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Goiânia, quinta-feira, 19 de novembro de 2015
ESSÊNCIA
Alienígenas no Brasil O que aconteceria se um ET fizesse contato no Rio é tema de ‘O Caso XXI’ JOSÉ ABRÃO
m um belo fim de tarde, seres claramente alienígenas surgem em uma praia do Rio de Janeiro e logo assumem que o primeiro humano a conversar com eles fala por toda a humanidade. Na mesma hora, contam que vieram em paz. Sem perceber, estes ETs são os responsáveis pelo maior acontecimento da história mundial que vai mexer com todas as pessoas, inclusive com as mais poderosas, de uma hora para a outra. Bem no centro disso, está Adriana, a dita primeira humana do contato inicial, catapultada para fora de sua vida comum e passiva para ter nas mãos a responsabilidade de proteger os viajantes e também a Terra. Esse é o enredo básico de O Caso XXI, novo romance de ficção-científica da Cop Editora escrito pela carioca Mel Cavichini. O romance é a primeira publicação da autora e a realização do sonho de trabalhar com ficção-científica, um dos seus estilos literários favoritos: “Eu sempre gostei bastante de ficção-científica, sempre li muito”. Ela disse que a ideia inicial para o romance veio para o estranhamento da ideia de um extraterrestre em terras tupiniquins, em parte inspirada pelas décadas de cultura pop enlatada dos EUA. “A ideia do livro surgiu depois de eu ver uma reportagem sobre alguma descoberta da Nasa e conversei com meus irmãos sobre como seria se um ET viesse para o Brasil e não para
outros países mais, digamos assim, poderosos, como seria, como eles e nosso próprio governo reagiriam”, contou. Mas ao contrário da maior parte dos filmes e livros sobre o assunto, os vilões não são os alienígenas e o perigo não vem do espaço. Os vilões, na verdade, são muito humanos, na figura de políticos brasileiros e estrangeiros procurando as melhores formas de tentar explorar a situação para se beneficiarem. A forma que essas pessoas usam para isso não é através da força bruta das armas, mas sutilmente pela manipulação e pela mídia. Pelas suas declarações e atitudes, estes homens tentam fazer a humanidade duvidar e desconfiar dos visitantes, aumentando a tensão e encorajando o conflito. É a famosa cultura do medo, muito conhecida por todos nós em várias situações que não envolvem ETs, mas assuntos muito reais do nosso dia a dia, como as ofensas atiradas contra refugiados sírios após o atentado cometido pelo Estado Islâmico na última sextafeira (13). “Sempre leio jornal e tenho essa impressão de que as notícias difundem muito o medo e isso faz com que as pessoas não raciocinem sobre as notícias, não pensem a respeito, não reflitam e acabem tomando decisões precipitadas por causa do medo, especialmente medo do desconhecido e do diferente”, disse Cavichini. Falar sobre XXI, o alienígena que dá nome ao livro e dos problemas que ele enfrenta naTerra foi a forma que a autora encontrou de levantar esta questão. “Como as pessoas não refletem sobre o
que escutam, as pessoas no Do passado, a mais famosa é poder podem usar este medo Ursula K. Le Guin, autora de para manipulá-las”. Usar a ficA Mão Esquerda da Escurição-científica como forma de dão, livro que a Cavichini só refletir ou criticar a sociedade vai ler agora: “Estou tencontemporânea é mais cotando ler mais autoras mumum do que muita gente penlheres. Elas existem, mas sa. Em meio a armas lasers e tem que procurar nos cantinaves espaciais, grandes aunhos das livrarias para tores deixaram sua marca ao achar”, disse. Ela elogia a imaginar acontecimentos e nova geração de distopias, futuros sombrios para a huJogos Vorazes, Divergente, manidade, como Philip K. Os 100, entre outros, todas Dick, Robert A. Heinlein, Alescritas por mulheres, que dous Huxley, William Gibson parecem estar finalmente e George Orwell. quebrando o molde de que a Entre os vários gêneros ficção-científica é escrita por trabalhos por estes autores, um Clube do Bolinha. “Exisestão as distopias: mundos em tem muitas mulheres famoque as ações do homem levasas agora, o que é muito bom, ram a humanidade para camiporque isso abre espaço”. nhos sombrios, famoso por A protagonista do livro clássicos como 1984 e Admitambém é mulher, Adriana, rável Mundo Novo e que agora mas Cavachini disse que não voltaram a fazer sucesso atrase inspirou em ninguém pavés de distopias para adolesra criá-la e que queria que centes, como Jogos Vorazes e ela fosse o mais normal e coDivermum possígente. Emvel, não bora a uma he“Estou tentando ler trama de O roína insmais autoras mulheres Caso XXI tantânea agora. Elas existem, não se que já saísse mas tem de procurar passe em mudando o nos cantinhos das um futuro mundo logo livraria para achar destruído, no primeiro alguma obra delas” as ações ato: “Ela narradas nele podem levar a humanidade para esse caminho. É o sub-gênero que mais influenciou a autora: “Gosto muito da trilogia Fundação, do Isaac Asimov, de George Orwell, de Admirável Mundo Novo. Gosto muito de distopias, elas me influenciaram bastante. Gosto muito do humor e da ironia de Douglas Adams, também”. Outro ponto que chamou a atenção de Cavichini é que as autoras de ficção-científica são pouco conhecidas.
tem um pouco de diversas pessoas que eu conheço. A Adriana tem o coração bom, mas precisa de outras pessoas ao redor dela para ela entrar em ação, de um evento para reagir. Às vezes o herói é perfeito e faz tudo, mas eu queria que isso acontecesse mais devagar, que ela fosse uma pessoa comum”. Porém, existem outras personagens, como a prima de Adriana, Stephanie, que são mais de ação e mais duronas da forma con-
vencional: “Cada uma das mulheres tem uma força diferente. A Stephanie é mais como a Scarlett O’Hara (risos)”, compara. Essa é outra característica de O Caso XXI: são muitos personagens, então tome cuidado para não ficar confuso. “No início tinha muito mais, eu cortei vários!”, contou a autora. O motivo é, em parte, por causa de seu estilo, mas também por influência: “Eu gosto muito de romances russos e eles sempre têm muitos personagens, todo mundo tem nome, sobrenome, apelido, tem o personagem, o irmão do personagem, o primo...”. Para facilitar, existe uma lista no final do livro, dizendo quem é quem. E quanto a sequências? Cavichini disse que espera fazer uma saga, mas que ainda não começou a escrever o livro dois. Ela contou que sempre escreveu contos e outras histórias curtas, mas
este é o primeiro projeto em que entrou de cabeça. A editora que publicou O Caso XXI é pequena e ela reclama que a distribuição é a parte mais difícil.“As editoras menores têm muito pouco espaço. Como a editora fica no Rio de Janeiro, estamos vendendo mais no Sudeste, em livrarias daqui e com vendas online, mas não está chegando no Brasil inteiro. Uma pessoa de Alagoas ficou sabendo do livro e entrou em contato por e-mail e mandamos por correio”, disse. Atualmente, diversas editoras pequenas estão investindo em autores novos e brasileiros de fantasia e de ficção-científica, como Eduardo Spohr e Ricardo Ragazzo. Cavichini disse que conhece muitos pelos livros e que espera que mais nomes brasileiros caiam no gosto dos leitores: “Isso me deixa bastante alegre. Quanto mais livros, melhor”, declarou.
Cavichini diz que gosta muito de romances russos, porque eles sempre têm muitos personagens