Meiô 22 - 04

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As similaridades políticas da América Latina | Pág. 4 Enterramento de fios em São Paulo | Pág. 8 Felipe Alves faz reflexão opinativa sobre a educação | Pág. 9

O cinema expressionista em movimento | Pág. 12 A nova cena do rap paulistano | Pág. 13 Seleção dos melhores álbuns orientais | Pág. 14

Natalia Cliquet critica padrões de beleza | Pág. 15 Ana Luiza Lube expõe fotos da mostra “Esses seus padrões” | Pág. 16

A política externa de josé serra


Meiô. No meio de nós. Eu, você, nós. Tudo no mesmo meio. Nós. Somos um jornal colaborativo cultural iniciado dentro do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, indo para o mundo. A cultura é o que nos move, a alma das nossas megalópoles, o fogo que move nossos redatores todos os meses para fazer nossas queridas edições. Sem preconceitos, sem distinções, sem exclusões. Somos de todos, todos são de nós. Meio. Formado pela jornalista Carolina Farias e pelos internacionalistas Felipe Alves, Juliana Florentino e Manuela Errera, temos como princípio a alma coletiva. Do povo, feito por quem tem sentimento pelo povo, obra de quem usa essa alma em palavras, fotos, desenhos. Transmitimos ao leitor nossa alma coletiva, colaborativa. O que é o Meiô 22? É você, sou eu, somos nós. Todos aqueles que possuem o espirito, a alma, a cidade, o campo, a cultura. Resultado de quem possui tais sentidos e por você, que lê, entende, interage e nos move. AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

Rafael Sanches Enio Moro Junior Rap’sicologia

Hachikazuke MONICA OKA

O expressionismo em movimento ISABELLA JARRUSSO

As similaridades da América Latina JULIANA FLORENTINO

Nova geração do rap nacional GEOVANNA NUNCIATO

Matéria de capa A política externa de Serra FELIPE ALVES E JULIANA FLORENTINO

Musica árabe no mundo ocidental FERNANDA LIRA

Enterramento de fios em São Paulo GUILHERME DUARTE

Flor doce, estranha, amada NATALIA CLIQUET

E a educação? FELIPE ALVES

Esses seus padrões ANA LUIZA LUBE

Entrevista Spray Essência: A arte tipografica de Sanches MANUELA ERRERA

quem é o meiô?


Hachikazuke Por Monica Oka

ilustração


As similaridades da América Latina Por Juliana Florentino Você já parou para pensar que as semelhanças da história da América Latina se estendem desde o período colonial até os dias atuais? Partindo dessa perspectiva, o Meiô decidiu abordar ondas comuns da história política de alguns dos países mais relevantes do subcontinente.

DITADURAS MILITARES Majoritariamente a partir dos anos 1960 os países latino-americanos enfrentaram golpes de estado militares. No Brasil, João Goulart foi deposto em 1964. No Chile, o general Augusto Pinochet chegou ao poder em 1973, após a derrubada do então presidente Salvador Allende. Na Argentina, que passou por diversos governos militares ao longo de sua história, Jorge Videla depôs a viúva de Juan Perón em 1976 e retomou o governo militar interrompido por Perón e seus seguidores em 1973. O que todas essas tomadas de poder têm em comum é o teor nacionalista exacerbado de suas políticas domésticas e internacionais, apesar de terem ocorrido sob conjunturas internas distintas. Em meio ao contexto da Guerra Fria, Jango e Allende foram depostos por supostamente encaminharem seus países em direção ao socialismo soviético e na Argentina foi o vácuo de poder deixado a partir da morte de Perón que possibilitou a ascensão de um novo regime militar no país.

CRISES ECONÔMICAS E MEDIDAS NEOLIBERAIS Ao final das ditaturas militares os países latino-americanos viviam um período de profunda recessão econômica. Nessa perspectiva, os governos democráticos que ascenderam ao poder após os longos períodos ditatoriais realizaram diversas medidas de caráter liberal visando o ajuste de suas contas externas e a retomada do crescimento econômico. O governo de Fernando Henrique Cardoso no Brasil adotou muitos pontos da cartilha econômica pregada pelo Fundo Monetário Internacional visando à estabilidade dos preços, bem como a facilitação para a entrada de investimentos estrangeiros diretos no país. Os mesmos objetivos da cartilha do FMI foram traçados pela Argentina, porém essas medidas não surtiram os efeitos esperados e o país vizinho encontrou-se obrigado a declarar a moratória de sua dívida externa em 2001, após a instabilidade econômica vivenciada pela paridade do peso argentino com o dólar.


ASCENSÃO E DECLÍNIO DE GOVERNOS ESQUERDISTAS

NOVA ONDA NEOLIBERAL?

Após o período de transição vivenciado por esses países após o final de suas ditaduras militares e a ascensão de governos neoliberais nos anos 90, os países latino-americanos enfrentaram uma nova onda em comum: a inflamação dos regimes de esquerda – majoritariamente a partir dos anos 2000, com as eleições de Lula no Brasil, de Hugo Chávez na Venezuela, de Evo Morales na Bolívia e de Néstor Kirchner na Argentina. Entretanto, em 2016, esses regimes populistas enfrentam uma profunda crise na região.

O período atual caracteriza-se pela mudança da corrente ideológica de um dos mais importantes países da região, a Argentina. Mauricio Macri foi eleito em dezembro do ano passado com um discurso econômico que agrada aos setores mais tradicionais da economia. A política externa e a diplomacia ganharam mais destaque no âmbito presidencial e o país aproximou-se do governo de Barack Obama, que visitou a Argentina em março desse ano.

No Brasil, o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff é considerado o estopim de uma crise política iniciada em 2005 com o escândalo de corrupção do Mensalão. Na Bolívia, Evo Morales já não possui a mesma força política diante da população que o reelegeu com 61% dos votos ao final de 2014. Morales realizou um referendo em fevereiro desse ano, no qual questionou a população sobre a possibilidade de se candidatar à reeleição em 2019. A vitória do “não” na Bolívia denota uma perda significativa do apoio popular à Evo e a possibilidade de ruptura com os ideais pregados em seu governo em uma nova eleição em 2019. Já na Venezuela, Nicolás Maduro enfrenta uma forte oposição no Congresso venezuelano e diversas manifestações populares contrárias ao seu governo, principalmente após a prisão e condenação de seu principal opositor político, Leopoldo López, vista como um ato de perseguição política e violação dos direitos humanos. Para acentuar a crise política vivenciada por Maduro, a forte recessão econômica do país dependente de seus recursos petrolíferos afeta gravemente a população que hoje lida com a escassez de produtos básicos nas prateleiras dos mercados e com o racionamento de energia elétrica.

internacional

Esse novo momento político na Argentina pode ser caracterizado como uma nova onda em comum na América Latina? Partindo da análise da década de 1960 aos dias atuais, nota-se a similaridade dos processos políticos da história latino-americana e, na perspectiva atual há, de fato, o enfraquecimento dos ideais políticos da esquerda populista e o renascimento dos princípios neoliberais na região. Dessa maneira, o que se presencia hoje na Argentina pode, sim, se repetir ao longo dos próximos anos nos demais países latino-americanos e, observando o Brasil, alguns dos ideais e características do regime argentino atual já se encontram bem consolidados na transição para o novo governo de Michel Temer.


A política externa de José Serra Por Juliana Florentino e Felipe neira equivocada o funcionamenAlves to das instituições brasileiras”. Com o afastamento provisório da presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer assumiu a presidência do país realizando uma série de modificações no corpo ministerial brasileiro. Uma das principais mudanças refere-se ao escolhido para ocupar o cargo no Ministério das Relações Exteriores. A escolha polêmica de José Serra - que interrompe a sequência de ministros escolhidos via carreira diplomática no Itamaraty - demonstra a mudança de foco do governo brasileiro, priorizando o comércio internacional nas relações exteriores e visando mudanças mais significativas nas diretrizes da nova política exterior brasileira.

As relações com a América Latina são abordadas na sétima diretriz, que propõe, como um dos principais focos, a intensificação da parceria com a Argentina, com a qual o país passará a compartilhar referências semelhantes para a reorganização político-econômica. Junto com os demais parceiros, o Brasil visa a renovação do Mercosul para “corrigir o que precisa ser corrigido, com o objetivo de fortalecê-lo quanto ao próprio livre-comércio entre seus países membros, (...) e continuar a construir pontes, em vez de aprofundar diferenças, em relação à Aliança para o Pacifico, que envolve Chile, Peru, Colômbia e México”.

Em seu discurso de posse realizado no último dia 18, o ex-senador e agora chanceler José Serra apresentou dez diretrizes referentes ao novo delineamento da política externa brasileira. A primeira, bastante representativa: A diplomacia não estará mais a serviço “das conveniências e preferências ideológicas de um partido político e de seus aliados no exterior”. Essa colocação refere-se, principalmente, à postura do Brasil em relação aos países bolivarianos da América Latina. A diretriz foi posta em prática com a nota de repúdio divulgada pelo Itamaraty aos governos de Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador e Nicarágua que estariam “propagando falsidades” sobre o processo de impeachment realizado no Brasil. A nota ainda criticou o secrétario-geral da Unasul, Ernesto Samper, que segundo o comunicado, “qualificou de ma-

Na oitava diretriz, Serra afirma que o país ampliará “o intercâmbio com parceiros tradicionais, como a Europa, os Estados Unidos e o Japão.” Entretanto, os países europeus encontram-se receosos quanto à intensificação de relações comerciais com o Brasil

devido ao conturbado e controverso processo de impeachment de Dilma Rousseff. Já na diretriz seguinte, Serra disse que “será prioritária a relação com parceiros novos na Ásia - em particular a China e a Índia”. Reiterou o empenho do Brasil em atualizar o intercâmbio com a África, não podendo esta relação “restringir-se a laços fraternos do passado e às correspondências culturais, mas, sobretudo, forjar parcerias concretas no presente e para o futuro”. Nas dez diretrizes apresentadas percebem-se dois movimentos. O primeiro, com maior destaque e de clara mudança, é o foco comercial e bilateral da nova gestão. Na sexta diretriz, por exemplo, a política externa brasileira procurará ampliar a imersão do país no livre-comércio com base na “reciprocidade equilibrada”. Ou seja, Serra refere-se a um acelerado processo de negociações comerciais para abrir mercados para as exportações brasileiras, utilizando pragmaticamente a vantagem do acesso ao nosso grande mer-


cado interno como instrumento de obtenção de concessões negociadas. Para isso, utilizar-se-á o bilateralismo, mais flexível, ante o multilateralismo, que a exemplo da OMC, restringe as pretensões brasileiras, segundo o Ministro. Já o segundo movimento, mais sutil e não menos importante, é o de continuidade. A defesa da democracia, da não ingerência em assuntos domésticos, da solução pacífica de controversas e as parcerias com a Ásia, América Latina, Europa e Estados Unidos demonstram a permanência de alguns aspectos da política externa anterior.

das fronteiras nacionais, uma vez que, hoje, a fronteira brasileira é “o lugar geométrico do desenvolvimento do crime organizado que se alimenta do contrabando de armas e mercadorias, além do tráfico de drogas”.

Outro ponto abordado no discurso de posse é o reequilíbrio das contas do Itamaraty. O ministro encomendou um estudo de custos sobre as embaixadas na África e no Caribe, que será realizado pelo próprio ministério. A abertura de postos diplomáticos no continente africano marcou o governo Lula e o intercâmbio comercial com a África cresceu 416% entre Apesar das diretrizes do novo 2002 e 2012, segundo o Ministério chanceler não abordarem aspec- do Desenvolvimento, Indústria e tos relacionados à geopolítica bra- Comércio Exterior. Para alguns sileira, focando principalmente diplomatas, o corte de embaixanas questões comerciais, José das no continente seria apenas Serra afirmou que se fosse pos- simbólico. Um fator importante sível acrescentar mais uma dire- é o peso dos países africanos na triz à nova postura da política bra- Assembleia Geral da ONU: são 55 sileira, seria referente à proteção votos somados, sendo que estes

Matéria de capa

países costumam votar em bloco. Quanto ao posicionamento de Michel Temer acerca da escolha de seus ministros, o professor de Relações Internacionais da FGV, Oliver Stuenkel, em entrevista à revista Época, afirmou que a escolha de Serra para o Itamaraty foi cirúrgica. Serra possuía como primeira opção o Ministério da Fazenda, que foi dado à Henrique Meirelles. Temer, então, ofereceu ao senador o Ministério da Saúde, negado por ele ao saber que haveria um ajuste significativo nas contas desse ministério e que, sendo assim, sua imagem estaria comprometida. Assumindo o Ministério de Relações Exteriores, José Serra se preocupará com a volta do Itamaraty ao núcleo central do governo pelo viés de uma política externa ativa, uma vez que o atual chanceler possui ambições presidenciais para 2018 e deverá fazer um trabalho que lhe dê projeção nacional, utilizando o cargo como trampolim para sua candidatura nas próximas eleições.


Enterramento de fios em São Paulo fonia, internet e TV a cabo, além de todo sistema operacional dos A cidade de São Paulo passa por semáforos. Entretanto, o maior diversos problemas na mobili- pretexto dado pelas concessiondade urbana, nos hospitais e em arias de luz são os altos custos diversos serviços públicos, mas desse aterramento e o forte imexiste um problema gritante que pacto que as obras causariam. muitas vezes não nos atentamos: a fiação exposta. Para entender melhor esse problema o Meiô entrevistou o Doutor Estamos muito acostumados com em Arquitetura e Urbanismo pela sua presença, mas a fiação ex- Universidade de São Paulo Sr. posta é responsável por, além de Enio Moro Junior, confira! poluir a cidade, causar diversos apagões e inúmeros acidentes Meiô 22: Quais seriam as princique fazem várias vitimas ao ano, pais vantagens para população sobretudo, nas zonas mais pobres de São Paulo se os postes fossem enterrados? da capital paulista. Por Guilherme Duarte

Existem diversos projetos tramitando na Câmara Municipal que visam sanar esse problema, mas quando se trata de enterrar toda a fiação elétrica da maior cidade da América Latina diversos interesses entram em pauta. A atual legislação prevê que por ano devem ser aterrados no mínimo 250 km de cabos de energia elétrica, tele-

Enio Moro Junior: Uns significativos números de cidades do mundo adotam a fiação subterrânea. Além de diminuir significativamente a poluição visual, as cidades ficam muito mais bonitas e organizadas. Lamentavelmente no Brasil, somos vítimas de um pensamento arcaico e interesseiro das concessionárias de energia.

Confira a entrevista completa em www.meio22.com.br

Cotidiano

Hoje, além de criarem inúmeros obstáculos para a implantação da fiação subterrânea, as concessionárias alugam seus postes para a passagem de linha telefônica, TV a Cabo, fibra ótica... As empresas, portanto fazem algo ilegal, pois utilizam o espaço aéreo para vender serviços atrapalhando as nossas cidades. Os cidadãos são obrigados a conviver com uma paisagem horrível na cidade cheia de fios enquanto as concessionárias abusam de seus postes vendendo serviços a terceiros. As concessionárias deveriam recolher impostos municipais sobre este uso de espaço aéreo. Você já tentou utilizar algum espaço aéreo, como por exemplo, abrindo um guarda-sol em uma avenida? Você não pode, mas as concessionárias podem. Você não paga imposto quando aluga alguma coisa sua? O poder público não cobra pelo aluguel do espaço dos postes.


E a educação? Por Felipe Alves Vivenciamos uma grave crise política. A insegurança flerta com a intolerância. A dúvida e a falta de perspectiva abrem as portas para um vácuo a ser ocupado por oportunistas. Esse cenário demanda reflexão sobre a sociedade que queremos e os caminhos que escolheremos trilhar. Esse exercício dorme, inevitavelmente, no berço da educação. No âmbito político, é senso comum repetir o mantra “crise de representatividade”. Há, ao menos, duas perspectivas para interpretar essa crise. Seria uma crise de não correspondência justa entre sociedade idônea e corpo político corrompido, ou uma crise que reflete fielmente a corrupção social na classe política? Como escolhemos os nossos representantes, entendo a segunda crise como a mais pertinente. Portanto, se a classe política é fiel à sociedade, e aquela está tomada por uma ética corrompida, restanos corrigir a ética da sociedade. Pensamento simples e automático. Tão simples quanto esquecido. Afinal, quem está falando sobre educação neste país?

opinião

Ética, entendida como inteligência compartilhada em prol da boa convivência de todos, é claramente um esforço intelectual. Essa atividade ética é testada constantemente em todas as circunstâncias da vida, desde o respeito à fila da merenda na escola, ao limite de barulho emitido no condomínio após as 22h00. Os princípios que nortearão as escolhas éticas de cada indivíduo são construídos, em grande parte, nas escolas e nos lares, lugares em que a convivência é mais intensa e que exigem o desenvolvimento de normas e comportamentos consensuais.

zar nosso grande país? Quais valores pretendemos levar adiante? Perguntas simples, com respostas complexas. Tarefas árduas, que demandam reflexão, debate, observação. Todavia, essas questões se tornam simples quando nos damos conta de um problema maior: essas questões não foram feitas.

Nos dias de glória, não nos interessávamos pelas questões políticas. Na dificuldade, agarramo-nos nas soluções simplistas sem o amadurecimento e o debate de idéias. A educação foi deixada em segundo plano. Talvez nunca tenha sido prioridade. Darcy RiSe o lar é uma esfera privada, cabe beiro disse: “a crise da educação no pensar coletivamente no centro pú- Brasil não é uma crise, é um projeblico de produção ética: a escola. O to”. Enquanto nos preocuparmos que queremos passar para nossos apenas com o reflexo, estaremos alunos? Nossa educação é cidadã? condenados a conviver dentro da Quais são os projetos para civili- caverna da ignorância.


Spray-Essência: A arte tipográfica de Sanches Por Manuela Errera A Street Art funciona como uma espécie de válvula de escape nas grandes metrópoles; em São Paulo, este movimento artístico crescente está cada vez mais integrado a paisagem urbana. Já não se pensa na capital sem seus painéis: o que leva o grafite a interagir não somente com o cinza da cidade, mas também com as paredes de museus e galerias.

uma inspiração mais forte que as outras? O que te motiva a criar? Sanches: Talvez minha principal influência seja Pollock, um pouco pela arte abstrata que me fascina, mas mais que isso pelo jeito com que ele pensava seu trabalhos, o sentimentos que ele colocava neles. Arte é sentimento, isso me motiva.

O Meiô 22 convida o artista Rafael Sanches, fruto deste meio, para caracterizar a cena de Arte Urbana por meio de seu trabalho totalmente característico e único. Sanches expôs em galerias no Brasil e no exterior e suas obras caíram na graça de celebridades como o DJ Steve Aoki e o jogador Neymar. Existe uma mensagem na sua arte? Que tipo de emoções você busca oferecer? Caso queira gerar um diálogo, o que você gostaria de “dis- Hoje o seu sucesso é inegável. cutir” com o seu público? Você é tão jovem e está em processo de avanço cada vez maior Sanches: As palavras tem poder, no mercado da arte contemisso não significa que ela precise porânea. Como aconteceu tudo estar totalmente visível ou legível isso? para continuar tendo esse poder. Busco texturas através da tipogra- Sanches: Volto a falar sobre senfia, insiro nelas mensagens que timento: Costumo dizer que faço acredito trazer força e energia para o que eu faço porque é isso o que cada uma das obras. A arte é inte- sou. Na primeira semana em que rior e a ideia é despertar, principal- comecei a vender gravuras pela mente no meu publico mais jovem, internet com 20 anos eu já tinha aquilo que vem de dentro que eles como verdade absoluta que era julgam ser arte. exatamente para isso que eu tinha vindo ao mundo. Não acredito ser Quais são suas principais influências um sucesso inegável, mas trabalho – na arte e de outras formas? Existe duro dia após dia para difundir o

meu trabalho no Brasil e mundo. Você já expôs em algumas galerias, participou de projetos com marcas e, recentemente, no Festival Path. De todos as exposições ou projetos que você já fez, qual foi o mais gratificante? Sanches: Dos trabalhos mais gratificantes tenho em mente estão algumas das minhas obras que foram para Miami e estão na galeria San Paul na Wynwood Avenue e um painel recente que produzi para a Google. Onde você pretende chegar com o seu trabalho? O que seria a peça dos sonhos? Quero dizer tema, local, tamanho, para quem? Sanches: Quero chegar ao olhos de todos, fazer com que pratiquem a reflexão, principalmente os jovens. A cada ano que passa e o meu trabalho vai sendo difundido, sinto que minha responsabilidade social aumenta proporcionalmente. Acreditar que de alguma forma a arte cura para mim significa querer ajudar ao próximo de alguma maneira através do meu trabalho! Você também faz uso do espaço público ou grafita somente em peças? Você se vê, futuramente, fazendo trabalhos e intervenções urbanas em painéis de maior escala como Crânio, Kobra, Speto, Os Gêmeos e outros? Sanches: Já desenvolvi projetos em murais de 45m x 7m na horizontal, meu próximo passo é desenvolver trabalhos em empenas cegas de prédios por SP.


Sanches: É sim, é só analisarmos o quão São Paulo virou referência na arte de rua. O Brasil importou milhões em obras de arte no ultimo ano e acredito que grande parte dessa força veio da rua. O preconceito existiu e sempre vai existir, Sanches: Vejo uma diferença entre basta cada um de nós se livrar dele os dois. Isso não quer dizer que de- e lidar com o dos outros. sconsidere o pixo como arte. Muito pelo contrário, toda forma de man- Existe um movimento migratório ifestação cultural ou não para mim dos artistas de urban art para as é considerado arte. Busco algumas galerias. Acima disso, galerias características do pixo e da rua no como a Luis Maluf Art Gallery e a meu trabalho, acredito no forte A7MA expõem somente artistas poder da pichação e sua história. deste estilo, como você enxerga esse movimento? De maneira geral a arte urbana se torna uma válvula de escape Sanches: Acho incrível, já tive para quem vive em grandes cen- obras minhas na Luis Maluf e contros (cor no concreto, um novo vivi com alguns artistas represenconceito para o ambiente cinza). tados pela galeria. É um mercaVocê acredita que este impacto é do em expansão e essas galerias benéfico? Existe um preconceito estão trazendo para dentro das por parte da população ou dos casas vários artistas de rua. Essa evolução é totalmente animadora. “críticos de arte”? A cidade de São Paulo é conhecida pelos seus grafites e também pelo pixo. Como você caracteriza essa diferença? É possível afirmar a transformação do pixo em urban art na sua obra?

entrevista


O expressionismo em movimento Isabella Jarrusso Quando observo alguma obra expressionista de Vicent Van Gogh, fico imaginando tudo que aquela pintura quer dizer, principalmente o famoso quadro “Noite Estrelada”. Me pego imaginando uma história por trás daquelas desajeitadas e misteriosas pinceladas, representando o olhar do artista sobre o mundo. Mas quando o expressionismo se torna um movimento, tudo o terror à cidade dela, Wisborg. Seria a historia de Drácula, mas fica mais interessante. com outro nome, (problemas O cinema expressionista alemão com direitos autorais, claro). foi o momento em que vimos à Além de o filme ser um marco realidade em forma fantasiosa. para o cinema expressionista, Os filmes expressionistas são ob- foi esse que ajudou a moldar o scuros, com grande uso de pen- gênero terror, principalmente umbra, ou seja, as sombras. Não pelo visual e caráter. é um mundo fantasioso, como nos filmes de George Méliès, mas de Outro exemplo, o grandioso, e um mundo, certamente horrori- creio que mais importante desse zante e exagerado. Digo exager- movimento artístico, O Gabinete ado pelas marcantes cenas de ex- do Dr. Caligari (1920), mais um pressões corporais, as maquiagens que moldou o gênero suspense e fortes e os cenários deformados, terror, principalmente pelo o uso que parecem ter saído das pinturas de penumbra, deixando tudo mais assustador. O filme que compõe expressionistas. cenários com ruas estreitas, obOs filmes, além de mostrar a real- jetos e prédios deformados serve idade, também mostram o sobre- de grande influência estética cinnatural. Como Nosferatu (1922), ematográfica. A história que consobre um vampiro que se apaixo- tém o gótico sonâmbulo Cesare, na por uma humana, Ellen, e traz um dos celebres personagens do

filme, por representar tão bem as principais características ditas sobre o expressionismo alemão. Além do terror, esse movimento artístico também apresentou a ficção cientifica, com Metrópolis (1927). Esse gênero já iniciado por Méliès, em A Viagem a Lua (1902), considerado o primeiro filme de ficção cientifica. O que difere da obra de Méliès, é que Metrópolis mostra uma temática à frente do seu tempo, pois o enredo é ambientado em uma grande cidade no século XXI, que contém a criação de um androide e a difícil vida de operários escravizados pelas máquinas. Um filme que mostra a preocupação crítica com a mecanização da vida industrial, questionando a importância e valorização perdida do sentimento humano pelo outro. Um tema bastante atual e que de certo modo vivemos. Com esses exemplos de filmes, conclui-se a importância cinematográfica do movimento expressionista alemão. São filmes marcantes que ainda fazem os amantes de cinema delirar por essa época em que propuseram mostrar essa “realidade-fantasiosa” para o mundo e criaram influencias para o cinema das décadas seguintes.

cultura


A nova geração do rap nacional dade de gêneros, desde o início, um dos assuntos mais discutidos O rap vem conquistando cada vez em letras de rap é o preconceito, mais espaço dentro da sociedade tornando seus ouvintes empoderbrasileira, principalmente em meio ados. aos jovens, houve um aumento de casas noturnas dedicadas ao hip Com o surgimento de grupos atuhop, e consequentemente do pú- ais com ideais impactantes para a blico, provando que a cultura na- sociedade e ginga dançante, como cional ainda pode receber maior Criolo, primeiramente, Karol Conatenção e valor em campos distin- ka e Haikaiss o rap vem conquistando um importante espaço no tos. cotidiano das pessoas. Marcado por ser um estilo musical das ruas, o rap deixa de ser tão rot- Para estender este assunto, o gruulado por diversos tipos de precon- po Rap'sicologia, de São Bernardo ceitos, saiu das periferias e ganhou do Campo, conta um pouco sobre um espaço imenso tanto musical, a história dos integrantes e suas opiniões sobre a nova geração do quanto cultural em todo o Brasil. rap nacional. São músicas, batidas e letras que afirmam um compromisso social; O Rap'sicologia consiste em um o hip hop nunca cai na mesmice estilo de rap livre, que utiliza inou é repetitivo, cada MC retra- strumentais detalhados e escreta sua própria realidade de uma vem poesias objetivas com críticas forma bem pessoal, recheando o sociais. O grupo conta com sete inrepertório deste estilo musical de tegrantes: Murilo Nogueira, Bart, Flavio D`Jah, Larissa Almeida, forma diversa. Shock MC, Rodrigo Don e Zé Koé. A música foi uma ajuda importante Segundo o produtor e fundador do para a ascensão dos movimentos grupo, Bart, o Rap'sicologia surgiu por respeito à sociedade e igual- por um complemento de cada inPor Geovanna Nunciato

tegrante que foi somando ao longo da caminhada, ele e o Murilo Nogueira, DJ, produtor, beatmaker e fundador, começaram a entrar na música por meio do eletrônico, até que conheceram o Shock, que é mc, compositor e responsável por entrar com a pegada do rap, estimulando os meninos a seguirem nesse estilo musical. Cada integrante do grupo já tinha uma experiência para por em prática, assim complementando uns aos outros e formando o Rap'sicologia. Shock também falou um pouco sobre a mensagem que procura passar nas letras, "Através das letras a gente não vem enfatizar ou definir, o importante no rap é plantar a dúvida, eu não posso ter razão, mas eu posso estimular você à buscar a sua razão, é mais ou menos nesse sentido que a gente faz música." "No rap você transmite a sua verdade, a sua realidade, o rap só deixa de ser verídico quando uma pessoa foge da sua própria realidade. Se eu vivo uma realidade, não posso cantar a realidade do outro." Para eles, o rap vem sim se expandindo cada vez mais, misturando os públicos, o que é totalmente válido. Shock diz, "Todo o tipo de expressão que valorize a arte urbana eu acho válido, o rap é muito forte hoje no Brasil, e tende a ficar cada vez mais forte, a nossa ideia é misturar tudo isso do nosso jeito."

Acesse www.meio22. com.br para conferir a entrevista em vídeo.


Música árabe no mundo Ocidental Por Fernanda Lira A começar pela cantora Yasmine Hamdan, nascida em Beirute e que viveu parte de sua vida entre Abu Dhabi, Kuwait, Grécia e Líbano. Esse nomadismo também aparece em suas músicas que são cantadas em árabe egípcio, libanês e também em dialeto beduíno. Em uma entrevista para o Al Arabiya English, disse: “existe tanta coisa para se experimentar com a música árabe. É um material raro, pronto para ser moldado em diversas formas”. Raro e rico! Vale ouvir a música “Hal”, que apareceu no filme “Only Lovers Left Alive” (e também vale a pena ouvir a trilha sonora) do Jim Jarmusch e faz parte do álbum “Ya Nass”, de 2013. O álbum “Kasbah Rockers with Bill Laswell” é um projeto do músico Pat Jabbar e artistas convidados da produtora Barraka El Farnatshi, que reúne diversos elementos da música eletrônica como chillout, progressivo, dub; com influências da música tradicional marroquina. E para fechar... NO Blues! É um dos meus melhores achados na internet. A banda que surgiu de forma experimental simplesmente mescla música americana (blues, country e folk) com música tradicional árabe. O que eles chamam de “Arabicana”. Na música “Empty Bottle”, tem um trecho da clássica música “Ya gamil, ya gamil” do compositor e cantor sírio-egípcio Farid al-Atrash.

DICAS DO MEIÔ

Ocupação Maria e Herbert Duschenes Local: Itaú Cultural Av. Paulista, 148 - Bela Vista, São Paulo - SP De 27/04 a 12/06 Terça a sexta, 9h as 20h; Sab, dom e feriado, 11h as 20h. Entrada franca

Dualidade, de William Mophos Local: A7MA Galeria Rua Harmonia, 95B - Vila Madalena, São Paulo - SP De 23/05 a 02/06 Segunda a sábado, 10h30 as 19h30; Entrada franca

O Muro, de Claudia Jaguaribe Local: Sesc Vila Mariana Rua Pelotas, 141 - Vila Mariana, São Paulo - SP De 22/09 a 31/07 Segunda a sábado, 9h as 21hrs; Dom, das 9h as 18h30 Entrada franca


Flor doce, estranha, amada Por Natalia Cliquet Linda! Quando nascera, seus pais não tiveram duvidas ao dar o nome da menina. Escolheram “linda”, menina doce, querida e amada. Pena que quando cresceu pela sociedade foi taxada. Taxada de feia, de estranha, de ET. Talvez nunca tivesse contato aos amigos a beleza de seu nome, a beleza de seu ser.

armário. Meninas esqueléticas seguiam um padrão imposto e riam. Nas bochechas de Linda um rubor se intensificava a cada passo. Ninguém nunca contou pra ela quão linda, Linda era. Quando entrava na sala causava alvoroço. Linda sabia que não eram elogios. Linda era linda, mas com o tempo, bizarra se enxergava.

Sua estranheza virou beleza, sua feiura se tornou maravilha, seu jeito ET, terrestre virou. O sistema que a havia docilizado sentiu seu mais amargo gosto ao ver a cria resistir e uma guerreira surgir. Linda se tornou força, garra, fé e luta. Linda se tornou o que todos sempre souberam desde o dia de seu nascimento. Linda era linda.

Todo dia Linda acordava. Como sempre, linda. Penteava os cabelos, lavava o rosto. Se ajeitava toda, pronta para ser feliz. Se olhava no espelho. É! Linda estava... Linda! Chegando à escola era sempre a mesma coisa. Andava pelos corredores em direção ao seu

Espaço Além - Marina Abramovic e o Brasil O filme conta de uma viagem que a performer fez pelo Brasil em busca de cura e novas energias. Local: Espaço Itaú Frei Caneca | Espaço Itaú Pompéia | Cine Caixa Belas Artes | Cinemark Iguatemi | Reserva Cultural. Diversos horários

Demorou alguns anos para Linda perceber que não importa o quão lindo e bom você é, até o mais caridoso e ingênuo se corrompe. Linda resolveu se revoltar. Linda, com toda sua lindeza, decidiu que não seguiria esse sistema. Mal sabia Linda que a cada passo para liberdade, mais julgada ela seria. Taxada de puta, de fácil e de dada! Linda sofreu um bocado. Com tempo, renasceu.

Pensar psicanálise & cinema com o filme “As bruxas de Salém”, de Nicholas Hytner Local: Centro Cultural Leila Abramo Rua Carlos Sampaio, 305 - Bela Vista, São Paulo - SP Dia 06/06, segunda, às 19h Entrada franca

Retrospectiva de Pablo Picasso Local: Instituto Tomie Ohtake Rua Coropés, 88 - Pinheiros, São Paulo - SP De 22/05 a 14/08 Terça a domingo, 11h as 20hrs; Ingressos a R$ 12


ESSES SEUS PADRÕES POR ANA LUIZA LUBE

Galeria

“Esses seus padrões” invade as ruas em uma escala do rosa ao cinza. Retrata a relação entre a dança e a cidade, ambas repletas de cores, porém também carregadas de paradigmas impostos e monocromáticos. No ensaio Ana une seu passado e presente. O conservador e o vanguardista, a dança e a fotografia, o padrão e o singular.


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