Ele classifica seu estilo como Realismo Visceral. Saiba um pouco mais sobre o escritor João Matias. pág.10
l h a Cultur al agosto_2010_primeiro olhar
Livros, poeira, histórias: O universo dos sebos. pág.16 Educaçao & Arte - Literatura - Teatro - Novas Tecnologias - Cinema
Música
Olhares Sidney Andrade
Mora em Campina Grande e é estudante de Comunicação Social pela UEPB. Apaixonado por Literatura e, por isso, aspirante a escritor. Também blogueiro nas horas vagas.
Diego Lós
Estudante de jornalismo, contemplador e viajante. Moderno por convicção e pós-moderno por sobrevivência. Esperando dos humanos: emoção, razão e (in) coerência.
Lígia Coeli
Jornalista, graduada em Comunicação Social e aluna do mestrado em Literatura e Interculturalidade (UEPB). Pesquisa e pratica o Jornalismo Gonzo.
Samantha Pimentel
Concluinte de jornalismo, iniciante em Arte & Mídia. Criança, jovem e/ou adulta, de acordo com a ocasião. Observadora silenciosa, busca desvendar o mundo e guardar seu mistério no olhar.
David Veiga
Graduando em Comunicação Social e Arte & Mídia. Consome quadrinhos e cinema mais que arroz e feijão.
Jocélio Oliveira
Jornalista, formado em Comunicação Social pela UEPB. Atua profissionalmente como produtor da TV Cabo Branco, afiliada TV Globo em João Pessoa (PB).
Kislana Rodrigues
Estudante de Jornalismo. Já concluiu o curso de Letras e pensa que nada melhor do que a música para preencher ainda mais a vida de palavras.
Leidiane Alves
Estudante de Jornalismo (UEPB), feminista e apaixonada pela África. Se considera um beijaflor.
Marcos Moraes
Jornalista graduado pela UEPB. Subversivo cultural, adora resgatar bons projetos esquecidos em gavetas. agosto_2010 Revista Olhar Cultural
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Editorial
Mais uma tentativa
O projeto “Olhar Cultural” é uma daquelas idéias que insistem em não permanecer guardados em uma gaveta. Elaborado em 2006 pelos iniciantes no curso de Jornalismo, Marcos Moraes e Jocélio Oliveira, o projeto tinha como proposta a realização de um programa de rádio, a criação de um site (que virou blog) e a edição de uma revista. Conseguimos executar as duas primeiras etapas. O programa foi ao ar, nesse momento já não éramos apenas dois, outras pessoas acreditaram na idéia. Criamos o blog, adentramos no mundo do web-jornalismo cultural. Mas, veio as dificuldades, outras atividades surgiram e a terceira etapa teve que esperar. Em 2008 durante a disciplina de Editoração Eletrônica, o “Olhar cultural” então esquecido em uma gaveta na lembrança de seus criadores, vislumbra a possibilidade de ser completado. E grita! Esperneia! E é ouvido por Marcos Moraes que convence a Jocélio Oliveira e a David Veiga, para criarem a Revista Olhar Cultural. Desafio aceito o primeiro número foi lançando, para obtenção da nota na já referida disciplina. Mas, outra vez vêm as dificuldades das lotadas vidas
dessas três criaturas e o “Olhar Cultural” é deixado novamente em uma gaveta. Novamente o grito pela completude ecoa e é ouvido. A terceira etapa do projeto adentrou no campo da segunda e a “Olhar Cultural” ganhou um formato digital e pretende com suas linhas contribuir com o desenvolvimento cultural de nossa região, ou quem sabe até de nosso mundo, já que agora não temos fronteiras físicas. A cada três meses você terá acesso a um novo olhar sobre a cultura, com crônicas, reportagens, perfis, artigos, ensaios fotográficos e muitas outras coisas. Também você pode interagir com a equipe no blog da revista (http://revistaolharcultural.blogspot.com). Nosso muito obrigado a equipe de jornalistas que acreditaram que é possível outra forma de jornalismo cultural. A Jocélio Oliveira e a David Veiga, que mesmo com tanta coisa para fazer acharam um tempo para também dar “uma olhadela” na cultura e retomar esse projeto que ajudaram a criar. Sejam bem vindos e a partir de hoje, olhem cultura com todos os seus sentidos!
revistaolharcultural.blogspot.com Revista Olhar Cultural é licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported.
@olhar_cultural revistaolharcultural@gmail.com
Olhar Cultural é um projeto inde-
pendente de um grupo de jornalistas e subversivos culturais, que acreditam que é preciso arregaçar as mangas e abrir os olhos para dar visibilidade a produção cultural, explorando-a em/com todos os sentidos.
Diagramação: Marcos Moraes e Samantha Pimentel Jornalista Responsável: Marcos Moraes
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Sumario Entrevista pág. 8 Pontos de Vista pág. 5 Educação & Arte pág. 12 Literatura pág. 15
Teatro pág. 20
Música pág. 22
Novas tecnologias pág. 26
Cinema pág. 24
Ensaio fotográfico pág. 29 agosto_2010 Revista Olhar Cultural
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Pontos de vista
Papo de futebol Por Sidney Andrade “E você não vai assistir ao jogo do Brasil?”, perguntou muito abismado meu primo, do alto de seus dez anos e suspenso em suas canelas roxas das peladas. “Não vou, não. Eu não gosto”, respondi simples, não para ser diferente, mas para ser sincero, que é o mínimo de respeito que se pode dar a uma criança espantada. Ele me olhou como quem viu algo pela primeira vez, depois se acostumou – criança pega as coisas muito rápido –, a surpresa virou compreensão mergulhada na íris. Deve ter pensado, “Ah, Sidney é assim mesmo, não gosta das coisas que foram feitas para que todo mundo goste”. Eu nem me espantaria ainda se um dia chegasse a saber que ele acrescentara ao pensamento: “Não imagino por que motivo Sidney não gosta de tanta coisa legal no mundo”. Mas nada disso foi dito, e se foi pensado, é pura sorte minha. O que restou depois da minha resposta foi um silêncio quase constrangedor. Para desencarregar minha consciência, resolvi desfazer a ambigüidade, que provavelmente só existiu na gramática e na minha cabeça perturbada. “Quer dizer, do Brasil eu gosto, o que não gosto é do jogo”. Ele riu-se e apoiou-se em mim, como um abraço que não tem coragem de se admitir. A gente nunca sabe quando abraçar uma criança, acha que qualquer hora é hora, que
elas se alimentam disso. Mas, para elas, abraçar é feito futebol, é bom, é divertido, mas tem que ser por um bom motivo. Me perdoem esta última metáfora, eu precisei forçar um pouco. De fato me escapa o “bom motivo” para o futebol, mas há quem saiba. Aliás, a exceção aqui sou eu, não é mesmo? Sei que gostei da minha primeira conversa profícua sobre futebol, com meu primo de dez anos. Espantada ficou mesmo a mãe do menino. “Ora, não gostar de futebol ainda eu entendo. Mas anunciar por aí que está a gostar do Brasil, isso sim é de se admirar”. Realmente, titia, a situação não vai bem. Eu até culparia o futebol, mas aí arranjaria briga e não seria páreo para uma nação inteira. Quem sabe a culpa não é do governo? Ou do aquecimento global... E se a culpa for minha, o que não é de todo mentira, eu nem me admiraria em ver que o Brasil vai mal porque eu não assisto ao jogo da seleção na Copa do Mundo. Talvez meu primo saiba qual é o cerne da questão, mas não vou aborrecê-lo com pormenores, o Brasil ainda vai empatado e já estamos a mais da metade do segundo tempo. Não há coração que resista, nem pátria que se sustente nesse eterno zero a zero. Mas isso eu só sei de ouvir falar, não estava lá assistindo.
“Ora, não gostar de futebol ainda eu entendo. Mas anunciar por aí que está a gostar do Brasil, isso sim é de se admirar”
Na web
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Pontos de vista
Bem que poderia ser verdade Por Marcos Moraes
@marcosreimaster
O alarme do telefone avisava que eu já estava atrasado para a seção de cinema no Cine São José. Levantei-me correndo, tomei um banho rápido, me vesti. No bolso da camisa encontrei um folder de um espetáculo, que aconteceria hoje às 19hs no Teatro Municipal. Quase tinha esquecido! No cinema encontrei com vários amigos, a pós a seção ficamos conversando, sobre a reforma feita no prédio do CUCA e na reabertura do Cine – Babilônia, que aconteceria naquela tarde. A fim de não perder nenhuma atividade me despedi da galera e me dirigi até a saída do cinema, lá encontrei com Eneida Agra, que por sinal estava muito contente, pois acabara de fechar a programação de mais uma edição do Festival de Inverno, e esse ano tinha financiamento, não apenas do poder público municipal e estadual, mas de várias empresas do estado. Dei um abraço na Eneida e fui ao terminal de integração, passei pelo Parque do Povo e lembrei que estávamos em pleno São João, resolvi então pegar a programação para dar uma conferida nas atrações. Biliu de Campina, Benedito do Rojão e a Turma da Caiana dos Crioulos animavam a noite de hoje, no palco principal. Fiquei espantado com aquilo e continuei lendo a programação e percebi que estava toda, preenchida com os melhores representantes da cultura popular.
Perto da integração um menino vestido de palhaço, me vende um jornal, compro e vou direto ao caderno de cultura, que além das reportagens, traz um pequeno suplemento literário. Mas hoje não é domingo... Deixa pra lá! Continuo lendo o jornal que traz grandes reportagens e uma seção só dedicada ao jornalismo Gonzo... Perco dois ônibus e nem percebo. Enquanto ouvia Toninho Borbo na rádio interna do terminal, o poeta Bruno Gaudêncio, senta ao meu lado com um calhamaço de revista, nos cumprimentamos e ele me presenteia com uma delas, “A Blecaute agora é impressa” ele diz com um grande sorriso no rosto, e explica que esse novo formato da revista só foi possível por causa de uma lei de incentivo cultural municipal dedicada a periódicos culturais. Essas leis tem aumentado e muito e com a criação do conselho e da secretária de cultura as coisas acontecem com a maior agilidade. O alarme do telefone toca me lembrando que já está na hora de ir para a reunião com o coletivo que está ocupando o Cine São José, no rádio ligado lá na sala, uma ouvinte reclama da reforma do Teatro Municipal, que ainda não terminou. Sonho... Mas bem que poderia ser verdade, não é?
Na web
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Pontos de vista
O fim da Copa
Artista plástico e caricaturista, Jailson da Soledade nasceu em Recife-PE e muito cedo mostrou intimidade com a arte, aos 15 anos desenhava e pintava. O artista que participou de exposições individuais e coletivas, depois de cinco anos afastado, retomou os trabalhos artísticos, dedicandose integralmente nos últimos meses as caricaturas. Desenhista, ilustrador e caricaturista, Jailson possui uma linguagem própria através de suas telas, além do amor pela arte. Contatos: jailson.ilustrador@gmail.com (81) 9942-8894 agosto_2010 Revista Olhar Cultural
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Entrevista
A literatura Visceral de João Matias Por Marcos Moraes, Kislana Rodrigues e Samantha Pimentel
A mudança sempre acompanhou João Matias, o cearense nascido em Juazeiro, deixou a terra do Pe. Cícero para estudar Letras em Fortaleza. Trocou o curso de Letras, pelo de Direito, que foi abandonado por Comunicação Social. Veio para Campina Grande, descobriu a paixão pelo cinema e ingressou no movimento Cineclubista. Com dois livros publicados, o Jornalista (que quando nos concedeu a entrevista, estava se preparando para a sua colação de grau) e estudante de Ciências Sociais trocou o descanso de uma manhã de terça-feira, para conversar com a nossa equipe, durante mais de uma hora, sobre Literatura, Cinema, Internet e outros assuntos culturais, que você pode conferir a partir de agora. agosto_2010 Revista Olhar Cultural
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Entrevista Olhar Cultural – Como diriam os companheiros da Caros Amigos , “ Vamos começar pelo começo!” Falenos um pouco de você, quem é João Matias? João Matias - Eu nasci no Ceará, sou cearense de Juazeiro do Norte e morei lá por quase toda a minha vida. Chequei a morar em Fortaleza onde cursei Letras por seis meses, depois Direito por mais seis meses, abandonei, passei para comunicação e vim para cá, morar em Campina Grande. Aqui passei para Ciências Sociais na UFCG, estou terminando Comunicação esse ano e levando o curso da Federal, que pretendo terminar. Sempre li muito, tanto autores brasileiros como estrangeiros, à medida que ia lendo ia tentando escrever. Nesse ínterim consegui publicar dois livros “Aos Olhos de Outro” e o “Vermelho das Hóstias Brancas”. O.C. – O que é a Literatura para você, trabalho, inspiração, hobbie ou outra coisa? J. M - Trabalho. Escrever é um esforço onde você disciplinadamente, senta em uma cadeira, em frente a um computador e diz que naquela uma hora tem que sair alguma coisa. É o exercício de um músculo, o cérebro, onde você tem como foco muitas vezes o nada. Se tiver tudo você escreve sobre tudo, se num tiver nada escreve sobre o nada. O.C – Como é o seu pro-
cesso literário, você senta todo dia para escrever? J.M- Eu costumava fazer isso, mas agora o tempo não deixa. Quando você começa a trabalhar e estudar, acaba que você escreve quando tem tempo. Mas eu acabo me dando bem, quando estou cheio de coisas para fazer, que paro e escrevo por meia hora.
“ Escrever é um esforço onde você disciplinadamente, senta em uma cadeira, em frente a um computador e diz que naquela uma hora tem que sair alguma coisa” O que eu recomendo a quem gosta de escrever é reescrever. Quando você esta escrevendo deve colocar aquilo que vem na sua cabeça, o que você quer passar ou está sentindo, mas com a certeza de que aquilo que você estar escrevendo não é aquilo que vai ficar, que você vai reescrever. O.C - Para você existe Inspiração, como foi o processo de criação dos seus livros? J.M - A inspiração eu acho que ela existe, só não existe
sempre e por não existir você não pode ficar esperando ela “baixar”. Mas há uns momentos que eu chamo de “efusão cerebral”, que você vai lá escreve... Mas é aquela coisa, tem que reescrever mesmo quando escreve inspirado. O.C – Você tem uma vida jornalística bem intensa, atuando como colunista e editor de veículos como a Margem, a revista Blecaute portais como, SURTO.com.br e o extinto UMCA – União do Metal Caririense. Como é para você a relação entre Literatura e Jornalismo? J.M - É um exercício da palavra escrita. Acho que a maior relação entre o escritor e o jornalista é que eles têm que sentar em frente a um notebook ou a uma maquina de escrever e exercitar o uso da palavra. No jornalismo esse uso é mais limitado, é mais sucinto, tem restrições de tempo, restrições editoriais, não há a liberdade que goza a literatura. Mas tanto o jornalista quando o escritor de livros literários tem que tratar a palavra como se você um marceneiro a construir uma cadeira, indo aos poucos até chegar à criação final. O.C – Vamos falar um pouco da Blecaute, como surgiu a idéia de fazer uma revista sobre Literatura? J.M – Cara a idéia foi de Bruno Gaudêncio. No primeiro número da Blecaute o Bruno é o único editor. Depois ele apre-
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Entrevista sentou a idéia a mim a Janailson, que já éramos colegas trocávamos textos. E a idéia surgiu da necessidade de ter um veículo onde a gente e outras pessoas podem escrever o que quiser e sem se preocupar com espaço. O.C - Além de escritor você atua no movimento cineclubista da cidade, sendo um dos responsáveis pelo Cineclube Machado Bittencourt. Que paixão veio primeiro, o Cinema ou a Literatura? J.M - A literatura. Eu gosto muito de cinema, mas eu cheguei ao cinema através da literatura. Quando criança eu tinha um certo preconceito pelo cinema, porque o cinema já trazia tudo pronto, diferente da literatura que você tem que imaginar, eu preferia imaginar. Eu só fui gostar de cinema mesmo, quando entrei no curso de Comunicação Social e fui apresentado ao professor Rômulo Azevedo e fui começando a assistir os grandes clássicos do cinema e me interessar um pouco mais. O cineclube ajudou e muito nesse processo de descoberta do cinema, entrei no cineclube em 2007 e só sai agora no começo de 2010. O.C – Você tem dois livros publicados, o “Aos olhos de outro”, lançado em 2007 e o mais recente o “Vermelho das Hóstias brancas”. Os dois foram feitos de forma independente ou você recebeu algum financiamento? J.M - Como eu falei anteriormente eu sempre gostei de ler e a medida que ia lendo, tentava escrever a minha própria ficção. Foi reescrevendo tudo que eu achava interessante que eu cheguei a compor o meu primeiro livro, Aos olhos de outro, que para mim não foi composto de uma maneira satisfatória, pois no auge da minha inexperiência eu escrevi uma antologia, quando deveria ter escrito uma coletânea. Depois desse primeiro livro, continuei escrevendo, e a idéia do Vermelho das Hóstias Brancas surgiu, quando eu tive contato com o livro “Milagres em Juazeiro”, de um historiador norte Americano Ralph Delia Cava, que é o único estudo sobre o milagre que tornou o Pe. Cícero conhecido. Nesse livro o autor diz que os teores ficcionais das narrativas fariam com que o Edgar Alan Poe reescrevesse o seu livro histórias extraordinárias, se tivesse caminhado pelo Juazeiro. Com isso eu fiquei matutando a idéia de juntar a ficção, o realismo fantástico com a temática da religião e comecei ler autores dos dois gêneros. O processo de escrita culminou em 50 contos, que desses eu tive que escolher 13 para compor o livro. O primeiro livro eu consegui um patrocínio da Cultura Inglesa e coloquei o restante do meu bolso. O segundo eu o submeti para um concurso de jovens autores e foi contemplado e com o recurso do prêmio o lancei pela editora Bagaço. agosto_2010 Revista Olhar Cultural
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“Foi reescrevendo tudo que eu achava interessante que eu cheguei a compor o meu primeiro livro, Aos olhos de outro”
Entrevista
O.C – Você já ganhou vários prêmios literários entre eles o Unifor de Literatura de 2008 (CE), Prêmio Ideal Clube de Literatura e o Prêmio Literário Cidade de Porto Seguro. Qual a contribuição de prêmios como esse, para o escritor que está em inicio de carreira? J.M - Contribui e muito. Eu vou dar o endereço de um site que praticamente salvou a minha vida de escritor, www.concursosliterarios.com.br. Ele divulga concursos que estão acontecendo em todo o Brasil, os concursos literários hoje são a melhor maneira de um autor iniciante se tornar conhecido. O.C – Em um país como o Brasil, de não leitores, dá para ganhar dinheiro com Literatura? J.M - Não. Você faz isso por prazer, raramente você vai ganhar dinheiro, os que ganham dinheiro que eu conheço não chegam a dois reais por mês. Para viver de livros você tem que ter muitos livros e no mínimo uma CIA das letras por traz de você (risos). O.C - Como você define a sua literatura? J.M - Eu classifico com Realismo Visceral, (risos) nem existe isso, mas é assim que eu a classifico. Realismo Visceral é uma literação que eu copiei de um escritor chileno, chamado Roberto Bollano, que não é o Chaves (gargalhadas). Ele escreveu um livro, que conta a história de jovens escritores, com idade entre 12 e 13 anos, que abandonam a escola para viajar pela America Latina conhecendo outros escritores. Esses jovens querem formar um grupo para juntos sequestrarem o Otavio Paz, que tinha ganho o prêmio Nobel de Literatura e o obrigar a publicar os livros por eles escritos. O livro se assemelha muito a nossa realidade, hoje teríamos que seqüestrar o Gabriel García Márquez (risos) ... O Saramago num dá mais. O autor do livro descrevia o estilo desses escritores como “Realismo Visceral”... O meu estilo é ficção... um misto de realismo social, com realismo fantástico, não sei. O.C – O que você acha dos Best- Sellers e livros de autoajuda? J.M - Quando você escreve, você percebe que tudo o que escreveu pode ser melhor, ou mais mercadológico. Na literatura como no cinema,
vamos encontrar aqueles que se atém a uma forma pronta, com linguagem simples, sem grandes elucubrações filosóficas, uma narrativa onde o leitor não se “estressa” muito para ler, não o incomoda. O mundo apresentado pelos Best- Sellers é mundo onde tudo é lindo, muitas vezes esses livros não partem da criatividade do escritor são encomendados pela editora, que já chegam com uma proposta pronta. Mas se estão fazendo as pessoas lerem, eu acho válido. O.C – A Internet veio para facilitar ou para tornar ainda mais difícil a vida de escritor? J.M - A internet facilita bastante, porque você escrevendo aqui em Campina Grande tem a oportunidade de ser lido lá em São Paulo. A internet é ótima para divulgar novos atores, o blog é uma maneira de você exercitar a sua escrita, não é? Nesse sentido há um ganho pro autor, que se exercita e tem a opinião dos outros sobre a sua obra. Também se não fosse a internet, eu como muitos outros escritores não ficaríamos sabendo dos concursos literários que tem Brasil a fora. O.C – Você tem um livro de contos e crônicas e um só de contos, tem algum projeto novo a caminho, será que podemos esperar um Romance? J.M - Eu estou estudando o gênero romance. Já comecei a escrever um romance, que foi encomendado pela editora Galo Branco do Rio de Janeiro, a proposta deles foi que eu escrevesse um livro que enfocasse a temática racial hoje. Já tem escritas em torno de 80 paginas, já coloquei esse livro também para concorrer ao Prêmio Funarte, que disponibiliza todos os anos bolsas de criação literária, vamos esperar! O.C - Vamos encerrar ao estilo do programa da XUXA (risos gerais) Um livro? J.M - Quando perguntam por um livro, eu sempre cito os mais recentes. “Estourem o Olho” de Jorge Batão. O.C – Um autor? J.M – Um autor?... Cormac McCarthy O.C - Um filme? J.M – Os Idiotas. O.C – Para completar, uma música? J.M - Power Windows do RUSH. agosto_2010 Revista Olhar Cultural
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Educação & Arte
Tambor e Cajueiro Seco: Comunidades que incentivam a leitura Por Leidiane Alves
@neguinhaleid
Um importante instrumento de incentivo ao hábito da leitura tornou-se obrigatório em instituições públicas e privadas de todo sistema de ensino do Brasil: as bibliotecas. Desde o dia 25 de maio de 2010, a Lei nº 12. 244 determina que as bibliotecas tenham um acervo de documentos e materiais videográficos, além de um livro por aluno. No entanto, bem antes da criação da lei, diversos grupos vislumbraram a necessidade do surgimento de bibliotecas em suas comunidades, seja pelo incentivo a leitura, ou por um segundo espaço de acesso ao conhecimento, a cultura e a arte. Um pequeno espaço, estantes, cadeiras, mesa, livros, algumas revistas, jornais, consulta, leitura e estudo. Surgem assim, em cidades do interior ou em pequenas comunidades de todo o País, as chamadas ‘Bibliotecas comunitárias’. A construção delas tem sido o sonho e a ação de muitas pessoas que trabalham para ampliar o incentivo e o acesso a leitura. As dificuldades encontradas são muitas, a
começar pelo hábito à leitura dentro das próprias comunidades. No pacote vem ainda, a arrecadação dos livros, a necessidade de um espaço, de pessoas para gerenciá-lo e a conservação do material. Apesar dos obstáculos, as bibliotecas comunitárias já fazem parte da realidade de diversas comunidades, graças ao esforço de pessoas que vêem na leitura uma oportunidade de mudança. No bairro Cajueiro Seco, em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana de Recife – PE, bastaram cinco amigos dispostos a trazer para a comunidade o hábito da leitura, e um carrinho de mão para carregar os mais de mil livros, que hoje fazem parte do acervo da biblioteca. Conscientes da importância da leitura e dispostos a reeducar as pessoas para promover esse hábito, os cinco amigos moradores da comunidade (Carlos, Damião, Edson, Jailson e Wagner) criaram o Grupo de Incentivo a Leitura, Cultura e Meio Ambiente (GILCUMAM). “A ideia partiu da necessidade de criar um espaço dentro da comunidade
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que pudesse tirar as dezenas de crianças que ficam na rua, no momento que não estão em sala de aula”, comenta o geógrafo Wagner Nascimento de Melo, vice-presidente do GILCUMAM. Hoje, dois anos depois da primeira conversa entre os amigos, a biblioteca comunitária funciona de segunda a sábado, das 08h às 17h, numa casa alugada e mantida por eles. Segundo os integrantes do GILCUMAM, no início a comunidade não abraçou a causa, “eles doavam os livros não para ajudar o projeto, mas para se livrar deles”. Para o grupo, a pequena participação das pessoas é reflexo de um problema social e cultural. “As crianças não são incentivadas pelos pais, e quando crescem, continuam sem receber incentivos”, ressalta Wagner. As dificuldades socioculturais, bem como, o fato da biblioteca não ser um atrativo à comunidade, motivou o GILCUMAM a promover outras atividades que pudessem atrair os moradores, através do teatro, da música e da dança. “A intenção do grupo é
fazer da biblioteca um espaço de diversão dentro da comunidade, que inclua as mais diversas manifestações culturais”, destaca o artista plástico Jailson da Soledade, membro do grupo. Ele comenta ainda, que com a ajuda de um advogado da comunidade, o GILCUMAM será regularizado, para que assim, possa requerer investimentos junto ao poder público.
Educação & Arte
Leitura no Tambor
No bairro do Tambor, em Campina Grande – PB, a falta de incentivo público também foi um dos obstáculos enfrentados, pelo estudante universitário Williams Sousa Cabral e sua mãe, a ativista social Maria do Socorro Lima Cabral. Motivados pelo sonho de um espaço destinado a leitura, eles criaram a 1º biblioteca comunitária do bairro. “Precisávamos de um espaço que pudesse tirar as crianças e adolescentes de atividades ilícitas recorrentes no bairro. Visualizei no incentivo a leitura essa possibilidade”, conta Williams Cabral. Montada com o apoio da Associação dos Moradores do Tambor, a biblioteca possui um acervo de cerca de quatro mil livros, distribuídos nas três estantes cedidas por um morador da comunidade. “Realizamos o ‘Dia Símbolo’ de arrecadação de livros, no qual conseguimos montar todo o acervo que possuímos hoje”, relata Maria do Socorro. Ela conta ainda, que durante três meses realizou um trabalho de incentivo a leitura com quarenta crianças da comunidade, que estavam sem frequentar à sala de aula, devido uma reforma da escola municipal do bairro. “Adorava a ‘escola’ da Tia Socorro. Lá, era melhor que a outra escola, tinha muitos livros divertidos”, contou José Carlos Aragão, de apenas 7 anos. Assim como ele, muitas crianças do bairro encontraram incentivo à leitura a partir da criação da biblioteca comunitária. Além dos livros, a biblioteca oferece a comunidade aulas de capoeira, crochê, bordado. Para suprir parte desta
Leidiane Alves
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Educação & Arte lacuna dentro da educação do País, foi criado um grupo de discussões literárias, onde crianças e adolescentes se reúnem para ler e discutir algumas literaturas. “Vimos na biblioteca a oportunidade de fomentar não só a leitura, mas também a cultura”, diz Williams Cabral. Diferentemente da biblioteca comunitária de Cajueiro Seco, a biblioteca do bairro do Tambor, não possui uma estrutura física para continuar e ampliar os projetos. Atualmente, os quatro mil livros da biblioteca estão empilhados num lugar cedido pela associação do bairro. Um espaço, que hoje não comporta as mais de 70 crianças e adolescentes atendidos pelos projetos desenvolvidos através da biblioteca. Os 250 quilômetros que separam Campina Grande de Jaboatão dos Guararapes, não distanciam o sonho dos dois campinenses e dos cinco amigos pernambucanos. Estas bibliotecas montadas tornaram-se um importante instrumento de mobilização sociocultural dentro das comunidades. “Com mais informações as pessoas criam um censo crítico apurado e encontram argumentos para reivindicar mudanças em suas comunidades”, conclui o estudante Williams Cabral. Através de iniciativas como essas, os entusiastas da leitura encontram o espaço necessário para ampliar o sonho do estímulo e acesso ao mundo das letras.
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Leidiane Alves
Leidiane Alves
Literatura
Você escreve, mas ele conserta Por Ligia Coeli
@ligiacoeli
Cheguei perto daquele homem baixinho e pedi para que ele me mostrasse uma máquina. A descrição era simples: 'quero uma igual a do meu avô'. Sumiu por um instante, se embrenhou por um mundo de letras, parafusos, teclas gastas e maquinetas que ele amontoara ali mesmo, há quarenta anos. 'Quero uma que possua maleta', dizendo isso dificultei a busca. Era o jeito mais urgente para que ele demorasse mais, e eu pudesse ficar parada, observando por mais tempo como aquele senhor moreno faiscava por entre as ferragens. Eu acompanhava tudo com o olhar mais voluptuoso que podia lançar. Era bonito vê-lo daquele jeito, órbitas negras e mãos engilhadas, preocupadas em encontrar o pedido do cliente. Parecia que seu Carmelindo Ferreira da Silva, de 67 anos, havia estado ali sempre. Caso ele não se mexesse, e a cabeça já um pouco alva denunciasse o roteiro do corpo, era quase impossível encontrar o homem amufambado no pequeno cômodo. Assim era a cena que se repetiu durante toda a minha infância, e permaneceu intacta até hoje: o personagem quase-lenda que se enfiava no cubículo, numa estreita rua do centro de Campina Grande, e consertava as máquinas de escrever. Vou perguntando os preços das máquinas, uma a uma, tentando fazê-lo perder a paciência. 'Mostra-me uma Hermes Baby, manuscrita, de uma cor laranja, intensa!' e cinco minutos depois ele devolve meu pedido tal qual solicitado, e para mostrar que está funcionando, enfia calmamente o papel por entre os rolos, checa tudo franzindo a venta e fazendo movimentar a armação do óculos. Começa então a mergulhar os dedos na letras, e com barulho de digitação nascida por entre aqueles dedos nodosos, escreve seu próprio nome. Quase aplaudi, mas desisti, a partir de então elegia aquele homem como o único, aqui na cidade, capaz de consertar o que era escrito. Que o diga
Lourdes Ramalho. A teatróloga que já escreveu mais de cem peças em sua máquina, só ajeita a teimosa lá: 'é que às vezes emperra'. Quanto mais machucada chegasse a máquina, melhor. Se não tinha as peças para substituir, ele as inventava com os restos de outras. E não importava o dia da urgência, ele estaria lá. 'Abro em dia de feriado, dia santo e até no domingo'. Eu tento provocar 'Oxe, e tem gente que compra máquina em dia de domingo?'. Ele riu pra mim (ou seria de mim?) e baixou a cabeça diante da minha ingenuidade, com uma humildade serena, que invejei por dias. Como se para matar vontade precisássemos marcar data no calendário! Paixão antiga, essa dele, que começou quando trabalhava em uma empresa e carregava as máquinas pra cima e pra baixo, mas ainda não consertava. De tanto levar as madames no colo, foi aprendendo como lidar com as mais rebeldes. Até hoje não conseguiu contabilizar quantas já estiveram ali, naquele quarto, mas só de olhar me deu tontura - era um bocado. Perguntei se o pessoal costumava esquecer as máquinas por ali. 'Sim, esquecem, mas eu vendo também'. E vende as certidões de nascimento das máquinas junto. Seu Carmelindo não deixa escapar um detalhe, e se você quer comprar a máquina, guarde um espaço pra ouvir a história. Como um moleque que se põe diante de uma caixa de brinquedos, ele sabe falar com propriedade até de quem abandonou os objetos ali. Crueldade dessa gente só é recompensada com reconhecimento, e aí a ferida num instante cria casquinha. Pergunto o que eu posso fazer pra não deixar a máquina quebrar: 'olhe, livre ela da poeira e evite bulir. Quem fica bulindo quebra tudo'. Entendi. Mas me diga uma coisa, já existiu alguma máquina que o senhor não conseguiu consertar de jeito nenhum? 'Não. A que vier, eu dou jeito'.
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Literatura
Muito além da poeira: A vida nos Sebos Por Diego Lós
Fala-se que a associação da palavra Sebo - como conceito de livraria -, no Brasil, tenha surgido por associação aos tempos remotos de quando a cera da vela sujava os livros ou então porque estudantes andavam sempre com eles debaixo dos braços e por isso tornavam-os sujos e, portanto passava-se a chamar de sebo. O que os alfarrabistas acabaram por assimilar a alcunha deselegante de “caga-sebos”, chegando a palavra atual de sebistas.
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Fotos: Júlio Cezar Peres
Literatura
Porém existem explicações bem mais polidas advertindo que a etimologia estaria ligada a palavra do latim sapientia e na palavra do português arcaico sabentar (checar existência) (tornar sábio) chegando no falar cotidiano a sebo. Essa versão bem mais condizente com a importância do livro e do ambiente cultural de um bom sebo. Discussões a parte, o fato é que os sebos representam espaços democráticos e culturalmente enriquecedores. Neles, obras diversas e raras podem ser encontradas a preços baixos. Um grande incentivo à leitura em um país que pouco lê ou considera-a como uma prática não-prioritária. Mais ainda, os sebos possuem toda uma aura de resistência, às vezes poética, personificada no universo dos clientes e, sobretudo na persistência de seus proprietários. O Catador de Livros
No centro de Campina Grande, no burburinho da Praça Clementino Procópio é possível encontrar o mais famoso sebo da cidade. Criado em 1987, por Ronaldo Roberto de Andrade, no Calçadão da Rua Cardoso Vieira o sebo “O Cata-Livros” mudou-se várias vezes. Primeiramente, foi para a Rodoviária Velha, depois para a Rua Alexandrino Cavalcante e em seguida vem para a praça. Depois foi criado um segundo espaço na Avenida Getúlio Vargas e uma terceira loja surge no bairro de Bodocongó. Ao longo de todos esses 23 anos foram acumulados cerca de 50 mil volumes no total. O filho de Ronaldo, Roberto Capistrano de Andrade diz que cresceu entre os livros pois estava sempre presente nas lojas de seu pai. Ele conta a diversidade de pessoas que freqüentam o local, de universitários a estudiosos de religião. Ele cita ainda dificuldades que às vezes acontecem, quando algumas pessoas propõem a troca de livros sem ter a noção da diferença do valor entre eles. Roberto conta histórias que mostram a importância dos livros na vida das pessoas, como a que seu pai vivenciou anos atrás, de um então estudante colegial agosto_2010 Revista Olhar Cultural
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Literatura
chamado Joaquim. Órfão de pai, ele estudava em um colégio no centro da Cidade e tinha bastante dificuldades econômicas, chegando a dormir na rua muitas vezes, por não ter dinheiro para voltar a sua casa. Mesmo assim ele sempre freqüentava o local para comprar livros, apesar de todas dificuldades. Muito anos se passaram e após ter concluído o colégio, Joaquim retorna formado no curso de Direito e exercendo o cargo de juiz em uma cidade pernambucana. Ele havia voltado para visitar novamente aquele espaço que ajudou em sua formação, surpreendendo Ronaldo primeiro por não o ter reconhecido e em seguida pela superação proporcionada pelos livros que vendia. “É gratificante para nós saber histórias de superação como estas” diz Roberto. Tão interessante também é a história da associação de sebistas que formaram o Sebo Cultural, na Rua 13 de Maio, em frente a praça Clementino Procópio. Darli Jane de Araújo é uma das vendedoras que possuem um dos boxes no espaço do sebo. Ela lembra que antes vendia os livros na calçada do antigo Cine-Capitólio junto a outros companheiros, e que resolveram em associação conseguir um espaço próprio. Isso ocorreu há uns 4 anos e hoje eles contam com um acervo de mais de 1000 exemplares. Com títulos variados, mas focado em livros didáticos, eles também possuem um Box especial com venda de livros de literatura e até mesmo vinil e CD’s, pertencentes ao sócio Pedro Ailton. Dentre as principais dificuldades curiosamente é citado o fato do fechamento de várias livrarias na cidade. Raiff Capistrano de Andrade, também do sebo “O Cata-Livros” explica: “Com a diminuição da oferta de livros, consequentemente passamos a contar com poucos exemplares novos que
vinham de trocas com as livrarias convencionais.” Para driblar as dificuldades ele conta com o enorme acervo juntado pelo pai, e se diverte ao lembrar o caso de um cliente que conseguiu encontrar um livro que insistentemente procurava. “Nem mesmo meu pai lembrava que havia esse livro dentre eles. Ele [o cliente] ficou muito feliz com o achado”, afirma Raiff. Outro trunfo são os livros que contam a história da cidade e do estado bem como aqueles sempre requisitados, a exemplo de “O mundo de Sofia” do norueguês Jostein Gaarder. Os sebos na Web
Com as distâncias encurtadas pela Internet, os sebos de Campina Grande conseguem se aliar bem com as novas tecnologias. O Cata-livros possui um índice de 18 mil volumes cadastrados no site Estante Virtual, que reúne sebos e vendedores de livros novos, semi-novos e usados de vários estados do país. Já o Sebo Cultural também trabalha com uma rede de sebos de outros estados para atender pedido dos clientes. No universo dos Sebos, destes empreendedores são exigidos e resgatados valores que muitas vezes são esquecidos nos modos de produção da sociedade atual, como a sobreposição do amor pelo ofício em contraste com projeções de rentabilidade e, sobretudo o relacionamento com pessoas, mais que clientes, que buscam incrementar desde a sua formação até elaborar ansiosamente novas realidades para sua consciência humana.
Na web
http://www.estantevirtual.com.br/
Fotos: Júlio Cezar Peres
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Literatura
Ditando Gump!
Por Jocélio Oliveira
@jocelio_olivere
Não há nada oficialmente confirmado, mas é provável que uma das possíveis avós de Gumpinho resida atualmente na cidade de Pau Grande hoje. Seu neto nos disse que por causa da idade avançada e da saúde frágil é interessante que ela more lá. Foi uma das poucas cidades onde ela se adaptou. “Vó Virgulina Novaes Motta Gump diz que as pessoas são muito acolhedoras por lá”, nos revelou Geórgio. Bem, o importante é que Virgulina – ou vovó Gump, para os netos – é uma mulher muito sábia e espirituosa. Nas férias Gumpinho sempre voltava, para uma de suas casas, cheio de conhecimento e dizendo que aprendeu tudo com a avó, que também era muito inteligente e de vez em quando desatava umas de suas pérolas, que muito orgulhoso Geórgio falava na escola, dizendo que fora fruto de “muito esforço reflexivo em torno de questões que verdadeiramente valem a pena na vida”. Parecia muito adulto para uma criança, mas eu acho, aqui pra nós, que essa frase também foi fruto das reflexões dele, afinal, a gente também tem que dar uma forcinha ao garoto. A frase que marcou, e marca, a passagem de Gump pelo mundo é “as coisas nem sempre são o que parecem”. Sempre que fazia alguma coisa de errado, Geórgio entregava um cartãozinho de visitas com essa frase. Não me perguntem como uma criança conseguia isso, até hoje é segredo. Não tinha local que inspirasse mais do que outros para nosso amigo. Mas lhe era inata a destreza de ter a frase certa para cada momento. Atravessando a rua ele solta essa: “Tempo é dinheiro. Principalmente em lan house”, minutos depois está Gumpinho olhando o site do governo e outro de mulher pelada. Quando uma de suas mães o comparava ao pai, logo ouvia: “Casa de ferreiro é de tijolo
igual à de todo mundo”. E ai de quem tentasse corrigi-lo. A resposta era um “Quem canta? Eu, tu, ele, nós, vós, eles” capaz de espantar os seus males para bem longe. Tomando banho: Água mole em pedra dura é lavagem de roupa suja. Na escola: O que os olhos não vêem, só com um óculos mesmo. E: Escreveu não leu, é porque não sabia ler. Para professora: Uma andorinha só está procurando companhia. E aí, ta afim? Com a namorada: Devagar se perde tempo ou Quem espera sempre cansa e ainda Mais vale um pássaro na mão do que a mão vazia. Para a esposa gostosa de vinte seis anos do tio-avô do amigo de seu primo: Quem ama o feio? Boniiiito! Quando queria pular a cerca: Quem vê cara, vê dois olhos, uma boca, um nariz... Ou Nunca tarde, nem antes. Para o presidente da ONG que protege os mansos, humildes, indefesos, pobres, deficientes, mulheres grávidas, crianças de colo, crianças adotadas, políticos sob suspeita de corrupção e corintianos: Os últimos estão lascados. Dependendo da ocasião e do caso: A união tem filhos? E na pior das hipóteses: Ruim com ele, pior comigo. Hehehe Brincadeira. A enorme experiência de vida que tem o nosso jovem amigo Gump depois de quinze Oscar, tantos vestibulares prestados, tantas aprovações, tantos esquecimentos de matrícula, tantas mães, tantos amores meio mais ou menos, tantos bares visitados na Holanda o fez perceber enfim que “aonde a vaca vai é sem futuro, nem vá que dá em merda” e que “negro quando não caga na entrada, pode esperar!” Por isso mesmo Gump acredita que é melhor cada peixe no seu rio.
Na web
http://olivere.wordpress.com/ agosto_2010 Revista Olhar Cultural
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Teatro
Teatros de Campina Por Samantha Pimentel
@smthpimentel
Teatro Municipal Severino Cabral
Você já foi ao Teatro? Conhece todas as opções de espaços teatrais que temos em nossa cidade? Não? Então acompanhe a nossa série intitulada “Teatros de Campina”, que começa nesta edição, e busca apresentar os espaços teatrais disponíveis na cidade de Campina Grande, ampliando as opções e o conhecimento dos nosNa década de 60, o país enfrenta um regime ditatorial, que além de abreviar a liberdade, aumentou a necessidade e vontade de protestar, reivindicar e se organizar em coletivos integrados por artistas, estudantes e demais pessoas da sociedade em busca de melhorias e mudanças ao cenário brasileiro. Assim, em Campina Grande um movimento organizado por artistas amadores reivindica a construção de um teatro, atendendo a uma antiga necessidade da população, que na época tinha seus espetáculos artísticos realizados nos cinemas Babilônia e Capitólio, chamados cine teatros. Construído durante o governo do então prefeito de Campina Grande, Severino Bezerra Cabral, que o batizou com seu nome, o Teatro Municiagosto_2010 Revista Olhar Cultural
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sos leitores. Vamos começar apresentando o Teatro Municipal Severino Cabral, patrimônio cultural que atualmente está fechado para reforma, e que tem muita história pra contar.
As luzes se apagam, foi dado o terceiro sinal e a cortina se abre.... Bom espetáculo a todos!!
pal Severino Cabral foi inaugurado em 30 de novembro de 1963 as 10h. O prédio fica localizado na Av. Floriano Peixoto, setor de grande movimentação da cidade, com sua estrutura física inspirada na forma de um apito ou bico de flauta, adequando-se as características do terreno inclinado e triangular, ocupa uma área principal de 4.816 m².
A estrutura arquitetônica da casa de espetáculos foi idealizada pelo arquiteto Geraldino Pereira Duda e seu projeto foi considerado moderno para os padrões da época e para uma cidade pequena do interior da Paraíba. Geraldino foi criticado por muitos que afirmavam que ele deveria repensar a grandiosidade da obra e restringir o projeto, mas decidindo prosse-
Teatro
guir como planejado, a construção foi entendida como um divisor de águas na arquitetura local, empregando maior ousadia e criatividade. Apesar de inaugurado em 1963, o Teatro Municipal Severino Cabral só teve sua estrutura física concluída em 24 de abril de 1988, durante a administração do então governador do estado Tarcísio Burity. Na década de 90 foi inaugurada a Escola de Dança do Municipal, oferecendo aulas de ballet. A partir da necessidade de um local que abrigasse espetáculos para pequenas platéias e de caráter mais intimista, surge o mini-teatro Paulo Pontes, anexo a estrutura do Teatro Municipal, localizando-se no setor térreo, o local possui 80 lugares. Atualmente o Teatro Municipal Severino Cabral possui em sua direção a educadora Alana Fernandes, e encontra-se fechado para reformas na sua estrutura desde dezembro de 2009. Com mais de 40 décadas de existência e um sem número de espetáculos e artistas locais, nacionais e internacionais que já pisaram em seu palco, a mais importante casa de espetáculos de Campina Grande hoje não abriga apresentações culturais e, por enquanto, não se ouve aplausos.
Equipamentos Sonorização
01 Mesa de 16 canais ciclotron com 4 canais auxiliares 01 Equalizador ciclotron com efeito de ambiência (multiefeito) 02 Caixas de som ativas studio r (2.000 watts) 03 Monitores amplificados antera (com falantes de 15”) 04 Microfones leson sm58 01 Microfone sem fio shure sm58 uhf 06 Pedestais 01 Multicabo Iluminação
01 Mesa ditel 24 canais com 21 em funcionamento 12 Refletores pc (1.000 wts.)
12 Refletores fresnel (1.000 wts.) 11 Refletores elipsoidal (1.000 wts.) 10 Refletores set light (1.000 wts.) Palco
Boca de Cena - 12,65 mts (largura) Caixa Cênica - 10,70 mts (profundidade) Proscênio - 16,20 mts (largura) por 6,00 mts (profundidade) Ciclorama - 16,60 mts (largura) Platéia
Setor Térreo: 384 poltronas Setor Camarotes: 58 poltronas Setor Galeria: 142 poltronas Total de Lugares: 584 agosto_2010 Revista Olhar Cultural
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Musica
Mentes Mutáveis
Por Kislana Rodrigues
@Kislana
Buscando descobrir a divulgar o trabalho de diversos músicos e bandas locais que desenvolvem um trabalho de qualidade, e muitas vezes são desconhecidas por grande parte da população, a Olhar Cultural apresenta a série ‘Invenção Musical’, que a cada semana apresenta uma iniciativa de-
senvolvida no campo da música. Abrindo a série, apresentamos um pouco do trabalho da banda ‘Mentes Mutáveis’, formada por quatro “inventores musicais” que se propuseram a fazer rock na terra do forró.
Banda de rock de Campina Grande-PB formada em março de 2008 pelo baixista e vocalista Thiago D'Angelo, os guitarristas Michael Taynnan e Wagner Tavares e o baterista Ramon Santos. Antes da grande ideia. Thiago e Ramon tocavam em uma banda de Punk Rock. Michael em outra de Rock e Wagner... Bem, Wagner estava esperando alguém ter a ideia de criar uma banda original e com um diferencial que fosse mudar a vida desses rapazes. Foi, então, que agosto_2010 Revista Olhar Cultural
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surgiu Thiago com o projeto de criar uma banda de rock autoral para revolucionar o cenário musical campinense, que ainda é resistente a alguns estilos musicais, como o rock. O nome da banda. Não é uma tarefa fácil encontrar um nome que represente e identifi-
Musica
que em poucas letras tudo o que se quer mostrar ao mundo. Segundo Thiago, foram dias e dias pensando e discutindo qual seria o melhor nome para a banda. Então, surgiu Mentes Mutáveis. Sugerido por ele mesmo. Nome de uma das primeiras músicas que tocaram juntos, que nas palavras do vocalista: fala da necessidade de mudança, de conflitos e uma busca eterna por uma realidade mais confortável, menos violenta e desumana. Perfeito. Mas por que Thiago não pensou nisso antes? Foi justamente o que falaram os outros integrantes. Mas, claro, que num tom de brincadeira e satisfeitos por terem encontrado um nome que refletisse a essência daquele grupo. Ernesto Virgulino é a figura utilizada como símbolo para representar as influências culturais locais e universais que também fazem parte da identidade da banda. O estilo. As influências musicais são diversificadas. Vão desde o Rock ‘n’ Roll e Rockabilly dos anos 50 e 60, passando pelo Punk Rock, Hard Rock, Heavy Metal até Trash Metal. O Rock Nacional dos anos 80 também é uma forte inspiração para o grupo. O resultado é um som que, como os integrantes ressaltam, não tem rótulo. Não pode ser ajustado em nenhum subgênero do rock. É apenas e essencialmente Rock. As músicas. Já são quinze as músicas autorais que os fãs podem conferir nas apresentações do grupo, além de covers de grandes sucessos nacionais. E no Myspace da banda já foram lançadas duas músicas de trabalho, Algo
por mim mesmo e Teorias. As composições são assinadas por Thiago e nas palavras do mesmo os “temas são conflitos pessoais, morais, violência urbana e familiar, problemas sociais, tudo misturado em uma fórmula que leva muita guitarra e letras fortes como ingredientes. As músicas tem guitarras altas e letras fortes, às vezes soando melancólicas, às vezes em tom de deboche e outras vezes mais cruas e rasgadas.” Uma banda independente, que não tem vínculo com as grandes gravadoras, tem como seu principal meio de divulgação a internet. Existem vários sites com recursos que facilitam o trabalho de difusão de conteúdo artístico. Como exemplo o Myspace que permite a personalização, hospedagem de músicas e vídeos e se tornou o site oficial de vários grupos musicais. Outro exemplo é o Youtube que permite a criação de canais oficiais em que as bandas podem divulgar vídeos de shows, clipes, participações em programas de TV, etc. E com a utilização desses meios as bandas podem ganhar muitos adeptos sem grandes custos em publicidade. E o que vem por aí? Para um futuro bem próximo podemos esperar o lançamento de um EP com pelo menos seis músicas para satisfazer ainda mais os fãs da Mentes Mutáveis. Segundo o vocalista, ainda no final desse ano ou começo de 2011 o disco será gravado e que também será lançado na internet para uma divulgação ampla.
www.myspace.com/mentesmutaveis http://twitter.com/mentesmutaveis Contatos: thiago_microfone@hotmail.com. Tel: Thiago (83)8750 – 5114
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Cinema
Por David Veiga
Uma nova forma de fazer cinema @El_veiga
A cidade de Campina Grande sempre se destacou na região por sua produção cultural desde a sua fundação, e a geração atual vem mantendo a tradição, acrescentando a ela novas idéias e produtos inovadores. Um exemplo disso são os alunos do curso de Arte e Mídia da Universidade Federal de Campina Grande, que vem se destacando na produção de vídeos. Com o boom tecnológico e o acesso a várias formas de divulgação a produção videográfica vem se saturando, fazendo com que um diferencial seja uma necessidade. O mercado cresce e a partir deste desenvolvimento massivo, surgem novas formas de se trabalhar uma história. O projeto Aos Vivos, dirigido por Paula Guimarães, é um exemplo desta nova realidade. O roteiro apresenta um caso de assassinato, e em sua conclusão não se tem um desfecho final, com a resolução de quem cometeu o crime. Para que o espectador possa compreender o ocorrido em sua profundidade, ele deve participar ativamente da história, através de um ARG (Alternative Reality Game), ou jogo de
realidade alternativa. O projeto é o primeiro a fazer uso desse recurso na região. Segundo a diretora o ARG “é um jogo de realidade alternativa que faz com que o espectador vire um jogador e brinque dentro do universo da história, misturando a realidade com a ficção. O ARG é uma ferramenta publicitária bastante utilizada na divulgação de grandes marcas como as de filmes ou produtos de multinacionais”. Segundo Paula, a escolha por trabalhar com este tipo de narrativa aproxima a história do público e de algo que está presente na realidade atual, as redes sociais. O espectador passa a ser uma parte construtiva dentro do enredo, investigando e participando de forma ativa para desvendar o assassinato. Produções criativas como esta abrem espaço para novas formas de experimentar o cinema e integrar cada vez mais com o público. A era de uma platéia estática e impassível acabou, e os profissionais da cidade fazem uso consciente deste novo campo que começa a se apresentar. O roteirista do projeto, Nathan Cirino,
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afirma que o desafio está lançado, mas que a coragem de explorar tem respostas significativas no cenário campinense. Segundo o roteirista, ele aproveita a nova realidade para ousar. “Sempre desenvolvi roteiros lineares e a proposta de desenvolver um roteiro que caminhasse por várias mídias ou sites me despertou a curiosidade. Sou muito atraído pelas novas mídias e todas as alternativas que podemos ter através delas, e trabalhar um ARG foi uma ótima oportunidade para desenvolver esse estilo ainda tão marginal no nosso contexto de produções audiovisuais” afirma Nathan. O cinema interativo
A mudança de comportamento nas produções busca acompanhar as mudanças do público em si. O fato se mostra tão verdadeiro que um filme com uma das maiores bilheterias da história fez uso do ARG. Estou falando de Batman – Cavaleiro das Trevas, que inundou quase toda a mídia visual, da internet a TV com virais, publicidades inte-
Cinema
rativas entre outras coisas. A resposta se mostrou na marca de U$ 300 milhões em apenas 10 dias. A avalanche de informação criou uma avalanche de curiosos, fãs e telespectadores sem precedentes. Nathan Cirino vai mais longe e afirma que a mudança está apenas se iniciando. “A interatividade vende. Isso é fato e os games estão aí pra não me deixarem mentir. Atualmente o mercado dos videogames lucra mais do que o mercado cinematográfico, sendo a indústria mais lucrativa do mundo”. Segundo o roteirista, vivemos em uma era de computadores e interatividade, onde o telespectador quer ser um agente participativo na construção de conteúdo. A internet modificou o comportamento e a maneira de consumir informação atualmente. Nathan complementa, afirmando que a necessidade do público serve bem a iniciativas inovadoras, “Temos que dar ao público o que eles querem, além de ser um processo muito divertido poder brincar com essas possibilidades”, completa o roteirista. Enquanto o cenário se mostra mutável e a produção da cidade consegue alcançar um alto nível de qualidade, o retorno é mínimo. Muitos dos diretores da cidade ainda mantém sua produção em um circuito fechado, o que dificulta o reconhecimento da área e sua força crescente, o que poderia atrair patrocinadores, montando um setor remunerado para a sé-
tima arte na cidade. A diretora Paula Guimarães ressalta algumas das dificuldades que ainda marcam o cenário em Campina Grande. “Produzimos hoje com nossa própria verba e apoio de algumas empresas que colaboram com a produção cultural da nossa cidade, mas falta verba para preparar tudo com o melhor equipamento, remunerando equipe etc. Muitas pessoas trabalham de graça, a exemplo de todos os quarenta integrantes do projeto Aos Vivos, ou pagam para trabalhar, a exemplo da diretora do projeto Aos Vivos (risos)”. Campina Grande continua sendo pioneira e chamando atenção de vários pontos da nação, entretanto, uma realidade que ainda continua firme é a ausência de apoio de órgãos responsáveis. A iniciativa individual algumas vezes encontra apoio no setor privado, e essas ocasiões são raras. Moramos em uma cidade que se engrandece por seus moradores e isso vai continuar, mas já não se faz hora para que a cidade e seus investidores voltem seus olhos para a cultura produzida internamente? Já não se faz hora de valorizar os projetos inovadores e que podem chamar ainda mais atenção para a cultura campinense, já tão rica? A nova geração do cinema está caminhando juntamente com os jovens da cidade e este futuro vai além de qualquer previsão. Muito além.
Na web
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Novas Tecnologias
Podcast : A cultura em áudio e nas ondas da rede Por Marcos Moraes
@marcosreimaster
Um microfone, um computador e vontade de se comunicar, essa é a receita para iniciar um podcast. Se você não faz a mínima idéia do que eu estou falando, continue lendo essa matéria e fique por dentro dessa mídia, que vem revolucionando as formas de comunicação. Os podcasts - também chamados de podcastings - são arquivos de áudio transmitidos via internet, conhecidos como episódios. Neles, os internautas oferecem seleções de músicas ou falam sobre os mais variados assuntos, exatamente como acontece nos blogs. A palavra que determina esta nova tecnologia surgiu da fusão de iPod (tocador de MP3 da Apple) e broadcast (transmissão via rádio). Os podcasts representam uma revolução no mundo da comunicação, pois libertam os seus ouvintes da grade de programação, uma vez que os arquivos baixados podem ser ouvidos a qualquer hora e em qualquer lugar. Consolidados pela iniciativa do norte-americano Adam Curry no final de 2004, os podcasts reúnem diversas características que os tornam
promissores no mundo das tecnologias de informação, com bons indicativos para uma maior democratização nos meios de produção, distribuição e acesso a conteúdos de áudio. De acordo com o psicólogo Pablo de
Assis, que junto com outro amigo, criou um podcast para falar sobre podcast, intitulado de Metacast, nem todos os áudios distribuídos na rede, podem ser considerados podcast. “Para uma mídia ser um podcast é necessário ter um Feed. É como você falar de um programa de rádio que você ouve na televisão. Isso não faz sentido porque um programa de
rádio é um programa transmitido via rádiodifusão e ouvido em um aparelho de rádio”, afirma. Mas o que é um feed? O Feed é um arquivo que detecta automaticamente os podcasts publicados em um site e cria um índice. Esse índice é reconhecido pelos leitores de feed, que são programas (sofwares) que “agregam” os feeds para que ele mostre e baixe podcasts de um site, dessa forma você pode sempre saber quando foi publicado um novo podcast e fazer automaticamente o download, ouvir e passar para seu mp3 player ou a iPod. Uma definição mais detalhada de feed nos é apresentado por Christian Gurtner, produtor do Escriba Café, podcast sobre história e literatura, e que já tem mais de 70 episódios. “Um feed é um arquivo com extensão xml ou rss que “alimenta” o leitor de feeds para que ele liste todos os podcasts de um determinado site. Cada site tem um feed próprio para seus podcasts. Exemplo: http://feeds.feedburner.co m/escribacafe (esse é o feed do Escriba Cafe, ele não ter-
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Novas Tecnologias mina em ‘xml’ ou ‘rss’ porque ele assim como muitos outros, detecta automaticamente a melhor extensão à ser usada com determinado leitor de feeds e resolve lá mesmo sem dar trabalho nenhum. Ele lista tudo o que é publicado no Escriba Café”, explica Gurtner. Podcast e direitos autorais Quem produz ou quer produzir um podcast, precisa tomar alguns cuidados na hora de disponibilizar arquivos na rede, pois apesar do livre acesso, um podcast ainda deve respeitar as leis de direitos autorais ao divulgar músicas, por exemplo, e em muitos destes casos são utilizadas as chamadas músicas podsafe, criadas sob a licença Creative Commons , mantendo alguns direitos reservados, mas usualmente permitindo sua livre reprodução. Artistas famosos vêm sendo cada vez mais encorajados a criarem seus trabalhos sob este tipo de licença, aumentando sua divulgação através deste meio que cresce cada vez mais, e novos artistas encontram nele uma forma eficiente de divulgar seus trabalhos. Grandes empresas de mídia apostam desde já na tecnologia, por enquanto como meio alternativo de distribuição de áudio. Podcasting é, portanto, um novo e eficiente meio de divulgação de informações e cultura, além de um indício sobre as próximas tecnologias de comunicação audiovisual que estão por chegar, onde o usuário poderá montar livremente as suas próprias programações de rádio e TV.
Rapadura cast – www.cinemacomrapadura.com.br Escriba Café www.escribacafe.com Café Brasil - www.lucianopires.com.br/cafebrasil/podcast Metacast – http://metacast.info/ Nerdcast – www.jovemnerd.com.br Livre Pauta – www.livrepautacontato.podmatic.com
Se você ainda não é um ouvinte de podcast acima vão alguns endereços para você começar com classe a sua jornada nesse universo de sons digitais.
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Novas Tecnologias A “Olhar Cultural” entrevistou por e-mail com o blogueiro e podcaster Pablo de Assis, psicólogo e mestrando em Comunicação e Linguagem que junto com Eduardo Sales, produz o Metacast, um podcast que fala sobre podcast. As vantagens da mídia, direitos autorais e dicas de como criar um podcast, foram alguns dos temas dessa conversa digital. Olhar Cultural - Li um monte de definições sobre podcast, mas para você o que é um podcast? Eu gosto das definições básicas e originais. Podcast é uma mídia transmitida ponto-a-ponto via feed, através de um meio chamado podcasting. Em outras palavras, Podcast é a mídia (de qualquer formato, áudio, vídeo, imagem, PDF) transmitida via Podcasting. Ou seja, segundo a definição básica de podcast, para uma mídia ser um podcast é necessário ter um Feed. É como você falar de um programa de rádio que você ouve na televisão. Isso não faz sentido porque um programa de rádio é um programa transmitido via rádiodifusão e ouvido em um aparelho de rádio. Simples, não? OC - Por que criar um podcast? Um podcast é uma form de participar e construir mídia atualmente. Com a facilidade de utilizar computadores e interner e agora com o público criando o conteúdo, além da grande indústria cultural, o podcast é uma forma simples, barata (praticamente sem custo) de criar programas de áudio ou vídeo acessíveis a qualquer pessoa que quiser assinar um feed. =) OC - Qual a vantagem dessa mídia? São várias. Vamos listar: 1) Você tem o controle de quando ouvir. 2) Você pode escolher onde ouvir. 3) Você pode ouvir quantas vezes quiser. 4) Você pode compatilhar com quantas pessoas quiser. 5) Você pode ouvir em um aparelho móvel e assistir, por exemplo, dentro do metrô ou do elevador. 6) Você pode mandar email, recado de voz ou comentário e ter sua opinião ouvida e lida em um programa... Bom, são essas as vantagens que consigo pensar agora (comparando com as mídias tradicionais, como rádio e TV). OC - Só os nerds ouvem podcast? Digamos que mais nerds conhecem podcasts. Mas existem inclusive vários que não são nerds que produzem podcasts, como o Maestro Billy do Caldeirão do Huck, que inclusíve é presidente da Associação Brasileira de Podcast (ABPod). OC - Vamos falar um pouco sobre o Metacast, por que criar um podcast falando sobre podcast? Por que não? ;-) Já que temos blogs pra falar de blogs, livros para falar de livros, por que não um podcast para falar de podcasts? É basicamente por isso... =)
OC - O que levou vocês a criarem o Metacast? No meu caso, foi a vontade de ter um espaço metalinguístico para se falar de podcasts. Sempre fui curioso da mídia, tanto que agora estou fazendo mestrado em Comunicação, pesquisando podcasts. E um podcast para tratar de podcast me pareceu uma boa ideia para explorar a mídia e servir de espaço de discussão e construção da mídia... =) OC - Da pra ganhar dinheiro com podcast? Claro! Só que o brasileiro ainda não descobriu como diretamente. Quem ganha atualmente dinheiro com podcast, ganha indiretamente com ele, vendendo produtos em loja virtual ou com link patrocinado ou ainda com publicidade em blog, apostando nas visitas a mais que o podcast trará. Mas, explorando a mídia é possível sim. Só que a gente ainda precisa descobrir como... OC - O que é preciso para se criar um podcast? É preciso produzir a mídia, hospedá-la online e disponibilizar o link direto para download em um feed. Existem várias formas fáceis para fazer isso e no Metacast explicamos bastante como fazer isso com facilidade. =) OC - O tema da democratização dos meios de comunicação está no centro dos debates, recentemente tivemos a conferencia nacional de comunicação. Você acha que o podcast é uma ferramenta facilitadora dessa democratização? Claro! É uma forma boa de falar o que você quer, quando você quer e ser ouvido/visto por quem quer. =) OC - Direitos Autorais, você já teve problema, por ter vinculado alguma coisa no seu podcast sem autorização? Particularmente, não. No Metacast usamos músicas chamadas de Podsafe, ou seja, que são seguras para serem usadas em podcasts porque tem alguma licença tipo copyleft. OC - Vocês já trataram disso no Metacast. Quais as dicas que vocês dão sobre esse assunto? Claro! Já tratamos de muita coisa disso e vamos tratar ainda mais, já que existem muitas coisas que não falamos. As dicas que eu posso dar é ouvir o Metacast porque sempre tocamos no assunto... agosto_2010 Revista Olhar Cultural
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Um olhar sobre o Festival de Inverno de Campina Grande Júlio Cezar Peres
Curioso como uma criança, mas não qualquer criança; como o João Paulo, do Josué de Castro em “Homens e Caranguejos”; como a Sofia Amundsen e o Hans-Thomas, do Jostein Gaarder; como o Sebastião na música do Nando Reis; como Os Karas do Pedro Bandeira em "A Droga da Obediência" dentre outras. Curiosidade é o que move minha existência. agosto_2010 Revista Olhar Cultural
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Ensaio Fotografico
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