Apostila Hermenêutica 2

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Conteúdo 1. INTERPRETAÇÃO BÍBLICA ......................................................................................................................2 2. OBJETIVOS DA HERMENÊUTICA: ................................................................................................................2 3. OS PROBLEMAS DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA ....................................................................................2 4. VERSÕES E TRADUÇÕES BÍBLICAS .........................................................................................................6 5. MÉTODO DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA ......................................................................................................7 6. DIFERENÇAS ENTRE AS VERSÕES BÍBLICAS .......................................................................................13 7. CONCEITUAÇÃO DE HERMENÊUTICA E EXEGESE ..............................................................................14 8. O ESPÍRITO SANTO E A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA ............................................................................14 9. MODELO DE METODOLOGIA PARA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA .................................................................15 1º Passo: Análise Histórico-Cultural e Contextual ....................................................................................15 2º Passo: Análise Léxico-Sintática ............................................................................................................15 3º Passo: Análise Teológica ......................................................................................................................15 4º Passo: Análise Literária ........................................................................................................................15 5º Passo: Comparação com Outros Intérpretes .......................................................................................15 6º Passo: Aplicação ...................................................................................................................................16 10. GÊNEROS LITERÁRIOS .............................................................................................................................16 a)

NARRATIVA .......................................................................................................................................17

b)

POESIA ..............................................................................................................................................18

c)

LITERATURA SAPIENCIAL ..................................................................................................................18

d)

EVANGELHOS ....................................................................................................................................18

e)

EPÍSTOLAS .........................................................................................................................................19

f)

PROFECIAS ........................................................................................................................................20

10. FIGURAS DE LINGUAGEM .......................................................................................................................20 11. CONCLUSÃO ...........................................................................................................................................22 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................................24

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INTERPRETAÇÃO BÍBLICA (Introdução à hermenêutica e exegese)

1. INTERPRETAÇÃO BÍBLICA Pregar e ensinar bem traz consigo a necessidade de interpretar de forma correta as santas escrituras. Mas, o que significa “interpretar o texto sagrado”? Podemos definir “interpretação bíblica” como “o ato de entender corretamente o texto sagrado, ou seja, saber o que de fato o escritor, inspirado pelo Espírito, desejava transmitir para os seus leitores ou ouvintes originais e como o texto se aplica aos nossos dias”.

2. OBJETIVOS DA HERMENÊUTICA: 1. Remover as diferenças e distâncias entre o autor e seus leitores: a. "Lá e então" b. "Aqui e agora" "Um texto não pode significar o que nunca significou." (G. Fee, Entendes o Que Lês? p.26) 2. Ligar o abismo entre o estudioso e o leigo (leitor) (o intérprete como mediador) - Uma das Funções do pastor ou pregador leigo é explicar (interpretar) a Bíblia Ne 8.8 - "A missão do intérprete é servir de ponte entre o autor do texto e o leitor." (J.Martínez, Hermenêutica Bíblica, p. 34)

3. OS PROBLEMAS DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA Interpretar a Bíblia não é uma tarefa simplória. Por exemplo, como saber se uma passagem foi escrita apenas para o público alvo original ou também se destina às gerações subsequentes? (1Tm 2.12 “Não permito, porém que a mulher ensine...”), em que situações a passagem pode ter mais de um significado? Nesse caso como descobri-lo? Visto que existem interpretações divergentes das profecias bíblicas, como vamos saber qual é provavelmente a mais correta? Segundo ZUCK (1994, p. 16) “Um dos maiores motivos por que a Bíblia é um livro difícil de entender é o fato de ser antigo. Os cinco primeiros livros do Antigo Testamento foram escritos por Moisés em 1500 a C., Apocalipse – o último livro da Bíblia – foi escrito pelo apóstolo João por volta de 90 d.C.” Tal fato nos revela a necessidade de transpormos alguns “abismos”, dentre os quais:

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1. O ABISMO HISTÓRICO-TEMPORAL Is 1.1; Jr 1.1-2; Mt 2.1; Lc 1.5. Há um abismo histórico-temporal que nos separa dos escritores bíblicos e das culturas primitivas. Precisamos transpor este abismo, se quisermos compreender o significado da revelação. A antipatia de Jonas pelos ninivitas, por exemplo, assume maior significado, quando compreendermos os motivos históricos, que fizeram Jonas desprezar os ninivitas. Um levantamento histórico pode ser realizado tanto internamente nas Escrituras (isto é, através das informações que os próprios livros bíblicos trazem em si mesmos), como por meio de documentos externos. O historiador Judeu, Flávio Josefo, elaborou um documento que é um dos mais importantes documentos históricos para consulta. Outros documentos importantes são os manuscritos de Qumran. Descobertos casualmente em 1947, estes documentos históricos foram copiados entre aproximadamente, 100 a.C. e 50a.d. Eles foram encontrados em 11 grutas na região noroeste do Mar Morto e constituem-se de cerca de 600 manuscritos, dos quais 1/4 são cópias dos livros Bíblicos. Os outros documentos tratam de costumes e comportamentos culturais antigos. A providência de Deus protegeu estes documentos importantes por cerca d 1900 anos. W. F. Albright diz: "Estes manuscritos revolucionaram nosso conhecimento sobre a crítica textual do Antigo Testamento hebraico, da seita dos essênios, como também do background do Novo Testamento". Sem dúvida, o bloqueio histórico, só pode ser transposto através da ajuda encontrada em documentos históricos importantes como estes. 2. O ABISMO GEOGRÁFICO Jo 4.4 - ...passar por Samaria; Lc 10.30 - ...desceu de Jerusalém para Jericó 3. O ABISMO CULTURAL Os quatro aspectos culturais abaixo se sobrepõem: a. Pensamentos (e crenças), b. Fala, c. Ação, d. Produtos. O que alguém pensa afeta seus atos e suas afirmações, pois o que faz precisa estar coerente com aquilo que crê e assim por diante. Veja alguns exemplo bíblicos: Pv. 22.28 (marcos antigos); 2Rs 2.9 (porção dobrada, ver Dt. 21.17); Joel 2.13 (rasgai o vosso coração); Mc 11.12-14 (a figueira amaldiçoada); Mt 3.12 (limpará sua eira); Lc 7.36-38 (começou a regar-lhe os pés).

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Cada um de nós vê a realidade, através de olhos condicionados pela cultura. O conjunto de valores culturais, científicos e ideológicos de uma cultura é o que chamamos de cosmovisão. Com relação à cosmovisão, Garfinkel diz: "É impossível estudar pessoas ou fenômenos como se estivéssemos olhando para um peixe num aquário de uma posição fora do aquário: Cada um de nós está dentro do seu próprio aquário." Em outras palavras, cada cultura tem sua própria cosmovisão. E é Claro que existem cosmovisões bem diferentes entre si. Quando comparamos a cosmovisão da cultura bíblica com a cosmovisão de nossa sociedade atual, existem nítidas diferenças que podem dificultar a interpretação e aplicação de muitas passagens aos dias de hoje. Para entendermos algumas passagens da Bíblia precisamos compreender, a cosmovisão das culturas bíblicas. Como entender, por exemplo, I Coríntios 14:34? Será que esta recomendação se aplica nos mesmos termos aos dias de hoje? Como, era a visão primitiva do universo? Como eram os relacionamentos sociais? A forma de se vestir? De Comercializar? De se educar? Estas questões, quando resolvidas, definem alguns aspectos de como era a cosmovisão das culturas bíblicas. Se falharmos em reconhecer um ambiente cultural que é diferente do nosso, podemos falhar também na interpretação do significado das palavras e ações bíblicas.

4. O ABISMO LÍNGÜÍSTICO A Bíblia foi escrita em hebraico, aramaico e grego — três línguas que possuem estruturas e expressões idiomáticas muito diferentes da nossa própria língua. Estamos habituados a escrever e pensar com frases em nossa língua na sequência sujeito, e predicado. Esta forma de raciocínio e escrita não existe nas línguas primitivas. No grego, não existe a sequência sujeito, verbo, objeto. Existem ainda diferenças nas estruturas verbais, na forma de se organizar as frases, etc... A língua é um grande obstáculo para a interpretação bíblica. Precisamos considerar também que, as línguas evoluem. O português de hoje, possui expressões irreconhecíveis para o português do século XV. E vice versa. A língua é dinâmica e constitui-se como um obstáculo a ser vencido na interpretação das escrituras. A Bíblia foi escrita originalmente na língua hebraica, aramaica e grega. Os autógrafos (manuscritos originais) jamais foram encontrados. O que dispomos são de cópias destes originais. •

O primeiro NT Grego impresso foi publicado por Erasmo de Roterdã em 1516, compilado a partir de uns poucos manuscritos do séc. XII 4


ou mais recentes. Após várias revisões tornou-se muito importante, vindo a ser designado de “textus receptus” ou “texto recebido”. No séc. XIX foi descoberto um grande número de manuscritos mais antigos (séc. IV) e, alguns deles, em melhor estado de conservação. Com isso, em 1898, Eberhard Nestlé publicou um NT Grego sustentado na comparação de um número maior de manuscritos, que recebeu a designação de “texto crítico”. Não existe atualmente uma unanimidade entre os eruditos de qual texto seja o melhor, embora o texto crítico leve alguma vantagem no meio acadêmico. •

O texto hebraico que se tornou a base das traduções do AT é designado de “texto massorético”, devido ser fruto do trabalho de alguns doutores judeus (massoretas), durante o período do hebraico rabínico (séc. III a VI d.C.), dotando o texto consonantal hebraico com sinais vocálicos (sinais massoréticos). Desde seu aparecimento em 1977, a Bíblia Hebraica Stuttgartensia (BHS), vem sendo considerada a edição crítica padrão do texto massorético para o mundo erudito e acadêmico, substituindo assim a Bíblia Hebraica 3 de Rudolf Kittel e Paul E. Kahle, editada em 1929-1937, texto crítico mais utilizado pelos eruditos durante o século XX. A base textual da BHS é o Códice de Leningrado, escrito por Samuel Ben Jacó, no Cairo, Egito, no início do séc. XI, sendo o mais antigo documento massorético que contém a totalidade do texto da Bíblia Hebraica.

5. O ABISMO TEXTUAL OU LITERÁRIO Quanto mais você conhecer os modelos, os estilos e os formatos dos diversos elementos de um livro bíblico, mais compreenderá, mais conhecerá seu objetivo e suas características singulares. Texto: Do latim textus (tecido, entrançadura) diz respeito a um conjunto de elementos ligados entre si (palavras, frases, etc). Uma expressão linguística demonstra ser um texto quando as suas partes remetem umas às outras e só podem ser explicados na sua relação mútua. Com a leitura de um texto começa automaticamente a compreensão. O leitor atribui às palavras o sentido por ele conhecido (subjetivo). Todavia, a primeira leitura não garante que a compreensão seja exata, havendo o risco de incompreensão total, parcial e equívocos, isto devido a algumas limitações por parte do leitor. Compreensão: Para chegar a uma compreensão real do texto é importante o estudo do estilo e da forma do texto, pois influencia o modo como o texto será entendido. Por “estilo” pretendo focar nas palavras e formas de expressão características de cada autor bíblico; por “forma” o hermeneuta deve olhar para a estrutura sintática da frase, da oração e dos períodos 5


4. VERSÕES E TRADUÇÕES BÍBLICAS Tradução: Do latim traductione, é o ato de transpor um composição literária de uma língua para outra. Versão: Do latim versione, é uma tradução da língua original para outra língua. O termo “versão” é usado simultaneamente, com o vocábulo “tradução” Revisão: Do latim revisione, é o ato ou efeito de rever através de um novo exame do texto, com o objetivo de corrigir erros de tradução ou introduzir emendas ou substituições, visando à integridade e contextualização do mesmo.

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5. PRESSUPOSIÇÕES GERAIS DA HERMENÊUTICA O que é uma pressuposição? O filósofo Hilton Japiassu define o termo da seguinte forma: "Algo que se toma como previamente estabelecido, como base ou ponto de partida para um raciocínio ou argumento". Outra definição é: Pressuposição é uma afirmação ou ponto de vista que tomamos como base para um conjunto de argumentos ou teoria que nos propomos a desenvolver. 3.2 Toda ciência tem pressuposições Toda teoria científica tem pressuposições. Quando Isac Newton formulou suas teorias, ele formulou três pressuposições, que ficaram popularmente conhecidas como as três leis de Newton. Estas leis físicas foram estabelecidas como a base de toda sua teoria. A teologia também possui pressupostos. Quando estudamos Deus pressupomos que Ele existe. Quando usamos a Bíblia para justificar nossas crenças, pressupomos que ela é um livro que tem autoridade espiritual. Em muitas circunstâncias da vida humana agimos impulsionados por pressupostos. Se resolvemos ir para um seminário pressupõe-se que o aluno tenha um chamado ou vocação. Ou apenas o interesse de adquirir conhecimento teológico. Quando uma pessoa viaja do Brasil para o Japão pressupõe-se pelo menos que: (1)A pessoa tem a passagem. (2)A aeronave tem boas condições de viagem. (3)O passageiro possui passaporte. (4) O piloto sabe dirigir o aparelho. No processo de estudo hermenêutico, temos também pressuposições que norteiam as nossas reflexões. Examinaremos algumas pressuposições que utilizaremos em nosso estudo. Quais são as pressuposições da hermenêutica? Pressuposição I: A Bíblia tem autoridade espiritual e normativa. A Bíblia deve ser fonte única de autoridade e fé. As outras fontes podem falhar. Conforme II Timóteo 3:16, a Bíblia foi inspirada por Deus. Por isso ela é o nosso único instrumento de fé e prática. Pressuposição II: A Bíblia é inspirada. A forma como encaramos a teoria da inspiração, é um fator de influência determinante sobre a nossa interpretação. Se um estudioso é influenciado pelo antissobrenaturalismo, então sua interpretação bíblica elimina quaisquer possibilidades de milagres e intervenção do sobrenatural no natural. Pressuposição III: Há muitas questões tratadas na Bíblia, que são explicadas e provadas pela fé, e não por via racional.

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Um exemplo desta questão é o fato da Bíblia pressupõe a pressupor a existência de Deus não tratando de prová-la. Na linha inicial da revelação temos: "No princípio criou Deus...". A revelação pressupõe a existência de Deus. Nesta mesma revelação, não temos argumentos lógicos com a finalidade de comprovar a existência de Deus. Inúmeras outras questões explicam-se por meio da fé, como o nascimento virginal de Cristo, os milagres, relatos sobrenaturais como o do mar vermelho, a multiplicação de pães e peixes, mortos que foram ressurretos, as inúmeras profecias bíblicas, etc... Estas e outras questões exigem do leitor da Bíblia uma disposição de intelectual favorável ao exercício da fé em plano superior ao da razão. Pressuposição IV: É necessário influencia espiritual para uma correta compreensão das escrituras Será que uma pessoa sem o Espírito Santo pode entender a revelação? Sim. Porém esse entendimento será orientado em uma direção diferente dos objetivos do criador. Temos visto muitas pessoas revelarem suas interpretações sobre a revelação. Alan Kardec, por exemplo, elaborou os evangelhos segundo o Espiritismo.

6. MÉTODO DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA Como sabemos e afirmamos a Bíblia é a Palavra de Deus. No entanto, certas interpretações derivadas dela não são. Muitas seitas e até alguns grupos que se denominam cristãos que usam a Bíblia declaram que as suas interpretações são as corretas. Muito frequentemente, no entanto, as interpretações não apenas diferem dramaticamente umas das outras, como são claramente contraditórias. Isto não significa que a Bíblia seja um documento contraditório. Antes, o problema está naqueles que a interpretam e/ou nos métodos que eles usam. Uma vez que somos pecadores, somos incapazes de interpretar perfeitamente a palavra de Deus todo o tempo. O corpo, a mente, a vontade e as emoções foram afetadas pelo pecado e impossibilitam a interpretação 100% exata. Isto não significa que entender corretamente a palavra de Deus seja impossível. Mas que devemos nos aproximar da Sua palavra com cuidado, humildade e com a razão. A direção do Espírito Santo na interpretação das Escrituras é o melhor benefício que temos. Além do mais, a Bíblia é inspirada por Deus e dirigida ao Seu povo. O Espírito Santo nos ajuda a compreender o que a Palavra de Deus significa e como aplicá-la em nossas vidas. No nível humano, para minimizar os erros que possam vir pelas nossas interpretações, precisamos conhecer métodos básicos de interpretação da Bíblia. Abaixo temos alguns destes princípios na forma de questões para serem aplicadas a uma passagem das Escrituras. Os seguintes princípios podem ser seguidos como linhas-mestras para examinar uma passagem. Eles não são exaustivos e nem absolutos. 1. Quem escreveu/falou a passagem e para quem era endereçada? 8


2. 3. 4. 5. 6.

O que a passagem diz? Existe alguma palavra ou frase nesta passagem que precise ser examinada? Qual é o contexto imediato? Qual é o contexto mais amplo exposto no capítulo e no livro? Quais são os versículos relacionados ao assunto da passagem e como eles afetam a sua compreensão? 7. Qual é o fundo histórico e cultural? 8. Qual a conclusão que se pode tirar desta passagem? 9. As minhas conclusões concordam ou discordam de áreas relacionadas nas Escrituras ou com outras pessoas que já estudaram esta passagem? 10. O que eu posso aprender e aplicar à minha vida?

A fim de ajudar a entender como estas questões podem afetar a sua interpretação de uma passagem, vamos examinar uma atentamente, quem sabe pode fazer você chegar a conclusões muito diferentes. Você vai determinar a exatidão da interpretação abaixo. A passagem é Mt 24:40 "Dois homens estarão no campo; um será levado e o outro será deixado". 1. Quem escreveu/falou a passagem e para quem era endereçada? Jesus pronunciou as palavras e elas foram registradas por Mateus. Jesus falou aos Seus discípulos em resposta a uma pergunta, que iremos ver mais tarde. 2. O que a passagem diz? A passagem diz simplesmente que um dos dois homens que estão fora, no campo, será levado. Ela não diz onde, porque, quando, ou como. Ela só diz que um será levado. Ela não define que o campo pertença a alguém ou a algum lugar em particular. 3. Existe alguma palavra ou frase nesta passagem que precise ser examinada? Nenhuma palavra, nesta passagem em particular, realmente necessita que nós a examinemos cuidadosamente, mas para seguir este exercício, vamos usar a palavra "levar". Usando uma Concordância de Strong e um Dicionário de Palavras do Novo Testamento, podemos verificar qual é a palavra grega e aprender a respeito dela. A palavra no Grego é "paralambano". Ela significa: "1) tomar, tomar para si mesmo, trazer para junto de si, 2) receber alguma coisa por transmissão." Um ponto que vale a pena mencionar acerca do estudo das palavras é que o seu significado pode mudar de acordo com o seu contexto. Assim, examinando como a palavra é usada em múltiplos contextos, o seu significado pode se alterar. Por exemplo, a palavra "amor", no grego é "agapao." Ela geralmente refere-se ao "amor 9


divino." Isto pode parecer óbvio, já que esta é a palavra usada em Jo 3:16 com este significado. No entanto, a mesma palavra é usada em Lc 11:43, onde Jesus diz: "Ai de vocês, fariseus, porque amam os lugares de honra nas sinagogas e as saudações em público!" (NVI). A palavra usada aqui é "agapao." Parece que o significado da palavra pode tornar-se alguma coisa na linha de "totalmente comprometido com." No entanto, nós devemos tomar o cuidado de não usar o significado de uma palavra em um contexto em outro contexto. Por exemplo: 1) Este novo cadete é verde. 2) A árvore é verde. O primeiro verde significa "novo ou inexperiente." O segundo significa a cor verde. Poderíamos impor o significado de um contexto em outro? Sim, mas não seria uma boa ideia. 4. Qual é o contexto imediato? É o lugar onde a passagem está inserida. O contexto imediato da nossa passagem é o seguinte, Mt 24:37-42, "Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do Homem. Pois nos dias anteriores ao dilúvio, o povo vivia comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca; e eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá na vinda do Filho do Homem. Dois homens estarão no campo: um será levado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo num moinho: uma será levada e a outra deixada. Portanto, vigiem, porque vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor" (NVI). Imediatamente podemos perceber que a pessoa levada no verso 40 é comparada a pessoa levada no verso 39. Isto é, que as pessoas que foram "levadas" são do mesmo tipo. Uma pequena questão precisa ser feita agora. Quem foi levado no verso 39? Foi Noé e sua família ou foram as pessoas que estavam comendo e bebendo? A resposta a esta pergunta pode nos ajudar a entender melhor a passagem original. O próximo passo na interpretação da passagem nos ajudará a entendê-la ainda mais. 5. Qual é o contexto mais amplo exposto no capítulo e no livro? Uma passagem deve ser sempre examinada dentro do seu contexto. Não apenas no contexto dos versos imediatamente antes e depois dela, mas também no contexto do capítulo e até do livro na qual ela está escrita. O discurso de Jesus do qual esta passagem foi tirada, começa com uma pergunta. Jesus tinha acabado de sair do templo e no verso 2 disse aos Seus discípulos que "..não ficará aqui pedra sobre pedra; serão todas derrubadas." Então no versículo 3, os discípulos perguntam a Jesus: "Dize-nos quando acontecerão essas coisas? E qual será o sinal da sua vinda e do fim dos tempos?" (NVI). Então, Jesus começa a profetizar acerca das coisas que viriam no fim dos 10


tempos. Ele falou de falsos Cristos, tribulação, do sol se escurecendo, do Seu retorno e dos dois homens no campo onde um será levado e outro será deixado. O contexto é escatológico. Isto significa que ele está tratando das últimas coisas, ou do tempo próximo ao retorno de Jesus. Muitas pessoas acham que este versículo de Mt 24:40 refere-se ao arrebatamento mencionado em 1 Ts 4:16-17. Pode ser. Mas é interessante notar que o contexto do versículo sugere que o mau é que será levado, e não o bom. Neste momento você pode estar pensando que este método de interpretação da passagem não é bom. Depois de tudo, o verso "um será levado e o outro deixado" é realmente acerca do arrebatamento. Certo? Bem, pode ser. Como você pode ver, nós todos chegamos à Bíblia com ideias pré-concebidas. Algumas vezes elas estão certas, outras, erradas. Nós sempre deveríamos estar prontos a ter a nossa compreensão da Bíblia desafiada pelo que é dito. Se nós não estivermos dispostos, então somos presunçosos. E Deus está distante do soberbo ( Sl 138:6).

6. Quais são os versículos relacionados ao assunto da passagem e como eles afetam a compreensão desta? Acontece que existe uma passagem relacionada, na verdade, paralela, encontrada em Lc 17:26-27. "Assim como foi nos dias de Noé, também será nos dias do Filho do Homem. 27O povo estava comendo, bebendo, casando-se e sendo dado em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. Então veio o dilúvio e destruiu a todos. "(NVI). Rapidamente, nós descobrimos que estes versos relacionados sem dúvida afetam a nossa maneira de entender a passagem inicial. Está claro nesta passagem de Lucas que aqueles que foram levados pelo dilúvio eram aqueles que estavam comendo, bebendo e se dando em casamento . Em outras palavras, não foram as pessoas boas que foram levadas, foram as más. Como você pode ver, isto tem um profundo impacto na maneira como compreendemos nossa passagem em Mt 24:40. O contexto não sugere que aquele que está no campo que será levado não é o mau? Como este contexto afeta as minhas ideias pré-concebidas acerca deste verso? Vamos ler o versículo novamente, mas agora dentro do seu contexto imediato: Mateus 24:37-42, "Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do Homem. 38 Pois nos dias anteriores ao dilúvio, o povo vivia comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca; 39 e eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá na vinda do Filho do Homem. 40 Dois homens estarão no campo: um será levado e o outro será deixado. 41Duas mulheres estarão moendo num moinho: uma será

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levada e a outra deixada. 42 Portanto, vigiem, porque vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor" (NVI). O que é que você acha agora? Quem foi levado, o bom ou o mau? Então, este verso faz referência ao arrebatamento ou não? Só perguntando. De interesse correlato é uma passagem em Mt 13:24-30 onde Jesus conta a parábola do semeador que semeou a boa semente no seu campo e alguém, depois, semeou joio. Os servos perguntaram se eles deveriam ir imediatamente e arrancar o joio. Mas, no verso 30, Jesus diz "Deixem que cresçam juntos até a colheita. Então direi aos encarregados da colheita: juntem primeiro o joio e amarrem-no em feixes para ser queimado; depois juntem o trigo e guardem-no no meu celeiro." (NIV) O ponto digno de nota aqui é que o primeiro a ser ajuntado é o joio, e não o trigo. Isto fica ainda mais interessante quando Jesus explica a parábola em Mt 13:3643 e estabelece que eles serão atirados à fornalha. Adicionalmente, quando nos voltamos para Lc 17, que é a passagem paralela de Mt 24, nós descobrimos que os discípulos fizeram a Jesus outra pergunta por causa da resposta de Jesus que dizia "dois estarão no campo e um será levado." No verso 37 eles perguntam, "Onde, Senhor?" perguntaram eles. Ele [Jesus] respondeu, "Onde houver um cadáver; ali se ajuntarão os abutres." Eles serão levados a um lugar de morte. 7. Qual é o fundo histórico e cultural? Esta é uma questão mais difícil de responder. Ela requer um pouco mais de pesquisa. Um comentário é digno de ser examinado aqui, já que ele usualmente provê um pano de fundo histórico e cultural para ajudar a desvendar o texto. Neste contexto, Israel estava debaixo da lei romana. Eles estavam proibidos de exercer a punição capital (pena de morte) e de custear uma guerra. Roma estava dominando a pequena nação. O judaísmo era tolerado apesar da liderança romana. Além de tudo, Israel era um pequeno país oriental com um povo que era fanático pela sua religião. Então, Roma permitiu que Israel fosse governado por políticos judeus marionetes. O templo era o lugar de adoração da comunidade israelense. Ali os sacrifícios de sangue eram oferecidos pelo sumo sacerdote para a expiação dos pecados da nação. Levaram 46 anos para construí-lo (Jo 2:20). Jesus disse que o templo seria destruído; o que gerou a pergunta que O levou a fazer o discurso que contém a passagem examinada. 8. Qual a conclusão que tiramos desta passagem? Desde que o contexto da passagem sugere que o mau é que será levado, eu estou concluindo que aquele que será levado no campo não será o bom, mas sim o mau. Eu também sou tentado a concluir que o maus serão levados ao lugar de julgamento. 12


9. As minhas conclusões concordam ou discordam de áreas relacionadas nas Escrituras ou com outras pessoas que já estudaram a esta passagem? Eu já apresentei outras passagens que me permitem chegar a conclusão que cheguei. No entanto, isto não está de acordo com todos os comentários que eu tenho lido acerca deste verso. Neste ponto é necessário apresentar a conclusão a outros para ver o que eles pensam. Só porque eu estudei a Palavra e cheguei a uma conclusão não significa que ela esteja correta. Mas não significa que esteja errada, no entanto. Consultar outras pessoas, examinar a palavra de novo e buscar a Deus humildemente e a sua iluminação. Eu só posso ter a esperança de chegar à melhor conclusão possível acerca da passagem. 10. O que podemos aprender e aplicar à vida cristã? A Interpretação da Escritura tem um propósito: Entender a Palavra de Deus mais exatamente. Com um melhor entendimento da Sua palavra, nós poderemos aplicá-la à área a que ela se destina. No nosso caso, a passagem revela uma área do futuro e uma época de julgamento. A aplicação, então, é que Deus executará o julgamento sobre os injustos no fim dos tempos. Concluindo: Este artigo é somente uma demonstração. Ele é básico e não cobre todos os pontos da interpretação bíblica. Mas isto já dá uma direção e um exemplo de como você deve aplicar. Como eu disse antes, ore. Leia a Sua Palavra. Examine as Escrituras o melhor que você puder para um melhor entendimento e melhor preparo. Seja humilde na sua abordagem e teste tudo o que concluir pela própria Bíblia.

6. DIFERENÇAS ENTRE AS VERSÕES BÍBLICAS Nos deteremos analisando alguns exemplos de diferenças em virtude dos textos em grego e hebraico • •

Ap 1.5 RC – Lavou Ap 1.5 RA – Libertou, livrou

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Lc 14.5 RC - ...o jumento Lc 14.5 RA - ... o filho

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Mt 12.40 RC – Baleia Mt 12.40 RA – Grande peixe

Jó 41.22 RC – ... salta de prazer 13


Jó 41.22 RA – ... salta o desespero

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Sl 68.4 RC - ... o seu nome é JÁ Sl 68.4 RA - ... SENHOR é o seu nome

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Mt 21.28-31 RC – Não quero. Mas depois, arrependendo-se, foi. Mt 21.28-31 RA – Sim, senhor; porém não foi.

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Lc 1.28 RC – Bendita és tu entre as mulheres Lc 1.28 RA – Omite a frase

Rm 8.1 RC - ... que não andam segundo a carne mas segundo o espírito Rm 8.1 RA – Omite a frase

A transposição de tais abismos dará ao intérprete e pregador da palavra uma maior segurança no falar, adquirindo dos seus ouvintes uma maior confiança, despertando-os também para um crescente desejo de conhecer mais e melhor a Bíblia, onde isto deverá resultar na transformação, santificação, e consagração de vidas para o serviço cristão.

7. CONCEITUAÇÃO DE HERMENÊUTICA E EXEGESE O termo “hermenêutica” deriva do verbo grego hermeneuein, usualmente traduzido por “interpretar”, e do substantivo hermeneia (ερµενεια), que significa “interpretação”. A palavra “exegese”, do grego eksegesis (εξηγησις) de eksegeomai (εξηγεοµαι) significa “explicar, interpretar, contar, descrever, relatar”. •

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Hermenêutica Bíblica: é a disciplina da teologia exegética que ensina as regras para interpretar as Escrituras e a maneira de aplicá-las corretamente. É a ciência da compreensão de textos bíblicos. Exegese: é a aplicação dos princípios hermenêuticos para chegar a um entendimento correto sobre o texto. É o estudo do sentido literal do texto. É a ciência da interpretação. É a extração dos pensamentos que assistiam ao escritor ao redigir determinado documento. Na exegese o exame do texto é feito para extrair entendimento e não incutir no texto o seu entendimento (eisegese). Hermenêutica Bíblica: Analisa o sentido que o texto tem hoje para nós. Exegese: Procura estudar o sentido que o autor quis atribuir ao texto sagrado.

8. O ESPÍRITO SANTO E A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA Os métodos de interpretação bíblica não anulam a ação do Espírito Santo (iluminação, conf. Ef 1.18; Hb 6.4; 10.32, do grego ϕωτιζω, photizo), antes cooperam com o mesmo para o entendimento das verdades sagradas. 14


9. MODELO DE METODOLOGIA PARA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA Um procedimento hermenêutico de seis passos O pressuposto fundamental da hermenêutica é que o significado de um texto deve ser aquele que o seu autor tinha em mente ao escrevê-lo, e não os significados que parecem fazer mais sentido ou sejam mais convenientes para nós hoje. Um procedimento hermenêutico que pode ajudar a chegarmos ao significado de um texto para nós é apresentado por Virkler: 1º Passo: Análise Histórico-Cultural e Contextual

Consideramos o ambiente histórico-cultural do autor para melhor compreendermos suas alusões e objetivos. A análise contextual visa relacionar uma passagem com o texto completo do autor para que, considerando o seu pensamento geral, venhamos a ter um melhor entendimento de um texto em particular. 2º Passo: Análise Léxico-Sintática

Visa compreendermos a definição das palavras (lexicologia) e sua relação com as outras (sintaxe) para que entendamos melhor o sentido texto. Neste momento é fundamental um bom conhecimento de português e, se possível, de grego e hebraico. 3º Passo: Análise Teológica

Consideramos o nível de conhecimento teológico do público alvo na época em que o texto foi escrito, levando em conta os textos correlatos, procurando dar uma melhor compreensão do significado do texto para seus primeiros destinatários. 4º Passo: Análise Literária

Identifica a forma ou método literário utilizado numa passagem em particular (metáforas, hipérboles, antropomorfismos, etc.) visando uma interpretação mais adequada, uma vez que cada estilo literário utiliza métodos diferentes de expressão e, consequentemente, de interpretação. 5º Passo: Comparação com Outros Intérpretes

Comparar o produto dos quatro passos acima com trabalhos de outros intérpretes sobre do mesmo texto.

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6º Passo: Aplicação

Traduzir o significado original do texto, obtido pelos 5 passos acima, para a nossa própria época e cultura.

10. GÊNEROS LITERÁRIOS O Gênero Literário compreende o conjunto de textos que apresentam a mesma estrutura formal básica, acrescidos de conteúdos ou outras características similares. Fala-se de gênero, portanto, quando ditos ou narrativas apresentam um conjunto de formas idênticas, acrescidas de outros elementos comuns. No material narrativo temos os gêneros dos relatos de milagres, das controvérsias, dos relatos da paixão, entre outros.

Material narrativo - Relatos de milagres, subdivididos em milagres de cura e da natureza. - Narrativas históricas e lendas, que compreendem várias narrativas da pré-história e infância de Jesus (Mt 1,18-25; 2,1-23; Lc 1,26-38); os textos do batismo, da tentação e transfiguração (Mc 1,9-13; Mt 4,1-11 e Mc 9,2-10);

Material discursivo - Apotegmas (ditos sentenciosos de pessoas célebres, sentenças, máximas, proposições, provérbios), que podem ser subdivididos em: apotegmas de controvérsias (Mc 2,23-28 e 3,1-6) apotegmas biográficos (Mc 1,16-20; 6,1-6 e 10,13-16)

- Ditos de Jesus, subdivididos em ditos sapienciais, proféticos e apocalípticos, ditos legais e regras eclesiásticas, ditos a narrativa da paixão e os relatos da iniciados com “eu”, e parábolas ou ressurreição e das aparições aos palavras similares. discípulos. Os gêneros estão diretamente ligados às necessidades comunidades às quais o texto é dirigido. Assim, por exemplo:

e

tarefas

das

-gênero dos paradigmas: narrativas breves e sucintas, sem descrição de pormenores históricos, que costumam culminar num dito incisivo de Jesus, com o objetivo da pregação. 16


-gênero dos ditos de Jesus: têm a tarefa da parênese, ou seja, a necessidade de orientar a conduta dos cristãos. Parênese vem do grego, "exortação" ou admoestação". Escrito, homilias, conversas... de caráter exortativo, mais que doutrinal. -gênero das narrativas de milagres: com o objetivo de fomentar a fé e a cura no interior das comunidades

a) NARRATIVA

Narrativa bíblica é uma história relatada com o intuito de transmitir uma mensagem por meio das pessoas e de seus problemas e circunstâncias. Pode haver seis tipos de narrativa: i.

Tragédia A tragédia é a história da decadência de um indivíduo, do apogeu ao desastre. As vidas de Sansão, Saul e Salomão são exemplos de tragédia.

ii.

Épico Um épico é uma narrativa que contém uma série de episódios centralizados numa pessoa ou num grupo de pessoas. Exemplo disso é a peregrinação dos israelitas no deserto.

iii.

Romance O romance é uma narrativa que aborda a relação romântica entre um homem e uma mulher. Os livros de Rute e Cantares apresentam esse tipo de narrativa.

iv.

Heroico O estilo heroico consiste numa história tecida em torno da vida e dos feitos de um herói ou protagonista, uma pessoa que por vezes representa outros ou é um exemplo para outros. Abraão, Gideão, Davi, Daniel e Paulo enquadram-se neste caso.

v.

Sátira A narrativa satírica trata da exposição das falhas ou da loucura humanas por meio da ridicularização ou da crítica. O livro de Jonas é uma sátira, visto que Jonas, na qualidade de representante de Israel, é ridicularizado por rejeitar o amor universal de Deus. Ironicamente, ele estava mais preocupado com uma planta do que com os pagãos de Nínive. Outra ironia é que Deus compadeceu-se do profeta, embora este não se tivesse compadecido dos ninivitas. Muitos dos que leem o livro de Jonas reparam que a história termina de maneira 17


abrupta, aparentemente sem que o problema da ira do profeta tivesse sido resolvido. O motivo está justamente no fato de que é assim que as sátiras geralmente terminam. A humilhação de Jonas é um bom final para uma sátira, e os israelitas haveriam de enxergar no comportamento do profeta um reflexo de si próprios e de sua atitude para com as nações pagas. (O fato de que o livro de Jonas foi escrito em tom de sátira não anula de forma alguma sua historicidade.) vi.

Polêmica Uma narrativa polêmica é aquela que ataca agressivamente ou contesta as ideias de terceiros. Temos exemplos desse estilo no episódio da "contenda" de Elias com os 450 profetas de Baal (1Reis 18.16-46) e nas dez pragas contra os deuses e deusas do Egito.

b) POESIA

Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares são os cinco principais livros poéticos do Antigo Testamento. Contudo, há poesia em muitos dos livros proféticos. A poesia hebraica desconhece a rima e a métrica, mas é caracterizada por paralelismo entre duas (e às vezes três ou quatro) linhas. c) LITERATURA SAPIENCIAL

Os livros de sabedoria são Jó, Provérbios e Eclesiastes. (Alguns incluem Cantares nesse grupo.) Toda literatura sapiencial tem caráter poético, mas nem todo texto poético pertence à literatura sapiencial. Podem-se ver dois tipos de literatura sapiencial nesses livros. Um é a literatura proverbial, que é o caso do livro de Provérbios. Os provérbios ou as máximas são verdades gerais fundamentadas na larga experiência e na observação. São princípios que, em geral, mostram-se verdadeiros. Consistem em diretrizes, não em garantias; preceitos, não promessas. Por exemplo, embora seja geralmente verdade que uma pessoa preguiçosa ficará pobre, podem-se constatar no cotidiano algumas exceções a essa máxima. Outro exemplo é que a piedade normalmente proporciona vida longa, como afirmam vários provérbios, mas já se constataram algumas exceções. Outro tipo de literatura sapiencial é a reflexiva. Ela compreende uma discussão sobre os mistérios da vida, como acontece em Jó e em Eclesiastes. d) EVANGELHOS

Algumas pessoas encaram os quatro evangelhos como narrativas históricas, como livros que foram escritos simplesmente para registrar informações biográficas sobre a vida de Cristo. É claro que não se trata de biografias no sentido comum da palavra, pois excluem muitos aspectos da 18


vida de Cristo que normalmente seriam encontrados numa biografia histórica. Os evangelhos contêm uma boa quantidade de material biográfico sobre Cristo, mas são mais do que biografias. São doutrina e narrativa, que visam a apresentar informações sobre a pessoa de Jesus Cristo. Os ensinamentos de Jesus por meio de parábolas e de discursos diretos são intercalados com registros de seus milagres e encontros com outras pessoas. "Os evangelhos são conjuntos de histórias com uma carga de ação bem maior do que seria normal encontrar numa narrativa. O grande objetivo das histórias dos evangelhos é explicar e louvar a Pessoa e a obra de Jesus [...] mediante seus atos, suas palavras e as reações dos outros para com ele.

e) EPÍSTOLAS

As epístolas normalmente incluem dois tipos de textos: a) discurso expositivo, que explica determinadas verdades ou doutrinas, quase sempre apoiado na lógica, e b) discurso exortativo, que exorta a seguir determinados comportamentos ou à aquisição de certas características em face das verdades expostas no texto. Quanto ao formato, as epístolas geralmente começam por citar o autor, o destinatário (a pessoa ou pessoas a quem a epístola foi endereçada), saudações e, com frequência, mas nem sempre, agradecimentos por algum tipo de atitude ou pela conduta ou caráter dos leitores. É claro que as epístolas não são como as cartas comuns, visto que transmitem mensagens de Deus, sendo que alguns dos autores afirmam explicitamente que foram escritas sob a inspiração divina, do Espírito Santo, o texto é comunicado com autoridade apostólica e deve ser lido nas igrejas. Este último ponto aplica-se até mesmo a uma carta de caráter supostamente particular, como 2 Timóteo, pois a epístola termina em 2 Timóteo 4.22 com a palavra convosco (plural). Paulo pode ter dado a entender sutilmente que Timóteo deveria ler a carta para outros. (Isso mostra mais uma vez a importância de reparar em detalhes de gramática, como vimos no capítulo 5.) Muitas das epístolas foram endereçadas a grupos específicos de cristãos ou a indivíduos (como Timóteo, Tito e Filemon). Diante desse fato, surge a pergunta de como devemos relacionar a nós, hoje, as epístolas e as situações específicas nelas abordadas. O capítulo 12 trata com mais detalhes dessa questão, mas já agora vale dizer que o intérprete da Bíblia deve atentar nas epístolas para certas instruções de natureza nitidamente universal e, portanto, válidas em todas as épocas e culturas. Além disso, é importante diferenciar entre os princípios e as aplicações específicas.

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f) PROFECIAS

A literatura profética consiste em textos que trazem predições feitas na época de sua redação e, com frequência, incluem determinações para que os ouvintes da profecia modifiquem suas vidas em função das predições. No Antigo Testamento, por exemplo, foi dito aos israelitas para preparem seus corações para a vinda do Messias — Jesus Cristo. O arrependimento de pecados era um ingrediente que costumava acompanhar as predições sobre o retorno do Senhor e os acontecimentos decorrentes. Há um tipo especial de literatura profética — os textos apocalípticos. A ênfase neste caso recai exclusivamente no fim dos tempos, e o estilo é simbólico.

10. FIGURAS DE LINGUAGEM A figura de linguagem é uma forma de expressão em que as palavras usadas comunicam um sentido não literal. É uma representação legítima que pretende comunicar mais clara e graficamente uma ideia literal. • Dá vida e cor a uma passagem • Chamar a atenção • Tornar ideias abstratas mais completas • Ajudar a guardar informações • Abreviar uma ideia - João 1:29 • Encorajar reflexão, ponderação - Salmo 52:8 A seguir temos um quadro com as principais figuras de linguagem e também alguns textos como exemplo. FIGURA DE LINGUAGEM

Metáfora

CARACTERÍSTICAS Uma semelhança entre dois objetos ou fatos, caracterizando-se um com o que é próprio do outro. A metáfora é uma comparação mais forte que o símile, pelo fato de que há equivalência direta posta entre os dois objetos.

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EXEMPLO João 15:1 Mateus 5:13 João 10:9 João 14:6 Jeremias 50:6 Gênesis 49:9


Sinédoque

Metonímia

É tomar a parte pelo todo ou o todo pela parte, o plural pelo singular, o gênero pela espécie, ou vice-versa. Ela trata mais de ideias e conceitos.

Salmo 16:9 Atos 24:5 Gênesis 6:12 Romanos 1:16

É o emprego de um nome por outro com o qual tem relação. É empregar a causa pelo efeito, ou o sinal ou símbolo pela realidade que indica o símbolo

Lucas 16:29 João 13:8 1 João 1:7 1 Coríntios 10:21 Hebreus 13:4

Prosopopeia

Ironia

Hipérbole

É a personificação das coisas inanimadas, atribuindo-se lhes os feitos e ações das pessoas.

Isaías 55:12 Salmo 85:10-11

É a expressão do contrário do que se quer dizer, porém sempre de tal modo que se faz ressaltar o sentido verdadeiro.

1 Reis 18:27

É um exagero para dar ênfase, representando uma coisa com muito maior ou menor grau do que em realidade é, para apresentá-la viva à imaginação.

Números 13:33

Jó 12:2

Dt.1:28 João 21:25 Mateus 5:29,30

Alegoria

É uma ficção em que se admite um sentido literal, exigindo, todavia, uma interpretação figurada. São várias metáforas unidas.

João 6:51-65 Salmo 80:8-13

Fábula3

Uma alegoria histórica.

2 Reis 14:9

Enigma

Um tipo de alegoria, porém sua solução é difícil e abstrata.

Juízes 14:14

Uma classe de metáfora que não consiste meramente em palavras, mas em fatos, pessoas ou objetos que designam fatos semelhantes, pessoas ou objetos no porvir. É prefigurativo.

João 3:14

Tipo

Símbolo

Parábola

Símile

É uma espécie de tipo pelo qual se representa alguma coisa ou algum fato por meio de outra coisa ou fato familiar que se considera a propósito para servir de semelhança ou representação. É ilustrativo. É uma espécie de alegoria apresentada sob forma de uma narração, relatando fatos naturais ou acontecimentos possíveis, sempre com o objetivo de declarar ou ilustrar uma ou várias verdades importantes. É um símile ampliado. 1. Identificar a situação que originou a parábola 2. Ver qual é a verdade que está sendo ensinada. É uma comparação expressa pelas palavras semelhante ou como. A ênfase recai sobre algum ponto de Similaridade entre duas ideias, grupos, ações, etc. 21

Mateus 12:40

Batismo Ceia 2 Reis 13:14-19 Mateus 13:3-8 Lucas 18:10-14 João 15

1 Pedro 1:24 Salmo 1:3,4


Apóstrofe

Antítese

Provérbio

Paradoxo

Personificação

É uma figura usada pelo orador, no discurso. Consiste em Jeremias 47:6 Salmo interrompê-lo subitamente, para dirigir a palavra, ou invocar 114:5-8 Isaías 14:9-32 alguma pessoa ou coisa, presente, ausente, real ou Deuteronômio 32:1 imaginária. Inclusão, na mesma frase, de duas palavras, ou dois pensamentos, que fazem contraste um com o outro.

Mateus 7:13-14 Mateus 7:17-18

É um dito comum, popular. Os provérbios do Antigo Testamento estão redigidos em sua maior parte em forma poética, consistentes em dois paralelismos, que geralmente são sinônimos, antitéticos ou sintéticos. É uma parábola condensada, é um dito conciso que comunica uma verdade de uma forma estimulante.

Lucas 4:23

De para (contra) + doxa (opinião). Uma declaração oposta à opinião comum, que parece absurda, porém, quando estudada, torna-se correta e fundamentada.

Marcos 6:4 2 Pedro 2:22

Mt. 23:24; Mt. 19:24 2 Coríntios 12:10 Marcos 8:35

É atribuir características humanas a coisas, ideias ou animais. Gênesis 4.10 Números 22.30

Zoomorfismo

É atribuir características animais a homens ou a Deus.

Salmo 91.4

Antropopatismo

É atribuir sentimentos humanos a Deus.

Gênesis 6:6

Antropomorfismo

É atribuir características humanas a Deus.

Salmo 8:3 2 Crônicas 16:9

Eufemismo

É suavizar a expressão duma ideia substituindo a palavra ou expressão própria por outra mais agradável, mas polida.

Atos 7:60 Gênesis 4:1 1 Ts. 4:13-15

11. CONCLUSÃO Duas das grandes e fundamentais missões do obreiro, professor ou líder é pregar e ensinar a Bíblia. À medida que os anos passam, temos observado o crescente aumento de interesse dos membros da igreja pelo estudo teológico e secular. O número de estudantes universitários, seminaristas e de graduados têm aumentado de forma significativa em nossas congregações. Esta realidade implica no fato de termos ouvintes cada vez mais críticos e exigentes, desejando ver nos ministros do evangelho, professores de EBD e liderança em geral não apenas a unção do Espírito, mas também a habilidade no manejo da palavra da verdade (2Tm 2.15). Sei que, inicialmente, a observação dos princípios da hermenêutica poderá parecer um pouco complicada. Alguns, vendo a grandeza da tarefa, poderão até pensar em desistir. Quero incentivá-los a perseverarem. Deus recompensa nosso esforço de buscarmos entender melhor a sua Palavra. A situação assemelha-se a 22


andar de bicicleta. Nas primeiras vezes que tentamos tivemos dificuldades. Alguém nos empurrava e, mesmo com rodinhas, levávamos uns bons tombos! Com o tempo, porém, fomos adquirindo confiança e coordenação. Começamos a pedalar com firmeza e ganhamos equilíbrio. Não precisamos mais de quem nos empurrasse. Depois, foram retiradas as rodinhas, e hoje passeamos prazerosamente com nossas bicicletas. Sentamos no selim, e nem notamos que estamos tendo de coordenar um monte de movimentos ao mesmo tempo. O mesmo ocorre com a Interpretação Bíblica. Depois de certo tempo, adquiriremos o hábito de caminhar seguindo a trilha destas nove regrinhas, e exploraremos as ruas do Antigo e Novo Testamentos. Faremos isso prazerosamente, sem tantas dificuldades. Aqui, é claro, termina a similaridade com o treinamento na bicicleta. No caso da Interpretação Bíblica, jamais poderemos dispensar a ajuda de nosso treinador: o Espírito Santo. Ele sempre estará conosco neste caminho, e nosso destino será a terra da boa doutrina, onde poderemos encontrar o Senhor Jesus Cristo, e desfrutar com Ele a alegria da fidelidade. “Servo bom e fiel, entra no gozo do teu Senhor!”.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENTHO, Esdras Costa. Hermenêutica fácil e descomplicada. Rio de Janeiro: CPAD, 2003. CARSON, D. A. (1992). A exegese e suas falácias: Perigos na interpretação da Bíblia. São Paulo: Vida Nova. CARVALHO, Antonio Vieira de. Teologia da educação cristã. São Paulo: Eclesia, 2000. CHAMBERLAIN, W. D. (1989). Gramática exegética do grego neotestamentários. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana. EGGER, Wilhelm. Metodologia do Novo Testamento. São Paulo: Edições Loyola, 1994. EKDAHL, Elizabeth Muriel. Versões da Bíblia: por que tantas diferenças . São Paulo: Vida Nova, 1993. FEE, Gordon D. e STUART, Douglas. (1984). Entendes o que lês?: Um guia para entender a Bíblia com o auxílio da exegese e da hermenêutica. São Paulo: Vida Nova. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. (s.data). Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. FRANCISCO, Edson de Faria. Manual da Bíblia hebraica: introdução ao texto massorético: guia introdutório para a Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 2a. ed. São Paulo: Vida Nova, 2005. ZUCK, Roy B. A interpretação bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1994

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