Canto Onde

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CANTO ONDE


Título: Canto onde © Luís Quintais e Edições Cotovia, Lda., Lisboa, 2006 Concepção gráfica de João Botelho ISBN: 972-795-180-5


LuĂ­s Quintais

Canto onde

Cotovia



Índice

I Nó Sorry Mr. Crow Retrato de Guy Debord aos 21 anos A górgona A górgona, outra vez Field trial (fragmento) Field trial (à margem)

p. 15 16 17 19 20 22 24 27

II Evidência D. Setembro 21.30 h

31 32 33 34

III — Iniciação no escuro I II III IV V VI VII

35 37 37 38 39 39 40 40

IV Exorcismo Como o poema História da loucura Página O pequeno Hamlet

43 44 45 46 47 7


Horror morfológico Totémico Os animais que morrem Cyborgs Colder than a welldigger’s ass Para a minha filha (Weldon Kees) F.

48 50 51 52 53 54 55

Identidade Crença Dromologia Ghost in the machine Crânio Mapa Laura Nome Armadilha Arábia feliz Chet My funny valentine Degrau Canto Osffal

59 61 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 74 76 77

Funesto Braços, lacerações, memórias

81 82

V

VI

VII Eco Muro Do espaço Livro, memória A um livro medíocre Assim o azul Sul

87 88 89 90 91 92 93 8


VIII Meio-dia L’aliéné voyager Norte Ver o norte Melancólico até ao osso O Rinoceronte que Dürer viu

97 98 100 101 102 103

IX Máquina Mundo Estrada Tempo Maelstrom

107 108 109 110 111

9



It seems a denial of the actual smile of God to say God doesn’t change. But it seems a denial of everything sensible. I am the brother of everything in the universe in the sense of being, oh, a tormented sibling to it, simultaneous with others and sequential with some others, too… The argument is that imperfection is great… Very great. BRODKEY



I



N贸

Acende-se um n贸 na garganta.

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Sorry

You don’t have any new mail! Esperamos por uma revelação que não se anuncia. Enquanto isso, um pássaro — negro, vinílico — cerca o azul, grita em terras distantes.

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Mr. Crow

I Asas de metal e carne permanecerão abertas por breves segundos, antes do silêncio demencial que percorrerá as ruas de Lisboa. Num cenário extinto, ele espreitará a desolação e a morte, aí onde o que resta abandonou já toda a esperança. Vejo-o sobre colunas de iluminação, brasonando a urban experiência, velho e enigmático em suas navegações para nenhures. Ele olha para dentro de si e contempla o porvir, a tela escura e móvel onde riscos e ondulações perseguem o ilegível. O seu olhar desloca-se no interior de uma tempestade, e uma fria distância sem cronologia desloca-se com ele. Contempla o que não lhe pertence, o que é conclusão humana. Nele tudo se diverte, tudo se regozija num apelo a ocaso e a cinza. Sobrevivo e só, está onde sempre esteve, antecipando o que a vidência lhe permite: O halo de uma revisitação armadilhada, o convulsivo cheiro a podre e a derrota, a decadência e a virtude que em inocência se denuncia.

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II Tuxedo de metal e carne, o pássaro espreita o que a tua mente pretende ignorar. Uma página escreve-se, e tu não a podes ler de tão ávido de sentido que estás. Prédios desabam, máquinas cospem alienações, o vidro derrete sob o véu cuja luz cegará o mais cínico e o mais crédulo, juntos no enlace de medo e luto.

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Retrato de Guy Debord aos 21 anos

A película destruída por excessos que virias a cometer depois. A peste, a corrosão do mundo, o absurdo da vida sem a qual não. Vidente, espreitas.

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