Cenários da política externa dos nas eleições americanas | Pág. 4 e 5 Ativismo na arte | Pág. 6
A paixão pelo futebol narrada pelos torcedores | Pág. 8 Análise do documentário de Amy Winehouse | Pág. 12 BRAZA, novo Forfun | Pág. 13
Entrevista com MC Garden sobre funk consciente | Pág. 10 Intolerância política no Brasil | Pág. 16
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Meiô. No meio de nós. Eu, você, nós. Tudo no mesmo meio. Nós. Somos um jornal colaborativo cultural iniciado dentro do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, indo para o mundo. A cultura é o que nos move, a alma das nossas megalópoles, o fogo que move nossos redatores todos os meses para fazer nossas queridas edições. Sem preconceitos, sem distinções, sem exclusões. Somos de todos, todos são de nós. Meio. Formado pela jornalista Carolina Farias e pelos internacionalistas Felipe Alves, Juliana Florentino e Manuela Errera, temos como princípio a alma coletiva. Do povo, feito por quem tem sentimento pelo povo, obra de quem usa essa alma em palavras, fotos, desenhos. Transmitimos ao leitor nossa alma coletiva, colaborativa. O que é o Meiô 22? É você, sou eu, somos nós. Todos aqueles que possuem o espirito, a alma, a cidade, o campo, a cultura. Resultado de quem possui tais sentidos e por você, que lê, entende, interage e nos move.
Agradecimentos Especiais
Lourival Cuquinha Carlos Fukushima Marcus Vinicius da Silva Gabriela Nolasco
Gabriel Angeli Mc Garden Bruna Kanesiro Gabriel Prado
ENTREVISTA DESTACADA
Big Leaf In The Middle VITÓRIA MELLO A política externa nas primárias americanas FELIPE ALVES E JULIANA FLORENTINO
Geração de pensadores em foco Entrevista com MC Garden CAROLINA FARIAS A volta da diva do jazz LETICIA RIBEIRO “A antropofagia está viva” e dela surge BRAZA CAROLINA FARIAS
MATÉRIA DE CAPA
Manifesto a(R)tivista MANUELA ERRERA A paixão pelo futebol narrada por torcedores dos quatro grandes times de São Paulo LUCAS BAROZZI A verdadeira felicidade segundo o budismo de Nichiren Daishonin LUISA MENDONÇA
Amores de uma noite THAYNA FREGOLENTE
Intolerância política no Brasil HENRIQUE PAES
Quem é o Meiô?
Big Leaf In The Middle Por Vitรณria Mello
ABC News
The Vox Conversation
A política externa nas primárias americanas Por Felipe Alves e Juliana Florentino
possuía armas de destruição em massa, como também, desestaA eleição presidencial norte-amer- bilizou toda a região e funcionou icana é um evento que mobiliza o de forma contrária em termos de cenário internacional de forma combate ao terrorismo internaintensa. A disputa é pelo cargo cional”. considerado o mais importante do globo e, por isso, o Meiô 22 Sanders posicionou-se a favor dos resolveu analisar as propostas e ataques militares realizados pelo posicionamentos de política ex- país no Afeganistão quando foi terna dos três principais candida- comprovado que o Talibã deu assistência à al-Qaeda nos ataques tos à presidência do país. de 11/9. Todavia, criticou o posicionamento de George W. Bush a Bernie Sanders partir do início da guerra afirmanDos candidatos favoritos à corrida do que o ex-presidente “perdeu a pela Casa Branca, Bernard Sand- direção e o senso moral quanto ers é quem conta com mais apo- aos objetivos estadunidenses no io dos jovens, e isso se deve, em país”. grande parte, por suas adesões às causas relacionadas aos direitos LGBT e às liberdades e direitos civis das minorias. Sanders concorre pelo Partido Democrata e desafia a favorita Hillary Clinton na corrida presidencial pelo partido. Como membro da Câmara e do Senado de Vermont, votou contra a invasão ao Iraque pelos Estados Unidos afirmando que “essa decisão foi uma das piores já tomadas quanto à política externa do país, uma vez que, a guerra não só foi iniciada com base em uma informação falsa [de que o Iraque
votou contra a proposta de fechamento indicada pelo presidente? Segundo o senador de Vermont, o projeto não suportava questões relacionadas às violações dos direitos humanos cometidas contra os presos. A oposição democrata enxerga essa mudança como uma tática populista ante as eleições. Hillary Clinton
O pré-candidato aprovou a atuação de Barack Obama perante o desenvolvimento de artefatos nucleares no Irã. Sanders considera o Irã um forte player regional no Oriente Médio e acredita que o acordo firmado em 2015 entre o país e as grandes potências mundiais limita as possibilidades de atuação do Irã no campo nuclear e evita novas guerras na região.
A ex-primeira dama e exsecretária de Estado Hillary Clinton foi pré-candidata nas eleições de 2008 pelo Partido Democrata contra Obama e, na ocasião, criticou a proposta do adversário referente ao apoio às negociações entre os EUA e o Irã a respeito do programa nuclear iraniano. Após a vitória de Obama, o presidente a convidou para ser Secretária de Estado – cargo que exerceu de 2009 a 2013. Em sua gestão, demonstrou um posicionamento divergente do demonstrado nas prévias: intermediou acordos secretos do país com o Irã e hoje possui diretrizes similares às de Sanders sobre o tema.
Sobre Guantánamo, Sanders afirmou que pretende dar continuidade às políticas de Obama e acelerar o processo de fechamento da prisão na ilha cubana. O que mudou do Sanders que, em 2009,
Como senadora de Nova Iorque, Hillary posicionou-se favoravelmente à invasão norte-americana ao Iraque em 2002. Já em 2007, fez um pronunciamento declarando que seu voto favorável à in-
John Taggart – Bloomberg/Getty Images
vasão foi um erro. Em um debate das primárias em 2008, afirmou que o voto foi dado para que o ex-presidente Bush fornecesse mais tempo para a ONU investigar a possibilidade de o Iraque estar desenvolvendo armas de destruição em massa. Sobre Cuba, Hillary demonstrou-se defensora do embargo econômico por muitos anos, declarando-se oficialmente favorável ao fim do bloqueio somente em 2014. Em 2007, a candidata votou contra a transferência dos presos de Guantánamo aos Estados Unidos. Hoje, apoia o projeto de Obama que visa justamente enviar os presos da ilha cubana ao país.
ionário vem surpreendendo e ganhou a maioria das primárias disputadas pelo Partido Republicano. O pré-candidato demonstra projetos e atuações ultraconservadoras e combina essas propostas com um discurso reacionário em relação à cidadania e aos direitos igualitários.
Trump sustenta seu discurso de política externa no nativismo e na xenofobia, propondo taxas mais altas para produtos chineses, a expulsão de mais de 11 milhões de imigrantes ilegais que vivem no país, a construção de um muro em toda a fronteira dos EUA com o México - que o México supostamente deveria pagar – e a proibição da entrada de imigrantes muçulmanos no país com o objeAs diferenças de posicionamento tivo de “combater o terrorismo”. de Hillary antes e depois de exercer o cargo de Secretária de Estado Apesar das fortes críticas, o dislevantam dúvidas sobre os ideais curso do candidato republicano políticos da candidata. A mudança encontra grande respaldo nos se deve à experiência adquirida na setores tradicionais da sociedade função, ou é apenas um discurso americana. Utiliza aspectos idenpara fazer frente ao forte viés so- titários dos Estados Unidos para cial de Bernie Sanders? impulsionar seu discurso populista, reiterando o individualismo Donald Trump e resgatando as concepções do Destino Manifesto - aspectos basDonald Trump surgiu como a ilares do slogan “Make America grande surpresa das eleições es- Great Again”. tadunidenses. O empresário bil-
O que esperar? Bernie Sanders apresenta aspecto conciliador em política externa, fator que apresenta uma continuidade da gestão Obama. Todavia, questiona-se a capacidade estratégica do senador pela falta de experiência em política internacional. Hillary Clinton é adepta do smart power, combinação de coerção, persuasão e dissuasão em política externa. Entretanto, existem dúvidas quanto ao seu apreço pela coerção (hard power) devido ao histórico de votações e mudanças de posicionamento da candidata. Já o republicano Donald Trump é considerado uma grande ameaça à estabilidade internacional. Seu comportamento irredutível e imprevisível sobre diversas questões é comprometedor para a política externa do país, e gera receio de uma instabilidade na política mundial. Os americanos têm até o dia 14 de junho para indicar os candidatos que disputarão a Casa Branca em novembro desse ano. A escolha será de suma importância para o sistema internacional, que acompanha com atenção - e certa apreensão - o desenrolar da disputa presidencial mais importante do planeta.
Manifesto A(R)tivista O uso das poéticas como forma de protesto Por Manuela Errera
material, a obra tratava da disparidade entre o valor de troca e o Há 50 anos, o artista Joseph Beuys valor de uso, o valor real e o valor afirmou que iria chegar o momen- simbólico do dinheiro, abordando to em que a política se transfor- a questão da metáfora. De acordo maria em arte e a arte se transfor- com sua vivencia de espaço-temmaria em política. Ele não estava po e condições propícias para a errado, mas essa conexão sempre realização de seu projeto, o artisfoi intrínseca. Em primeira instân- ta pôde assumir um caráter hetcia, invisível: a função estética erogêneo em sua produção. passa por um processo de relato do posicionamento do artista sob A criação do conceito é fundaaquilo que desperta sua sensibili- mental, porém, muitas vezes cordade. A linguagem com que esse responde apenas a um período, pensamento é expressado pode como é o caso de outra obra de Cilter caráter híbrido, ou seja, algo do, Quem Matou Herzog? (1975), que nitidamente atinja o campo onde carimbava a frase em notas social além da carga simbólica. de real, salientando uma mensagem explícita e anônima da sua Se criarmos uma linha cronológi- visão artística, diante da morte de ca rasa, é possível enxergar que Vladmir Herzog no período da ditas circunstâncias tornam a arte adura militar, enquanto meio de política. Veja Stonehange, uma informação e democratização. herança do período Neolítico que prova o interesse em tronar física Este artivismo não se prende ao determinada leitura de mundo, há campo democrático-financeiro, milhares de anos. Assim, sucessiv- mas de modo geral, a um engajaamente, passamos por movimen- mento comunitário. A arte possui tos e vanguardas, chegamos na poder de transformação, e ao loncontemporaneidade e o interesse go dos anos este espaço de fala vai em criar uma problematização so- sendo levado à discussões muito cial – e acima tudo, relatar o tem- específicas, como a arte feminispo - continua presente. ta de Mujeres Creando ou a ecoeficiênte de Thiago Cóstackz. Em Em Árvore do Dinheiro (1969), 2014, a 31ª Bienal de Arte de São Cildo Meireles fez o seu primeiro Paulo pôs os conflitos em debate: trabalho utilizando cédulas como
A arvore do dinheiro
entre grupos distintos, versões contraditórias de uma mesma história e pensamentos incompatíveis na sociedade (ideologias, religiões, territórios, movimentos, etnias, etc.). O objetivo era abandonar a lógica individualista, o resultado foi uma dinâmica gerada a partir da necessidade de pensar e agir coletivamente. Em Partilha do Sensível (2005), o filósofo Jacques Rancière associa arte e política com base no encontro desafinado das percepções de cada indivíduo. Para ele, a política é fundada no mundo sensível, bem como a expressão artística, porque ambas são estéticas: “Um regime político só pode ser democrático se incentivar a multiplicidade de manifestações dentro da comunidade”. Women of Allah (1993-1997), da iraniana Shirin Neshat, corrobora para a elucidação deste pensamento político-artístico-social: a série coloca frames de mulheres usando Chador (vestimenta árabe), ao lado de armas de fogo, tendo partes do corpo tatuadas com poesias persas sobre feminilidade, exílio, martírio e identidade, em uma condenação expressiva e conceitual sobre o estereótipo da mulher muçulmana frágil.
No que se diz respeito à ocupação do espaço público, Banksy representa com maestria o grafite ativista na cena urbana mundial. Seu trabalho possui teor satírico e subversivo. Em The Mild Mild West (2010), por exemplo, um teddy bear atira uma bomba caseira em três policiais armados e protegidos por escudos antimotim. O grafite expressa um gesto de apropriação lúdica, uma estratégica de ação que está mais propensa a causar impacto em determinados grupos sociais, porque é acessível, é fácil, praticamente um drop artístico no meio do caminho. Cabe citar os brasileiros Gustavo e Otávio Pandolfo (os gêmeos) e Thiago Mundano.
Women of Allah
O artista chinês Ai Weiwei condena abertamente a falta de liberdade de expressão e direitos humanos em seu país. Segundo o curador da 29ª Bienal de São Paulo, Moacir dos Anjos, “Não dá para separar no trabalho dele o que é arte e o que é ativismo”, isso advém da enorme conotação política de suas obras e do choque popular causado por elas. Como consequência de seu trabalho, no mesmo ano em que apresentou Circle of Animals/Zodiac Heads (2011), Weiwei foi detido por autoridades chinesas por três meses em um local secreto. Horas depois, seu estúdio em Pequim foi invadido por policiais, que confiscaram uma série de itens e obras.
A existência do artivismo não é novidade, a questão é que nunca houve um movimento articulado. Com o advento da globalização, o panorama da arte como questionamento se expande, é o desejo da manifestação individual, os movimentos sociais contemporâneos, a ciência de que estética é um agente transformador, we can do it!. A internet é outro fator que justifica esta erupção intensa da arte ativista no mundo pós-moderno,
colabora para a fluidez e agilidade do processo de comunicação e facilita a troca de conhecimento. É precipitada a afirmação acerca do surgimento de uma tendência, todavia a integração entre público, artista e seu diálogo social é eminente. De maneira direta, cada vez mais, o valor simbólico afirma seu caráter civil. O artista Lourival Cuquinha* abriu as portas do seu ateliê ao Meiô e falou sobre suas obras, veja a entrevista na íntegra em www.meio22.com.br. *Lourival é artista visual e trabalha com várias mídias. Seu trabalho atinge o campo político geralmente partindo de impressões estritas e pessoais. Participou de exposições nacionais e internacionais, com trabalhos caracterizados pela interatividade e pelo diálogo com o público e com o meio urbano. Seu trabalho surge como local de provocação e nos leva a pensar sobre o lugar que a arte pode ocupar nessas negociações pelo exercício da liberdade, experimentando, assim, o seu alcance de intervenção no próprio sistema da arte e na realidade que o circunda. Flower Thrower
A paixão pelo futebol narrada por torcedores dos quatro grandes times de São Paulo Por Lucas Barozzi No Brasil, o futebol faz parte do nosso DNA desde a infância, mas mais do que apenas o querido futebol, muito do que alimenta essa paixão são as rivalidades – não há qualquer paulista que não saiba a importância de um Palmeiras x Corinthians ou de um Santos x São Paulo. Para demonstrar a paixão pelo futebol, entrevistamos torcedores dos quatro grandes clubes de São Paulo para sabermos como escolheram o seu time do coração e quais suas expectativas desse ano para Palmeiras, Corinthians, Santos e São Paulo. O entrevistado palmeirense é Carlos Eduardo Fukushima dos Santos. Carlos tem 23 anos e é membro da torcida organizada Pork’s: “Toda a minha família é palmeirense e acredito que isso tenha influenciado na escolha. Comecei a acompanhar o futebol na era da Parmalat, ou seja, não tinha como negar aquele time”. Carlos acredita que um bom rendimento no Brasileiro e na Libertadores é “mais do que obrigação”, devido ao forte investimento realizado pela Diretoria no ano passado e nesse ano.
Carlos Eduardo Fukushima
Pelo Corinthians, Marcus Vinicius da Silva, de 17 anos: “Meu pai é corintiano. Sou corintiano por causa dele e por ter nascido em 1998, ano em que o Corinthians foi campeão brasileiro. Minhas expectativas para esse ano são de conquistas, mas se elas não vierem, eu continuo corintiano. Vivo de Corinthians e não de títulos. Boto fé nesse elenco e, quanto ao Tite [técnico do Corinthians], acredito no trabalho dele por tudo que ele já fez pelo clube. É um técnico que a torcida, o time e a diretoria confiam”.
Gabriela Nolasco
São Paulo por influência de um tio, que é são paulino fanático e desde pequeno me levou aos jogos e me deu a minha primeira camisa do tricolor. Minhas expectativas para esse ano não são boas. O time não se entrosa e muitos jogadores não demonstram raça e comprometimento com o clube. Se as coisas não mudarem, acredito que o time ficará fora do G4, o que é péssimo”.
Marcus Vinicius
Gabriela Nolasco, de 18 anos, representa o Santos: “Eu sempre digo que você torce pelo time que você mais se identifica. Minha família é bem misturada, espanhóis que torcem pro Santos e Corinthians e a italiana que é Palmeiras na veia. O Santos que me escolheu. Tudo começou na final do Brasileiro de 2002, pelo jogo de volta no Morumbi. Olha, nunca fiquei tão feliz e arrepiada. Espero que o Santos nos surpreenda esse ano. O time mudou em alguns setores, mas o Dorival [técnico santista] tem feito um belo trabalho apostando nos meninos”.
Gabriel Angeli
O Campeonato Paulista, assim como os demais estaduais, é considerado uma prévia do que os times mostrarão no campeonato mais disputado do país, o Brasileiro, que inicia em 14 de maio. A Copa Libertadores se apresenta como a principal competição latino-americana e, esse ano, conta com a presença de três grandes paulistas – com exceção do Santos. Temos certeza de que esses quatro torcedores não arredarão o pé do estádio ou tirarão os olhos Representando o São Paulo, Ga- da tv durante todo o ano. briel Angeli de Arruda Campos, de 18 anos: “Comecei a torcer pelo
A verdadeira felicidade segundo o budismo de Nichiren Daishonin Por Luisa Mendonça Todos nós buscamos a felicidade na vida, porém ela é muito diferente para cada pessoa. Dentre os entendimentos sobre esse conceito, será que realmente existe a verdadeira felicidade que satisfaça completamente as pessoas? Há uma grande diferença entra estar e ser feliz. Essa diferença pode ser explicada por dois tipos de felicidade: a relativa e a absoluta. A felicidade absoluta garante a conquista da relativa. Isso porque a relativa está dentro da absoluta, mas a absoluta não está dentro da relativa. Quando uma pessoa satisfaz seu desejo de fortuna, fama e posição social, tal como ganhar bastante dinheiro, casar com a pessoa ideal, ter bons filhos, adquirir a casa própria ou ter boas roupas, conquistam a felicidade relativa, uma ideia de “falsa felicidade”, embora não sejam grandes realizações, as pessoas pensam que
alcançaram a felicidade. Quando os desejos são comparados com os dos outros, eles perdem sentido e desaparecem num instante, principalmente, geram um profundo arrependimento a ponto de nos fazer questionar o motivo de tê-los almejado. Se buscarmos apenas a felicidade relativa, jamais construiremos uma vida de autêntica felicidade. A felicidade não existe no passado e nem no futuro, mas no momento presente em que avançamos com toda firmeza pelo caminho da revolução humana. O ponto básico de tudo está em como reformar a nós mesmos que muito facilmente somos arrastados pelo destino ou derrotados pela própria fraqueza. Devemos nos conscientizar de que a fonte da felicidade encontra-se no âmago da nossa determinação. O Mestre ensina: “Ao incorporar os profundos princípios filosóficos, adquirimos sólida convicção de que a esperança e a paz residem em nosso
próprio coração, e nos dedicamos à própria felicidade e à dos outros.” Cada um de nós pode, definitivamente, atingir esse estado de paz e felicidade. E como essa paz e felicidade derivam de nossa vida, são duradouras. Não se trata de conduzir uma existência tímida e fraca, procurando evitar obstáculos e maldades. Em um todo, muitas vezes a felicidade nos engana, pensamos que a “atingimos”, mas na verdade não passa de um momento de realização. Com certeza, a felicidade absoluta é o principal objetivo na vida de todos os terraqueos, e para manifestarmos esse estado precisamos de energia vital, coragem e sabedoria para superar qualquer adversidade, e é por meio da recitação do Daimoku, -recitação nam-myoho-renguekyo continuamente- que conseguimos conquistá-la.
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Foto de Gabriel Prado
MC GARDEN
Geração de Pensadores em foco Por Carolina Farias Porta-voz da Geração de Pensadores e do Funk Consciente, Lucas Rocha da Silva, o Mc Garden, conversa conosco sobre seu trabalho, suas conquistas e derrotas e seus novos trabalhos. Recentemente Garden completou 22 anos com mais de 10 milhões de visualizações no YouTube e um feito inédito: a fusão entre o funk e a música clássica. Vem conferir! Qual a importância de falar sobre assuntos tão relevantes para a sociedade num estilo musical que é visto pela massa como contracultura, geralmente com apologia ao sexo, drogas e ao crime? Mc Garden: É de extrema importância utilizar o ritmo que conversa com nossos jovens e que na maioria das vezes influencia de forma negativa. Vim para mostrar que o funk também pode ser música e o melhor, música com conteúdo. Quais foram as maiores dificuldades da sua carreira? E as maiores conquistas? Você imaginava o retorno que suas músicas teriam? Mc Garden: A maior dificuldade é ter que nadar contra a maré, porém as recompensas também são maiores. Acredito que sempre que trabalhamos temos resultados, trabalho bastante e assim espero sempre o retorno adequado ao meu trabalho. Quais são suas maiores influên-
foi caracterizada pelo teor político, pela crítica. Você acha que perdemos essa característica? Há um movimento de retomada dessas críticas pelo rap e agora pelo Mc Garden: Minha maior influen- funk? cia é meu pai. A inspiração vem da minha visão de mundo sempre com Mc Garden: Acredito que não pera mente e os olhos abertos para demos isso nas músicas mas sim que as músicas com conteúdo tudo que nos rodeia. Ao tentar produzir seu clipe de perdeu seu espaço para bundas e “Cheguei no baile funk” com o canções batidas de amor, estou Kondzilla, foi rejeitado por con- com o meu funk trazendo isso de ta do conteúdo da música. Como volta, conquistando novos espaços e quem sabe revolucionando um você encarou tal recusa? ritmo musical para mais adiante revolucionarmos a música no geral. Acredito! cias? De onde vem a inspiração para falar sobre realidade num estilo musical que tendência o contrário?
É comum ouvirmos que os brasileiros estão cada vez mais despolitizados. Como a música brasileira atua na resolução desse problema? Mc Garden: A música que toca para a massa contribui ainda mais com a desinformação e ignorância do povo, mas como disse, estou nadando contra a maré e conseguindo cada vez mais espaço para que a população volte a se informar e escutar músicas com conteúdo. Recentemente você lançou uma música junto com a Juliana D’Agostini, pianista com reconhecimento internacional. Como foi pra você juntar dois estilos musicais tão divergentes? Você já Mc Garden: Normal. O Kond é par- tinha imaginado tal fusão? ceiro, já temos um trabalho juntos que é o clipe da música Gol Do Mc Garden: Já imaginava tal fusão Adversário e não temos problema tanto que eu fui atrás dela para que nenhum. O clipe da música En- isso concretizasse, não foi fácil juncostei No Baile Funk ficou muito tar o funk com a música clássica, bom mesmo assim. mas realmente ficou um trabalho muito lindo e inteligente, farei Entre 70 e 90, a música brasileira mais disso. Acesse www.meio22.com.br para ouvir.
A volta da Diva do Jazz
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Por Leticia Ribeiro quantidade de material e de pes- “Amy abriu caminhos para uma soas que não estiveram nesse linha musical que, infelizmente, até então, estava fechada. Ela filme”. abriu espaço para vários outros A trilha sonora do documentário artistas poderem divulgar suas é o que envolve o espectador em músicas fora do estilo pop que todo o contexto em que é inserida nos era oferecido pela indústria a vida de Amy. As músicas com- musical. Costumo dizer que ela vipostas pela própria cantora são rou uma lenda que tivemos o privembasadas em seus momentos ilégio de ter em nossa geração. mais pessoais e ressoam durante Grandes estrelas como ela não todo o documentário com muita aparecem tão facilmente no dia a dia.” – o fã Alexandre declara a paixão e sensibilidade. importância dos passos dados O ponto alto talvez seja o ressurg- por Amy e seu legado deixado na imento da música Jazz através da música. voz de Winehouse, que não deixa de ser destacado. Amy foi capaz Ela foi de Diva do Jazz à perdição Apesar do resguardo quanto ao de transformar o estilo que antes nas drogas, mas nunca deixou de lado familiar, o documentário faz era mais elitizado em algo mais ser Amy, a garota que só queria um tributo à cantora e mata a sau- acessível – sem pender para o pop compor para se libertar de seus dade dos fãs, como é o caso de Al- e, ainda assim, adaptar sua músi- “fantasmas”. É assim que a canexandre Ferreira, presidente do ca a partir do momento em que tora e compositora é represenAmy Winehouse Fan Club Trou- passou a ganhar mais destaque tada pelo documentário, e é pela ble, que chegou a participar da na mídia e fazer parcerias com vivacidade e por sua voz estontepesquisa para o embasamento da grandes nomes da música, como ante que seus fãs sempre se lemprodução: “Uma das produtoras Tony Bennett. brarão dela. entrou em contato comigo bem no início da produção, no período de pesquisa para o documentário e nós tentamos ajudar de todas as formas possíveis. Eu até visitei o escritório da produção em Londres em 2013.” – disse Alexandre. A vida da cantora britânica Amy Winehouse virou longa e, como se já não bastasse o sucesso de crítica, não só concorreu, como também levou o Oscar de melhor documentário. Mesmo com certa densidade, é aparente o receio da produção em revelar aspectos mais íntimos da vida de Amy; exemplo disso é a maneira como mostram a relação conturbada da cantora com as drogas e com seu marido Blake Fielder – fatos que os fãs e outros nem tão envolvidos com o trabalho de Amy já estavam mais do que cientes.
Entretanto, assim como alguns outros fãs do trabalho de Winehouse, Alexandre acredita que a relação de Amy com a família é mais do que foi apresentada no documentário. “Gostei muito da parte musical e também das imagens inéditas, mas, sinceramente, Amy é muito mais. Várias pessoas importantes do “mundo” da Amy não estavam lá. Acredito que no novo projeto feito diretamente pela família teremos uma grande
“A antropofagia está viva” e dela surge BRAZA Por Carolina Farias No final de 2015, o Forfun, banda originalmente hardcore que depois de 15 anos na estrada enveredou pelos campos do reggae, rap e de um rock mais leve, anunciou seu fim. Com uma turnê bem extensa incluindo o país inteiro, deixou os fãs bem confusos sobre o motivo do termino. A banda chegou a lançar quatro álbuns oficiais, um EP solto e um álbum que eles não consideram na discografia oficial, do qual tinha o original pop punk inspirado em Blink 182. Com muita filosofia em suas composições, debates políticos, relatos de vidas de pessoas menos favorecidas e frases de incentivo, a banda conquistou milhares de fãs em diversos cenários musicais no Brasil, seduzindo desde quem só curte reggae ate os fãs de screamo.
O penúltimo show da banda, feito na Fundição Progresso, Rio de Janeiro, com a casa lotada, disputava público com Nofx, que além de ser gringa e uma das influencias da banda, se apresentava no Circo Voador, localizado ao lado da Fundição. O ultimo show esgotou em dois dias, lotando o espaço com fãs do país inteiro.
(Ramirez) e Faucom (Dibob).
No último dia 10, para surpresa de todos os fãs, os antigos integrantes do Forfun Danilo Cutrim (vocal e guitarra), Vitor Isensee (vocal, guitarra e sintetizador) e Nicolas Christ (bateria) lançaram o BRAZA, através de um clipe da musica “Embrasado” que dava entrada ao álbum “Braza”. No dia O ano começou sem novidades. seguinte, mais uma novidade: Forfun tinha acabado e o único ra- o álbum completo seria lançado stro que os integrantes deixaram em seis dias. foi a parceria do Vitor Isensee (guitarra, sintetizador e vocal) A música inaugural é uma versão com o Armandinho. 2.0 do Forfun, juntando o reggae, rap e sintetizador pesado, torEm fevereiro, Rodrigo (baixo e vo- nando a música perfeita para cal) anunciou um novo nome: Rio- um dub. A diferença? Forfun era core All Stars. O projeto era uma quatro. BRAZA não tem o Rojunção de integrantes do mes- drigo e a divergia se expõe com mo cenário pop punk nacional clareza: a guitarra diminuiu, a dos anos 2000 para cantar seus política também. O que não dessucessos mais antigos, ou seja, qualifica o som, que usa e abusa um show de nostalgia. Entre os do baixo tocado por Pedro Lobo. integrantes estão o Diego Miranda (Scracho), Thiago Pedalino Bruna Kanesiro, fã da banda desde
2009, mora numa cidadezinha no interior do Paraná e já viajou duas vezes para ver a banda, inclusive no último show, que foi no dia do aniversário dela. “Eu nunca tinha ido num show só deles e ouvir duas horas inteiras só de Forfun, que foi o tanto que teve o último, foi incrível! Um mix de alegria e tristeza que não dá pra expressar, eu sai acabada do show pensando ‘meu Deus, agora acabou’. Eu já tinha me conformado com o final do Forfun quando eles lançaram a música ‘Embrasado’, eu não acreditei que eles tinham voltado com uma nova cara, ninguém sabia de nada, de repente, BRAZA tá ai com um disco pronto, eu não consigo explicar o quanto fiquei feliz.”, diz a paranaense. A música Pedro Pedreiro Parou de Esperar retoma o cunho politico mais característico da antiga banda, lembrando bastante Mariá, do último álbum do Forfun, NU. As relações não param por ai, em “We Are Terceiro Mundo”, a guitarra remete a “Alforria”, também do NU. Podemos considerar o Braza como continuação do NU, sem ignorar que agora os caminhos são outros e os rumos do BRAZA é incerto, porem duradouro.
Do trópico, no hemisfério sul, na periferia global, sampleando o passado, batucando na mesa, mordendo parede, pulando portão, vivendo o presente, gritamos ao mundo. A antropofagia está viva. O Carnaval é habeas corpus, e dele somos filhos. São alguns clicks para nos servirmos do que há agora, assimilá-lo às raízes afro, européia, indígena; e, sem negligenciar nossas heranças (jobiniana, caetânica, benjórica, mussuníca, glauberiana, oiticíquica...), praticar a colagem pop. Em nome de que? De nós (todos) e da Arte, o terceiro gênero entre as entidades que propõem-se a entender o mistério. Realizar-se individualmente Contribuir para a edificação do coletivo Porque há muita Vida por viver, BRAZA
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Dicas do Meiô
Foto: Gabriel Brambatti
PALESTRA | A arquitetura egípcia antiga: templos e tumbas Local: Fundação Cultural Ema Gordon Klabin Rua Portugal, 43 - Jardim Europa. 02/04 - 11 hrs às 13 hrs R$35,00
EXPOSIÇÃO | Azul e Unicórnio Local: Baró Galeria Rua da Consolação. 3417 - Consolação. De 18/02 à 26/03 Segunda à sábado, das 10h30 às 19h30
MOSTRA | Marginais Heróis Local: Museu da Casa Brasileira Av. Brigadeiro Faria Lima, 2705 Jardim Paulistano De 12/03 à 15/05 Das 10h às 18hrs Inteira: R$ 7,00 / Meia: R$ 3,50 Sáb, Dom e feriado gratuito.
Amores de uma noite Por Thayna Fregolente Sempre me chamaram de louca. Louca por fazer o que me dá na telha, sem passar vontade de nada. Mas entre as minhas maiores loucuras, as melhores: amores de um dia. Tudo começa com aquela corriqueira normalidade de um dia comum. Você nem imagina o que te espera. Acorda, acha que é mais um dia que verá as mesmas coisas, sentirá as mesmas emoções e dormirá com o mesmo cansaço. Mas esse fatídico dia, ah, esse dia... você não se esquecerá. Imagina, você ali, em uma roda de amigos, após quatro aulas exaustivas; conversas aleatórias irrompidas por gargalhadas que ecoam e relaxam. Eis que surge (do nada!) um encantamento por aquela pessoa, que até um minuto atrás não faria a menor diferença se estivesse ali ou não. Todo mundo vai embora junto. A pessoa tá perto demais, não tem problema. Boas sátiras das melancolias da vida e copos descartáveis, já bem zoados, com resto de cerveja do bar. Entre uma brincadeira e outra, num momento bem breve: um beijo. Você foi surpreendido, não tem tempo pra pensar. Se joga, se afaga nos braços quentes e longos que te rodeiam. Olha você, deitada ao lado de uma pessoa desconhecida, em uma casa qualquer, tendo uma noite de amor maravilhosa. Amor mesmo, por que no momento é possível amar aquela pessoa. Também é possível acordar trocando carinho, dividir a mesa do café da manhã, passar um tempo nesse desfrutando um romance transitório, em que se ama de várias formas sabores, na verdade - intensas. Não há cobranças, planos, nem nada... No final, na hora de ir embora, os dois acreditam fielmente que seria perfeito poder viver assim. Mas acabou. O metrô continua lotado, dessa vez você está mais longe de casa. Era amor de uma noite só.
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FEIRA | SP-Arte Local: Pavilhão da Bienal Parque do Ibirapuera - Portão 3. 07/04 à 10/04 Quinta à sábado das 13h às 21h, domingo das 11h às 19h. Inteira: R$ 40 / Meia: R$ 20
Dicas do Meiô
PALESTRA | Semana Latino SHOW | Riocore All Stars Americana de Mídias Livres Local: Sala Stadium, Belas Artes - Rua Dr. Álvaro Alvim, 90 - Vila Mariana. De 22/03 à 25/03 Horários variados
Local: Hangar 110 Rua Rodolfo Miranda, 110 - Bom Retiro. Dia 01/04 às 19 horas Inteira promocional: R$ 50 / Meia (esgotada): R$ 25
Tudo absolutamente correto. Todavia, algo muito mais grave está escondido por trás da nossa atual conjuntura. O cenário visto é do aumento da intolerância política e do preconceito com o outro nas relações interpessoais de nossa nação. A dicotomia está instaurada, com estereótipos nada racionais: “coxinhas” e “golpistas” aos que defendem a saída da presidente; “comunistas” e “petralhas” aos defensores da manutenção da governante no poder.
Por Henrique Paes
A intolerância e o preconceito dizem respeito a um mecanismo desenvolvido pelo individuo para poder se defender de ameaças imaginarias, um falseamento da realidade - que ocorre devido à ausência da experiência e reflexão – nos explica José Leon Crochik, professor titular do departamento de psicologia da USP. Isso acarreta em um discurso de ódio, pois o individuo preconceituoso é incapaz de pensar por si mesmo, precisando cada vez mais recorrer a estereótipos para justificar sua intolerância com o próximo.
Intolerância política no Brasil
No dia 13 de março de 2016 vimos, uma vez mais, brasileiros de todas as regiões do país saírem às ruas pedindo o fim da corrupção e o impeachment da atual presidente da República Dilma Rousseff. Mais uma manifestação legitima e necessária para os manifestantes, haja vista seu ardente desejo de ver o Brasil acabar com a corrupção, restaurando a ordem e o progresso econômico e social.
O estereótipo, por sinal, é uma manifestação do preconceito, produzindo ao individuo os objetos que deve amar e odiar, prezar ou desprezar. Logo, quanto maior a debilidade de experimentar e refletir, maior a necessidade de nos defendermos daqueles que nos causam estranheza. Lembrando que o preconceito é uma forma de destruição. Mas o que leva o individuo em uma manifestação externar seu ódio a um semelhante, disseminando seu preconceito? Segundo o psicólogo francês, Gustavo Le Bon (1841-1931), a massa possui uma espécie de alma coletiva. Esta alma faz com que seus participantes sintam, pensem e atuem de forma bem diferente da que cada um sentiria, pensaria e atuaria isoladamente. Ela é impulsiva, volúvel e excitável, não tolera qualquer demora entre o seu desejo e a realização dele, possui o sentimento de onipotência e nunca teve sede da verdade. Assim, o irreal tem primazia sobre o real. Diante desse cenário ameaçador, cada um de nós deve descobrir a forma de intolerância que lhe está próxima para se opor a ela. Precisamos da pluralidade de ideias - não o afloramento de ideologias – e o desenvolvimento da alteridade, enxergando o outro em nós. Isso será essencial para que não caiamos, se já não caímos, no obscurantismo intelectual da intolerância politica.