SEJAM UM - Uma Igreja, duas cristandades muito desiguais

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DIONILDO VIDAL


FICHA TÉCNICA TÍTULO: Sejam um SUBTÍTULO: Uma Igreja, duas cristandades muito desiguais AUTOR: Dionildo Vidal EDITOR: Edições Novas de Alegria Av. Almirante Gago Coutinho, nº158 1700-033 Lisboa | Tel.: 218 429 190 SITE: www.capu.pt IMPRESSÃO E ACABAMENTO: Europress, Indústria Gráfica COORDENAÇÃO EDITORIAL: Ana Ramalho Rosa DESIGN GRÁFICO E PAGINAÇÃO: Adilson Morais IMAGEM CAPA: © Arthimedes- Shutterstock EDIÇÃO E REVISÃO TEXTUAL: David Pinto 1ª EDIÇÃO maio 2019 ISBN: 978-972-580-131-4 DEPÓSITO LEGAL: 454680/19 CATEGORIA: 262 Eclesiologia TEXTO BÍBLICO

As traduções bíblicas estão identificadas junto da respetiva citação, em abreviatura: João Ferreira da Almeida Revista e Corrigida (ARC); João Ferreira da Almeida, Revista e Atualizada (ARA); João Ferreira da Almeida Atualizada (AA); João Ferreira de Almeida, Edição Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original (ACF); Nova Versão Transformadora (NVT); King James Versão Atualizada (KJVA). As Edições NA, uma marca da Casa Publicadora da Convenção das Assembleias de Deus em Portugal, são uma editora de cariz denominacional. Neste âmbito, procuram produzir literatura cristã de língua portuguesa, em diversos formatos e tendo em vista diversos públicos-alvo, com o cuidado de que os conteúdos apresentados se coadunem com o ensino da Bíblia Sagrada, não endossam necessariamente os pontos de vista particulares dos autores. Esta obra respeita as regras do Novo Acordo Ortográfico. © Edições NA - Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com indicação da fonte.


ÍNDICE AGRADECIMENTOS PRÓLOGOS PREFÁCIO INTRODUÇÃO

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PARTE 1 — O FUNDADOR E A IGREJA CAPÍTULO 1 PROFECIAS BÍBLICAS DO NASCIMENTO DE CRISTO E DO CRISTIANISMO 025 CAPÍTULO 2 AS PROFECIAS E O SEU CUMPRIMENTO NA VIDA E MINISTÉRIO DE JESUS 043 CAPÍTULO 3 OLHAR O CRISTIANISMO NA PROJEÇÃO DO SEU DIVINO FUNDADOR 051

PARTE 2 — ORIGENS E BASES DO CRISTIANISMO BÍBLICO CAPÍTULO 4 AS ORIGENS SOBRENATURAIS E A PROJEÇÃO DO CRISTIANISMO BÍBLICO 059 CAPÍTULO 5 AS BASES E ORIENTAÇÃO DO CRISTIANISMO NOS ESCRITOS NEOTESTAMENTÁRIOS 063

PARTE 3 — PASSADO, PRESENTE E FUTURO DA IGREJA CAPÍTULO 6 ACONTECIMENTOS DOS PRIMEIROS SÉCULOS 079 CAPÍTULO 7 UMA IGREJA, DUAS CRISTANDADES MUITO DESIGUAIS NUMA REALIDADE LESIVA 101 CAPÍTULO 8 O CAMINHO COM VISTA À HARMONIA PROFETIZADA NUM IDEAL REPARADOR 117 CONCLUSÃO 137 FONTES CONSULTADAS 139 13



PREFÁCIO

“Sejam um” foi o pedido do Senhor Jesus Cristo quando, na Sua oração sacerdotal, clamava ao Pai pela unidade dos Seus discípulos e do Seu Corpo que estava prestes a ser estabelecido, a Igreja. “Para que sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia (…)” (João 17:21, ACF) Quando estamos diante de um título como o deste livro que o pastor Vidal traz à liça, o que sobressai é o sentimento de urgência pelo retorno às raízes, à base, ao fundamento do Cristianismo. Num tempo em que o aparecimento de novas igrejas chamadas de cristãs ou evangélicas acontece a uma velocidade maior do que aquela que podemos assimilar. Em que as “verdades”, (como se a verdade das Escrituras se expusesse ao escrutínio de interpretações ao sabor de cada um), se multiplicam na defesa de interesses que muitas vezes pouco ou nada têm de cristão, que não se respaldam numa leitura e interpretação acurada das Sagradas Escrituras, que assentam em meras especulações filosófico doutrinárias e em alguns casos em novos conceitos teogónicos, o livro que nos é apresentado é útil e importante no apelo a voltarmo-nos de novo para as Escrituras no que elas concernem profeticamente à Igreja que Jesus viria estabelecer. O pastor Vidal, fazendo uma caminhada pelas profecias acerca de Cristo e da Sua Igreja apresenta-nos princípios que devem servir de bússola para quem está sem norte, gerar consciência em quem não sabe o que fazer, formar uma mente sadia para a compreensão e interpretação das profecias, ensinar o cristão a fazer as suas escolhas formadas num alicerce verdadeiramente bíblico. Há muitas verdades em torno do Evangelho de Jesus Cristo e uma delas está, justamente, associada ao tema deste livro, a Igreja. 15


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A unidade da Igreja é uma urgência que se faz sentir cada vez mais em cada dia que passa. “Para que o mundo creia.” Precisamos unir esforços no sentido de deixar de parte as “pequenas” coisas que promovem separação e unir-nos em torno das doutrinas fundamentais de modo a caminharmos juntos o quanto possível. Em plena consciência sei que há uma só Igreja, a Universal, mística, que é o conjunto de todos os crentes salvos ao longo dos tempos, mas sei que dentro da cristandade há mais do que uma igreja, aquelas que são visíveis, e que dentro destas por vezes se acentuam diferenças que são quase irreconciliáveis. Digo quase, porque creio que a Palavra de Deus ainda é como um martelo que esmiúça a penha, e que ainda pode mudar os corações por mais duros, indiferentes, ou secularizados que eles seja. O pastor Vidal não escreve na base de uma teoria, antes aplica-se a uma caminhada pelas Sagradas Escrituras com base na sua experiência pastoral de muitos anos, da sua experiência como professor dos Institutos Bíblicos, e pela sua formação académica. Deus abençoou o pastor Vidal ao longo da sua vida e ele agora abençoa-nos com este livro. Quem o conhece sabe que ele se entregou de corpo e alma à causa do Mestre, para que Ele o usasse da forma que Lhe aprouvesse, o que com empenho e dedicação sempre fez. Agora, quando conseguiu algum tempo ligeiramente mais livre, desejou prendar-nos com o livro que nos apresenta. Um chamado de novo às Escrituras, à cristandade e à Igreja. Parabéns, pastor Vidal! Um guerreiro do Reino que tenta passar os seus saberes e a sua experiência pastoral e de estudioso e, com isso, estimular-nos a permanecer no fundamento. Cristo, uma Cristandade, uma Igreja A Deus toda a Glória! António Gonçalves Diretor executivo – CAPU, Casa Publicadora da Convenção das Assembleias de Deus em Portugal Presidente do Conselho Pastoral Nacional - Convenção das Assembleias de Deus em Portugal Pastor evangélico - Benfica

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INTRODUÇÃO

Este trabalho nasce como resultado da minha tese final da licenciatura em Ciência das Religiões, lecionada pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa, bem como o desejo maior de dar o meu melhor contributo à comunidade cristã. Já naquela tese, o tema escolhido foi o paradoxo de “Uma Igreja, duas cristandades muito desiguais”. Tema que, pela sua importância e atualidade nas mais diversas amplitudes, mantenho nesta obra que não pretende, de modo algum ser polémica, mas sim convergente. Entroncada numa vertente histórica, e com o desejo maior de contribuir para a construção de um sentimento pleno e abrangente, como ponte da unidade e fraternidade espiritual que deve caracterizar o verdadeiro Cristianismo, tanto na sua dimensão local, como global, esta análise, nunca teve, nem terá, como objetivo denegrir, qualquer que seja o grupo ou movimento, dentro do respeitável fenómeno religioso chamado Cristianismo. Todavia, não deixarei de evidenciar factos que tiveram lugar no tempo, na História e na atualidade, que muito influenciaram e continuam a influenciar toda a cristandade, empurrando-a para a realidade do Cristianismo que hoje conhecemos e integramos. Em muitas áreas, infelizmente, a realidade continua distante daquele desígnio da qualidade e unidade apontadas como indispensáveis, pelo seu glorioso e divino Fundador - Jesus Cristo. Assim, o presente livro tem como principal objetivo realçar a importância da sublime oração de Jesus Cristo ao Pai, antes da oferta sacrificial de Si mesmo em nosso lugar, bem como apoiar a sua aplicação prática num envolvimento corajoso, individual e coletivo, para o seu pleno e real cumprimento! Pai “assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao 17


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mundo. E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade. Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó pai, o és em mim, e eu, em ti; que, também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste e que os tens amado a eles como me tens amado a mim.” (João 17:18-23, ARC, sublinhado do autor)

No plano espiritual, e não só, esta é uma questão que muito me tem preocupado ao longo de mais de quarenta anos do meu ministério pastoral e com redobrada preocupação, nos cerca de trinta anos de formação ministerial nos nossos institutos bíblicos. Na verdade, creio que esta tem sido uma área pouco refletida e nem sempre levada na devida consideração mesmo nos meios onde seria de esperar que o estatuto do sagrado fosse construído responsavelmente e com todo o cuidado, no que respeita à unidade dos princípios; doutrinas e condutas, para segurança dos fiéis e engrandecimento Daquele que, com o custo da Sua própria vida, foi o glorioso Fundador da Igreja cristã - Jesus Cristo. Uma igreja que se diz cristã deveria sempre assentar nas Escrituras Sagradas, como sua única base em questões de fé; doutrina e conduta. E ser olhada, no seu interior, com olhos de ver. Embora, escusado será dizer que, a Igreja, não é qualquer templo material, como ali representado, mas sim o Corpo espiritual composto por seus membros fiéis, homens e mulheres, a quem Jesus Cristo, como, no dizer do apóstolo João, concedeu o glorioso direito de filiação divina: “Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome.” (João 1:12, ARC, sublinhado do autor) Ora, isto é o mesmo que dizer que, o Cristianismo nunca pode ser uma competição dos ideais humanos, de líderes eclesiásticos ou outros, por mais capacitados ou empenhados que sejam. Antes, 18


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tem que expressar desde o seu interior, as origens e fundamentos divinos expressos nas Sagradas Escrituras. Como, por certo todos sabemos que os tempos e costumes mudam, mas o Cristianismo autêntico, nos seus mais nobres valores e princípios doutrinários, tem que permanecer inalterável, sob pena de se criarem muitas “cristandades”, que embora mantenham o título de “cristãs”, serão de todo discordantes e divididas no essencial do sagrado, bem como, na unidade tão fortemente enfatizada naquela sublime oração de Jesus. É verdade que isso aconteceu já no passado distante. Igualmente através de toda a história cristã até aos nossos dias e atendendo às múltiplas e duvidosas ofertas de tantas “cristandades”, hoje corremos o risco de nos guerrearmos ainda mais do que nunca. Desta forma e para o evitar, precisamos de voltar a ouvir as sábias e inspiradas recomendações do apóstolo Paulo a Timóteo, seu jovem aluno: “Tu, porém, permanece no que tens aprendido (…) sabendo que (…) toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça. Para que o homem de Deus (entenda-se, sobretudo, os líderes cristãos) seja perfeito e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” (2 Timóteo 3:14-17, ARC, parêntesis do autor) Em termos de dissertação temática considero importante enfatizar que o modelo e unidade do verdadeiro Cristianismo, nunca se deviam ter deixado influenciar por políticas ou interesses privados dos seus líderes, quaisquer que fossem. Ainda assim, importa reforçar claramente que a unidade, nunca se pode alcançar, nem manter, com sacrifício da verdade, como nos adverte o apóstolo Paulo: “Porque nada podemos contra a verdade, senão pela verdade.” (2 Coríntios 13:8, ARC) Por essa razão, considerei fundamental falar das raízes remotas do Cristianismo para evidencia tanto a veracidade quanto o cumprimento das profecias que o suportam, como os objetivos orientadores Daquele que foi o seu glorioso Fundador e que ficou registado, na história bíblica, como o único Salvador da Humanidade: Jesus Cristo. “Porque em nenhum outro há salvação, porque 19


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debaixo do céu nenhum outro nome é dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4:12, ARC, sublinhado do autor) Falaremos também dos Seus colaboradores mais diretos, os Apóstolos por Ele escolhidos e que, em perfeita harmonia com Ele, se tornaram responsáveis pelos Seus registos bibliográficos e doutrinários, demorando-nos depois com, algum detalhe, no século IV, ocasião dos acontecimentos que, na minha opinião, e não só, empurraram a Igreja cristã para a realidade retratada no tema do presente trabalho: “Uma Igreja, duas cristandades muito desiguais”! Embora congregando nos mesmos templos, mantinham-se largamente distanciadas, tanto nas suas crenças, como nas experiências e vivências. Por incrível que possa parecer, mas isso será desenvolvido mais adiante, o pior do Cristianismo aconteceu, exatamente, no tempo mais favorável. Realidade lamentável que nos deve servir de advertência protetora na atualidade. Todavia, nesta análise, não se avaliarão coisas mesquinhas, como quem, por conveniência, se julgue estar no centro de toda a verdade, focando apenas, as falhas dos outros. Antes, pelo contrário, importa igualmente, avaliar as nossas falhas e esforçarmo-nos numa constante e mútua colaboração para as corrigir. Desta forma, haveremos de reconhecer que em cada grupo existem coisas positivas e coisas menos boas. Existe investimento, propósito, coragem, abnegação e sofrimento, mas também fracasso. Por certo não faltaram boas intenções ainda que, em algumas dessas coisas menos boas, se prove que os resultados finais foram altamente lesivos aos desígnios originais deste tão glorioso projeto, que nos alcança e envolve. Finalmente, quero afirmar-me convicto de uma máxima vinculativa e altamente comprovada “será sempre o respeito que gera respeito”. Nesta perspetiva muito pode ainda ser feito, através do diálogo entre as diversas denominações (aliás, já iniciado a vários níveis), com vista àquela convergência, altamente manifestada por Jesus ao Pai num texto que nunca será demais reforçar: “Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra, hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu 20


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ó pai o és em mim e eu em ti, que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17:20, 21, ARC, sublinhado do autor) Também não é meu propósito fazer passar a ideia de alguma mega unificação de todos os grupos que se identificam pelo nome de cristãos! Sem dúvida, acredito que todos os cristãos fiéis, encontrarão a unidade plena, mas esta, só acontecerá na Eternidade. Aí, garantidamente, sim, porque já todos estaremos livres das limitações que hoje tanto nos embaraçam. Não obstante, desejo continuar a colaborar, no que me for possível, para uma aproximação gradual em inúmeras áreas, onde se pode convergir e trabalhar harmoniosamente. Por certo, se houver reconhecimento mútuo, vontade e dedicação, não faltarão também os frutos desse esforço, tanto mais que, como todos os grupos cristãos dizem defender, o Cristianismo assenta num paradigma de fé. Por isso, mais do que de qualquer outro setor da sociedade, se pode contribuir e, esperar que se cumpra a sublime afirmação de Jesus Cristo: “(…) se tu podes crer, tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9:23, ACF) Além da inegável, grandeza e substância desta poderosa afirmação de Jesus Cristo e da verdade que ela encerra, na dimensão de uma fé bíblica já amplamente comprovada tanto no tempo como na história cristã, existe uma vantagem acrescida. Esta é, que quando se acredita, e se age em conformidade, tal envolvimento já está a contribuir para ver realizados esses nobres ideais. Portanto, tendo em conta que o Cristianismo em toda a sua abrangência e diversidade é, ainda na atualidade, o maior movimento religioso que se conheceu no mundo em todos os tempos, concordaremos que a análise da sua história, tanto pela vastidão dos seus registos, como pela necessidade da sua aplicação real, mais se compreenderá a importância de uma constante e profunda investigação de todas as matérias que o envolvem. Tanto com o objetivo de uma melhor harmonia e formação espiritual dos seus respeitáveis fiéis, como para uma maior e mais completa fundamentação profética, histórica e doutrinária, a seu respeito. 21


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Concordamos que, sobre este vasto assunto já muito se disse, escreveu e se há de continuar a investigar porque jamais alguém, com cabal consciência e conhecimento de causa, ousaria afirmar que já tudo foi analisado, compreendido e ensinado. Por isso, no seguimento desta mesma convicção, também eu, com humildade, direi que nunca é demais voltar-se ao assunto para a valorização de sectores que, tanto quanto conheço, não foram inteiramente aflorados na forma que, aqui se pretende. Por isso mesmo, no contexto das origens do Cristianismo considero muito oportuno citar a obra de Bruce L. Shelley, quando afirma: “As raízes do Cristianismo remontam à História judaica anterior ao nascimento de Jesus. Contudo, foi Jesus de Nazaré quem atacou o judaísmo instituído e gerou um movimento de renovação da história no século I. Após a crucificação, determinada por Pôncio Pilatos, oficial romano, os ensinamentos de Jesus espalharam-se pelo Mediterrâneo. Um apóstolo chamado Paulo teve grande influência nesse processo. Deu ênfase à salvação, dádiva de Deus para todos os homens, e alçou, o Cristianismo, emergente do Judaísmo palestino, à condição de religião universal”.1

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SHELLEY, Bruce L., História do Cristianismo ao alcance de todos, p.1.

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CAPÍTULO 4

AS ORIGENS SOBRENATURAIS E A PROJEÇÃO DO CRISTIANISMO BÍBLICO “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. (João 3:3, ACF)

Neste quarto capítulo abordamos as origens sobrenaturais e a projeção do Cristianismo bíblico – dois importantes tópicos que nos ajudam a compreender as origens da Igreja. 4.1 As raízes do Cristianismo bíblico Nesta reflexão, considera-se fundamental analisar, solidamente, as raízes do Cristianismo bíblico, para uma melhor compreensão do mesmo. Por isso, importa olhar para ele, desde as suas origens mais longínquas, e não ficar apenas pelo hipotético ano zero da era cristã. De facto, nos projetos e movimentos divinos, nunca houve, nem haverá, “imprevistos” nem os chamados “recursos de última hora” (esses acidentes ou limitações fazem parte, apenas, da nossa humanidade). Precisamos entender que Deus está sempre por cima das circunstâncias e nunca foi, nem será surpreendido por eventualidades ou “apanhado por quaisquer imprevistos”. Ele sabe, vê e move-se, sempre por antecipação. Esta é a garantia que nos é dada nos Escritos Sagradas: “Deus (…) chama as coisas que, ainda, não são como se já fossem.” (Romanos 4:17, ARC) 59


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Neste contexto e, porque as origens do Cristianismo são um projeto divino, universal e eterno (com o objetivo supremo da recuperação cabal da obra-prima da Sua Criação, a Humanidade caída) e também, porque, esse majestoso projeto teria, necessariamente, que envolver a encarnação, a morte e a ressurreição do Seu amado Filho, mais se justificaria, à nossa compreensão, que tal programa fosse alargado tanto no tempo, como na sua magnífica elaboração! Se não, vejamos a forma sublime como esse projeto, tanto nos ultrapassa, como nos maravilha. “(…) esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”. (Apocalipse 13:8, ARC, sublinhado do autor) Ora, quanto à “fundação do mundo” atrás referida, como é do conhecimento geral, nem a ciência astrofísica o consegue determinar, no tempo e nos modos, com precisão absoluta. Assim, mesmo sem sabermos, com exatidão, os tempos de tal obra majestosa, não restam quaisquer dúvidas que o glorioso projeto da nossa Salvação lhe é anterior. Nesta circunstância, prezado leitor, vale a pena pararmos aqui e refletir seriamente, a fim de se poder saborear e abraçar com elevado sentido de gratidão e reconhecimento, o grande amor e dedicação do eterno Criador! Deus, que já sabia, por antecipação, que o Homem se iria destruir a si próprio, ao desrespeitar as santas leis divinas, e sabendo, igualmente, o elevado preço da sua restauração (obrigando à encarnação e morte do Seu Filho Unigénito), levou a cabo o seu plano. Questione-se o leitor: por que razão continuou Deus? Depois da queda, porque não abandonou Ele aquela Criação fracassada? Por certo, concordaremos que não teria sido por falta do “barro original” ou do Seu próprio “fôlego da vda” para a formação de novas criaturas humanas, ou até de outras criaturas que Lhe fossem fiéis, evitando assim todas as tragédias e os custos que estão associados à queda. Porque continuar, então? Sem dúvida que, com tudo isto, não é difícil entender que nós, mesmo afastados, fomos e continuamos a ser, o foco do Seu amor eterno! Tudo isto fica, ainda mais reforçado, quando o próprio Jesus Cristo, já encarnado, fundamenta a 60


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Sua obra em termos determinantes ao afirmar: “(…) Ninguém tem maior amor do que este: o de dar alguém a sua vida pelos seus amigos (…)já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor, mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer (…) Não me escolhestes vós a mim, mas, eu vos escolhi a vós” (João 15:13-16, ARC) 4.2 A projeção do Cristianismo bíblico Agora que estamos devidamente informados desta gloriosa verdade, lembremo-nos que, com a vinda de Cristo à Terra e a Sua obra Redentora concluída, a nossa Salvação fica dependente apenas da nossa atitude. Ninguém está “predestinado” a viver eternamente separado de Deus. Antes, tal desgraça será sempre responsabilidade de cada indivíduo, quer seja por descuido, abandono ou por escolhas erradas. A oferta divina é universal e está completa. Isso é claríssimo no texto sagrado: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo (sem exceção alguma, quer seja judeu ou gentio) aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16, ARC, sublinhado e parêntesis do autor) “(…) Eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância” (João 10:10, ARC) Posto isto, voltemos à nossa análise das raízes proféticas de Cristo e do Cristianismo, ainda no Antigo Testamento. Desde o primeiro anúncio profético, da vinda do Messias, é maravilhoso ver como Deus, imediatamente após a tentação da serpente (que levou à desobediência e queda de Eva e, com ela, naturalmente, por arrasto, o próprio Adão) começou a desenrolar o Seu plano de salvação: “Então o Senhor Deus disse à serpente (…) porei inimizade entre ti e a mulher e, entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Génesis 3:15, ARC) Ao condenar a “serpente enganadora” (que personificava Satanás, inimigo de Deus e da Sua Criação), o Deus eterno informou 61


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profeticamente, a Adão e Eva, da vinda do Messias Salvador. Aquela comunicação profética vem trazer claramente, à Humanidade, o renascer de uma nova esperança e assegurar de que as consequências daquela tragédia seriam fatais para a “semente da Serpente” (o Mal), ao ser “ferida na cabeça” (significando-lhe a morte e, com isso, o fim impeditivo da sua ação destruidora). Já no que concerne à “semente da mulher” (Jesus Cristo), “ferido no calcanhar” (tipifica o sofrimento atroz até à morte física), não seria fatal no Seu desempenho, prefigurando o Seu regresso à vida pela ressurreição de entre os mortos.

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CAPÍTULO 7

UMA IGREJA, DUAS CRISTANDADES MUITO DESIGUAIS NUMA REALIDADE LESIVA “(...) cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo. Está Cristo dividido? (...)” (1 Coríntios 1:12,13, ARC)

Chegamos, agora, ao que considero o ponto fulcral do tema “Uma Igreja, duas cristandades muito desiguais”. Convém referir que não se chegou a esta realidade lesiva sem a culpa dos grandes decisores, políticos e religiosos da época. Antes, pelo contrário, foram eles os grandes responsáveis por aquilo que, provavelmente, foi a maior deterioração do Cristianismo em toda a sua história. É verdade que, aparentemente, naquela imposição dos governantes, o dito “Cristianismo” deu o que se podia designar por o maior salto na sua história. Tanto em número, porque mais do que duplicou num só dia (reportamo-nos, especialmente, ao dia do Decreto de Tessalónica); como em influência, ao passar de uma espécie de clausura religiosa para o mais elevado trono do poder. Pelo contrário, o Cristianismo degradou-se pela corrupção na sua própria essência interna, por ter deixado de primar pela lealdade, verdade e fraternidade, em conformidade com as orientações do seu divino Fundador, Jesus Cristo, já atrás citadas, como: “(...) Necessário vos é nascer de novo” “(...) Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” ou “(...) Tudo o que quereis que os homens vos façam fazei-lho vós primeiro, porque esta é a lei e os profetas” Sem dúvida que estes altos valores são para se manter, ainda 101


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hoje e até que Jesus volte, em qualquer grupo, tempo, lugar ou circunstâncias do Cristianismo, porque serão sempre estes os fatores de integridade e coesão! No entretanto, a falta deles será sempre fraturante mesmo que, aparentemente, pareça o contrário. 7.1 O crescimento do Cristianismo por duas vias Por certo que, na ocasião, aquelas facilidades foram recebidas com compreensível agrado e entusiasmo por aqueles cristãos altamente sofridos. No entanto, acabariam por criar um problema sério com o decorrer dos tempos. Com tal “invasão”, a Igreja ficou dividida no ponto mais sensível da sua existência - dentro da sua própria alma. Até ali, as dificuldades combatiam a Igreja do lado de fora. Agora, os problemas residiam no seu interior. Tudo porque a Igreja passou a ter um crescimento anormal, por duas vias diametralmente opostas e inconciliáveis entre si. a) A via da conversão Esta é a única via considerada biblicamente correta. A conversão, tal como o próprio termo indica, obriga, desde logo, a mudanças profundas. Vejamos, duas áreas distintas dessa realidade: a natural e a espiritual. A área natural - no sentido linguístico -, é o ato o efeito ou a capacidade de converter “ideais” ou “coisas”; mudanças na forma ou na qualidade; transformação (em muitas e variadas conjunturas, que não trataremos agora). Depois da “conversão,” nada pode ficar igual. A área espiritual aponta aspetos interiores e eternos. É uma mudança total de comportamentos e de fé que envolvem: o espírito, a alma e o corpo, realizável, exclusivamente, pela poderosa e sobrenatural operação divina, como está escrito: “Se alguém está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo (ou se transformou totalmente).” (2 Coríntios 5:17, ACF, 102


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sublinhado e parêntesis do autor) Vejamos os resultados possíveis dessa conversão: na mudança das bases e estruturas da fé; alterações de conduta, rumo e objetivos; transformação de vida no temor de Deus e nos princípios por Ele estabelecidos na Bíblia Sagrada. “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo (o mesmo que vos transforme na totalidade); e todo o vosso espírito, alma e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis, para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará.” (1 Tessalonicenses 5:23,24, ACF, sublinhado e parêntesis do autor) Nesta declaração, temos a plena disponibilidade divina para essa operação em todo aquele que acreditar e aceitar essa gloriosa intervenção: “(...) aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” (Filipenses 1:6, ACF) b) A via da conveniência Vamos também aqui, expor, claramente, dois sentidos distintos. No sentido natural: (abrange o certo e o errado) é a qualidade do que é conveniente.32 No sentido oportunista: indica aspetos humanos e temporais - trata-se da procura maior (que pode até ser cega) dos interesses próprios, independentemente dos meios para se alcançarem. Foi exatamente por essa “onda perigosa e mortífera” que a Igreja se deixou “arrastar” para o nível de uma sociedade corrompida, em vez de se tornar um exemplo reformador dessa mesma sociedade. Assim, a esmagadora maioria dos novos “líderes” da cristandade, naquele tempo, deixou de viver e ensinar os valores sagrados, únicos capazes de respeitar as origens e produzir verdadeira conversão interior, desrespeitando o conselho divino, dado através do profeta: “Mas para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, e salvação trará debaixo das suas asas (...) e converterá o coração (...)” (Malaquias 4:2, ACF) Estes valores devem ser transmitidos; aprendidos e afinados no colégio Daquele que é o verdadeiro “Sol da Justiça” - Jesus Cristo, como Ele próprio declarou ser, ao afirmar: “Eu sou a luz do mun103


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do; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” (João 8:12, ARC) Na falta destes valores, a cristandade foi-se deixando afastar paulatinamente daquela vida piedosa, de exemplo, fidelidade e coragem. Como resultado dessa “frouxidão espiritual”, aquela cristandade foi-se deixando adormecer na “tranquilidade falsa” de uma “noite que nunca mais findava” (chegando ao ponto de se considerar que, do século V ao XV, a Igreja viveu “a Idade das Trevas”), impedindo que o “Sol da Justiça” lhe voltasse a trazer a luz única capaz de gerar novas vidas, pelo poder altamente transformador do Evangelho. Desta forma, em vez de se valorizar a conversão no interior, passou-se para uma “adaptação social e leviana” nos aspetos externos da cristandade, exigindo-se maior cerimonialismo e esplendor nos serviços do culto, para satisfação do ego senhoril. O formalismo religioso tomou o lugar da verdadeira natureza da fé cristã e dir-se-ia que o mundo entrou na Igreja, de tal forma que não havia mais aquela diferença marcante entre cristãos e a sociedade corrupta em que passaram a viver e partilhar. Perderam-se completamente (e não sei se, na sua plenitude, alguma vez, se voltaram a encontrar) as “fronteiras indispensáveis”, que Deus indicara, pelo profeta Malaquias: “E outra vez vereis a diferença entre o que serve a Deus e o que o não serve.” (Malaquias 3:18, ARC) Em boa verdade, estas duas vias de crescimento da Igreja, em termos bíblicos e teológicos, serão sempre, irreconciliáveis, como está escrito: “Andarão dois juntos se não estiverem de acordo?” (Amos 3:3, ARC) O próprio Jesus Cristo havia determinado a única forma de integração na Sua Igreja, afirmando: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus (...) O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é espírito (...)” (João 3:3,6, ACF) Por isso, inevitavelmente, se passou a estar na presença de dois tipos de cristandade bem diferentes, com a agravante de manterem a mesma identidade e reunirem dentro dos mesmos espaços. Agora, ser membro da Igreja era “cair nas graças” do poder do104


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minante. Conjuntura que aguçou o apetite voraz das classes média alta e da nobreza daquela sociedade, sempre com a sua tendenciosa apetência pelo domínio nos lugares cimeiros, independentemente dos altos requisitos e dos padrões morais e espirituais exigidos para o efeito. Rapidamente, estas classes assumiram a liderança da cristandade. E, logo mais, passaram a influenciar tanto os poderes político como o religioso. Desenvolveram-se escaramuças de sobreposição entre si e, daí à alternância dominante desses dois grandes poderes da sociedade, foi um pequeno passo. A socialização da Igreja dava a aparência de um elevado progresso num Cristianismo moderno que tinha conquistado e dirigia toda a “massa humana” daquele grande império. No entanto a realidade e a alma do verdadeiro Cristianismo eram bem diferentes. A Igreja estava moribunda e escravizada pelas circunstâncias que a dominavam. 7.2 Pacto “sinfonia” político e religioso na História Neste tópico, Jean Claude Eslin coloca-nos diante de um ideal apetecível que designa como “A doutrina da Sinfonia”.33 Apesar de apetecível, este ideal não foi bem concretizado no tempo. Desse ideal, são atores privilegiados a religião e a política, que aparentemente se abraçaram sobre os mesmos grandes valores: a justiça e a fé. A justiça devia ser desempenhada pela política, enquanto encarregada do direito da sociedade para o tempo. A fé devia ser representada pela religião, enquanto responsável pela verdade do espiritual para a eternidade. Afinal, neste trocadilho, há um ponto que lhes devia sempre ser comum - a verdade -, mas que nem sempre foi respeitado corretamente pelas partes! Todavia, no que respeita à verdade, e dada a sua importância, já no passado ela fora objeto de inquirição por Pilatos (alguém que detinha o poder político) Àquele que, pela demonstração 105


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sobrenatural dos Seus feitos e autoridade no domínio da palavra, evidenciava o poder espiritual - Jesus Cristo, naquele encontro marcante do Seu injusto julgamento. Disse Jesus: “(...) Eu, vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? (...)” (João 18:38, ACF, sublinhado do autor) Analisando este texto sagrado, descobrimos que Pilatos também não teve tempo ou não quis ouvir a resposta que outros tiveram a dita de escutar da boca do Mestre da Galileia: “(...) Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” João 8:32, ACF, sublinhado do autor) A apetência para a centralização daqueles dois grandes poderes (política e religião) é evidente desde a antiguidade distante. Pode ver-se, de forma bem vincada, já na cultura egípcia, no tempo do Império Médio, especialmente no reinado de Amen-hotep III (XII dinastia - 1402-1364 a.C.), a engendrar um plano estratégico e astucioso para o desejado domínio político e religioso no Império, nos seus dias.34 Esta centralização era igualmente bem conhecida na cultura Romana que, pela sacralização do Império, se passava pela proclamada divinização e culto ao próprio imperador, em quem se concentravam as mesmas prerrogativas, religiosas e políticas. A aglutinação dos dois grandes poderes numa única ideologia, a do imperador, não era, de todo, o rumo certo. Antes, isso originou um domínio ditatorial sobre a sociedade civil e religiosa que em nada viria a favorecer os súbditos, nem os “fiéis”. Para complementar, seguiu-se, mais tarde, a legalização do Judaísmo no Império Romano, por uma negociata de conveniências assim descrita por Jean-Claude Eslin: “O Império Romano proporcionou, ao longo dos séculos, pelo menos (ano 27 antes da Era cristã) até ao século XV e, em determinadas partes da Europa até à época napoleónica, um enquadramento ‘imaginário’ inultrapassável às instituições políticas europeias. E isso não se deveu apenas ao facto de o direito romano ter formado as nossas instituições. Instituído pouco depois da tomada de Jerusalém por Pompeu, 106


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em 63 antes da nossa era, o Império Romano é o quadro onde o último judaísmo, sob a sua dupla forma palestina e helenística, se desenvolve. É também o quadro onde o Cristianismo inicia o seu crescimento, tanto no Oriente, como no Ocidente. Condicionou fortemente o desenvolvimento dessas duas religiões, mas de uma forma diferente para cada uma delas. Com efeito, sob o Império Romano, os judeus beneficiam de um ‘estatuto privilegiado’, o de ‘religião licita’, que ‘negociaram com os romanos’ (política e religião)(...) Após a legislação dos imperadores Constantino (330) e, sobretudo, Teodósio (380), foi pelo contrário o judaísmo que perdeu o seu estatuto tradicional privilegiado e o Cristianismo, pelo seu lado, tornou-se ‘religião do Estado’, em tal medida e tão bem que assim se manteve sob todo o tipo de regimes ao longo dos séculos e que foram necessários, de novo, vários séculos para nos libertarmos desses vínculos”. (negrito e sublinhado do autor) 35 7.3 O domínio religioso sobre a política no Ocidente Com a divisão do vasto Império Romano, por Teodósio I (395 d.C.), passaram a existir dois impérios autónomos: Oriental e Ocidental; dois Imperadores: Arcádio e Honório (filhos de Teodósio); e duas sedes imperiais: Roma e Constantinopla, que haveriam de marcar, igualmente, dois métodos de orientação governativa bem distintos. Enquanto o Império Oriental continuou politicamente forte até 1453 (ocasião em que Constantinopla capitulou às mãos dos Turcos), o Império Ocidental, por sua vez, era politicamente fraco, por causa da sua queda política em 476, nas mãos dos invasores bárbaros, mas mostrava-se religiosamente forte com domínio, igualmente indevido, sobre a política. Bem cedo na História da Igreja no Ocidente temos a interpretação de Santo Ambrósio, ao defender a superioridade e “poder da Igreja”, vindo de cima, sobre o “poder temporal” (o político e terreno). Ambrósio inicia por tratar o Imperador Teodósio I de igual para 107


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igual, mas não tarda em evoluir até à imposição do poder absoluto da Igreja (o líder eclesiástico) sobre a política (o Imperador). Disto são exemplo três casos flagrantes que passamos a enumerar. No caso das igrejas arianas, consideradas heréticas pelo Concílio de Nicéia (325 d.C.), declara Santo Ambrósio: “Em matéria de fé são os bispos que costumam ser juízes dos imperadores cristãos e não os imperadores juízes dos bispos.” 36 Na contenda sobre a retirada da estátua da deusa Vitória (símbolo da Roma pagã muito adorada pelo povo) do Senado Romano em 382, pelo imperador Flávio Graciano Augusto (375 a 383), com requerimento à sua reposição pelos pagãos, opõe-se-lhes, de novo, o bispo Ambrósio, com ameaça da excomunhão do próprio imperador Teodósio I (347-395), afirmando: “(...) se for tomada uma decisão contrária, nós, os bispos, não podemos acomodar-nos (...) poderás vir à Igreja, mas não encontrarás, lá o padre ou, se o encontrares, ele irá opor-te a sua resistência.” 37 No caso de uma sinagoga judaica incendiada por monges cristãos com apoio do seu bispo e que o imperador, como legítimo defensor da ordem pública, condena, ordenando que a mesma fosse reconstruída às expensas do convento, volta a opor-se o bispo Ambrósio, defendendo que os interesses religiosos estavam acima da simples ordem pública e se o imperador resistisse, seria ali cancelado o serviço religioso. É impressionante como a sede do poder, neste caso o religioso, subjuga o próprio direito. Tal sobreposição da Igreja sobre o Estado, no Ocidente, com todas as suas consequências históricas, haveria de marcar uma longa tradição, que durou desde 386 a 1963.38 Não deixam, contudo, de haver alguns raios de lucidez, mesmo no tempo de tais trevas. É o caso do bispo Santo Agostinho (346430), cuja visão, em La Civitate Dei, aponta para dois reinos autónomos, mas que nunca deviam ser conflituantes, retratados nas duas cidades: a “Cidade Celeste” e a “Cidade Terrestre”.39 Posteriormente, na mesma linha de Santo Agostinho, mas altamente empolada, surge a chamada “fórmula do Papa Gelásio” (492-496), que defendia o primado dos papas sobre os imperadores, 108


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em carta enviada a Anastácio I (imperador Bizantino e contemporâneo de Gelásio). Sobre as duas coisas pelas quais o mundo é governado, diz-lhe: “Há dois poderes, augusto Imperador, por meio dos quais este mundo é governado: A sagrada autoridade dos sacerdotes e o poder real. Destes, aquele que pertence aos sacerdotes é mais pesado, porque devem dar contas dele ao julgamento divino, até mesmo pelos governantes reais. (...) A autoridade sagrada dos pontífices ‘auctoritas sacrata’ e o poder real ‘regalis potestas’ (...) ‘deveis curvar, uma cabeça submissa’ perante os ministros das coisas divinas.” (negrito do autor) 40 Tal situação atinge extremos, todavia, com culpas que não podem ser, inteiramente, imputadas a Santo Agostinho. Gelásio, aproveitando-se do ponto de vista de Agostinho, em La Civitate Dei), defende: “Tal como se tem um líder político absoluto, o Imperador, deve haver igualmente um líder superior na Igreja.” A partir daí e até à atualidade, os líderes cristãos passaram a reivindicar para si um absolutismo como “bispos universais” sobre toda a cristandade, ao ponto de o Papa Inocêncio III (1198-1216) se auto designar como único detentor de autoridade absoluta, não apenas na Terra, mas em todo o Universo: “Declarou-se ‘Vicário de Cristo, Vicário de Deus’, soberano supremo da Igreja e do mundo, com o direito de depor reis e príncipes (passando ao extremo, ao afirmar) (...) todas as coisas, no céu, na terra e no inferno estão sujeitas ao Vicário de Cristo.” (parêntesis do autor) 41 Em tais questões, subtilmente, os principados políticos passam a exercer uma influência marcante nas investiduras dos seus bispos que, de alguma forma, minariam, também, a autoridade da Igreja. Nesta ordem de ziguezagues dos interesses por parte dos dois poderes dominantes e, de certo modo também, movido pela influência religiosa sobre os reis bárbaros invasores do Ocidente que se vão convertendo ao Cristianismo e tomando igualmente posição, chega-se ao século XI e assiste-se a uma nova reforma, a Gregoriana (1085). Nesse contexto, através do Papa Gregório VII, a Igreja torna-se 109


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num “Estado” moderno, que passa a exercer os poderes legislativo, administrativo e jurídico e que tem como objetivo devolver à Igreja o direito absoluto das “nomeações episcopais”. Em seus 27 Direitos Pontifícios, vemos sempre sobressair esta grande máxima “solus” (Só) – “‘solus’ o romano pontífice pode (...)”42 - abrangendo, objetivamente, três importantes áreas: o direito de recurso; o direito de dispensa; e o direito de reserva. Desta forma, a igreja romana impôs um currículo que, de alguma forma, procura manter até hoje. Este domínio torna-se mais evidente com a Inquisição, decretada, igualmente, pelo Papa Inocêncio III, ainda que plagiada do direito jurídico da política romana. A Inquisição passa do antigo método da simples “acusação” para um processo “inquisitorial”, pelo qual a “heresia” (e era considerado heresia tudo o que, religiosamente, não se sujeitasse ao Papa) é considerada crime de “lesa-majestade” e passa a ser punido com pena de morte, contrariando o ensino teologicamente correto, defendido por Santo Agostinho e, mais tarde, São Tomás de Aquino, para quem os pagãos não deviam ser obrigados a aceitar o Cristianismo, como fé pessoal, já que a conversão deve ser sempre voluntária: “Suma Teológica (...) O regresso a Deus [reditus] da criatura deve ser racional (...) o homem, senhor, dos seus atos, pelo livre arbítrio (...) é, ele próprio o responsável pelos seus atos (ou decisões).”43 Para São Tomás de Aquino, o Direito e o Dever centralizam-se na dignidade da pessoa. São sujeitos à Lei de Deus e responsáveis pelo bem da comunidade, dando até a oportunidade de resistir às tiranias humanas, quando os seus ditames forem injustos. A lucidez e coragem de São Tomás de Aquino, no que concerne ao livre arbítrio, vêm dar uma força fundamental, tanto à separação da Igreja em relação às políticas, como à liberdade do homem em relação aos próprios sistemas religiosos e a Deus. Felizmente, esta nobre visão da necessidade dos dois poderes autónomos e livres haveria de dar o seu fruto. Ela está implicitamente aceite no Concílio Vaticano II (1965), como se depreende do seu relatório final onde é declarado: “A dignidade da pessoa humana é, no nosso tempo, objeto de uma consciência cada vez mais viva; 110


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(...) não sobre a pressão de um constrangimento, mas guiado pela consciência do dever (...) Constitui, pois, uma afronta, à pessoa humana e à própria ordem estabelecida por Deus para os seres humanos recusar ao homem o livre exercício da religião no plano da sociedade, desde que a ordem pública esteja salvaguardada (...)” (negrito do autor) 44 Aqui sobressaem dois valores fundamentais e indispensáveis à verdadeira liberdade: a liberdade religiosa que, não sendo apenas retórica ou teoria, abrangerá, igualmente, o conceito da liberdade na escolha pessoal da própria religião; a ordem pública, sendo que esta é uma prerrogativa da política, enquanto defensora da justiça social. 7.4 O domínio político sobre a religião no Oriente Entretanto, a situação do Oriente não é menos complexa e censurável que a anterior. Aqui, as posições inverteram-se completamente. seria uma política forte a sobrepor-se e a reprimir a religião, mais enfraquecida no Oriente que no Ocidente. Não será necessário expandir a análise deste ponto, na mesma amplitude do anterior, atendendo a que, em parte, se subentenderá igual discordância, na inversão das posições. Todavia, serão referidos casos concretos, especialmente os mais recentes e que, a meu ver, foram o culminar de igual erro histórico, com o domínio da política sobre a religião. São disso exemplos marcantes a repressão política sobre a religião no regime marxista soviético que, desde Lenine e Stalin (aproveitando as ideias de Karl Marx e adaptando-as às realidades da antiga União Soviética), implementaram, entre 1917 e 1991, um sistema político repressivo e altamente sufocante dos valores religiosos. O próprio Muro de Berlim, erguido em 1961, assinala de uma forma bem evidente a separação entre a liberdade de expressão e de fé. Era um marco da asfixia das liberdades, em especial a religiosa. Felizmente, em 1989, aquele muro foi derrubado. No entanto, 111


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não se sabe ao certo quantos outros “muros”, noutros ambientes e dimensões, foram erguidos e que, ainda não tendo sido derrubados, continuam a sufocar as verdadeiras liberdades e impedem a Humanidade, em tantos lugares destes mais elementares direitos, nesta tão conturbada e desigual sociedade que é a nossa. 7.5 Uma realidade religiosa e política muito preocupante Lamentavelmente, depois desta tão longa história de vivências e alternância dos poderes dominantes, chegamos à triste conclusão de que, tanto uns, como os outros, têm sido péssimos alunos na aprendizagem das mais importantes lições que a “escola da vida” nos vai fornecendo. Na realidade, constatamos que o nosso mundo está cada dia mais desesperado. A situação chegou a um ponto tal, que mais do que nunca, vai ser necessário coordenar e multiplicar esforços para o salvar. Com tais realidades, interrogamo-nos: Será que alguma vez, em alguma matéria sensível, lá vamos chegar? Talvez fosse mais fácil, se outros Planetas habitáveis houver, deixarmos este, a agonizar o fim que lhe impusemos e transferirmo-nos todos para outro e, assim, de planeta em planeta, até já não haver mais onde habitar, porque destruiríamos o Universo e, consequentemente, a nós mesmos. Tudo aponta para uma necessidade, intrínseca e constante, de reformas sérias, quer na vida, quer na sociedade, que permitam a valorização e o respeito pelos valores que mais interessam ao bem de todos, como a justiça, a paz e o amor! Infelizmente, até no campo espiritual, a falta destas importantes atitudes obrigou a reformas isoladas, com evitáveis prejuízos, para ambas as partes. 7.6 Um Cristianismo dividido até na Reforma dita protestante Teremos de reconhecer que, em toda esta caminhada, a Igreja nem sempre esteve à altura de tão elevado ideal. Por isso, no 112


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contexto do nosso tema - “Uma Igreja, duas cristandades muito desiguais” -, e com o desejo superior de mudança de rumo no que concerne ao Cristianismo em geral, é tempo de voltar a olhar para o ensino de Paulo à Igreja da Galácia, com o propósito de os trazer de volta aos sãos princípios:“(...) Porque todos sois filhos de Deus, (ou devíeis ser) pela fé em Cristo Jesus (...) nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois (ou deveis ser) um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:26,28, ACF, parêntesis do autor) À luz do conhecimento que temos hoje, certamente como resultado de uma aprendizagem da história, questiono-me: seria mesmo necessário haver uma Reforma que, mais uma vez, fragmentasse o Cristianismo? Eu próprio respondo com séria convicção: seguramente que Não! Todavia, a Reforma aconteceu dentro da própria Igreja cristã como hoje é conhecida e reconhecida em variados sectores independentes, e não só, como um mal necessário para corrigir erros e apontar novos horizontes. A História veio mostrar quão cara ficou esta Reforma em guerras, perdas materiais e humanas que só a sensatez que imperou no Acordo de Vestefália (1648) veio pôr fim, ainda que não plenamente. Nunca mais deveria voltar a ser necessária uma Reforma isolada, que dividisse aqueles que, afinal, diziam que usavam a mesma Bíblia e se reconheciam por uma mesma identificação (cristãos)! Ainda assim, se tivesse de acontecer, era desejável que não voltasse a ter as mesmas consequências do passado, porque todos devem ter o direito de seguir os ideais que os movem, enquanto mantêm o dever de respeitar os outros. Afinal, todos estamos enfermados por um mal inicial que contaminou e continua a contaminar todas as partes, porque o crescimento cristão, pelas vias da conversão e da conveniência, pode sempre enfermar os dois lados. Não faltam, em todos os grupos cristãos, mesmo nos que aderiram à Reforma, membros que abandonam a fé, por falta de convicções, lutas ou divergências internas que, mais tarde ou mais cedo, acabaram por se transformar em novos grupos fracionados. Por outro lado, também é bem conhecida, nos que não aderi113


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ram à Reforma, aquela terminologia identificadora de fratura: o “praticante” e o “não-praticante”. Que é isso, senão uma fratura na dedicação ou nas convicções? Ora, já na preparação do povo, para o Cristianismo emergente, João Batista declarava, como o entendemos, aos “não-praticantes” que queriam entrar sem dar provas da vontade de mudança, nem conversão: “(...) Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento (...) e não invoqueis o ser filhos de Abraão, porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão.” (Mateus 3:7,8, ACF) Igualmente, pela voz do Fundador do Cristianismo e nos Escritos dos Seus Apóstolos, podemos ver que não se reconheciam os “não-praticantes”, antes pelo contrário! Ou se era cristão ou não se era cristão! Até porque o desafio exigido obrigava a decisão séria: “Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me; porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.” (Mateus 16:24,25, ACF). Assim, nesta mesma expectativa e no forte desejo de uma verdadeira e sã unidade na fé, importa reafirmar que a situação do Cristianismo só se resolve se todas as partes voltarem às origens. Não de qualquer grupo, mas sim do Cristianismo autêntico e original, onde o real desenvolvimento e afirmação só será possível pela via da conversão, tendo por base as magnas orientações do seu Fundador, expressa naquela grande máxima, que se impõe como único acesso válido ao Reino de Deus: “Na verdade, na verdade, te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus (...) O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é espírito (...) O vento assopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito (...) E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. (João, 3:5-16, ACF). É, pois, neste tipo de Cristianismo que o autor destas linhas se 114


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revê, muito embora consciente de que também ele se encontra aquém deste magno ideal, apesar de não desistir de o buscar cada dia, como no dizer de Paulo: “Irmãos; quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prémio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Filipenses 3:13,14, ACF) Nesta análise daqueles desvios, não há qualquer intenção mordaz de criticar os erros dos outros, porque também nós, não obstante o conhecimento adquirido na aprendizagem que a História nos transmite, continuamos imperfeitos, estando ainda nesta carne que tanto nos limita e condiciona! Todavia, importa referir que nos move uma ambição superior! Já é tempo de despertar porque os males de ontem continuarão amanhã, se não forem corrigidos hoje. Precisamos olhar o passado, com o mais elevado desejo de corrigir o presente e construir melhor o futuro. A melhor forma de aprender com a História, tanto na fé como em todos os domínios, é assemelhar sempre a história aos dois “sinais de trânsito” que mais nos protegem: o sentido proibído - não sigas a “rota” que resultou em tragédia para outros, porque te será igualmente desastrosa -, o sentido obrigatório - abraça o “caminho” que teve resultados certos para outros, porque será de bênção, para ti e para os teus. Uma grande máxima de Charles H. Spurgeon, que ajudará sempre a ver as coisas do lado positivo: “É impossível que qualquer mal aconteça ao homem que é amado do Senhor. O mal para ele não é mal, mas o bem manifesto de forma misteriosa: As perdas o enriquecem, a enfermidade é seu remédio, a repreensão é sua honra, e a morte a sua vitória.” 45

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Utilidade: abrange o particular e o coletivo; Vantagem: que pode ser geral ou de auto conveniência; Interesse: por vezes pode até ser perverso; Decência: decoro, dignidade (…); Conformidade: (dentro da forma ou dos padrões estabelecidos);Parecenças: (equivalente a: aparente, superficial e, ou fictício (...) (COSTA, J. Almeida e A. Sampaio e Melo, Dicionário de Língua Portuguesa, 5ª Edição, Porto, Porto Editora, 1990. pág. 370); 33 ESLIN, Jean-Claude, Deus e o Poder, pág.69; 34 ARAÚJO, Luís Manuel de, Mitos e Lendas do Antigo Egipto, pág. 305; 35 ESLIN, Jean-Claude, Deus e o Poder, pág.32; ­­36 Idem, pp. 76 e77; 37 Idem, pág.77; 38 Idem, pp.76 e 77; 39) Idem, pág.79.41) HALLEY Henry, Manual Bíblico, Edições Vida Nova,1971, pág.688. 40 ESLIN, Jean-Claude, Deus e o Poder, pág.91; FERRAZ, Francisco, “Papa Gelásio I - a Teoria das Duas Espadas”, Pitimbu PB, publicado em 11 de abril de 2012, pitimbupb.blogspot. com; consultado a 29 de dezembro de 2017; 42 ESLIN, Jean-Claude, Deus e o Poder, pp.100,101; 43 Idem, pág.107; 44 Idem, pp.243-245; 45 Blog Robério Soares (roberiosoares.com/frases/) 32

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