WAYNE CORDEIRO
ENCHA O TANQUE E RENOVE A PAIXÃO
Editora Vida
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Copyright© 2009, por Wayne Cordeiro Originalmente publicado em inglês sob o título Leading on Empty por Bethany House, uma divisão da Baker Publishing Group, Grand Rapids, Michigan, 49516, EUA. Todos os direitos reservados.
Todos os direitos desta tradução em língua portuguesa reservados por Editora Vida. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com indicação da fonte.
Editor responsável: Sônia Freire Lula Almeida Editor-assistente: Gisele Romão da Cruz Santiago Tradução: Emirson Justino Revisão de tradução: Marsely Dantas Revisão de provas: Andrea Filatro Diagramação: Claudia Fatel Lino e Karine dos Santos Barbosa Capa: Arte Peniel (adaptação)
1. edição: 1a reimp.: 2 a reimp.: 3a reimp.: 4a reimp.: 5a reimp.:
Scripture quotations taken from Bíblia Sagrada, Nova Versão Internacional, NVI ® Copyright © 1993, 2000 by International Bible Society ®. Used by permission IBS-STL U.S. All rights reserved worldwide. Edição publicada por Editora Vida, salvo indicação em contrário.
Todas as citações bíblicas e de terceiros foram adaptadas segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em 1990, em vigor desde janeiro de 2009.
maio 2011 set. 2011 jun. 2013 set. 2013 mar. 2014 set. 2015
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil) Cordeiro, Wayne Andando com o tanque vazio?: encha o tanque e renove a paixão / Wayne Cordeiro; tradução Emirson Justino. — São Paulo: Editora Vida, 2011. Título original: Leading on Empty: Refilling Your Tank and Renewing Your Passion ISBN 978-85-383-0199-8 1. Burnout (Psicologia) - Aspectos religiosos - Cristianismo 2. Clero - Estresse no trabalho 3. Clero - Saúde mental 4. Depressão - Aspectos religiosos - Cristianismo I. Título. 11-01940
CDD-253.2 Índices para catálogo sistemático: 1. Trabalho pastoral : Cristianismo 253.2
Sumário Prólogo 7 Prefácio 11 Introdução 13 Capítulo 1: Quando o ponteiro aponta para o zero 17 Capítulo 2: Forçando os limites 31 Capítulo 3: Poder aperfeiçoado na fraqueza 42 Capítulo 4: Primeiros sinais de advertência 56 Capítulo 5: Refinamento solitário 64 Capítulo 6: A descoberta das águas tranquilas 81 Capítulo 7: A nova perspectiva 92 Capítulo 8: Sete lições duramente aprendidas 102 Capítulo 9: Encontrando o caminho de volta para casa 131 Capítulo 10: A vida intencional 149 Capítulo 11: Encontrando a solidão nos sabáticos 165 Epílogo 185 Livros para a jornada 189
Prólogo Bob Buford A ambição é boa. O esforço no trabalho também. Lazer, descanso e diversão são coisas boas. Mas há limites para tudo isso. Deixe-me dizer a você o que me surpreendeu e me fez pensar muito sobre limites e fronteiras. Esta é a história de dois homens bons, homens cujo trabalho conheço e respeito — homens virtuosos cuja vida tem sido gasta no serviço a Deus e ao próximo. Temos um dilúvio de noticiários de televisão falando sobre gente ruim que mente, trapaceia, rouba e quebra as regras de diversas maneiras indecentes. Contudo, estou falando de bons rapazes. A maioria das pessoas que conheço tem boas intenções, leva uma vida com propósitos e deseja continuar assim até o último suspiro, assim como faziam esses dois homens. Todavia, ambos se viram além de seus limites. Os dois são pastores titulares. Ambos são excelentes comunicadores, amados e respeitados pelas pessoas a quem servem. A verdade é que são quase venerados. Os dois estão na casa dos 50 anos, liderando igrejas com uma frequência semanal de mais de 2 mil pessoas. Pense no estresse desse trabalho: primeiramente, a pressão de preparar e pregar uma mensagem a milhares de pessoas todas as semanas e de ficar bastante tempo debaixo dos holofotes. Isso, combinado à responsabilidade da liderança daquilo que é essencialmente uma enorme empresa de serviços altamente exigente. 7
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O primeiro pastor que quero descrever dirige uma igreja na Costa Oeste dos Estados Unidos. Ele mesmo iniciou essa igreja e é bastante conhecido como autor e orador de seminários sobre liderança para pastores. Não muito tempo atrás, ouvi em uma de suas pregações a descrição de sua experiência de burnout1. Chegara a um ponto em que sentia que tudo o que fazia era falso. Ele disse: “Eu me sentia horrível por dentro. Perdi o entusiasmo pelo que estava fazendo. A obra que para mim era uma grande paixão se tornara apenas um trabalho. Eu me arrastava o dia inteiro. Sabia que havia algo errado, conversei com alguns amigos sobre isso e, finalmente, busquei ajuda médica. O médico me deu o diagnóstico de burnout e prescreveu seis meses de descanso — absolutamente nada de trabalho. Era realmente grave.” “Eu disse ‘De jeito nenhum’, mas me inscrevi num retiro de silêncio num mosteiro católico. Não foi perfeito, mas me deu alívio suficiente para pelo menos pensar profundamente sobre o que estava acontecendo comigo e me motivou a diminuir significativamente minha agenda de trabalho. Deleguei todo tipo de coisa a meus subordinados, que fizeram um trabalho excelente.” O segundo pastor lidera uma grande igreja do outro lado do país e também começou a experimentar o burnout. Várias pessoas com as quais conversei já previam que isso aconteceria. Ele era muito apegado a detalhes e relutava em delegar qualquer coisa. Dirigia uma igreja grande como se fosse uma pequena paróquia, fazendo grande parte das atividades de cuidado pastoral e preparando as mensagens semanais. Era um gerente de minúcias. Começou a sentir uma espécie de dor física e, por causa disso, passou a tomar analgésicos, o que, não demorou muito, o levou à dependência de remédios controlados. Descobriu-se mais tarde que diversos médicos de sua comunidade lhe prescreviam remédios fortes e drogas que causavam dependência, sem saber que outros já haviam feito a mesma coisa. Em cada caso, o pastor pedia ao médico envolvido que não falasse com sua esposa sobre isso. Agia como um pato que parece calmo na superfície, 1
Condição de fadiga, esgotamento, exaustão. O autor às vezes faz um trocadilho com o estado de “queimado” ou “frito” devido a sobreaquecimento ou excesso de tensão. [N. do R.] 8
Prólogo
mas que debate as patas embaixo da linha d’água como louco para manter-se flutuando. Os membros da diretoria sentiram que algo estava errado e acharam que deveriam contratar mais pessoas para ajudá-lo. Um deles me disse posteriormente: “Estávamos tratando a doença errada do jeito errado, mas como poderíamos saber?”. As coisas chegaram a um ponto crucial e a história terminou na primeira página de um jornal local. As pessoas ficaram chocadas. O ministro foi temporariamente afastado de suas responsabilidades como pastor titular e passou seis meses num centro de tratamento e numa casa de recuperação. No primeiro caso, o pastor está plenamente recuperado e restaurou a vitalidade espiritual, a energia e a paixão pela obra. Ele está disposto a falar sobre essa questão com outros pastores na esperança de que sejam advertidos a tempo. Por ora, você deve tê-lo reconhecido como Wayne Cordeiro. Neste momento, o júri está deliberando em relação ao segundo caso. Há esperança. Trata-se de um homem muito inteligente que tem dado passos para restaurar seus relacionamentos. Ele ainda ama os membros da sua igreja, os quais se preocuparam com ele. Contudo. ainda corre perigo. Falei com o dr. Larry Allums, meu “personal trainer em literatura”, sobre essa questão. Ele me disse que há muita literatura e drama em torno da “falha trágica” — a falha das personagens em admitir seus limites, a si mesmos ou aos outros. Em Shakespeare, Júlio César é um grande general, mas um político ruim. O Rei Lear estava tão cegamente concentrado em si mesmo e no desejo de se aposentar e descansar que foi descuidado quanto a pensar em deixar seu reino e o próprio futuro em boas mãos. Uma falha trágica de muitos líderes é não conseguir reconhecer seus limites ou admitir a necessidade de contar com outras pessoas à medida que as exigências do trabalho ou do ministério crescem dramaticamente. Andando com o tanque vazio? é a jornada pessoal de Wayne Cordeiro, uma jornada com a qual todo líder pode aprender. Pessoas sábias se identificarão imediatamente e outras poderão estudá-la mais tarde, mas todos nós seremos beneficiados por essa descrição franca do caminho do burnout. Esses axiomas de vida e liderança serão um guia de 9
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viagens indispensável. Talvez não deem respostas rápidas, e não farão você se tornar indestrutível. Contudo, darão a você a habilidade de ver bem à frente... de modo que possa reconhecer os perigos do caminho e também apreciar a beleza do pôr do sol. Quero incentivá-lo a aprender como evitar o pântano do burnout — ou como fugir dele caso já esteja ali — com Wayne Cordeiro, alguém que já passou por isso e saiu dessa experiência muito mais forte.2
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Adaptado e usado com permissão de Bob Buford [A arte de virar o jogo no segundo tempo da vida. São Paulo: Mundo Cristão, 2005]. 10
Prefácio Como liderar quando não há vontade de liderar? Como navegar pelas águas mortas quando o vento parou e aquilo que era festa ganhou ares de obrigação? Quando a excitação se transformou em transpiração? Como páginas arrancadas de meu diário pessoal, este livro faz uma crônica de minha colisão com o burnout e minha jornada subsequente rumo a uma vida completamente redefinida. De maneira muito similar à obra A anatomia de uma dor,1 de C. S. Lewis, este livro não possui capítulos simétricos seguidos por um diagnóstico clínico objetivo. (Quando se passa por uma temporada de burnout, nada é simétrico nem objetivo.) Durante esse longo inverno, as únicas coisas que eu tinha para me apegar eram as disciplinas que eu já havia construído em minha vida. Durante a noite, o marinheiro não consegue ver a terra, nem se pode basear na linha costeira. Ele deve navegar confiante nas boias pouco iluminadas já colocadas em seu devido lugar. Do mesmo modo, ao passar por épocas de escuridão, você estará confinado ou será libertado por aquilo que já tiver estabelecido dentro de sua alma. Este livro revelará as disciplinas que os líderes devem construir antes de navegar pelo mar aberto e, caso você já esteja sendo sacudido pela tempestade, receberá a ajuda prática que fortalecerá sua resistência. São Paulo: Vida, 2006.
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Uma disciplina diária que mantive durante toda minha jornada foi encontrar-me com Deus todas as manhãs. Por meio do hábito de registrar todas as minhas descobertas durante esses momentos, encontrei direção e segurança. Os meus espiralados Diários de vida registraram todos os meus altos e baixos, estagnações e progressos, fracassos e triunfos de cada temporada. Escrevi durante a mais escura das noites e também nos melhores momentos. Escrevi quando não conseguia falar. Escrevi até mesmo quando não conseguia escutar a Deus. O livro que você tem nas mãos surgiu a partir desses momentos. Não é um livro-texto, um estudo de caso com uma progressão clara e linear. Permiti que algumas das experiências de ambivalência permanecessem como um testemunho escrito de onde eu estava e de como retornei à terra iluminada da saúde emocional. Este tratado não é peneirado, liso e refinado, mas assim como um copo grande de suco de laranja recém-espremido, você encontrará um pouco de polpa. Talvez encontre até alguns caroços. Contudo, isso não minimiza seu valor. Em vez disso, espero que o torne ainda mais confiável e sadio. Eu não poderia ter saído desse período sem o apoio dos que estavam mais perto de mim. Quero dizer “obrigado” a minha querida esposa e família, que se preocuparam comigo durante esse longo período de transição. Agradeço também à nossa equipe da New Hope, que se uniu, em vez de se separar. REFLEXÕES O final de cada capítulo traz uma ou duas páginas de Reflexões. São experiências reais de vários pastores e líderes que entrevistei e que passaram por épocas de luto, depressão e burnout. Eles compartilham sem apologia suas lutas e vitórias. Em cada Reflexão você encontrará pérolas de sabedoria que podem salvar sua vida e seu ministério.
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Introdução Não nos esquecemos de que somos cristãos. Esquecemos que somos humanos e que um único equívoco pode afetar o potencial de nosso futuro. Essa condição chegou sem aviso, como uma pessoa que não foi convidada. Decisões que um dia foram simples de tomar agora recusavam a solução, e percebi que eu me esquivava de tudo o que carecesse de meu envolvimento emocional. Minha fé, outrora vigorosa, tornara-se frágil; eu evitava tudo aquilo que me exigisse ação. Era uma agradável tarde na Califórnia. Saí para caminhar antes de apresentar uma palestra num congresso sobre liderança. Ainda não consigo lembrar como cheguei ali, mas vi-me sentado no meio-fio chorando compulsivamente. Não conseguiria dizer se aquilo acontecera de repente ou de forma gradual, mas sabia que alguma coisa se havia rompido dentro de mim. Lembro-me de erguer minhas mãos trêmulas e perguntar em voz alta: “Mas o que está acontecendo comigo?”. Eu vinha andando com o tanque vazio. Esse incidente numa calçada da Califórnia deu início a uma odisseia de três anos que eu jamais havia imaginado. Foi uma jornada por um período de burnout e recalibragem que mudaria radicalmente meu estilo de vida, meus valores, meus objetivos e até mesmo meu chamado. Tudo aquilo que eu alegremente considerava normal estava prestes a ser seriamente questionado. 13
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Eu não tinha mais nenhuma visão para minha igreja, e o coração vivo que um dia batera incessantemente pelos outros havia começado a encolher. Cada dia que passava me cobrava um preço, mas eu não sabia como deter essa progressão. Não sabia o que estava causando esse esvaziamento, mas isso estava vencendo a batalha. Se eu estivesse alerta, poderia ter reconhecido os sinais antes daquele desabamento na calçada. Por alguma razão, porém, eu os ignorei. Um dos anestésicos mais comuns que nos paralisam diante desses prenúncios é pensar “Isso jamais acontecerá comigo!”. Os sinais estavam por toda minha volta, mas eu os ignorei. Problemas simples recusavam-se a ser resolvidos. Qualquer coisa que necessitasse de energia emocional me lançava na direção oposta. Minha fé estava ferida e frágil. Minha atitude confiante se tornara pesarosa, e uma alma que antes era um oceano de vida era agora um lago de água estagnada. O que foi quebrado durante aquela leve corrida ao entardecer? Seria uma hemorragia emocional? Se foi, como eu poderia estancar o sangramento? Não fazia ideia de por onde começar a triagem. Precisava entender o que estava acontecendo, de modo que, de alguma maneira, pudesse reparar o dano interno. Mas quem tem tempo para isso? Minha agenda determinava a música e um maestro interior estabelecia o ritmo. Eu estava simplesmente tocando a música que me fora dada e não sabia se poderia mudar de partitura. Nesse caso, o caminho rumo ao sucesso e à estrada para um colapso nervoso eram exatamente a mesma coisa. Nos meses que se seguiram, lutei com episódios de depressão, perdi alguns rounds, mas continuei a batalha. Com a ajuda de um médico, de uma esposa compreensiva, de uma igreja apoiadora e da força e sabedoria de Deus, sobrevivi a uma série de valiosas lições de vida que cobraram o mais alto custo de aprendizado que já paguei. Meu amor por Deus não me abandonara. Meu casamento estava firme e o ministério aparentava saúde. Mas eu ainda não fazia a menor ideia de como confrontar o predador silencioso que me espreitava — às vezes 14
Introdução
de longe, em outros momentos tão de perto que eu podia sentir sua respiração na minha nuca. Se houvesse uma pílula que eu pudesse ter engolido para me livrar desse colapso interior, mesmo assim, eu jamais a teria tomado. O sofrimento nos transforma, mas não necessariamente para melhor. Precisamos optar por isso. E foi essa opção que fez toda diferença para mim.
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Capítulo 1 Quando o ponteiro aponta para o zero Estou exausto de tanto gemer, e não encontro descanso. (Jeremias 45.3)
Não faz muito tempo, fui convidado a me encontrar com pouco mais de 20 dos mais brilhantes e emergentes líderes eclesiásticos dos Estados Unidos por meio de uma maravilhosa organização liderada por Bob Buford, chamada The Leadership Network [Rede de Liderança]. Todos os homens reunidos ali estavam na casa dos 40 anos, com comunidades de mais de 3 mil membros. Eu e Larry Osborne, da North Coast Church, aparentemente éramos os veteranos de cabelos grisalhos de quem aqueles líderes jovens poderiam extrair sabedoria. (Espero que não tenham pagado muito por essa conferência!) Apesar disso, interagimos e compartilhamos o que pudemos. No segundo dia, os organizadores da conferência fizeram uma pergunta que pegou muitos daqueles líderes jovens (inclusive eu) com a guarda baixa. Qual é o seu maior temor?
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À medida que cada um respondia, lágrimas começaram a fluir livremente, e muitos não conseguiram sequer terminar suas frases. Um admitiu que não sabia por quanto tempo mais seu casamento aguentaria a pressão. Contudo, foi a resposta de outro líder que me chamou a atenção. Seu maior temor? “Simplesmente não quero que meus filhos cresçam odiando a Deus por minha causa.” Ao observar a vida de muitos daqueles líderes na casa dos 40, pude ver os inconfundíveis sinais do burnout despontando. Quando surgem os primeiros sinais do burnout, é hora de fazer uma pausa. Uma mãe cujos filhos ainda usam fraldas não tem a opção de deixar seus filhos e voar até o Havaí para descansar das mamadas no meio da madrugada. O capitão estressado de “É no silencioso cadinho de um time de futebol não pode tomar a seus sofrimentos pessoais e decisão de ficar em casa no dia de um jogo particulares que nascem seus sonhos mais nobres e onde estratégico para assistir a seu programa os maiores dons de Deus são de televisão favorito. O pastor de uma concedidos em compensação por igreja em crescimento também não pode aquilo que você tem passado.” beneficiar-se de um desconto de 50% de WINTLEY PHIPPS um cruzeiro pelo Caribe. Como pastor titular, minha vida estava espremida pelos cultos do final de semana. Eu havia desenvolvido a disciplina do gerenciamento de imagem, todavia, por dentro, experimentava uma implosão em câmera lenta. Espera-se que os pastores liderem mesmo quando o desejo ou a inclinação por fazê-lo sejam severamente desafiados. Eu sabia que as pessoas me amavam, mas satisfazer as expectativas sistematicamente impregnadas no cerne de quem eu era fez de mim a pessoa que eu não conseguia deixar de ser. Como liderar com o tanque vazio? Como prosseguir quando não existe mais vontade de estar “no palco”? O burnout é a melhor companhia para esses momentos... 18
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REVELAÇÕES EM O.K. CORRAL1 Elias chegou a um momento como esse. Sua história dramática é revelada em 1Reis, capítulo 18 — uma revelação em O.K. Corral, no estilo hebraico. O profeta interiorano de olhos flamejantes confrontou, derrotou e destruiu completamente 850 sacerdotes dos cultos de Baal e Aserá empenhados em acabar com a devoção de Israel a Deus. A batalha aconteceu e Elias prevaleceu. Naquele ponto, contudo, a história dá uma estranha guinada. Será que o profeta realmente achou que Acabe e a megera de Sidom, a rainha Jezabel, o aplaudiriam por acabar com a religião estatal de Samaria? Todavia, o profeta outrora imperturbável é pego de surpresa pela ira da rainha e fica morrendo de medo diante da mensagem venenosa transmitida por ela: Que os deuses me castiguem com todo o rigor, se amanhã nesta hora eu não fizer com a sua vida o que você fez com a deles. (1Reis 19.2) Elias entrou em pânico e fugiu para um esconderijo distante no deserto. Foi ali, exausto e sozinho, que ele decidiu que uma morte rápida seria preferível a viver o resto de sua vida como fugitivo. Ele orou dizendo: “Já chega, ó Senhor Deus! Acaba agora com a minha vida! Eu sou um fracasso” (1Reis 19.4, Nova Tradução na Linguagem de Hoje). DEPRESSÃO NO DESERTO Moisés também sofreu. Quando estava liderando o povo de Israel pelo deserto, as pessoas começaram a resmungar, reclamar e caluniar. O líder impecável cuja epifania no monte Horebe lhe dera coragem para enfrentar o grande faraó do Egito ficou tão exasperado e desanimado que clamou a Deus: “Não posso levar todo esse povo “Sei que Deus não me dará algo sozinho; essa responsabilidade é grande de que eu não possa cuidar. Só demais para mim. Se é assim que vais me gostaria que ele não tivesse confiado tanto a mim.” tratar, mata-me agora mesmo” (Números MADRE TERESA 11.14-15).
Famoso tiroteio do O.K. Corral em Tombstone, território do Arizona, ocorrido em 26 de outubro de 1881. [N. do T.]
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“Mata-me agora mesmo.” Ora, isso é que é um homem deprimido! Ele preferia morrer a continuar naquela situação desesperadora. ORIENTADORES DA VIDA A Bíblia está repleta de relatos como esses — histórias cruas e sem floreios de homens e mulheres que já atravessaram os vales que eu e você ainda não experimentamos. Eles encontraram trilhas por essa jornada chamada vida e nos convidam a segui-los. Não, eles não nos ensinam atalhos para evitar os obstáculos que somos convidados a superar. “O que temos de mais autêntico Os mentores do passado são mais parecidos é nossa capacidade de criar, com escoteiros, homens e mulheres que superar, suportar, transformar, amar e ser maior que nosso seguem pelas trilhas que se apresentam sofrimento.” diante de nós, mostrando-nos as rotas e as BEN OKRI passagens — caminhos que, de outro modo, talvez não tivéssemos visto. Colocam placas ao longo do caminho, advertindo-nos sobre as armadilhas. Deixam atrás de si ganchos nas pedras em que escolhas fatais ceifaram a vida de outros — aqueles que tentaram escalar as montanhas cobertas de neve sem a ajuda dos carregadores. Eles nos dão respostas certas antes de chegarmos a conclusões erradas. Esses orientadores da vida foram designados por Deus. Eles nos guiam nas temporadas em que um passo errado pode alterar nosso futuro e diminuir nosso legado. Elias e Moisés serão nossos orientadores. Também convidamos outros. Jeremias e Davi nos asseguram um caminho por terrenos não familiares e até mesmo assustadores. Eles sabem que muito do que seremos é determinado pela maneira como tratamos esses declives traiçoeiros. Nossa passagem em segurança só está garantida com a condição de que os sigamos bem de perto. CONSTERNADO Durante trinta anos, minha busca pela excelência foi o que me fez seguir adiante. Eu não era compulsivo; simplesmente tinha um profundo desejo de fazer o melhor. Andei com o pé fundo no acelerador sem 20
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perceber que ser empresário significa que tudo o que você inicia deve ser automaticamente adicionado à sua lista de manutenção. Ter a capacidade de lançar uma visão inspiradora é um dom. Contudo, a não ser que você a administre ao longo do caminho, ela pode voltar-se contra você e, em pouco tempo, o apetite voraz da visão termina por consumi-lo.
Fui o fundador de uma igreja e, assim, tornei-me seu pastor titular. Dar início a diversas outras igrejas transformou-me no diretor de implantação. Prosseguimos e fundamos mais de uma centena de igrejas, e o que se espera é que, quando você tem filhos, você cuide deles. E você sabe o que acontece. Quando os filhos se afastam, o boletim de ocorrência de criança desaparecida o acusa de ser um pai irresponsável. Fui processado três vezes por ações realizadas por líderes errantes. Além disso, meu desejo de treinar líderes emergentes transformou-me no diretor do nosso recém-formado Seminário Bíblico da Costa do Pacífico. Veja bem, eu amava tudo o que fazia, mas não demorou muito e eu estava puxando um tigre pelo rabo, sem poder deixá-lo ir. Ter a capacidade de lançar uma visão inspiradora é um dom. Contudo, a não ser que você a administre ao longo do caminho, ela pode voltar-se contra você e, em pouco tempo, o apetite voraz da visão termina por consumi-lo. Nossa igreja cresceu e alcançou 14 mil pessoas em doze anos, com nove locais diferentes interligados por vídeo. Eu já havia escrito oito livros. O Diário de vida [Life Journal] que desenvolvi exigia um departamento de expedição para poder servir às maravilhosas igrejas que eram nossas parceiras. Logo, vi-me gerenciando mais do que liderando, e deixando cair o mesmo tanto de pratos que tentava manter girando. Então, meu pai faleceu e, num espaço de dois anos, minha esposa perdeu pai e mãe. Tivemos alguns problemas com nosso filho mais novo, e um amigo querido, com quem eu iniciara o ministério, tomou outro rumo profissional. Era como se eu estivesse sendo levado por uma corredeira. Minha única esperança era que a corrente fosse suficientemente 21
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misericordiosa a ponto de me jogar nas margens antes que eu fosse tragado pela cachoeira. POR DENTRO DA EROSÃO Salva-me, ó Deus!, pois as águas subiram até o meu pescoço. Nas profundezas lamacentas eu me afundo; não tenho onde firmar os pés. Entrei em águas profundas; as correntezas me arrastam. (Salmos 69.1-2)
Lentamente, os sintomas indesejados começaram a aparecer. O ministério tornou-se mais árduo. Minhas tarefas diárias pareciam infindáveis e os e-mails começaram a se acumular. Pessoas com as quais eu me importava muito tornaram-se problemas a serem evitados, e conversar sobre uma nova visão não inspirava mais minha alma. Embora eu nunca tenha duvidado de meu chamado e dos meus dons, o que começara como uma alegria que me preenchia agora se tornara uma carga que me exauria. No entanto, eu não sabia como poderia diminuir o ritmo. Pessoas estavam conhecendo a Cristo e vidas eram transformadas. Como isso poderia estar errado? Decisões — até as menores delas — pareciam paralisar-me. Gradualmente, minha criatividade começou a diminuir e passei a achar mais fácil imitar do que inovar. Estava afastando-me das coisas que costumavam me desafiar e estimular. COLAPSO NA CALÇADA Finalmente, isso chegou ao ápice durante uma corrida naquela tarde ensolarada na Califórnia. Num minuto eu corria pela calçada e, no momento seguinte, estava sentado no meio-fio, soluçando incontrolavelmente. Não conseguia parar e não fazia ideia do que estava acontecendo comigo. Não sei como, mas consegui cumprir o compromisso de falar naquela noite e voltei para casa, no Havaí, com dificuldades. Ao chegar em casa, 22
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minha situação foi de mal a pior. Comecei a desenvolver sintomas físicos: arritmia cardíaca, dificuldade para respirar, insônia. Novos temores começaram a brotar. Ao lembrar que meu pai falecera por causa de problemas cardíacos e pressão sanguínea alta, comecei a pensar se esse seria meu destino também. Eu poderia ser o próximo da fila a segurar um bastão genético. “Preocupação é um ciclo de
Temendo o pior, marquei consulta pensamentos ineficientes com um cardiologista, que pediu a bateria rodopiando em torno de um centro do medo.” de testes usual: eletrocardiograma, teste CORRIE TEN BOOM ergométrico, ecocardiograma, tudo, exceto a invasiva angiografia. Só conseguia pensar se eu tinha dinheiro suficiente para a aposentadoria. Estava com 52 anos de idade, mas já pensava em pendurar as chuteiras. Por mais de trinta anos, investi minha vida no ministério cristão — sendo que em vinte desses anos fui pastor titular no Havaí. Durante esse período, engatei um ministério no outro, agregando mais e mais responsabilidades — sem pausas. Agora, porém, não tinha certeza se conseguiria seguir em frente. ENFRENTAMENTO Alguns meses depois, atuando como professor convidado num seminário, iniciei uma conversa informal com um pastor do Canadá. Começamos a falar sobre o “prazo de validade” de pastores e líderes: o modo como aqueles cuja vocação se relaciona ao dar se desgastam cada vez mais. “Eu estive lá”, refletiu ele. “Estava pronto para puxar o fio da tomada, mas exatamente naquela época recebi graciosamente uma oferta para me inscrever num programa de graduação com bolsa integral. Aquilo salvou minha vida. Chegara a um ponto em que ou eu saía, ou terminaria destruindo meu ministério.” Aqueles cuja vocação se relaciona ao dar se desgastam cada vez mais. 23
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Então ele disse, quase sem querer: “Descobri que, depois de cerca de vinte anos, pastores de igrejas em crescimento precisam de um período sabático porque, como aconteceu comigo, seus níveis de serotonina estão muito baixos”. Serotonina? Enquanto eu caminhava depois do final daquela conversa, algo me disse que eu acabara de participar de uma consulta divina. Foi como se aquele pastor canadense tivesse lido meus e-mails. Entretanto, a sessão de aprendizado ainda não havia acabado; ela simplesmente continuaria em outro lugar. Duas semanas depois, apresentei-me em outro congresso sobre liderança em Los Angeles. Logo depois de uma de minhas oficinas, tive o privilégio de receber a visita de um amigo de longa data que pastoreava uma igreja das redondezas. Não nos encontrávamos havia vários anos, de modo que foi uma alegre surpresa passar algum tempo com ele. Durante nossa breve conversa, perguntei como estava seu ministério. Caí de costas diante de sua resposta. — Não estou mais no ministério, Wayne. Meu amigo prosseguiu e disse que não sabia o que faria da vida. Só sabia que teve de deixar o pastorado. Nos últimos anos, disse-me ele, viu-se exaurido, e não conseguia mais seguir o ritmo. Concluiu simplesmente que a melhor coisa para sua saúde e para sua igreja era renunciar. — Há quanto tempo você estava pastoreando? — perguntei. — Pouco mais de vinte anos — disse ele. Lá estava de novo. Vinte anos. Eu começava a entender a dica. Nunca experimentei uma teofania, na qual Cristo aparece fisicamente a uma pessoa, mas essa experiência foi algo bem perto disso. RECONHECENDO O PROBLEMA Quando voltei ao Havaí, marquei imediatamente uma consulta com um psicólogo cristão, o qual confirmou minhas suspeitas. — Você esgotou o seu sistema — disse ele. — Suas reservas de serotonina estão completamente exauridas. 24
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Lá estava aquela palavra de novo, aquela que não entendi da primeira vez. Ele explicou.
“A descarga de adrenalina pode ser comparada a ligar o motor de um carro e deixá-lo em ponto morto na máxima aceleração.”
— Serotonina é uma substância Dr. ARCHIBALD D. HART, semelhante a endorfina. É o hormônio The Hidden Link Between Adrenaline and Stress [O vínculo natural do bem-estar. Ele é reposto nos oculto entre adrenalina momentos de descanso e, então, reabastece e estresse] você enquanto trabalha. Se, porém, você continuar trabalhando sem se reabastecer, seu estoque de serotonina será exaurido. Em substituição a ela, seu corpo será forçado a produzir adrenalina.
— O problema é que a adrenalina se presta apenas ao uso emergencial. É como aquelas portas de restaurante que, quando abertas, soam um alarme sonoro. Nosso problema, porém, é que usamos essa saída planejada apenas para situações de emergência e nenhum alarme toca. Pelo menos, não num primeiro momento. — Se continuarmos a usar a adrenalina, ela destruirá nosso sistema. Você vai fritar por dentro antes que seja capaz de ver algo por fora. O combustível da adrenalina que mantém seu motor funcionando no início vai ligar você, mas terminará destruindo-o no final. A única maneira de terminar bem será primeiramente reabastecendo seu sistema. Se você não fizer isso, prepare-se para um acidente.
Nas duas horas seguintes falamos sobre os sintomas e os remédios. Perguntei: — O que preciso fazer? Ele respondeu: — A serotonina pode exaurir-se se você não viver de forma a permitir que ela seja reposta. Isso acontece com todo tipo de pessoa, sendo mais aparente em líderes autoritários e naqueles que vivem com uma sobrecarga de expectativas. A depressão assume o lugar da iniciativa; a indecisão e a ansiedade aumentam. Você começa a sentir uma necessidade cada vez maior de solidão e isolamento. Isso não é sinal de pecado ou 25
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“A tristeza acomete a todos... O alívio perfeito não é possível, senão com o tempo. Nesse momento, você não pode imaginar se um dia se sentirá melhor, nem pode ter certeza de que será feliz novamente.”
de anormalidade. Nesse ponto, porém, uma pausa em seu ministério permitirá que os níveis dessas substâncias químicas retornem ao normal.
— Você não pode receitar um remédio que faça tudo isso desaparecer? — perguntei, ABRAHAM LINCOLN em tom de brincadeira. Nunca me esquecerei do que ele disse em seguida. Isso se tornaria o foco dos meus três anos seguintes. — Eu poderia, mas isso só iria mascarar o verdadeiro problema. Você precisa recarregar, depois refletir sobre quais foram os gatilhos e, finalmente, reestruturar seu modo de vida. Ele continuou: — Mas o primeiro passo é recarregar. E isso leva tempo. — Quanto tempo? — De seis meses a um ano. — De seis meses a um ano? — suspirei. — Não há como fazer isso — respondi. — Talvez seis semanas, mas não seis meses. Por que tanto tempo? — Seu sistema precisa ser recarregado, mas por meio de uma carga lenta, que o restaure com uma amperagem baixa e contínua. Não existe carga rápida para isso. Se fizer do jeito certo, poderá retornar ao nível de ministério que você tinha no início. Mas, honestamente — continuou —, a maioria nunca volta ao mesmo nível de desempenho que tinha antes do burnout. Se você não puder parar por um ano, pare pelo tempo que puder. Qualquer quantidade de tempo é melhor do que nada. O único jeito de voltar a ficar forte é restaurando seu sistema. Se você não fizer isso, prepare-se para um acidente. Bem, eu já havia chegado suficientemente perto desses acidentes, de modo que sabia o que ele estava dizendo. Não conseguiria manter aquele ritmo por muito mais tempo. Precisava reestruturar a maneira como 26
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estava vivendo. O tacômetro2 estava chegando à zona vermelha, mas eu não sabia como trocar a marcha. A JORNADA COMEÇA O que eu viria a enfrentar nos três anos seguintes foi uma temporada de proporções épicas. Como Charles Dickens escreveu em Um conto de duas cidades,3 “foi o melhor dos tempos; foi o pior dos tempos”. Pior porque eu sofreria revezes, lutas, depressão e “Como são poucos os que têm desequilíbrio. Embora tivesse conseguido coragem suficiente para admitir suas próprias falhas ou discernimento manter tudo em funcionamento durante suficiente para corrigi-las.” esse período, sabia que pagaria um preço BENJAMIN FRANKLIN elevado por manter aquele ritmo. Contudo, também foi o melhor dos tempos. Aprendi mais sobre mim mesmo do que em qualquer outra época de minha vida. Os hábitos que desenvolvi desde o início — minhas autodisciplinas, minha ética de trabalho firme e a busca pela excelência — encobririam minhas lutas internas e anestesiariam a dor. SAINDO DA ONDA Normalmente é fácil descobrir se alguém é amador. O Havaí é uma das grandes capitais do surfe mundial. Normalmente sem fôlego, os novatos das ondas lutam contra o ritmo do oceano em vez de dançar com ele. Esforçam-se mais do que o necessário para pegar uma onda e, quando finalmente conseguem, são traídos pelo equilíbrio e se veem tentando recuperar o fôlego no meio da espuma branca sobre a água. Então, duelam com as ondas por mais meia hora, apenas para repetir o primeiro ato. “Dispositivo que mede as rotações por minuto de um motor ou de um eixo, em geral utilizado para fornecer informações sobre a velocidade de um veículo” (Houaiss Eletrônico. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009). [N. do E.]
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São Paulo: Nova Cultural, 1996.
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Contudo, uma das verdadeiras marcas de um veterano não é a maneira como ele pega a onda, mas se ele sabe quando e como sair da onda.
Por outro lado, os surfistas veteranos possuem a estranha capacidade de entender como funcionam as correntes e as ondas. Sua intuição lhes diz quais pegar e quais deixar passar. Parece que eles conseguem discernir quais ondas vão levá-los e quais vão tragá-los! Contudo, uma das verdadeiras marcas de um veterano não é a maneira como ele pega a onda, mas se ele sabe quando e como sair da onda. Algum tempo atrás, eu estava em meu caiaque no local favorito de Diamond Head, a paisagem mais fotografada do Havaí. Ao ver uma onda gigante se formando, comecei a remar para ganhar velocidade. Eu precisava pegar aquela onda! E a peguei do jeito certo. A onda gigantesca tragou a mim — e ao meu caiaque — e, mesmo eu tendo parado de remar, estávamos os dois em suas presas. Com o cabelo esvoaçando e o vento no rosto, era impelido sem controle na direção da costa. A enorme velocidade da onda sob meu caiaque fez-me pensar se realmente havia feito a melhor escolha, porém era tarde demais para reconsiderar. Voando para a praia diante daquela montanha de água, percebi que os outros surfistas estavam sentados em suas pranchas, observando-me com intensa curiosidade. Ninguém tentou unir-se a mim naquela aventura. Aquele não era um bom sinal. A onda continuou a crescer até ficar perpendicular ao oceano azul que recuava cada vez mais debaixo de mim. Isso foi um pouco antes de eu perceber o leito de coral. A última coisa que lembro ter pensado antes de as luzes se apagarem foi “Como saio dessa onda?”. Quando finalmente consegui subir à superfície para respirar, a correia que me prendia ao caiaque foi arrancada de minha perna. Aparentemente, eu havia sobrevivido ao acidente, mas meu caiaque de fibra de carbono foi quebrado em pedaços, que foram arremessados na direção da praia. 28
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Mesmo depois de vários consertos, nunca mais foi o mesmo. (Recentemente vendi o caiaque por muito menos do que pagara por ele.) LIÇÕES DOS RECIFES Às vezes a vida pode pegar você dessa “Quando você parar de mudar, maneira e, durante algum tempo, isso será você realmente parou.” excitante. Ministério, negócios e a própria BENJAMIN FRANKLIN vida podem enganá-lo e levá-lo a pensar que o passeio durará para sempre e não há corais pontiagudos no seu futuro... apenas areia macia, guarda-sóis na praia e pó mágico. O truque é saber quando descer da onda. Entretanto, não se aprende isso com facilidade. Você precisa dispor-se a abrir mão da excitação da velocidade e seguir em busca da segurança e da longevidade. Para mim, isso não parecia uma boa troca. Deus não é cruel, mas também não é indulgente. Ele é verdadeiro, mas não livre de riscos. Ele é imutável; portanto, nós é que devemos mudar. Devemos aprender para sermos bem-sucedidos. Nossos fracassos não influenciam nosso desempenho, mas nossa falta de disposição em aprender com eles, isso de fato atrapalha. Eu sabia que precisava conseguir ajuda externa para a jornada na qual estava prestes a embarcar. Contudo, por ora, eu precisava ligar o motor, ainda que soubesse que estava... Andando com o tanque vazio.
Reflexões Eu havia participado de uma viagem missionária. Peguei um voo noturno para casa e, quando cheguei, alguém me levou direto para a igreja. Preguei e, logo depois, tive uma reunião com a liderança. Fui para casa dormir. Duas horas depois, acordei sentindo um pânico enorme. Tinha dores no peito e a sensação de que minha cabeça estava sendo esmagada. Não conseguia distinguir entre água
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fervente e água gelada no chuveiro. Tinha consciência de que passava por uma situação de estresse extremo. O ataque de pânico durava vinte e quatro horas por dia nos três meses iniciais e, então, passou a decrescer lentamente nos seis meses seguintes. Foram necessários nove meses para eu voltar a trabalhar em tempo integral. Percebi que, por quase dez anos, treinei meu corpo para que ignorasse todas as advertências físicas. Quando eu estava cansado, não conseguia dormir. Quando estava doente, não conseguia parar. Naquele momento, porém, eu estava tão doente que não conseguia seguir em frente. Nos primeiros três meses a intensidade era tamanha que considerei a ideia de dar um fim à minha vida. Busquei ajuda imediatamente. Era preciso fazer de tudo para poder sobreviver. Isso significava cuidar do corpo, da alma e do espírito. Não havia razão para perguntar por que aquilo havia acontecido. Eu sabia a razão. Em vez disso, perguntava a mim mesmo o que deveria fazer para melhorar. — Pastor da Costa Oeste dos Estados Unidos
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