Estresse
O corpo pede equilíbrio Problemas emocionais e a luta para conseguir dar conta de todas as responsabilidades e tarefas cotidianas são dificuldades comuns entre os brasileiros. Saber reverter esses desafios nem sempre é tão simples quanto deveria
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P o r Ta s s i a R o c h a
Problemas no trabalho, contas para pagar, cuidar dos filhos e da família, muitas vezes, fica difícil não se estressar. São tantos compromissos no dia a dia da população, que é cada vez mais comum as pessoas precisarem de ajuda para lidar com a correria e os percalços do cotidiano. Falar de estresse já se tornou algo normal entre as pessoas, basta um aborrecimento durante o dia para o assunto vir à tona. Será que existe outra explicação para tal sentimento? E justamente por estar tão popular, fica cada vez mais difícil defini-lo. Segundo especialistas, o estresse é uma reação de adaptação do organismo, quando este é exposto a alguma ameaça ou exigência de resposta
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rápida. “Nos nossos ancestrais, esse mecanismo fisiológico (que libera vários hormônios) era importante para a sobrevivência em um ambiente cercado de ameaças. Embora hoje nós não corramos o risco de encontrar um leão na esquina de casa, vivenciamos muitas situações em que nos sentimos ameaçados e o nosso organismo não reage apenas na visualização de uma ameaça, reage especialmente quando nosso cérebro interpreta algo como ameaçador”, afirma a psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Rita Calegari. Dessa forma, segundo a psicóloga, o estresse não é uma doença, pelo contrário, é uma resposta saudável do organismo, que visa protegê-lo. O problema é que a resposta fisiológica desperta uma série de reações fotos: shutterstock
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Fases do estresse O estresse possui três fases. Saiba como identificar e oriente o consumidor. • Fase de alarme: momento em que o organismo se prepara para reagir à situação. Quando estiver seguro, o coração voltará ao funcionamento normal. • Fase de resistência: nessa, o organismo tentará se adaptar e restabelecer o equilíbrio, mas com perda de produtividade e risco para a saúde. • Fase de exaustão: nesse estágio, as reservas de energia e a resposta adaptativa começam a falhar. O organismo não é mais capaz de se equilibrar por si só e fica vulnerável às doenças do estresse. Nesse estágio, a pessoa poderá adoecer e necessitar de ajuda especializada. Fonte: psicóloga do Hospital Israelita Albert Einstein, Ghina Katharine Eugenia Dourado Meira Machado
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físicas que podem desgastar o organismo, quando se tornam repetitivas. No estresse bom, os mecanismos são ativados, o coração acelera, pupilas dilatam, as pessoas ficam em alerta geral para se defender (ou atacar se preciso for). Passou o perigo, uma onda de relaxamento invade o corpo e após o repouso, o indivíduo fica bem novamente. “Agora, uma coisa é sofrer uma situação de estresse hoje, outra daqui uns dias. Outra, é sair de uma e entrar em outra, sem parar. Aí, as reações, que são saudáveis, começam a desgastar o organismo e adoecemos. No mundo moderno, cercado de estímulos (trânsito, desemprego, crise econômica, violência, má alimentação, sobrecarga de atividades, duplas e triplas jornadas de trabalho, pouco descanso, sobrecarga de informações – mídias, internet, mídias sociais, etc.), parece um pouco complicado manter a serenidade e não entrar no círculo vicioso do estresse sem fim”, completa Rita. Os principais sintomas são: cansaço, tensão muscular e dor, azia sem causa aparente, esquecimento de coisas corriqueiras, irritabilidade excessiva, vontade de sumir, pensar em um só assunto, sintomas depressivos ou ansiosos,
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Métodos preventivos As dicas a seguir podem ser repassadas aos pacientes de farmácias e drogarias: 1. Aprender a relaxar o corpo e a mente. 2. Fazer exercícios físicos regularmente. As atividades físicas, além de relaxarem, aumentam a resistência aos estressores do dia a dia. 3. Ter uma alimentação balanceada. 4. Procurar manter uma rotina saudável de sono (dormir nos mesmos horários, em local e com roupas confortáveis). 5. Evitar o consumo de bebidas alcoólicas, fumo ou outras drogas. 6. Evitar consumo excessivo de café. 7. Reservar um momento do dia para si: dedicar-se ao programa ou leitura favoritos, a estar com alguém importante, a ficar sozinho ou fazer o que tiver vontade. 8. Mudar a rotina. Divertir-se mais, explorar ambientes diferentes, fazer uma pausa durante as atividades, ter um hobby. 9. Construir uma rede de amigos e familiares. Falar sobre as preocupações traz suporte emocional e ajuda a ter uma visão mais objetiva sobre o assunto.
10. Ser assertivo. Aprender a comunicar os sentimentos e opiniões em vez de tornar-se agressivo ou passivo. Aprenda a dizer não. 11. Garantir que aquilo que mais vale a pena esteja presente no dia a dia. O tempo e energia são muito importantes e convém utilizá-los no que é essencial. 12. Ter metas realistas. Metas irrealistas são sementes de frustrações futuras. 13. Tentar delegar mais. Escolher alguém capaz. 14. Focar na solução em vez de preocupar-se com o problema. 15. Procurar falar, comer, respirar e andar lentamente. Fazer uma coisa de cada vez. Escutar as pessoas. Observar o ambiente. 16. Evitar situações geradoras de estresse: sair mais cedo; levar uma revista ou algo para fazer se tiver de esperar por alguém. 17. Se não for possível evitar, sofrer apenas o necessário. O trânsito, por si só, já é bastante estressante. Irritar-se é sofrimento desnecessário. Ouvir o noticiário ou a música preferida. 18. Tornar-se mais flexível.
Fonte: psicóloga do Hospital Israelita Albert Einstein, Ghina Katharine Eugenia Dourado Meira Machado
distúrbios do sono, alterações de apetite, perda do interesse sexual, queda da resistência imunológica e muitos outros. Atualmente, de 50% a 75% de todas as consultas médicas estão direta ou indiretamente relacionadas ao estresse. “Algumas das doenças que podem estar relacionadas ao estresse são: insuficiência da suprarrenal, hipo ou hipertireoidismo; queda da resistência a doenças; diabetes; aumento das taxas de colesterol; maior propensão a acidentes vasculares, hipertensão arterial, depressão; ansiedade; infertilidade; perda do desejo sexual; enxaqueca, dores; alterações do sono; perda de energia; irritabilidade; baixo desempenho”, orienta a psicóloga do Hospital Israelita Albert Einstein, Ghina Katharine Eugenia Dourado Meira Machado. A gravidade do estresse depende da quantidade, frequência e intensidade dos sinais. O tempo necessário para controlá-lo varia de pessoa para pessoa, conforme sua vulnerabilidade e repertório de habilidades para enfrentá-lo.
Os mais acometidos Hoje em dia, devido à correria do dia a dia, fica difícil definir quais são os mais propensos a desenvolver o problema,
porém, são muitos os casos de jovens procurando ajuda de especialistas para lidar e controlar o desconforto. Ghina informa que poucos estudos se dedicam à investigação do estresse no adolescente e no adulto jovem. “Arnett (1999) considera que, apesar de nem todo adolescente ter estresse, a probabilidade de desenvolvê-lo é maior do que em qualquer outra faixa etária, dependendo da cultura e das diferenças individuais existentes. Em trabalho realizado no Brasil, em que foram contemplados 295 jovens, entre 15 a 28 anos de idade, 65, 60% apresentavam estresse. Sendo que, nas mulheres, verificou-se que 79,30% possuíam sintomas significativos de estresse enquanto que, nos homens, a porcentagem com sintomas de estresse era de 51,72%. (Calais et al., 2003)”, aponta. Considerando-se que a população jovem é suscetível e influenciável às estimulações externas, conhecer como o estresse se manifesta neste grupo é fundamental para elaboração de métodos eficazes. A melhor maneira de controlar o problema é equilibrar as atividades diárias, como organizar-se no horário de trabalho, praticar atividade física, dedicar um tempo 2015 abril guia da farmácia
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Se forem negligenciados, os sintomas do estresse podem levar o organismo a uma exaustão, uma crise física e psíquica de perda de controle ou de funções ou até mesmo ao surgimento de doenças
para as refeições, o sono e para o lazer, ter uma boa relação com amigos e familiares e celebrar conquistas. Possuindo uma vida equilibrada, é mais simples melhorar a qualidade de vida, diminuir os riscos de doenças decorrentes do estresse e o consumidor estará mais preparado para enfrentar os desafios do dia a dia, se adequando aos mesmos, sem perder o controle. “Diversos estudos afirmam que há maior prevalência de estresse em mulheres do que em homens. Esse dado pode ser baseado na exigente busca pela realização pessoal das mulheres, tanto no trabalho como em casa com a família. As crianças também são alvo do chamado estresse infantil. Um adulto consegue resolver situações desagradáveis racionalmente, mas o mesmo não acontece com a criança em situações estressantes, como a separação dos pais, brigas familiares, violência doméstica, bullying na escola, entre outras situações”, informa a farmacêutica e analista de inteligência de mercado da Natulab, Valnizia Mendes. Se forem negligenciados, os sintomas do estresse podem levar o organismo a uma exaustão, uma crise física e psíquica de perda de controle ou de funções 11 4
ou até mesmo ao surgimento de doenças – e a pessoa acabará necessitando de tratamento médico para reequilibrar-se. “Em boa dose, o estresse é saudável. Pode ser a mola propulsora que move muitas pessoas. Um baixo nível de tensão, suficiente só para tirar o consumidor da zona de conforto, pode ser a razão de muito do movimento do mundo. Mas como tudo na vida, não pode ultrapassar a homeostase do indivíduo. As primeiras reações são primitivas. E a primeira fase geralmente é desencadeada quando interpretamos algo como ameaçador, ou que, no mínimo, venha a alterar a ordem natural das coisas. Em seguida, um falso equilíbrio provisório. A pessoa pensa que está bem, e logo começa a ter alterações emocionais, de comportamento, raciocínio até as alterações fisiológicas. Que é geralmente quando definitivamente o sujeito percebe que algo realmente não vai bem e se não tratado, pode culminar numa resistência muito baixa do organismo que vai ocasionar infecções, entre várias outras doenças psicossomáticas”, orienta o personal e professional coach pela Sociedade Brasileira de Coaching, Fabrício Maurício.
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