ARTIGO:O PODER DE ESCUTAR Por Deborah Anne Quibell | 10-06-2015
Eu cheguei um pouco cedo para a entrevista. Eu estava pensando sobre isso por muitos dias e me senti simultaneamente animada e imensamente determinada. Eu conhecia o trabalho de Tenzin Wangyal Rinpoche há algum tempo, mas nunca havia tido o prazer de conhecê-lo pessoalmente. Ele foi um dos primeiros a trazer os ensinamentos tibetanos Bön budistas para o Ocidente. Ele é o fundador e diretor espiritual do Instituto Ligmincha e escreveu muitos livros. Eu tinha acabado de pegar seu livro, O Despertar da Mente Luminosa: Meditação Tibetana para a Paz e a Alegria, de uma seção especial na minha estante de livros. Abri diretamente a página 38, 2º capítulo. Meus olhos percorreram estas palavras, “Ao longo da história da humanidade, as pessoas reverenciaram e curvaram-se perante montanhas sagradas, imagens de deuses, deusas e altares. Nós temos feito oferendas com grande respeito, reverências e rezado por orientação. Essa é a atitude que você deve ter com o espaço interior neste momento. Se o ingresso neste momento de experiência é caótico e barulhento ou sereno e sublime, não faz diferença. O que é importante é sua atitude de respeito e sua capacidade de dirigir inabalável atenção para o interior e tornar-se consciente da quietude." Silenciosamente, eu firmei a intenção de começar a minha interação com Rinpoche com essas palavras em mente. Eu sei que frequentemente ele enfatiza as três portas - nossos corpo, fala e mente, como maneiras de descobrir e desvendar as nossas qualidades positivas inerentes.
Por um momento, muitas dúvidas surgiram e questionei minha capacidade ou habilidade para entrevistá-lo, pessoalmente. Mas, em momentos de auto-dúvida, eu simplesmente mergulhei no meu coração e senti uma profundidade tranquila de amor. Eu me conecto com minha bondade interior e confio que eu tenho a capacidade de lidar com o que está na minha frente. Eu tinha me preparado bem e se eu partir de um lugar de amor (e uma atitude de respeito, conforme referido na passagem no livro), tudo estaria ok. Eu conheço o lugar de reverência e acredito que devemos oferecê-lo para todos que encontremos (ou pelo menos tentar). Quando eu entrei, a equipe de filmagem estava fazendo uma pausa, reunidos em torno de algumas bananas e croissants. E Rinpoche sentou-se no final da longa mesa de madeira, comendo uma pequena quantidade de almoço. Sentei-me ao lado dele para me apresentar e explicar um pouco sobre o propósito da entrevista que estaria fazendo com ele. Sua pequena estatura não era indicativo de sua presença energética. Eu imediatamente me tornei ciente de seu sorriso. E dos seus olhos. E todo o tempo em que estávamos falando, eu estava sutilmente ciente deste sentido de presença. Meu coração se expandiu e houve um sentimento de felicidade tranquila ao meu redor. E senti como se estivesse observando algo que deveria permanecer não descrito. Mas se tivesse que nomeá-lo, essencialmente me senti profundamente honrada e imensamente grata. Há momentos particulares na vida em que o tempo parece ter parado e você sente que este momento particular é a convergência e a realização de muitos, muitos momentos anteriores. Este foi um deles. E havia um monte de amor à tona dentro de mim. Que eu sabia que era um bom sinal e um início auspicioso.
Antes da minha entrevista, escutei uma conversa que Rinpoche teve com Katiza Satya, uma sábia mulher, que é uma professora muito poderosa. Ela perguntou sobre como ele tinha desenvolvido esta capacidade de traduzir tais ensinamentos profundos do Oriente de maneiras que eram acessíveis e fáceis para o aluno ocidental compreender e aplicar .
Sua resposta foi tão bonita e permanecerá para sempre dentro de mim, como uma pérola de ouro da sabedoria, em uma cadeia especial de pérolas que eu uso ao redor do meu coração. Ele sorriu e disse simplesmente : "Eu aprendi a ouvir." Após uma breve pausa, ele continuou. "Escutei meus alunos. Escutei o que eles precisavam e como suas mentes trabalhavam. Aprendi mais com meus alunos, durante esse tempo, do que eles aprenderam comigo.” Eu fiquei muito tranqüila interiormente. Quando uma verdade profunda é dita, se você prestar atenção, um acorde se desprende dentro de você e há um som silencioso de ressonância, que é imensamente satisfatório. Eu primeiro me tornei consciente da humildade. A pedra angular e a definição característica de todos os grandes mestres. E ele estava demonstrando isso tão belamente perante todos nós . Eu, então, comecei a pensar como que o mundo seria se todos nós aprendessemos a escutar assim. Ouvir sem julgamento. Ouvir com amor e interesse verdadeiro. Ouvir com a atitude de aprendizagem. Deixar ir a crítica, como "por que não podemos ser diferentes ?" Ou "se somente eles pensassem diferente, esse mundo seria muito mais fácil." Realmente tirar o tempo para aprender como os outros funcionam, o que os outros realmente precisam e respeitar as diferentes formas de pensar, nossas milhões de variadas perspectivas. Eu suspeito que ouvir (realmente ouvir)é uma chave para desbloquear mais paz e harmonia em nossa vida individual e coletiva. Isso nos une. Isso nos permite conhecer um ao outro. Ver um ao outro, completamente. Isso fornece um tônico de cura e conexão com um mundo muitas vezes exausto de complicado autointeresse. Eu senti, naquele dia, no fundo do meu coração, o verdadeiro poder de ouvir e imaginar um mundo em que todos abracemos a escuta como uma prática sagrada. Eu acredito que há muito, muito a aprender um com o outro, se tentarmos.
Fonte: www.thehouseofyoga.com/magazine/power-listening