DEIXE DEUS SURPREENDER VOCÊ
2
HEATHER WHITESTONE MCCALLUM &
ANGELA HUNT
DEIXE DEUS SURPREENDER VOCÊ entregue seus sonhos a ele
Tradução Denise Avalone
3
©2003, de Heather Whitestone McCallum e Angela Hunt
Título original Let God Surprise You edição publicada por INTERVARSITY PRESS ZONDERVAN P UBLISHING HOUSE (Grand Rapids, Michigan, EUA)
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Vida. PROIBIDA
A REPRODUÇÃO POR QUAISQUER MEIOS,
SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.
As citações bíblicas foram extraídas de quatro versões brasileiras, além da Nova Versão Internacional (NVI, 2001, Editora Vida): Bíblia Viva (BV, 1995, Mundo Cristão), Almeida Edição Contemporânea (AEC, 1990, Editora Vida), Almeida Revista e Atualizada (ARA, 1993, Sociedade Bíblica do Brasil) e Almeida Revista e Corrigida (ARC, 1995, Sociedade Bíblica do Brasil), todas indicadas pelas siglas acima.
EDITORA VIDA Rua Júlio de Castilhos, 280 Belenzinho CEP 03059-000 São Paulo, SP Tel.: 0 xx 11 2618 7000 Fax: 0 xx 11 2618 7044 www.editoravida.com.br www.vidaacademica.net
Coordenação editorial: Solange Monaco Edição: Jair Rechia Revisão: Josemar de Souza Pinto Diagramação: Set-up Time Capa: Débora Pinheiro
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) McCallum, Heather Whitestone Deixe Deus surpreender você : entregue seus sonhos a ele / Heather Whitestone McCallum & Angela Hunt ; tradução Denise Avalone. — São Paulo : Editora Vida, 2006. Título original: Let God Surprise You. Bibliografia. ISBN 85-7367-967-0 ISBN 978-85-7367-967-0 1. Confiança em Deus 2. Fé 3. Sonhos 4. Whitestone-McCallum, Heather I. Hunt, Angela. II. Título. 06-9274
CDD-248.4
Índice para catálogo sistemático: 1. Confiança em Deus : Vida cristã : Cristianismo 248.4
A meus filhos amados e todos os filhos do mundo, inclusive os portadores de deficiĂŞncia fĂsica. Que Deus abençoe seus sonhos.
6
SUMÁRIO
Introdução 9
um Surpreendida por grandes sonhos 13
dois Surpreendida pelo pecado 24
três Surpreendida por uma nova fé 31
quatro Surpreendida pela adversidade 39
cinco Surpreendida pela libertação 49
seis Surpreendida pelo amor 61
sete Surpreendida por filhos 76
oito Surpreendida pela provisão 91
nove Surpreendida pelo ministério 102 7
dez Surpreendida pelo conflito 114
onze Surpreendida por anjos 123
doze Surpreendida pela beleza 134
treze Surpreendida pela cura 146
quatorze Surpreendida pelo perdĂŁo 159 Notas 172
8
INTRODUÇÃO
Quando tinha 5 anos de idade, Deus instilou em mim o desejo de ser uma famosa bailarina. Muitas meninas têm esse sonho, mas, em geral, elas não são deficientes auditivas. Adquiri essa deficiência no outono de 1974. Num dia do mês de setembro, quando contava com 18 meses de vida, acordei com um pouco de febre. Minha mãe, que cuidara de minhas duas irmãs mais velhas em várias doenças infantis, não ficou muito preocupada a princípio. Quando, porém, minha febre chegou aos 40 graus, ela percebeu que se tratava de uma situação de risco de vida. Na tentativa de abaixar minha febre, os médicos prescreveram para mim dois antibióticos fortes com efeitos colaterais perigosos. Esses medicamentos salvaram minha vida, mas também cobraram seu preço em meu pequeno corpo. No Natal daquele mesmo ano, as circunstâncias provaram que eu seria diferente para sempre. Na correria de preparar a tradicional ceia de Natal, minha mãe abriu um armário da cozinha e derrubou uma pilha de vasilhas e panelas. Todos na sala de estar tiveram um sobressalto. Minha avó, que me observava enquanto eu brincava perto da árvore de Natal, aflita, chamou minha mãe. 9
“Daphne”, disse, examinando-me, “acho que Heather está com algum problema de audição”. Minha mãe foi rapidamente para a cozinha buscar uma panela e uma colher de pau. Em pé, atrás de mim, ela começou a bater freneticamente na panela, abafando o som das músicas natalinas que tocavam no aparelho de som, mas eu continuei entretida com meus brinquedos. Não tinha a menor idéia de que ela estava ali. Depois de uma série de exames, os médicos disseram a meus pais que eu perdera a audição, não desenvolveria muito a fala e que, provavelmente, minha capacidade de aprendizagem não passaria da terceira série. Os exames revelaram que eu sofrera uma perda de, pelo menos, 120 decibéis no ouvido direito e de 90 no esquerdo, e isso usando um aparelho auditivo. Sem ele, eu não ouviria nada em nenhum ouvido. Durante a infância, esforcei-me para desenvolver a fala e aprender a ler os lábios, mas também encontrei uma válvula de escape para o rigor da disciplina que, por mais estranho que pareça, era uma escola de dança chamada Dothan. Minha instrutora, Patti Rutland, acreditava em mim e no meu sonho de ser bailarina. Minha colaboradora, Angela Hunt, escreveu um best-seller chamado The Tale of Three Trees [A fábula das três árvores, Sinodal, 1995]. Adoro essa antiga fábula porque ilustra como Deus anseia por realizar nossos sonhos e, não raro, o faz de forma surpreendente. Em sua versão da fábula das três árvores, a primeira árvore ansiava por ser um baú cheio de tesouro, a segunda queria ser um grande navio digno de reis e rainhas e a terceira desejava lembrar Deus ao homem. Quando três lenhadores subiram à montanha, as árvores ficaram ansiosas para ver se Deus realizaria seus sonhos. A primeira árvore ficou desapontada quando o carpinteiro a transformou em uma humilde manjedoura, até que Maria pôs 10
nela seu bebê, e, então, ela percebeu que guardava o maior tesouro do mundo. A segunda árvore ficou triste quando o carpinteiro talhou-a, transformando-a em um simples barco de pesca, até que Jesus acalmou a tempestade à proa, e, então, ela percebeu que carregava o rei do céu e da terra. A terceira árvore desesperou-se quando viu que se tornara a cruz da crucificação de Cristo, até que o poder de Deus levantou Jesus dos mortos, e, então, ela percebeu que, sempre que os homens pensassem nela, se lembrariam de Deus. Sim, Deus realizou seus sonhos depois de fazê-las passar pelas veredas de testes e provações. Deus realizou meus sonhos, mas tive de trilhar as mesmas veredas. Aprender a falar e a ler os lábios não é nada fácil; aprender a dançar requer muita disciplina e muito tempo de prática. Entretanto, o empenho não foi o único ingrediente do meu sucesso. Quando era jovem, aprendi que Deus adora surpreender seus filhos ao realizar os desígnios divinos que lhes reservou, os sonhos que plantou em nosso espírito. Ele adora fazer o inesperado e, às vezes, até exagera. Seus incríveis milagres nos dão a oportunidade de testemunhar por Jesus e glorificá-lo ainda mais. Adoro receber as surpresas de Deus porque ele sempre me admira. Aprendi que realmente podemos fazer tudo por meio de Jesus Cristo e de seu poder. Não desanime achando que seus sonhos são tão insubstanciais quanto teias de aranha. Mantenha a cabeça erguida e medite na Palavra de Deus. Escrevi este livro porque queria compartilhar as coisas que aprendi, e foi na solidão do meu quarto que comecei a aprender, lendo a Bíblia que mantinha no colo. A Palavra de Deus é uma fonte de luz que ilumina nossos passos, que clareia nosso caminho. Às vezes, sua orientação é uma clara exortação, mas também 11
valorizo e aprendo muito com as personagens que compõem a história bíblica. Aqui, quero compartilhar com você algumas lições que aprendi com a vida de importantes figuras bíblicas. À exceção de nosso Senhor, não eram pessoas perfeitas, mas sua jornada mostra como Deus usou sua vida e seus sonhos de maneira surpreendente, em seu proveito e para o bem delas. Também conto histórias de cristãos históricos mais recentes ou contemporâneos que mudaram seu mundo enquanto realizavam seus sonhos. Acompanhe-me, agora, lendo histórias de pessoas que decidiram crer e foram surpreendidas por esse Deus amoroso, extraordinário e peculiar ao qual servimos.
12
um
SURPREENDIDA
POR
GRANDES SONHOS
A história de José, filho de Jacó, é uma de minhas favoritas da Bíblia. Como eu, José era um sonhador. Enquanto alguns de seus sonhos sobre o futuro apareciam em memoráveis mensagens durante o sono, o sonho de me tornar uma famosa bailarina brotou de um anseio no meu coração. Antes de levá-la ao mundo de José na Canaã primitiva e no Egito, gostaria de oferecer-lhe um vislumbre de minha infância e adolescência repletas de grandes sonhos.
MEU SONHO Não me recordo claramente de meus primeiros anos de vida, mas lembro-me de que sonhava em ser bailarina. Como tinha a audição profundamente prejudicada, passei a infância fazendo fonoaudiologia, coisa que rapidamente aprendi a temer. Era bem puxado, mesmo para uma criança de 5 anos. No verão, antes de entrar para o jardim da infância, Deus incutiu em minha mãe a idéia de matricular-me em uma escola de dança. Ela notou que eu gostava de música nas aulas de fono, por isso achou que isso me ajudaria a entender melhor a freqüência do som e a entonação que naturalmente fazem parte da fala. 13
O problema era que as escolas de dança não ficavam muito animadas em aceitar uma aluna com problema auditivo. Minha mãe ligou para dois estúdios antes de encontrar aquele que me aceitou. Patti Richards, professora da Dothan School of Dance, aceitou o desafio e, imediatamente, passei a adorá-la. Embora o balé exija bastante empenho, habituei-me facilmente. Era puro divertimento, e logo comecei a rodopiar pela casa. Desde pequena, já sonhava em dançar para Deus. Não entendia o que significava ter um relacionamento pessoal com Cristo; contudo, sabia que Deus criara o mundo e sentia seu amor por mim. De alguma forma, sabia que nada o agradaria mais do que me ver exercitar o dom que ele me dera: o amor pela dança. Meu sonho era ser bailarina, e, quando cresci, decidi não permitir que ninguém me dissuadisse de buscá-lo. A vida na juventude é como uma página em branco, cheia de oportunidades, mas as crianças costumam dar ouvidos a opositores e não acreditam em suas próprias aspirações. Quando lhes dizem que não façam algo, elas param, mas todos têm o direito de sonhar e buscar seus sonhos. Entretanto, quando fiquei mais velha, comecei a perceber que os sonhos precisam da realidade para existir. Queria dançar, mas precisava estudar. Depois de terminar o ensino médio, teria dado tudo para deixar a faculdade de lado e entrar para uma companhia de balé; sabia, porém, que minha formação acadêmica era mais importante. Meus pais faziam pressão para que eu cursasse a faculdade. De fato, as grandes bailarinas entram para as companhias de balé na adolescência. Disseram-me que a dança podia esperar, mas não era verdade; não podia. O auge da carreira de uma bailarina dura pouco; por isso, é preciso começar cedo e treinar muito. Como poderia fazer os dois? Embora não soubesse como poderia concluir os estudos e realizar esse sonho, agarrei com mais força ainda a aspiração de dan14
çar diante de uma multidão. Como Deus me dera o sonho de dançar, acreditava que ele encontraria uma forma de realizá-lo. A Bíblia conta a história de outro jovem sonhador: José. O sonho desse rapaz deve ter parecido impossível a princípio, quando Deus o enviou, mas nosso Senhor se apraz em fazer o impossível.
A JORNADA DE JOSÉ O livro do Gênesis conta em detalhes a longa história de José, desde a infância nômade até o proeminente cargo de braço direito do faraó. Quando era menino, descobriu que Deus tinha grandes planos para ele, revelados em sonhos. Então, contou os sonhos aos irmãos, que ficaram com inveja por ele ser o filho favorito de seu pai: “Ouçam o sonho que tive”, disse-lhes. “Estávamos amarrando os feixes de trigo no campo, quando o meu feixe se levantou e ficou em pé, e os seus feixes se ajuntaram ao redor do meu e se curvaram diante dele.” Seus irmãos lhe disseram: “Então você vai reinar sobre nós? Quer dizer que você vai nos governar?” E o odiaram ainda mais, por causa do sonho e do que tinha dito (Gn 37.6-8).
Esse foi o primeiro sonho. Depois, teve um segundo: “Tive outro sonho, e desta vez o sol, a lua e onze estrelas se curvavam diante de mim”. Quando o contou ao pai e aos irmãos, o pai o repreendeu e lhe disse: “Que sonho foi esse que você teve? Será que eu, sua mãe, e seus irmãos viremos a nos curvar até o chão diante de você?” (Gn 37.9,10).
Pobre José! Seus irmãos invejosos não reagiram bem às histórias dele. Acho que ele sabia que aquelas visões tinham origem no Espírito de Deus, mas obviamente seus irmãos não pensavam assim! Tampouco Jacó, seu pai. 15
No entanto, José carregou esse sonho com ele, como uma semente, e esperou para ver como cresceria. Tenho certeza de que a lembrança desse sonho deu-lhe coragem e consolo nos dias difíceis de teste e provação. Você deve se lembrar de que a jornada de José até o poder foi longa e árdua. Seus irmãos invejosos venderam-no a mercadores de escravos que o levaram para o Egito. Longe de casa, deve ter sido tentado a esquecer do Deus de seu pai e de tudo que aprendera sobre santidade. Teria sido fácil para ele ficar revoltado e culpar Deus pelas dificuldades que estava passando. Bastava abandonar mentalmente seu povo, seu passado e seu propósito na vida. Entretanto, José não cedeu às tentações. Observando sua integridade e seus talentos, e percebendo que “o SENHOR estava com José” (Gn 39.2), seu amo, Potifar, tornou-o administrador de seus bens. Contudo, esse não é o fim da história. O capítulo termina com a prisão de José sob a falsa acusação de tentativa de estupro, quando ele se recusou a ir para a cama com a esposa de Potifar. Mesmo na prisão, José não abandonou seu sonho de liderança. O carcereiro encarregou-o dos outros prisioneiros: “o SENHOR estava com José e lhe concedia bom êxito em tudo o que realizava” (Gn 39.23). Naquela prisão sombria, Deus arquitetava uma surpresa ainda maior: ligar José ao homem que o apresentaria ao faraó. Uma coisa leva a outra, e, no momento oportuno, Deus elevou José ao segundo cargo mais alto do Egito. Por meio de José, Deus revelou que um tempo de grande escassez se seguiria à prosperidade que a nação experimentava. José apresentou um plano para armazenar cereais que alimentou os egípcios e boa parte do Oriente Médio durante sete anos. Todavia, mesmo depois de ser promovido ao proeminente cargo, José não esqueceu do Deus que o conduzira àquela posição, nem de fazer o que era certo. 16
Um dia, os irmãos de José foram ao palácio para lhe pedir comida. Ele não apenas os alimentou, mas também os convidou a viver no Egito. Anos mais tarde, quando seu pai morreu, seus irmãos ficaram preocupados achando que seriam punidos pelos atos terríveis que cometeram contra ele. Então, enviaram-lhe uma mensagem que continha um pedido de seu pai: “Peço-lhe que perdoe os erros e pecados de seus irmãos que o trataram com tanta maldade!” (Gn 50.17). Quando os irmãos se apresentaram pessoalmente a José, não podiam imaginar que ele seria misericordioso. Assim como nos sonhos de José na infância, os irmãos se curvaram diante dele e se ofereceram para servi-lo: Depois vieram seus irmãos, prostraram-se diante dele e disseram: “Aqui estamos. Somos teus escravos!” José, porém, lhes disse: “Não tenham medo. Estaria eu no lugar de Deus? Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos. Por isso, não tenham medo. Eu sustentarei vocês e seus filhos”. E assim os tranqüilizou e lhes falou amavelmente (Gn 50.18-21).
Na história de José, vejo um comportamento santo diante da vida. Ele tinha integridade, sendo honesto nos negócios e resistindo à tentação sexual, e não retribuiu mal com mal. O mais importante é que ele honrava a Deus acima do homem. Isso fica bastante claro na maravilhosa frase: “Estaria eu no lugar de Deus?”. Ele não fazia idéia de como o desígnio divino seria realizado, mas sabia que Deus poderia usar qualquer obstáculo para promover o plano que tinha para ele e para a comunidade em geral.
CONFIE, RECONHEÇA E OBEDEÇA José não tinha em mãos a Bíblia escrita, mas, se tivesse, seria o tipo de pessoa que guardaria Provérbios 3.5,6 na lembrança: 17
Confie no SENHOR de todo o seu coração e não se apóie em seu próprio entendimento; reconheça o SENHOR em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas.
Aprendi a não depender somente do meu entendimento. Não estou dizendo que não o uso; apenas que não dependo dele. No ensino médio, encontrei outra pedra no caminho: meus pais se divorciaram. A casa ficou muito quieta depois que meu pai foi embora, e, nesse período, tive vontade de aprender mais sobre Deus. Quanto mais aprendia sobre Jesus, mais queria aprender. Assim, comecei a estudar sua Palavra. Achei que poderia agradá-lo se fosse uma boa menina e agisse corretamente. Imaginei que, se fosse bastante boa, Deus me aceitaria. Tentei seguir seus mandamentos e descobri que essa tarefa era muito mais difícil do que imaginava. Lembro-me de ter orado muito sobre o rompimento de meus pais. Na realidade, cheguei até mesmo a dizer à minha mãe que Deus não aprova o divórcio, mas ela se afastou nada satisfeita com a idéia de ver a filha lhe dar um sermão. Foi então que percebi que meu sonho de reconciliação entre meus pais não se realizaria. Embora estivesse sofrendo por dentro, Deus falou em meu coração e me consolou da mesma forma que consola todo aquele que se volta para ele quando um sonho muito querido desaparece como o vapor. Contudo, Deus adora usar a tragédia para fazer o bem. Por estar sofrendo, passava horas mergulhada na Palavra de Deus, buscando sabedoria nas Escrituras. Li que Deus quer que os filhos obedeçam aos pais, quer vivam juntos quer não. Quando me preparava para a faculdade, ficou clara a vontade de meus pais de que eu fosse para a Universidade Estadual de Jacksonville, ou seja, uma escola sem aulas de balé. Essa decisão me deixou confusa. 18
Como cumpriria meu sonho divino se não estudasse dança nem fizesse um teste numa companhia de balé? Passei um bom tempo orando sobre minha decisão e senti que precisava obedecer à Palavra de Deus. Por isso, decidi ouvir meus pais e ver como Deus faria para cumprir o sonho que incutira em meu coração. Confiei meu futuro a ele. Confiava que, como um bom jardineiro, ele cuidaria de suas plantas, no caso eu e o sonho que tinha plantado em mim. A Universidade Estadual de Jacksonville forneceu a ajuda de que precisava para a faculdade, mas minha jornada até Atlantic City realmente começou um ano antes de isso acontecer. Quando estava no último ano do ensino médio, fui visitar a faculdade e me apresentei no escritório de recrutamento para encontrar alguém que pudesse me mostrar o campus. Quando entrei no escritório, fiquei maravilhada com as fotos, pregadas na parede, de quatro belas garotas. A recepcionista notou minha reação e contou que elas eram alunas da universidade que tinham participado do concurso de Miss Alabama. “Aquela”, disse apontando para o retrato de uma bela mulher, “é Teresa Strickland, a pessoa com a qual você está esperando falar. Ela não só se tornou Miss Alabama, mas também foi a primeira a participar do concurso de Miss Estados Unidos em 1979”. Nossa, como ela é linda!, pensei. Ela é realmente muito bonita. Teresa Cheatham Strickland parecia uma modelo quando veio ao meu encontro, e eu mal podia acreditar que estava disposta a me mostrar a universidade. Fiquei imediatamente impressionada com sua atitude humilde. Embora fosse bonita e charmosa, parecia serena e gentil. Ao pensar sobre isso agora, vejo que entrar para a Jacksonville foi um pouco como quando José foi para o Egito, onde estabeleceu contatos que mais tarde Deus usaria para seus propósitos. O exemplo de Teresa Strickland e sua fé em Deus se tornaram pon19
tos de referência para mim quando participei dos concursos. Poucos anos depois, lá estava eu, dançando como miss Alabama num programa de TV de âmbito nacional, assistido por mais de 40 milhões de pessoas. Meu sonho tornara-se realidade, de uma forma que jamais poderia prever. Uma das promessas bíblicas de que mais gosto é a que aparece em Jeremias 29.11: “ ‘Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês’, diz o SENHOR, ‘planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro’ ”. Isso me faz lembrar que Deus tem um plano maravilhoso e único para cada pessoa na terra. Nossos planos tornam-se claros quando buscamos Deus, que implanta os sonhos e, então, revela seus desígnios quando confiamos nele em cada passo que damos.
DEUS, POR FAVOR, MOSTRA-ME A história de vida de George Washington Carver inspira-me a continuar confiando em Deus e a reconhecer seu papel na realização de meus sonhos. Esse afro-americano, cujos pais eram escravos no Missouri, tornou-se um confidente e conselheiro de líderes e cientistas do mundo, como Thomas Edison, Mahatma Gandhi, Calvin Coolidge e Franklin Roosevelt. Da mesma forma que José, ele saiu da obscuridade para assumir um cargo de grande influência. Quem era Carver e por que tantos homens importantes buscaram sua sabedoria? Quando criança, Carver desenvolveu um grande interesse pela natureza, por plantas e pedras; aprendeu seus nomes, estudou suas características, e ficou conhecido como um “médico de plantas”. Quando conseguiu entrar para a faculdade, usou seu conhecimento e seu interesse pelos Estados sulistas para revitalizar a economia agrícola na região. 20
Como químico agrícola, descobriu 300 utilidades para o amendoim, mais de 100, para a batata-doce, e 75, para a noz. Encontrou novas maneiras de fazer pó-de-arroz, loções para a pele, creme de barbear, vinagre, cremes de beleza, tinta para impressão, azeite para salada, óleo lubrificante, café instantâneo, tintura para couro, mandioca e gema de ovo sintético, farinha, tintas e cores atóxicas. Ele desenvolveu um novo tipo de algodão conhecido como híbrido de Carver. A grande surpresa na história desse homem é que ele nunca levou nenhum livro ou publicação científica para o laboratório, mas somente a Bíblia. Certa vez, disse a um grupo da igreja: Deus nos revelará coisas que jamais relevou se nos colocarmos a seu serviço. Nenhum livro jamais entra no meu laboratório. Tudo que faço e como faço me é revelado. Não preciso buscar um método. O método é revelado no momento em que me sinto inspirado a criar algo novo. Sem Deus para descerrar a cortina, estaria perdido. [...] Somente quando estou só, consigo aproximar-me do Senhor o bastante para descobrir seus segredos.1
Em meados de 1920, Carver falou em uma reunião da Associação Cristã de Moços de Blue Ridge, Carolina do Norte. Sua abordagem à ciência foi uma surpresa para boa parte do público. Ele disse: Anos atrás, entrei em meu laboratório e disse: — Querido Senhor e Criador, por favor, dize-me de que é feito o Universo. O Grande Criador respondeu: — O que quer saber está além da compreensão de uma mente limitada como a sua. Peça algo mais apropriado à sua pequenez, homem. Então pedi:
21
— Por favor, Senhor Criador, dize-me de que é feito o homem. Novamente, o Grande Criador retrucou: — Ainda quer saber demais. Restrinja-se a algo mais significativo. Por fim, pedi: — Por favor, Senhor Criador, dize-me de que é feito o amendoim. — Agora melhorou, mas o tema ainda é infinito. O que quer saber sobre o amendoim? — Senhor Criador, posso fazer leite de amendoim? — Que tipo de leite deseja? Um bom leite de Jersey ou um leite comum, de pensão? — Um bom leite de Jersey. Assim, o Grande Criador ensinou-me a decompor e a recompor o amendoim. Foi desse processo que todos esses produtos nasceram!2
Em 1921, Carver foi a Washington discursar na Comissão Fiscal do Senado sobre o uso do amendoim e outras sementes novas que poderiam ajudar a economia da região sul do país. Depois de ouvir sua exposição, o presidente da comissão perguntou como ele aprendera tudo aquilo. Carver disse: — Em um livro antigo. — Que livro? — A Bíblia. O presidente sorriu: — A Bíblia fala sobre amendoim? — Não, senhor — respondeu o dr. Carver —, mas fala de como Deus fez o amendoim. Pedi que ele me mostrasse o que fazer com o amendoim, e ele me mostrou.3
Como José, George Washington Carver não louvava a Deus em vão, mas realmente o honrava. Seria fácil para ele permitir que 22
os homens o exaltassem por suas brilhantes invenções e idéias, mas ele sempre atribuiu o crédito ao Criador. Considerava-se um colaborador de Deus e via esse potencial em todas as pessoas. Parece incrível, não? No entanto, podemos ser colaboradoras de Deus nutrindo uma fé pura e simples e ouvindo a voz do Senhor. Ele está esperando que você lhe faça perguntas, como o dr. Carver, sobre o que deve fazer e como deve tratar aquela decisão sobre seu futuro. Se ele lhe deu um sonho, é porque deseja que o nutra e mantenha, mesmo em tempos de teste e provação. Deixe Deus surpreender você. Faça como José e George Washington Carver: decida confiar seus sonhos ao Senhor e reconheça-o em tudo que fizer. “Entregue o seu caminho ao SENHOR; confie nele, e ele agirá” (Sl 37.4).
23