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from Nova Pauta
14 Ponta Grossa, 2022-1 SAÚDE Ponta Grossa: a cidade das farmácias?
O Nova Pauta comparou dados das cinco cidades mais populosas do Paraná para descobrir a relação entre farmácias e habitantes no município.
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Eduardo Vaz
Popularmente a cidade de Ponta Grossa vem sendo chamada, pelos próprios moradores, de ‘Cidade das Farmácias’. O apelido deve-se à impressão da grande quantidade destes estabelecimentos espalhados pelo município. Unindo dados do IBGE e também do Conselho Regional de Farmácia do Paraná, o Nova Pauta foi descobrir e responder à pergunta: seria Ponta Grossa a cidade das farmácias?
Apesar de ser a quarta cidade mais populosa do estado, Ponta Grossa perde em número de farmácias e também na estatística de farmácias por habitante para Curitiba, Londrina, Maringá e Cascavel, que têm as maiores populações do Paraná. Ao todo, registradas no CRF-PR, Ponta Grossa tem 157 farmácias, entre estabelecimentos comunitários, comerciais, públicos e de manipulação, o que coloca o município na quinta colocação em números totais de estabelecimentos desta modalidade entre as maiores cidades do estado.
Por outro lado, o quantitativo representa uma farmácia para cada 2,2 mil habitantes, o que indica Ponta Grossa como a cidade com mais farmácias proporcionais a habitantes entre as maiores cidades do Paraná, à frente da própria capital, Curitiba.
Especialistas alertam para o risco da automedicação
Fluoxetina, bicarbonato de sódio, paracetamol, entre tantos outros compostos químicos, fazem parte do dia a dia do brasileiro. De acordo com um estudo da Close-Up Retail Market, o ‘Dorflex’, medicamento à base de dipirona, foi o campeão de vendas no ano de 2020, entre os compostos que não exigem a prescrição médica, com quase 24 milhões de unidades comercializadas. Apesar da alta procura, especialistas vem alertando que é preciso atenção ao consumo descontrolado de remédios.
Everson Krum, farmacêutico e professor da UEPG, explica que os medicamentos são classificados conforme os riscos que podem oferecer à saúde do paciente e, por isso, alguns deles apenas são comercializados com prescrição médica. “Aqui no Brasil nós não temos a tradição de fazer uma fiscalização rígida da venda dos medicamentos tarja vermelha, a não ser aqueles que necessitem da retenção de receita e os antibióticos”, conta. “Mas a legislação se baseia conforme o risco ao paciente”.
O professor conta que os medicamentos que podem ser vendidos sem a prescrição são chamados de OTCs (over thecounter – ‘além do balcão’, em tradução livre), ao redor do mundo, e MIPs (‘medicamentos isentos de prescrição’) no Brasil. Eles oferecem um risco muito baixo de dependência química. “São, principalmente, os xaropes, os antiácidos, os analgésicos e os antitérmicos. Esses medicamentos não têmna sua caixa original a tarja vermelha mas, apesar do risco baixo, é preciso que o paciente tome cuidado com possíveis reações que possam acontecer”, afirma.
Sintomas como perda de consciência, dor aguda e mudança na coloração da urina podem indicar uma intoxicação medicamentosa, porém, o farmacêutico conta que a perda de consciência ou sono além do comum são sinais de que algum remédio pode estar agindo em excesso no corpo. “Aí, é preciso a procura por um serviço de saúde, porque existem formas de se tratar diretamente a intoxicação, com uso de recursos e de produtos que vão fazer a quelação, ou seja, que vão fazer a absorçãodesse excesso, bem como proteger de possíveis danos aos rins, fígado, estômago e intestino, que podem provocar situações muito mais graves”, alerta.
Entre os medicamentos em que são exigidas as prescrições, estão os antibióticos. De acordo com o professor, o motivo seria evitar o desenvolvimento de bactérias super resistentes devido à superexposição ao composto químico. “No Brasil, quem pode fazer essa prescrição são médicos, dentistas e veterinários, que são os profissionais que têm o conhecimento, juntamente com os outros profissionais de saúde, para fornecer as receitas tomando o cuidado para que uma pessoa não use exageradamente os antibióticos e venham a trazer resistência bacteriana”, ressalta.
Foto: Eduardo Vaz
Ponta Grossa tem 157 farmácias,, o que coloca o município na quinta colocação em números totais de estabelecimentos desta modalidade entre as maiores cidades do estado
Conselho segue atento
O gerente técnico científico do Conselho Regional de Farmácia do Paraná, Jackson Rapkiewicz, reforça os perigos da automedicação. “Ela não é adequada quando realizada com medicamentos que precisam de receita, por tempo prolongado, por indicação de amigos e parentes. A automedicação inadequada pode resultar em mascaramento de sintomas de uma doença em progresso, uso de doses inadequadas ou por períodos de tempo muito curto ou longo, surgimento de reações adversas, ocorrência de intoxicações e interferência do medicamento com outros tratamentos”, explica.
A dona de casa Sandra de Freitas, 42, afirma que entende os perigos da automedicação, mas que prefere tomar um remédio próximo da data de vencimento, ainda que não precise, do que descartar o medicamento. “Não consigo jogar fora. Sei que não deveria, mas fala mais alto que eu. Nunca tive problemas de intoxicação e tento tomar cuidado,mas quem não gosta de tomar um remedinho?”, brinca.
Everson conta que o medo constante de desenvolver problemas de saúde e o vício em medicamentos pode ser caracterizado como hipocondria. “Algumas pessoas têm essa preocupação excessiva com a saúde e questionam até mesmo sinais naturais que normalmente aconteceriam com o corpo, já achando que pode ser alguma doença grave e já querem procurar o tratamento ou diagnóstico. Nestes casos é preciso avaliação de um profissional e a recomendação pode ser de terapia”, explica.
Para Rapkiewicz, do CRF-PR, há fatores que podem contribuir com a condição. “A dificuldade de acesso a outros serviços de saúde e o hábito de buscar nos medicamentos a cura para todos os problemas”, diz.