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CADERNO DO PEREGRINO
FERNANDO LEMOS
poesia
EDIÇÕES CORDEIRO-LOBO
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INTRODUÇÃO ............................................................................................................2 DIANTE DA FONTE DOS QUATRO RIOS .....................................................................4 FONTE DE TREVI ........................................................................................................6
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INTRODUÇÃO De tantos sítios do mundo que tive ocasião de visitar, há alguns que me “visitam” com inusitada frequência, donde posso deduzir, sem julgar errar muito, que essas obras, monumentos ou sítios devem ter uma importância particular no meu subconsciente ou até, quem sabe, assumir um significado pessoal, ainda que só vagamente revelador, da minha sensibilidade física e intelectual e do modo como eu recordo e reinterpreto tais obras e lugares despertando em mim emoções, sentimentos já experimentados ou fantasias que me levam a poetizar sobre eles a tal ponto que quase ousaria dizer que esses poemas são um mapa secreto da minha vida interior. Quero pensar assim, porque seria ferir em demasia a minha presunção artística se dissesse que tudo não é mais que uma casualidade, partindo do pressuposto que as coincidências existem. A corroborar a afirmação de que não houve qualquer projecto programático é o amplo espaço de tempo que medeia entre as primeiras composições e as últimas, bem como a forma aleatória em que os temas foram aparecendo e sendo compostos. Por outro lado, os poemas revestem as formas mais variadas, desde os de métrica rígida até aos de verso livre com e sem rima, ao sabor da inspiração do momento, como se brotassem da minha cabeça já formatados. Os próprios temas ora se apresentam como sujeito narrador na primeira pessoa do singular, tomando o lugar do poeta, ora como interlocutor a quem o poeta se dirige ou mesmo como simples objecto de reflexão, havendo até casos em copyright(c)2008 Your Name or Site Link Here
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que servem só de cenário ou adereço cénico para um desenvolvimento quase independente do lugar versado ou da obra que lhe está na origem. Seja como for, esses locais são inegavelmente recorrentes na minha memória e no meu sentir – atrevo-me a declarar que são sítios que me falam e reclamam que lhes dê a minha voz. Assim, gentil leitor, ocorreu-me que te daria prazer ler estes poemas reunidos agora numa colectânea, postos por ordem cronológica da sua composição e com uma fotografia ilustrativa – excepto dois, que já são poemas de ilustração gráfica. A terminar, porém, todo o leitor deve ter presente que a poesia é a arte mais falsa e falseadora par excellence, pelo que tudo o que os poemas aqui escritos afirmam, indicam e indiciam pode não ser mais que uma falsa carta geográfica para um tesouro só imaginário.
Caxias, 25 de Agosto de 2015 copyright(c)2008 Your Name or Site Link Here
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DIANTE DA FONTE DOS QUATRO RIOS Na Piazza Navona
Amanheceu Sem sol, sem pressa. Um mar cinzento Inundara todo o céu. E na praça, ali tão perto, A oito passos Da margem onde me sento, Ali, onde as águas com mais fragor Se abatem em perpétuo movimento, Foi onde avistei primeiro Tua cabeça Envolta em cristas de espuma Iridescente,
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Depois teu corpo Travado pelo cio adulto Que sai do mármore. Então me atiro Aos quatro rios Para ti como jangada A te agarrar Como corda como alga Como a mão inescapável Do meu destino Certo de vir A afundar-me a quatro mãos Quando o amplexo Que se avizinha Explodir Num alvoroço de espelhos E mil reflexos De líquidos violoncelos. Lisboa, 2 de Outubro de 1979 copyright(c)2008 Your Name or Site Link Here
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FONTE DE TREVI
É no desplante De quanto porém Dum palácio purulento De orvalhos ferrugentos líquens seculares de asfixiantes linhagens Goteja Que, por alquimia de harpas e arquitecturas, óxidos de túrgidas tensões e muita canalização de chumbo, Entre clamores de múltiplos alfabetos, copyright(c)2008 Your Name or Site Link Here
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Rebentas porta-voz
porta-estandarte
de toda uma ruptura de dogmas cânones éditos e provas supersticiosas febres e ferretes
Que se afogam na girândola de varandas dardos e escarpas No gorgolejo no colapso das tuas cataratas e oráculos baptismos núpcias rastos do dilúvio que ainda sulcam os nossos pulsos em sussuro, copyright(c)2008 Your Name or Site Link Here
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Eixo e umbigo de estrelas coroadas de nuvens e anénomas, Bandeja de circum-navegações cinzelada e odisseias Donde emerge o teu carro triunfal com a força dum motim dos abismos líquidos que dissuadem e levigam a vigência das grilhetas das leis da gravidade, quando marés de pérolas concedem honrarias aos ares refractados em suspiros tão íntimos inaudíveis na borrasca teatral absurdamente oceânica que esmaga entre sopros assobios búzios e fanfarras as incastas abstinências as inconfessas rebeldias tão solitárias as utopias já condenadas ao desastre os algarismos finitos dos homens em confronto com as maratonas entre os astros, Enquanto nós caminhamos subjugados copyright(c)2008 Your Name or Site Link Here
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por praias ambíguas sob o olhar de Ílio ou Cartago amuralhadas, e confusos, ofuscados, extasiados, ainda ousamos num excesso de desafio ou réstea de presciência em ti perigosamente espelhar-nos na esperança que tudo contradiz que Tu hermética taça te transformes em onda em cripta dos sonhos pedestal,
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teus cavalos estremecendo de densos suores subvertidos entre relinchos jorrassem vibrantes sopros de aço sem pausa e seráficos fúlgidos astros para enxertar nos nossos músculos exaustos Tu, parábola aquática duma primeva aurora que só aos olhos de Neptuno e da sua corte marinha se desvenda se desnuda com o coração trémulo radiante de cúspides.
Lisboa, 14 de Março de 1986 copyright(c)2008 Your Name or Site Link Here
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