem interesse objetivo com impacto no exercício dos seus direitos junto da respetiva instituição. 2 — Os pareceres emitidos pelas comissões de ética assumem sempre a forma escrita e não têm caráter vinculativo, sem prejuízo do disposto no regime legal relativo à realização de estudos clínicos, em que a realização de estudos clínicos é obrigatoriamente precedida de parecer favorável da respetiva comissão de ética, sem o qual o estudo não pode ser realizado. 3 — A comissão de ética dá conhecimento ao órgão máximo da instituição das solicitações que lhe sejam dirigidas, assim como das suas deliberações.” A meu ver, a Comissão e as capacidades quanto a pareceres, relatório e outros documentos não se diferenciariam do plasmado no artigo.
6. Composição da Comissão de Ética: O Decreto-Lei preceitua toda a tramitação referente ao número de membros, que se determina como ímpar, incluindo para tal um Presidente e um Vice-Presidente, que concordo e revejo na Comissão que projeto. Para além disto, a composição da comissão deve ser estipulada segundo três variantes: a multidisciplinariedade, a independência, e a colegialidade do órgão. No artigo 6º do mesmo Decreto, foco nas áreas relevantes para a matéria a que o decreto se debruça, como a Medicina, Enfermagem, Farmácia ou Teleologia inclusive, e, como é obvio, na Comissão de Ética que idealizo, essa multiplicidade de áreas seria distinta e determinante. Aqui, as áreas das quais a Comissão deveria se debruçar, enquanto áreas profissionais de grande relevo, seriam o Direito, a Filosofia/Ética, Anticorrupção, Boa Governação, Direitos Humanos, Segurança e, sem dúvida alguma, acrescentaria Profissionais ou ex-profissionais do Futebol, onde, pela complexidade desta componente, seleção desta componente deveria ser ao abrigo de competências técnicas e conhecimentos de relevo para a Comissão e sobre as matérias que esta se debruça, podendo ser treinadores, atletas ou dirigentes, ou ex-profissionais da área, sugerindo para isso personalidades fortes do Futebol, dos quais António Oliveira, ou Luís Figo.
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7. Constituição e Mandato: Refere o Decreto-Lei: “1. Os membros das comissões de ética são designados por deliberação do órgão máximo da instituição, para um mandato de quatro anos, renovável uma única vez, por igual período. 2 — O presidente e vice-presidente das comissões de ética são eleitos por estas de entre os seus membros. 3 — Os membros das comissões de ética podem cessar funções nos termos previstos no artigo 12.º” Menção deva ser feita ao facto de a rotatividade ser necessária na Comissão, sendo que considero os quatros anos como mandato adequados, não obstante a sugestão de um mandato mais reduzido, caso se perspetive como possível.
8. Competências do Presidente: Refere o Decreto-Lei: “1 — Compete ao presidente da comissão de ética: a) Representar a comissão de ética; b) Coordenar a atividade da comissão de ética, convocar e presidir às reuniões e fazer cumprir a ordem de trabalhos; c) Exercer voto de qualidade em caso de empate nas votações. 2 — O presidente é substituído nas suas ausências ou impedimentos pelo vice-presidente.” Quanto a este ponto, para a Comissão de Ética, não acrescentaria nem retiraria qualquer das competências determinadas pelo artigo.
9. Funcionamento da Comissão de Ética: A primeira alínea do artigo 9º menciona a periodicidade mensal de reuniões, convocadas e dirigidas pelo Presidente, sendo que na sua ausência, ocupa esse exercício de funções, o Vice-Presidente. O artigo salienta a possibilidade de criação, quando a matéria em causa assim o exija, fruto da sua exigência e complexidade, de comissões especializadas, com objetivo de elaboração de pareceres e relatórios sobre as mesmas matérias. Acrescentar que, a partir do momento em que o parecer ou relatório seja divulgado, extingue-se a comissão especializada. As convocatórias com certeza devem ser divulgadas nos prazos previstos, com dia, local e hora bem como com a documentação que seja essencial. A reunião apenas se afigura como possível com a presença da maioria dos seus membros, dos quais o Presidente e Vice-presidente são imprescindíveis.
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Menção feita à possibilidade de intervenção, sem direito de voto, de qualquer pessoa que seja convocada pelo Presidente, por culpa da necessidade da sua presença, tendo em vista a apreciação de matérias em análise. As deliberações da Comissão de Ética são realizadas por maioria dos membros da mesma. Mais se acrescenta, as atas lavradas após as reuniões, onde se inclui tudo o que se revele como preponderante, desde as matérias em análise, resultados de votações, pareceres e deliberações. Para além de tudo o já mencionado, nota para a aprovação do Regulamento Interno de funcionamento da Comissão de Ética, sendo este posteriormente divulgado nas plataformas consideradas imprescindíveis.
10. Direitos dos membros: Realça o Decreto-Lei no seu artigo 10º: “1 — Constituem direitos dos membros das comissões de ética: a) Participar nas reuniões e votações; b) Frequentar ações de formação em matérias de relevo no âmbito das competências das comissões de ética, de acordo com a programação aprovada pela respetiva comissão de ética, com o apoio da respetiva instituição de acordo com o autorizado pelo órgão máximo da instituição; c) A dispensa das suas atividades profissionais exercidas dentro da respetiva instituição, quando se encontrem no exercício efetivo de funções relacionadas com as atividades da comissão de ética, sem perda de quaisquer direitos ou regalias.” Subscrevo inteiramente todo o preceituado no artigo.
11. Deveres dos membros: No artigo 11º, nota feita para os deveres dos membros: “São deveres dos membros das comissões de ética: a) Exercer com zelo e diligência o seu mandato; b) Manter sigilo sobre as matérias tratadas no âmbito da comissão de ética; c) Cumprir os prazos previstos para a conclusão dos trabalhos; d) Colaborar com os restantes membros na prossecução das competências da comissão de ética; e) Participar nas reuniões regularmente convocadas, pronunciando- se sobre as matérias em agenda, e votando as mesmas; f) Manter- se atualizado sobre temas relacionados com a ética e a bioética.” Mais uma vez, considero a redação do artigo completa e onde não saliento qualquer tipo de alteração que prevejo como essencial.
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12. Cessação de Funções: Segundo o artigo 12º do Decreto-Lei: “1 — As funções dos membros das comissões de ética cessam nas seguintes situações: a) No termo do período de mandato; b) Na data da tomada de posse noutro cargo ou função incompatível com o exercício das funções de membro da comissão de ética; c) Por renúncia, mediante carta dirigida ao órgão máximo da instituição; d) Por deliberação do órgão máximo da instituição, com fundamento em incumprimento dos deveres de membro da comissão de ética. 2 — Para efeitos do disposto na alínea d) do número anterior, considera- se incumprimento dos deveres do membro da comissão de ética, designadamente, a falta injustificada, três vezes consecutivas, às reuniões de comissões de ética regularmente convocadas. 3 — Os membros das comissões de ética mantêm -se em funções até serem substituídos, com exceção da causa de cessação prevista na alínea b) do n.º 1.” Mais uma vez, na minha perspetiva, não denoto qualquer tipo de alteração que seja útil, não obstante a possibilidade de, de forma a obter maior eficiência, à Comissão de Ética que idealizo, lhe sejam exigidas alterações. Por fim, quanto aos artigos seguintes do Decreto-Lei, sob as epígrafes “Impedimentos”, “Confidencialidade”, e “Relatório anual”, excetuando a particularidade de envio neste último artigo para a plataforma RNCES, não prevejo qualquer tipo de alteração de relevo na elaboração da Comissão de Ética.
13. Adeptos Apesar da sua complexidade, deveria haver um papel reservado a adeptos de forma a que fosse possível a sua participação ativa e conciliadora com os restantes membros. Acredito que o ponto de vista dos fãs desta prática desportiva possa ser benéfico para a Comissão. O Futebol não vive sem adeptos e é crucial para este organismo, num sentido de maior proximidade com os grandes propulsores da modalidade, ter consigo pessoas que não sejam profissionais do futebol ou que sejam qualificados nas vertentes descritas previamente. Nas gerações atuais, até mesmo alguns elementos que não demonstram grande interesse e/ou conhecimento sobre o desporto, manifestam desagrado e pessimismo com a situação das grandes organizações desportivas, tanto a nível nacional como internacional. O contacto direto com adeptos por parte da Comissão permitiria que, ao abrir as portas a quem tenha interesse, possa evidenciar celeridade, ética e compromisso, e de forma a que as pessoas que entrem em contacto com esta entidade, possam transpor consigo essa imagem para todos, visto que a desconfiança e ceticismo nas pessoas que gerem o futebol é uma constante, e tem como grandes causas as notícias e 35
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factos relatados diariamente pelos meios de comunicação, para lá claro, dos grandes casos no futebol português, descritos previamente. Em Portugal, e comparando com outras Ligas Europeias, o futebol tem um impacto relevante na vida das pessoas Neste sentido e fruto do “papel” que o futebol tem hoje na sociedade, os verdadeiros impulsionadores e pontos de partida para a mudança, devem ser as pessoas que o gerem, de forma a servirem de exemplo para aqueles que ambicionam um dia serem praticantes de futebol. De qualquer das formas deverá haver um processo prévio de seleção dos adeptos que tivessem as qualificações necessárias e essenciais, e que pudessem trazer um contributo importante para a Comissão.
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Conclusão Os próximos anos serão decisivos para o Futebol. Será essencial a reformulação de alguns processos e análise de novas estratégias de forma a ser possível um desporto mais justo e organizado. A título de exemplo surgem os valores de transferências de jogadores, que cada vez mais exigem um papel regulador, dentro do possível, de entidades como a UEFA. O desafio será constante e a inovação deve ser ambicionada quer em eventos desportivos como a Liga das Nações, ou o Euro 2020, num projeto completamente revolucionário. Dada a evolução tecnológica e aumento dos canais de comunicação, nomeadamente, os digitais, tornase cada vez mais clara a necessidade de regular os Direitos de Imagem no Futebol, dado que têm sido frequentemente recorridos pelas entidades empregadoras para poderem aliviar os seus custos e despesas. O intermediário/agente do jogador tem vindo a alcançar um estatuto muitas vezes igual ou superior ao dos próprios clubes e jogadores. Esta alteração de notoriedade deve ser também alvo de análise e regulamentação efetiva. Sem dúvida alguma, elaborar e criar a Comissão revela-se prontamente um desafio complexo e exigente. No entanto, pretende-se também expor a ideia de que, um comum adepto em 2019, pode ter a perceção de como o jogo deve mudar, talvez até, com maior urgência fora das quatro linhas. O Futebol depende de todos nós, em preservar uma modalidade, dentro de todas as suas variantes e aceções.
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INTRODUÇÃO A motivação é influenciada por fatores internos/externos sendo uma das fontes de influência o suporte social. Na área desportiva, o suporte social de pessoas significativas para o atleta – principalmente treinador, pais e pares tem vindo a ser estudado. O suporte proveniente do treinador influencia, não só a motivação como também o bem-estar e a sensação de prazer pela prática desportiva (Adie & Jowett, 2010; Felton & Jowett, 2012, Jowett, 2009). Quanto aos pais, estes são apontados como uma das principais fontes de suporte e existe uma associação entre a relação positiva parental e níveis inferiores de ansiedade competitiva (Gomes, 1997; Ullrich-French & Smith, 2006). Quando à amizade com os pares, esta associa-se à perceção de suporte social por parte dos pares e motivação intrínseca (Gomes, 1997; Smith, 1999). Ao longo do desenvolvimento da carreira ocorrem mudanças que afetam o atleta - a família passa a ter um envolvimento mais indireto na prática desportiva ao passo que o treinador e os pares passam a ser mais especializado e uma fonte de maior suporte, respetivamente (Côte et al., 2003).
OBJETIVOS A investigação pretende estudar as alterações da perceção do suporte social em diferentes grupos etários (9 aos 19 anos). Espera-se que o treinador se torna mais importante à medida que a idade do desportista aumenta, o que deverá verificar com um aumento da pontuação do instrumento (Côte et al., 2003). Quanto aos pais, prevê-se que estes passem a ter um papel menos ativo à medida que a idade aumenta, verificando-se a diminuição de dimensões como o acompanhamento competitivo, apoio desportivo e influência técnica (Côte et al., 2003; Gomes, 2010; Vasconcelos & Gomes, 2015). No que respeita aos pares, passando estes a ter uma função de suporte mais relevante, espera-se um aumento da lealdade e intimidade, coisas em comum e conflito e diminuição do companheirismo e jogo agradável (Weiss & Smith, 2002). Partindo da influência combinada dos vários agentes, outro objetivo é realizar análises exploratórias para verificar se algum dos agentes de suporte tem impacto superior na motivação em relação aos outros. Espera-se que os pais passem a ter menor impacto na motivação e que este aumento para os pares e treinador.
RESULTADOS
CONCLUSÕES
Relativamente à análise desenvolvimental, com o aumento da idade observámos uma diminuição significativa da influência técnica e expetativas desportivas por parte do pai bem como a diminuição das mesmas e do apoio desportivo e acompanhamento competitivo por parte da mãe.
As diferenças encontradas entre os grupos etários aparecem maioritariamente quando comparado o grupo mais novo (912 anos) com o grupo intermédio e o mais velho (13-15 e 1619 anos) o que leva a concluir que estas duas últimas faixas etárias não são distintas no que respeita ao papel do suporte social.
Quanto aos pares, com o aumento da idade evidenciou-se o aumento da lealdade e intimidade e dos conflitos, um resultado que é consistente com a literatura (Weiss & Smith, 2002). Quanto ao treinador, os resultados não revelaram alterações significativas nos vários grupos etários. Verificaram-se correlações positivas das subescalas positivas e índices de motivação intrínseca e extrínseca, bem como de subescalas negativas e o índice de amotivação. Os resultados apontaram para uma predominância do impacto dos pares na motivação intrínseca e dos pais na motivação extrínseca. As análises de regressões múltiplas evidenciaram o papel predominante dos pais (particularmente da mãe) na previsão dos vários tipos de motivação e dos pares na motivação interna, mais uma vez. Não se verificaram alterações relevantes e consistentes entre os vários grupos etários.
Os resultados referentes ao papel do suporte social vão de encontro à literatura, à exceção da relevância do treinador, que se pode prender com a natureza do instrumento. Atendendo à influência do suporte social na motivação, verifica-se uma influência superior dos pais, o que vai de encontro ao papel preponderante dos mesmo apontado na literatura. Os comportamentos negativos dos pares com menor influência na motivação são corroborados pela literatura que defende que os conflitos passam a ser mais comuns no meio competitivo e, por isso, com menor impacto (Weiss & Smith, 2002). A análise combinada das fontes de suporte social acrescenta conhecimento teórico relevante para a área mas permite também sugerir implicações práticas: o conhecimento sobre quais os agentes de maior relevância para a motivação e quais os fatores de impacto negativo permite desenhar intervenções mais eficazes a este nível.
A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS Luciana Raquel Estima Correia
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Resumo O suporte social refere-se à interação decorrida entre indivíduos, havendo um que presta o apoio e outro que o recebe, tendo por objetivo a melhoria do bem-estar de quem o recebe. Tem sido crescente o reconhecimento da importância do suporte social na motivação desportiva, podendo ser considerados neste processo vários agentes. Recentemente, tem-se sugerido que a importância do suporte social (e seus agentes) se vai alterando ao longo do desenvolvimento, mas são ainda escassos os estudos sobre esta temática. Este trabalho aborda simultaneamente os vários agentes de suporte social – treinador, pais e pares – e ainda a dinâmica da sua importância em vários grupos etários, através de instrumentos de autorrelato. A análise combinada dos vários agentes, do modo como estes se diferenciam entre grupos etários, e como se correlacionam, permitem prever a motivação para a prática desportiva. Os resultados apontaram para uma predominância do impacto dos pares na motivação intrínseca e dos pais na motivação extrínseca. Relativamente à análise desenvolvimental, com o aumento da idade observámos um aumento do apoio e acompanhamento por parte dos pais bem como uma diminuição da influência técnica por parte dos mesmos. Quanto aos pares evidenciou-se com o aumento da idade o aumento da lealdade e intimidade e dos conflitos, um resultado que é consistente com a literatura. Quanto ao treinador, os nossos resultados não revelaram alterações significativas nos vários grupos etários. As análises de regressões múltiplas evidenciaram o papel predominante dos pais (particularmente da mãe), na previsão dos vários tipos de motivação, não se tendo verificado alterações relevantes entre vários grupos etários. A análise combinada das fontes de suporte social acrescenta conhecimento teórico relevante para a área mas permite também sugerir implicações práticas: o conhecimento sobre quais os agentes de maior relevância para a motivação do atleta permite desenhar intervenções mais eficazes a este nível. Palavras-chave: Pais, pares, treinador, motivação intrínseca, motivação extrínseca, motivação autodeterminada, amotivação, desenvolvimento
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
Abstract Social support refers to the interaction between individuals, with one providing support and the other receiving it, with the aim of improving the well-being of those who receive it. There has been increasing recognition of the importance of social support in sports’ motivation, and several agents may be considered in this process. Recently, it has been suggested that the importance of social support (and its agents) changes throughout development, but few studies still exist. This work addresses, simultaneously, the various social support agents - coach, parents and peers -, and the dynamics of their importance in various age groups, through self - report instruments. The combined analysis of the various agents, how they differ between age groups, and how they correlate, allow the prediction of their importance in the motivation for sports. The results pointed to a predominance of the impact of the peers on intrinsic motivation and of the parents on extrinsic motivation. Regarding the developmental analysis, with the increase of age we observed an increase of the support and accompaniment provided by the parents as well as a decrease of their technical influence. As for the peers, we observed an increase in loyalty and intimacy and conflict with the increase of age, a result that is consistent with the literature. As for the coach, our results did not reveal significant changes across age groups. The multiple regression analyses revealed the predominant role of the parents (particularly of the mother), in predicting the various types of motivation, and the absence of relevant changes among the age groups. The combined analysis of the sources of social support adds relevant theoretical knowledge to the area but also suggests practical implications: knowing which agents are of greater relevance to the athlete's motivation allows the development of more effective interventions at this level.
Keywords: parents, peers, coach, intrinsic motivation, extrinsic motivation, self-determined motivation, amotivation, development
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
Índice Introdução .............................................................................................................................. 1 Método ................................................................................................................................... 6 Participantes ....................................................................................................................... 6 Instrumentos....................................................................................................................... 7 Procedimento ..................................................................................................................... 9 Recolha de dados. ........................................................................................................... 9 Análise de dados........................................................................................................... 10 Resultados............................................................................................................................ 11 Diferenças no suporte social ............................................................................................ 11 Análises de correlação entre variáveis ............................................................................. 14 Análises de regressão múltipla – modelos propostos ...................................................... 17 Discussão ............................................................................................................................. 23 Referências .......................................................................................................................... 28 Anexos ................................................................................................................................. 33
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
Índice de tabelas Tabela 1 – Correlações entre escalas de suporte social e de motivação .............................. 16 Tabela 2 – Sistematização dos modelos de regressão ......................................................... 19 Tabela 3 – Sistematização dos modelos de regressão por grupos etários ........................... 22 Tabela 4 – Sistematização das variáveis incluídas nos modelos ......................................... 23
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
Índice de figuras Figura 1 – Subescalas de suporte social para a variável Pai ................................................ 12 Figura 2 – Subescalas de suporte social para a variável Mãe .............................................. 13 Figura 3 – Subescalas de suporte social para a variável Pares ............................................ 14
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
Lista de Abreviaturas EMD – Escala de Motivação no Desporto EQAD – Escala da Qualidade da Amizade Desportiva Pares_neg – subescala de conflitos da Escala da Qualidade da Amizade Desportiva Pares_pos – componente positiva da Escala da Qualidade da Amizade Desportiva IMA – índice de motivação autodeterminada MCTA – Medida de Compatibilidade Treinador-atleta QCPD – Questionário de Comportamentos Parentais no Desporto QCPDM – Questionário de Comportamentos Parentais no Desporto – mãe Mãe_neg – subescala de pressão para o rendimento do Questionário de Comportamentos Parentais no Desporto da mãe Mãe_pos – componente positiva do Questionário de Comportamentos Parentais no Desporto da mãe QCPDP – Questionário de Comportamentos Parentais no Desporto do pai Pai_neg – subescala de pressão para o rendimento do Questionário de Comportamentos Parentais no Desporto do pai Pai_pos – componente positiva do Questionário de Comportamentos Parentais no Desporto do pai
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
Introdução Não é necessária uma pesquisa intensiva em alguns jornais para nos depararmos com títulos apelativos como “No desporto, os pais são muitas vezes um problema para os filhos”1, “Pais são um problema no futebol de formação”2 ou “Agressões entre adeptos em jogo de iniciados”3. Estas notícias comportam relatos semelhantes de comportamentos negativos por parte dos pais ao assistir a jogos das equipas dos seus filhos. Estas notícias, questionando a influência dos pais na formação desportiva, constituíram, assim, um dos motes iniciais para a realização deste estudo. De uma perspetiva geral, sabe-se que os indivíduos são continuamente influenciados por fatores internos e externos. Uma das variáveis que está sujeita a esta influência é a motivação, nomeadamente a motivação intrínseca, extrínseca e amotivação, sendo estas o envolvimento numa atividade pelo prazer que esta suscita, o envolvimento numa atividade como meio para atingir um fim e a ausência de intenção para a realização de um comportamento, respetivamente. De acordo com a teoria da autodeterminação (Ryan & Deci, 2000), abordamos estas formas de motivação num continuum da autodeterminação à nãoautodeterminação. No contexto desportivo, os fatores identificados como tendo influência no alto rendimento e mais especificamente nas diferentes formas de motivação, têm vindo a ser divididos em primários e secundários, sendo que estes últimos englobam questões sociais, culturais e contextuais (Baker & Horton, 2004). Dentro dos fatores sociais destaca-se o suporte social percebido (i.e., “uma troca de recursos entre pelo menos dois indivíduos percebidos pelo prestador ou recetor … com a intenção de melhorar o bem-estar do recetor”, Shumaker & Brownell, 1984, p. 13) de pessoas significativas para os atletas – principalmente treinador, pais e pares – que tem vindo a ser descrito como relevante e como podendo resultar em ganhos pessoais e desportivos (Jowett & Timson-Katchis, 2015; Matos, Cruz, & Almeida, 2017; Sheridan, Coffee, & Lavallee, 2014). Este suporte, ao satisfazer as três necessidades psicológicas básicas – autonomia (i.e., sentir-se com vontade de agir), competência (i.e., sentirse capaz de alcançar os objetivos desejados e evitar os indesejados) e relação (i.e., sentir-se conectado e compreendido pelos outros) – aumenta tanto a motivação intrínseca como a sensação de bem-estar e leva a um funcionamento mais adaptativo (Adie & Jowett, 2010; Felton & Jowett, 2012; Pelletier et al., 1995; Ryan & Deci, 2000). https://www.publico.pt/2017/02/19/sociedade/noticia/no-desporto-os-pais-sao-muitas-vezes-um-problemapara-os-filhos-1762453#gs.gh51CC0r 2 https://omirante.pt/sociedade/2018-09-29-Pais-sao-um-problema-no-futebol-de-formacao 3 https://www.abola.pt/Nnh/Noticias/Ver/768078 1
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As relações do atleta com o treinador, pais e pares ocorrem de forma concomitante e este suporte múltiplo é indispensável ao alto rendimento desportivo (Riley & Smith, 2011). Assim, uma visão holística dos vários agentes é fundamental. No entanto, e apesar de haver um interesse crescente pelo estudo do impacto do suporte social no contexto desportivo, o número de estudos é ainda limitado sendo a sua maioria focalizados unicamente num agente de suporte social. Sheridan e colegas (2014) numa revisão sistemática sobre o suporte social na prática desportiva na juventude apresentam apenas cinco estudos que mostram o nível multifatorial de suporte, neste contexto. No que diz respeito à relação atleta-treinador e ao suporte percebido do treinador, sabese que estes são importantes não só para o rendimento e motivação mas igualmente para o bemestar de ambos os intervenientes (Adie & Jowett, 2010; Keegan, Spray, Harwood, & Lavallee, 2010; Lafrenière, Jowett, Vallerand, & Carbonneau, 2011). O suporte por parte desta figura influencia não só a motivação como também a sensação de prazer na prática desportiva (Scanlan, Stein, & Ravizza, 1989). Deste modo, e atendendo ao papel do treinador integrar vários tipos de preparação dos atletas (nomeadamente, tática, técnica, física e mental), surge o conceito de supportive coaching que descreve um estilo de treinador que atende também a questões emocionais e relacionais além das questões instrumentais (Nicolas, Gaudreau, & Franche, 2011). O treinador, ao atender a estas necessidades psicológicas básicas, contribui para uma boa integração e regulação emocional do atleta bem como para a diminuição da perceção de exclusão social (Sheridan et al., 2014; Taylor & Bruner, 2012). Modelos anteriores do estudo da relação atleta-treinador (e.g., modelo multidimensional e o modelo mediacional de liderança) têm vindo a cair em desuso visto caraterizarem esta relação apenas tendo em vista a liderança, não incorporando, portanto, a vertente relacional, indispensável para a perceção de suporte social. Assim, a relação atleta-treinador passou a ser estudada tendo em conta três fatores – comprometimento (i.e., cognições e intenção de manter a relação), proximidade (i.e., ligação emocional e afetiva) e complementaridade (i.e., interações comportamentais) – que denotam a natureza bidirecional da díade (Jowett, 2006; Jowett & Ntoumanis, 2004). Esta nova visão atesta que são experienciados resultados mais positivos aquando de uma maior interdependência atleta-treinador e que a complementaridade e a qualidade da relação estão positivamente associadas com a motivação intrínseca e a satisfação das necessidades (Adie & Jowett, 2010; Felton & Jowett, 2012; Jowett, 2009). Por outro lado, e, perante casos de unsupportive coaching – assente em comportamentos como gritar, manipular, intimidar, pressionar excessivamente e manifestar favoritismo – a relação atleta-
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treinador pode tornar-se uma fonte de stress e constituir um fator de risco para prejuízos na autorregulação (Nicolas et al., 2011). No que concerne ao papel dos pais, a sua influência tem sido vista como preponderante na prática desportiva, sendo apontado como uma das principais fontes de suporte social (Babkes & Weiss, 1999; Jowett & Cramer, 2010). Este fator explica diferenças ao nível afetivo e emocional entre experiências desportivas positivas e negativas de atletas e correlaciona-se positivamente com a motivação (Gomes, 1997; Sheridan et al., 2014). Em concreto, a literatura aponta para uma relação entre a baixa perceção de pressão parental e elevados níveis de prazer associados à prática desportiva, bem como associação entre a relação positiva parental e níveis inferiores de ansiedade competitiva (Gomes, 1997; Ullrich-French & Smith, 2006). Esta baixa perceção de pressão parental prende-se com comportamentos por parte dos pais que englobam expetativas realistas face ao rendimento desportivo, encorajamento e apoio, e baixa presença de avaliações negativas face ao baixo rendimento (Gomes, 1997). O oposto verifica-se em comportamentos como criticar o atleta ou manter expetativas irrealistas e que levam à experiência de maiores níveis de ansiedade por parte do atleta (Gomes, 1997; Gould, Lauer, Rolo, Jannes, & Pennisi, 2006). Nestes casos, e à medida que o grau de investimento familiar (em termos de tempo e recursos) aumenta, pode surgir o sentimento de restrição ao papel de atleta que, por sua vez, pode originar sintomas de burnout e, posteriormente, o abandono da prática desportiva (Gomes, 1997). Estes atletas apresentam maior tendência para baixas expetativas de rendimento e maior preocupação com a avaliação social e a falha (Gomes, 1997). Por sua vez, os pares, têm um papel de relevo que assenta em dois conceitos – amizade e aceitação. Apesar de ambos influenciarem positivamente a motivação autodeterminada, a amizade baseia-se em caraterísticas da relação diádica como a qualidade da relação, suporte, intimidade e validação de autoestima. A aceitação, por outro lado, remete para um estado de popularidade e dá a noção de competência e pertença (Riley & Smith, 2011; Sheridan et al., 2014; Ullrich-French & Smith, 2006; M. R. Weiss & Smith, 2002). No que diz respeito à amizade, verifica-se uma associação estreita entre esta e a perceção de suporte social pelos pares, atração pela atividade física, motivação intrínseca e compromisso dos atletas com o desporto (Gomes, 1997; Smith, 1999). De um modo geral e apesar de haver supremacia de alguns agentes em determinadas fases da carreira desportiva, a combinação do suporte por parte do treinador, pais e pares tem vindo a ser descrita como significativa para a motivação e experiência desportiva do atleta (Keegan et al., 2010; Sheridan et al., 2014). Numa visão integral, Keegan e colaboradores (2010) apresentam a importância do treinador numa ótica de instrução e feedback, dos pais 3
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visando suporte e ações facilitadoras da prática desportiva e dos pares com contributos relacionados à competitividade, feedback e relações sociais. Para além da influência que cada uma destas três variáveis tem na motivação desportiva, é também sabido que elas estão interligadas e se influenciam mutuamente. Por exemplo, o suporte parental percecionado tem impacto positivo na relação atleta-treinador. Por outro lado, verifica-se um efeito da perceção da relação atleta-treinador na qualidade da amizade e aceitação dos pares (Jowett & Timson-Katchis, 2015; Riley & Smith, 2011; Sheridan et al., 2014). Estudos apontam ainda que os atletas que percecionam pelo menos uma ou duas fontes de suporte social como positivas, reportam níveis mais elevados de competência, diversão e motivação e níveis inferiores de stress no desporto (Riley & Smith, 2011; Ullrich-French & Smith, 2006). Ademais, todos estes fatores influenciam a motivação desportiva através da comunicação/feedback, sendo que estes podem ter um efeito positivo, aumentando a motivação, ou negativo, por exemplo, aumentando a frustração e prejudicando a relação com o mensageiro do feedback (Keegan et al., 2010). Tal como suprarreferido, os três agentes sociais têm influência na motivação desportiva, podendo suscitar o aumento ou diminuição da motivação intrínseca que, por sua vez, tem impacto, por exemplo, na forma como o atleta se relaciona com os agentes de suporte social. Assim, quanto mais os agentes sociais criarem um ambiente propício à satisfação das necessidades, maior autodeterminação e bem-estar será reportado pelos atletas (Deci & Ryan, 1985; Felton & Jowett, 2013; Jowett & Timson-Katchis, 2015; Riley & Smith, 2011). Estudos anteriores revelaram que a relação atleta-treinador, a aceitação por pares e a qualidade da amizade positivas, predizem a motivação autodeterminada (Riley & Smith, 2011; UllrichFrench & Smith, 2006). Além da variável suprarreferida, sabe-se ainda que, ao longo da carreira, existem alterações ao nível da prática desportiva, como por exemplo, o aumento do treino, em momentos de transição (Pummell, Harwood, & Lavallee, 2008). De acordo com Côte, Baker e Abernethey (2003), o desenvolvimento desportivo assenta em três estádios com diferentes caraterísticas – sampling years (prática de vários desportos), specializing years (desenvolvimento de competências específicas de um desporto) e investment years (investimento num nível de excelência). Por sua vez, Durand-Bush e Salmela (2002) acrescentaram um quarto estádio – maintenance years – que visa a manutenção do desempenho. Além destes diferentes estádios e durante cada um dos mesmos, os atletas vão ainda sofrer outras transições, normativas e não-normativas, na sua vida, sendo estas esperadas e imprevisíveis, respetivamente (Pummell et al., 2008). No contexto desportivo, estas transições 4
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podem ser incluídas no desenvolvimento atlético, psicológico, psicossocial e vocacional sendo que todas as alterações de pessoas significativas para o atleta estão incluídas nas transições psicossociais (Pummell et al., 2008). Neste sentido, ao longo do desenvolvimento da carreira desportiva existem mudanças na influência social tripartida entre o treinador, os pais e os pares (Côte et al., 2003). A família apresenta uma importância elevada no início da prática desportiva passando os pais de um envolvimento mais direto para um envolvimento mais indireto que se assemelha à presença como espetadores (Côte et al., 2003). Assim, o papel dos pais vai variando ao longo dos estádios sendo que, no primeiro verifica-se um incentivo por parte dos pais para a prática, o segundo denota um comprometimento parental em termos financeiros e de tempo e o terceiro assenta no apoio emocional por parte dos mesmos (Côté, 1999; Duffy, Lyons, Moran, Warrington, & MacManus, 2006). Também se verifica que atletas que foram bem sucedidos na transição entre estádios reportam um maior envolvimento parental (Wuerth, Lee, & Alfermann, 2004). No que diz respeito aos pares e ao treinador, ao longo da progressão da carreira desportiva, verifica-se a necessidade de um treinador mais especializado bem como de um maior suporte por parte dos colegas de equipa (Duffy et al., 2006). Assim, os papéis destes agentes vão-se alterando de tal maneira que os pares adotam uma função de suporte para as necessidade mais emocionais e o seu feedback passa a ser mais relevante durante a adolescência, passando o treinador a ser mais qualificado na área (Côte et al., 2003; Wylleman, Alfermann, & Lavallee, 2004). Também se verifica que, ao longo do seu desenvolvimento, as crianças passam a considerar discussões e competitividade como parte integrante da amizade e que há um aumento da perceção de conflitos, no contexto desportivo, devido à competitividade interpessoal vivida no seio da equipa e entre equipas (M. R. Weiss & Smith, 2002). Posto isto, este estudo pretende, primeiramente, estudar as alterações da perceção do suporte social, pelos adolescentes e jovens, em diferentes grupos etários, neste caso, considerando simultaneamente o treinador, pais e pares (mais especificamente o melhor amigo no clube ou equipa); estas variáveis serão avaliadas utilizando instrumentos de autorrelato. Espera-se que o treinador se torne mais importante à medida que a idade/escalão do desportista aumenta, dada a necessidade de um aperfeiçoamento e treino mais especializados (Côte et al., 2003). Este facto deve ser visível através do aumento da pontuação no instrumento referente à avaliação da compatibilidade do atleta para com este agente de suporte. Por outro lado, esperase o padrão inverso quanto ao papel a desempenhar pelos pais. Ou seja, prevê-se que estes passem a ter um papel menos ativo à medida que a idade/escalão do desportista aumenta, o que se deverá traduzir em pontuações mais reduzidas no instrumento de autorrelato utilizado para 5
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avaliação desta variável e que inclui as dimensões acompanhamento competitivo, apoio desportivo e influência técnica (Côte et al., 2003; Gomes, 2010; Vasconcelos & Gomes, 2015). Quanto ao papel desempenhado pelos pares, à medida que a idade/escalão aumenta, estes passam a ter uma função de suporte mais relevante, suprindo as necessidades emocionais e deixando de estar exclusivamente relacionados com o companheirismo de jogo (Côte et al., 2003). Deste modo, espera-se que, a par com o desenvolvimento desportivo, haja um aumento da pontuação nas dimensões lealdade e intimidade, coisas em comum e conflito, e diminuição da pontuação na dimensão companheirismo e jogo agradável (M. R. Weiss & Smith, 2002). Sabe-se ainda que o suporte social tem influência na motivação. Por isso, é também objetivo explorar se algum dos agentes de suporte tem impacto superior na motivação em relação aos outros, quer de um modo geral, quer em diferentes grupos etários. Portanto, esperase que em valores mais elevados de suporte social se verifiquem igualmente valores mais elevados de motivação autodeterminada; também esta variável será avaliada através de instrumentos de autorrelato. Ao longo do desenvolvimento e com base na teoria de Côte e colaboradores (2003), espera-se que os pais passem a ter menor impacto na motivação e que este aumente para os pares e treinador. De modo exploratório, as análises debruçar-se-ão nas várias formas de motivação e olhando para esta como um continuum de autodeterminação.
Método Participantes Da amostra total recolhida (235 participantes) foram eliminados alguns participantes por não cumprirem os critérios de inclusão no estudo. Destes, foram eliminados 1 participante por apresentar idade inferior a 9 anos e 42 por apresentarem percentagem de missings superior a 5% em pelo menos um instrumento (Hair Jr et al., 2005). Desta feita, a amostra utilizada foi constituída por 192 atletas (125 do sexo masculino), entre os 9 e os 19 anos, e cuja média de idades é de 13.58 anos (DP = 2.11). Todos os participantes eram praticantes em clubes distritais de Aveiro das modalidades coletivas de basquetebol, andebol e futebol (cf. Anexo 1 e 2). Os atletas foram categorizados por escalões (de acordo com a idade aquando da resposta aos instrumentos) sendo que 11 pertenciam aos sub-10, 60 aos sub-12, 58 aos sub-14, 41 aos sub-16 e 22 aos sub-18. Atendendo à sua carreira desportiva, tem-se uma duração média da prática do desporto a variar de 1 a 13 anos (M = 5.02, DP = 2.95) e a carga de treinos semanal a oscilar entre 3 e 10 horas (M = 5.64, DP = 1.57). 6
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Especialmente relevante para este estudo surge a informação de que os pais (81.4 %), em particular o pai (38.0 %), é a pessoa que mais acompanha o atleta aos treinos. É ainda de salientar o número médio de anos com o atual treinador (M = 1.84, DP = 1.21) e o número de anos com a atual equipa (M = 2.47, DP = 1.81). Para a análise por grupos etários, a amostra foi subdividida em 3 três grupos, tendo em conta a faixa etária (9-12, 13-15 e 16-19 anos), com o objetivo de tornar mais distintas as fases de desenvolvimento. Esta divisão visou, acima de tudo, a criação de grupos homogéneos. Assim sendo, os grupos apresentaram médias de idade de 11.42 (DP = 0.79), 13.86 (DP = 0.80) e 16.63 (DP = 0.72) para as faixas etárias 9-12 (n = 71), 13-15 (n = 78) e 16-19 anos (n = 43), respetivamente. Instrumentos Informações sociodemográficas. Foi utilizado um questionário sociodemográfico preenchido pelo atleta (e.g., idade, pessoa com acompanhamento mais regular aos treinos, número de anos de prática desportiva, número de anos com o mesmo treinador e equipa); o clube também forneceu algumas informações genéricas (e.g., escalão e número de horas de treino). A recolha desta informação permitiu uma caraterização mais detalhada da amostra. Sport Friendship Quality Scale (M. R. Weiss & Smith, 1999, 2002). Não estando esta escala validada para a população portuguesa, foi realizada a sua tradução e trabalho preliminar de validação para o grupo etário de interesse neste trabalho. Tendo-se concluído que o referido instrumento apresentava características psicométricas satisfatórias para avaliar a qualidade da relação de amizade para o desporto4, o mesmo foi utilizado neste trabalho para avaliação da componente pares. A escala a partir de então designada Escala da Qualidade da Amizade Desportiva (EQAD) mede a qualidade das relações de pares no contexto desportivo. O questionário tem 22 itens, divididos em 6 dimensões – melhoria e suporte da autoestima (4 itens; e.g., “Ele tem confiança em mim quando praticamos desporto”), lealdade e intimidade (4 itens; e.g., “Nós partilhamos segredos”), coisas em comum (4 itens; e.g., “Nós temos gostos em comum”), companheirismo e jogo agradável (4 itens; e.g., “Nós fazemos coisas divertidas”), resolução de conflitos (3 itens; e.g., “Nós fazemos as pazes facilmente quando nos zangamos”) e conflitos (3 itens; e.g., “Nós temos discussões”). Todos os itens são respondidos atendendo a uma escala tipo likert de 5 pontos que varia de 1=nunca acontece a 5=acontece sempre. Valores mais elevados demonstram melhor qualidade da amizade. Apesar
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Mais informações sobre o instrumento podem ser obtidas com o autor deste trabalho
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de os valores de consistência interna das subescalas não serem elevados, variando entre .55 e .79 (melhoria e suporte da autoestima (α = .72); lealdade e intimidade (α = .55); coisas em comum (α = .68); companheirismo e jogo agradável (α = .79); resolução de conflitos (α = .73); conflitos (α = .77), a escala foi aceite uma vez se tratar de um instrumento essencial à realização do estudo. Medida de compatibilidade treinador-atleta (Gomes, 2008). Este instrumento pretende avaliar a compatibilidade entre os membros da díade treinador-atleta com recurso a 5 itens que avaliam a compatibilidade entre comportamentos, objetivos, personalidade/temperamento e ideias entre treinador e atleta. Os itens são respondidos numa escala de likert de 9 pontos que varia de 1=nada compatíveis a 9=muito compatíveis. O valor total da escala é calculado através da média de todos os itens e valores mais altos indicam uma maior compatibilidade. O índice de consistência interna da escala obtido na nossa amostra foi considerado adequado (α = .86) que se aproxima do índice encontrado por Gomes e Paiva (2010) de α = .85. Questionário de comportamentos parentais no desporto – revisto (QCPD; Gomes, 2016). O instrumento avalia os comportamentos dos pais em relação à prática de desporto por parte dos filhos. Existe uma versão para pais e outra para atletas sendo que neste caso apenas foi utilizada a versão para atletas. A versão para atletas apresenta duas escalas, uma referente ao pai e outra referente à mãe e cada uma destas é composta por 18 itens. Os itens são respondidos com recurso a uma escala de likert de cinco pontos que varia de 1=nunca a 5=sempre. Estes 18 itens formam cinco subescalas de apoio desportivo, acompanhamento competitivo, influência técnica, expetativas desportivas e pressão para o rendimento, que são calculadas através da média do itens da subescala. Valores mais elevados nas primeiras quatro subescalas e mais reduzidos na última denotam maior perceção de apoio parental por parte do atleta. Todas as subescalas apresentaram valores adequados de consistência interna nos nossos dados, tanto na versão referente ao pai como na versão referente à mãe: apoio desportivo (pai: α = .82; mãe: α = .87), acompanhamento competitivo (pai: α = .97; mãe: α = .98), influência técnica (pai: α = .91; mãe: α = .95), expetativas desportivas (pai: α = .76; mãe: α = .81) e pressão para o rendimento (pai: α = .88; mãe: α = .92). Escala de Motivação no Desporto (EMD; Gomes, 2014). Esta escala avalia a motivação para a prática desportiva em jovens em quatro dimensões: amotivação, regulação externa, regulação identificada e motivação intrínseca. As dimensões regulação externa (satisfazer um pedido externo) e regulação identificada (aceite como pessoalmente importante) podem agrupar-se numa só dimensão uma vez que ambas são tipos de motivação extrínseca (dimensão motivação extrínseca; Pelletier et al., 1995; Ryan & Deci, 2000). A escala é constituída por 12 8
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itens que são respondidos tendo em conta uma escala de likert de sete pontos em que 1 corresponde a discordo completamente e 7 a concordo completamente. É possível calcular um índice de motivação autodeterminada (ver detalhes em Gomes, 2014) que, quanto mais elevado, mais autodeterminada é a orientação motivacional. Este índice funciona quase como uma variável contínua que reflete o controlo do sujeito na sua motivação para a prática desportiva; no extremo inferior estará a amotivação e no superior a motivação intrínseca. Neste estudo optou-se ainda pela divisão do instrumento em três subescalas, uma vez que as duas subescalas integrantes da motivação extrínseca continham apenas 2 itens cada e cada subescala é calculada pela média dos itens da subescala. Nestas 3 subescalas de amotivação (α = .76), motivação extrínseca (α = .67) e motivação intrínseca (α = .71) obtiveram-se valores aceitáveis de consistência interna. Procedimento Primeiramente, foram realizados dois grupos de reflexão falada para a preparação dos instrumentos utilizados, com o objetivo de verificar a sua compreensão por parte de crianças da faixa etária dos 10 anos e de proceder a eventuais ajustes aos instrumentos para assegurar a compreensão dos mesmos. Estes grupos contaram com a participação de 6 e 7 crianças com 10 anos. As caraterísticas desta amostra são similares às caraterísticas dos participantes com idade mais jovem da amostra final. Neste momento, foram analisados todos os instrumentos com exceção do Questionário de Comportamentos Parentais no Desporto (já validado com crianças a partir dos 8 anos). Recolha de dados. Foram contactados vários clubes para integrar o estudo. Após este primeiro contacto foram obtidos os consentimentos informados por parte dos clubes e dos Encarregados de Educação. Obtidas todas as autorizações formais, foram acordadas datas para a recolha de dados, convenientes a ambas as partes envolvidas no estudo. Apenas participaram no estudo os atletas para os quais foram previamente obtidas as autorizações por parte dos Encarregados de Educação. Adicionalmente, a participação dos atletas decorreu mediante a sua clara manifestação de vontade em participar e após obtenção de consentimento informado escrito. Para isso, foi-lhes sempre indicada de forma expressa a natureza voluntária do estudo, sendo garantida a ausência de quaisquer consequências negativas advindas da não participação no estudo ou sua desistência.
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A participação de cada atleta teve uma duração de cerca de 30 minutos. As sessões de recolha de dados foram realizadas em grupo e consistiram no preenchimento do conjunto de instrumentos suprarreferidos, em versão papel e caneta, tendo sido pedido aos participantes que os preenchessem da forma mais sincera possível. Esteve sempre presente nas sessões um investigador que prestou apoio e esclareceu dúvidas que foram surgindo. Análise de dados. A análise de dados consistiu, inicialmente, na preparação da base de dados com eliminação dos participantes com mais de 5% de respostas omissas em pelo menos um questionário em análise, assim sendo, para os instrumentos QCPD, EQAD e EMD, foi permitido um máximo de um missing, não tendo sido aceites missings nos restantes instrumentos. Nos participantes considerados válidos, as restantes respostas omissas foram substituídas através de uma estratégia de maximização esperada através programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS). No que diz respeito à análise de dados, utilizou-se o programa estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 25.0 para Windows. À semelhança do que acontece em alguns estudos (e.g., Ullrich-French & Smith, 2006), para as escalas referentes aos pais e aos pares, os scores das escalas positivas destes instrumentos foram agrupados de modo a formar um score positivo. Esta escolha é suportada, não só pela literatura, mas também pelas análises intra-escala (anexo 3 e 4), em que se verifica, nas escalas referentes ao pai e mãe, correlações significativas entre todas as subescalas à exceção da subescala de pressão para o rendimento (apenas apresenta correlações significativas com a influência técnica e as expetativas desportivas) e na escala referente aos pares, correlações entre subescalas significativas, à exceção da subescala de conflito (apenas se correlaciona com as subescalas lealdade e intimidade e coisas em comum). Assim, todas as subescalas dos instrumentos, à exceção da pressão para o rendimento e conflitos, para os pais e pares, respetivamente, foram agrupadas formando os scores positivos, designados de mãe_pos, pai_pos e pares_pos. Estes scores positivos foram calculados através da média de todos os itens englobados nas subescalas que denotam formas de apoio positivo (e.g., na escala dos pais, corresponde à média dos valores obtidos nas subescalas apoio desportivo, acompanhamento competitivo, influência técnica e expetativas desportivas). Para todos os scores positivos obtiveram-se valores elevados de consistência interna, sendo eles α = .91, α = .92 e α = .89, para pai_pos, mãe_pos e pares_pos, respetivamente. No que respeita às subescalas 10
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negativas, estas serão designadas com recurso ao sufixo Neg e, por serem constituídas apenas por uma subescala, os valores de consistência interna são os reportados anteriormente para as subescalas pressão para o rendimento e conflitos. A decisão metodológica de separar as subescalas em positivas e negativas foi utilizada em algumas análises de correlação entre variáveis e, principalmente, nas análises de regressão com o objetivo de tornar a compreensão dos dados mais inteligível. Para as análises por grupos etários, a amostra foi dividida em três grupos distintos com as caraterísticas já enumeradas na secção participantes. Assim, atendendo aos três grupos, foram realizadas ANOVAs a 1 fator para explorar as diferenças nas diversas variáveis de suporte social em função dos grupos etários. Foram utilizadas correlações de Pearson para aceder às correlações entre as várias subescalas de todos os instrumentos tanto na amostra total como na amostra por grupos etários; todas as subescalas foram aqui utilizadas dado que podemos basear previsões específicas na literatura. Para explorar se as variáveis de suporte social (QCPD, EQAD e MCTA) predizem os diferentes tipos de motivação e quais as melhores preditoras, foram realizadas análises de regressão múltipla. Foi escolhido o método stepwise, visto que a literatura não aponta nenhuma hierarquia entre as três variáveis e dado tratar-se de um estudo exploratório da combinação do papel de todos os agentes em simultâneo. Este método foi utilizado tanto para a amostra total como para prever modelos nos três grupos etários distintos. Para estas análises, e por assumirem uma natureza mais exploratória, optámos por usar apenas os fatores positivos e negativos de cada instrumento de modo a simplificar estas análises e a sua leitura (ver também Ullrich-French & Smith, 2006).
Resultados Diferenças no suporte social Olhando para as subescalas de cada instrumento, verificam-se alterações significativas, em alguns subescalas, entre os diferentes grupos etários (cf. Anexo 5). No que respeita ao suporte social proveniente do pai (fig. 1), verificámos diferenças significativas nas variáveis influência técnica e expetativas desportivas, sendo que na primeira só se verificam diferenças significativas entre a faixa etária inferior e superior (p = .002) e na segunda as diferenças significativas são entre a faixa etária inferior (p = .008) e a intermédia e a inferior e a superior (p < .001). A diferença entre a faixa etária intermédia e superior é marginalmente significativa (p =.596).
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Escala referente ao Pai - QCPDP 5 4,5
4,53
4,3 4,26
4,1
4
3,81 3,79
4,04
3,76
3,53
3,33
3,5
2,99
3
2,36 2,34
2,5 2
2,73
2,05
1,5 1 0,5 0
Apoio desportivo
Acompanhamento Influência Técnica* Competitivo 9-12 anos
13-15 anos
Pressão para o rendimento
Expetativas Desportivas*
16-19 anos
Figura 1: Valores médios das subescalas de suporte social para a variável Pai. As subescalas assinaladas com * correspondem às subescalas nas quais foram encontradas diferenças significativas entre grupos etários, nomeadamente influência técnica e expetativas desportivas). As restantes subescalas não apresentam diferenças significativas relacionadas com a idade. Já a perceção do suporte recebido por parte da mãe (fig. 2) apresenta diferenças significativas nas subescalas de apoio desportivo, acompanhamento competitivo, influência técnica e expetativas desportivas. A primeira subescala apresenta alterações significativas entre a faixa etária 9-12 e a 13-15 (p = .007) e marginalmente significativas entre os 9-12 e os 16-19 anos (p = .056). O acompanhamento desportivo mostra alterações significativas apenas entre a primeira e a segunda faixas etárias (p = .045). A restantes subescalas (influência técnica e expetativas desportivas) apresentam alterações significativas entre a faixa etária dos 9-12 e 1315 (p = .012 e p < .001, respetivamente), bem como 9-12 e 16-19 (p = .003 e p = .001, respetivamente). Em ambas as escalas referentes aos pais, todas as diferenças significativas indicam uma diminuição da pontuação da faixa etária inferior para a superior.
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Escala referente à Mãe - QCPDM 5
4,59
4,5
4,18 4,22
4
4,02 3,53 3,52
3,5
3,48
3,4
2,78
3 2,5
2,73 2,65
2,56 2,12 2,08
2
1,81
1,5 1
Apoio Desportivo*
Acompanhamento Influência Técnica* Competitivo* 9-12 anos
13-15 anos
Pressão para o Rendimento
Expetativas Desportivas*
16-19 anos
Figura 2: Valores médios das subescalas de suporte social para a variável Mãe. As subescalas assinaladas com * correspondem às subescalas nas quais foram encontradas diferenças significativas entre grupos etários. A subescala pressão para o rendimento não apresenta diferenças significativas relacionadas com a idade. Já no que concerne à Escala da Qualidade da Amizade Desportiva (fig. 3), temos as subescalas lealdade e intimidade e conflitos do instrumento com variações significativas e positivas nos diferentes grupos etários. Na primeira, as diferenças significativas ocorrem entre os 9-12 e 13-15 anos (p = .012) e os 9-12 e 16-19 (p = .016), por sua vez, na segunda as diferenças entre os 9-12 e 13-15 são significativas (p = .017) e entre os 9-12 e 16-19 são marginalmente significativas (p = .058). Ambas as subescalas apresentam um aumento da pontuação com o aumento da idade. As restantes subescalas dos instrumentos suprarreferidos, bem como a medida referente ao treinador não apresentam diferenças significativas quando comparando os grupos etários.
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Escala referente aos Pares - EQAD 5 4,5
4,25 4,26
4,42 3,86
4
4,19 4,24
4,52 4,44 4,4 3,91 3,97 4,03
4,19 4,12
4,32
3,5 3
2,51 2,5
2,5
2,02
2 1,5 1
Melhoria e Suporte da Autoestima
Lealdade e Intimidade*
Coisas em Comum
9-12 anos
Companheirismo e Jogo Agradável
13-15 anos
Resolução de Conflitos
Conflitos*
16-19 anos
Figura 3: Valores médios das subescalas de suporte social para a variável Pares. As subescalas assinaladas com * correspondem às subescalas nas quais foram encontradas diferenças significativas entre grupos etários - lealdade e intimidade e conflitos. As diferenças das restantes subescalas são não significativas no que concerne às diferenças referentes à idade.
Análises de correlação entre variáveis A motivação autodeterminada apresentou uma correlação elevada negativa com a amotivação e elevada positiva com a motivação intrínseca, o vai de encontro à interpretação habitualmente realizada para este score total como um contínuo. As correlações entre as variáveis do estudo são apresentadas numa tabela no anexo 4. De um modo geral, verificam-se correlações positivas significativas entre as escalas referentes aos pais (QCPDP e QCPDM) e a subescala de motivação extrínseca, com exceção da subescala pressão para o rendimento. Verifica-se também um padrão do apoio desportivo e pressão para o rendimento que se correlacionam com a amotivação, de forma negativa e positiva, respetivamente. Quanto ao índice de motivação autodeterminada, este apresenta, tanto para a mãe como para o pai, uma correlação positiva com as subescalas apoio desportivo e acompanhamento competitivo e correlação negativa com a subescala pressão para o rendimento. A influência técnica, por sua vez, só se correlaciona positivamente com o índice de motivação autodeterminada em relação ao pai.
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Por outro lado, a motivação intrínseca, apesar de apresentar correlações com algumas subescalas dos instrumentos relativos aos pais, apresenta um padrão de correlações positivas mais sistemático com a EQAD. Todas as subescalas referentes aos pares se correlacionam positivamente com a motivação intrínseca com exceção da subescala de conflitos que apresenta uma correlação negativa próxima do significativo (p = .08). Novamente temos todas as subescalas da EQAD a correlacionar-se com o índice de motivação autodeterminada, à exceção da subescala coisas em comum. Todas estas correlações com a motivação autodeterminada são positivas, à exceção da subescala de conflitos que se relaciona negativamente. No que concerne à escala referente ao treinador, esta medida correlaciona-se significativa e positivamente com as subescalas de motivação intrínseca e extrínseca bem como com o índice de motivação autodeterminada. A sua correlação significativa com a subescala de amotivação é negativa. Já a análise das correlações por grupos etários pode ser analisada com recurso à Tabela 1. No que respeita ao suporte por parte do pai, na faixa etária mais jovem (9-12 anos) verificase uma correlação positiva dos comportamentos positivos do pai com a motivação extrínseca. Quanto à escala negativa (pressão para o rendimento), esta apresenta correlação negativa com a motivação autodeterminada e positiva com a subescala de amotivação. Na faixa etária intermédia (13-15 anos), verifica-se o padrão dos comportamentos positivos a correlacionarem positivamente com o índice de motivação autodeterminada e motivação intrínseca e negativamente com a amotivação. Na faixa etária dos 16 aos 19 anos, verifica-se um padrão semelhante ao encontrado na faixa etária mais jovem – os comportamentos positivos correlacionam com a motivação extrínseca e os negativos com a motivação autodeterminada e a subescala amotivação.
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Tabela 1 Correlações entre escalas de suporte social e escalas de motivação 9 – 12 anos (n = 71) IM A Pai_pos Pai_neg Mãe_pos Mãe_neg Pares_pos Pares_neg Treinador
.03 .51** -.09 .49
**
.07 .38** .05
13 – 15 anos (n = 78) IM
AM
MI
ME
MI
ME
.02
.08
.25*
.31** -.27* .29**
.21
.25
-.10
.29
.47**
.42**
-.10
.21
-.10
.03
-.07
.01
-.32*
.37*
-.15
.19
.14
.06
.34**
.24*
-.24*
.22
.24*
.45** -.33*
.37*
.12
.50**
-.08
.23
-.29* .30** -.22*
-.02
-.17
.20
-.13
.11
.11
.25*
.23
.46** -.25* .60**
.14
.13
.10
.35*
-.17
.48**
-.15
.10
-.11
-.09
-.03
-.28
.08
-.16
.17
-.08
.16
.13
.38**
.38**
.20
.08
-.14
.01
.04
.14 .32**
MI
ME
IM
AM
A
AM
16 – 19 anos (n = 43) A
Notas. Correlações, N= 192; *p < .05; **p < .01. IMA: índice de motivação autodeterminada; AM: Amotivação; MI: motivação intrínseca; ME: motivação extrínseca; QCPDP_pos: componente positiva do pai; QCPDP_neg: subescala pressão para o rendimento do pai; QCPDM_pos: componente positiva da mãe; QCPDM_neg: subescala pressão para o rendimento da mãe; EQAD_pos: componente positiva dos pares; EQAD_neg: subescala conflitos dos pares; MCTA – Medida de Compatibilidade Treinador Atleta. No que diz respeito ao papel da mãe, na faixa etária dos 9 aos 12 anos, verifica-se um padrão semelhante ao encontrado nas análises do pai na mesma faixa etária. Assim, os comportamentos positivos correlacionam-se com a motivação extrínseca e a subescala negativa correlaciona-se positiva e negativamente com as subescalas amotivação e motivação autodeterminada, respetivamente. Na faixa etária seguinte (13-15 anos) verifica-se que ambos os comportamentos, positivos e negativos, se correlacionam com a motivação autodeterminada e amotivação, mas em sentidos opostos. Ou seja, os comportamentos positivos relacionam-se positivamente com a primeira e negativamente com a segunda e o contrário acontece com os comportamentos negativos. Quanto à motivação intrínseca, esta correlaciona-se negativamente apenas com os comportamentos negativos e a extrínseca positivamente apenas com os comportamentos positivos. Na última faixa etária, os comportamentos positivos passam a 16
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correlacionar com todos os tipos de motivação à exceção da extrínseca sendo a correlação com a amotivação negativa. Quanto aos comportamentos negativos não se verifica qualquer correlação significativa. Relativamente ao papel dos pares, verifica-se uma correlação positiva entre os comportamentos positivos e a motivação intrínseca em todas as faixas etárias. Além desta, a subescala negativa correlaciona-se negativamente com a motivação autodeterminada e positivamente com a amotivação. Na faixa etária dos 13 aos 15 anos, os comportamentos negativos não apresentam qualquer correlação significativa. Por sua vez, os comportamentos positivos apresentam correlação positiva com a motivação autodeterminada e com a motivação intrínseca e negativa com a amotivação. Na última faixa etária, os comportamentos positivos dos pares apresentam correlação positiva com a motivação intrínseca e não se verifica qualquer outra correlação significativa. No que concerne ao treinador, não se verificam correlações positivas com nenhuma medida de motivação nem na faixa etária mais jovem nem na faixa etária superior. Na faixa etária dos 13 aos 15 anos verificam-se correlações positivas com a motivação autodeterminada e a motivação intrínseca e negativa com a subescala de amotivação. Análises de regressão múltipla – modelos propostos Do ponto de vista da amostra total, para o índice de motivação autodeterminada, obtevese um modelo final significativo: F(4, 187) = 15.01, p < .001. Este explica 22.7% da variância dos resultados. Neste modelo foram contempladas as variáveis dos comportamentos negativos e positivos da mãe e positivos e negativos dos pares. Destas variáveis tem-se que as negativas predizem negativamente a motivação autodeterminada, ao contrário do que acontece com a mãe_pos e pares_pos, que predizem positivamente a motivação autodeterminada. Assim, quanto mais elevada a pressão para o rendimento por parte da mãe e os conflitos com os pares, menor a motivação e quanto mais elevada a componente positiva do pai e dos pares mais elevada a motivação (cf. Tabela 2). A explicar 18.6 % da variância da amotivação surge um modelo que integra 3 variáveis preditoras –mãe_neg, mãe_pos e pares_neg. O modelo explica os resultados de forma significativa, F(3, 188) = 15.51, p < .001. Neste modelo de três fatores, tem-se os comportamentos negativos da mãe e dos pares com relações positivas com a variável dependente e os comportamentos positivos da mãe com relação negativa. Portanto, ao aumentar a pressão para o rendimento (mãe) e os conflitos com os pares, a amotivação (i.e., a falta de
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controlo e ausência de intenção para a realização do comportamento) aumenta. O contrário acontece com a componente positiva da escala da mãe que aumentando, diminui a amotivação. O modelo obtido para a motivação extrínseca inclui apenas duas variáveis preditoras – pai_pos e mãe_pos. Este modelo explica de forma significativa 10.1% da variância da motivação extrínseca, F(2, 189) = 11.72 , p < .001. As variáveis preditoras suprarreferidas relacionam-se positivamente com a motivação extrínseca, ou seja, quanto mais elevada a componente positiva do pai e da mãe, mais elevada esta componente da motivação. O modelo final, para a motivação intrínseca, contempla os pares_pos e pares_neg. Este modelo explica, de forma significativa, 19.6% da variância dos resultados, F(2, 189) = 24.31, p < .001. A componente positiva e a subescala de conflitos, ambos dos pares, relacionam-se positiva e negativamente com a motivação intrínseca, respetivamente. Deste modo, quando a componente positiva aumenta, a motivação intrínseca também aumenta, e quando a subescala de conflitos diminui, a motivação diminui também.
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Tabela 2 Sistematização dos modelos originados nas análises de regressão múltipla para a amostra total B
STE
Β
t
Índice de motivação autodeterminada (r2=.23) Mãe_neg
-1.30
.26
-.34
-5.04**
Mãe_pos
.92
.31
.20
2.93**
Pares_pos
1.71
.52
.22
3.29**
Pares_neg
-.78
.25
-.20
-3.10**
Amotivação (r2=.19) Mãe_neg
.44
.08
.36
5.39**
Mãe_pos
-.30
.10
-.21
-3.11**
Pares_neg
.23
.08
.19
2.89**
Motivação extrínseca (r2=.20) Pai_pos
.38
.14
.22
2.80**
Mãe_pos
.25
.13
.16
2.03*
Motivação intrínseca (r2=.10) Pares_pos
.79
.12
.44
6.69**
Pares_neg
-.16
.06
-.18
-2.81**
Notas. * p < .05; ** p < .01. QCPDP_pos - componente positiva do QCPDP; QCPDM_pos – componente positiva do QCPDM; QCPDM_neg – subescala pressão para o rendimento do QCPDM; EQAD_pos - componente positiva da EQAD; EQAD_neg – subescala conflitos da EQAD. No que concerne à amostra por grupos etários, obtém-se, para o índice de motivação autodeterminada, no grupo 9-12 anos, o modelo final significativo: F(3, 67) = 11.88, p < .001. Este explica 31.8% da variância dos resultados. Neste modelo são contempladas as variáveis pai_neg, pares_neg e pai_pos. Destas variáveis tem-se que a pressão para o rendimento dos pais e a subescala conflito dos pares predizem negativamente a motivação autodeterminada, ao contrário do que acontece com a componente positiva dos comportamentos do pai, que predizem positivamente a motivação autodeterminada. Assim, quanto mais elevada a pressão para o rendimento por parte do pai e os conflitos com os pares, menor a motivação e quanto mais elevada a componente positiva do pai, mais elevada a motivação. No grupo dos 13 aos 15 19
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anos, verifica-se que o modelo prediz cerca de 31.1% da motivação autodeterminada, F(4, 73) = 9.70, p < .001. Este modelo engloba as variáveis pares_pos, treinador, mãe_neg e mãe_pos. Todas apresentam uma relação positiva com o índice de motivação autodeterminada, fazendoo aumentar quando estas aumentam, à exceção dos comportamentos negativos da mãe cujo aumento faz diminuir este tipo de motivação. Por último, no grupo de maior idade (16-19), o modelo é explicativo de uma percentagem de 18.2% da motivação autodeterminada, F(1, 41) = 10.37, p = .003. A única variável incluída neste modelo é a componente positiva dos comportamentos da mãe que varia positivamente com a motivação autodeterminada, ou seja, quando uma aumenta, o mesmo ocorre à outra. A contribuição de cada variável para cada modelo pode ser encontrada na Tabela 3. No que diz respeito à amotivação, no grupo dos 9 aos 12 anos, 34.5% da mesma é explicada pelo modelo que inclui duas variáveis preditoras: mãe_neg e pares_neg, F(2, 68) = 19.40, p < .001. Ambas as variáveis apresentam uma relação positiva com a amotivação, ou seja, quando estas aumentam, também a amotivação aumenta. Já o modelo, F(4, 73) = 7.23, p < .001, explica 24.5% dos resultados de forma significativa para o grupo etário intermédio (1315). Neste modelo temos como fatores treinador, mãe_neg, mãe_pos e pai_neg. Todas as variáveis se relacionam de forma negativa com a amotivação, à exceção dos comportamentos negativos da mãe. Assim quando os primeiros aumentam a amotivação diminui e quando o mãe_neg aumenta a amotivação também aumenta. O fator do modelo para a faixa etária dos 16 aos 19 anos é a componente positiva do pai, que apresenta uma relação positiva com a variável dependente e que gera o modelo F(1, 41) = 6.61, p = .014. Este explica 11.8% da variância da amotivação e quando o pai_neg aumenta, a amotivação também aumenta. Para a motivação extrínseca, a mãe_pos compõe o modelo proposto para o grupo dos 9 aos 12 anos. Pela sua relação positiva com este tipo de motivação sabe-se que o aumento desta pressupõe o aumento da motivação extrínseca. Esta variável explica 10.2% da variância da motivação extrínseca dando origem ao modelo significativo, F(1, 69) = 8.97 , p = .004. O modelo proposto para a faixa etária intermédia (13-15) inclui uma variável preditora – mãe_pos. Este modelo, embora significativo, explica apenas 4.3% da variância da motivação extrínseca, F(1, 76) = 4.49 , p = .037. A variável suprarreferida relaciona-se positivamente com a motivação extrínseca, ou seja, quanto mais elevada a componente positiva do QCPDM, mais elevada esta componente da motivação. Já para o grupo dos 16 aos 19 anos, o modelo encontrado apresenta explicação para 20.1% da variância F(1, 41) = 11.55 , p = .002. Neste caso, a variável incluída é a mãe_pos e, à medida que esta aumenta, também a motivação extrínseca aumenta.
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Para a motivação intrínseca, o modelo encontrado, para as idades compreendidas entre os 9 e os 12, engloba a variável pares_pos, F(1, 69) = 4.45, p = .039, como pode ser analisado na tabela 3. Esta variável relaciona-se com a motivação de forma positiva e ajuda a explicar 4.7% deste tipo de motivação. Assim, quando os comportamentos positivos dos pares aumentam, a motivação intrínseca também aumenta. Já o modelo para a faixa etária 13-15 contempla as variáveis pares_pos e treinador. Este modelo explica, de forma significativa, 38.2% da variância dos resultados, F(2, 75) = 24.83, p < .001. As variáveis relacionam-se positivamente com a motivação intrínseca. Deste modo, quando estas aumentam, a motivação intrínseca também aumenta. Finalmente, para a faixa etária acima (16-19), o modelo encontrado explica 23.6% da variância da motivação intrínseca, F(2, 40) = 7.47, p = .002. As variáveis englobadas neste modelo são mãe_pos e pares_pos. Como estas variam de forma positiva, à medida que aumentam, a motivação intrínseca também aumenta. A síntese dos modelos pode ser consultada na tabela 4. Tabela 3 Sistematização dos modelos originados nas análises de regressão múltipla por grupos etários B
STE
Β
t
Índice de motivação autodeterminada Pai_neg
-1.64
.36
-.49
-4.50**
Pares_neg
-.91
.39
-.24
-2.34*
Pao_pos
.93
.47
.21
2.01*
Pares_pos
2.85
.91
.32
3.13**
13-15 anos
Treinador
.52
.29
.19
1.77*
(r2=.31)
Mãe_neg
-1.11
.41
-.27
-2.69**
Mãe_pos
1.04
.51
.21
2.04*
2.33
.72
.45
3.22**
9-12 anos (r2=.32)
16-19 anos (r2=.18)
Mãe_pos
Amotivação 9-12 anos (r2=.35) 13-15 anos (r2=.25)
Mãe_neg
.42
.11
.38
3.74**
Pares_pos
.45
.13
.36
3.46**
Treinador
-.15
.08
-.19
1.80*
Mãe_neg
.60
.15
.53
4.01**
Mãe_pos
-.41
.15
-.30
-2.80**
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Pai_neg 16-19 anos (r2=.12)
Pai_neg
-.32
.14
-.29
-2.28*
.50
.20
.37
2.57*
.66
.22
.34
2.99**
.34
.16
.24
2.12*
.90
.27
.47
3.40**
Motivação extrínseca 9-12 anos (r2=.10) 13-15 anos (r2=.04) 16-19 anos (r2=.20)
Mãe_pos Mãe_pos Pai_pos
Motivação intrínseca 9-12 anos (r2=.05)
Pares_pos
.42
.20
.25
2.11*
13-15 anos
Pares_pos
1.08
.19
.53
5.60**
(r2=.38)
Treinador
.13
.06
.21
2.16*
16-19 anos
Mãe_pos
.38
.14
.38
2.84*
(r2=.24)
Pares_pos
.57
.21
.37
2.71*
Notas. *p < .05; **p < .01. QCPDP_pos – componente positiva do QCPDP; QCPDP_neg – subescala pressão para o rendimento do QCPDP; QCPDM_pos – componente positiva do QCPDM; QCPDM_neg – subescala pressão para o rendimento do QCPDM; EQAD_pos – componente positiva da EQAD; EQAD_neg – subescala conflitos da EQAD; MCTA – Medida de Compatibilidade Treinador-Atleta.
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
Tabela 4 Sistematização das variáveis incluídas em cada modelo significativo obtido nas análises de regressão múltipla para o Índice de Motivação Autodeterminada (IMA), a Amotivação (AM), a Motivação Extrínseca (ME) e a Motivação Intrínseca (MI), para a amostra total e para cada grupo etário considerado. São ainda apresentadas as percentagens de variância explicada por cada modelo. 9-19 anos
9-12 anos
Mãe_neg IMA
Mãe_pos Pares_pos
22.7% Pares_neg 31.8% Pai_pos
Mãe_pos
18.6%
Pares_neg ME MI
Pai_pos Mãe_pos Pares_pos Pares_neg
anos
anos
Treinador Mãe_neg
31.1%
Mãe_pos
18.2%
Mãe_pos Treinador
Mãe_neg AM
16-19
Pares_pos
Pai_neg
Pares_neg
13-15
Mãe_neg Pares_neg
34.5%
Mãe_neg Mãe_pos
24.5%
Pai_neg
11.8%
Pai_neg 10.1% 19.6%
Mãe_pos Pares_pos
10.2% 4.7%
Mãe_pos Pares_pos Treinador
4.3% 38.2%
Pai_pos Mãe_pos Pares_pos
20.1% 23.6%
Nota. A ordem de apresentação corresponde à ordem pela quais são inseridas nos modelos de regressão múltipla. Discussão Motivado por algumas questões de conflito geradas por pais no contexto desportivo e retratadas pela comunicação social, o propósito deste estudo passa por compreender o impacto do suporte social recebido por diferentes agentes (i.e., treinador, pai, mãe e pares/ colegas de equipa) na motivação desportiva de jovens, considerando-os de uma forma global e em diferentes grupos etários. As diferenças encontradas, no papel do suporte social per se (notório através de uma visão geral de todos os instrumentos), entre os grupos etários aparecem maioritariamente quando comparado o grupo mais novo (i.e., 9-12 anos) com o grupo intermédio (i.e., 13-15 anos) ou com o grupo mais velhos (i.e., 16-19 anos). Estes dados revelam que a maior parte das
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
diferenças se encontram entre o grupo mais novo e os restantes, sendo que para os atletas entre os 13 e os 15 e entre os 16 e os 19 anos as diferenças não são tão notórias. No que diz respeito aos pais, os valores na subescala de influência técnica apresentam uma diminuição significativa com o aumento da idade em ambos os pais. Por outro lado, as subescalas apoio desportivo e acompanhamento competitivo apenas apresentam diminuições significativas para a mãe, apesar de, para o pai, se notar esse padrão, ainda que de forma não significativa. Todos estes dados vão de encontro ao esperado (Gomes, 2010; Vasconcelos & Gomes, 2015). No entanto, verifica-se uma diminuição inesperada das expetativas desportivas dos pais percecionadas pelos atletas com o aumento da idade. Quanto aos pares, as subescalas lealdade e intimidade e conflitos aumentaram significativamente ao longo do tempo, tal como esperado (M. R. Weiss & Smith, 2002). Quanto às restantes subescalas – coisas em comum e companheirismo e jogo agradável, apesar de não apresentarem alterações significativas, as pequenas alterações vão no sentido esperado, ou seja, a subescala coisas em comum tende a aumentar e a companheirismo e jogo agradável tende a diminuir; estes resultados são consistentes com a manutenção do companheirismo encontrada por W. Weiss e Weiss (2007). Em relação ao treinador não se verificaram alterações significativas, contrariamente ao esperado, indo contra a hipótese de que a importância deste aumentava ao longo do desenvolvimento (Côte et al., 2003). Esta manutenção inesperada dos resultados pode dever-se à natureza do instrumento utilizado, que será discutida adiante. Assim, de um modo geral, os nossos resultados referentes ao papel desempenhado pelos pais e pares nos diferentes grupos etários vão de encontro ao defendido por Côte e colaboradores (2003); a única exceção ocorreu para a relevância do treinador. Atendendo à influência do suporte social na motivação, tal como previsto, verifica-se que valores superiores de suporte social levam a valores mais elevados das subescalas da motivação e que valores mais elevados em subescalas negativas se correlacionam com valores mais elevados na subescala de amotivação. Ou seja, comportamentos percecionados como positivos têm um impacto positivo e comportamentos negativos impactam negativamente na motivação. Verifica-se, ainda, uma dominância do impacto dos pais (com particular ênfase para a mãe) nos diversos tipos de motivação, à exceção da motivação intrínseca em que são mais influentes os pares. O treinador apresenta uma influência mais dispersa pelos vários tipos de motivação, contudo, não aparece representado nos modelos gerados. Esta ausência pode deverse ao facto de os outros agentes de suporte apresentarem uma influência superior ou, por outro lado, pode estar relacionado com a natureza do instrumento que avalia a compatibilidade e não comportamentos de suporte per se. 24
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
Quando olhamos para esta influência do suporte social na motivação do ponto de vista desenvolvimental (cf. síntese dos modelos na tabela 4 e anexo 6), o padrão geral que podemos observar em cada faixa etária vai de encontro ao padrão geral encontrado. Novamente, os pais surgem como tendo maior importância para a motivação extrínseca e os pares para a motivação intrínseca. O facto de os pais manterem a sua influência nos diferentes grupos etários vai de encontro à literatura que aponta os pais como uma figura de suporte social preponderante para a prática desportiva dos atletas (Babkes & Weiss, 1999). Os comportamentos negativos dos pares, apesar de apresentarem um aumento de frequência com o aumento da idade, apenas aparecem como influentes na faixa etária dos 9 aos 12 anos. Estes dados vão de encontro ao facto de os conflitos passarem a ser uma realidade mais comum no meio competitivo e, por isso, com menor impacto à medida de que a idade avança (M. R. Weiss & Smith, 2002). O facto de em idades mais novas as relações com os pares terem maior influência, também suporta esta conclusão (Ullrich-French & Smith, 2006). Por outro lado, os comportamentos positivos dos pares têm sempre correlação positiva com a motivação intrínseca, sem alterações de relevo entre grupos etários. Isto pode dever-se ao facto de os atletas, a partir de cerca dos 16 anos, procurarem amizades fora do desporto para suprir as suas necessidades emocionais, mantendo, deste modo, constantes as suas amizades desportivas (Côte et al., 2003). Por conseguinte, o melhor amigo do atleta pode não corresponder ao melhor amigo na equipa (Riley & Smith, 2011). Contrariamente aos modelos gerais, o papel do treinador na motivação desportiva aparece referenciado na idade intermédia (13-15 anos) mostrando que a compatibilidade treinador-atleta tem mais influência na motivação nesta faixa etária. Ainda que o instrumento utilizado nos tenha cingido à avaliação do treinador com base na compatibilidade, pela ausência de outro instrumento validado para a nossa população que permitisse a avaliação de dimensões mais referidas na literatura (e.g., comportamentos de suporte do treinador), os resultados presentes não vão ao encontro da literatura que mostra uma crescente influência do treinador com o avanço da idade (Côte et al., 2003). Em síntese, os modelos não evidenciam diferenças que permitam defender que a influência do suporte social na motivação oscila ao longo do desenvolvimento, apesar de apontarem para uma diminuição do suporte por parte dos pais e aumento por parte dos pares. No entanto, este padrão não se verifica quando analisada a influência do suporte social na motivação em diferentes grupos etários. Deste modo, os pais surgem como figura preponderante em quase todos os modelos (com exceção da motivação intrínseca) o que vai ao encontro do papel significativo dos pais encontrado por Trouilloud e Amiel (2011). Ainda, todos os modelos 25
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
apresentados explicam desde 4% a 38% da variância dos resultados. Apesar de cinco dos modelos apresentarem valores relativamente baixos, os restantes modelos apresentam valores acima de 17% que é o valor apresentado por Ullrich-French e Smith (2006). Isto demonstra que existem outros fatores a ter elevado impacto na motivação desportiva além destes três agentes de suporte social (e.g., expetativas, autoestima). Ao retirar estas conclusões relativamente ao papel do treinador assumimos alguma cautela, dadas as particularidades do instrumento usado para avaliar esta última variável. Apesar deste apresentar correlações significativas com alguns tipos de motivação, não aparece contemplado em nenhum modelo, o que se poderá dever ao reduzido número de itens (5 itens) e ao facto de não se tratar de um instrumento de avaliação do suporte social, mas sim da compatibilidade. A utilização do mesmo deveu-se a ausência de outra alternativa para a nossa população que permitisse analisar esta variável com maior foco na perceção dos comportamentos em si. Assim, sugere-se, num próximo estudo, a utilização de um instrumento mais dirigido para o apoio social (designadamente o Coach – Athlete
Relationship
Questionnaire, Jowett & Ntoumanis, 2004) que avalie a perceção de comportamentos de suporte do treinador de forma semelhante aos outros instrumentos utilizados. Uma limitação deste trabalho prende-se com o facto de, nas análises por grupos etários, estes serem constituídos por dimensões variadas, embora próximas. Embora o objetivo inicial fosse a recolha de grupos de dimensões equivalentes, as dificuldades encontradas na recolha de dados, nomeadamente na obtenção dos consentimentos informados por parte dos pais, não permitiram a sua concretização em tempo útil. Apesar disso, o n por grupo etário pode ser considerado aceitável, uma vez que se trata da sua utilização num contexto exploratório. Ainda assim, realçando a importância do estudo dos grupos etários e do suporte social ao longo do desenvolvimento desportivo, sugere-se que se realizem estudos longitudinais e que seja recolhida uma amostra mais elevada e homogénea que permita fazer comparações entre grupos etários e retirar conclusões mais robustas. Outra questão que pode dificultar a discussão dos dados, prende-se com o facto dos estádios propostos por Côte e colaboradores (2003) e Durand-Bush e Salmela (2002) se basearem em caraterísticas da etapa de desenvolvimento desportivo e não na idade cronológica. Isto pode motivar as diferenças dos resultados encontrados em relação aos modelos propostos pelos autores. Provavelmente, atendendo às caraterísticas da amostra, grande parte dos atletas insere-se no estádio specializing years por haver um elevado foco da prática desportiva numa só modalidade e uma diminuição da prática recreativa. Por isso, em estudos futuros, é
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
importante avaliar as diferenças do suporte social em atletas em diferentes estádios de desenvolvimento desportivo e não atender exclusivamente à idade cronológica. Quanto às análises utilizadas, dado que se tratou de um trabalho exploratório, utilizámos regressões lineares múltiplas baseadas no método stepwise, por serem dependentes da amostra e das correlações com a variável dependente. Assim, podem ser realizados mais estudos que confirmem as relações hierárquicas encontradas, com recurso a outro tipo de análises, que permitam sustentar ou ajustar a teoria. Os resultados aqui reportados não podem ainda ser generalizados a qualquer prática desportiva dado que utilizámos uma amostra cujos atletas, por estarem envolvidos num desporto organizado, já estão, por si só, altamente motivados para a prática desportiva. Deste modo, estudos futuros deverão procurar perceber esta influência do suporte social em jovens com formas de prática desportiva mais díspares (e.g., estudantes praticantes regulares de exercício físico). Ademais, seria interessante explorar a influência do suporte social na motivação, tanto em modalidades coletivas como individuais, uma vez que, na literatura, já são reportadas algumas diferenças (e.g., Gomes & Zão, 2007). Em suma, os estudos nesta área, abrangendo os três agentes de suporte social, são ainda escassos, por isso, este trabalho constitui um avanço científico ao combinar o impacto de três agentes – treinador, pais e pares. Os nossos resultados reforçam a ideia de que existem alterações do suporte social quando comparamos atletas com idades díspares. Foi ainda possível explorar o impacto do suporte social na motivação, novamente a partir de uma perspetiva desenvolvimental, atendendo aos vários tipos de motivação e não apenas à motivação como um todo. Esta análise revelou que diferentes agentes são relevantes em diferentes aspectos motivacionais. Adicionalmente, estes resultados podem ser guias para intervenções mais eficazes na motivação dos atletas, nomeadamente ao sugerir quais os fatores que potenciam a motivação em cada faixa etária e que podem ser trabalhos pelos clubes; em particular, os comportamentos positivos dos pais e pares parecem ser aqueles que mais contribuem para manter os jovens com elevados níveis de motivação para a prática desportiva. Por outro lado, também dão indiciações de quais os fatores que têm um impacto negativo (e.g., pressão para o rendimento por parte dos pais) e cuja diminuição pode constituir uma mais-valia para a saúde dos atletas e vivência social. Assim, com a replicação de estudo, é possível dar uma robustez maior aos modelos propostos e, a partir dos mesmos, construir planos de atuação focados na potenciação da motivação (e desempenho) dos atletas.
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
Anexos Anexo 1 – Informações sociodemográficas Estudo 2 (N=192) Sexo Idade Treino Semanal Idade de Início Anos de Prática Anos com o atual treinador Anos com a atual equipa
Feminino
67
Masculino
125
Média (Desvio-Padrão)
13.58 (2.11)
Mínimo – Máximo
9 – 19
Média (Desvio-Padrão)
5.64 (1.57)
Mínimo – Máximo
3 – 10
Média (Desvio-Padrão)
8.79 (2.50)
Mínimo – Máximo
3 – 14
Média (Desvio-Padrão)
5.02 (2.95)
Mínimo – Máximo
1 – 13
Média (Desvio-Padrão)
1.84 (1.21)
Mínimo – Máximo
1–7
Média (Desvio-Padrão)
2.47 (1.81)
Mínimo – Máximo
1–8
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
Anexo 2 – Distribuição da amostra pelas diferentes faixas etárias Escalão considerado
Idade 9
Sub-10 10 11 Sub-12 12 13 Sub-14 14 15 Sub-16 16 17 Sub-18
18 19
Sexo
Estudo 2 (N=192)
Feminino
0
Masculino
1
Feminino
4
Masculino
6
Feminino
6
Masculino
12
Feminino
16
Masculino
26
Feminino
11
Masculino
20
Feminino
11
Masculino
16
Feminino
8
Masculino
12
Feminino
6
Masculino
15
Feminino
3
Masculino
15
Feminino
1
Masculino
2
Feminino
1
Masculino
0
34
2018-19 TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
Anexo 3 – Estatísticas descritivas das várias subescalas, para a amostra total Agente
Subescala
Min – Max
M (DP)
Apoio desportivo
1–5
4.38 (0.74)
Acompanhamento
1–5
3.92 (1.20)
Influência técnica
1–5
3.77 (1.11)
Pressão para o
1–5
2.29 (1.11)
Expetativas desportivas
1–5
3.13 (1.11)
Apoio desportivo
1–5
4.34 (0.83)
Acompanhamento
1–5
3.71 (1.23)
Influência técnica
1–5
2.96 (1.35)
Pressão para o
1–5
2.04 (1.08)
Expetativas desportivas
1–5
2.99 (1.21)
Melhoria e suporte da
1–5
4.29 (0.63)
Lealdade e intimidade
1–5
4.08 (0.71)
Coisas em comum
1–5
3.96 (0.62)
Companheirismo e jogo
1–5
4.46 (0.60)
Resolução de conflitos
1–5
4.19 (0.74)
Conflitos
1–5
2.33 (1.08)
1–9
6.41 (1.67)
-18 – 18
8.75 (4.19)
Amotivação
1–7
2.07 (1.30)
Motivação Intrínseca
1–7
6.02 (0.95)
Motivação Extrínseca
1–7
4.14 (1.41)
competitivo Pai
rendimento
competitivo Mãe
rendimento
autoestima
Pares
agradável
Treinador Motivação autodeterminada Motivação
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441
TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
Anexo 4 – Correlações de todas as subescalas do estudo 1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
1
1
2
-.73**
1
3
.68**
-.25**
1
4
-06
.20**
.39**
1
5
.18*
-.14
.21**
.30**
1
6
.26**
-.18*
.25**
.22**
.85**
1
7
.16*
-.07
.14
.16*
.75**
.60**
1
8
.14*
-.10
.18*
.26**
.89**
.71**
.55**
1
9
-.29**
.24**
-.10
.14
.21**
.01
.12
.22**
1
10
.01
-.10
.09
.32**
.67**
.43**
.24**
.48**
.29**
1
11
.17*
-.15*
.19*
.27**
.50**
.40**
.27**
.42**
.05
.49**
1
12
.30**
-.25**
.29**
.18*
.38**
.41**
.26**
.29**
-.09
.29**
.78**
1
13
.20**
-.12
.18*
.18*
.32**
.32**
.37**
.23**
-.02
.11
.70**
.54**
14
.04
-.07
.07
.23**
.40**
.29**
.15*
.42**
.10
.38**
.87**
.51**
15
-.33**
.33**
-.16*
.12
.08
-.09
-.05
.12
.76**
.26**
.22**
-.01
16
.05
-.08
.12
.24**
.44**
.26**
.09
.33**
.10
.74**
.72**
.49**
17
.25**
-.02
.41**
.09
.21**
.26**
.15*
.19**
-.11
.06
.11
.15*
18
.30**
-.06
.43**
.08
.22**
.26**
.13
.19**
-.10
.13
.18*
.23**
.
19
.17*
.07
.28**
.05
.11
.14*
.14
.08
-.07
-.01
-.08
.00
-
20
.13
.00
.31**
.03
.15*
.16*
.07
.14*
-.09
.11
.06
.07
21
.25**
-.11
.37**
.12
.21**
.26**
.17*
.21**
-.07
.02
.11
.18*
22
.15*
.02
.26**
.08
.14*
.24**
.12
.14
-.11
-.03
.21**
.17*
.
23
-.22**
.24**
-.13
.04
-.05
-.06
-.05
-.04
.08
-.01
-.12
-.11
-
24
.19*
-.19**
.22**
.15*
.30**
.32**
.18*
.24**
-.02
.24**
.25**
.22**
.
.
Nota. Correlações, *p<.05 (2-tailed), **p<0.01 (2-tailed). 1, índice de motivação autodeterminada; 2, Amotiv apoio desportivo; 7, QCPDP acompanhamento competitivo; 8, QCPDP influência técnica; 9, QCPDP pressão apoio desportivo; 13, QCPDM acompanhamento competitivo; 14, QCPDM influência técnica; 15, QCPDM p EQAD melhoria e suporte da autoestima; 19, EQAD lealdade e intimidade; 20, EQAD coisas em comum; 21, MCTA
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
1
.49**
1
.08
.29**
1
.19**
.57**
.24**
1
.08
.06
-.12
.07
1
.16*
.09
-.12
.12
.83**
1
-.08
-.11
-.08
-.04
.81**
.58**
1
.00
.03
-.07
.10
.81**
.60**
.57**
1
.06
.07
-.13
.03
.83**
.61**
.62**
.59**
1
.20**
.21**
-.07
.07
.73**
.56**
.43**
.51**
.52**
1
-.08
-.09
.08
-.07
.13
.01
.25**
.18*
.08
-.04
1
.13
.20**
-.02
.22*
.30**
.19**
0.14*
.27**
.31**
.32**
-.20**
vação; 3, motivação intrínseca; 4, motivação extrínseca; 5, componente positiva do QCPDP; 6, QCPDP o para o rendimento; 10, QCPDP expetativas desportivas; 11, componente positiva do QCPDM; 12, QCPDM pressão para o rendimento; 16, QCPDM expetativas desportivas; 17, componente positiva da EQAD; 18, , EQAD companheirismo e jogo agradável; 22, EQAD resolução de conflitos; 23, EQAD conflitos; 24,
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
Anexo 5 - Valores descritivos (M e DP) de cada subescala para cada grupo etário. São ainda apresentados os resultados das comparações entre grupos para as diferentes subescalas A: 9-12 anos
B: 13-15 anos
C: 16-19 anos
F
4.53 (0.72)
4.30 (0.76)
4.26 (0.70)
F(2,189) = 2.50, p = .085
4.10 (1.24)
3.81 (1.23)
3.79 (1.08)
F(2, 189) = 1.39, p = .252
4.04 (1.05)
3.76 (1.16)
3.33 (0.97)
F(2, 189) = 5.82, p = .004
2.36 (1.11)
2.34 (1.12)
2.05 (1.06)
F(2, 189) = 1.24, p = .292
Diferenças significativas
Pai Apoio desportivo Acompanhamento competitivo Influência técnica Pressão para o rendimento Expetativas desportivas
A > C**
A > B** 3.53 (1.01)
2.99 (1.07)
2.73 (1.19)
F(2, 189) = 8.61, p < .001
A > C*** B > C+
Mãe Apoio desportivo
4.59 (0.53)
4.18 (0.97)
4.22 (0.86)
F(2, 189) = 5.37, p = .005
4.02 (1.07)
3.53 (1.36)
3.52 (1.17)
F(2, 189) = 3.71, p = .026
3.40 (1.32)
2.78 (1.34)
2.56 (1.24)
F(2, 189) = 6.79, p = .001
2.12 (1.14)
2.08 (1.11)
1.81 (0.91)
F(2, 189) = 1.20, p = .304
3.48 (1.08)
2.73 (1.14)
2.65 (1.29)
F(2, 189) = 10.37, p < .001
4.25 (0.66)
4.26 (0.61)
4.42 (0.58)
F(2, 189) = 1.12, p = .328
3.86 (0.76)
4.19 (0.62)
4.24 (0.69)
F(2, 189) = 5.69, p = .004
3.91 (0.64)
3.97 (0.62)
4.03 (0.60)
F(2, 189) = 0.48, p = .619
4.52 (0.53)
4.44 (0.62)
4.40 (0.68)
F(2, 189) =0.59, p = .557
4.19 (0.69)
0.75 (0.75)
4.32 (0.79)
F(2, 189) = 1.04, p = .355
Conflitos
2.02 (1.00)
2.51 (1.04)
2.50 (1.21)
F(2, 189) = 4.71, p = .010
Treinador
6.70 (1.70)
6.32 (1.60)
6.07 (1.70)
F(2, 189) = 2.15, p = .119
Acompanhamento competitivo Influência técnica Pressão para o rendimento Expetativas desportivas
A > B** A > C+ A > B* A > B* A > C**
A > B*** A > C**
Pares Melhoria e suporte da autoestima Lealdade e intimidade Coisas em comum Companheirismo e jogo agradável Resolução de conflitos
A < B* A < C*
A < B* A < C+
Notas: F – resultados da ANOVA comparativa dos três grupos etários. Diferenças significativas referentes às 37 comparações entre cada par de grupos etários. + p marginalmente significativo; *p < .05; **p < .01; ***p < .001
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9. A INFLUÊNCIA DAS DIFERENTES FORMAS DE SUPORTE SOCIAL NA MOTIVAÇÃO DESPORTIVA EM DIFERENTES GRUPOS ETÁRIOS
Anexo 6 – Síntese dos modelos de regressão múltipla para as diferentes variáveis da motivação, em função da amostra geral e dos grupos etários. São identificados, para cada indicador motivacional quais os factores que contribuem de forma significativa para a previsão dos mesmos. Na primeira Tabela são apresentados os resultados para a amostra total e, na seguinte, os mesmos resultados para cada grupo etário.
Variável Dependente
Pai_pos
Pai_neg
Mãe_pos
Mãe_neg
Pares_pos
Pares_neg
X
X
X
X
X
X
Treinador
Índice de motivação autodeterminada Amotivação Motivação Extrínseca
X
X
X
Motivação
X
Intrínseca
X
Grup Variável
o
Pai_po
Pai_ne
Mãe_po
Mãe_ne
Pares_po
Pares_ne
Treinado
Dependente
Etári
s
g
s
g
s
g
r
X
X
o Índice de
9-12
motivação
13-15
X
16-19
X
autodeterminad a
X
9-12 Amotivação
Motivação Extrínseca Motivação Intrínseca
13-15
X
16-19
X
X
9-12
X
13-15
X
16-19
X
X
X
X
X
X
X
9-12
X
13-15
X
16-19
X
X
X
X
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
INTRODUÇÃO A motivação constitui um aspecto importante na linha de acção de todas as condutas humanas sejam elas na política, negócios, com os pais, os treinadores ou sociedade civil e interfere decisivamente na vida privada de cada um. No desporto como na educação há provavelmente diferenças significativas entre os indivíduos na ênfase que colocam nas convenções. Interessa então perceber porque é que os jovens investem no domínio da actividade física, importante na procura de estilos de vida activos e descobrir o que é importante sobre o desporto e actividade física na cabeça dos rapazes e raparigas (Duda, 1996). Assim sendo o fundamento da pesquisa residiu em saber se a orientação para os objectivos, clima percepcionado e atitudes face ao desporto por atletas jovens de formação em organizações profissionais revelam atitudes face ao desporto substancialmente diferentes dos clubes de formação sem essa orientação.
OBJETIVOS O propósito do estudo foi caracterizar os ambientes de clubes com diferentes objectivos de resultados na perspectiva dos seus treinadores e analisar os efeitos do contexto sobre as variáveis desportivismo e orientação para a realização de objectivos. Procurámos examinar a variação de resultados associados ao ambiente de treino relativamente às variáveis latentes resultantes do TEOSQ e SAQ. Queremos perceber qual a orientação predominante, se é que existe, dos jovens inseridos nestes clubes, bem como perceber a atitude face ao desporto e o clima percepcionado pelos jogadores em relação ao treinador, apresentando e analisando esses dados obtidos à luz do corpo teórico. O estudo pretendeu entender a desigualdade na motivação de forma a ajudar os indivíduos, independentemente da sua habilidade para alcançar o seu potencial. O ponto central reside mais no estudo sobre a variabilidade dos padrões comportamentais do que predizer a performance.
RESULTADOS
CONCLUSÕES
Do exposto do TEOSQ é crível que os atletas de elite comportem uma elevada orientação para a tarefa focados no desenvolvimento das capacidades individuais e na demonstração de valores mais satisfatórios intrínsecos à modalidade.
Este estudo procurou fornecer uma perspectiva mais clara sobre a busca de realização de objectivos em clubes de elite cuja orientação altamente profissionalizante fazia supor determinado enquadramento característico de ambientes profissionais. Tem ficado demonstrado que um estado de envolvimento na tarefa é, a maior parte do tempo, condutor na optimização da motivação. Os resultados confirmaram em parte a hipótese avançada de que os jovens envolvidos nesse ambiente competitivo revelam resultados elevados na orientação para a tarefa apesar dos resultados não serem estatisticamente significativos na orientação para o ego.
Os resultados do SAQ demonstram o impacto do clima motivacional percepcionado e a sua orientação para a realização de objectivos na criação de comportamentos morais adequados quando cruzamos os dados com as entrevistas realizadas. O acompanhamento que o clube de elite faz dos seus jogadores e a preocupação demonstrada pelos seus comportamentos a nível desportivo e social predispõe a um funcionamento moral e níveis superiores de raciocínio social. Verificámos igualmente, tendo em linha de conta o comportamento disciplinar do clube de orientação profissional em comparação com o clube mais representativo da região centro uma menor propensão para comportamentos agressivos e anti-sociais do primeiro em relação ao segundo. Podemos especular que os valores estatisticamente significativos ocorridos no SAQ, que aludem a características relacionadas com o esforço e trabalho árduo correlacionam-se com os valores intrínsecos de sucesso verificados no TEOSQ, ligado a uma orientação para a tarefa na busca de realização de objectivos no desporto. Assim sendo, a análise conjunta dos dois questionários contribuem para a ideia de que a percepção de sucesso auto referenciada é dominante nos jovens do clube de elite.
Ou seja, o estudo apresenta valores elevados para a tarefa e valores baixos para a orientação para o ego. Os resultados fazem supor uma orientação para a mestria assente no desenvolvimento do indivíduo e no aprimoramento desportivo focado em valores de esforço e trabalho árduo como fruto do sucesso no desporto. A análise qualitativa efectuada reforça uma certa comunicação sobre competências e expectativas de sucesso no desporto que aludem para o desenvolvimento individual num clima de exigência permanente. Ainda, no clube de elite, apesar de se depreender a importância que um plano de formação desportivo representa para o desenvolvimento integrado do jovem praticante, existe contudo, alguma dissonância com os resultados práticos que essa mesma política de formação pode produzir.
A FORMAÇÃO DESPORTIVA EM PORTUGAL. OS VALORES DO FUTEBOL Márcio Luis Pinto Domingues
10. A FORMAÇÃO DESPORTIVA EM PORTUGAL. OS VALORES DO FUTEBOL
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
1.1. Pertinência do estudo
A motivação constitui um aspecto importante na linha de acção de todas as condutas humanas sejam elas na política, negócios, com os pais, os treinadores ou sociedade civil e interfere decisivamente na vida privada de cada um. Refere Roberts (2001) a este propósito que a compreensão e desenvolvimento da motivação constitui uma das preocupações centrais da conduta humana, sendo um tema mal compreendido. Então, o que é a motivação? Segundo o dicionário universal da língua portuguesa, motivação refere-se ao: Acto de motivar, conjunto de factores psicológicos, conscientes ou não, de ordem fisiológica, intelectual ou afectiva, que determina um certo tipo de conduta em alguém. Um objectivo, um intuito um fim que se percebe de determinada forma segundo aquilo que nos caracteriza, a forma como vemos o mundo e que, por sua vez, compreende toda uma assimilação e interacção entre factores de personalidade intrínsecos e factores ambientais iniludíveis. Assim, desde o estudo pioneiro de Alderman e Wood em 1976, muito se tem pesquisado e descoberto nesta área emocionante. Transversalmente a todos os estudos descobrimos as mesmas razões para a participação desportiva: competência física, aceitação social, fitness e divertimento (Fonseca, 1995; Weiss & Ferrer-Caja, 2002). O objectivo é, em suma, entender a
desigualdade na motivação de forma a ajudar os
indivíduos,
independentemente da sua habilidade para alcançar o seu potencial, o ponto central reside no estudo sobre a variabilidade dos padrões comportamentais do que predizer a performance (Nicholls, 1989). Quando gostamos e estamos interessados intrinsecamente naquilo que fazemos, estamos motivados e consideramos a qualidade da actividade como superior. Interessa então perceber porque é que os jovens investem no domínio da actividade física, importante na procura de estilos de vida activos e descobrir o que é importante sobre o desporto e actividade física na cabeça dos rapazes e raparigas (Duda, 1996). Ou seja, na teorização da motivação para a realização de objectivos um importante ponto refere-se ao facto dos objectivos influenciarem a forma como interpretamos e respondemos a acontecimentos de realização. Especificamente, é sugerido que a perspectiva individual de realização de objectivos vai afectar as auto-avaliações de demonstração de habilidade, esforço dispendido e atribuições de sucesso e fracasso (Nicholls, 1992).
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10. A FORMAÇÃO DESPORTIVA EM PORTUGAL. OS VALORES DO FUTEBOL
1.2.Teoria da orientação para a realização de objectivos
Roberts (2001) refere o assumo de que os comportamentos evidenciados pelo indivíduo estão na sua dependência relacionados com a predisposição para se envolver para a tarefa ou para o ego. As duas orientações para a realização de objectivos de Nicholls (1984a, 1989) compreendem diferentes formas de processamento de uma actividade que pode flutuar durante um evento, jogam um importante papel influenciando as realidades subjectivas dos indivíduos. Nicholls afirmou peremptoriamente que os objectivos de realização e as crenças sobre as causas de sucesso estavam ligadas de uma forma conceptual e constituem a teoria pessoal de realização de objectivos no desporto. Pesquisas anteriores no domínio do desporto evidenciaram que as percepções de competência demonstrada englobam percepções de objectivo realizado ou sucesso e fracasso subjectivo (Roberts & Duda, 1992). Estudos anteriores, empregando técnicas quantitativas e qualitativas sugerem igualmente que os participantes desportivos baseiam os seus objectivos no desenvolvimento pessoal e mestria da tarefa bem como a demonstração de habilidade superior (Duda, 1985). De acordo com a teoria, as pessoas diferem nas suas concepções de habilidade e critério de sucesso e no sentido que dão a estes conceitos. A teoria diz ainda que se aplica não só às pessoas que tentam alcançar um objectivo de construção social ou pessoal num determinado contexto de perseguição de objectivos, mas também questiona o porquê da pessoa estar nesse contexto e argumenta que a maior razão porque se procura realizar um objectivo é para demonstrar competência. Contudo, é interessante pensar que apesar
da
teoria para a realização de objectivos ter sido desenvolvida para um contexto de educação, muito pouca pesquisa tem aplicado e testado a relevância contextual desta teoria na Educação Física (EF), particularmente no desenvolvimento de programas de intervenção desenhados para aumentar a motivação (Treasure, 2001). A Educação Física, por exemplo, oferece oportunidades únicas para o desenvolvimento motor e aprendizagem de técnicas, noções de atitudes associadas a um estilo de vida activo. Não é de descurar portanto a sua função educacional (Biddle & Goudas, 1995). 1.3. Atitudes face à prática desportiva Desta forma, o desporto infanto-juvenil apresenta justificações educativas que redundam na necessidade de rever os comportamentos para a realização de objectivos na promoção de comportamentos adaptativos. Nicholls (1992) refere que as dimensões para a tarefa e para o ego podem ser usadas para descrever ambientes subjectivos, teorias de classes inteiras ou equipas desportivas. No desporto como na educação há provavelmente
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TRABALHOS CENTRO DE ESTUDOS 2018-19
10. A FORMAÇÃO DESPORTIVA EM PORTUGAL. OS VALORES DO FUTEBOL
diferenças significativas entre os indivíduos na ênfase que colocam nas convenções. As crenças sobre como ocorre o sucesso são mais facilmente mudadas do que os critérios pessoais (objectivos) de sucesso, elas são crenças sobre a realidade social. Quais são os antecedentes para a contínua participação no desporto e actividade física? De entre as áreas a perseguir estão as razões para o envolvimento, objectivos a alcançar (definições subjectivas de sucesso) e o critério usado para definir sucesso e competência. Pretendo então com esta investigação estudar uma amostra de jovens futebolistas que desenvolvem a formação desportiva num dos principais clubes de futebol portugueses e europeus e comparar os dados obtidos com os dados recolhidos num clube orientado para a formação. Neste momento, através do estudo empírico que efectuámos, queremos perceber qual a orientação predominante, se é que existe, dos jovens inseridos nestes clubes, bem como perceber a atitude face ao desporto e o clima percepcionado pelos jogadores em relação ao treinador, apresentando e analisando esses dados obtidos à luz do corpo teórico. Assim sendo o fundamento da pesquisa reside em saber se a orientação para os objectivos, clima percepcionado e atitudes face ao desporto por atletas jovens de formação em organizações profissionais revelam atitudes face ao desporto substancialmente diferentes dos clubes de formação sem essa orientação? Pretendemos saber qual a importância do desporto infanto-juvenil, a sua potencial influência, positiva ou negativa, sobre os praticantes, o papel dos adultos, muito em especial do treinador na questão das elites jovens desportivas e a sua procura de realização de objectivos. Por seu lado, Pensgaard e Roberts (2002), Van-Yperen e Duda (1999) e Newton e Duda (1993) enfatizam a criação de um clima propício para o alto rendimento mas também em estudos de não elite através do enfoque na tarefa e em valores como a cooperação e satisfação no treino e em índices psicológicos de grupo. Pesquisas anteriores sugerem que uma tomada de consciência dos objectivos adoptados pelos participantes desportivos podem providenciar-nos com uma compreensão da forma como interpretam e explicam as experiências desportivas (Duda, 1992). No seguimento, Nicholls (1992) refere que parece existir um paralelo entre a orientação para o ego e o profissionalismo e entre a orientação para a tarefa e uma orientação virada para o jogo. Da mesma forma são vários os estudos que relacionam que as equipas orientadas para a tarefa podem, mais do que outras valorizar a entreajuda e a crença de que o sucesso resulta do espírito de equipa. Estas equipas presumivelmente são mais coesas socialmente do que as equipas mais orientadas para o ego. Também é esperado que achem o jogo mais satisfatório intrinsecamente e joguem sem a pressão de uma competição ou por parte do treinador. Deste modo, a questão que fundamenta a pesquisa é a seguinte: A orientação para a realização de objectivos, clima percepcionado e atitudes face ao desporto expressas por atletas jovens de formação claramente orientada para o
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profissionalismo revelam-se diferentes das expressões por atletas de clubes de formação sem essa orientação? 1.4. Metodologia de Investigação Na parte I, realizámos uma pesquisa na literatura acerca do conceito de motivação e a explicação da teoria para a realização de objectivos no contexto do desporto jovem, dentro deste, perceber quais os processos determinantes da realização de objectivos nos jovens futebolistas em equipas de alto rendimento, bem como as diferenças no contexto de realização de objectivos em EF, a ambivalência do desporto colectivo e o desporto individual. Na parte II, em primeira análise quantificou-se a mobilidade inter-clubes dos jogadores na etapa correspondente aos escalões de iniciados e juvenis. Mediu-se a respectiva mobilidade correspondente tanto no clube de orientação profissional como no clube não profissional de Coimbra. A par disto, recolheu-se a acção disciplinar durante a fase regular dos respectivos campeonatos de juvenis e iniciados do referido clube de elite e de um clube profissional representativo da região de Coimbra. Com esta recolha de dados pretendemos analisar a correspondência hipotética que se observa entre o comportamento previsto pela análise dos questionários administrados e os comportamentos reais dos atletas em jogo durante a fase regular. A observância permite-nos inferir do clima motivacional que os clubes transmitem na sua orientação diferenciada face à competição, sendo que o comportamento e orientações do treinador podem influir nas atitudes competitivas por parte dos atletas em atitudes de antidesportivismo por exemplo. Será que o ambiente disciplinar se coaduna com os comportamentos evidenciados no clube e qual é a veracidade dos questionários aplicados em relação aos ditos comportamentos adaptados? Procurámos verificar se o clima motivacional criado pelo treinador influencia as perspectivas de orientação para os objectivos e perspectivas sobre a realização em si. Seguidamente, foram efectuadas análises de conteúdo, entrevistas semi estruturadas aos treinadores e coordenador para recolher informações sobre as características dos supervisores da formação, o clima e a cultura da organização desportiva na perspectiva dos treinadores, bem como a missão e os objectivos do programa plurianual de formação, no sentido de confirmar a orientação a ser atribuída à missão de organização desportiva que é dada como mais exigente. A análise de conteúdo é, em primeiro lugar, uma técnica das ciências da comunicação que foi desenvolvida nas primeiras décadas do século XX nos EUA, para analisar os meios de comunicação de massa (jornais, rádio). Baseia-se numa análise de textos de forma sistemática, por meio de um sistema de categorias, desenvolvido a partir do material e guiado por uma teoria (Bengoechea & Strean, 2007). A forma básica de análise de conteúdo qualitativa que escolhemos compreende:
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Sumarização;
Explicação;
Estruturação. Os dados foram recolhidos através de entrevistas semi-estruturadas. Elas são úteis
quando se trata de recolher uma imagem pormenorizada sobre as ideias do sujeito sobre um determinado assunto ou percepção sobre um tópico em particular (Smith, 1995). Assim sendo, neste tipo de entrevistas e de acordo com estes autores procura-se: - Estabelecer uma conversa com o entrevistado; - A ordem das perguntas é menos importante em relação à entrevista estruturada; - O entrevistador está mais interessado em relevar ideias interessantes que possam surgir, e; - O entrevistador pode seguir os interesses e preocupações do entrevistado. Entre as vantagens deste tipo de entrevistas contam-se, uma maior empatia, a produção de dados mais ricos e uma maior cobertura e permitir que o entrevistado prossiga a entrevista em áreas interessantes. As categorias de análise foram eleitas a partir de referências teórico/conceptuais. Tentámos dar sentido ao conteúdo do mosaico de categorias, no interior do qual estão agrupadas as unidades de significação, tendo como referência os objectivos da pesquisa e o contexto em que os depoimentos foram colhidos. Assim sendo, recorremos às análises temáticas no sentido de encurtar o nosso caminho e tomámos o conjunto de informações recolhidas junto aos entrevistados e organizámos, primeiramente, em três ou quatro grandes eixos temáticos, articulados aos objectivos centrais da pesquisa. As categorias foram então desenvolvidas de segmentos de dados identificados no texto recolhido e que constituíam pertinência. Quer dizer que se processou informação a partir de particularidades e lentamente começou a generalização (Smith, 1995), o que permitiu manter o seu carácter exclusivo e a própria diversidade de cada resposta mesmo quando procedemos à análise de elementos comuns aos entrevistados (Polkinghorne, 1995). Segundo Lisa Wright, psicóloga do desporto, a análise de conteúdo qualitativa fundamenta a investigação, poder-se-á afirmar, em dois sentidos:
Permite ajustar as expectativas que os investigadores têm sobre determinado problema social à sua realidade, o que vulgarmente se designa por corte com o senso comum, e apreender mais de perto determinadas realidades sociais que outras técnicas de investigação não permitem, como as que derivam da análise quantitativa;
Por outro lado, após se identificarem por comparação comportamentos distintos entre grupos sociais, e essa comparação ocorre por quantificação, permite conhecer em
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maior profundidade esses comportamentos e as diferenças manifestas no interior de cada um dos grupos identificados. Chi e Duda (1995) procuraram testar independentemente e simultaneamente o modelo assumido do TEOSQ através de atletas de colégio (n= 270), atletas de secundário (n= 310) e participantes juniores de desporto secundário (n= 234). A medida de coesão da estrutura hipotética de dois factores foi aceite na generalidade, apesar de mais fraco no caso de estudantes de colégio. Os resultados não suportaram a assumpção de invariância intergrupos do TEOSQ e indicaram que os 13 itens e a estrutura do TEOSQ não foram igualmente válidos ao longo das quatro amostras do estudo. Duda (1992), por sua vez, na pesquisa inicial em que estabeleceu medidas de competitividade, orientação para a vitória e o desejo para alcançar objectivos pessoais no desporto não são equivalentes psicologicamente à orientação para a tarefa e para o ego. Esta pesquisa sugere que a determinação da importância colocada em jogar bem em contraste com os resultados objectivos no desporto não é sinónimo com a prontidão para se ser envolvido para a tarefa ou para o ego nesse contexto. Com efeito, os autores Gonçalves, Coelho e Silva, Chatzisarantis, Lee e Cruz (2006), depois de proceder à tradução do Sports Attitudes Questionnaire (SAQ), aplicaram-no a duas amostras independentes de atletas com idades compreendidas entre os 13 e os 16 anos. Com base nos resultados de 511 sujeitos (247 rapazes e 264 raparigas), a análise factorial exploratória identificou quatro dimensões e evidenciou o ajustamento do modelo de quatro factores aos dados obtidos numa amostra de 482 sujeitos (248 masculinos e 234 femininos). A versão portuguesa do questionário de atitudes face ao desporto parece apta a ser utilizada em futuras pesquisas. Já Duda (2001) refere que este questionário mede o clima de orientação para a tarefa ou para o ego a operar no desporto. Averigua o grau segundo o qual os jogadores percebem o facto do treinador reforçar o esforço/melhoria, faz com que cada jogador sinta que tem um importante papel na equipa e promove a cooperação entre os membros da equipa. O questionário mede ainda a percepção do atleta de que os erros são punidos pelo treinador, de que o reforço e atenção são providenciados de forma diferente consoante o nível de habilidade e a rivalidade entre jogadores na mesma equipa. Esta última subescala tem demonstrado pouca consistência interna (provavelmente devido ao seu número limitado de itens). 1.5. Objectivos Como primeira hipótese sugiro que os jovens em formação de alto rendimento apresentam grande orientação para a tarefa e para o ego em contraste com uma orientação predominantemente para a tarefa em jovens de clubes orientados para a formação. Como segunda hipótese sugiro que as atitudes face ao desporto são diferentes entre os dois clubes e
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de acordo com a idade, sendo que o clube de orientação profissional apresenta maior propensão para o recurso à batota e atitudes de anti-desportivismo por parte dos seus atletas. Os treinadores aqui desempenham um papel fundamental na moldagem de comportamentos conducentes com os objectivos a alcançar, criámos o pressuposto de que o clima criado pelo treinador de orientação para a realização de objectivos vai influir na motivação dos atletas e vai ser diferente consoante a ênfase colocada. De igual modo, em relação ao comportamento disciplinar, procuramos verificar se o ambiente e nível competitivo infere nas condutas por parte dos jogadores de formação. Como objecto de estudo, centro as minhas atenções nos escalões de sub 17, sub 16, sub 15 e sub 14 de dois clubes diametralmente opostos, um clube de elite e um clube periférico de uma capital de distrito, claramente orientado para a formação. Os objectivos do estudo são: a orientação para a realização de objectivos e o clima motivacional percepcionado por parte dos atletas em competição, bem como perspectivar uma análise qualitativa a três entrevistas realizadas a dois treinadores de um clube da região de Coimbra e o coordenador de um clube de elite nacional.
CAPÍTULO 2
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ENQUADRAMENTO TEÓRICO
2.1. Perceber a Motivação Não existe outro domínio onde as questões da motivação sejam tão mal compreendidas como no desporto (Roberts, 1992). Refere o mesmo autor que a teoria cognitiva deu ao problema da motivação um novo fôlego que começou com Bernard Weiner em 1971 e assume na contemporaneidade uma perspectiva mais cognitivo-social. Surgiu então a perspectiva de que as flutuações na motivação, projectadas pelo indivíduo, reflectiam as suas posições em relação ao sucesso e insucesso. O processo motivacional estaria dependente dos pensamentos e atribuições que o sujeito dispunha e que variavam consoante o contexto social. Então, o que é a motivação? Roberts, em 1992, enquadrou-a como um conjunto de factores de personalidade, variáveis sociais, e/ou aspectos cognitivos que entram em cena quando um indivíduo está sujeito a avaliação na realização de uma tarefa, entra em competição com outros ou tenta alcançar um determinado nível de excelência. As determinantes do comportamento para a realização de objectivos são disposições de aproximação e /ou afastamento, expectativas, valores de incentivo de sucesso e fracasso, e/ou julgamentos cognitivos de sucesso e fracasso, incluindo a possibilidade de ter êxito ou falhar Roberts (2001). Sendo assim, o mesmo autor refere que a motivação é considerada um processo cognitivo-social no qual o indivíduo torna-se motivado ou desmotivado, através de averiguações da sua competência dentro do contexto de alcance de objectivos e do significado do contexto para a pessoa. Ela é um processo cognitivo dinâmico e complexo baseado nos julgamentos subjectivos do resultado pelo participante e dependendo do objectivo de acção e do significado do contexto para o próprio. É um processo que reside na própria pessoa que incide na forma como julgam a competência e definem a aquisição de sucesso (Duda, 2001). O estudo da motivação e os seus efeitos na realização de objectivos é a investigação da energização, direcção e regulação do comportamento. As teorias apenas o são enquanto respondem a todos os aspectos do comportamento para a realização de objectivos (Roberts, 2001). As pesquisas em motivação referem que a afirmação de amizades, ganhar aprovação dos pais e treinadores, desenvolver uma sensação de pertença na equipa são importantes razões para se estar envolvido no desporto (Weiss & Ferrer-Caja, 2002), denotando uma motivação de ordem social, nomeadamente orientação para os objectivos sociais e percepções de pertença (Allen, 2003).
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Referem a existência duas importantes considerações respeitantes à motivação e comportamento no desporto: Primeiro, as orientações motivacionais e factores de influência sociais interagem para determinar os resultados da participação (incluindo comportamento motivado). Logo, a motivação como um factor de diferença individual deve ser estudada dentro de um contexto social onde os comportamentos desportivos ocorrem. Centra a sua atenção nos indivíduos que variam em certas disposições motivacionais ou características e como estas variações influenciam os resultados psicológicos (competência percebida, respostas afectivas) e comportamento na actividade física (frequência, intensidade). Segundo, a consideração da motivação como uma variável que se expressa num resultado. Desta forma, a motivação deve ser examinada como um factor de diferença individual apenas enquanto influencia a mudança dos resultados psicológicos e comportamentais incluindo auto-percepções, resposta afectivas e motivação. Ou seja, a motivação é equacionada como uma escolha para participar, esforço exercido e capacidade de esforço ou persistência. Desta forma, as fontes ou causas da motivação são de interesse central (Weiss & Ferrer-Caja, 2002). Das teorias que emergem como explicação para os aspectos motivacionais em contexto desportivo, o desenvolvimento e demonstração de competência física (percepção de competência) são motivos consistentes ao longo de todos eles. Finalmente, o desejo de reconhecimento social, incluindo amizade, aceitação dos pares, aprovação e reforço positivo pelos adultos é comum a todas as teorias. Contudo, não existe muito consenso no desenvolvimento da convergência conceptual e na integração de teorias dentro do desporto e psicologia do exercício. Então, quais são os processos psicológicos que subjazem à motivação? Primeiro, os processos motivacionais são qualidades inerentes à pessoa. Queremos saber como pensa a pessoa. Sabemos que o ambiente não possui qualidades motivacionais ao menos que o sujeito percepcione que as tenha. Segundo, os processos motivacionais são orientados para o futuro em vez de orientados pelo passado ou presente. A motivação prepara o indivíduo para se deslocar em relação a determinados objectivos ou para produzir determinados resultados. Terceiro ponto, os processos motivacionais são avaliativos. Estas avaliações podem ser autoreferenciadas ou podem envolver os outros como critério de referência. No fundo, a motivação envolve o julgamento da pessoa em saber se deve aumentar ou diminuir a busca comportamental na procura de um resultado ou objectivo (Roberts, 2001).
2.2. Comportamentos para a Realização de Objectivos
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Uma das características do desporto é a variabilidade no comportamento de alcance de objectivos. As teorias cognitivo-socias baseiam-se na questão dos objectivos (Duda, 1992; Roberts, 1992) para explicar porque é que indivíduos com o mesmo talento apresentam variações de comportamento sendo que a teoria para a realização de objectivos surge como uma nova direcção na pesquisa da motivação. Roberts (2001) afirma, com propriedade, que a teoria pessoal de realização de objectivos que um adopta afecta as crenças em como ter sucesso na actividade. O seu ponto fulcral reside na qualidade de participação e não apenas a quantidade da performance realizada (Duda, 2001). Uma análise clara dos conceitos de realização, teorias e objectivos é necessária antes do indivíduo poder efectivamente examinar as relações entre as variáveis e o comportamento (Nicholls, 1992). O trabalho teórico conceptual de Nicholls (1984a) relacionado com a realização de objectivos é usado para estudar a relação entre duas orientações de objectivos implícitas (ego e tarefa) e crenças e cognições de realização de objectivos sobre a experiência competitiva dos desportos de equipa e que mais tarde vem a ser revista por Duda (1987). Duda em 2001, por sua vez, afirma que são diferenças individuais na tendência para se estar envolvido na tarefa e ego perspectivas de objectivos enfatizados situacionalmente (clima motivacional percepcionado). De facto, Harwood e Swain (2001) referem que os estados de envolvimento para a tarefa e para o ego podem bem funcionar mais ao nível subconsciente e por ventura difíceis de realizar a qualquer momento. Eles não são objectivos discretos postos pelos indivíduos. São, antes sim, estados psicológicos que reflectem as crenças do indivíduo sobre a realização para essa tarefa num preciso momento. Estas duas orientações, contudo, maximizam percepções favoráveis do eu em relação à habilidade ou competência. Estes dois estados de envolvimento exercem uma influência nos objectivos de processo, resultado e performance que os indivíduos conscientemente estabelecem. A natureza das experiências de um indivíduo e a forma como interpretam estas experiências influenciam o grau em como os objectivos para a tarefa e para o ego são percebidos como salientes dentro do contexto desportivo. Assume-se que afecta os comportamentos
de
realização
dos
indivíduos
através
das
suas
percepções
dos
comportamentos necessários para alcançar o sucesso (Roberts, Treasure & Kavussanu, 1996). Constitui argumento de que a pesquisa académica da motivação deve ajudar-nos a reflectir nos problemas ocasionados pela preocupação, características da nossa sociedade com a habilidade do indivíduo em relação com a de outros. A orientação para a tarefa (desejo de conhecimento) e a orientação para o ego (desejo de superioridade) constitui o paradigma para esclarecer estas questões (Nicholls, Cheung, Lauer & Patashnick, 1989).
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Os estudos sobre a realização de objectivos tanto nas organizações como no laboratório concluíram que: os objectivos específicos e difíceis conduzem a uma melhor performance do que objectivos vagos e fáceis; objectivos a curto prazo podem facilitar a realização de objectivos a longo termo; os objectivos afectam a performance porque condicionam o esforço, a persistência, a direcção atencional e desenvolve uma estratégia motivacional; é necessário feedback em relação ao progresso para que a realização de objectivos funcione e os objectivos devem ser aceites se queremos que afectem a performance (Locke & Latham, 1985). Assim sendo, as orientações para a tarefa e para o ego são tendências de disposição referente a formas diferentes de processar a informação (Duda, 2001). Assim sendo, existem dois tipos de comportamentos rumo a objectivos definidos: orientação para a tarefa e orientação para o ego. Alguns teoristas desenvolveram concepções ligeiramente diferentes dos dois tipos de objectivos de realização (Elliot & Dweck, 1992). Dado o ênfase diferenciado que a orientação para a tarefa e para o ego colocam na definição de competência e sucesso, é razoável pensar que as orientações para objectivos influenciam pensamentos, emoções e comportamentos relevantes para a participação desportiva, especificamente, variáveis cognitivas (crenças sobre as estratégias), respostas afectivas (divertimento, satisfação e ansiedade) e resultados comportamentais (intensidade de esforço) (Roberts, 2001). As duas orientações de objectivos reflectem mais do que uma diferença na ênfase colocada no processo versus resultado em contextos de actividade física (Duda, 1996). Em relação à orientação para a tarefa, uma orientação para a aprendizagem implica que fontes de informação auto-referenciadas sejam prioritárias na busca de sucesso nos objectivos delineados como procura de objectivos propostos pelo jovem, atracção pela actividade, grau de desenvolvimento de skills e esforço dispendido (Duda, 1996; Roberts, 2001 e Duda, 2001). Aliás, a maximização da competência advém do investimento pessoal e das tentativas durante o processo de esforço (Duda, 2001). A orientação para a tarefa é predita através da percepção da orientação para os objectivos dos outros, o valor de realização de uma partida e percepção da habilidade do atleta (Treasure, 2001). Sabemos que os jovens orientados para a tarefa optam por manter-se envolvidos e demonstram esforço adaptativo e comportamentos persistentes e estão mais aptos a desenvolver a competência percebida ao longo do tempo (Nicholls, 1984a, 1989), também em atletas de alto nível (Elliot & Dweck, 1988; Newton & Duda, 1993). De qualquer forma, as variáveis situacionais e disposicionais tornam-se importantes na predição do envolvimento para os objectivos em contextos competitivos (Harwood & Swain, 1998). Assim sendo, refere Treasure (2001) que, quanto mais forte a disposição, menos provável é que as características situacionais sejam preditivas.
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Com propriedade, Nicholls (1989) conceptualizava o envolvimento com o ego como mais preocupado em demonstrar superioridade (baseado na concepção diferenciada de habilidade). Aliás, o desporto competitivo tende a inibir a concepção indiferenciada da habilidade apesar do envolvimento para a tarefa existir mesmo nas formas extremas de competição, onde a recompensa externa seja constante (Treasure, Duda, Hall, Roberts, Maehr & Ames, 2001). Ela refere-se a fontes normo-referenciadas que definem se o sucesso foi alcançado, o importante é demonstrar habilidade relativamente a outros, ou superar outros (Duda, 1996), em situações de competência interpessoal, avaliação pública bem como o feedback normativo. O envolvimento através da orientação para o ego requer a presença de outros que sejam capazes de avaliar as performances (Roberts, 2001). As crianças menos maduras provavelmente concebem percepções de habilidade inapropriadas quando a demonstração de grande habilidade está restrita àquelas crianças que são correntemente os atletas de topo (Treasure, 2001). Por outro lado, ambientes que colocam ênfase no processo de aprendizagem, participação, mestria individual e/ou resolução de problemas existe um maior envolvimento para a tarefa (Nicholls, 1989). Este tipo de envolvimento foca no esforço e no interesse intrínseco. Quando o envolvimento é orientado para o ego o foco centra-se na demonstração de habilidade, o indivíduo centra a sua preocupação na adequação da sua competência com o envolvimento para o ego (Duda, 1992). Sendo assim, não nos devemos esquecer que as orientações têm alguma influência nos tipos de objectivos que são mais atractivos e de uma forma mais crítica, na forma como cada tipo de objectivo é processado (Duda, 2001). Logo, refere a autora que um maior ênfase no processo e objectivos de performances individuais direccionam os jovens rumo a uma orientação para a tarefa, apesar do processo de comparação social ser inerente aos resultados no contexto desportivo, possibilitando resultados de vertente competitiva na construção de uma orientação para o ego (Nicholls, 1989). Desde que estes indivíduos tenham uma elevada percepção de habilidade, eles escolhem tarefas desafiantes e desenvolvem elevados níveis de esforço para concretizar um objectivo, demonstrando os mesmos padrões de comportamento que os jovens orientados para a tarefa, independentemente das definições de sucesso baseadas na demonstração de habilidade superior. Contudo, jovens com dúvidas quanto à habilidade estão em risco para comportamentos pouco concretizadores e escolha inapropriada da tarefa (Nicholls, 1984a, 1989). Estes jovens muito orientados para o ego, naturalmente, apresentam elevados níveis de ansiedade e outros afectos negativos em relação a actividades em que esperam baixas performances (Weiss & Ferrer-Caja, 2002). São muitos os estudos que falam dos efeitos deletérios na adopção da orientação para o ego no desporto e /ou necessidade de se criar um
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clima motivacional orientado para a mestria no desporto (Treasure & Roberts, 1995; Biddle, 2001; Duda, 2001;). Sabemos que é possível criar um clima orientado para a mestria e que as crianças desenvolvem e atingem sucesso nesse contexto. Refere Roberts (2001) o assumo de que quando um indivíduo está predisposto para se envolver orientado para a tarefa ou para o ego exibe comportamentos associados a essas orientações. Aliás, os objectivos disposicionais são considerados esquemas cognitivos sujeitos a mudança assim que cada um processa informação relativo à performance de uma tarefa em particular. Usando a concepção não diferenciada de habilidade (concepção de realização de objectivos orientados para a tarefa) para avaliar a competência demonstrada desenvolve-se a resiliência da competência percebida. Diz o mesmo autor que a orientação para a tarefa desenvolve a percepção de competência e sucesso para indivíduos que são simultaneamente elevados e baixos em competência percebida e encoraja o esforço, ao passo que a orientação para o ego pode diminuir a percepção de sucesso, percepção de competência e esforço, especialmente nos indivíduos que se sentem inseguros da sua habilidade. Um estudo sobre o impacto da orientação para a tarefa na motivação intrínseca e orientação para a realização de objectivos foi desenvolvido por Elliot, Harackiewicz (1994) sobre o jogo de pinball. A análise de regressão revelou que o efeito da performance ou objectivos focados na mestria e na motivação intrínseca variava segundo a realização dos objectivos. Especificamente, a provisão de standards de orientação para a tarefa com um foco na performance aumentou a motivação intrínseca para indivíduos orientados para a realização de objectivos, enquanto que a realização de tais objectivos mostrou-se deletéria para a motivação intrínseca para aqueles com baixa orientação para os objectivos. Os indivíduos baixos na orientação para a realização de objectivos dispunham de altos níveis de motivação intrínseca quando providenciados objectivos focados na mestria. Um padrão semelhante de feitos foi obtido no processo de competência e envolvimento na tarefa, ambos dos quais foram adicionalmente validados como mediadores dos efeitos directos na motivação intrínseca. No seguimento, os resultados do estudo de Lochbaum e Roberts (1993) realizado em 182 rapazes e 114 raparigas atletas de secundário e da análise canónica resultaram que os atletas com uma orientação para a tarefa focaram em estratégias adaptativas de realização ao passo que os atletas com orientação para o ego focaram em estratégias potencialmente mal adaptadas de realização. Uma das razões pela qual a teoria se aplica de forma extraordinária ao contexto desportivo reside no facto de no desporto a busca de realização de objectivos ser mandatária. Não só os objectivos são objectivos de realização num contexto específico a maior parte do
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tempo como o sucesso e o fracasso e competência pessoal tendem a ser pouco ambíguas para todos os participantes, jogadores e espectadores. Neste sentido, os objectivos de realização no desporto têm vindo a ser definidos apenas de acordo com a definição de competência (mestria/ tarefa, performance/ego). A teoria emergente e pesquisa associada indicam que a utilidade do construto da realização de objectivos pode ser desenvolvida quando a valência (aproximação ou fuga) dos objectivos é também tida em consideração em conjunção com a definição de competência (Conroy, Elliot & Hofer, 2003). Roberts em 2001 refere ainda que comportamentos para a realização de objectivos orientados para a tarefa são comportamentos em que os jovens trabalham mais duro, persistem por mais tempo, concentram-se mais, prestam maior atenção, realizam melhor, escolhem praticar por mais tempo e /ou juntam-se ou desistem de actividades físicas. Logo, as diferenças individuais na orientação para os objectivos estão associadas a diferentes processos motivacionais e diferentes comportamentos de realização de objectivos. O corpo teórico que propõe os objectivos como determinantes centrais nos padrões da realização de objectivos foi trabalhado por Elliott e Dweck (1988). Os objectivos de aprendizagem, no qual os indivíduos procuram aumentar a sua competência, foram preditores na promoção da busca de desafios e orientação para a mestria, como resposta a fracassos e independentemente da habilidade percepcionada. Os objectivos de performance, onde os indivíduos procuram julgamentos favoráveis da sua competência ou evitam julgamentos negativos, foram preditores na produção desafio-fuga, incapacidade quando a habilidade percebida é baixa e na promoção de certas formas de risco-fuga mesmo quando a habilidade percepcionada é alta. A manipulação do valor relativo dos objectivos (aprendizagem vs performance) e habilidade percepcionada (alta vs baixa) resultaram em diferenças previstas nas medidas de escolha da tarefa, performance durante dificuldades e verbalizações espontâneas durante a dificuldade. Particularmente, a greve foi a forma onde os objectivos de performance-baixa habilidade percepcionada produziram o mesmo padrão de estratégia de deterioração, atribuição de fracasso e sentimento negativo encontrado na incapacidade das aprendizagens. Um estudo de Smith e Lee (1992) relaciona o efeito facilitador do estabelecimento de objectivos na performance física, através de três mecanismos: o tempo de treino, promoção de estratégias efectivas de treino e o aumento do compromisso resultante dos objectivos públicos estabelecidos. Foram analisados 51 estudantes que realizaram uma tarefa em três condições predeterminadas: estabelecimento de objectivos públicos, estabelecimento de objectivos privados e sem estabelecimento de objectivos. Os indivíduos inseridos nos objectivos públicos demoraram mais tempo em prática sem contudo se reflectir na performance.
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Uma outra investigação procurou saber se metas irrealistas produzem decréscimos significativos na motivação e na performance. Realizaram-se duas provas, uma usou uma tarefa de endurance e uma tarefa de lançamentos de basquetebol em estudantes do colégio. Do questionário resultou que os sujeitos aceitaram os seus objectivos e tentaram arduamente para os alcançar, apesar dos indivíduos colocados em condições de objectivos surrealistas perceberem os seus objectivos como mais difíceis, este facto não produziu decréscimos na sua motivação (Weinberg, Fowler, Jackson, Bagnall, Bruya, 1991). A relação entre as orientações para os objectivos e as preferências pelas fontes de competência foram estudadas por Williams (1994). O autor dispôs de 152 atletas de secundário que preencheram o TEOSQ e o questionário Escala de Informação sobre a Competência no Desporto (SCIS). Foram identificadas sete fontes de informação e a correlação canónica revelou uma tendência geral onde a orientação para a tarefa estava associada com fontes de auto-referência e a orientação para o ego estava mais associada a fontes normo-referenciadas. As orientações disposicionais para a realização de objectivos e percepções do clima são duas
dimensões
independentes
de
motivação
que interagem
para afectar
o
comportamento (Nicholls, 1989), sendo que as dimensões de orientação para a tarefa e para o ego têm demonstrado repetidamente serem independentes no contexto desportivo (Chi & Duda, 1995; Roberts, Treasure, & Kavussanu, 1996; Duda & Whitehead, 1998). Harwood, Hardy e Swain (2000) revisitaram criticamente os conceitos e medidas da realização de objectivos no desporto. Referem os autores certas inconsistências da teoria de Nicholls (1984) na sua aplicabilidade ao desporto. Propõem que a diferenciação entre habilidade e esforço não compromete a activação das perspectivas de activação para o ego e para a tarefa numa performance desportiva contextualizada e também que as definições de envolvimento para a tarefa e para o ego na classe de aula podem não generalizar-se ao desporto. Aliás referem que os dois construtos de concepção de habilidade não podem ocorrer ao mesmo tempo. Oferecem uma aproximação conceptual e alternativa incorporando três perspectivas de objectivos e uma solução teórica e prática. Os autores reportam-se ao envolvimento por objectivos no contexto da performance desportiva enfatizando o valor da procura de referências normativas e auto-referenciadas nas concepções das situações de realização de objectivos em diferentes alturas. Procuram, no fundo, avançar no entendimento tanto dos objectivos de realização como as performances individuais no domínio do desporto competitivo. Neste seguimento, os indivíduos possuem uma “teoria pessoal” sobre o que significa a realização de objectivos para eles para uma determinada situação ou tarefa. As características da situação e da tarefa interagem para produzir impacto sobre o estado do objectivo que o
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indivíduo adopta. O comportamento de realização é “o comportamento no qual o objectivo é desenvolver ou demonstrar para si próprio ou para os outros elevada habilidade ou evitar a demonstração de baixa habilidade”. A concepção diferenciada de habilidade releva a preocupação de um indivíduo ser mais capaz do que os outros e a quantidade de esforço aplicado poder ter impacto na performance. A habilidade é construída de duas formas: Primeiro, a habilidade pode julgar uma performance passada ou conhecimento como elevada ou baixa. Neste contexto, ganhos em mestria significam competência. Segundo, para demonstrar elevada capacidade, o atleta deve alcançar mais com esforço igual ou usar menos esforço do que outros para uma performance igual. Kyllo e Landers (1995) referem oportunamente que o estabelecimento de objectivos, tem desenvolvido, de forma permanente, a pesquisa da indústria psicológica. Este efeito benéfico não tem sido demonstrado no domínio do desporto. A controvérsia está instalada. Das meta análises até agora realizadas resulta que os objectivos absolutos e moderados combinados com objectivos a longo e curto termo associam-se aos melhores efeitos. 2.2.1. Concepção de habilidade O centro de acção da teoria de realização de objectivos é assumido como sendo a demonstração de competência, assim sendo, a variável central torna-se a concepção de habilidade (Nicholls, 1992; Roberts, 2001). Como amplamente referido Nicholls (1984b, 1989) argumentou a existência de duas concepções de habilidade que aparecem no contexto de realização de objectivos: concepção de habilidade não diferenciada (onde o indivíduo não diferencia o esforço da habilidade) e a concepção de habilidade diferenciada (onde a habilidade e o esforço estão diferenciados). A concepção de habilidade não diferenciada é tida como uma orientação para a tarefa e a concepção de habilidade diferenciada constitui a orientação para o ego, ou seja, a habilidade é uma traço estável, não afectado pelo esforço (Dweck, 2002). Uma das assunções da teoria para a realização de objectivos reside no facto dos objectivos serem ortogonais, isto é, um jovem atleta pode ser alto ou baixo em qualquer uma delas ou em ambas ao mesmo tempo. Apesar disso, a concepção de habilidade da teoria de Nicholls não pode ser averiguada pela medida disposicional para a realização de objectivos como no TEOSQ (Duda, 2001). A este propósito, Duda em 1992, refere que como a ênfase está na mestria de uma tarefa e percepções de competência são auto-referenciadas é assumido que o envolvimento para a tarefa aumenta o desenvolvimento da habilidade percepcionada. Nicholls (2001) refere que a diferenciação dos conceitos de habilidade e esforço e que culmina com a obtenção da concepção de habilidade como uma capacidade ocorre por volta dos 12 anos. Apesar desta concepção conduzir a pouco esforço, não é generalizável de que esta atitude seja para
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proteger o sentido de competência de cada um na tarefa, apesar de não conseguirem esconder que apresentam valores baixos num skill em particular. Neste sentido, Williams e Gill (1995) verificaram que no seu estudo em 174 alunos e através da análise de regressão, a orientação para a tarefa era um bom preditor do esforço, contudo, a interacção entre a orientação para o ego e a competência percebida falharam para adequadamente predizerem o esforço. A orientação para a tarefa e não a orientação para o ego influenciam directamente a competência percebida, interesse intrínseco e esforço. Ainda, o interesse intrínseco joga um papel mediador entre a percepção de competência e o esforço e entre a orientação para a tarefa e o esforço. A teoria para a realização de objectivos afecta a crença do jovem atleta sobre como ter sucesso na actividade. Doravante, de acordo com as suas convicções pessoais dos objectivos a perseguir, as pessoas diferem nas suas concepções de habilidade e critério de sucesso e nas formas como usam essas concepções (Roberts, 2001). Aliás, as concepções de habilidade das crianças jogam um papel pivot na motivação para a realização de objectivos. Durante o 3º ciclo e o secundário ocorrem mudanças críticas nestas concepções e a sua influência na motivação. É durante este tempo que as crianças entendem plenamente a ideia de habilidade como um traço potencialmente estável no eu (Nicholls, 1992), raciocinam fluentemente sobre as relações entre a habilidade intelectual, o esforço e performance e, provavelmente o ponto mais importante, mostram uma relação coerente entre as suas crenças para a realização de objectivos e entre as suas crenças na habilidade e a sua motivação (Dweck, 2002). Sendo que a habilidade percepcionada joga um importante papel na moderação motivacional em jovens muito orientados para a tarefa (Harwood & Hardy, 2001). Da mesma forma deve ser feita uma distinção entre concepções diferentes nas orientações de alcance de objectivos incluindo o objectivo de desenvolver habilidade (orientação tarefa), o objectivo para demonstrar habilidade (orientação para o objectivo de alcance das habilidades) e o objectivo para evitar a falta de habilidade (orientação para o objectivo de evitar a habilidade) (Midgley, Kaplan, Middleton, Maehr, Urdan, Anderman, Anderman, Roeser, 1998). Harwood, Hardy, Swain (2000) realizaram um estudo com o objectivo de integrar factores situacionais e disposicionais de forma a examinar a sua habilidade integrativa na predição de objectivos pré-competitivos de envolvimento para a tarefa e para o ego numa amostra de jogadores juniores de ténis, do campeonato nacional.
A análise factorial do
questionário de orientação para a tarefa e para o ego revelou três factores situacionais que acumularam 64,7% da variância em contexto de jogo: percepção de habilidade social/ pessoal; objectivos preferenciais percebidos dos outros significativos e o valor do jogo. A regressão
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hierárquica moderada revelou efeitos significativos dos factores situacionais e disposicionais em diferentes tipos de objectivos. Especificamente, a percepção dos outros significativos, o valor de uma partida e a percepção de habilidade foram os maiores preditores de envolvimento da tarefa. A intensidade pré-jogo de envolvimento do ego foi prevista pela orientação para o ego combinado com percepções dos outros significativos e valor do jogo, apesar de ter falhado na predição do envolvimento na tarefa num ambiente muito orientado para o ego. Estes resultados reforçam a necessidade de pesquisadores considerarem a importância de variáveis disposicionais e situacionais quando prevêem a realização de objectivos em contextos desportivos. Na generalidade, Duda (2001) refere que as pesquisas suportam a adopção de uma perspectiva interaccionista no estudo de potenciais consequências das percepções situacionais ou disposicionais no contexto dos objectivos de realização, o que corrobora a ideia avançada por Nicholls (1984a, 1989) de que são relevantes as variáveis contextuais e pessoais na predição do envolvimento pela tarefa ou pelo ego em actividades de realização. Um estudo paralelo reflecte sobre a relação da participação desportiva com a competência percebida e foi primeiramente estudada por Roberts, Kleiber, Duda (1981). A percepção de competência é considerada como importante na determinação da realização da motivação e comportamento. Através da Escala de Competência Percebida de Harter, 143 estudantes foram entrevistados para determinar o seu envolvimento em desporto organizado, em relação à percepção de competência relativa dos seus colegas, atribuições gerais sobre os resultados do desporto e a persistência e expectativas do sucesso desportivo. Os resultados revelaram que os participantes em organizações desportivas pontuavam mais alto na competência percebida, eram mais persistentes e possuíam mais expectativas sobre o sucesso futuro. As atribuições causais das crianças participantes eram orientadas pela habilidade e geralmente suportaram a competência percebida. Os resultados eram consistentes com a afirmação de que a competência percebida em skills físicos tem uma importante influência na participação e motivação da criança em contexto desportivo. De igual forma, o entendimento do papel da percepção de competência na motivação, no desporto e na actividade física é uma importante busca. A grande diferença entre os indivíduos com orientação para o ego e para a tarefa é a forma como definem e julgam a competência. Uma orientação para a tarefa deve desenvolver percepção de habilidade quando a linha de acção consiste na mestria de uma tarefa e percepções de habilidade autoreferenciadas. Uma orientação para o ego pode aumentar ou diminuir a percepção de habilidade do jovem (Nicholls, 1989; Roberts, 1992). A disposição para a orientação de realização de objectivos e respectivos perfis observados na literatura são observados numa amostra de jovens atletas? As situações de
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realização de objectivos são aquelas em que a principal preocupação reside na adequação das percepções de habilidade dos seus participantes às demandas da tarefa. A concepção de habilidade é central para um indivíduo. A habilidade é demonstrada quando o jovem consegue dominar uma técnica para a qual tem vindo a trabalhar durante algum tempo (habilidade autoreferenciada), enquanto que para outro pode representar realizar uma performance superior a outro atleta (habilidade normo-referenciada), onde o sucesso é avaliado em relação aos outros (Weiss & Ferrer-Caja, 2002). Segundo, a motivação para a realização de objectivos é um construto multidimensional, no qual um número saliente de diferenças individuais e factores ambientais e sociais influenciam a percepção de habilidade, explicações para o sucesso e fracasso e comportamentos motivacionais. Terceiro, os objectivos são determinantes centrais do comportamento motivacional, com indivíduos a definir sucesso e fracasso em relação ao quão bem estes objectivos são alcançados (Weiss & Ferrer-Caja, 2002). Em suma, os mesmos autores referem que os objectivos que o jovem adopta para alcançar determinados objectivos influenciarão as respostas afectivas e cognitivas, as experiências de sucesso e fracasso. Estes não são acontecimentos concretos, são estados psicológicos na consequência de se conseguir ou não alcançar certos objectivos. Se existem diferenças culturais nas qualidades pessoais, o sucesso e o fracasso vai variar de cultura em cultura (Maehr & Nicholls, 1980). Porque as tarefas difíceis requerem mais esforço para uma correcta mestria, as crianças jovens tendem a ver maior habilidade associada com maior esforço dispendido. Equacionando habilidade com esforço ou uma relação positiva entre os dois, chama-se como referimos anteriormente, concepção de habilidade não diferenciada, sugerindo que o esforço é a principal informação sobre a habilidade e os indivíduos analisam as situações de acordo com uma orientação para a tarefa ou de forma auto-referenciada (Weiss & Ferrer-Caja, 2002). Como vimos também, já numa concepção diferenciada, esforço e habilidade estão inversamente relacionadas, o que quer dizer que a habilidade de um indivíduo limita o impacto que o esforço adicional tem no aumento da probabilidade do sucesso da tarefa. Dunn, Dunn e Syrotuik (2002) realizaram um estudo sobre a relação entre a orientação para o perfeccionismo e a orientação para os objectivos. Foram utilizados 184 jovens atletas jogadores de futebol. O estudo revelou quatro dimensões de perfeccionismo relacionado ao desporto: pressão parental percebida, standards pessoais, preocupação com os erros e pressão percebida do treinador. Da correlação canónica resultou que a orientação para a tarefa correlaciona-se positivamente com um perfil adaptativo de perfeccionismo. De igual forma, a
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orientação para o ego associou-se positivamente com um perfil mal adaptado de perfeccionismo. 2.3. Crenças sobre as causas do sucesso Congruente com antigos estudo em atletas mais velhos (Duda, 1989; Duda & Nicholls, 1992; Duda & White, 1992) e na própria classe de aula (Duda, & Nicholls, 1992; Nicholls, 1989) o estudo de Hom, Duda, Miller (1993), revelou uma relação consistente entre as orientações para os objectivos e perspectivas sobre as causas de sucesso. Os jovens atletas com valores elevados na orientação para a tarefa e ego tendem a percepcionar-se como mais capazes e demonstram maior satisfação e divertimento. Em suma, este trabalho com 55 jovens atletas que frequentaram um campo de férias de basquetebol indicou que as diferenças individuais em orientações para a realização de objectivos entre jovens atletas relacionaram-se com as crenças sobre os antecedentes no desporto, sentido de competência e respostas afectivas à experiência desportiva. Newton e Duda em 1993 examinaram a percepção das causas de sucesso entre tenistas adolescentes de elite e investigaram a interdependência entre a orientação para os objectivos em função do género e as crenças em relação à realização de objectivos no ténis. 121 atletas preencheram o TEOSQ e um questionário sobre as crenças de sucesso neste desporto. Os resultados revelaram a existência de duas dimensões coerentes sobre crenças e objectivos pessoais entre as raparigas. A primeira, compreendia que a orientação para o ego e as crenças de que as habilidades e a capacidade de manter uma impressão positiva eram as primeiras causas de sucesso. A segunda consistia na orientação para a tarefa conjuntamente com a crença de que o esforço e menos ênfase nos factores externos e tácticas ilícitas levariam à realização de objectivos no ténis. No caso dos rapazes surgiu uma dimensão sobre a crença baseada na orientação para o ego. Mas quais as implicações ao assumir estas diferentes crenças sobre os objectivos no desporto? A orientação para a tarefa tem sido ligada à crença de que o esforço e cooperação com outros são causas de sucesso e a orientação para o ego tem sido ligada com a ideia de que a habilidade e tentar superar o adversário e mesmo formas de estar no desporto ilegais são precursoras de sucesso. Nicholls em 1992 refere que as crenças sobre a forma como o sucesso ocorre são mais facilmente modificadas do que os objectivos de sucesso pessoais, são crenças sobre a realidade social. Se a realidade muda, uma mudança nas crenças sobre a causa de sucesso é natural. Duda, Chi, Newton, Walling e Catley (1995) realizaram um estudo sobre as interdependências teóricas e empíricas entre a perspectiva para a realização de objectivos, ou
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formas de julgar a competência do jovem e a definição subjectiva de sucesso e motivação intrínseca no contexto desportivo. Relacionando a teoria de Nicholls (1989) e a teoria de Deci e Ryan (1985) confirmaram as predições teóricas onde uma orientação para o ego diminui a motivação intrínseca ao passo que uma perspectiva de envolvimento orientada para a tarefa desenvolve a motivação intrínseca e confirmaram a validade do TEOSQ. Roberts e Ommundsen (1996), na sua pesquisa em atletas adultos de alto nível demonstraram uma associação entre uma orientação para a tarefa e a crença de que o esforço árduo e cooperação levam ao sucesso no desporto. No geral, a orientação para o ego tem sido associada com a noção de que o sucesso é alcançado através da posse de grande habilidade, bem como o uso de estratégias ilegais como enganar e tentar impressionar o treinador (Roberts, Treasure, & Kavussanu, 1996). Também um estudo de Duda e White (1992) determina a relação entre a orientação para os objectivos e as crenças sobre a causa de sucesso entre atletas de elite, bem como o exame das características psicométricas do TEOSQ no desporto competitivo de alto nível. A experiência com 143 esquiadores revelou uma análise factorial com duas subescalas independentes e demonstrou uma consistência interna aceitável. A orientação para a tarefa relacionou-se positivamente com a crença de que o sucesso no esqui era resultado de trabalho árduo, habilidade superior e a selecção de actividades que um consegue realizar com sucesso. A orientação para o ego, por sua vez, relacionou-se com a crença que conseguir uma vantagem ilícita, possuir grande habilidade e seleccionar tarefas que um consegue concretizar bem como as variáveis externas são razões para o sucesso no esqui. A análise factorial das duas orientações e quatro escalas de crenças revelou dois objectivos divergentes e dimensões de crença no esqui competitivo. Segundo Roberts (2001), a crença de que a habilidade é um antecedente do sucesso pode ser prejudicial para os atletas e alunos de EF de todos os níveis. Os indivíduos com baixa percepção de habilidade geralmente acabam em frustração, baixo nível de confiança e até desistência do desporto. Ver a habilidade como precursor do sucesso é importante para aqueles jovens que aspiram participar ao mais alto nível de competição, contudo não predispõe a comportamentos adaptativos de realização de objectivos na actividade física. A crença de que a habilidade conduz ao sucesso não auxilia os jovens que não se vêm talentosos. Por outro lado, o autor acredita que o sucesso na actividade física se torna possível através do trabalho árduo e cooperação pode conduzir os atletas jovens, mesmo os menos dotados, a experimentar o sucesso sendo crucial para jovens talentos. Para os indivíduos com grande percepção de habilidade, confiança na crença que a habilidade causa o sucesso pode conduzir a complacência. Isto é verdade para as crianças, onde os níveis de maturação muitas
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vezes predizem o sucesso. A crença de que a habilidade pode levar ao sucesso pode conduzir a um atraso no desenvolvimento uma vez que a criança que deposita na habilidade o sucesso pode não conseguir colocar o esforço necessário para desenvolver a habilidade. Em relação às estratégias para a realização de objectivos, Nicholls (1989) em pesquisas realizadas em contextos educativos e desportivos sugere que as teorias pessoais de realização compreendem diferentes crenças sobre o que conduz ao sucesso. Tais crenças estão reflectidas nas estratégias de realização de objectivos empregadas na competição como no treino. As estratégias dos processos cognitivos da orientação para a tarefa são mais profundas do que na orientação para o ego quando confrontados com feedback competente ou incompetente. Os indivíduos com orientação para o ego podem adoptar uma filosofia de “ganhar a todo o custo”, acompanhada de demonstração de agressão uma vez que os participantes acreditam que os meios ilegais e o engano são causas de sucesso (Roberts, 2001). Roberts e Ommundsen (1996) referem que os atletas orientados para a tarefa enfatizam o valor do treino para a aprendizagem de novos skills e desenvolvimento. Claramente esta orientação para os objectivos tem implicações motivacionais positivas no desporto. Em contraste, atletas com orientação para o ego evitam o treino como uma estratégia de realização. Preferem competir na medida que lhes permite demonstrar superioridade sobre os outros. Na mesma linha de pensamento, Van-Yperen e Duda (1999) através de um estudo longitudinal procuraram estudar a relação entre a orientação para os objectivos e a crença das causas para o sucesso no caso de jogadores de futebol de elite holandeses. Procuraram igualmente verificar a relação entre os objectivos e crenças na avaliação da performance. Utilizando o questionário TEOSQ, verificaram uma associação positiva entre a orientação para o ego e a crença de que a habilidade ou talento inato são determinantes do sucesso. A orientação para a tarefa está ligada com as crenças de que o esforço, jogo de equipa e suporte parental contribuem para a realização de objectivos no futebol. Um aumento de performance técnica ao longo da época (como reforçada pelo treinador) correspondeu a uma forte orientação para a tarefa e a crença de que o sucesso no futebol resulta do trabalho árduo e possuindo pais interessados na carreira do filho. Isto quer dizer que as orientações para os objectivos que os indivíduos adoptam relacionam-se com a forma como interpretam e respondem a uma actividade em relação à estratégia que usam para aumentar a performance e para a selecção de informação de acordo com a qualidade da sua performance (Duda, 2001). Assim, uma forte orientação para o ego pode favorecer o desenvolvimento dos skills técnicos.
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Um outro estudo de Smith, Balaguer e Duda (2006) incidiu no entendimento das relações sociais e processos motivacionais no desporto jovem. Foi realizado com 223 jovens jogadores de futebol do género masculino com idades entre 9 e 12 anos de idade que preencheram um questionário multi-secções. Foram observados quatro perfis e constatou-se que uma baixa proporção de participantes exibiram perfis de orientação de objectivos para o ego e as diferenças nos perfis de orientação para a realização de objectivos foram observadas em todas as variáveis excepto na qualidade de amizade positiva, com uma tendência para aqueles que evidenciam baixa orientação para a tarefa exibirem respostas pouco adaptativas. Os estudos, na sua generalidade, demonstram associações positivas entre o clima de mestria percepcionado, orientação para a tarefa e a crença de que o esforço é a causa para o sucesso e entre o clima de performance percepcionado, orientação para o ego e a crença de que a habilidade causa o sucesso. Os estudos demonstram igualmente que um clima de mestria está associado a um afecto positivo mais elevado (divertimento, satisfação e interesse) e a um afecto negativo mais baixo (ansiedade e monotonia). 2.4. Estados de envolvimento Se pretendemos aprender sobre as diferenças individuais em relação à orientação para a tarefa e para o ego no envolvimento no desporto, devemos estabelecer medidas de orientação disposicionais para a realização de objectivos nesse contexto (Duda, 2001). A autora, a propósito dos atletas de alto nível refere que o caminho para a excelência baseia-se na maximização do seu treino árduo e a persistência para além dos contratempos durante as suas carreiras desportivas. Estes jovens atletas devem ser capazes de exercer e manter elevados níveis de esforço, ser persistentes, mesmo quando encaram os fracassos. Devem ser fortemente orientados para a tarefa e/ou devem participar num envolvimento altamente orientado para a tarefa, sendo que o envolvimento para o ego deve ser moderado. Contudo, o ambiente que envolve o desporto alimenta a orientação para o ego devido a diversas influências sociais que mais tarde serão explicadas. Assim, Duda (2001) alerta para a necessidade de se olhar para além do correlato das orientações para a tarefa e para o ego quando se trata de tirar conclusões sobre a influência das perspectivas segundo os objectivos. Neste ponto convém explicitar o que são os estados de envolvimento. A orientação para a realização de objectivos é preditiva da razão para a participação no desporto e em actividades físicas (Duda, 1996). White e Duda (1994) chegaram à conclusão que a orientação para a tarefa correspondia a motivações mais intrínsecas de envolvimento (desenvolvimento de
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skills, aumento do nível de fitness). A orientação para o ego relacionou-se com motivos extrínsecos de participação (reconhecimento social e aumento do estatuto social de cada um). Um jovem desportista apresenta uma determinada orientação para a realização dos objectivos dependendo da orientação disposicional bem como dos factores situacionais relevantes. Ora bem, um indivíduo orientado para a tarefa assume-se que se envolve de igual forma, usa uma concepção de habilidade indiferenciada, logo a percepção de habilidade não é relevante; escolhe ser orientado para a tarefa na demonstração de competência na tarefa a realizar. O indivíduo avalia a performance individual na determinação da quantidade de esforço dispendido e mestria alcançada, a demonstração de habilidade é auto referenciada e o sucesso advém quando a mestria ou evolução individual é demonstrada. Além do mais tendem a demonstrar responsabilidade social e skills para a vida futura (Treasure, 2001). Em contraste, um indivíduo orientado para o ego assume-se como envolvido desta forma na actividade e utiliza uma concepção de habilidade diferenciada (Nicholls, 1984), logo, a percepção de habilidade (normativa) é relevante para determinar competência; é referenciado pelos outros e o sucesso é alcançado quando supera os adversários, especialmente quando é aplicado pouco esforço (Roberts, 2001). Pode resultar em comportamentos adaptativos porque disfarçam uma falta de habilidade mas representam comportamentos não adaptados (dúvida sobre a competência) na busca pelos objectivos, os indivíduos fogem ao desafio, apresentam uma reduzida persistência face à dificuldade, não se esforçam, e desistem se se torna difícil alcançar os objectivos planeados (Roberts, 2001; Duda, 2001). Noutro estudo levado a cabo por Duda (1985), o autor equacionou a definição de sucesso e fracasso relacionada com as características pessoais, comportamentos e resultados e reflecte uma ênfase tanto no esforço como na habilidade. Existem duas grandes orientações para a realização de objectivos: objectivos segundo critérios de mestria e objectivos com uma carga de comparação social. Os resultados revelaram diferenças sexuais e culturais em relação aos objectivos atléticos. Homens anglo definiam o sucesso no desporto em termos de habilidade enquanto mulheres anglo e atletas mexicano americanas tendiam a equacionar o sucesso atlético na demonstração de esforço. O reverso é verdadeiro para o fracasso no desporto: homens anglo enfatizam baixo esforço enquanto os outros grupos dão destaque à baixa habilidade. Variações preferidas nas orientações para a realização de objectivos foram reveladas. Por exemplo, num envolvimento de atletismo, as mulheres apresentaram menos preferência para o sucesso no desporto o que reflectiu no indivíduo e na comparação e envolvimento social. Os homens indicaram menor preferência por uma orientação individual, fracasso atlético baseado na comparação social.
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Duda em 1989 estudou a relação entre a perspectiva para a realização de objectivos (orientação para a tarefa ou para o ego) e o propósito percebido do desporto entre rapazes e raparigas do secundário. O autor encontrou sete factores de participação desportiva. Os resultados do Questionário do Propósito Desportivo (PSQ) indicaram que a importância colocada na mestria dos skills e o desenvolvimento pessoal no desporto (orientação para a tarefa) está relacionado positivamente com as crenças de que o desporto deve desenvolver a auto-estima e ensinar as pessoas a procurar dar o seu melhor (Duda & Whitehead, 1998), cooperar e tornarem-se bons cidadãos. A orientação para o ego foi um preditor positivo da visão de que o envolvimento no desporto deve aprimorar a auto-estima e o status social, estando contudo, negativamente relacionado com o contínuo envolvimento no desporto (Duda, 1992). Um estudo de 2007 de Bruin, Rikers e Schmidt analisou a diferença entre a persistência e a desistência em jogadores de xadrez adolescentes. A competitividade e a procura de excelência provaram ser preditoras de investimentos na prática deliberativa. A motivação para a realização de objectivos e a motivação específica do xadrez difere, em certa extensão, entre os persistentes e desistentes. Os resultados demonstram que a motivação para prosseguir uma prática deliberada não só contém a vontade de melhorar a performance, como também da vontade de conseguir excepcionais níveis de performance. Quais os motivos para a participação e percepções de comportamento? Duda e White (1994) indicam num estudo por si elaborado em participantes desportivos recreacionais e de colégio, os motivos para a participação. A orientação para a tarefa estava associada aos motivos mais intrínsecos de envolvimento como desenvolvimento de skills e aumento do nível de fitness de cada um. A orientação para o ego estava ligada a motivos extrínsecos de participação como reconhecimento social e aumento do status social, estes atletas estavam menos propensos a citar a afiliação e pertença a uma equipa como razões para a participação desportiva. Van-Yperen e Duda (1999) a este respeito, referem que a orientação para a tarefa está associada às crenças de que o esforço, jogo de equipa e suporte parental são importantes para o sucesso no desporto, mas também que a orientação para a tarefa levar os jovens a desenvolver a sua performance.
2.5 Determinantes afectivas na orientação para a realização de objectivos
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Existe uma interdependência entre a orientação para os objectivos individuais e o divertimento que ele ou ela experimentam quando participam na actividade física. Este trabalho também enfatiza a importância da orientação para a tarefa na permanência em actividades físicas. De facto parece existir uma relação entre as orientações para a realização de objectivos, percepção de competência no desporto, percepção de sucesso, e como as atribuições dos resultados percebidos afectam a sensação induzida pelo exercício seguido do exercício físico. 304 crianças responderam a um inventário, sendo que a orientação para a tarefa, sucesso percebido e orientação para o ego combinado com elevadas percepções de competência desportiva, constituíram preditores positivos de estados de participação positivos, revitalização e tranquilidade; apenas a orientação para a tarefa constituiu um preditor negativo para a exaustão física. A dimensão locus de causalidade pareceu mediar o impacto da percepção de sucesso na participação positiva, mas com um efeito negligenciável. Os resultados foram consistentes com anteriores resultados que enfatizaram a vantagem motivacional de adoptar uma orientação para a tarefa em situações de realização física e demonstraram o papel da orientação para a tarefa como determinante na afeição no exercício em crianças. 2.5.1 Divertimento e satisfação Nicholls (1992), nos seus estudos sobre motivação académica, sugere que as equipas orientadas para a tarefa podem, mais do que outras, valorizar a entreajuda e a crença de que o sucesso segue o espírito de equipa. Estas equipas acham o jogo mais intrinsecamente satisfatório e jogam sem a pressão de uma competição e as demandas do treinador. Existe uma ligação óbvia entre a orientação para a tarefa e divertimento (Kavussanu &, Roberts, 1996), satisfação e interesse (Duda, 2001) durante a participação na actividade física. Uma orientação para o ego, quando não acompanhada por uma elevada orientação para a tarefa afasta-se do divertimento durante a participação na actividade física e isto parece ser muito real com os indivíduos com baixa percepção de habilidade (Roberts, 2001). Esta consistência de resultados sugere interdependências entre o divertimento, motivação intrínseca e objectivos de realização. Se queremos que os atletas apreciem mais a sua participação desportiva e exibam maior motivação intrínseca, formas auto-determinadas de motivação, precisamos de assegurar que o jovem exiba uma grande orientação para a tarefa (Duda, 1992; Duda, 2001). Na orientação para o ego, o indivíduo vê a busca pelos objectivos como um meio para chegar a um fim, que é a demonstração de uma habilidade superior. Este esquema cognitivo é
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incompatível com o elemento fundamental da motivação intrínseca: participar na tarefa pelo próprio gozo. Vários estudos, entres eles Treasure e Roberts (1994); Ommundsen e Roberts (2001), referem que os atletas com orientação para o ego ganham satisfação quando demonstram competência de uma forma normativa e agradam ao treinador e aos seus amigos, a demonstração de habilidade, uma performance superior é geradora de satisfação. Indivíduos orientados para a tarefa sentem-se satisfeitos quando têm experiências de mestria e percepcionam um sentido de realização durante a sua participação desportiva, a aprendizagem e mestria da tarefa são importantes fontes de satisfação. Pesquisas feitas com jovens adolescentes revelaram uma relação conceptual coerente entre a orientação para a realização de objectivos e as suas crenças sobre o desporto competitivo. Treasure e Roberts (1994) nesta linha de pesquisa procuraram examinar as concomitantes afectivas e cognitivas da orientação para a tarefa e para o ego em diferentes idades, durante a adolescência. A orientação para a tarefa relacionou-se com as crenças de realização de objectivos adaptativos e prosociais resultantes da participação desportiva. Em contraste, a orientação para o ego relacionou-se com aspectos sociais negativos e crenças de realização de objectivos mal adaptados sobre o envolvimento no desporto. Os resultados sugerem que a orientação para a tarefa facilita adaptações cognitivas e padrões afectivos no desporto competitivo durante a adolescência. Já Stephens (1998) realizou um estudo em jovens futebolistas onde avaliou a percepção do divertimento e valor atribuído ao facto de jogar futebol. As maiores diferenças encontraram-se entre os grupos alto em tarefa/ baixo ego e baixo em tarefa/alto ego, com o primeiro grupo a atribuir significativamente maior valor ao jogar futebol. Dividiram-se depois os grupos em relação à habilidade percepcionada. Esta desempenhou um papel de mediador na relação entre o perfil de orientação para os objectivos e o divertimento percebido e valor do jogar futebol. Fry e Fry (1999) elaboraram um estudo que usava a Teoria para a Realização de Objectivos para examinar as perspectivas de objectivos e processos motivacionais de 171 atletas juniores de elite, levantadores de peso. Uma orientação alta em tarefa/baixo ego estava associado ao divertimento e alto ego/baixo em tarefa estava associado com baixo esforço, baixa auto-valia física e elevada percepção de habilidade. Os resultados providenciam evidência adicional para sugerir que os treinadores e pais devem desenvolver um envolvimento orientado para a tarefa entre os jovens atletas para que a ênfase seja colocada na mestria, esforço e desenvolvimento, ao invés da comparação normativa.
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2.5.2 Ansiedade A teoria para a realização de objectivos sugere que os atletas que adoptam uma orientação para o ego experienciam ansiedade (Nicholls, 1989), dependendo se conseguem ou não demonstrar habilidade numa determinada situação. Uma orientação para a tarefa, por outro lado, não deve conduzir ao stress à medida que o atleta foca a sua atenção de uma forma auto referenciada de mestria de uma actividade sem se comparar com outros (Roberts, 2001). Apesar de ambas as orientações para a realização de objectivos estarem relacionadas com respostas adaptativas ao nível do estado de ansiedade pré-competitiva (Hall, Kerr & Matthews, 1998; Duda, 2001). De facto, o modelo conceptual do stress especifica a existência de relações entre factores situacionais, psicológicos, cognitivos e fisiológicos. Cada um destes componentes básicos do modelo é influenciado pela personalidade e variáveis motivacionais. Ao nível situacional, o stress envolve o equilíbrio e desequilíbrio entre as demandas situacionais e os recursos disponíveis para lidar com eles. Contudo, estes factores ambientais afectam a pessoa principalmente através da influência de processos cognitivos. Entre os processos mais importantes estão a decisão 1) das situações ambientais, 2) pessoas e recursos disponíveis, 3) as possíveis consequências do fracasso para ir de encontro às expectativas e 4) o significado percebido das consequências. A componente comportamental do modelo inclui as tendências comportamentais aprendidas, skills relevantes para a tarefa, e skills sociais (Smoll & Smith, 1990). Os estudos têm sido unânimes em relacionar maiores níveis de tolerância à ansiedade em jovens orientados para a tarefa e com valores baixos de orientação para o ego. Por outro lado, uma grande orientação para o ego predispõe a maiores níveis de stress devido à sua preocupação com a comparação social e tendência para se focarem individualmente (Duda, 2001; Pensgaard & Roberts, 2002). Por outro lado, Ommundsen e Pedersen (1999) relacionaram a realização de objectivos dos jovens atletas e índices de ansiedade competitiva no desporto em relação ao traço cognitivo e somático. Avaliaram também o papel da percepção de competência do atleta no desporto. Verificaram não existir relação entre orientação para o ego e índices de ansiedade, a análise de regressão múltipla demonstrou que tanto uma elevada orientação para a tarefa como uma percepção de competência no desporto revelaram uma tendência reduzida de demonstração de índices de ansiedade cognitiva quando competindo no desporto. Em adição, os atletas que têm uma percepção de competência no desporto elevada estão menos predispostos para experienciar ansiedade somática sob a forma de níveis
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fisiológicos aumentados quando competindo com aqueles que duvidam da sua competência. Os resultados demonstraram também que a percepção de competência não medeia nem modera a relação entre a orientação para a realização de objectivos e níveis traço de ansiedade cognitiva e somática no desporto. Um jovem orientado para a tarefa com uma sensação de competência elevada são importantes na medida em que previnem que competições desportivas dêem lugar a uma elevação na ansiedade cognitiva nos jovens atletas. Smith, Smoll e Cumming (2007) referem que a intervenção comportamental-cognitiva desenhada para promover um clima motivacional de orientação para a mestria estão relacionados com baixa ansiedade nos atletas. Uma análise hierárquica linear revelou que os jovens atletas no grupo de intervenção, independentemente do género mostraram estar mais envolvidos na tarefa na Escala de Clima Motivacional no Desporto Jovem quando comparado com o grupo de controlo. Os jovens que jogavam para os treinadores que estavam treinados exibiram decréscimos na Escala de Ansiedade e na pontuação de ansiedade total desde a préépoca até ao fim da mesma. O grupo de controlo evidenciou maiores níveis de ansiedade ao longo da época. Assim, Duda (2001) refere que a orientação para o ego e o clima percepcionado orientado para o ego (se acompanhado com baixa percepção de habilidade) estão associadas a maiores níveis de ansiedade (especialmente ansiedade cognitiva). Com efeito, Hall et al. (1998) investigaram, por sua vez, a ansiedade pré-competitiva através do modelo de ansiedade relacionado com a performance na relação entre o perfeccionismo, objectivos de realização e o padrão temporal de ansiedade estado multidimensional em 119 corredores do secundário. Através da regressão hierárquica os autores verificaram que o perfeccionismo era um preditor consistente e significante de ansiedade cognitiva. A habilidade percepcionada era um preditor consistente de confiança e os objectivos para a tarefa e para o ego contribuíram para a predição de ansiedade cognitiva, ansiedade somática e confiança respectivamente. A preocupação com os erros, dúvidas sobre a acção e standards pessoais foram preditores consistentes da ansiedade cognitiva, ansiedade somática e confiança respectivamente. Estes resultados sugerem que o processo de decisão subjacente ao estado de ansiedade multidimensional é influenciado pelas diferenças individuais num conjunto de construtos relacionados com a realização de objectivos.
2.6. Objectivos de fuga
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Existe quem coloque a questão em saber se os indivíduos são motivados por aproximação (procuram o sucesso e demonstram que são capazes) ou orientados para a fuga (medo da possibilidade de fracasso ou em mostrar que não são competentes) (Duda, 2001). Nicholls (1984b) define o comportamento para a realização de objectivos como o comportamento no qual o objectivo é demonstrar ou desenvolver, para si próprio ou para os outros, elevada habilidade ou evitar demonstrar baixa habilidade. Os objectivos de fuga são adoptados mais facilmente por indivíduos com baixa percepção de habilidade porque aparentar incompetente é o que querem evitar. Refere o autor que os jovens que duvidam das suas habilidade estão mais propensos a adoptar objectivos de fuga de forma a não mostrar a habilidade percepcionada e os estudantes que perseguem objectivos de fuga experienciam um aumento de ansiedade, menor envolvimento na tarefa, baixas notas, baixo sucesso percebido, menos divertimento e um menor estado subjectivo de prazer do que indivíduos que adoptam objectivos de aproximação (Roberts, 2001). O modelo hierárquico da motivação para a realização de objectivos propõe que à semelhança da necessidade de alcançar objectivos, o medo do fracasso energiza o comportamento de realização de objectivos e predispõe os indivíduos a adoptar certos objectivos particulares. 356 estudantes participantes nas aulas de EF completaram as medidas multidimensionais de medo do fracasso e objectivos de realização em quatro ocasiões num intervalo de três semanas. O medo do fracasso relacionou-se positivamente com os objectivos de realização como fuga à mestria, aproximação à performance e fuga à performance. Os resultados são consistentes com a ideia de que influenciam causalmente os objectivos de realização (Conroy & Elliot, 2004). A pesquisa levada a cabo por Elliot e Harackiewicz (1996) num estudo em que divide a orientação para a performance em orientações de fuga e aproximação e a sua influência na motivação intrínseca, referem a propósito, que apenas as orientações para a performance baseadas na fuga ao fracasso e processos de auto protecção contaminavam a motivação intrínseca, resultado de distracção na tarefa. O envolvimento pela tarefa foi validado como mediador nos efeitos observados na motivação intrínseca onde foram observados menos comportamentos de fuga. Resultados semelhantes foram encontrados no estudo de Harackiewicz et al. (1997) na classe de aula de introdução à psicologia. Eles referem que tanto objectivos para a performance como para a mestria podem conduzir a importantes resultados em classes de aula em colégios.
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A este respeito Roberts (2001) afirma que, no contexto desportivo, uma orientação de fuga não deve ser vista como uma orientação para o ego em indivíduos com baixa percepção de habilidade. Stoeber et al. (2008) procuraram argumentar que o perfeccionismo não é na generalidade mal adaptativo, mas demonstra relações diferenciadas com objectivos de performance e mestria dependendo que faceta do perfeccionismo é tida em consideração. Foram realizados dois estudos com 204 atletas de secundário e 147 estudantes universitários em duas facetas do perfeccionismo – a busca da perfeição e reacções negativas à imperfeição. Os resultados demonstraram que a busca pela perfeição em atletas está associada a um padrão adaptativo de objectivos para a realização enquanto que reacções negativas à imperfeição estão associadas a um padrão mal adaptado. Contudo, a busca pela perfeição no desporto pode ser adaptativa em atletas que não experienciam fortes reacções negativas quando a performance é menos do que perfeita. A análise de invariância factorial de Nien e Duda (2007) revelou que um modelo de quatro objectivos pode ser considerado como equivalente entre géneros. Apenas a invariância parcial foi suportada com respeito aos antecedentes na orientação para a realização de objectivos como modelo consequente. Os caminhos entre a regulação do medo do fracasso em relação ao objectivo mestria – fuga, ao objectivo de mestria para a motivação intrínseca e ao objectivo de performance para a motivação extrínseca não foram invariantes em homens e mulheres. A validade factorial de múltiplos objectivos para a realização dos objectivos foi suportada para ambos os géneros. Os resultados deste estudo providenciaram suporte parcial para a invariância de género num modelo 2x2. Outro estudo, de Conroy, Kaye e Coatsworth (2006) testou um modelo de influências socio-cognitivas na motivação situacional (razões para participar num desporto num determinado momento) através de um modelo 2x2 de realização de objectivos. O estudo foi realizado a 156 participantes de uma liga de natação e revelou que a motivação intrínseca e regulação identificada não pareciam mudar durante a época, contudo a falta de motivação e a regulação externa cambiavam muito durante esse período. Referem ainda que as percepções de um jovem de um clima orientado para evitar situações foram preditores de uma correspondente mudança residual nos seus próprios objectivos de realização ao longo da época. Em adição, a mudança residual nos objectivos de evitar mestria (foco no evitar de incompetência auto referenciada) relacionou-se positivamente com o ritmo a que as pontuações da regulação externa e a falta de motivação mudavam. O estudo sobre a realização de objectivos iluminou processos motivacionais básicos, apesar da controvérsia circundar a sua natureza e impacto. Os autores Grant e Dweck (2003) numa compilação de 5 estudos mostram que o impacto dos objectivos de aprendizagem e
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performance dependem da forma como são operacionalizados. Objectivos de aprendizagem activos foram preditores de estratégias de adaptação, motivação sustentada e maior realização face ao desafio. Entre os objectivos de performance, objectivos ligados à habilidade foram preditores de desistência e significaram performances piores face ao desafio (mas providenciaram um acelerar de performance quando os alunos estão face ao sucesso); objectivos normativos não preditores de decréscimos em motivação ou performance; objectivos de resultados (esperar um bom resultado) foram de facto igualmente relacionados com objectivos de aprendizagem e objectivos de habilidade. A escala de orientação para os objectivos em desporto jovem (AGSYS), por exemplo, parece ser uma medida válida e de confiança da orientação para a realização de objectivos nas crianças entre 9 e 14 anos. Os autores não tiveram sucesso no desenvolvimento de escalas de orientação para os objectivos para situações de fuga que não fossem altamente correlacionadas, levantando a possibilidade que as crianças não diferenciam cognitivamente entre orientações fuga-mestria e fuga-ego (Cumming et al. 2007). 2.7. A orientação para a realização de objectivos e a identidade moral dos jovens desportistas Nicholls (1989) sugeriu que as variações nas perspectivas para a realização de objectivos deve corresponder a diferenças do que é permissível e o raciocínio moral dos indivíduos sobre tais comportamentos. À medida que as crianças desenvolvem as concepções normativas de habilidade e dificuldade, eles vêm a cooperação, o que tende a parecer com que todos sejam igualmente aptos, como injusta. Assim, os atletas muito orientados para o ego e baixos na orientação para a tarefa estão mais propensos a endereçar por comportamentos de batota e demonstrar menos respeito pelos seus oponentes e regras do jogo. Estudos iniciais sugerem que os objectivos devem corresponder a variações no desportivismo. A socialização no desporto deve envolver o desenvolvimento do entendimento da justeza das regras do jogo de forma a que esta percepção varie a forma como as actividades e as situações de jogo são definidas (Nicholls, 1992). Qual o propósito do desporto então? Roberts e Ommundsen (1996) referem que com atletas noruegueses de elite em desporto de equipa, os indivíduos orientados para a tarefa envolvem-se pelo desenvolvimento de valores prosociais como responsabilidade social, cooperação e a vontade de seguir regras bem como skills para toda a vida. Em contraste, os atletas orientados para o ego acreditam que o desporto deve providenciar status social.
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A assumpção de que o desporto constrói carácter continua a ser perspectivada. Em 1981, Kleiber e Roberts realizaram um estudo com a intenção de considerar um construto sobre o carácter, isolar os seus elementos sociais e estabelecer a sua susceptibilidade na criança na influência da experiência do desporto organizado. Usando os comportamentos prosociais como uma manifestação de carácter social, a influência do desporto organizado foi avaliada numa experiência de campo com crianças de duas escolas elementares. Apesar de uma forma generalizada se crer que o “desporto cria carácter” não ter sido refutada ou suportada nesta investigação, existe alguma evidência, segundo os autores de que os comportamentos prosociais podem ser inibidos pela participação desportiva. A pergunta que se coloca é a de saber como promover estes comportamentos nos jovens desportistas? Bredemeier, Weiss, Shields e Cooper (1986) estudaram as relações entre as variáveis de envolvimento no desporto (participação e interesse) e as facetas morais da crianças (maturidade de raciocínio e tendências agressivas) em 106 jovens através de entrevistas e questionário. Os resultados do estudo revelaram que a participação e interesse em desportos de grande impacto e a participação das raparigas em desportos de contacto médio (o maior nível de contacto de experiência desportiva que elas anunciaram) relacionaram-se positivamente com o raciocínio moral inferior e maior tendência para a agressão. A análise de regressão demonstrou que o interesse desportivo previu maturidade de raciocínio e tendência de agressão melhor do que a participação desportiva. A performance em actividade física é importante no processo de socialização da criança rumo ao desenvolvimento de comportamentos morais apropriados (Roberts, 2001). Afirma o autor que, com propriedade, apenas quando o indivíduo se dirige a níveis superiores de desenvolvimento moral é que ele consegue colocar-se na perspectiva de outros, fornecer considerações iguais às necessidades das partes envolvidas num conflito moral e preocupar-se com a justiça e rectidão. Os indivíduos envolvidos para o ego focam as suas atenções no eu e dão muita importância à comparação com os outros. É sabido que a preocupação com o sucesso normativo e comparação social pode inibir o desenvolvimento moral do atleta orientado para o ego. Em contraste, um jovem orientado para a tarefa sente-se competente quando alcança a mestria e demonstra aprendizagem da tarefa. O progresso e o desenvolvimento tornam-se compatíveis com o campo da moralidade. Uma investigação da relação entre o clima motivacional percepcionado e o funcionamento moral, atmosfera moral e legitimação desportiva injuriosa actuante em jovens jogadores de futebol foi levada a cabo por Blake, Roberts e Ommundsen (2005). Com efeito concluíram, do seu estudo com 705 jovens jogadores de futebol noruegueses, que o efeito de baixa moralidade é enfatizado num clima de grande percepção de performance criado pelo treinador no futebol jovem, enquanto que um clima de percepção de mestria foi preditor de um
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raciocínio moral mais maduro e uma atmosfera moral criada pelo treinador desaprovando comportamentos de baixa moralidade. Neste seguimento, Ommundsen, Roberts, Lemyre e Miller (2003) investigaram a relação entre o clima motivacional percepcionado, desportivismo e funcionamento moral e social e normas de equipa numa amostra de 279 jovem jogadores de futebol noruegueses dos 12-14 anos de idade. O seu estudo concluiu que os atletas que percebem o clima motivacional como maioritariamente orientado para a mestria responderam com níveis mais maduros de raciocínio social e moral e melhores comportamentos de desportivismo. Estes jogadores apresentaram também menos tendência para comportamentos imorais e perspectivaram as normas de equipa como altamente desencorajadoras de pró-agressividade. Em contraste, os jogadores que percebem o clima motivacional como predominantemente orientado para a performance estavam mais aptos para relatar comportamentos imorais no futebol e menos propensos a comportamentos de desportivismo. A propósito da relação entre moralidade e orientação para realização de objectivos no desporto, Sage, Kavussanu e Duda em 2006 elaboraram um estudo cujo propósito foi examinar os efeitos da orientação para a tarefa e para o ego e identidade moral em julgamentos prosociais e anti-sociais e comportamento no futebol Americano em 210 adultos masculinos a um nível recreacional e semi-profissional. Os resultados revelaram, através de uma análise de regressão, nenhuns efeitos principais das orientações para os objectivos e identidade moral no julgamento e comportamento prosocial. A orientação para a tarefa foi preditora positivamente do julgamento prosocial apenas com baixos níveis de orientação para o ego. A orientação para o ego emergiu como um preditor positivo para julgamento anti-social e comportamento, ao passo que a identidade moral foi preditora negativamente destas variáveis. A diferenciação entre aspectos de moralidade prosociais e anti-sociais foi positiva. Os autores concluem que examinando a identidade moral e interacções entre orientação para a tarefa e para o ego ficamos a conhecer melhor a influência destas variáveis no funcionamento prosocial e antisocial do desporto. Outro estudo do género em 143 atletas observou o papel dos objectivos para a realização nos índices de funcionamento moral (julgamento moral, intenção e comportamento), atitudes anti-desportivas e julgamentos sobre a legitimidade de actos injuriosos em jogadores de basquetebol do colégio. Os rapazes confirmaram uma maior orientação para o ego, uma mais baixa orientação para a tarefa, baixos níveis de funcionamento moral e maior aprovação e comportamentos anti-desportivos e estavam mais propensos a legitimar actos injuriosos do que as mulheres. Para a amostra feminina, indicou a presença de uma significativa mas fraca relação entre as orientações para os objectivos e um conjunto de variáveis morais. Uma maior orientação para o ego foi relacionada com baixos níveis de julgamento e índices de
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funcionamento moral, bem como uma grande aceitação de actos injuriosos intencionais (Kavussanu & Roberts, 2001). Por seu turno Sage e Kavussanu (2007) verificaram os efeitos da orientação para a tarefa e para o ego em três medidas de comportamento moral, em 48 rapazes e raparigas: escolha prosocial, comportamento prosocial observado e comportamento antisocial observado. Os jogadores envolvidos na orientação para o ego mostraram mais comportamentos antisociais do que os orientados para a tarefa ou em condições controlo. As mulheres apresentaram mais comportamentos prosociais do que os homens. Um outro estudo examinou se a participação em desportos de contacto (basquetebol, futebol, rugby) influenciava o funcionamento moral no contexto desportivo e a forma como estes efeitos são mediados pela orientação para o ego. O papel da orientação para a tarefa no funcionamento moral também foi medido. Da análise de 221 participantes resultou que a orientação para a tarefa correspondeu a altos níveis de funcionamento moral ao passo que a participação em desportos de contacto foi preditor positivamente de orientação para o ego, o que, por sua vez, revelou um baixo funcionamento moral. As dimensões motivacionais ou morais do comportamento agressivo foram alvo de um estudo de Stephens e Bredemeier (1996). Utilizaram tanto construtos morais como motivacionais para investigar a agressão em 212 jovens futebolistas sub 12 e sub 14. Os resultados revelaram que os jogadores que se descrevem como aqueles que facilmente agridem um oponente também facilmente identificam um conjunto de colegas de equipa que iriam agredir em situações semelhantes, acreditam que o seu treinador coloca maior ênfase em objectivos orientados para o ego e escolhem situações com motivos morais preconvencionais em vez das convencionais como mais tentadoras para acção agressiva. Estes resultados sugerem que o comportamento agressivo dos jovens atletas está relacionado com a atmosfera motivacional da equipa incluindo normas agressivas da equipa, as percepções dos jogadores em relação a estas normas de equipa e as características do treinador, bem como os motivos morais dos jogadores para o comportamento. A análise das orientações para os objectivos é informativa na predição das tendências agressivas no desporto (Duda, 2001). Nesta linha de pensamento, Guivernau e Duda (2002) realizaram um estudo em que examinaram a relação da atmosfera moral em equipas com a predisposição dos atletas para a agressão. Procuraram estabelecer possíveis diferenças de género bem como a existência de uma figura dominante na influência agressiva dos atletas. Realizaram o estudo 194 jogadores de futebol masculinos e femininos entre os 13 e os 19 anos de idade. As percepções dos atletas face às normas pró agressivas da sua equipa emergiram como o preditor mais consistente da predisposição para a agressão. Independentemente do
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género, os atletas relataram que estavam mais predispostos a serem agressivos ao pensar que o seu treinador suportava tais comportamentos. Os resultados esclarecem a influência que os outros significativos têm na moldura da atmosfera moral que opera em equipas desportivas de jovens. As atribuições morais e sociais são baseadas em muitos factores, mas uma forma da criança ganhar aceitação e visibilidade social é a demonstração de competência numa actividade valorizada pela sociedade e outras crianças (Roberts, 2001). Aliás muitos dos que advogam a participação desportiva acreditam que este contexto providencia um contexto apropriado para a aprendizagem de skills sociais como a cooperação, ou seja dimensões intrínsecas e comportamento prosocial e moral (Duda, 1992). A este respeito Lee, Whitehead e Ntoumanis (2007) procuraram desenvolver um questionário sobre a tomada de decisão sobre atitudes morais no desporto de jovens e descrever o nível de atitudes éticas em jovens competidores. Utilizaram para o efeito 375 participantes e com um modelo de 3 factores e 18 itens sobre a aceitação de batota, aceitação de desportivismo no jogo e manter a perspectiva correcta da vitória. Concluíram que todos os critérios psicométricos foram alcançados. Homens, atletas mais velhos e desportistas de jogos colectivos pontuaram mais do que as mulheres, jovens atletas e atletas de desportos individuais na aceitação da batota e desportivismo de equipa. A aceitação deste desportivismo foi mais elevada entre atletas de alta competição e o factor “manter a vitória em perspectiva” foi mais alta nas mulheres. 2.8. Clima motivacional percepcionado na realização de objectivos individuais
Tanto o desporto como o trabalho académico jogam um papel importante na vida escolar, contudo, existe pouca evidência na natureza ou generalidade da motivação para a realização de objectivos dentro destes domínios. Num estudo desenvolvido por Duda e Nicholls (1992), as crenças sobre as causas de sucesso na escola e no desporto de 207 estudantes do secundário estavam relacionadas de um modo lógico aos seus objectivos pessoais. O objectivo de envolvimento de superioridade orientado para o ego associou-se com as crenças de que o sucesso requer grande habilidade, ao invés, a orientação para a tarefa (o objectivo de ganhar conhecimento) estava associada com crenças de que o sucesso requer interesse, esforço, e colaboração com os colegas. Estas dimensões sobre a crença ou teorias de sucesso atravessam diagonalmente o desporto e a escola. Contudo, pouca generalização foi encontrada nas percepções de habilidade e satisfação intrínseca. A satisfação intrínseca no desporto está relacionada com a habilidade percepcionada nesse particular envolvimento. A
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orientação para a tarefa, não a habilidade percepcionada, foi o maior preditor de satisfação na escola. A pesquisa nesta emocionante área tem-se debruçado sobre a percepção individual das estruturas situacionais que afectam a sua eventual preocupação em demonstrar concepções de habilidade normo-referenciadas e auto-referenciadas (Duda, 2001). O autor declara que o clima motivacional percepcionado compreende dimensões como as formas como os indivíduos são avaliados, as interacções entre os membros do grupo que são relevadas e a natureza e a base das estruturas de recompensa. O clima motivacional (orientação para a mestria ou performance) é, por inerência, um construto de nível grupal de forma que esquemas multiníveis e longitudinais são precisos para avaliar os seus efeitos em resultados consequentes. Os autores Papaioannou, Marsh e Theodorakis (2004) analisaram uma amostra de aulas de EF e avaliaram os efeitos do clima motivacional da classe de aula (orientação para a tarefa e para o ego) e orientação para os objectivos individuais (ego e tarefa) nos resultados individuais dos estudantes (motivação intrínseca, atitude, auto-conceito físico, e intenções do exercício) recolhido em dois períodos distintos ao longo do ano escolar, inicio (T1) e fim (T2). Descobriram diferenças significativas no clima motivacional no momento T1 que teve efeitos positivos nos resultados em T2 depois de controlados os resultados de T1. Apesar de não poderem provar que existia uma compatibilidade entre os alunos orientados para a tarefa e o clima motivacional de envolvência para a tarefa, a estabilidade das orientações para os objectivos estava comprometida pelos climas incompatíveis. Qual a relação entre as orientações para os objectivos e os propósitos para o desporto de equipa, clima motivacional, satisfação, fontes de satisfação, estratégias de realização, e percepção de habilidade em desportos de equipa? Num estudo desenvolvido por Roberts e Ommundsen (1996) em 148 estudantes universitários noruegueses revelou através de uma análise canónica, que os sujeitos orientados para a tarefa focam em actividades relacionadas com a saúde, preferem climas de mestria e focam um critério orientado para a mestria para determinar satisfação e outras crenças relacionadas com a realização de objectivos. Em contraste, sujeitos predominantemente orientados para o ego focam no desenvolvimento do status como finalidade, preferem climas orientados para a performance e focam em critérios orientados para o ego na determinação da satisfação e outras crenças na realização de objectivos. As orientações para a tarefa e para o ego têm sido consideradas independentes. É, contudo, um erro considerar independentes características situacionais para o ego e para a tarefa (Duda, 2001). Já Brunel (1999) comparou o clima motivacional percepcionado com a
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orientação para os objectivos e os índices de motivação intrínseca e extrínseca e os seus papéis respectivos na predição dos índices de motivação. Dos 160 estudantes analisados com a correlação de Pearson resultou que os estudantes que percepcionam a sua classe de aula como sendo orientada para a mestria mais facilmente se sentiam auto-determinados. A análise de regressão hierárquica revelou que o clima motivacional percepcionado era um melhor preditor de todos os índices de motivação do que a orientação para os objectivos. O autor conclui que existe um possível processo motivacional que explica porque o clima motivacional supera a orientação para a realização de objectivos. Os resultados de dois estudos no jogo de pinball confirmaram que as diferenças individuais na orientação para a realização de objectivos moderam a influência de objectivos de realização na motivação intrínseca. Especificamente, as orientações para a performance aumentam a motivação intrínseca para indivíduos orientados para a realização de objectivos enquanto objectivos de mestria aumentam o interesse naqueles que são baixos na sua orientação para a realização de objectivos (Elliot & Harackiewicz, 1993). Harwood e Hardy (2001) dividem o envolvimento para a tarefa e orientação para a tarefa em processo e produto. Os autores sugerem que, por sua vez, se o envolvimento na tarefa durante o processo está verdadeiramente ausente, então o indivíduo muito orientado para o ego (elevada orientação para o ego/baixa orientação para a tarefa) pode de facto retirar da equação o esforço de forma a maximizar ou proteger as percepções de habilidade. Contudo, se o envolvimento na tarefa for grande durante o processo, então o esforço pode ser desenvolvido não apenas para satisfazer intrinsecamente tal concepção de realização mas também para funcionalmente satisfazer objectivos orientados para o ego. O que quer dizer que o esforço vê-se ligado à orientação para o ego porque ele ou ela aprecia o significado e o importante papel do esforço funcionando num envolvimento orientado para a tarefa durante o processo, a um nível paralelo. A relação entre o clima motivacional percepcionado e a motivação intrínseca e autoeficácia, bem como o papel dos objectivos de orientação e percepção do clima motivacional na predição da motivação intrínseca e auto-eficácia foram os objectivos do estudo de Kavussanu e Roberts (1996). 285 estudantes iniciantes de ténis completaram uma bateria de testes onde a percepção de um clima de mestria associou-se positivamente com o divertimento, esforço, competência percebida e auto-eficácia e relacionou-se negativamente com a tensão. Nos jovens masculinos, uma orientação para os objectivos disposicionais e o clima motivacional percepcionado emergiram de forma igual como preditores importantes da motivação intrínseca, enquanto um clima motivacional para a mestria foi o único preditor da auto-eficácia. A habilidade normativa percepcionada contribuiu para uma quantidade substancial de variância única na motivação intrínseca e auto-eficácia tanto em rapazes como em raparigas.
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Sabemos que a teoria de realização de objectivos assume que a principal preocupação do indivíduo é demonstrar competência (Sarrazin et al, 2002). Desenvolver um clima motivacional no desporto pode ser uma preocupação ainda maior dado o ênfase criado nos jovens através do desporto de elite em formas de comparação social na definição e perspectiva de sucesso, uso de recompensas externas e comportamento dos treinadores que rondam a ditadura benevolente. Ainda, a performance no desporto, ao contrário da escola, é mais visível e vulnerável à avaliação pelos adultos e pares (Weiss & Ferrer-Caja, 2002). Miller, Roberts e Ommundsen (2004) estudaram o clima motivacional percepcionado no género no comportamento de desportivismo em jovens jogadores de futebol dos 12 aos 14 anos de idade. Eles chegaram à conclusão que raparigas e rapazes tinham perspectivas de desportivismo diferente, através de análises post hoc. Os jogadores com percepção de um clima orientado para a tarefa endereçavam mais o desportivismo do que aqueles que tinham baixa orientação para a tarefa e jogadores jovens que percebiam o clima orientado para a performance eram menos propensos para demonstrar comportamentos de desportivismo do que os que percebiam o clima como sendo baixo em performance. Análise de correlação canónica demonstrou que um clima fortemente orientado para a tarefa e mestria relacionou-se positivamente com o compromisso, respeito pelas convenções sociais, respeito pelas regras e oficiais. Um clima muito orientado para a performance relacionou-se negativamente com o respeito e preocupação com as convenções sociais e respeito pelas regras e oficiais, enquanto que uma associação positiva emergiu com o respeito e preocupação pelos adversários. Os resultados do estudo sugerem que tanto rapazes como raparigas percebem o treinador enfatizando os mesmos critérios de sucesso e fracasso, e como consequência uma cultura semelhante de desportivismo. Na generalidade, o clima orientado para a tarefa conduz a uma maior orientação para o desportivismo. Também Boixadós, Cruz, Torregrosa, Valiente (2004) realizaram um estudo em que examinaram a relação entre a percepção do clima motivacional, habilidade percepcionada, satisfação e atitudes de fair-play em jovens jogadores de futebol. A amostra constituiu-se de 472 jogadores (10-14 anos) e os resultados indicaram que a percepção de um clima orientado para a tarefa associou-se positivamente com a satisfação em práticas e habilidade auto percepcionada e inversamente com atitudes de jogos violento e habilidade percepcionada normativa. Em adição, a percepção de um clima motivacional orientado para o ego relacionouse positivamente com a habilidade normativa percepcionada e com atitudes favoráveis em relação à vitória num jogo de futebol. As diferenças ao longo dos perfis de clima motivacional revelaram que o maior nível de aceitação de jogo violento foi encontrado no sub grupo baixo
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em tarefa/elevado em ego. Em contraste o mais baixo nível de aceitação de jogo violento foi encontrado no sub grupo oposto elevado em tarefa/baixo em ego. Os autores Reinboth e Duda (2006) chegaram à conclusão que um aumento da percepção do clima de envolvimento na tarefa prediz positivamente a satisfação pelas necessidades de autonomia, competência e termos relacionais. De outro modo, mudanças na satisfação das necessidades de autonomia e o clima relacional emergiram como preditores significativos de mudança na vitalidade subjectiva. Os autores sugerem que a participação desportiva facilita o bem-estar no atleta e recomendam que o envolvimento desportivo deve colocar ênfase em situações de orientação para a tarefa. Um outro estudo analisou as orientações para a realização dos objectivos em atletas femininos e a percepção do clima motivacional na confiança desportiva. Utilizaram uma amostra de 118 voleibolistas femininos entre os 12 e 18 anos de idade, tendo completado três questionários sobre as temáticas objectivadas. Os resultados indicaram que a orientação para a tarefa e percepção do clima orientado para a mestria associaram-se positivamente com esquemas adaptativos de confiança desportiva bem como de envolvimento social. A orientação para o ego associou-se postitivamente com fontes mal adaptadas de confiança. As percepções do clima motivacional suportam um papel de mediação mais do que de moderação para o clima motivacional na predição de suporte social e liderança do treinador nas fontes de confiança desportiva (Magyar & Feltz, 2003). Em conclusão, a influência mediadora de um clima orientado para a mestria estabelecida pelo treinador providencia implicações importantes para treinadores que querem construir auto-confiança em atletas adolescentes femininas. Murcia, Gimeno e Coll (2007) procuraram estabelecer a relação existente entre as características motivacionais e o estado de “flow” disposicional. Uma amostra de 413 jovens atletas (12-16 anos de idade) completou o PMCSQ-2, POSQ, SMS e DFS e da análise surgiram três perfis. Não foram encontradas diferenças significativas entre o perfil “autodeterminado” (orientação para a tarefa) e o perfil “não auto-determinado” (orientação para o ego) em relação ao “flow” disposicional. O perfil “ auto-determinado” foi mais associado a atletas mulheres, praticando num desporto individual e aqueles que treinavam mais de três dias por semana. O perfil “não auto-determinado” foi mais usual em homens e atletas praticando desportos de equipa, bem como treinando apenas duas a três vezes por semana. Walling, Duda e Chi (1993), a este propósito, examinaram o construto e validade do PMCSQ. A análise confirmatória factorial indicou um ajustamento aceitável dos dados com o modelo de medida hipotética. Em termos de validade do referido questionário, a percepção de um clima orientado para a mestria relacionaram-se positivamente com a satisfação de ser um membro da equipa e associado negativamente com a preocupação da performance. Em
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contraste, a percepção de um clima orientado para a performance relacionaram-se positivamente com as preocupações sobre o fracasso e a adequação da performance do jovem e correlacionado negativamente com a satisfação da equipa. Já Yoo
(1999) procedeu à investigação da relação entre a orientação para os
objectivos e o clima motivacional percepcionado em relação à motivação intrínseca, autoestima, adesão e skills avaliados no contexto da EF em 218 rapazes Coreanos. Os alunos preencheram os questionários PMCSQ e o PSQ. A análise confirmatória factorial sugere uma aceitação razoável das versões modificadas dos questionários. Da análise de correlação canónica ressalva que a orientação para a tarefa associou-se positivamente com a motivação intrínseca e auto-estima, enquanto o clima de mestria percepcionado relacionou-se positivamente com a motivação intrínseca, adesão e skill avaliado. Ommundsen, Roberts, Lemyre e Miller (2005), relacionou-se o clima motivacional percepcionado, orientação para a realização de objectivos, perfeccionismo e índices de relação entre pares em jovens noruegueses entre 12 e 19 anos. A análise de correlação canónica revelou que as jovens jogadoras femininas que percebiam o clima motivacional como sendo predominantemente orientado para a mestria, moderadamente orientadas para a tarefa e com pontuações negativas no perfeccionismo mal adaptado, relataram melhores relações com os colegas no futebol. As relações construtivas entre pares foram evidentes, com pontuações positivas no companheirismo com o seu melhor amigo do futebol, perceberam este amigo como sendo leal e permitindo uma discussão livre e relataram como sendo socialmente aceites pelos seus pares no futebol. Espelhando estes resultados, os jovens jogadores masculinos que percebem o clima motivacional como predominantemente orientado para a performance, com uma pontuação moderada a negativa na orientação para a tarefa mas com uma pontuação forte e positiva no perfeccionismo mal adaptado, relataram relações negativas com colegas em relação a estes aspectos. Também registaram como estando em conflito com o seu melhor amigo no futebol. Os resultados sugerem que as qualidades de motivação têm uma relação sistemática com a aceitação pelos pares e a qualidade da amizade em jovens raparigas e rapazes futebolistas. A teoria para a realização de objectivos postula que as orientações disposicionais e percepção do clima são duas dimensões da motivação que interagem para afectar o comportamento em contextos de realização, onde a pesquisa se começa a debruçar com as duas variáveis de forma conjunta. Um estudo de Treasure e Roberts (1998) debruçou-se sobre as concomitantes percepções do clima orientadas para a performance e mestria e seguidamente verificaram a contribuição de ambas as variáveis na predição de 274 raparigas adolescentes atletas nas crenças das causas de sucesso e fontes de satisfação num campo
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residencial de basquetebol. Os participantes que perceberam o clima orientado para a mestria tiveram uma crença forte de que o sucesso deve-se ao esforço de cada um e derivaram da satisfação de experiências de mestria. Os participantes que perceberam um clima orientado para a performance sentiram satisfação na superação em relação aos outros e atribuíram sucesso à habilidade e decepção. Estes resultados sugerem que a interacção destas duas dimensões da motivação devem ser tomadas em consideração quando examinada a experiência desportiva dos atletas e na predição das respostas dos jovens. O contexto da Educação Física (EF) oferece uma oportunidade para controlo de qualidade (cooperação do professor, foco no desenvolvimento da técnica) e potencialmente períodos de maior intervenção em relação ao desporto jovem competitivo (Weiss & Ferrer-Caja, 2002). Aqui, os comportamentos para a realização de objectivos são quando o jovem tenta mais, concentra-se mais, persiste por mais tempo, realiza melhor e escolhem praticar durante mais tempo (Roberts, 2001). Os alunos dizem-se motivados quando exibem estes comportamentos de alcance de objectivos e a teoria para a realização de objectivos sugere que os processos motivacionais a operar em contexto de realização como a EF estão dependentes nos objectos manifestados nesse contexto (Duda & Ntoumanis, 2003). Um clima de performance é percebido quando os estudantes são elogiados apenas quando é reconhecida a sua superioridade sobre os outros na sala de aula ou apenas quando os alunos com grande habilidade são tidos como modelos. Em sentido contrário, um clima que impulsiona a aprendizagem ou a mestria é criado quando os estudantes são direccionados para o auto melhoramento e aprendizagem e o esforço pessoal é reconhecido (Biddle & Goudas, 1995), desenvolvendo situações motivacionais auto determinadas (Parish & Treasure, 2003). Um estudo dirigido por Digelidis e Papaioannou (1999) examinou as diferenças de género em alunos dos 10-17 anos, na motivação, percepção individual, orientação para a tarefa e ego e percepção do clima motivacional em aulas de EF gregas. Os resultados demonstraram que os estudantes de último ano do secundário pontuaram menos nos parâmetros referidos anteriormente em relação aos estudantes que vão a meio do secundário e aos estudantes do elementar. Os alunos do último ano tiveram menos pontuações na escala de Percepção Aparência Física e mais na medida que verificava as percepções das preocupações dos estudantes sobre erros do que os alunos da escola elementar. Os resultados sugerem que a orientação de aprendizagem deve ser reforçada na EF grega. Da mesma forma Papaioannou (1995) estudou 1393 estudantes de EF no secundário e verificou que a percepção do tratamento diferenciado do professor relacionou-se positivamente com a percepção de um ambiente que enfatiza a comparação social e relacionado
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negativamente com a percepção de um clima enfatizando o progresso pessoal. A competência percebida não surtiu efeito na motivação intrínseca quando foram adoptados objectivos elevados de aprendizagem. Quando os objectivos de baixa aprendizagem foram adoptados, a motivação decresceu para crianças com baixa habilidade percepcionada quando jogam com alunos altamente realizadores e para crianças com alta habilidade percepcionada a jogar com alunos de baixa realização. Um clima altamente orientado para a aprendizagem deve ser criado de forma a desenvolver a igualdade e a maximizar a motivação. Já
em
2006,
Papaioannou,
Bebetsos,
Theodorakis,
Christodoulidis
e
Kouli
desenvolveram um estudo enfatizando as relações causais de participação no exercício e desportiva com as orientações para os objectivos, competência atlética percebida e motivação intrínseca em EF. Os autores estudaram longitudinalmente 882 estudantes gregos que preencheram questionários em três momentos diferentes. Os resultados implicam que o cultivo de uma orientação para a tarefa, motivação intrínseca em EF e competência atlética percebida ajudarão a promover a participação no exercício e no desporto na adolescência. Biddle e Goudas em 1995 referiam que todos os professores iriam reconhecer a importância da motivação e provavelmente estariam conscientes da distinção entre a motivação interna e externa. O panorama é, contudo, mais complexo do que inicialmente previsto. As suas pesquisas em EF em contexto escolar sugerem que os aspectos da competência percebida e autonomia percebida são importantes factores na motivação intrínseca. Contudo, a autonomia percebida e a orientação para a tarefa desempenham um papel mais crítico para a motivação intrínseca do que a competência percebida (Goudas, Biddle & Fox, 1994). O que quer dizer que, independentemente do quão competente os jovens se sentem eles estarão menos motivados intrinsecamente se entrarem em actividades sob certa forma de pressão. Em adição, mostraram que a percepção dos jovens tanto nos objectivos individuais a alcançar como no clima da sala têm uma forte relação com a motivação intrínseca nas aulas de EF. Os resultados Biddle e Goudas em 1995 aclaram a ideia de que as crianças orientadas para a tarefa irão, em média, mostrar níveis mais elevados de motivação intrínseca – interesse, competência percebida e satisfação como demonstrou o estudo de Escartí e Gutiérrez (2001). A este propósito, um estudo de Standage, Duda e Ntoumanis (2003), avaliou os efeitos principais e interactivos das orientações para os objectivos dos estudantes, competência percebida e percepção do clima motivacional. O estudo foi levado a cabo por 328 estudantes britânicos com média de idades de 13.6 anos. A análise por regressão hierárquica revelou que a orientação para a tarefa, competência percebida e clima orientado para a tarefa são preditores positivos de estilos de motivação auto-determinados. A percepção de competência
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em EF foi negativamente associada à desmotivação. Grandes interacções entre clima mestria x orientação para a tarefa e orientação para o ego x competência percebida emergiram. Os seus resultados indicam que: para estudantes com uma nítida inclinação para a orientação para a tarefa, a percepção do clima da classe era alta em características que revelavam mestria e estava associado a um aumento da motivação intrínseca. Para os estudantes com elevada orientação para o ego, a crença de que se era competente aumentava, enquanto que a percepção de incompetência atenuava a motivação intrínseca. Adicionalmente, uma interacção com três entradas entre a orientação para o ego, clima de performance e competência emerge. À luz da teoria para a realização de objectivos e autodeterminação, os autores propõem que estudando o potencial jogo interrelacionado entre as perspectivas situacionais e individuais e o efeito moderador da competência percebida pode aumentar futuramente o entendimento da motivação em EF. Theeboom, De Knop e, Weiss (1995) examinaram a efectividade de um programa de ensino orientado para a performance vs mestria no divertimento da criança, percepção da competência, motivação intrínseca e desenvolvimento dos skills motores. 119 crianças dos 812 anos de idade foram submetidas a um programa desportivo organizado. Os resultados revelam que as crianças no grupo orientado para a mestria demonstraram maior divertimento e exibiram melhores skills motores em relação ao grupo orientado para a performance. Entrevistas indicam que a criança no programa de mestria quase anonimamente revelavam altos níveis de competência percebida e motivação intrínseca, enquanto que os do grupo tradicional mostraram menos efeitos pronunciados. Estes resultados providenciam evidência empírica de que um clima motivacional orientado para a mestria resulta em maiores experiências positivas para jovens atletas à medida que aprendem novas técnicas. Com o propósito de estudar as relações existentes entre o clima motivacional percepcionado e a motivação intrínseca e crenças de atributo em contexto desportivo Seifriz, Duda e Chi (1992) estudaram 105 basquetebolistas. Determinou-se igualmente o grau segundo o qual as variáveis dependentes de interesse são uma função de uma estrutura situacional, objectivos disposicionais ou ambos. Os resultados sugerem que a percepção de um clima orientado para a mestria relacionou-se positivamente ao divertimento e crença de que o esforço conduz ao realizar de objectivos. A percepção de um clima orientado para a performance estava associada com a visão de que a habilidade superior causa sucesso. Em geral, os índices de motivação intrínseca e crenças atributivas foram melhor preditas pela orientação de objectivos disposicionais e competência percebida no basquetebol. De igual modo Balaguer, Duda e Crespo (1999) estudaram a relação entre as orientações para a realização de objectivos e o clima motivacional percepcionado criado pelo
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treinador em relação a 219 tenistas espanhóis. Também pretenderam examinar se as variáveis dependentes eram previstas da melhor forma através da estrutura de objectivos situacionais percebidos criado pelo treinador e/ou uma perspectiva de objectivos disposicionais. Completaram as versões espanholas de TEOSQ e PMCSQ-2 e vários itens avaliando o desenvolvimento percebido específico ao ténis, satisfação e a classificação do treinador. Os resultados demonstraram estar de acordo com a teoria de realização de objectivos e providenciaram suporte para a promoção de uma atmosfera orientada para a tarefa no desporto. Contudo, uma orientação para o ego não é necessariamente negativa para a motivação intrínseca mas precisa de ser acompanhada por uma orientação para a tarefa. O mesmo se passa no contexto da EF, onde uma orientação para a performance não resulta necessariamente em resultados mais negativos quando acompanhada por uma orientação para a mestria. Os autores concluem que existe potencial para influenciar a motivação intrínseca através do estilo de ensino, relevando os factores contextuais do seu desenvolvimento (Biddle & Goudas, 1995). Com efeito, Biddle (2001) sugere efeitos positivos de um clima motivacional orientado para a mestria em EF, mais do que as orientações para a realização de objectivos e oferece evidência de um possível efeito de modelagem do clima na orientação para os objectivos dos indivíduos. Qual a influência entre o estilo de ensino, clima de aula percepcionado e motivação intrínseca? Salientam Weiss e Ferrer-Caja (2002) que a estrutura do desporto fomenta o divertimento e a aprendizagem de skills motores básicos ao jovem e progressivamente enfatiza o vencer à medida que os participantes se tornam mais velhos e mais dotados tecnicamente. Contudo, é surrealista pensar que podemos eliminar a natureza de performance do contexto desportivo, mas se um clima de mestria e performance for devidamente equilibrado, comportamentos motivacionais adaptativos aparecem. É concebível igualmente que os motivos para a participação desportiva variem consoante o momento da época em que são medidos ou que os motivos variem ao longo da época como resultado da experiência pessoal do jovem jogador. A contextualização social tem aqui a sua importância. Vazou, Antoninos e Duda (2005) utilizaram entrevistas no sentido de identificar os factores que condicionam o clima motivacional criado pelos pares no desporto jovem. Individualmente e em pequenos grupos, 14 rapazes e 16 raparigas (N= 30) com idades entre 12 e 16 anos, de desportos individuais e colectivos foram entrevistados em relação ao clima
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motivacional induzido pelas características dos pares. Usando análises de conteúdo, emergiram 11 dimensões de clima proporcionado pelos pares e alguns delas são semelhantes aos instrumentos para os adultos (professor de Educação Física e treinador) enquanto que outras são únicas aos grupos de pares. A este respeito Ntoumanis e Vazou (2005) utilizaram o Questionário do Clima Motivacional dos Pares no Desporto Jovem (PeerMCYSQ) testado ao longo de três estudos 431 atletas (11-16 anos). No primeiro estudo, o questionário tinha 6 factores estruturados em duas ordens de factores (orientação para a tarefa: desenvolvimento, suporte relatado, esforço; orientação para o ego: competição dentro da equipa, habilidade normativa e conflito entre a equipa). Nos estudos 2 e 3 foram testados estes 6 factores mas apenas 5 factores mostraram validade. Climas de cooperação ou de interacção de equipa que enfatizam o suporte social, coesão e objectivos grupais podem ser a chave no entendimento de como neutralizar o contexto da estrutura desportiva baseado no objectivo da recompensa, desde o desporto jovem até ao mundo profissional (Weiss & Ferrer-Caja, 2002). 2.9. Influência de diversos agentes sociais na percepção de competência do jovem desportista No desporto, variáveis situacionais como os colegas de equipa, vizinhos, colegas de escola e amigos íntimos providenciam importantes fontes de avaliação social, comparação e suporte e, com efeito, podem significativamente afectar os objectivos de alcance, crenças sobre a percepção de habilidade e comportamentos motivados (Harwood & Swain, 1998; Duda, 2001). A este respeito Duda (2001) refere que se os pesquisadores observam diferentes relações entres as orientações para os objectivos disposicionais e as percepções de uma estrutura de objectivos enfatizada pelos treinadores, pais e outros, não é claro se esta variabilidade é função do outro significativo ou dos diferentes instrumentos usados para averiguar as variáveis situacionais e socais. Newton, Duda e Yin (2000) referem a existência de variabilidade dentro da equipa no clima motivacional percepcionado e que o grau de variabilidade varia com as equipas. Mais, encontraram alguma inconsistência dentro da mesma equipa em relação à percepção do envolvimento para o ego no ambiente que os rodeia. A quantidade de variância varia de equipa para equipa. Isto quer dizer que não existe nenhum efeito de equipa no clima motivacional percepcionado e de que as percepções de cada atleta são independentes? A influência do grupo de pares no desenvolvimento psicossocial das crianças é enfatizada na literatura da psicologia desportiva em áreas como a motivação, auto percepções
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e afeição. Desta forma, no contexto da actividade física, Weiss, Smith e Theeboom (1996) realizaram um estudo com entrevistas sobre os melhores amigos no desporto, e onde encontraram 12 dimensões de amizade positivas, entre elas: companheirismo, aumento da auto-estima, comportamento prosocial, intimidade, suporte emocional, etc. quatro dimensões negativas de amizade foram encontradas: conflito, qualidades pessoais pouco atractivas, traição e inacessibilidade. Newton e Duda (1993) em atletas de elite e Duda e Nicholls (1992) num estudo comparativo entre a escola e o desporto apontam a importância de se enfatizar a cooperação entre os jogadores bem como a percepção de que toda a gente na equipa tem um papel importante na criação de um clima orientado para a tarefa. Esta perspectiva orientada para a tarefa manifestada numa maior orientação e/ou clima motivacional dos atletas relaciona-se com maior coesão de equipa (Duda, 2001). Sabemos que o desenvolvimento de auto-estima é influenciado pelas interacções sociais no domínio do exercício físico. Weiss e Duncan (1992) examinaram a relação entre a competência no domínio do exercício físico e competência interpessoal com os pares em contexto desportivo. A correlação canónica indicou uma forte relação entre os índices de competência física e a aceitação dos pares. As crianças que pontuaram alto em competência física percepcionada e actual e que realizavam atribuições estáveis e controladas pessoalmente da performance desportiva também pontuaram alto em aceitação pelos pares percepcionada e actual e fizeram atribuições estáveis para interacções de pares com sucesso. A pesquisa em psicologia desportiva tem examinado as diferenças entre as culturas. Também as diferenças individuais e factores de contexto social relacionam-se com a motivação para a realização. Hayashi (1996) comparou anglo americanos com havaianos e os resultados demonstram que todos os participantes definiram as experiências positivas e negativas na actividade física através das orientações para a tarefa e para o ego e perspectivas independentes do eu. Os participantes perceberam o ambiente através estruturas de recompensas/objectivos cooperativos, individuais e competitivos. As diferenças culturais foram detectadas na medida em que os havaianos definiram experiências positivas baseadas na demonstração de orgulho e perceberam o ambiente como um contexto onde se expressa o orgulho e uma perspectiva interdependente. Biddle e Goudas (1995) a este respeito demonstraram que os vários graus de orientação para a tarefa e a quantidade de encorajamento recebido dos adultos relacionou-se com intenções mais positivas face ao desporto. Seguindo a ideia avançada no parágrafo anterior, Lesyk e Kornspan (2000) analisaram as expectativas dos adultos da participação desportiva dos jovens. Analisaram 109 treinadores de jovem que completaram o Índex de
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Satisfação no Desporto. A análise revelou que os treinadores classificaram as variáveis do divertimento, aprendizagem de skills relacionados com a vida, fazer parte de uma equipa, desenvolvimento da confiança e a excitação da competição como os mais importantes resultados para os jovens que eles treinam. Na generalidade, os treinadores acreditam que as suas expectativas estão a ser preenchidas. A extensa literatura esclarece como em adolescentes faz sentido a integração de diferentes influências motivacionais no contexto interpessoal relativamente à prática do seu desporto (Bengoechea & Strean, 2007). A análise qualitativa revela que outros indivíduos jogam cinco papéis decisivos na motivação no desporto dos participantes neste estudo, a saber: providenciam suporte, fontes de pressão e controlo, fontes de informação relevante de competência, agentes de socialização de orientações para a realização de objectivos e são modelos para emular. Os atletas viram que um grande número de indivíduos, para além dos pais e treinadores, estão envolvidos no jogo deste papéis. Os adultos, sejam eles pais, treinadores ou professores jogam um importante papel na construção da percepção de um clima motivacional por parte das crianças no contexto da EF e do desporto e consequentemente, a qualidade da motivação (Treasure, 2001). Estas diferenças individuais na orientação para a realização de objectivos podem ser o resultado de socialização através de climas motivacionais orientados para a mestria ou performance tanto na escola, em casa ou experiências de actividade física anteriores. Smith, Zane, Smoll e Coppel. (1983) realizaram um estudo para definir as características e padrão dimensional do comportamento do treinador, de 31 jovens treinadores de basquetebol. A análise factorial dos comportamentos do treinador revelou que as dimensões comportamentais de suporte e punição eram ortogonais e estatisticamente independentes uma da outra ao invés de fins opostos de uma mesma dimensão. A relação entre os comportamentos do treinador e as várias atitudes do treinador foram muito específicas na sua natureza. Estes comportamentos contabilizaram quase metade da variância das atitudes de fim de época em relação ao treinador e ao desporto, mas significativamente menos variância nas medidas de solidariedade no seio da equipa e auto-estima. Surpreendentemente, a taxa de reforço positivo não se relacionou com quaisquer das medidas de atitude. A punição relacionou-se negativamente ao prazer e gosto para o treinador. No geral, as categorias de instrução técnica foram os maiores preditores das atitudes dos jogadores de basquetebol. Por sua vez Balaguer, Duda, Atienza e Mayo (2002) referem que um forte clima orientado para a tarefa, os jogadores demonstraram uma melhoria da performance e satisfação com a performance e possuíam melhores considerações sobre o treinador. A orientação para a tarefa adicionou uma proporção significativa de variância na melhoria da performance
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individual. A percepção de um clima de orientação para o ego relacionou-se negativamente com as classificações do treinador mas positivamente relacionadas com a satisfação com os resultados competitivos da equipa. Estes resultados confirmam a teoria de realização de objectivos e evidenciam as implicações adaptativas de um clima orientado para a tarefa no desporto de alto nível. A previsão superior do clima sobre o indivíduo sugere que as intervenções objectivadas ao treinador devem ter um importante impacto na motivação individual e de grupo. Nesta linha de pensamento Pensgaard e Roberts (2002), investigaram o efeito do clima motivacional em atletas de elite e o papel do treinador neste processo. Os 7 atletas completaram o questionário da Percepção de Sucesso (POSQ) e o questionário do Clima Motivacional Percepcionado (PMCQ) para medir os índices motivacionais. Todos os atletas pontuaram muito alto na orientação para a tarefa e moderado a alto na orientação para o ego. A maior parte dos atletas percepcionaram um clima orientado para a mestria e um baixo clima orientado para a performance, enfatizaram a importância do treinador como o criador do clima, bem como a sua preferência por um clima de suporte e carinho, o que revela um ênfase no clima orientado para a mestria nos atletas de elite. Os estudos de Balaguer et al (1999, 2002) confirmam que uma maior orientação para a tarefa indica uma maior preferência para um treino rigoroso e instruções comportamentais por parte do treinador. Desta forma, um clima percepcionado pelos jogadores de andebol como sendo orientado para a tarefa, é acompanhado de maior desenvolvimento individual e colectivo nos aspectos físicos da sua modalidade. De facto Weiss e Friedrichs (1986), num estudo com 251 atletas de basquetebol concluíram que, através da análise de regressão, nem a instituição nem as variáveis dos atributos do treinador relacionaram-se positivamente com a satisfação e performance da equipa. Os comportamentos de líder relacionaram-se significativamente com os resultados da equipa. As análises da satisfação individual da equipa revelaram que o tamanho da escola, atributos do treinador e comportamentos de líder foram preditores da satisfação no atleta. Os treinadores que têm comportamentos de recompensa mais frequentemente, comportamentos de suporte social e um estilo democrático de tomada de decisão produziram mais atletas satisfeitos. Os treinadores mais jovens e aqueles com melhores recordes de vitórias/derrotas relacionaram-se com maiores níveis de satisfação do atleta. Ommundsen, Roberts, Lemyre e Miller em 2006, examinaram as influências de pais e treinadores sob a forma de pressão ou suporte nas atitudes perfeccionistas mal adaptadas dos jovens atletas, relação com os amigos e percepção de competência no futebol. Para isso, foi entregue um questionário a 677 jovens atletas noruegueses. Os resultados sugerem que os comportamentos de pressão dos pais e treinadores relacionam-se positivamente com padrões
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mal adaptados de realização de objectivos, conforme indicado pelo excesso de preocupação com os erros, dúvida sobre as acções individuais e baixa percepção de competência no futebol. Os treinadores predominantemente de suporte criaram climas psicológicos que estavam relacionados com um padrão linear de resultados psicológicos compreendendo amizade de qualidade, percepção de competência positiva e a ausência de preocupações específicas relacionadas com o alcance de objectivos. Como conclusão referem que a influência de treinadores que revelam suporte, a orientação para a tarefa parece ser benéfica para resultados psicossociais construtivos em atletas pediátricos e os atletas que experimentam uma pressão social de treinadores e pais para render podem beneficiar menos psicossocialmente através do desporto, resultados que vão de encontro ao estudo de Fry e Fry (1999). Um outro estudo relacionou as crenças percepcionadas pelos pais e as orientações para a realização de objectivos dos jovens atletas bem como as causas de sucesso no desporto procurando dar um enfoque no entendimento das experiências socializadoras de jovens atletas. A amostra consistiu em 183 jovens masculinos com idades entre os 11 e os 18 anos de idade, envolvidos em desportos de equipa. Os atletas completaram o TEOSQ e o Questionário Crenças sobre as Causas de Sucesso Desportivo. A correlação canónica revelou que a crença parental percepcionada de que o esforço conduz ao sucesso no desporto relacionou-se com a orientação para a tarefa dos atletas e a crença pessoal de que o esforço causa sucesso no desporto. Em contraste, a crença parental percepcionada de que a habilidade superior, factores externos, e o uso de táctica enganadoras são percursoras de sucesso no desporto corresponderam à orientação para o ego e às mesmas crenças pessoais nos atletas. Smith, Smoll e Curtis (1979), submeteram treinadores da pequena liga de basebol durante a pre-época a um programa de treino em como lidar com as crianças. Forneceram-lhes um guião e feedback de comportamento. Os resultados sugerem que os treinadores treinados diferem dos de controlo na percepção dos comportamentos por parte dos jogadores, de uma forma consistente com o guião. Foram também avaliados mais positivamente pelos seus jogadores e encontraram uma maior atracção dentro da equipa apesar de não diferirem no recorde de vitórias/derrotas. As crianças que jogavam para treinadores submetidos ao programa exibiam um aumento significativo na auto-estima geral comparada com resultados obtidos um ano antes. As maiores diferenças encontraram-se entre as crianças com baixa auto-estima, sendo que essas crianças demonstraram ser mais sensíveis a variações no uso, pelo treinador, de encorajamento, punição e instrução técnica. Já Smoll, Smith, Barnett e Everett (1993) examinaram o comportamento dos treinadores no processo de auto-confiança do atleta jovem. Foram estudados treinadores de
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basebol e separados num grupo de controlo e outro que frequentaram workshops sobre suporte e eficácia de instrução. Os treinadores treinados diferiram do grupo controlo na percepção do comportamento pelo jovem. Estes foram avaliados mais positivamente pelos jogadores, os jogadores divertiam-se mais e as suas equipas exibiam um maior nível de atracção entre jogadores, apesar das suas equipas não diferirem das do grupo de controlo nos recordes de vitórias/derrotas. Os resultados demonstram que os rapazes com baixa autoestima que jogavam para os treinadores exibiram aumentos consideráveis de auto-estima geral, ao passo que os jovens atletas com baixa auto-estima no grupo de controlo não evidenciaram tais ganhos. Também a relação dos factores situacionais e disposicionais na contribuição para o envolvimento na tarefa e performance em jovens jogadores de ténis foi analisada. Cervelló, Santos Rosa, Calvo, Jiménez e Iglesias (2007) concluíram que o envolvimento na tarefa foi deduzido através das percepções dos jogadores de um clima motivacional de aprendizagem iniciado pelo treinador em competição. A perda de auto consciência foi predita pela percepção dos jogadores de um clima motivacional orientado para a performance iniciado pelo treinador em competição. Por último, a avaliação de treinadores e jogadores da performance foi prevista através da experiência autotélica (aquilo que tem significado apenas para si próprio), concentração e pela percepção orientada da aprendizagem e performance iniciada pelo treinador em competição.
3.0 Ortogonalidade da Teoria para a Realização de Objectivos De uma forma similar ao que pode ser encontrado em contexto académico (Nicholls, 1989), a orientação para a tarefa e para o ego são ortogonais no desporto (Chi & Duda, 1995; Duda 1989; Duda & Nicholls, 1992). Dizem Harwood e Swain (2001) que a matéria sob debate aqui prende-se com a ortogonalidade ao nível do envolvimento para a realização dos objectivos (situacional) em oposição ao nível de orientação para a realização de objectivos (disposicional), sendo que podem ocorrer mudanças abruptas nos estados de envolvimento para a tarefa e para o ego (Treasure et al, 2001; Harwood & Swain, 2001), como se comprova no estudo realizado com jogadores de ténis (Harwood & Swain, 1998). De facto, os estudos realizados pelos psicólogos do desporto vão concluindo que o envolvimento com orientação para a tarefa possibilita os indivíduos a melhor controlar a motivação no contexto da experiência desportiva, especialmente os jovens participantes (Roberts, 2001). Os jovens ao longo da idade do período competitivo podem apresentar valores elevados tanto na orientação para a tarefa como para o ego (Roberts et al. 1996; Duda, 2001). Um atleta experiente pode mudar entre um envolvimento para a tarefa e para o ego quase
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dependente da vontade e adoptando a estratégia motivacional mais apropriada para o contexto. Esta capacidade é o produto da experiência, sendo que a sua característica como construto dinâmico depende da capacidade do atleta perceber qual é o comportamento mais apropriado. Roberts (2001) crê que não é possível encontrar-se ao mesmo tempo nos dois estados de envolvimento, uma vez que a escolha está sujeita às orientações de cada indivíduo ou à percepção de qual o critério de sucesso nesse contexto. Contudo e sabendo que para as crianças em processo de aprendizagem em actividade física a orientação para a tarefa optimiza a motivação, os jovens que competem ao mais alto nível no seu desporto, é quase inevitável que apresentem também uma orientação para o ego. A orientação para o ego tem implicações motivacionais pelo que é influenciada por duas variáveis dinâmicas: a percepção de competência de cada um e a percepção do critério de orientação para a tarefa. Se o julgamento avaliativo de habilidade é positivo então o jovem está confortável competindo e procura atingir um objectivo de forma a demonstrar competência superior. Este panorama é em tudo semelhante à orientação para a tarefa enquanto a habilidade percepcionada é alta. A conclusão a retirar é a seguinte: A orientação para o ego não é condutora de motivação a longo termo mesmo para atletas de elite que estão seguros da sua percepção de habilidade. Se um treinador acredita na orientação para o ego incentivando-a deve, ao mesmo tempo, exigir um desenvolvimento da orientação para a tarefa. De acordo com a teoria para a realização de objectivos na sua ligação com a performance desportiva, o esforço exercido varia em relação à orientação para os objectivos, habilidade percepcionada e dificuldade na tarefa (Nicholls, 1989). Com efeito, o jovem alto em tarefa/baixo ego é mais referenciado pessoalmente quando encara o processo de performance, os standards de performance e os resultados em relação à informação sobre a competência (Duda, 2001), provavelmente devido à sua maior preocupação em realizar a quantidade de esforço dispendido durante o processo de performance que conduziu a um determinado resultado (Nicholls, 1989). Em contraste, um indivíduo que é muito orientado para o ego tende a efectuar comparações sociais quando avalia o processo e nível de performance bem como o resultado. Provavelmente os jovens atletas que demonstram ambas as orientações para os objectivos de forma diferenciada (e frequentemente) utilizam múltiplas fontes de informação sobre a habilidade que provêm de examinações auto e normo referenciadas de processos de performance, standards e resultados (Duda, 2001). Continua a autora referindo que também quando se apresentam valores elevados numa orientação e baixo na outra, o jovem tem tendência para definir subjectivamente o sucesso nos objectivos em relação a diferentes
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critérios e a vontade de jogar bem varia de acordo com a habilidade percebida (Duda & Whitehead, 1998). Whitehead, Andrée e Lee (2004) num estudo com 138 atletas de pista dos 11 aos 16 anos exploraram a generalização de uma predição central sobre a teoria de realização de objectivos e a hipótese de que os padrões de motivação mal adaptados ocorrem apenas quando baixa percepção de habilidade é acompanhada de perspectivas comparativas de realização. Esta predição foi testada independentemente para orientações de disposição e clima de motivação percepcionado no estudo transversal de divertimento e um estudo longitudinal da persistência. As comparações ortogonais demonstraram que a desistência era mais provável em atletas com baixa percepção de habilidade que percebem um clima de realização de objectivos bem como o nível de divertimento, ou possuíam uma disposição autoreferenciada, mas também em atletas autoreferenciados que percebiam um clima de realização de objectivos. Um outro estudo examinou os padrões de orientação para a realização de objectivos e o seu impacto na motivação dos estudantes em programas de corrida em EF. Os resultados de 553 jovens do 5º ano revelaram a existência de 4 padrões de orientação para os objectivos: baixo em tarefa/baixo ego, baixo em tarefa/alto ego, e alto em tarefa/alto ego. O grupo de estudantes alto em tarefa/ baixo ego e alto em tarefa/alto ego demonstraram elevados níveis de motivação na corrida em relação aos jovens baixo em tarefa/baixo ego, baixo em tarefa/alto ego (Xiang, McBride, Bruene & Liu, 2007). Pensgaard e Roberts (2002) e Duda (2001), relativamente ao grupo baixo em ambas as orientações referem que parecem estar menos preocupados em demonstrar concepções diferenciadas de habilidade desportiva do que indivíduos alto em pelo menos uma orientação. Eles não demonstram competência autoreferenciada ou normo-referenciada. Roberts et al. (1996) especificamente no seu estudo verificaram que os indivíduos alto em ego e baixo em orientação para a tarefa acreditavam que o esforço era menos causa do sucesso, enquanto que os jovens com valores elevados em tarefa e baixo na orientação para o ego era menos expectável que atribuíssem o sucesso a factores externos. A literatura sugere que uma larga percentagem de atletas de elite apresentam valores elevados tanto na orientação para a tarefa como para o ego em vez baixo numa e elevado noutra ou baixo em ambos (Duda, 2001). Por sua vez, Harwood, Cumming e Fletcher (2004), procuraram estabelecer a relação entre as orientações para a realização de objectivos e uso de técnicas psicológicas no desporto em jovens atletas de elite. Descobriram que os atletas com elevada tarefa/ ego moderado usavam mais a visualização, estabelecimento de objectivos e conversa positiva quando comparado com atletas com baixa tarefa/ elevado ego e tarefa
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moderada/ baixo ego. Um outro estudo de Harwood, Cumming e Hall (2003) também com jovens atletas de elite vai de encontro a estes resultados quando referem que são os indivíduos do cluster elevado tarefa/elevado ego que apresentam maior uso da visualização nos seus perfis motivacionais.
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CAPÍTULO 3 METODOLOGIA
3.1. Amostra Procedeu-se à entrega de dois questionários bem como fichas de identificação do treinador a dois clubes de distinto pendor competitivo. Assim sendo, constitui a nossa amostra: a) Praticantes: 132 jogadores de futebol com idades compreendidas entre os 13 e os 16 anos de idade, 85 atletas de clube de orientação profissional e 47 atletas de clube sem profissionalização: Tabela 1. Proveniência clubística dos praticantes por escalão Clube
Escalão
Nº Praticantes
Orientação Profissional Formação
Iniciados
Juvenis
85
46
39
47
27
20
b) Treinadores: 6 treinadores foram entrevistados, 4 do clube com equipa profissional e 2 treinadores de clube de menor dimensão. Da Ficha de Identificação do Treinador administrada aos treinadores principais dos escalões sujeitos ao estudo em causa resultaram as seguintes tabelas: Tabela 2. Comparação das variáveis dos treinadores principais dos diversos escalões num contexto profissional
Idade (Anos)
42
Habilitações académicas
Mestre
Habilitações desportivas (Nível)
III
Anos
Nível
Anos de
de
máximo
experiên
carreira
atingido
cia como
como
como
treinador
jogador
jogador
(Anos)
3ª
9
Divisão
15
Nível máximo atingido como treinador
C. Nacional
Anos de experiência no actual escalão (Anos)
6
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Nacional Licenciatur 28
Sub 17
3ª
a
II
C.
9
Divisão
8
Juniores
2
Nacional
Desporto Licenciatur a 25
C.
Desporto.
II
Curso
4
Iniciados
5
Nacional
2
Sub 15
Treino Desportivo Licenciatur 39
3ª
a
III
C.
20
Divisão
10
II Liga
3
Nacional
Desporto
A procura de profissionais com competências para os processos de formação desportiva está saliente quando observamos as habilitações dos treinadores no clube de elite, ao contrário dos treinadores do clube de formação. A tabela 3 caracteriza os treinadores principais dos dois escalões sujeitos a análise do clube de orientação formativa: Tabela 3. Comparação das variáveis dos treinadores principais dos diversos escalões num contexto não profissional
Idade (Anos)
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Habilitações académicas
Habilitações desportivas
9º Ano
(Nível)
S/F
Anos
Nível
Anos de
de
máximo
experiência
carreira
atingido
como
como
como
treinador
jogador
jogador
(Anos)
10
1ª Distrital
7
3ª 42
9º Ano
S/F
4
Divisão Nacional
Nível
Anos de
máximo
experiência
atingido
no actual
como
escalão
treinador
(Anos)
Juniores
2
Fase 6
Final
2
Juniores
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S/F – Sem Formação
3.2. Instrumentos
Qualquer metodologia só consegue ganhar consistência se tiver a constituí-la instrumentos, técnicas e procedimentos que a suportem e lhe dêem um conteúdo próprio. Utilizámos duas metodologias próprias: - Quantitativa; - Qualitativa. Tendo essa preocupação, elegemos como instrumento para a recolha de dados o questionário, visto ser um meio que nos transmite com facilidade as opiniões pretendidas. Este é um procedimento que permite ultrapassar algumas dificuldades que alguns métodos de recolha de dados apresentam e valorizar as potencialidades. Posteriormente para a avaliação do problema foram aplicados os instrumentos TEOSQ (Task and Ego Orientation in Sports Questionnaires) e SAQ (Sports Attitude Questionnaire), para além de entrevistas semi-estruturadas ao coordenador de um clube de elite e a dois treinadores de formação de um clube que milita na principal liga portuguesa. Primeiramente foi testada a possibilidade de existência de diferenças entre o clube estudado e os dados gerados por estudos anteriores nesta linha de pesquisa, oriundos de clubes com outra proeminência de objectivos de formação desportiva. Foi efectuada uma análise complementar e exploratória dos resultados de jogadores que migraram de clubes mais modestos para clubes profissionalmente orientados. Utilizámos também uma avaliação de conteúdo, uma entrevista semi-estruturada, com referência a três categorias principais: Política Formativa do Clube, Formação em Portugal e Plano de Formação, onde procurámos delinear as principais linhas orientadoras dos clubes relativamente a aspectos de qualidade de formação e preocupações diversas com os jovens atletas bem como o respectivo enquadramento nacional do clube. A análise qualitativa através das entrevistas permite-nos uma maior aproximação à realidade dos intervenientes. 3.2.1. Questionários
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O questionário utilizado foi do tipo fechado (feito sem qualquer maleabilidade, seguindo um plano rígido, no qual a ordem das questões e os seus termos se mantêm invariantes. Vantagem: permite canalizar as reacções das pessoas interrogadas para algumas categorias muito fáceis de interpretar. Inconveniente: tem a ver com o aspecto técnico do questionário). Utilizámos dois inquéritos por questionário: TEOSQ (Task and Ego Orientation in Sports Questionnaires) e SAQ (Sports Attitude Questionnaire). O primeiro, o Questionário do Desporto na Orientação para o Ego ou para a Tarefa, consiste num instrumento que foi elaborado por Duda (1989) e Duda & Nicholls (1992) e publicado em 1992. Este questionário vem no seguimento de estudos realizados pelo próprio Nicholls ao nível académico para a criação de uma escala de orientação motivacional. Ao nível dos contextos desportivos, Duda e Nicholls elaboraram uma versão original do TEOSQ que continha 16 itens, mas que acabou por incluir apenas 13 (Duda & Whitehead, 1998), foi modificado adicionando 6 questões adicionais de forma a reflectir o novo construto auto referenciado da teoria para a realização de objectivos sugerido por Harwood, Hardy and Swain (2000). Assim, foi criado para avaliar as diferenças individuais quanto à orientação motivacional para a tarefa e/ou para o ego, ao nível desportivo. Assim, o TEOSQ é um meio de medida psicométrico que tenta compreender a perspectiva de orientação disposicional do indivíduo, procura definir e assegurar como o indivíduo define o sucesso no desporto de forma normo referenciada (demonstrar que um possui mais habilidade do que outros) e auto referenciada (aprender, trabalho árduo) (Duda, 2001). O questionário foi elaborado de forma a averiguar o grau de preocupação dos indivíduos com concepções de habilidade diferenciada e não diferenciada (Nicholls, 1989), de uma forma estável ao longo do tempo, procura averiguar a disposição de um indivíduo para o envolvimento para a tarefa ou para o ego em contexto desportivo (Duda, 1989, 1992). Ele solicita aos sujeitos para pensarem quando se sentem com sucesso num desporto em particular e depois indiquem a sua concordância, com 7 itens de uma sub-escala que visam critérios de orientação para a tarefa (Ex.:“Sinto-me com mais sucesso no desporto quando trabalho realmente bastante”), e por outro lado, que indiquem a sua concordância com uma outra sub-escala, mas agora com 6 itens relacionados com a orientação para o ego (Ex.:”Sintome com mais sucesso no desporto quando os outros cometem erros e eu não”). Para cada item, os sujeitos optam por uma de 5 alternativas intrínsecas a uma escala de tipo Likert em que: 1= Discordo completamente; 2= Discordo; 3= Nem discordo nem concordo; 4= Concordo; 5= concordo completamente. Lee (1996) elaborou o Sports Attitudes Questionnaire (SAQ), de 26 itens, que foi aplicado a uma amostra de 1391 atletas, dos 12 aos16 anos, rapazes e raparigas, praticantes dos desportos mais populares no Reino Unido. O questionário compreende quatro escalas: Batota, Anti-desportivismo Vitória a todo o preço e A vitória não é o mais importante. Posteriormente, Lee, Whitehead, Ntoumanis, Hatzigeorgiadis (2002) modificam o SAQ de modo a que duas sub-escalas do MSOS-25 proposto por Vallerand, Briere, Blanchard,
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Provencher (1997) – empenhamento na participação, respeito pelas convenções sociais – substituam as escalas A vitória não é o mais importante e Vitória a todo o preço da versão original. Os itens do questionário são reduzidos para 23, e propõe-se um modelo de quatro factores, sendo dois considerados socialmente positivos (Empenhamento e Convenção) e dois socialmente negativos (Batota e Anti-desportivismo). Utiliza-se novamente para cada item, uma de 5 alternativas intrínsecas a uma escala de tipo Likert. Com este questionário averiguam-se os pesos relativos de vários factores como o
desportivismo,
batota,
convenção
e
compromisso.,
Gonçalves,
Coelho
e
Silva,
Chatzisarantis, Lee & Cruz J (2006), depois de proceder à tradução do Sports Attitudes Questionnaire (SAQ) puderam confirmar que a versão portuguesa do questionário de atitudes face ao desporto parece apta a ser utilizada em futuras pesquisas.
3.2.2. Entrevistas O inquérito por entrevista, neste caso, é o mais estruturado e rígido de todos e pressupõe uma comunicação oral entre as partes. Possibilita obter dados através do questionário, consistindo em apresentar um conjunto pré-determinado de perguntas à população. A presente entrevista foi conduzida pelo próprio investigador e consistiu em 12 perguntas a abordar três categorias principais, são elas: Política Formativa do Clube, Formação em Portugal e Plano de Formação. As entrevistas decorreram no local o mais convidativo possível, nas instalações dos centros de academia dos respectivos clubes, de forma a criar o ambiente necessário à sua favorável realização. O uso de entrevistas em pesquisas qualitativas é tema recorrente e rodeado de alguma controvérsia nas discussões académicas, pois trata-se de um procedimento de recolha de informações que muitas vezes é utilizado de forma menos rigorosa do que seria desejável. Cabe-nos a nós pesquisadores, explicitar as regras e pressupostos teórico/metodológicos que norteiam o nosso trabalho, de modo a ampliar o debate acerca da necessária definição de critérios para avaliação da confiabilidade das pesquisas científicas que lançam mão desse recurso. Aplicámos um procedimento consistindo de três passos: Definição de categorias (explicitam que segmentos pertencem a determinada categoria); Regras de codificação (regras que permitem uma integração inequívoca); Exemplos de âncora (citam-se segmentos de texto específicos). Conduziu-se então o entrevistado através de uma entrevista não estruturada (a condução por parte do entrevistador é mais flexível, podendo orientá-la com a sequência e as
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questões que julgar mais convenientes, de acordo com a sua sensibilidade e tacto. As questões apresentadas são, sobretudo, abertas, isto é, o entrevistado tem a possibilidade de exprimir e justificar livremente a sua opinião. Neste tipo de entrevistas, não existe uma lista prédefinida de questões que possa ser rigorosamente seguida. O entrevistador tem, apenas, um guia de tópicos que lhe recorda os temas sobre que deve inquirir). Procedeu-se à realização de três entrevistas: a primeira, ao coordenador de formação do clube de orientação profissional e as outras duas aos treinadores de um clube representativo da região centro.
3.2.3. Dados demográficos e disciplinares
Foi recolhida a mobilidade dos jogadores do clube de orientação profissional e o clube de formação e indicadores disciplinares relativamente ao clube profissional e dados relativos ao clube mais representativo da cidade de Coimbra nos escalões de juvenis e iniciados durante a fase regular. 3.3 Procedimentos
Quanto aos procedimentos, antes da entrega dos questionários foi elaborado um pedido ao coordenador de formação do clube de orientação profissional e, por sua vez, uma explicação do estudo em si ao coordenador do departamento pedagógico. Após aprovação, organizaram-se as visitas com antecedência do investigador ao local do treino de forma a ministrar os dois questionários e a Ficha de Identificação do Treinador aos respectivos treinadores principais de cada escalão. Foram realizadas visitas aos treinos dos quatro escalões de formação com o Director Desportivo do respectivo escalão a providenciar um melhor entendimento e explicitação de normas de execução do questionário sob a vigilância do investigador, elucidando os jovens que as respostas eram confidenciais e como tal, deviam responder o mais honesto e sincero possível. O coordenador de formação foi depois oportunamente entrevistado através de 12 questões de resposta aberta. Estas questões compreendem desde a perspectiva da formação nacional até ao plano de formação do clube, as perspectivas para estes jovens e o processo desenvolvimentista inerente. No que toca à acção disciplinar do clube da região centro realizámos a análise dos dados na secretaria do respectivo clube. Procurámos recolher todos os dados possíveis de forma a averiguar o desenrolar do comportamento da equipa em termos disciplinares durante a fase regular do campeonato. Em relação aos procedimentos com o clube de vertente formativa, a recolha dos respectivos questionários aos dois escalões em questão e Fichas de Identificação do Treinador
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decorreu no mesmo dia com a colaboração de alguns funcionários da edilidade local e com as regras já enunciadas de controlo da realização dos mesmos.
3.4 Análise de dados No tratamento dos resultados obtidos usámos um modelo estatístico, utilizando, para isso, o programa de cálculo SPSS, versão 15.0 (Statistical Package for the Social Sciences), tendo primeiro codificado todas as afirmações do referido instrumento. Em relação à metodologia utilizada procedemos a uma análise através da estatística descritiva e t-teste (teste paramétrico) em relação aos questionários TEOSQ e SAQ. O t-teste vai permitir averiguar se há ou não diferenças estatisticamente significativas entre dois grupos relativamente a uma variável, implicam que exista uma hipótese nula (a da igualdade) e uma hipótese alternativa (a da diferença). No nosso caso: jovem atleta de clube com formação profissional versus jovem atleta de clube de formação. A análise descritiva vai permitir a análise de frequências observadas, ajuda a “retratar” a amostra ou população em estudo. Através da metodologia explicitada ao longo deste capítulo e conscientes das suas limitações, tentámos o mais possível que os resultados se apresentassem com validade e fiabilidade neste contexto em particular e, assim, atingir os objectivos inicialmente propostos.
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CAPÍTULO 4 Resultados e Discussão
4.1. Entrevistas A fase maior de análise analítica consistiu na codificação dos dados. Os códigos iniciais foram usados de forma a quebrar a informação em unidades com valor informativo e começar a identificar processos. Os códigos em destaque com maior sentido analítico e que capturaram os dados de forma mais precisa e completa foram usados para regular quantidades maiores de dados. Por exemplo: “Perspectiva desenvolvimentista nas camadas de formação do clube”. A partir daí, procedeu-se à construção de sub eixos temáticos, cada vez mais precisos e específicos em relação ao objecto de pesquisa, em torno dos quais foram organizadas as falas dos entrevistados, recolhidas a partir da fragmentação dos discursos. De seguida procedeu-se à articulação dos conteúdos dos diferentes eixos e sub eixos temáticos, conduzida pelo pesquisador a partir dos seus pressupostos. Considerámos como primeiro entrevistado E1, o coordenador de formação do clube de elite; E2, o treinador dos sub 16 de um clube com equipa profissional da região centro mas de menor dimensão e E3, o treinador dos sub 14 dessa mesma equipa. A entrevista individual começou com várias questões para criar ambiente favorável ao diálogo, de forma a facilitar o diálogo com os participantes e conhecê-los melhor de um ponto de vista motivacional. (Exemplo: “Como se vive dentro deste clube?”, “Qual a situação actual das equipas de formação?”). Depois destas questões iniciais foram-se colocando as questões da entrevista. Algumas perguntas subsequentes foram alteradas de forma a ir de encontro a cada participante. Procurou-se não constranger as respostas dos participantes. Todas as entrevistas duraram entre 15 a 20 minutos. Considerou-se três grandes eixos temáticos, dimensões que constituem categorias aglutinadoras nas suas semelhanças, são elas: a Política Formativa do clube, a Formação em Portugal e Plano de Formação.
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4.1.1 Categoria Política Formativa do Clube Objectivos gerais que norteiam a politica formativa do clube Constata-se que a formação de jogadores adquire uma nuance relativamente diferente de acordo com os próprios objectivos da instituição enquanto estrutura inserida no sistema desportivo nacional. Apesar de o pano de fundo ser claramente formar jogadores para a equipa sénior, E1 garante que a formação se constitui: “…aliado a um percurso de vitórias e com a obtenção de um máximo de campeonatos possíveis, em cada escalão, no fundo formar para ganhar”
Ao passo que na equipa representativa da região centro torna-se saliente o facto de se: “Formar jogadores para integrar a equipa sénior. “Pretendemos que fiquem ligados ao clube no imediato na ligação de júnior para sénior ou então num prazo de dois a três anos que retornem ao clube” (…) atingir as fases finais dos campeonatos nacionais
Constituem objectivo de E2 e E3, onde crêem ser necessário apostar na formação e um especial realce para a necessidade de educação dos atletas para a vida desportiva e pessoal futura, “…não se pode fugir aos jogadores que não conseguem fazer a passagem (…) formar Homens, valores consistentes e espírito de equipa…”
Perspectiva desenvolvimentista nas camadas de formação do clube A especificidade de tratamento requer uma análise mais cuidada do atleta que se desenvolve de forma contínua, em cada escalão. Sendo que numa fase inicial, segundo E1 “A principal preocupação está no desenvolvimento técnico, trabalho de técnica individual, é uma preocupação constante (…)”
Com o avançar da idade, surge uma segunda fase onde se centra, “O conhecimento profundo do jogo e aumento da complexidade do mesmo à medida que os jogadores evoluem nos escalões (…)”
Para, numa terceira fase, com a assimilação dos conteúdos anteriores trabalha-se o
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“ (…) Aumento da pressão a nível mental colocando aos jogadores determinadas condições de exigência aos quais têm de dar resposta”
Aliás, E2 corrobora o aumento de complexidade do jogo e a manutenção de exercícios padronizados, com um acompanhamento feito de perto aos jogadores que “denotam mais potencial”. “ A estrutura do futebol tenta ser fluida e não estanque (…) os treinadores procuram reunir-se com regularidade (…) definir as linhas orientadoras, aumentando a complexidade à medida que se sobe no escalão”
Não será de obviar a natural discrepância entre as pretensões dos treinadores como E2 e E3, com propósitos claros de formação e perspectiva desenvolvimentista da carreira desportiva dos jovens jogadores e o panorama de recrutamento global assente na prospecção intuitiva em larga escala e delapidação de valores que não chegam a afirmar-se enquanto jovens. A globalização veio transformar a tradicional relação de forças fazendo desmerecer e esvaziando o carácter eminentemente formativo dos clubes de pendor não profissional. Esta divisão globalizada do trabalho cria grupos mais vulneráveis a pressões externas. Entrando novamente pela especulação reflexiva, qual será o real impacto na estrutura jovem desportiva em Portugal das academias de formação, bem como o impacto potencialmente negativo ou não de um recrutamento em baixas idades? A política formativa de um clube determina o desenvolvimento de certos parâmetros ao longo dos escalões, onde se deve respeitar acima de tudo as leis de adaptação dos jovens (Valdivielso, 2005). Este autor defende um cuidado planeamento do treino, etapas que coincidam os estádios evolutivos dos jovens a longo prazo. Ao passo que Curado (2002) afirma a importância de não se definirem objectivos generalistas, a motivação aumenta com a quantificação e definição de prazos para alcançar o pretendido. Política de formação dos maiores clubes nacionais Neste ponto encontramos duas perspectivas distintas e complementares. E1 complementa uma política de alto rendimento centrada em si próprio, na demonstração de competência intrínseca, ao invés das equipas adversárias, “Preocupamo-nos mais connosco e com o nosso trabalho diário, bem como analisar os nossos jogos (…) gostamos de ver os outros clubes a trabalhar bem pois assim melhor será o nosso futebol e assistimos a um aumento da qualidade verificada em Portugal.”
Ao invés, E2 refere, como sinónimo da grandeza dos grandes clubes nacionais,
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“A grande rede de prospecção, os jovens não são formados desde as Escolas nesses clubes, passam aí os últimos anos da sua Especialização.”
Apesar de achar que o seu clube começa a aproximar-se dos grandes clubes nacionais. Neste ponto, E3 parece estar em sintonia quando afirma que “parece-me que estão a apostar muito na formação” facto que se justifica porque “ As condições de trabalho melhoraram muito e aos poucos os clubes começam a colocar cada vez mais atletas da formação na equipa principal.”
A este respeito penso que existem mais algumas condicionantes que não permitem a integração mais profunda de jovens atletas na equipa principal. E3 é categórico na sua afirmação, contudo, existem constrangimentos importantes que não nos permitem inferir com tanta segurança. A necessidade de rápidos retornos financeiros aliado ao facto de Portugal se constituir malfadadamente um entreposto de jogadores oriundos especialmente da América Latina impossibilita o ensejo da formação. As ambições e o que querem para o futuro A ideia base para E1 reside na capacidade que a formação tem no fornecimento de jogadores à equipa A, para poderem jogar ao mais alto nível, por exemplo, na liga dos campeões. “Como sabemos que é comum o erro humano então queremos torná-los mais fortes, competentes, conhecedores do jogo.”
E2 reafirma, a outro nível, o desejo de criar uma estrutura que cimente a posição do clube na região bem como “Cimentar a posição dos vários escalões nos campeonatos nacionais. Depois, pouco a pouco, intrometer-se no acesso às segundas fases.”
E3 além de comungar com a ideia do colega no assumir claramente o acesso às 2ª e 3ª fases do campeonato nacional, pensa cada vez mais haver a necessidade de melhorar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem “De forma a rentabilizar ao máximo o potencial desportivo de cada jovem atleta.”
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Este potencial desportivo subentende mais do que o capital meramente físico e técnicotáctico, mas também o capital social inerente a cada jovem jogador que se quer um cidadão respeitador e pleno nas suas obrigações para com a sociedade.
4.1.2. Categoria Formação em Portugal Filosofia de formação do clube no enquadramento nacional Neste momento, E1 no seguimento da sua vertente de formação de elite reforça a ideia de que o clube não se vê na necessidade de enquadrar a sua política formativa em alguma categorização sendo que a “cultura do clube” é prioritária sem necessariamente descurar o ambiente nacional e enquadramento internacional onde o clube permeia. “ (…) Estamos atentos a tudo o que nos rodeia (…) aos diferentes tipos de futebol, temos todo o cuidado com o enquadramento interno (…)”
Já E2 salienta a necessidade de aproximação aos clubes de topo, iniciando um trabalho de “ recrutamento nacional dos jogadores” na constituição de uma academia de formação representativa. “Se continuar assim, temos capacidade para nos aproximarmos dos grandes clubes”
Onde se verifica que: “Ano após ano é importante disputar as competições nacionais, aumentar a competitividade com qualidade.”
E3 reportou-se especificamente ao escalão onde treina, pretendendo desenvolver: “Um conhecimento específico relativo à forma de jogar (…) deverão ser capazes de serem
organizados
(…)
apresentar
rotinas
tácticas
evoluídas
baseadas
no
conhecimento do próprio jogo. Os jogadores têm que querer ter a bola, a criatividade/imaginação é uma das características dos jogadores da equipa…”
E2 apresenta alguma ambição quando refere que os seus jogadores têm que “jogar para ganhar” perspectivando uma boa atitude competitiva alicerçada num bom espírito de equipa, onde a equipa ganha à individualidade. Das suas palavras depreende-se que a organização da estrutura do futebol segue de perto os objectivos gerais do panorama dos grandes clubes nacionais.
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Os espaços físicos disponíveis para as áreas de formação que se assemelhe em qualidade aos espaços de jogo (Cunha, 1999). Obviamente que a melhoria dos recursos materiais necessitam de uma exploração efectiva dos recursos humanos existentes, tanto no seu profissionalismo como na sua formação académica, para consumar concretos planos de formação avalizados e, então, consumar uma aproximação aos clubes de topo nacionais, nomeadamente na capacidade que estes manifestam em recrutar jogadores de longe. De igual forma, assiste-se a uma descaracterização dos clubes tradicionais na medida em que funcionam primordialmente como substrato para os grandes clubes nacionais e, como se antevê pelas afirmações de E2 e E3 começam a sê-lo também para os clubes de categoria nacional. Esta situação provoca uma desvirtuação dos próprios clubes regionais que se revisitam muito pelo aspecto formativo e delapida ainda mais o associativismo português. A importância de um plano de formação contínuo para treinadores A formação como sinónimo de qualidade é transversal a todos os entrevistados. É necessário acabar com “os desvios e o trabalho defeituoso que alguns treinadores desenvolvem”, segundo E1. Este entrevistado pensa ser importante a existência da figura de “Treinador de formação, eles estão sempre à espera de dar o salto porque ser treinador de jovens não é tão apetecível, se os agentes não querem pagar uma factura elevada têm que formar treinadores (…)
Das afirmações de E1 constata-se que, se por um lado existe a preocupação de formar com qualidade os jovens jogadores fornecendo-lhes um ambiente propício ao desenvolvimento das suas capacidades, jovens “conhecedores do jogo” como aliás salienta, por outro, o carácter inócuo do estatuto de treinador de formação compromete o alcançar dessas mesmas aprendizagens. Não se consegue conciliar a ideia de uma formação com qualidade com treinadores com orientações distintas, viradas para o rendimento. Afinal de contas, a formação de um jovem desportista é um processo pedagógico que requer especializações a vários níveis. Numa sociedade de conhecimento e serviços, o diploma, grau académico tende, numa tendência mais generalizada, a repercutir o acesso a uma mobilidade maior no seio dessa mesma sociedade. No caso particular do futebol jovem, o incontornável investimento nos recursos humanos significa apenas o ajuste estrutural que tem que ser percorrido para obtermos uma formação de qualidade superior. Não o conseguiremos se não formarmos treinadores de formação competentes.
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E2 e E3 sentem a necessidade de formação constante de forma a adquirir novos conhecimentos num caminho que se prevê fundamental no aumento de qualidade. E2 refere que, “A formação é sinónimo de qualidade. Torna-se importante completar a oferta de formação para os treinadores.”
E3, por seu turno, para a referida qualidade no processo de ensino-aprendizagem, é necessário que “O treinador tem de estar constantemente a consolidar os conhecimentos que possui e a adquirir novos (…) a pesquisa e a investigação individual são dois caminhos muito importantes e fundamentais.”
È premente a necessidade de especialização do treinador de jovens, ela requer uma regulamentação e organização da formação de treinadores em Portugal (Adelino, Vieira, Coelho, 2005), uma especialização no treino com crianças e jovens (Gonçalves, 2005). Parece sentir-se a necessidade que exista como afirma Coelho (2004), uma nova atitude pedagógica perante a prática desportiva e uma preocupação com a perspectiva da participação das crianças e jovens e a forma como os diversos agentes desportivos se comportam e intervêm. Existe um claro desfasamento entre as necessidades e a prática desportiva das crianças e jovens, pelo que deve existir uma clara distinção em relação à prática desportiva dos adultos. Neste sentido penso ser muito importante cada vez mais especialização no campo do treino de jovens, sujeitos conhecedores da prática com profundos conhecimentos académicos e um constante interesse em actualizar conhecimentos. Mas o processo de formação de treinadores da Federação Portuguesa de Futebol/FPF, com a sua hierarquização conducente a níveis de especialização cada vez mais altos, não parece responder a estas questões.
4.1.3. Categoria Plano de Formação Preocupação com o desportivismo As práticas desportivas correctas a todos os níveis durante o próprio jogo e no respeito por todos os intervenientes como salienta E1
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“O fair play em jogo, treino, comportamentos sociais a todos os níveis (…) tendo em vista a aprendizagem de comportamentos ajustado àquilo que é ser-se do clube.”
E2, refere que a aprendizagem de “práticas desportivas correctas “ é feita no balneário, escola e amigos. E3 afirma em jeito de complementaridade, a responsabilidade do formador de jovens na formação de agentes desportivos que irão actuar a vários níveis.
“O fair-play e o desportivismo deverão estar presentes em todos os agentes desportivos (…) é algo que tem de preocupar quem é responsável pela formação de jovens”
Este ponto revela-se de alguma importância quando se sente nesta declaração uma preocupação com o futuro, “Só com uma formação e conduta correcta poderemos melhorar o fraco panorama que vivemos hoje em dia no futebol português em termos de desportivismo e fair play.”
A resposta é unânime. Todos relevam a necessidade de formar para os valores. Gonçalves (2005) refere a este propósito a dificuldade que é modificar comportamentos e valores, para além da sua importância na elaboração de padrões de comportamento e de um conjunto de valores que deverão ser transmitidos aos jovens, é algo que se constrói. Duda (1996) refere, por exemplo, que o desporto organizado reforça estilos de vida activos. A instituição do cartão azul para controlar os “palavrões” em jogos de futebol de jovens pode ser uma realidade na próxima época em Portugal. A ideia é promover a formação, com qualidade, num espaço que tem que proporcionar um ambiente pedagógico. Os
jovens
jogadores
de
elite
são
intensamente
acompanhados
nos
seus
comportamentos sociais. Esta preocupação traduz um íntimo contacto entre o dirigente responsável pelo escalão, o treinador das respectivas equipas e o departamento pedagógico que subentende o controlo correctivo e atitudinal dos jovens, num clima inter-disciplinar. Os jogadores depois de terminarem a sua formação Nesta pergunta distingue-se claramente dois tipos de resposta. E1 refere a capacidade de jogo que entretanto o jovem adquiriu e que lhe vai servir de base a “diferentes dinâmicas de base que lhe sejam apresentados”. No fundo propiciar-lhes,
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“Um conhecimento profundo do jogo, habituados a muito rigor no trabalho, habituados a ultrapassar barreiras difíceis com sucesso (…)”
Aliado claro, a uma boa capacidade técnico táctica, capacidade de ultrapassar adversidades e capacidade de trabalho. De igual forma, o conhecimento profundo do jogo serve para jogar a níveis competitivos inferiores como diz E2 e E3 caso o profissionalismo não seja a realidade. Este último, com uma “formação desportiva, social e escolar muito sólida e qualitativamente muito boa.” No seguimento desta ideia, E2 alerta para a dificuldade de penetração dos jogadores jovens no plantel principal. A vinda de jogadores estrangeiros dificulta esta entrada de jogadores que entretanto militam em escalões secundários, sendo que, “ A política do clube passa por apostar em jogadores estrangeiros que muitas vezes não correspondem. Este processo de aposta nos mais jovens requer paciência, desculpar o erro”.
A passagem por outros escalões, no entender de Cunha (1999) afasta-os do nível competitivo do seu clube de origem e o seu regresso é acompanhado de um défice de formação que afecta o normal desenvolvimento de aprendizagem. Já Coelho (2004) refere que a relação entre seleccionar e eliminar constitui um problema educacional e social muito sensível. O desporto superioriza-se à pessoa, proporciona um significado para a vida, num percurso de desenvolvimento humano (Serpa, 1998). Será pertinente um futuro estudo que contemple estes jogadores que militam em clubes inferiores e cujo passado desportivo foi realizado em parte num clube de maior gabarito. Apoio à vida desportiva e pessoal dos atletas O clube de E1 possui um departamento pedagógico responsável “atento ao desenvolvimento desportivo e social”, uma máquina grande onde nada lhes falta, porque os dirigentes sabem “ A realidade de um desporto que escolheram (jogadores), onde todos querem chegar ao topo e poucos conseguem (…) precisamos de chamar a atenção para a realidade que é o mundo do futebol.”
E2 e E3 referem basicamente alguma ajuda e apoio a jogadores que se encontram deslocados da sua terra natal, nomeadamente,
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“O clube tem jogadores que são de fora e providenciam alojamento, alimentação e acompanhamento tutorial (à guarda do clube) que faz o papel dos pais em algumas tarefas. Também fornece alguma ajuda (Jogadores com dificuldades monetárias) (…)”
Um ponto importante nas afirmações de E1 reside na tomada de consciência de que o clube fornece o ambiente necessário para um jogador evoluir e alcançar grandes patamares, bem como a necessidade de corrigir potenciais desvios num mundo exigente e desafiante. O clube reforça a sua componente social na ajuda a atletas deslocados da sua família em tenra idade e onde as ligações afectivas são fortemente umbilicais, pelo que este apoio maternalista confere uma dimensão solidária abrangente nos cuidados a ter na formação. Contudo, esta separação do seu locus ambiental pode reproduzir manifestações psicológicas adversas, especialmente quando realizado nas idades mais baixas, o que eleva ao expoente a necessidade de um apoio pedagógico constante. Os entrevistados do clube de orientação profissional e do clube representativo da região centro inferem essa preocupação e ajuda que se manifesta de diversas formas. Contudo, o que resulta da selecção de jogadores destes dois clubes pode traduzir um desvelo para com os jogadores que não atingem os patamares exigidos. Pois, a chegada ao topo da performance desportiva representa condicionalismos próprios externos aos jovens e que, eventualmente, transportam consigo percepções de competência diminuídas e uma avaliação disposicional inferior. Como são acompanhados os jogadores que não alcançam o profissionalismo, em fase de mobilidade desportiva descendente como retratado no clube de pendor formativo que o estudo revela? O treinador não se pode concentrar apenas nos esforços e desempenhos dos jogadores, interessam-se também no dia-a-dia das suas vidas pessoais (Curado, 2002). De igual forma Cunha (1999) refere ser fundamental a existência de quadros que apoiem o desenvolvimento do jovem na sua orientação escolar e outras vertentes culturais da sua formação, nomeadamente um responsável pedagógico. Este acompanhamento regula constantemente os níveis de aprendizagem adquiridos e uma área de estudo extracurricular permanente. Patamar de excelência E1 refere a necessidade de criar jogadores que sirvam o clube e selecções nacionais com competência, torná-los jogadores completos. “O jogador o mais completo possível (…) estando num patamar de excelência sempre com muita competência, através de treinadores de excelência.”
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Esta procura de treinadores de excelência contrasta com a fuga de treinadores da formação para o desporto de rendimento. E2 coloca o acento tónico na capacidade que o clube tem em fornecer equipas para as segundas fases dos campeonatos nacionais, pois “a exigência é maior”. E3 foca a necessidade de completar o indivíduo o mais possível. A evolução passo a passo para poder “ Melhorar o potencial desportivo de cada um dos atletas do plantel e principalmente proporcionar (…) momentos positivos que serão mais tarde recordados com agrado por estes”
A este respeito Coelho (2004) afirma a necessidade de se acentuar o carácter agradável e de prazer que a actividade desportiva encerra, encorajar o esforço e progresso individual, bem como estabelecer objectivos realistas e fazê-los acreditar no seu potencial. O objectivo vai variando consoante o lugar ocupado pelo clube em questão no panorama nacional. De qualquer forma, a procura da individualização é imprescindível para se alcançar a excelência (Curado, 2002). Refere ainda que são objectivos de competição os de fornecer jogadores para as selecções regionais, distritais e nacionais. Esta integração deve ser apreciada sempre numa lógica de desenvolvimento, não devendo alhear-se o seu processo de formação (Adelino, Vieira, Coelho, 2005). A propósito dos atletas de alto nível, o caminho para a excelência baseia-se na capacidade por eles demonstrada em perseguir o trabalho árduo quando encaram os fracassos, devem ser capazes de exercer elevados níveis de comprometimento com o treino, manter elevados níveis de esforço e ser persistentes como afirma Duda (2001). Devem, por isso, participar em climas altamente orientados para a tarefa. Quando E1 faz referência aos “treinadores de excelência” reporta para uma realidade que mais uma vez contrasta fortemente com as suas afirmações relativas aos treinadores de formação que estão à espreita para dar o salto. Já E3 afirma que o patamar desportivo desejável inclui melhorar o “potencial desportivo” e, de forma algo contraditória, proporcionar “momentos positivos” que reflictam agrado no exercício das actividades. Esta assumpção torna-se incompatível com o ensejo de E2 e E3 no que toca `aproximação do modelo estrutural rígido do clube de elite de E1. Escalões em idade cronológica O respeito pelo aspecto maturacional coincide com o respeito com o “aumento da complexidade de jogo” e do treino. E1 justifica-se com a diferença que se faz de uma criança
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para a outra com apenas um ano de diferença, o que traduz um respeito pela individualidade e progressão maturacional de cada jovem. “Cada ano biológico corresponde a um determinado conteúdo de treino e de jogo”
E2 justifica a divisão em idades cronológicas pela imposição da federação nos seus quadros competitivos, a sua divisão baseia-se nos escalões imposto pela federação, sem a divisão por ano como acontece no clube do E1. As competições fundamentam-se na idade cronológica do praticante. E3 concorda com a divisão por idade biológica, apesar de não existirem recursos para operacionalizar estas ideias, justificando essa necessidade pelo facto de que “Não haveria os desfasamentos que se verificam principalmente nos escalões de iniciados e juvenis e os grupos de trabalho seriam mais homogéneos e as competições seriam mais equilibradas.”
Devemos ter ideia clara de que os jovens podem diferir até 4/5 anos no que se refere ao respectivo nível de maturação. As informações de índole sexual e diferenças ao nível somático determinam a idade biológica dos atletas, pelo que é importante na adaptação ao treino (Valdivielso, 2005). De qualquer forma, este debate já provou ser uma estrada sem saída, sendo improvável a exequibilidade da divisão dos escalões por idade biológica. Integração de jovens atletas maturacionalmente avançados no escalão seguinte Neste ponto, E1 refere vários pontos de interesse. Primeiro, a transição de um jogador para um escalão superior verifica-se de forma natural no seio deste clube “ o importante é a forma como ele se desenvolve e pratica o jogo”.. Esta passagem é feita tendo por base “O entendimento do jogo, se entende e se tem dinâmica já avançada para transitar para outro escalão (…)”
Refere ainda e por último, que este salto não tem por base valores antropométricos, como a altura ou força mas a compreensão da dinâmica de jogo. E2 refere, de outro ponto de vista, uma passagem de escalão feito no final da época como preparação para a próxima, os jogadores com mais qualidade preparam então o salto ponderado que vai conferir “uma qualidade de treino”.
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O desafio para os adultos que treinam e desenvolvem os jovens jogadores é providenciar oportunidades para o rapaz de maturação tardia e rapariga de maturação precoce para experimentarem o sucesso no desporto (Cumming, Standage & Malina, 2004). Aliás, a diferença que pode ir até 24 meses em jogadores do mesmo escalão, deve permitir uma reestruturação dos escalões de formação e permitir a descida de escalão (Coelho e Silva, 2001). Podemos inferir da análise de conteúdo das três entrevistas realizadas, certas tendências na denominada cultura desportiva. Percebe-se a vontade de ganhar e o pendor competitivo nos dois clubes em questão apesar do clima percepcionado no clube orientado profissionalmente comportar uma maior ênfase na vitória e uma formação para ganhar. Estas diferentes culturas comportam riscos e ameaças diversificados e será interessante verificar a profundidade que o impacto do clima e diferentes filosofias de enquadramento se reflectem nas respostas aos inquéritos psicométricos administrados. O clube de orientação profissional assenta numa filosofia empresarial assente na produção de activos, ou seja, atletas que representem um retorno financeiro da sua formação e possibilitem um balanço positivo no relatório de contas presente aos accionistas na sua sociedade anónima desportiva. Um factor adicional parece ser a vontade do clube de E2 e E3 em efectuar uma aproximação ao clube de elite e alcançar um patamar semelhante nomeadamente na rede de prospecção de jogadores e aumento da competitividade das suas formações jovens.
4.2. Caracterização da mobilidade dos atletas No quadro seguinte está descrita a mobilidade interclubes existente no clube de alto rendimento em questão nas camadas de formação de iniciados e juvenis. Dos 85 atletas que constitui a amostra apenas 8 jogaram em mais de dois clubes para além do actual, o que corresponde a 9%. De notar que apenas 15 jovens jogadores fizeram todo o seu percurso no clube em questão, pertencendo 4 aos sub 14, 3 aos sub 15, 3 aos sub 16 e 5 aos sub 17 e apenas 18 têm como último clube o referido no estudo em causa, o que representa 21% do total de jogadores que constituem o grupo de elite. Estes resultados demonstram que o clube é um centro de recrutamento de jovens potenciais atletas de alto rendimento. O grosso dos clubes que forneceram os jogadores para os iniciados e juvenis pertence à região norte do país.
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Tabela 4. Clubes anteriores dos jovens que constituem a amostra, grupo de alto rendimento Escalão Sub 17 1º Clube
-
Sub 16
Último Clube Beira Mar
1º Clube
-
Sub 15
Último Clube FCP 47
1º Clube
-
Sub 14
Último Clube Leixões
1º Clube
-
Último Clube FCP
Escola -
FCP
-
GD Chaves 48
-
Dragões -
Sandinen
-
FCP 49
-
-
FCP 50
-
ses -
FC Cristelo
FCP
-
Dragões Sandinen
-
ses Clube de origem
-
Paredes
-
(Antes de Ingressar no clube)
Mar
Lourinha
Oliveirense
-
CD Feirense Vilanovens e FC
Ermesind e SC
FCP SC
-
Coimbrõ
-
-
Progresso
-
-
Fintas
-
Vilanove
U.
Boavista
nse
Lamas
FC
-
-
Varzim
-
FCP
-
-
FCP
Fernand
SC Braga
-
Rio Ave
-
Imortal
Boavista Ermesind e
Mealhad
-
-
Vianense
FCP
RD
H.Gonçal ves
Brandão
-
Ferreira
Rubras Luciano Sousa
CD Candal
Varziela
Crecor
-
Vitória
Feirense
-
FC Barros
SC Espinho
-
Maia
-
o Pires Paços
Paços de
-
Águeda
Escola
-
Felgueiras
Esc.
a -
-
es
AA Coimbra
Trofense
FCP
Pedras -
GD -
-
nense
51 -
Beira
SCBraga
o Pires
SC
UD -
FCP
Fernand
Famalicã o
Paços de Ferreira Paços de Ferreira
-
Trofense
-
FCP
AD -
FCP
-
Gil Vicente
-
Esposen de
Continua
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Continuação da Tabela 4 -
Famalicã o
-
Águilas -
(Múrcia,
-
ESP) -
GD Chaves
-
FCP Gondom ar SC Nacional SC Espinho
Esperança AC Unidos do Porto
-
-
Vianense
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Luciano Sousa FC Maia Portimonens e Trofense AD Pedroso 20 FC Coimbrões SC Paivense FCP
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
FC Penafiel
-
-
-
-
-
-
-
FC Lourosa
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
FCP FCP Grémio Alpendorada Câmara
-
-
-
-
-
-
-
Lobos
-
-
-
-
-
-
-
FCP
Do Q3 resulta a constatação da mobilidade ascendente dos jogadores pertencentes aos quadros de formação do clube de elite. À medida que nos deslocamos para as últimas etapas são mais os jogadores que provieram do clube em questão, o que é significativo também do nível de recrutamento que se verifica desde as mais tenras idades. O clube de orientação profissional apresenta uma rede de prospecção nacional apesar de claramente se evidenciar uma maior capacidade de recrutar atletas numa dimensão regional, o que em certa medida é um paradoxo em relação à estrutura de “olheiros” que estes clubes evidenciam. Ou seja dos jogadores recrutados com base no sistema de prospecção nacional, com “olheiros” destacados numa base distrital e coordenadores gerais em cada distrito, o espaço preferencial de recrutamento continua a ser o norte de Portugal.
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Decorrente de uma análise descritiva mais minuciosa verifica-se que 82% dos 85 jogadores que compõem a amostra do clube profissional são provenientes da região norte, 21% dos quais já militavam o clube de elite em anos anteriores, ou seja, 61% dos jogadores recrutados são provenientes da região norte do país. Verificamos igualmente que 9% dos jogadores provêm da região centro, 4% da região sul, 2% das regiões autónomas e 2% do estrangeiro. A tabela seguinte traduz a mobilidade relativa dos jogadores que militam num clube claramente orientado para a formação, de pendor não profissionalizante.
Tabela 5. Clubes anteriores dos jovens que constituem a amostra, grupo de pendor formativo Escalão Sub 16 1º Clube
-
Clube de origem (Antes de Ingressar
-
no clube) AAC
Sub 14 Último Clube S. Martinho AAC Vilela AAC ADC Adémia
1º Clube
Último Clube
União Coimbra
AAC
-
AAC
-
ADC Adémia
-
AC Esperança
-
AAC
ADC Adémia AC Esperança AAC ADC Adémia União Madeira
AAC -
AAC
-
AC Esperança
-
Casaense
União Coimbra
AAC
-
AAC
-
CPMiranda Covo
-
União de Coimbra
-
ADC Adémia
-
União Coimbra
-
União Coimbra
-
ADC Adémia
-
ADC Adémia
-
AAC n/r
Continua
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Continuação da Tabela 5 ADC Adémia
ADC Adémia AAC Vilela ADC Adémia SC Ribeirense
-
ADC Adémia
Vigor
AAC
-
ADC Adémia
AAC
ADC Adémia
-
AC Esperança M.Bairro Rosa *
AAC
-
-
União Coimbra n/r
AC Esperança AAC AAC Meyrin (CH)
Dos jogadores analisados no clube não orientado profissionalmente nota-se que existe grande mobilidade entre os clubes que gravitam a cidade. O jogador com asterisco (*) jogou futsal no clube em questão e dois atletas não responderam à pergunta (n/r). Vê-se que são mais os jogadores que percorrem todos os escalões de formação do clube em relação ao clube de elite confirmando o seu pendor mais formativo. De notar que, ao contrário da mobilidade ascendente do clube de alto rendimento acima esquematizado, verificamos uma mobilidade descendente no clube de tendências claramente orientadas para a formação, esta mobilidade quantificada representa sensivelmente 44% de jogadores, num total de 20 respostas (Tabela 6). Aprofundando ainda mais a questão verificamos que 53% de jogadores (n=25) não sofreram mobilidade descendente e 3% não responderam à questão (n=2). Das 25 respostas, 52% (n=13) são jogadores que militavam em clubes de dimensão similar ao clube em análise, enquanto que, sensivelmente, 48% (n=12) provêm do clube de formação em análise, ascendendo naturalmente de escalão, sendo que 42% nos juniores B (n=5) e 58% nos juniores C (n=7). O quadro seguinte caracteriza a distribuição da mobilidade descendente por escalão.
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Tabela 6. Quantificação da mobilidade descendente observada por escalão no clube de formação
Nº de Jogadores
% de Jogadores
Juniores B (sub 17)
9
47
Juniores C (sub 15)
11
42
Foram muitos os jogadores que provieram do clube mais representativo da região, o que de forma meramente especulativa pode significar um condicionamento psicológico negativo e favoreça a aproximação dos itens de orientação para o ego em relação ao clube de elite, resultando em diferenças pouco significativas entre os dois clubes. De qualquer forma, a mobilidade desportiva descendente num clube de pendor formativo acarreta, de forma natural, estados psicológicos de insucesso que comprometem o comportamento para a realização de objectivos. Cruzando os dados entre os dois clubes e apesar dos grupos na sua representação, na amostra, não se assemelharem em número, o clube de elite apresenta 21% dos jogadores provenientes da ascensão natural de escalão contra 27% do clube de pendor claramente formativo, fruto do trabalho interno de formação. Estes resultados não são tão dissemelhantes como se fazia supor, tendo em conta as dimensões distintas das duas entidades desportivas. O que significam estes dados? Apesar do clube de formação apresentar uma dimensão claramente inferior, as equipas dos escalões em questão apresentam um mesclado de jogadores oriundos de clubes que representam o mesmo patamar desportivo nacional traduzindo uma movimentação de jogadores jovens cujo dinamismo faz supor a procura constante de uma melhor prática desportiva, independentemente das razões apresentadas. Se adicionarmos, no clube de formação, os jovens jogadores provenientes de clubes de maior dimensão, portanto que sofreram de mobilidade descendente, aos jovens que provieram de clubes de um patamar semelhante ao clube alvo do estudo verificamos que 73% dos jogadores movimentaram-se pela região! Estes números merecem uma análise em estudos posteriores. Provavelmente a existência de um clube com equipa profissional é uma das causas para justificar esta mobilidade. Será que esta instabilidade na plataforma desportiva regional é uma consequência local ou se, por outro lado, existe esta mecanização entre clubes em etapas de formação, de uma forma mais generalizada? E quais serão as razões apontadas para o referido, apenas desportivas, ou também de índole pessoal e dependentes do percurso escolar e familiar?
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Das entrevistas realizadas aos treinadores do clube representativo da região centro ressalva que o clube em questão tem andado paulatinamente a subir, nos últimos anos, a parada da sua estrutura formativa, o que se coaduna com uma outra perspectiva de recrutamento de jovens atletas. Provavelmente, e também baseado nas entrevistas realizadas aos treinadores do clube ressalva que existe um redimensionamento da formação e da própria estrutura formativa do clube. Com a criação de infra-estruturas mais condizentes com uma política formativa progressista, existe a vontade de alargar a sua rede de prospecção de uma base meramente regional para um pendor nacional e assim aumentar qualitativamente as suas equipas jovens num teor mais competitivo, assemelhando-se ao modelo de formação dos clubes de elite portugueses.
4.3. Quantificação disciplinar dos clubes
Tabela 7. Acção Disciplinar do clube mais representativo da Região Centro durante a época 07/08 Jornadas
Equipa
Cartão
Expulsão por
Expulsão
Formação
Amarelo
Acumulação
Directa
Juniores B
34
1
3
5
22
Juniores C
24
0
0
10
22
Juniores C
5
0
0
19
24
sem Cartões
Total de Jornadas
Campeonato Nacional, 1ª fase Nacional, 1ª fase Distrital 1ª Fase
Constata-se que à medida que subimos na pirâmide de formação e também na exigência do campeonato disputado aumenta as admoestações, tanto cartão amarelo, expulsão por acumulação e expulsão directa. O facto registado deve-se provavelmente ao stress competitivo do campeonato em questão bem como a ideia, assim que nos aproximamos do escalão maior, o sénior, de uma maior agressividade no jogo como predisposição para a ideia de ganhar a todo o custo e de um jogo moralmente comprometido na procura do melhor resultado. Nicholls em 1988 referiu que à medida que os jovens desenvolvem as suas concepções de habilidade, eles vêm a cooperação (sensação de que todos são igualmente aptos) como virtualmente injusta. Por outro lado, Roberts (2001) complementa que a preocupação com a comparação social e normativa pode inibir o desenvolvimento de atitudes morais no atleta orientado para o ego.
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Aliás, a tendência para o acumular de comportamentos socialmente negativos e moralmente comprometedores e consequentemente referenciados a uma maior orientação para o ego, à medida que subimos na estrutura competitiva está referenciada na literatura (Blake & al, 2005; Sage et al, 2006, Sage & Kavussanu, 2007), o que deixa em aberto a ideia do agravamento da conduta disciplinar nas etapas subsequentes às referenciadas aqui no trabalho. Não conseguimos inferir tal proposição, apesar disso, os resultados nas equipas de orientação profissional surpreendentemente atestam um respeito pelas convenções sociais impostas na modalidade e também fora dela. Pelas palavras do coordenador de formação, sãolhes fornecidas todas condições de actuação, a nível escolar e desportivo de forma a que os seus comportamentos sejam aprimorados e correctos.
Tabela 8. Acção Disciplinar do clube de orientação profissional durante a época 07/08
Equipa
Cartão
Expulsão por
Expulsão
Jornadas
Total de
Orientação
Amarelo
Acumulação
Directa
sem
Jornadas
Profissional Juniores B (sub 17) Juniores C (sub 15)
Campeonato
Cartões 23
2
0
10
22
8
1
1
14
22
Nacional, 1ª fase Nacional, 1ª fase
Curiosamente, o clube de orientação profissional apresenta, para os mesmos escalões um melhor comportamento disciplinar, o que contraria uma das nossas assumpções iniciais de que o clube, quanto mais profissional ele fosse mais se aproximaria de comportamentos de risco a nível disciplinar e comportamental. Aos dados observados não é alheia a existência de um departamento pedagógico que supervisiona os atletas individualmente com capacidade e instrumentos para intervir em matéria psicológica a desvios comportamentais, tanto pessoal como desportivamente como assinala E1, relativamente ao clube de elite. Não podemos deixar de supor também um maior “profissionalismo” por parte dos atletas inserido neste contexto particular. E1 prossegue realçando o clima de exigência competitiva a que os jovens são submetidos de forma a conseguirem lidar com as adversidades tanto da vida desportiva como prepará-los para a sua vida social, o que vai de encontro a Duda (2001). Ou seja, o controlo de comportamento dos atletas é realizado na sua globalidade, uma vez que, como refere o coordenador da formação, existe a imanente preocupação em construir atletas com um carácter vincado de profissionalismo quer militem no próprio clube ou em clubes de dimensão distinta, bem como a criação de valores abnegados de persecução de objectivos na vida pessoal.
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4.4. Orientação para a realização de objectivos Relativamente à orientação para a tarefa e para o ego, a análise comparativa do efeito de representatividade do clube entre os 13 itens do TEOSQp, estão apresentados na tabela 9. Foram observadas por quatro vezes diferenças estatisticamente significativas no item 2 “aprendo uma nova técnica e isso faz-me querer praticar mais” (t=2.285, p ≤ 0.05); no item 5 “aprendo algo que me dá prazer fazer” (t=1.590, p ≤ 0,05); no item 9 “ ganho a maioria das provas ou marco a maior parte dos pontos (t=1,345, p ≤ 0.05) e, por último o item 13 “faço o meu melhor” (t=2.175, p ≤ 0.05). Conforme a tabela 8, dos quatro itens com resultados estatisticamente significativos, três medem a orientação para a tarefa [item 2 “aprendo uma nova técnica e isso faz-me querer praticar mais” (t=2.285, p ≤ 0.05); no item 5 “aprendo algo que me dá prazer fazer” (t=1.590, p ≤ 0,05) e o item 13 “faço o meu melhor” (t=2.175, p ≤ 0.05)]. Esta orientação para a mestria é significativamente superior no clube de orientação profissional em relação ao clube de pendor claramente formativo o que traduz uma tendência de comprometimento individual com a prática na
ambiência
desportiva
de
formação,
apesar
de,
contudo,
não
se
registarem
surpreendentemente, e no cômputo geral, grandes diferenças entre os dois grupos analisados. Enquanto que apenas um item [item 9 “ ganho a maioria das provas ou marco a maior parte dos pontos (t=1,345, p ≤ 0.05)], é estatisticamente significativo para análise na sua correspondência com a orientação para o ego. Diversos autores têm demonstrado repetidamente que as dimensões de orientação para a tarefa e para o ego são independentes no contexto desportivo (Chi & Duda, 1995; Roberts, Treasure, & Kavussanu, 1996; Duda & Whitehead, 1998). Os resultados, apesar de não serem conclusivos vão de encontro às palavras do coordenador do clube de elite quando se reporta, relativamente à filosofia de formação do clube no enquadramento nacional à necessidade de se preocupar com a cultura do clube sem necessariamente descurar o ambiente nacional. Aliás, segundo o seu coordenador o programa de formação tem o enlevo de procurar tornar os seus jogadores o mais completo possível, o treinador de um dos escalões do clube mais representativo da região centro (E3) também refere a necessidade de rentabilizar ao máximo o potencial desportivo de cada jovem atleta. Estes depoimentos levam-nos a crer que a subida do patamar de excelência desportiva faz-se com acurácia e numa análise minuciosa dos atletas. Provavelmente este clima muito
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orientado para o aperfeiçoamento individual leva a uma orientação direccionada para a mestria, onde o desenvolvimento desportivo é tão importante como a filosofia de vitória, nas palavras do coordenador do clube de elite. Apesar de se ressalvar a ideia de que a concepção de habilidade da teoria de Nicholls não poder ser averiguada pela medida disposicional para a realização de objectivos como no TEOSQ (Duda, 2001).
Tabela 9. Estatística descritiva e t-teste para testar o efeito e nível do clube sobre os itens do TEOSQp. Orientação profissional
Formação n= 47
n= 85 Média
DP
Média
t
p
DP
1
sou o único a executar as técnicas
1.31
.753
1.60
.814
-1.698
n.s.
2
aprendo uma nova técnica e isso faz-me
4.65
.479
4.38
.779
2.285
*
querer praticar mais 3
consigo fazer melhor do que os meus colegas
2.60
1.484
2.52
1.411
.262
n.s.
4
os outros não conseguem fazer tão bem como
1.98
1.289
1.90
1.136
.297
n.s.
4.53
.862
1.590
*
eu 5
aprendo algo que me dá prazer fazer
4.74
.587
6
os outros cometem erros e eu não
1.44
1.014
1.34
.639
.499
n.s.
7
aprendo uma nova técnica esforçando-me
4.47
.763
4.32
1.056
.802
n.s.
bastante 8
trabalho realmente bastante
4.43
.756
4.36
.826
.405
n.s.
9
ganho a maioria das provas ou marco a maior
2.48
1.276
2.10
1.081
1.345
*
4.62
.629
4.50
.508
.983
n.s.
sou o melhor
1.69
1.161
1.83
1.317
-.568
n.s.
12
sinto que uma técnica que aprendo está bem
3.80
1.310
3.86
1.014
-.192
n.s.
13
faço o meu melhor
4.85
.364
4.68
.471
2.175
*
parte dos pontos 10
algo que aprendo me faz querer continuar e praticar mais
11
n.s. (não significativo), * (p ≤ .05)
Na busca de realização dos objectivos pessoais ou colectivos, os jovens jogadores de diferentes níveis de competitividade realçam apropriações distintas consoante a vivência desportiva que abraçam. Estes diferentes ambientes requerem uma maior profundidade em estudos posteriores apesar de se distinguirem particularidades interessantes que distinguem claramente o clube de elite do clube de orientação predominantemente formativa. O facto de que o item 2 “aprendo uma nova técnica e isso faz-me querer praticar mais” ” (t=2.285, p ≤ 0.05) e o item 13 “faço o meu melhor” (t=2.175, p ≤ 0.05) se relevaram do conjunto confirmam em parte os resultados e a mesma linha de pensamento de Van-Yperen e Duda (1999). Através de um estudo longitudinal procuraram estudar a relação entre a
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orientação para os objectivos e a crença das causas para o sucesso no caso de jogadores de futebol de elite holandeses, tendo verificado uma associação positiva entre a orientação para o ego e a crença de que a habilidade ou talento inato são determinantes do sucesso. Descobriram também que a orientação para a tarefa está ligada com as crenças de que o esforço, jogo de equipa e suporte parental contribuem para a realização de objectivos no futebol. Não é de descurar a possível relação entre os resultados pontuados da aplicação do TEOSQ nesta classe de jogadores e a presumível selecção de talentos baseada numa máquina de recrutamento presumivelmente nacional. Os jogadores seleccionados podem possuir determinadas características que vão de encontro à filosofia do clube e de ascensão ao mundo competitivo. Aliás Newton e Duda (1993); Duda (2001) e Pensgaard e Roberts (2002) referem ser muito importante a orientação para a tarefa em atletas de elite, no caminho que leva a uma cultura de elite onde inegavelmente encontramos valores de persistência e treino árduo, algo que vai de encontro ao clima de rigor mental que E1 afirmou. A verdade é que apesar de, como demonstra a literatura, existir uma propensão para uma maior orientação para o ego (Van-Yperen & Duda, 1999; Duda, 2001; Weiss & FerrerCaja, 2002), verificámos no estudo, um desenvolvimento de habilidade auto-referenciada. Estes percursos ascendentes vindos de clubes localizados, na sua maioria, na mesma linha de enquadramento geográfica hipoteticamente carregam consigo valores de esforço na busca auto-determinada de objectivos o que poderá explicar o processo de elitização. Sabemos, contudo, que uma cultura de gueto propicia vivências motoras que se encontram restringidas na classe média bem como indicadores ligados à abnegação, persistência face à adversidade relacionadas com a orientação para a tarefa. Estas constatações encontram alguma dissonância e eventual paradoxo em autores como Weiss e Ferrer-Caja (2002) que problematiza a condição das recompensas externas e o significado da comparação social criados pelo desporto de elite. Estes valores dominantes no desporto profissional, em especial, o futebol, surgem como titulares na definição de perspectivas de sucesso do jovem praticante. Em relação ao divertimento e satisfação decorrente da própria actividade desportiva, a diferença significativa atribuída ao item 5 “aprendo algo que me dá prazer fazer” (t=1.590, p ≤ 0,05) sugere que a orientação para a tarefa favorece adaptações cognitivas e esquemas afectivos no desporto competitivo durante a adolescência resultando numa participação desportiva mais prosocial e mais adaptativa (Treasure & Roberts, 1994). Aliás os atletas de elite com níveis altos em tarefa e baixo ou moderado em ego empregam mais frequentemente o uso de técnicas psicológicas como a conversa positiva e visualização (Harwood et al, 2003; Harwood et al, 2004). A aprendizagem ligada ao prazer de executar algo de que se gosta
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representa um elemento fundamental de motivação intrínseca, participar na tarefa pelo gozo que proporciona. Nomeadamente na relação entre valores elevados de orientação para a tarefa e baixa orientação para o ego com o divertimento e valores elevados no ego e baixos na tarefa em relação a uma elevada percepção de habilidade e baixo esforço (Fry & Fry, 1999). Do exposto é crível que os atletas de elite comportem uma elevada orientação para a tarefa focados no desenvolvimento das capacidades individuais e na demonstração de valores mais satisfatórios intrínsecos à modalidade. Esta repercussão torna-se tanto mais significativa quando pretendemos analisar a equipa durante uma época desportiva num design intra-sujeitos e assim podermos atestar, com mais acurácia, a respectiva influência perspectivada pelo comportamento do treinador. De qualquer forma fica inconclusiva a ideia de se saber quais os antecedentes de prática desportiva, as respectivas influências dos treinadores na orientação para a realização dos objectivos, no caso do TEOSQ. De estudos anteriores podemos comprovar que a orientação para o ego está relacionada com dimensões socialmente negativas do SAQ e a orientação para a tarefa com dimensões socialmente positivas, como é parcialmente demonstrado no estudo. 4.5. Atitudes face à prática desportiva A estatística descritiva dos efeitos da representatividade do clube sobre os itens do Questionário de Atitudes no Desporto (SAQ) está expressa na tabela 9. A assumpção de que o carácter é fortalecido por intermédio do desporto tem que continuar a ser perspectivado como atesta o estudo já antigo de Bredemeier, Weiss, Shields e Cooper (1986) e Duda em 1992. As diferenças significativas centram-se nos itens relativos ao comprometimento com a actividade desportiva em causa, neste caso, o futebol e itens relativos ao comportamento de desvio face ao desporto. Em relação ao primeiro caso, o item 1 “Vou a todos os treinos” (t=2.606, p ≤ 0.05); item 6 “Dou sempre o meu melhor” (t=2.080, p ≤ 0.05); item 8 “Cumprimento o treinador adversário” (t=2.864, p ≤ 0.05) e item 15 “Esforço-me sempre, mesmo que saiba que vou perder” (t=1.140, p ≤ 0.05). Por outro lado, relativamente aos itens de anti-desportivismo no desporto foram significativos os itens 2 “Às vezes perco tempo a perturbar os adversários” (t=-3.219, p ≤ 0.05); item 7 “Como não é contra as regras pressionar psicologicamente os adversários, posso fazêlo” (t=.224, p ≤ 0.05); o item 10 “Por vezes tento enganar os meus adversários” (t=2,642, p≤ 0.05); o item 14 “Penso que posso perturbar os adversários desde que não viole as regras”
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10. A FORMAÇÃO DESPORTIVA EM PORTUGAL. OS VALORES DO FUTEBOL
(t=1.578, p ≤ 0.05) e finalmente item 23 “Tento que os adversários decidam a meu favor, mesmo que não seja verdade” (t=2.340, p ≤ 0.05). O item 2 “Às vezes perco tempo a perturbar os adversários” (t=-3.219, p ≤ 0.05) foi o único que pontuou mais alto pelo clube de formação em relação ao de elite. Este facto é inconsistente com os resultados dos outros itens onde o clube de orientação profissional apresentou valores sistematicamente superiores. Este constructo demonstra o impacto do clima motivacional percepcionado e a sua orientação para a realização de objectivos na criação de comportamentos morais adequados quando cruzamos os dados com as entrevistas realizadas. O acompanhamento que o clube de elite faz dos seus jogadores e a preocupação demonstrada pelos seus comportamentos a nível desportivo e social predispõe a um funcionamento moral e níveis superiores de raciocínio social. Como demonstrado por Ommundsen et al (2003) num estudo realizado com uma amostra de 279 futebolistas noruegueses dos 12 aos 14 anos de idade, em que relacionou o clima motivacional percepcionado, o desportivismo com o funcionamento moral e social. Como exercício meramente especulativo seria elucidativo, num trabalho futuro, introduzir a variável independente da idade na categorização dos resultados a ponto de inferir se os itens com significado estatístico para comportamentos anti-sociais se verificam nas etapas posteriores da formação desportiva. Decorrente do exposto, o clube de elite apresenta um forte clima motivacional orientado para a mestria o que corresponde, de forma consequente, a níveis mais maduros de raciocínio social e moral e melhores comportamentos de desportivismo, resultados em sintonia com o estudo de Ommundsen, Roberts, Lemyre e Miller (2003) realizado a 279 jovens jogadores de futebol noruegueses. Contudo, os comportamentos negativos de desportivismo denotam de forma subentendida, uma possibilidade de transgressão às regras convencionadas, nos itens 7 “Como não é contra as regras pressionar psicologicamente os adversários, posso fazê-lo” (t=.224, p ≤ 0.05) e item 14 “Penso que posso perturbar os adversários desde que não viole as regras” (t=1.578, p ≤ 0.05). Este comportamento antisocial observado rege-se contudo pelo implícito das regras, denotando-se uma conformidade racional com as convenções estabelecidas. Apenas o item 10 “Por vezes tento enganar os meus adversários” (t=2,642, p≤ 0.05) demonstra uma clara atitude anti-desportiva e revela baixo funcionamento moral, como ilustra a tabela 10.
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Tabela 10. Estatística descritiva e t-teste para testar o efeito e nível do clube sobre o SAQp. Orientação profissional
Formação n= 47
n= 85 Média
DP
Média
t
p
DP
1
Vou a todos os treinos
4.85
.523
4.57
.630
2.606
*
2
Às vezes perco tempo a perturbar os
2.03
1.116
2.87
1.358
-3.219
*
2.53
1.592
2.26
1.570
.784
n.s.
adversários 3
Era capaz de fazer batota se isso me ajudasse a ganhar
4
Cumprimento os adversários após uma derrota
4.36
.987
4.30
1.102
.327
n.s.
5
Se os outros fazem batota penso que também
2.09
1.380
2,28
1.427
-.671
n.s.
o posso fazer 6
Dou sempre o meu melhor
4.79
.412
4.57
.737
2.080
*
7
Como não é contra as regras pressionar
3.54
1.393
3.47
1.570
.224
*
psicologicamente os adversários, posso fazê-lo 8
Cumprimento o treinador adversário
4.10
1.127
3.34
1.434
2.864
*
9
Faço batota se ninguém der por isso
2.02
1.218
2.00
1.438
.054
n.s.
10
Por vezes tento enganar os meus adversários
3.63
1.275
2.85
1.540
2.642
*
11
Estou sempre a pensar em como melhorar
4.63
.673
4.59
.751
.305
n.s.
12
Felicito os meus adversários por um bom jogo
3.95
1.300
4.14
1.134
-.710
n.s.
Por vezes é preciso fazer batota
2.52
1.501
2.53
1.562
-.039
n.s.
Penso que posso perturbar os adversários
3.76
1.382
3.25
1.704
1.578
*
4.70
.540
4.56
.743
1.140
*
1.95
1.294
2.25
1.545
-.989
n.s.
4.48
.789
4.42
1.052
.370
n.s.
2.00
1.338
2.44
1.375
-1.511
n.s.
2.06
1.320
2.07
1.361
-.022
n.s.
ou por um bom desempenho 13 14
desde que não viole as regras 15
Esforço-me sempre, mesmo que saiba que vou perder
16
Não há problema em fazer batota se ninguém notar
17
Seja qual for o resultado, cumprimento os meus adversários
18
Se não quiser que alguém jogue bem, tento perturbá-lo um pouco
19
Por vezes faço batota para obter vantagem
20
É uma boa ideia irritar os adversários
2.83
1.476
2.76
1.542
.224
n.s.
21
Não desisto, mesmo depois de ter cometido
4.55
.840
4.49
.768
.390
n.s.
4.61
.738
4.54
.840
.511
n.s.
3.95
1.263
3.19
1.674
2.340
*
erros 22
Depois de ganhar, cumprimento os meus adversários
23
Tento que os adversários decidam a meu favor, mesmo que não seja verdade
n.s. (não significativo), * (p ≤ .05)
Verificámos igualmente, tendo em linha de conta o comportamento disciplinar do clube de orientação profissional em comparação com o clube mais representativo da região centro
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uma menor propensão para comportamentos agressivos e anti-sociais do primeiro em relação ao segundo. Da análise de conteúdo relativamente à subcategoria “Preocupação com o desportivismo”, além de todos os inquiridos salientarem a sua importância, E1 reforça com a preocupação de se ocuparem com os comportamentos sociais dos jovens a todos os níveis enquadrados naquilo que entendem ser a filosofia do clube. De uma forma mais vincada, os itens 6 “Dou sempre o meu melhor” (t=2.080, p ≤ 0.05); e o item 15 “Esforço-me sempre, mesmo que saiba que vou perder” (t=1.140, p ≤ 0.05) reforçam uma atitude intrínseca de comprometimento com objectivos pessoais na realização de objectivos no desporto. Esta conduta auto-referenciada sustenta os vértices da motivação intrínseca numa carreira desportiva a longo termo. Ao passo que o item 8 “Cumprimento o treinador adversário” (t=2.864, p ≤ 0.05), demonstra uma maior atitude prosocial e de conformidade com as regras. Esta atitude leva a considerar que o trabalho árduo e o esforço são causas para o sucesso para estes jovens jogadores de elite ao invés de considerarem a habilidade e a superação do adversário como percursoras do sucesso na modalidade. Podemos especular que os valores estatisticamente significativos ocorridos no SAQ, o item 1 “Vou a todos os treinos t=2.606, p ≤ 0.05), item 6” “Dou sempre o meu melhor” (t=2.080, p ≤ 0.05) e o item 15 “Esforço-me sempre, mesmo que saiba que vou perder” (t=1.140, p ≤ 0.05) que aludem a características relacionadas com o esforço e trabalho árduo correlacionamse com os valores intrínsecos de sucesso verificados no TEOSQ, nomeadamente, o item 2 “aprendo uma nova técnica e isso faz-me querer praticar mais” ” (t=2.285, p ≤ 0.05) e o item 13 “faço o meu melhor” (t=2.175, p ≤ 0.05) ligado a uma orientação para a tarefa na busca de realização de objectivos no desporto. Assim sendo, a análise conjunta dos dois questionários contribuem para a ideia de que a percepção de sucesso auto referenciada é dominante nos jovens do clube de elite. Percebemos da literatura existente que um clima orientado para a tarefa associa-se à satisfação e habilidade auto-percepcionado, ao passo que uma orientação para o ego relaciona-se com a habilidade normativa percepcionada e uma maior atitude face à vitória, como indica o estudo de Boixadós, Cruz, Torregrosa e Valiente (2004) realizado a 472 jogadores de futebol entre os 10 e os 14 anos de idade. Ora, este clima motivacional percepcionado de disciplina e rigor tem implicações lógicas na realização de objectivos individuais e a sua importância crescente reside nas formas de comparação social e na definição das perspectivas de sucesso caracterizadora dos desportos de elite. Sabemos que as performances são mais visíveis e vulneráveis à avaliação feita pelos adultos e pares (Weiss & Ferrer-Caja, 2002).
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No processo de elitização, em consonância com as linhas orientadores do E1,o caminho para a excelência faz-se através do aumento da pressão mental, de forma a que os jogadores sejam capazes de lidar com as adversidades tanto da vida desportiva como pessoal e educá-los no fortalecimento da sua motivação intrínseca, como referem Goudas, Biddle e Fox (1994). 4.6. Conclusões Este estudo procurou fornecer uma perspectiva mais clara sobre a busca de realização de objectivos em clubes de elite cuja orientação altamente profissionalizante fazia supor determinado enquadramento característico de ambientes profissionais. Tem ficado demonstrado que um estado de envolvimento na tarefa é, a maior parte do tempo, condutor na optimização da motivação. Os resultados confirmaram em parte a hipótese avançada de que os jovens envolvidos nesse ambiente competitivo revelam resultados elevados na orientação para a tarefa apesar dos resultados não serem estatisticamente significativos na orientação para o ego. Ou seja, o estudo apresenta valores elevados para a tarefa e valores baixos para a orientação para o ego. Estes resultados quando cruzados com a as palavras de E1 reflectem uma íntima supervisão pedagógica que superentende as várias dimensões do jovem atleta, social, desportivo, escolar, o que pode explicar também os resultados do SAQ, onde é visível, no clube de elite, uma entendimento com as regras convencionadas mas também comportamentos menos claros que, no entanto, não representam um julgamento imoral e socialmente negativo. Os resultados fazem supor uma orientação para a mestria assente no desenvolvimento do indivíduo e no aprimoramento desportivo focado em valores de esforço e trabalho árduo como fruto do sucesso no desporto. Qual será o potencial impacto do papel do treinador e do clima percepcionado na realização para os objectivos destes jovens inseridos em esquemas de profissionalismo? A análise qualitativa efectuada reforça uma certa comunicação sobre competências e expectativas de sucesso no desporto que aludem para o desenvolvimento individual num clima de exigência permanente. Ainda, no clube de elite, apesar de se depreender a importância que um plano de formação desportivo representa para o desenvolvimento integrado do jovem praticante, existe contudo, alguma dissonância com os resultados práticos que essa mesma política de formação pode produzir. Através das palavras dos treinadores entrevistados do clube representativo da região centro verificámos que existe uma tendência para a procura dos modelos de formação dos
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grandes clubes portugueses no nível de recrutamento, apoios concedidos aos jogadores deslocados desportiva e pessoalmente. Contudo, não estão salvaguardos os interesses desportivos quando essa ligação cessa numa fase de formação desportiva, ou os resultados imediatos dessa mesma política. Questão aliás, passível de futura análise. O dimensionamento estrutural difere substancialmente entre o clube de elite e o clube claramente de formação demonstrado pelas mobilidades diferenciadas e parcialmente pelas percepções subjectivas de sucesso dos jovens integrantes advindas da análise do TEOSQ, apesar de necessitarmos de inclusão de dados relativos ao clima motivacional percepcionado nesses ambientes. Será interessante quantificar os riscos inerentes a este desenraizamento familiar precoce na moldura psicológica do jovem atleta em clube de elite. Apesar de percebermos, pelas palavras do coordenador de formação, um apoio constante aos jovens, quais as reais consequências para aqueles que não atingem tais patamares de excelência, como se comporta o clube? Em termos de mobilidade como era de esperar, os dois clubes apresentaram realidades diametralmente opostas. À mobilidade ascendente predominante do clube de elite somos confrontados com o inverso no clube de formação. Os resultados apresentaram dois apontamentos curiosos, a ver: o primeiro refere-se ao facto de não existir muita diferença entre os dois clubes no que diz respeito aos jogadores formados no clube que ascendem automaticamente de escalão; o outro dado interessante de análise refere-se à quantidade de jogadores que não sofreram mobilidade descendente e que ingressaram no clube de formação. Os dados parecem sugerir, no primeiro caso, um recrutamento orientado de jogadores que integram a filosofia de formação do clube de elite e, por conseguinte, vão percorrendo naturalmente os escalões de formação do clube, o que justifica em parte os números apontados. No segundo caso, será interessante averiguar a existência de um locus causal, uma especificidade regional que justifique tamanha mobilidade de jogadores para o clube de formação.
4.7. Sugestões para estudos futuros A inclusão da variável idade de forma a verificar os comportamentos para a realização de objectivos em idades posteriores do processo de formação desportivo; A caracterização da orientação para a realização de objectivos dos jogadores que sofreram uma mobilidade descendente; A inclusão do clima motivacional percepcionado e o cruzamento com o TESOQ e SAQ para averiguar qual o clima que é percebido no ambiente de elite;
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Entrevistas aos treinadores das camadas de formação do clube de elite para indagar dos processos de selecção de jogadores; Comparação da orientação para a realização de objectivos e atitudes face ao desporto entre os clubes de elite e os clubs participantes das fases finais do desporto escolar.
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ANEXOS
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TEOSQ – Task and Ego Orientation in Sport Questionnaires
NORD: Em seguida apresentam-se algumas informações relativas a opiniões ou sentimentos que o desporto provoca nas pessoas. Indique, por favor, o seu grau de concordância ou discordância, relativamente ao modo como considera que elas se aplicam a si, colocando para cada uma delas, uma cruz em cima da pontuação que mais se aproxima da sua opinião. 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Discordo totalmente
Concordo totalmente
... sou o único executar as técnicas ... aprendo uma nova técnica e isso faz-me querer praticar mais ... consigo fazer melhor do que os meus colegas ... os outros não conseguem fazer tão bem como eu ... aprendo algo que me dá prazer fazer ... os outros cometem erros e eu não ... aprendo uma nova técnica esforçando-me bastante ... trabalho realmente bastante ... ganho a maioria das provas ou marco a maior parte dos pontos ... algo que aprendo me faz querer continuar e praticar mais ... sou o melhor ... sinto que uma técnica que aprendo está bem ... faço o meu melhor
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5
Experiência desportiva na modalidade Época 2005/2006 2004/2005 2003/2004 2002/2003 2001/2002 2000/2001 1999/2000 1998/1999 1997/1998 1996/1997
Clube
Escalão
QUESTIONÁRIO DE ATITUDES FACE AO DESPORTO
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QUESTIONÁRIO DE ATITUDES FACE AO DESPORTO
NORD 105
Como eu pratico desporto Por favor, assinala cada frase com um círculo para mostrar como é que praticas a tua modalidade desportiva. O significado dos algarismos é o seguinte 1=Discordo totalmente 2=Discordo 3=Não tenho a certeza 4=Concordo 5=Concordo totalmente
DT D N C CT
Exemplo Costumo jogar “jogos de computador”
DT 1
D 2
N 3
C 4
CT 5
C 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
CT 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5
Por favor responde às seguintes questões, relativas ao teu desporto principal 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
Vou a todos os treinos Às vezes perco tempo a perturbar o adversário Era capaz de fazer batota se isso me ajudasse a ganhar Cumprimento os adversários depois de uma derrota Se os outros fazem batota, penso que também o posso fazer Dou sempre o meu melhor Como não é contra as regras pressionar psicologicamente os adversários, posso fazê-lo Cumprimento o treinador adversário Faço batota se ninguém der por isso Por vezes tento enganar os meus adversários Estou sempre a pensar em como posso melhorar Felicito os adversários por um bom jogo ou por um bom desempenho Por vezes é preciso fazer batota Penso que posso perturbar os adversários desde que não viole as regras Esforço-me sempre, mesmo que saiba que vou perder Não há problemas em fazer batota se ninguém notar Seja qual for o resultado, cumprimento os meus adversários Se não quiser que alguém jogue bem, tento perturbá-lo um pouco Por vezes faço batota para obter vantagem É uma boa ideia irritar os meus adversários Não desisto mesmo depois de ter cometido erros Depois de ganhar cumprimento os meus adversários Tento que os árbitros decidam a meu favor, mesmo que não seja verdade
DT 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
D 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
N 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
GUIÃO DAS ENTREVISTAS
1 – Quais os objectivos gerais que norteiam a política formativa neste clube? 106
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GUIÃO DAS ENTREVISTAS
1 – Quais os objectivos gerais que norteiam a política formativa neste clube? 106 2 – Qual a filosofia de formação deste clube no enquadramento nacional? As linhas orientadoras.
3 – Existe uma perspectiva desenvolvimentista nas camadas de formação do clube? Como a descreve? 4 – Existe uma preocupação com o desportivismo, no sentido de orientar o futuro profissional para práticas desportivas correctas?
5 – Como caracteriza a política de formação dos maiores clubes nacionais?
6 – O que pensa que vão ser os jogadores quando terminarem a sua formação no clube? 7 – Qual o tipo de apoio que o clube presta aos seus jogadores na vida desportiva e na sua vida pessoal?
8 – Quais são as vossas ambições? O que querem para o futuro
9 – Crê importante um plano de formação contínuo para treinadores?
10 - Qual é o patamar de excelência estabelecido por si, enquanto coordenador da formação do clube? 11 - Pode-me explicar o porquê da divisão dos escalões em idade cronológica?
12 - Existem mecanismos internos que promovam a integração de jovens atletas maturacionalmente avançados no escalão seguinte? A existir quais são?
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INTRODUÇÃO • O presente trabalho corresponde à Dissertação de Mestrado, por nós apresentada e defendida, no dia 25 de Janeiro de 2019, na Escola de Direito da Universidade do Minho, no âmbito do Mestrado em Direito dos Contratos e da Empresa dessa instituição de ensino superior. • A escolha do presente tema resultou, essencialmente, do gosto pessoal do Autor pela matéria e pelo Futebol, a qual sempre lhe despertou enorme interesse e vontade de aprofundar conhecimentos e, a par disso, da intenção de contribuir com um estudo conciso para o futebol profissional português. • O futebol tem, hoje, o poder de mover massas, promover o desenvolvimento económico, estimular o consumo, criar emprego, gerar avultadas quantias e movimentar capital de um modo extraordinário, entre outras características. Inerentemente à evolução do futebol, à sua mercantilização e profissionalização, emergiu a necessidade de regulação e normatização da atividade desportiva. É, assim, neste contexto, que surgem as Sociedades Desportivas.
OBJETIVOS • Análise, em primeiro lugar, de alguns aspetos da Corporate Governance das Sociedades Desportivas, em especial, das principais SAD’s portuguesas, em relação à época desportiva 2016/2017, tais como: • a identificação da estrutura acionista e a averiguação da dissociação entre o risco do capital e a gestão efetiva destas sociedades; • a organização da administração e fiscalização societária; • a ponderação do poder dos seus Chairman e CEO no seio destas sociedades e o seu impacto na comunidade. • Estudo, em segundo lugar, da regra Business Judgment Rule relativa à responsabilidade civil dos administradores de sociedades comerciais, importada para o ordenamento jurídico português e consagrada no artigo 72.º, n.º 2, do Código das Sociedades Comerciais, e sua aplicação no âmbito da administração de sociedades desportivas.
RESULTADOS
CONCLUSÕES
• Os clubes fundadores das SAD’s, detêm, por si só, por outras sociedades do mesmo grupo e por intermédio dos seus responsáveis, a grande maioria do capital social das respetivas SAD’s;
• Não existe, a nosso ver e em regra, nas SAD’s analisadas, dissociação entre o risco do capital, suportado pelos acionistas e a direção efetiva destas sociedades, a cargo dos administradores;
• Em relação à organização da administração e fiscalização destas SAD’s, todas utilizavam, à data, o modelo tradicional ou latino, de acordo com o disposto no artigo 278.º, n.º 1, al. a), do Código das Sociedades Comerciais.
• Defendemos que uma maior repartição do capital social e do controlo das SAD’s seria benéfica, dada a sua influência de massas, para a comunidade e, noutro plano, para as próprias SAD’s e para o futebol profissional, uma vez que captaria mais investimento e impulsionaria também a indústria do futebol;
•
Salvo uma exceção, todos os presidentes dos conselhos de administração das SAD’s analisadas acumulavam funções de CEO, com exceção do presidente do conselho de administração da Braga, SAD, e ocupavam a presidência da direção do clube fundador respetivo;
• Relativamente à Business Judgment Rule no âmbito das Sociedades Desportivas, está consagrada uma adaptação desta regra no artigo 72.º, n.º 2, do Código das Sociedades Comerciais, que pode afastar a responsabilidade civil dos administradores de sociedades desportivas por decisões tomadas no exercício das suas funções em violação do dever geral de cuidado do artigo 64.º, n.º 1, al. a), do Código das Sociedades Comerciais. • Contudo, os casos práticos ficcionados sobre possível gestão danosa e consequente responsabilização civil dos administradores de sociedades desportivas permitem perceber que, atualmente, os requisitos de aplicação desta regra podem não estar a ser cumpridos por estes responsáveis pela administração.
• O artigo 64.º do Código das Sociedades Comerciais, ao determinar que os administradores de sociedades desportivas observem o dever geral de cuidado, e dada a natureza específica destas sociedades, impõe-lhes uma atuação especialmente cuidada e, por outro lado, um amplo conhecimento e especialização na matéria. • O artigo 72.º, n.º 2, do Código das Sociedades Comerciais, que consagra o afastamento da responsabilidade civil dos administradores de sociedades desportivas em caso de violação do seu dever geral de cuidado, exige, a nosso ver: • que os administradores estejam informados em detalhe e especializados em matéria desportiva para prepararem substancialmente as suas decisões; • que atuem livres de qualquer interesse pessoal (requisito que, face ao estudo por nós realizado pode estar a ser incumprido); • que os administradores devem atuar segundo critérios de racionalidade económico-desportiva.
ADMINISTRAÇÃO DE SOCIEDADES DESPORTIVAS: A ‘CORPORATE GOVERNANCE’ E A ‘BUSINESS JUDGMENT RULE’
Ricardo João Rodrigues da Silva Pinheiro Gonçalves
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