Clipping - Mais que um Leão por Dia

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QUINTA-FEIRA, 9 DE JULHO DE 2015

‘MAGRELA’ para que te quero

Quer fazer uma viagem de desapego e contemplação? É simples: basta coragem, uma mala pequena e uma bicicleta. Conheça a história daqueles que utilizaram desta ‘receita’ para conhecer novos destinos. Páginas 2 e 3

Divulgação


2. Turismo/De Bicicleta

QUINTA-FEIRA, 9 DE JULHO DE 2015 Fotos: Divulgação

Diários de Jornalista atravessa continente africano de bicicleta e lança livro relatando sua experiência MIRIAM GIMENES miriamgimenes@dgabc.com.br

Nunca a bicicleta esteve tão em pauta. Com o advento das ciclovias – já em voga no mundo, mas recente no Brasil – cada vez mais o número de adeptos tem crescido no País. Há aqueles que, no entanto, são apaixonados e já haviam percebido as vantagens do meio de transporte há anos. É o caso do jornalista Alexandre Costa Nascimento, 32 anos, autor do blog Ir e Vir de Bike (www.irevirdebike.com.br), que se aventurou em cruzar a África a bordo de sua ‘magrela’. Da viagem nasceu o livro Mais que um Leão por Dia (Editora Nossa Cultura, 448 páginas, R$ 46,50, em média), que relata sua experiên-

BICICLETA

cia ao lado de outros 50 ciclistas, no Tour d’Afrique, maior expedição anual do mundo e que atrai adeptos de todos os continentes. Ao todo, são 12 mil quilômetros pedalados e 11 países visitados (do Egito à África do Sul). “Durante pesquisa no Google, cai por acidente na empresa que organiza essa expedição. Isso mexeu comigo e coloquei como meu grande sonho”, lembra o jornalista, o primeiro brasileiro a participar da empreitada. Para realizá-lo, se programou com seis meses de antecedência, deixou o emprego, buscou patrocinadores e caiu na estrada, no dia 11 de janeiro de 2013. “É o ‘Everest’ da bicicleta, o desafio máximo. Nele, 30% chegam ao cume e, no tour, 15% o concluem e ganham uma condecoração. Eu consegui. É competitivo, tem corrida, mas como já fui com a ideia de escrever o livro, não participei das provas.” Seu objetivo era aproveitar a expedição como experiência de vida e buscar histórias. Foi o que fez.

CORAGEM. Alexandre foi do Egito à África do Sul e completou tour Alexandre enfrentou temperaturas de 0ºC a 43ºC – no mesmo dia –, tempestades de areia, desertos e dificuldades psicológicas, com bravura.

“Chega a ser perturbador imaginar que tem uma obrigação de pedalar um continente inteiro. A minha receita foi encarar os desafios dividindo por pe-

quenas tarefas.” Como o tour é guiado, todos os dias os participantes recebiam a planilha do que deveriam fazer e a cumpriam como quisessem. A única regra irrevogável era não pedalarem após o pôr do sol. Aqueles que ficavam para trás, chegavam aos acampamentos levados pelo caminhão, ‘que passa varrendo’. O esforço foi grande, mas as vantagens do trajeto são infindáveis. “A viagem é intensa pessoalmente, mas marcante. A natureza da África é algo que me impressiona. Pedalar na estrada e esperar uma manada de elefantes atravessar, girafas, zebras, rinocerontes. Além de, é claro, o contato humano com a população. Paramos em uma vila no meio da Etiópia, tomamos café, ouvimos histórias. Uma baita experiência, troca cultural”, enumera o jornalista. AVENTUREIROS Não é qualquer um que pode se aventurar na empreitada. Ele, por exemplo, já tinha intimidade com a bicicle-

ta e não é sedentário. Treinou 16 quilômetros por dia, indo e voltando do trabalho. Mas, embora seja um trajeto difícil, não falta aparato para ajudar os ciclistas. A equipe é grande: tem dois paramédicos, dois mecânicos, cozinheiros e motoristas dos carros de apoio, que levam a bagagem pesada, para possibilitar que possam pedalar com tranquilidade. Segundo Alexandre, o tour, que durou 121 dias, custou R$ 55 mil (passagem, inscrição e equipamentos). “É uma viagem cara? É. Mas se você pegar um carro financiado vai ficar cinco anos pagando e quando terminar não vale R$ 25 mil. É uma questão de escolha. O que é prioridade? Poder viver”. Afinal, como disse Albert Einstein, “a vida é igual andar de bicicleta: para manter o equilíbrio é preciso se manter em movimento.” Se ficou tentado em se aventurar pela África, o site oficial é tourdafrique.com.

Ciclista de Ribeirão pedala para buscar a cura de câncer

2013. Richard cruzou Santa Catarina no início do tratamento

IN LOCO. Viajar de bicicleta permite ver detalhes da natureza

Richard da Silva, 43, está em contagem regressiva. No próximo dia 1º embarca naquela que tende a ser a maior aventura de sua vida. Ele, que mora em Ribeirão Pires, entregará a casa em que mora, alugada, para se aventurar, munido de algumas vestes e sua bicicleta, para uma viagem pelo Norte e Nordeste. “A ideia é começar no Sul da Bahia e subir via litoral sentido Belém.” O rapaz, nascido em Santo André, foi diagnosticado com câncer no estômago em 2013, com metástase no fígado. Como a quimioterapia que faz é via oral, não vê problemas em seguir com sua programação. “Depois que comecei o tratamento em 2013, embalei a bike e fui de avião para o Sul. Cruzei Santa Catarina e voltei eufórico, com a sensação de estar vivo.” Desempregado, ele so-

brevive com o auxílio que recebe do INSS e tem tido dificuldades financeiras. Vai deixar os móveis guardados e cair no mundo, literalmente. Terá de voltar de tempos em tempos para fazer os exames periódicos e acompanhamento médico, mas diz que o tratamento tem surtido resultado. E, estar com o psicológico voltado para outro foco, também ajuda. Sente-se seguro para a empreitada e feliz em contemplar in loco a natureza. “A viagem de bicicleta permite que você interaja com o ambiente. Percebe detalhes que de carro não conseguiria”, diz. Richard relata suas experiências no blog viajenacura. com e pretende aproveitar, ao máximo, a próxima aventura. “Se não tiver muito tempo de vida, vou colocar mais vida nos anos que me restam.” MG

MENTE. Aventura ajuda o psicológico para combater a doença


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