Peças Escolhidas I.

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PEÇAS ESCOLHIDAS


As traduções inclusas neste volume contaram com o apoio financeiro do Instituto Italiano de Cultura

Traduções: copyright © dos tradutores e Edições Cotovia Lda., Lisboa 2008 Prefácio e nota final: copyright © de Jorge Silva Melo e Edições Cotovia Lda., Lisboa 2008 Todos os direitos reservados

ISBN 978-972-795-238-0


Carlo Goldoni

Peรงas escolhidas volume 1

Cotovia



Índice

Voltar sempre a Goldoni — e sorrir, por Jorge Silva Melo O SERVIDOR DE DOIS AMOS

p. 19 13

A ESTALAJADEIRA

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O CAMPIELLO

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Carlo Goldoni, por Jorge Silva Melo

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Voltar sempre a Goldoni — e sorrir

“Os dois livros sobre os quais mais meditei, e de que nunca me arrependerei de me ter servido, foram o Mundo e o Teatro” é uma das mais conhecidas afirmações de Goldoni (em 1750, no prefácio à primeira edição das suas obras) e terá sido Mario Baratto quem, em 1957, e abrindo novo campo nos estudos do seu teatro, chamou a atenção para essa declaração, lapidar arte poética 1. Com efeito, ele fez soprar o vento ( a brisa nova?) da realidade sobre as formas esteriotipadas do teatro do seu tempo, essa commedia dell’arte tão cheia de encantos como de preconceitos e abastardamentos, fórmula que envelhecia na foz. Mas Goldoni é um reformador cauteloso. Não se pôs a destruir as formas velhas, caducas embora, estudou-as, calçou-as com os sapatos sujos da realidade, encontrando nelas as lentes que lhe permitiram observar a vida, esse segredo escancarado. No imenso cortejo que ele criou, repleto de pais burgueses e filhas casadoiras, criados espevitados e aristocratas empobrecidos, comerciantes espertos e notários ávidos, encontramos a reduzida galeria de tipos que fizera a comédia popular, os Pantaleões, os Arlequins, as Colombinas, os Brighella da tradição. Mas, ao volteface permanente desse teatro de todos os efeitos, a que, em O Servidor de Dois Amos simultaneamente rende homenagem e volta costas, contrapõe Goldoni um outro tempo dramático. As suas peças serão cada vez mais lentas, as intrigas mais desnudadas, o enredo rarefaz-se, as cenas serão mais demoradas, as conversas mais importantes do que as reviravoltas da intriga, é como se o carrocel 1 Baratto, Mario “Mondo” e “Teatro” nella poetica di Goldoni, Veneza, Stam-

peria di Venezia, 1957.


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Jorge Silva Melo

tivesse que parar e o teatro de Goldoni apanhasse as personagens na volta final e na descida, quando se apoiam umas às outras, depois do sarrabulho, depois da vertigem. É que o mundo está a mudar, muda. E na Itália que ele percorre — Perugia, Padua, Rimini, Milão, Génova, mas sobretudo Veneza, a República — há riquezas novas que se fazem, poderes que se conquistam, riquezas que se desfazem, a burguesia avança, instala-se e ao seu poder. E Goldoni, que foi notário, lidou com certidões, dinheiro, heranças, litígios, não pode ver o mundo como o permanente corropio da commedia dell’arte, vê o vagaroso desmoronar de privilégios, o lento avançar de afirmações (o valor do trabalho, o valor da mulher), é isso que ele vai beber ao Mundo, esse novo livro que folheia e onde se perde, como as gentes se perdiam na leitura dos jornais, moda que começava e onde a burguesia se entendia, com os seus anúncios, notícias, reflexões. É desse mundo que Goldoni fala. “Sem poesia” diriam os românticos, “sem cultura, com uma inegável indiferença em relação à filosofia, à política, à moral, sem mundo interior” dirá ainda De Sanctis na sua Storia Della Letteratura Italiana, que publicou em 1870 2. Mas será esse mesmo De Sanctis que reconhece que é no teatro de Goldoni que “surge pela primeira vez a nova literatura”, “atenta à plenitude da vida real, com todos os seus adereços, numa área histórica e social bem circunscrita, a sociedade veneziana na sua mediania, mais próxima das classes populares do que das mais elevadas”. Eu, cá por mim, volto sempre a Goldoni. Com tanta pena de não ter nunca levado à cena A Estalajadeira, essa cintilação. E volto a ele, fonte que é, homem objectivo, aquele que, se soubesse, podia dizer, com Isherwood, I am a camera. Ou como Nikias Skapinakis, em 1957, “aquilo que pinto é o meu único ponto de partida, por não dispor de outro”. 2 De Sanctis, Storia Della Letteratura Italiana, Milão, Feltrinelli, 1960.


Voltar sempre a Goldoni...

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Vive assim quem de Goldoni se aproxima (na Academia ou nos palcos) uma tentação dúplice. Ora caem para o lado do Carnaval e fazem vibrar a convencional mascarada social e italianizante; ora, apanham as personagens depois da festa, no regresso a casa, com todas as suas mesquinhices, pequenezes, mediocridade e aquela italiana noite de toda a melancolia, perfumada noite dos sentidos, a mozartiana. Ele afirmou esse teatro em que o Mundo entra (“tutto è susceptibile di teatro”) com a delicada atenção que foi prestando ao mundo, à oralidade, aos dialectos, aos empregos, às contas, ao dinheiro, aos tratados de casamento, acordos de negócios e ao amor que nasce, como nascem costumes ou beberagens, o café, o chocolate. Se o Goldoni sentimental da Pamela (adaptação triunfal do romance de Richardson) ou da Putta Onorata soçobrou nas lágrimas que fez verter, penso no homem que criou as extraordinárias cenas de conjunto do Campiello, que soube desenhar o grupo como só ele fez na Villegiatura. No homem que põe em cena os objectos da vida, ferro de engomar de Mirandolina, chícaras de café para tanta gente, rapé, livranças. A pouco e pouco, lentamente, ao fim de centenas de páginas, ele abriu o palco à cena de conjunto, berço que moldou para a vilegiatura de Tchekhov, a quem Goldoni, olhando, atento, Teatro e Mundo, abriu as portas. Não é da literatura que vem o teatro de Goldoni, por isso mesmo tratado de “pouco culto”, nem a sua prosa simples recorre ao clássico manancial de imagens; é do teatro, que ele conhece bem, por fazê-lo, montá-lo, programá-lo, ensaiá-lo, é do teatro e das suas convenções que Goldoni nasce, é nele que, limpando-o, instala os alicerces da sua comédia humana. E é a este primeiro realismo, esta terna recolha das inquietações humanas que volto sempre, poesia que é de teatro apenas, noite que cai sobre estas personagens em convívio, esta sociedade.


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Jorge Silva Melo

Não é fácil saber que o mundo está a mudar. E Goldoni sabe-o, vai vendo o velho ruir, o novo afirmar-se, anota, anota sem fim, vê, tudo vai trazendo para o palco, gente, coisas, contratos, cadeiras, é uma sanguessuga da vida, o palco tem um íman a que ele se oferece. E o seu teatro, teatro novo, será a amável anotação deste tempo que passa, deste mundo que muda, teatro ele próprio em mudança, forma que se vai adequando à investigação e ela própria investigada. Volto sempre a Goldoni, nasceu ali um teatro, nasceu um mundo. Naquela atenção que ele próprio, arrasado por um real mais real do que o teatro, por um teatro em decomposição, foi inventando. E talvez não tenha havido invenção mais duradoura. Ainda hoje o escrevemos como Goldoni o inventou. E há trezentos anos que andamos nisto. E sorrimos, ah, sorrimos. Não terá sido Goldoni a inventar o sorriso, essa forma que ele tem de acariciar as fraquezas dos homens? Jorge Silva Melo


O servidor de dois amos

Tradução de Alessandra Balsamo A partir da edição: Commedie, vol.1, Carlo Goldoni. A cura di Kurt Ringger, Turim, Einaudi, 1972. Esta peça estreou em 1745.


PERSONAGENS Pantaleão de Bisognosi · Clarice, sua filha · O Doutor Lombardi · Sílvio, seu filho · Beatriz, turinesa em traje de homem com o nome de Frederico Rasponi · Florindo Aretusi, turinês, amante de Beatriz · Brighella, dono da estalagem · Esmeraldina, criada de Clarice · Truffaldino, criado de Beatriz e depois de Florindo · Um criado da estalagem, que fala · Um criado de Pantaleão, que fala · Dois carregadores, que falam · Criados de mesa da estalagem

A acção decorre em Veneza.


Do autor a quem ler

Achará, leitor caríssimo, a presente comédia muito diferente das outras minhas que terá lido até agora. Esta comédia não é de carácter, a não ser que se queira considerar um carácter a personagem de Truffaldino, que é o carácter do servidor tolo e ao mesmo tempo astuto. Tolo nessas coisas em que ele age estouvadamente e sem reflectir, mas atentíssimo quando o interesse e a malícia o adestram, que é o verdadeiro carácter do Vilão. Poder-se-á chamar comédia jocosa, porque na sua maioria é constituída pelo jogo de Truffaldino. Muito se assemelha às tradicionais comédias histriónicas, parecendo-me, todavia, não haver nela todas essas impropriedades grosseiras que condenei no meu Teatro Cómico e que hoje em dia o Mundo geralmente já não aprecia. Impropriedade poderia parecer, aos espíritos mais escrupulosos, o facto de Truffaldino manter até ao fim o equívoco da sua dupla personalidade de servidor, mesmo na presença dos dois amos, apenas porque nenhum dos dois jamais o chama pelo seu nome. Se Florindo ou Beatriz, no terceiro acto, pronunciassem, uma vez que fosse, o nome Truffaldino em vez de se referirem a ele dizendo invariavelmente o meu servidor, o equívoco estaria desfeito e a comédia então terminaria. Mas estes equívocos, fomentados pela arte do Inventor, não só os encontramos em profusão nas comédias mas também nas tragédias, e, ainda que me esforce por respeitar a verosimilhança numa comédia jocosa, creio que podemos admitir algo não totalmente impossível. A outros poderá parecer ainda haver demasiada distância entre a tolice e a astúcia de Truffaldino. Assim, por exemplo,


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O servidor de dois amos

rasgar uma letra para desenhar a disposição dos pratos na mesa parece um excesso de desmazelo. Servir dois amos, em dois quartos, ao mesmo tempo, com tanta prontidão e celeridade, parece um excesso de esperteza. Mas eis aqui o que eu referi no princípio acerca do carácter de Truffaldino: tolo quando age sem pensar, como quando rasga a letra; astutíssimo quando age com malícia, como quando aparece a servir duas mesas. Por outro lado, se quisermos considerar a catástrofe da comédia, a peripécia, a intriga, Truffaldino não tem um papel de protagonista; aliás, se excluirmos a suposta morte de um e de outro amante, em que os próprios acreditam por obra deste Servidor, a comédia poderia fazer-se sem ele e disso temos inúmeros exemplos, que eu não cito para com isso não ocupar demasiadas folhas e porque creio não ter a obrigação de provar aquilo de que ninguém me poderia acusar. Aliás, no próprio Molière poderia eu achar válidos fundamentos para me justificar. Quando escrevi a presente comédia, no ano de 1745, em Pisa, por meio dos compromissos profissionais, por entretenimento e por gosto pessoal, não a escrevi como agora se apresenta. Com excepção de três ou quatro cenas em cada acto (as mais interessantes para os papéis sérios), todo o resto da comédia estava esboçado apenas da forma, como soem dizer os comediantes, a soggetto; ou seja, havia um enredo escrito que, mesmo esboçando a intenção, as principais linhas, o desenrolar e o fim dos raciocínios que os actores deviam seguir, era depois pelos mesmos completado livremente e de improviso com palavras e lazzi apropriados e espirituosos conceitos. De facto, esta minha comédia de improviso foi tão bem executada pelos primeiros actores que a representaram que fiquei por ela muito agradado e não tenho dúvidas de que fizeram melhor eles ao adorná-la do que eu possa ter feito ao escrevê-la. As argúcias de Truffaldino, as graças, a sua viveza, são coisas que resultam melhor quando são produzidas na altura pela presença de espírito, pela ocasião, pelo brio. Esse célebre e excelente cómico, famoso em toda a Itália com o nome de


Do autor a quem ler

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Truffaldino 1, tem uma presença de espírito, uma imaginação de tal forma fértil e uma naturalidade nos termos que surpreende e, querendo eu inspirar-me para as partes cómicas das minhas comédias, não conseguiria encontrar melhor fonte do que ele. Esta comédia esbocei-a expressamente para ele, aliás foi ele que me propôs o argumento, um pouco difícil na verdade e que pôs à prova toda a minha inclinação natural pela cómica artificiosa e todo o talento dele para a representação. Vi-a depois representada em outros lugares por outros cómicos e, talvez não por falta de mérito mas por falta dessas informações que o enredo escrito unicamente não lhes podia fornecer, pareceu-me que tinha perdido muitíssimo em relação à primeira representação. Decidi-me, por essa razão, a escrevê-la toda, não para obrigar os que representassem a personagem de Truffaldino a dizer as minhas palavras, quando melhor sabem dizer, mas para declarar a minha intenção e para conduzi-los até ao fim pelo melhor caminho. Esforcei-me por escrever todos os lazzi mais necessários, todas as mais pequenas observações, para a tornar o mais acessível que pude e se ela não tem o mérito da crítica, da moral, da instrução, que tenha pelo menos o de uma conduta razoável e de um discreto e razoável jogo. Rogo, porém, aos que interpretarem o papel de Truffaldino que, sempre que quiserem acrescentar algo à peça, se abstenham de usar palavras grosseiras e lazzi obscenos; pois podem estar certos de que dessas coisas se riem somente os que à vil plebe pertencem e que elas ofendem as pessoas de bem. Saiba, por fim, meu caro leitor, que esta comédia é uma das seis que eu prometi escrever para além das quarenta e quatro publicadas por Bettinelli. Mas também esta se tornará dele, pois que do que é meu todos se tornam donos e, aliás, acusam-me a mim de crime se das minhas coisas discretamente me sirvo. 1 António Sacchi.



PRIMEIRO ACTO

CENA I

Sala em casa de Pantaleão. Pantaleão, o Doutor, Clarice, Sílvio, Brighella, Esmeraldina, um outro Criado de Pantaleão. SÍLVIO (para Clarice, estendendo-lhe a mão) Eis a minha mão direita e com ela dou-vos todo o meu coração. PANTALEÃO (para Clarice) Vamos, não vos envergonheis; dai a mão também vós. Ficareis assim noivos, e não tarda estareis casados. CLARICE Sim, querido Sílvio, eis a minha mão direita. Prometo ser vossa esposa. SÍLVIO (dão as mãos) E eu prometo ser vosso esposo. DOUTOR Muitíssimo bem, está feito. Agora já não se volta atrás. ESMERALDINA (à parte) Oh, que lindo! A bem dizer, também eu morro de vontade de casar. PANTALEÃO (para Brighella e para o Criado) Vós sereis testemunhas desta promessa, feita entre a minha filha Clarice e o senhor Sílvio, filho digníssimo do nosso amigo Doutor Lombardi.


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O servidor de dois amos

BRIGHELLA (para Pantaleão) Com muito gosto, senhor compadre, e agradeço-vos esta honra que tivestes a amabilidade de me conceder. PANTALEÃO Vistes? Eu fui padrinho do vosso casamento e vós sois testemunhas do noivado da minha filha. Não quis chamar amigos nem convidar muitos parentes, porque o senhor Doutor também é da mesma opinião; nós gostamos de fazer as coisas sem estrépito, sem luxos. Almoçaremos juntos, festejaremos entre nós e ninguém nos incomodará. (Para Clarice e Sílvio:) Achais bem, jovens? SÍLVIO Eu não desejo outra coisa senão ficar perto da minha querida noiva. ESMERALDINA (à parte) Claro, ela é o melhor prato. DOUTOR O meu filho não ama a vaidade. É um jovem com bom coração. Ama a vossa filha e não pensa em outra coisa. PANTALEÃO (para Sílvio) Em boa verdade é preciso reconhecer que este casamento foi obra da providência, porque, como sabeis, a minha filha estava prometida ao senhor Frederico Rasponi, meu agente… Se ele não tivesse morrido em Turim, não a poderia dar em casamento ao meu querido genro. SÍLVIO É verdade, posso dizer que sou um homem de sorte. Não sei se dirá a mesma coisa a menina Clarice. CLARICE Querido Sílvio, sois injusto, sabeis que vos amo. Para obedecer ao senhor meu pai, teria casado com aquele turinês, mas o meu coração sempre foi vosso. DOUTOR É bem verdade, quando o céu decide algo, fá-lo acontecer pelas vias mais imprevisíveis. (Para Pantaleão:) Como foi que Frederico Rasponi morreu? PANTALEÃO Coitado! Foi assassinado de noite por causa de uma irmã... Não sei de nada. Deram-lhe uma coça e morreu na hora. BRIGHELLA (para Pantaleão) E foi em Turim que isso aconteceu?


Acto I.1

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PANTALEÃO Em Turim. BRIGHELLA Oh, pobre senhor! Lamento infinitamente. PANTALEÃO (para Brighella) Conhecestes o senhor Frederico Rasponi? BRIGHELLA Claro que conheci. Estive em Turim três anos e conheci também a irmã, uma jovem vivaz e impetuosa. Vestia-se de homem, andava a cavalo e ele tinha uma paixão pela irmã. Oh! Quem havia de dizer! PANTALEÃO Pois é! As desgraças estão sempre à espreita. Vamos, não falemos de tristezas. Sabeis que mais, meu caro senhor Brighella? Sei que vos deleitais em cozinhar. Gostaria que nos preparásseis uns pratos ao vosso gosto. BRIGHELLA Servir-vos-ei com todo o prazer. Não é para me gabar, mas na minha estalagem todos ficam satisfeitos. Dizem que em lugar nenhum se come como lá. Haveis de provar algo de delicioso. PANTALEÃO Bravo! Comida com molho, assim… onde possamos molhar uns bons bocados de pão. (Ouve-se bater.) Oh! Batem à porta. Vê quem é, Esmeraldina. ESMERALDINA Vou já. (Vai, e depois volta.) CLARICE Meu pai, com vossa boa licença. PANTALEÃO Esperai. Vinde todos. Vamos ver quem é. ESMERALDINA (volta) Senhor, é um criado de um forasteiro que gostaria de vos fazer uma visita. A mim não me quis dizer nada. Diz que quer falar com o patrão. PANTALEÃO Diz-lhe que entre, vamos ver o que quer. ESMERALDINA Vou mandá-lo entrar. (Sai.) CLARICE Mas eu vou-me embora, meu pai. PANTALEÃO Para onde? CLARICE Não sei, para o meu quarto. PANTALEÃO Não senhora, não senhora, ficais aqui. (Em voz baixa para o Doutor:) Ainda não quero deixar os noivos a sós. DOUTOR (em voz baixa para Pantaleão) Sabiamente, com prudência...


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