Craig Groeschel
# n a l u t a Seguindo Jesus em um mundo voltado para si mesmo pelas lentes de uma selfie
Editora Vida
Rua Conde de Sarzedas, 246 – Liberdade CEP 01512‑070 – São Paulo, SP Tel.: 0 xx 11 2618 7000 Fax: 0 xx 11 2618 7030 www.editoravida.com.br
© 2015, Craig Groeschel Originalmente publicado nos EUA com o título #Struggles Copyright da edição brasileira © 2017, Editora Vida Edição publicada com permissão contratual de The Zondervan Corporation LLC, uma divisão de HarperCollins Christian Publishing, Inc.
Todos os direitos desta tradução em língua portuguesa reservados por Editora Vida. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com indicação da fonte. Todos os grifos são do autor.
Editor responsável: Marcelo Smargiasse Editor-assistente: Gisele Romão da Cruz Santiago Tradução: Jurandy Bravo Revisão de tradução: Andrea Filatro Revisão de provas: Josemar de Souza Pinto Diagramação: Claudia Fatel Lino Capa: Arte Peniel
Scripture quotations taken from Bíblia Sagrada, Nova Versão Internacional, NVI ®. Copyright © 1993, 2000, 2011 Biblica Inc. Used by permission. All rights reserved worldwide. Edição publicada por Editora Vida, salvo indicação em contrário. Todas as citações bíblicas e de terceiros foram adaptadas segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em 1990, em vigor desde janeiro de 2009.
1. edição: mar. 2017
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Groeschel, Craig #naluta : seguindo Jesus em um mundo voltado para si mesmo pelas lentes de uma selfie / Craig Groeschel ; [tradução Jurandy Bravo]. -- São Paulo : Editora Vida, 2017. Título original: #struggles ISBN 978-85-383-0351-0 1. Conduta de vida 2. Mídia social 3. Self - Aspectos religiosos - Cristianismo 4. Tecnologia 5. Vida cristã I. Título. 17-01413
CDD-248.4 Índices para catálogo sistemático: 1. Vida cristã 248.4
Este livro é para todos os que se recusam a adorar algo que nunca satisfaz. Que você possa experimentar mais daquele que sempre satisfaz. É necessário que ele cresça e que eu diminua. (João 3.30)
A g r a d e c i m e n t o s
Gostaria de expressar a minha mais profunda gratidão a todos os amigos que ajudaram a tornar este livro possível. Dudley Delffs, você é o melhor editor que conheço. E um amigo ainda melhor. David Morris, Tom Dean, John Raymond, Brian Phipps, Lisa Eary e a equipe inteira da Zondervan, é de fato uma honra publicar com vocês. A sua paixão por glorificar a Cristo é evidente e significa mais para mim do que jamais poderei expressar. Tom Winters, obrigado por sempre me representar tão bem. Você é um amigo fiel. Brannon Golden, você é um gênio e um comediante. Obrigado por sempre encontrar tempo para fazer o seu show! Você é o melhor dos melhores. Lori Tapp e Adrianne Manning, vocês são duas estrelas do rock. Obrigado por servirem à minha família e tornarem o nosso mundo melhor. Mandy Groeschel, Cindy Beall, Jaclyn Vann, Jared Bowie, Blake Deprato e Michael Mead, obrigado por lerem
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o manuscrito inteiro e darem o seu valioso feedback. Vocês tornaram o livro mais forte. E, graças a vocês, ele não contém figuras. Catie, Mandy, Anna, Sam, Stephen, Joy, vocês na verdade não fizeram muita coisa para ajudar com o livro, mas, como são meus filhos e sou louco por vocês, incluo os seus nomes nos agradecimentos. Tenho orgulho de cada um de vocês e amo-os mais do que podem imaginar. Amy Groeschel, você é melhor do que palavras são capazes de descrever. Amo a vida ao seu lado. Você é a minha melhor amiga e a garota dos meus sonhos para sempre.
S u m á r i o
Introdução: Dispositivos e desejos.................................................................11 #1 Recuperando a satisfação
Na luta contra as comparações............................................................23
#2 Restaurando a intimidade
Na luta contra as “curtidas”....................................................................49
#3 Revelando autenticidade
Na luta contra o controle..........................................................................77
#4 Ressuscitando a compaixão
Na luta contra a insensibilidade......................................................... 101
#5 Restabelecendo a integridade
Na luta contra a impureza secreta.................................................... 127
#6 Relembrando o encorajamento
Na luta contra a crítica constante.....................................................153 9
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#7 Recuperando a adoração
Na luta contra a idolatria........................................................................181
#8 Restabelecendo o descanso
Na luta contra a distração permanente......................................... 209
Conclusão: Mantendo a tecnologia no devido lugar....................... 231 Apêndice 1: Os dez mandamentos do uso das mídias sociais para aumentar a fé e compartilhar o amor de Deus....................... 243 Apêndice 2: Salvaguardas............................................................................... 261
I n t r o d u ç ã o
Dispositivos e desejos
Sim, eu amo a tecnologia, mas não tanto quanto você. Mas ainda amo a tecnologia, sempre e para sempre. Kip em Napoleon Dynamite1
Tenho uma relação de amor e ódio com a tecnologia. A maioria de nós está familiarizada com essa sensação, mas não sabe definir exatamente por quê. Temos consciência da obsessão por nossos dispositivos, mas não sabemos administrar os desafios que acompanham sua utilização e que só fazem se multiplicar.
Napoleon Dynamite: um novo herói (título em Portugal). Comédia dramática com direção de Jared Hess e produção executiva de Jeremy Coon. EUA, 2004. [N. do T.]
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Estamos ocupados, porém entediados. Sobrecarregados, porém vazios. Conectados, porém mais solitários do que nunca. A nossa vida está abarrotada de mais atividades do que imaginamos ser possível, porém nos sentimos ocos no fim do dia. Temos mais bens — carros, casas, roupas, engenhocas, brinquedos — do que qualquer outra geração na História; no entanto, ansiamos por mais. Estamos mais conectados on-line que nunca, porém com frequência nos sentimos mais sós do que somos capazes de descrever. Sabemos que Deus planeja algo diferente para nós, algo meEstamos mais lhor, algo mais. Só não sabemos muito bem conectados on-line que nunca, porém como encontrá-lo. com frequência nos Quase todo mundo parece concordar sentimos mais sós do que somos capazes que a vida está ficando mais atarefada, de descrever. Você se mais maluca e mais frenética a cada dia. Soidentifica com isso? mos bombardeados por mais informação do que temos condições de processar — notícias, anúncios, comerciais, blogues, tuítes, imagens, avisos sonoros, músicas, jogos, mais anúncios. O louco é que agora temos mais dispositivos, programas e aplicativos do que nunca disputando para satisfazer as nossas necessidades. O nosso mundo está farto de novidades tecnológicas, cada uma prometendo tornar a nossa vida melhor. Muitas dessas inovações têm realmente tornado a nossa vida melhor, disso não há dúvida. Consigo enviar uma mensagem de texto a um amigo na Austrália para avisá-lo de que estou orando em seu favor. Posso compartilhar fotos da festa de aniversário do meu filho com parentes a milhares de quilômetros de distância. Sou capaz de conferir o meu fundo de
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aposentadoria, fazer compras no supermercado ou reservar um hotel na praia, tudo pelo celular. No entanto, apesar de todas essas vantagens, não posso deixar de me questionar quanto às desvantagens involuntárias de algumas dessas conveniências sem as quais não consigo mais viver. Estou fascinado com o modo pelo qual a tecnologia e as mídias sociais impactam a nossa vida, os nossos relacionamentos e até a nossa fé. Não sei quanto a você, mas tenho de admitir que estou em conflito. Amo de paixão a tecnologia, usando-a quase sem parar todos os dias da minha vida. Ao mesmo tempo, não a suporto mais. Odeio o fato de ser consumido por ela, de depender dela e às vezes de ser quase incapaz de deter a minha compulsão de correr para ela, como se ali pudesse encontrar a resposta para tudo que é importante na minha vida.
#AMUDANÇAÉCONSTANTE Pense na rapidez com que o mundo mudou durante o nosso tempo de vida na terra. Lembro-me de quando os celulares começaram a se tornar acessíveis. Eu me perguntava para que alguém haveria de querer um. Claro, pareciam equipamentos excelentes se você fosse médico ou estivesse de plantão 24 horas por dia, mas me lembro de haver concluído que a posse de um aparelho desse seria uma chateação. As pessoas conseguiriam me encontrar a qualquer hora. Eu jamais haveria de querer um. Como as coisas mudaram! Em vez de não querer um celular, hoje quase tenho um ataque de pânico se por acaso me esqueço do meu em casa ou no escritório. Pode parecer loucura para você (ou talvez você saiba exatamente do que estou
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falando), mas não gosto nem de deixar o celular em outro cômodo quando estou em casa. Posso perder uma ligação importante do dentista me lembrando da próxima consulta, ou de alguém perguntando se eu poderia consagrar seu novo gatinho ao Senhor. (A resposta é não.) Ou quem sabe eu perca a mensagem de texto de um dos meus filhos que estão no andar de cima de casa, querendo saber o que haverá no jantar — sim, sabe como é, algo urgente. Cheguei ao ponto de precisar ter o meu celular por perto. É doentio, sei disso. Uma ferramenta que evitei no início agora se transformou em um perfeito salva-vidas. O e-mail é outra história. Lembro-me de ter criado a minha primeira conta de e-mail em 1997, gratuita, do provedor de Internet Juno. (Acredite ou não, esse primeiro endereço de e-mail continua ativo; é para onde mando tudo o que não quero ver.) A princípio, eu não tinha certeza de que e-mail fosse uma coisa adequada para mim. Claro, eu conseguia perceber por que as pessoas talvez necessitassem dele para os negócios, mas não havia ninguém com quem eu precisasse falar de computador para computador. Quem faz uma coisa dessa? Por que as pessoas não podiam pegar um telefone e ligar? Muito mais fácil e rápido, certo? Sim, adivinhou. Um ano depois eu me perguntava como alguém sobrevivia sem e-mail. Não achei que necessitasse daquilo. Então senti que não podia mais viver sem ele. Quando dei por mim, sentia-me como um prisioneiro. Felizmente, o e-mail parece não ter mais a importância que já teve um dia (pelo menos entre os meus amigos e conhecidos). Agora todo mundo que realmente importa para
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mim consegue me encontrar diretamente por mensagem de texto. Continuo dependente do e-mail, mas a verdade é que não gosto muito dele. Sempre tenho a impressão de que não vou conseguir responder a todas as mensagens e, se passo umas duas horas sem conferir minha caixa de mensagens durante um dia de trabalho, preocupa-me quem poderia estar à espera de uma resposta minha. Mas não posso negar as diversas maneiras pelas quais a tecnologia facilitou muito a nossa vida. Costumávamos ter de pegar o carro e ir até o shopping para comprar roupas. Não faço isso há anos. Agora é clique, clique, clique, e acabo de comprar uma calça jeans, uma camisa e um par de tênis novos. A mesma coisa com o banco. Não tenho nenhuma necessidade de pegar o carro e ir para o fim da fila quando posso fazer as minhas transações on-line. E o meu smartphone leva isso a um patamar superior. Ele é capaz de medir quantas calorias ingiro e quantos passos dou. Consegue me dizer a previsão do tempo em Bangladesh ou Paris, mostrar-me onde está a minha filha de 20 anos, ler a Bíblia para mim e preparar um sanduíche de maionese. (Está bem, essa última parte ele não faz. Pelo menos, não ainda.) É inegável que a tecnologia melhora a nossa vida. O mesmo vale para as mídias sociais. Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat, LinkedIn, Vine, Pinterest, Tumblr, NovoAppRecemCriadoporUmGarotoQualquernaCalifornia. O nosso mundo, indescritível de tão grande, se tornou infinitamente menor. Agora conseguimos nos reconectar com o nosso melhor amigo da segunda série de quem perdemos a pista décadas atrás. Podemos seguir tudo o que as nossas celebridades ou atletas profissionais favoritos têm a dizer, desde que seja em 140
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caracteres ou menos. E podemos compartilhar selfies fazendo bico com todos os nossos seguidores. Mas será que chegamos ao ponto em que tecnologia e as mídias sociais são capazes de nos prejudicar tanto quanto nos ajudam?
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QUAL É O PROBLEMA? Antes que você pense que este será um livro antitecnologia, que promove o boicote às mídias sociais, espero que consiga ouvir as batidas do coração por trás desta mensagem. Abraço tudo de bom que a nossa era tecnológica oferece. Podemos aprender sobre praticamente tudo o que tivermos vontade. Conectamo-nos com gente do mundo inteiro. E compartilhamos os nossos pensamentos, ideias e sentimentos sobre todos os assuntos, com todo mundo, em qualquer momento que desejarmos. Amo o que somos capazes de fazer com a tecnologia. Como pastor, também amo que possamos usar a tecnologia para alcançar pessoas com as boas-novas do evangelho de formas magníficas. A maioria das pessoas presume que a última grande inovação da Bíblia aconteceu em 1455, quando Gutenberg inventou a prensa tipográfica. Mas os dispositivos móveis podem compartilhar mais cópias da Palavra de Deus agora do que Gutenberg jamais imaginou. A nossa igreja, a LifeChurch.tv, criou o aplicativo YouVersion Bible em 2008. Até hoje, mais de 200 milhões de pessoas o baixaram gratuitamente em seus dispositivos móveis. Pela graça de Deus, até este momento, mais de 4 milhões de pessoas vêm fazendo o download por mês. Dada a generosidade de editores e tradutores, o nosso aplicativo da Bíblia
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compreende mais de mil versões em mais de 700 línguas e oferece a opção de milhares de planos de leitura da Bíblia. E, se você não sabe ou não gosta de ler, sem problema: o aplicativo é capaz até de ler as Escrituras para você. Se você tem menos de 25 anos, esse mundo dos cliques eternos é tudo o que conhece de fato. Você nunca precisou pagar tarifa extra por ligações telefônicas de longa distância, muito menos precisou colocar fichas em um orelhão. É provável que desconheça a maioria dos números de telefone que usa todos os dias porque eles estão salvos no seu dispositivo móvel. As fitas cassetes, sem falar nos cartuchos de oito pistas, são artefatos históricos. É grande a probabilidade de que você nem saiba o que é um pager — algo pelo qual pode dar graças a Deus! Aqueles, porém, com idade próxima à minha, com 40 ou mais anos, lembram-se de quando éramos obrigados a atender o telefone fixo (lembra-se dele, não?) sem saber quem estava chamando. E, se você tentasse ligar para alguém que estava usando o telefone no mesmo instante, ouvia um sinal de ocupado e precisava tentar de novo mais tarde. Se a pessoa não estivesse em casa, era impossível deixar uma mensagem de voz. Já imaginou uma coisa dessa? Como é que nos comunicávamos? Os filmes só podiam ser vistos nos cinemas ou anos mais tarde, quando chegavam à TV. E você tinha de se sentar em frente à TV para vê-los. Se tivesse de ir ao banheiro, perdia uma parte da história. Comprávamos música ou em formato vinil ou plástico, que tocávamos em dispositivos especiais hoje encontrados em brechós de todo o país. Os computadores ocupavam meio cômodo e eram só para cientistas, engenheiros e contadores.
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Ah, os bons e velhos tempos. Na época, também travávamos diversas lutas e contávamos com várias distrações, como sempre, ao longo da história. Mas há algo diferente no que experimentamos agora. Alguns de nós começamos a sentir que algo está errado, mesmo que não consigamos identificar o quê. Ainda travamos lutas antiquíssimas contra a comparação, a Alguns de nós inveja, o ciúme, a ganância, a luxúria e toda começamos a sentir que algo está uma multiplicidade de vícios. Só que agora errado, mesmo que temos novas maneiras de fugir dessas lutas não consigamos da “vida real” à medida que criamos novas identificar o quê. batalhas nos mundos virtuais que habitamos. É a essa combinação que me refiro quando dizemos que estamos #naluta. Conquanto eu não possa falar por você, enfim me disponho a reconhecer a verdade. Estou preso ao meu celular, viciado nos meus aplicativos favoritos e nas mídias sociais. A tecnologia tornou-se o centro da minha vida. A verdade é que eu não a controlo. Ela me controla. E não gosto disso.
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PARA MELHOR OU PARA PIOR Por intuição, sabemos que a tecnologia e as mídias sociais estão nos transformando. Para melhor ou para pior, elas transformam a maneira pela qual recebemos informação, nos relacionamos com as pessoas, nos vemos e possivelmente elas modificam até aquilo que valorizamos e cremos acerca de Deus. Sem dúvida, a tecnologia está mudando a maneira com que nos relacionamos com as pessoas. Embora se faça acompanhar de diversos benefícios, ela também tem seus inconvenientes. O termo “amigo” evoluiu para designar até alguém que
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você nunca encontrou pessoalmente, mas que tem acesso às suas mídias sociais on-line. Por conseguinte, podemos definir a amizade em termos próprios baseados em quem seguimos, de quem somos “amigos”, ou quem “curtimos”. Estamos ficando viciados na gratificação imediata, ao mesmo tempo que tentamos controlar como as pessoas nos veem pelo que postamos, fotografamos e gravamos em vídeo. A comunicação sem edição, da vida real, assusta muita gente hoje, em especial jovens adultos acostumados a editar e-mails, textos e legendas. Estudos recentes indicam que estamos mais conectados on-line, porém menos compassivos com as necessidades das pessoas reais. Isolamo-nos à medida que a profundidade dos nossos relacionamentos diminui. Almejamos a aprovação dos outros, sua atenção e afirmação, mas evitamos compartilhar qualquer coisa da nossa vida abaixo da superfície. Essas são apenas algumas questões que examinaremos neste livro. RESTABELECENDO O #CONTROLE Com essas lutas em mente, analisaremos oito valores bíblicos e como eles podem nos ajudar a restabelecer o equilíbrio na nossa vida, pondo fim ao nosso excesso doentio de confiança na tecnologia.
1. Contentamento: quanto mais compramos, menos satisfeitos ficamos. Estudos mostram que acompanhar as mídias sociais nos deixa com frequência deprimidos. 2. Intimidade: quanto mais interagimos on-line, mais ansiamos por intimidade face a face, porém mais esquiva ela se torna.
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3. Autenticidade: quanto mais filtrada a nossa vida se torna, mais difícil é para nós sermos genuínos e transparentes. 4. Compaixão: quanto mais somos expostos à dor, mais difícil é nos importarmos. Tornamo-nos insensíveis ao sofrimento das pessoas à nossa volta e ao redor do mundo. 5. Integridade: somos tentados sem parar a ver coisas que profanam a pureza desejada por Deus. 6. Encorajamento: a crítica on-line constante incentiva a que nos concentremos nas fraquezas, nos defeitos e nos fracassos dos outros em vez de encorajá-los. 7. Adoração: Deus quer ser o primeiro na nossa vida, porém cada vez mais as pessoas têm dificuldade para seguir Jesus em um mundo voltado para si mesmo pelas lentes de uma selfie. Está na hora de derrubar todos os ídolos. 8. Descanso: temos o mundo na ponta dos dedos, e isso é avassalador de tão empolgante. Mas precisamos redescobrir o descanso e o isolamento.
Mesmo que você nunca tenha postado nada em lugar algum, feito upload de nenhum arquivo ou comentado coisa alguma, ainda assim vive em um mundo voltado para si mesmo. E, no seu coração, você sabe que há muito mais do que vê. 20
Mesmo que você não seja um usuário regular das mídias sociais, ou que já tenha a tecnologia sob controle, este livro ainda pode falar ao seu coração porque todos batalhamos contra distrações, insatisfação e tentações espirituais. Mesmo que você nunca tenha postado nada em lugar algum, feito upload de nenhum arquivo ou comentado coisa alguma, ainda assim vive em um
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mundo voltado para si mesmo. E, no seu coração, você sabe que há muito mais do que vê. Você ama a tecnologia e tudo o que ela oferece. Mas também a odeia. Não sou capaz de provar o que digo, mas tenho algumas teorias que compartilharei para explicar por que odiamos as mídias sociais. De modo muito resumido, elas fazem que tudo tenha muito que ver conosco. Somos tragados pela ideia de medir a vida pela quantidade de seguidores que temos e por quem eles são. Queremos acreditar que não somos a soma das curtidas recebidas na nossa última postagem, mas ainda assim persiste a sensação de que os pequenos cliques são importantes. O estranho é que, quanto mais nos voltamos para nós mesmos, menos satisfeitos nos sentimos. E, quanto mais somos consumidos pelas coisas aqui da terra, mais nos sentimos vazios. A razão disso é que fomos criados para mais — muito mais. Fomos criados não para a terra, mas para a eternidade. Fomos criados não para ser curtidos, mas para mostrar amor. Não para chamar atenção para nós mesmos, mas para dar glória a Deus. Fomos criados não para colecionar seguidores, mas para seguir Cristo. Escrevo este livro porque é hora de sermos sinceros sobre as nossas lutas e de recuperarmos o controle sobre as incríveis ferramentas que a tecnologia nos oferece. É hora de devolvermos a tecnologia a seu devido lugar. É hora de amarmos a Deus de todo o coração.
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Recuperando a satisfação Na luta contra as comparações
A satisfação é a única riqueza verdadeira. Alfred Nobel Eu achava que tinha um montão de amigos. Sabe como é, amigos no trabalho, na igreja, no bairro. Almoçávamos juntos ou conversávamos sobre o treino de futebol dos nossos filhos, após o culto da igreja no domingo ou enquanto trabalhávamos no quintal. Então, depois do Facebook, consegui me conectar com amigos distantes e pessoas que conhecia do colégio e da faculdade. Mas hoje em dia todo mundo vive muito ocupado. Supostamente tenho mais de 300 amigos em todas as minhas páginas e sites. Mas na semana passada não consegui encontrar um único que pudesse se encontrar comigo para tomarmos um café. Nunca me senti tão solitária em toda a minha vida. Carla S. 23
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O meu amigo Steve é o sujeito mais competitivo que conheço. Não só precisa estar um passo à frente de tudo o que digo e faço, como também tem de postar no Twitter a respeito. E publicar uma selfie com qualquer que seja o prêmio que ganhou, com o casaco novo que comprou, ou no lugar superlegal que visitou. Eu costumava me sentir muito bem com a minha vida e com o que já tinha conquistado até aqui. Mas olho para Steve e sinto que jamais conseguirei alcançá-lo. Jamais contaria a ele uma coisa dessa — nem a ninguém que conheço —, mas isso me faz sentir um fracassado, como se eu não prestasse para nada. John K. Acho que se poderia dizer que sofro de eterno remorso de consumo. Sempre que estou prestes a comprar alguma coisa, ainda mais se for uma compra grande, gosto de pesquisar on-line, ler opiniões dos consumidores e reportagens especializadas. Só então visito diversos sites de compras, tentando encontrar o melhor preço antes de enfim informar os dados do meu cartão de crédito e clicar no botão “Comprar”. Quando recebo o produto, no entanto, poucos dias mais tarde, sinto que gostaria de ter pedido outra coisa. Às vezes devolvo, só para começar todo o processo outra vez. Parece que não faz muita diferença se é um suéter, um processador de alimentos, algo para as crianças ou almofadas para o sofá. Nada nunca parece ser tão bom quanto eu esperava que fosse. Sarah W.
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1.1 EU QUERO FONZ1 Lembro-me da primeira vez em que fui esmagado pelas comparações. Eu cursava o secundário em Beaumont, Texas, e ao menos uma vez na vida — por mais ou menos uma semana —, fui o rei do mundo. Fui a primeira criança da Marshall Middle School a ganhar um veículo motorizado de qualquer espécie. Os scooters [patinetes motorizados] são muito mais comuns hoje em dia, mas não é a esse tipo de máquina que me refiro. Chamar a minha mobilete vermelho-fogo de scooter seria um excesso de generosidade. A minha era do tipo que gosto de pensar como “original”: em essência, uma bicicleta com motor. E se tratava de um motor dotado de um dispositivo automático que a impedia de alcançar mais de 40 quilômetros por hora, mesmo na descida. Na minha cabeça, no entanto, eu me imaginava correndo a 50. O problema é que a minha mobilete não tinha muita força para encarar subidas. Mas dispunha de pedais, de modo que eu podia acrescentar a minha própria força para vencer os desafios. Quando eu andava com a minha mobilete, principalmente no plano, imaginava-me fazendo esplêndida figura, como um dos Filhos da Anarquia em cima de uma enorme Harley. Na verdade, ainda mais ao pedalar tão rápido quanto podia na subida, é provável que me parecesse mais com Nacho Libre.2 Mas a minha aparência pouco importava
Referência a uma personagem coadjuvante da série de TV norte-americana Happy Days, que logo se tornou principal quando começou a superar em popularidade as outras personagens. [N. do R.] 2 Filhos da Anarquia, ou Sons of Anarchy no original, foi uma série de TV que retratava a vida dos integrantes de um clube de motociclistas do norte 1
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porque Tiffany, uma garota que morava perto de casa, considerava a minha mobilete a coisa mais sensacional que existia. Eu prendia o capacete azul (lógico, para combinar com a mobilete), dobrava a esquina e percorria mais quatro quarteirões zunindo até a casa de Tiffany para apanhá-la. Ela subia na garupa, envolvia a minha cintura com os braços, e lá íamos nós em disparada a talvez uns 30 quilômetros por hora, em razão do peso extra, com o cabelo dela esvoaçando para trás. A vida era boa. Até Brian Marquardt ganhar uma motocicleta. Zuni para a casa de Tiffany, estacionei a minha querida bike na frente e caminhei todo pomposo até a porta para tocar a campainha. Tiffany atendeu e meio que fez cara feia para mim. “Oh”, disse. “Hoje não vou passear com você.” “Por que não?”, perguntei. Ela segurou uma das mãos na frente dela para examinar as unhas perfeitas enquanto respondia: “Por que vou passear com o Brian”. Tive dificuldade para processar a informação. “Mas pensei que nós... Quero dizer... Estou com o capacete aqui e tudo mais... E seu cabelo está tão bonito... E ele esvoaça atrás de nós... e...” Apesar da minha exposição irrefutável, Tiffany me olhou como quem sente pena ou coisa parecida, balançou de leve a cabeça e disse apenas: “Não”. Fiquei parado no mesmo lugar, sem jeito, durante o que me pareceram vários segundos. “Brian Marquardt? Mesmo?”
da Califórnia. Nacho Libre, interpretado pelo ator Jack Black, é a personagem principal do filme de mesmo nome, no qual o cozinheiro de um monastério mexicano decide se inscrever em um torneio de luta livre. [N. do T.]
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Ela me olhou como com desdém e respondeu: “Ouça; sinto muito, mas você... Bem, você é Richie Cunningham. E eu quero Fonz”. #Dóidemais. Se você não sabe quem é Richie Cunningham ou Fonz, #tudobem #nãosepreocupe. Confio em que saberá diferenciar um do outro mesmo que nunca tenha assistido a um episódio de Happy Days [Dias felizes]. Passados todos esses anos, ainda penso naquele momento às vezes, o que demonstra como vamos longe com as comparações. A minha visão de quem eu era não combinava com o que Tiffany via, e isso me devastou. Eu não conseguia acreditar que não correspondesse às expectativas de alguém. Eu não era bom o suficiente. Essa experiência ainda tem potencial para me machucar, apesar de ser casado com uma mulher maravilhosa e de sermos incrivelmente abençoados. Sei que não sou o único a experimentar esse tipo de sofrimento. Pouco tempo atrás, em um dos jogos de futebol do meu filho, escutei duas mães conversando, uma falando que sentia inveja das coisas que via a outra postar nas mídias sociais. Uma trabalhava em período integral e disse quanto invejava a amiga que ficava o dia inteiro em casa. “Toda vez que vejo alguma coisa que você salvou no Pinterest, fico envergonhada. Você se dedica tanto aos seus filhos. Eles estão sempre sorridentes e felizes. E, quando vejo todas as atividades que pratica com eles, toda a arte fofa que você faz com eles e as deliciosas comidas preparadas em casa, sinto-me um grande fracasso como mãe.” A mãe que ficava em casa deu risada. “Você só pode estar brincando comigo! Não faz ideia de quanto tenho inveja
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de você! Todos os dias eu a vejo empenhada em fazer todo tipo de coisas interessantes — comparecendo a lugares diferentes, conhecendo gente nova. E você tem o melhor guarda-roupa do mundo — sou apaixonada pelos seus sapatos! Sério, acho que tenho sorte quando consigo tirar o pijama antes do meio-dia. Claro, amo os meus filhos, mas tenho a impressão de ser o tempo todo obrigada a inventar novidades para eles fazerem e assim impedir que me enlouqueçam. Sabe como é quando eles gritam ‘Mamãe, isso aqui está muito chato!’ ” As duas mães levam uma vida incrível. Mas sentem inveja das coisas que os outros têm e elas não. Se você está nas mídias sociais, sabe muito bem do que estou falando. Você está sentado no seu sofá usando um suéter velho, deliciando-se com um prato de macarrão com queijo e com uma maçã no colo, mexendo no celular, quando vê a foto postada no Instagram por uma amiga do jantar extraordinário que ela está saboreando durante mais um encontro com um sujeito que ela acaba de conhecer. As velas emitem uma luminosidade linda, o cabelo dela está perfeito, e o vestido, será que é novo? O linho da toalha que cobre a mesa é tão branco que quase cintila, e o ambiente como um todo parece muito elegante. Sem dúvida ela se encontra em um belo restaurante de onde se descortina toda a cidade. A foto dela tem até moldura — e como ela conseguiu 200 curtidas em menos de uma hora? Ou o seu amigo posta uma selfie da academia com a camiseta erguida para ter certeza de que você consiga enxergar o abdome de tanquinho refletido no espelho. Está prestes a
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começar a sequência de 300 quilos enquanto você, bem, você está em casa tentando livrar os cupcakes Hostess da falência. Entendeu sobre o que estou falando? Outra coisa que a tecnologia nos permite fazer é medir a nossa popularidade, em geral com uma precisão dolorosa. Na minha infância, a gente tinha de fazer uma estimativa de quanto era impopular: “Vejamos... Ninguém se senta comigo no refeitório. Até agora, já convidei três garotas para o baile do Dia dos Namorados e ouvi três ‘nãos’ taxativos como resposta. Perdi a eleição para monitor do corredor — de novo. Hummm... Alguma coisa me diz que não sou muito popular”. Hoje há dados empíricos capazes de dizer com precisão absoluta sua classificação: “Vejamos... Se tenho 73 seguidores, e a minha melhor amiga tem 423, significa que ela é quase seis vezes mais popular do que eu. Minhas três últimas fotos receberam 29, 33 e 18 curtidas. As últimas três fotos dela receberam 88 e 73 — e então ela chegou aos três dígitos com aquela estúpida foto com o filhotinho. #MinhaVidaÉUmaDroga”. Pode-se argumentar que nenhuma geração anterior lutou tanto contra a insatisfação quanto a nossa. Embora ainda tenhamos pobreza e desigualdade econômica, a vida cotidiana da maioria de nós é repleta de comodidades, oportunidades e abundância — às vezes em excesso. Contudo, não é preciso muito para nos sentirmos como se não recebêssemos tudo o que merecemos e para enfrentarmos o desapontamento. Acrescente a isso as mídias sociais, e o que você tem? Nunca tanta gente teve tanto e se sentiu tão insatisfeita.
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Sociólogos apontam para a tecnologia como um fator imNunca tanta gente portante para a nossa infelicidade constante. teve tanto e se sentiu Somos o primeiro povo da História capaz de tão insatisfeita. enxergar a vida dos outros em tempo real. Carregamos pequeninos, mas poderosos dispositivos de mídia no bolso que nos capacitam a seguir a vida das pessoas através dos lugares a que vão, de fotografias e de vídeos. E, se o que vemos na vida alheia parece melhor, mais interessante e mais satisfatório do que a nossa própria vida, temos a impressão de que perdemos alguma coisa. Claro, as páginas que seguimos podem não refletir a realidade. A maioria das pessoas deixa seu melhor lado à vista, mostrando apenas o que deseja que os outros vejam. Como explica o meu amigo e colega pastor Steven Furtick: “Comparamos os nossos bastidores com o centro do palco das outras pessoas”. Depois de muitos cortes e Photoshop, de muitos filtros e edição, o que divisamos on-line dá à nossa realidade uma aparência desbotada e sem graça. Não admira que nos sintamos insatisfeitos com tanta frequência. Não importa o que tenhamos, isso não se compara com o que os outros aparentam ter.
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1.2 #CAIANAREAL Essa insatisfação não é algo com que somente eu tenho de lidar. Um estudo recente procurou quantificar como a exposição às mídias sociais afeta o humor das pessoas. Ao longo de duas semanas, pesquisadores de duas universidades monitoraram estudantes que usavam o Facebook com regularidade, fazendo-os completar pesquisas de satisfação com
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a vida cinco vezes por dia.3 Depois que eles passavam algum tempo no Facebook, as pesquisas mostravam os estudantes consideravelmente menos satisfeitos e mais críticos em relação à própria vida do que antes. Os resultados também indicaram que mais de um terço dos voluntários para o teste se sentiram “bem piores” acerca de si mesmos quanto mais tempo ficavam no Facebook. Por quê? Não fomos projetados por Deus para buscar a imagem alheia; fomos projetados para buscar Deus. Quando passamos muito tempo nas mídias sociais, concentrados em como as pessoas apresentam sua vida, desviamos o olhar da bola, para usar uma das analogias com o beisebol do meu pai. Como essa é uma questão bastante real para muitos de nós, gostaria de dar a você a oportunidade de #cairnareal comigo. Vamos reservar alguns minutos para expor qualquer insatisfação — outro nome que se dê à inveja — que talvez você esteja abrigando no coração. Examinaremos três categorias, e quero que você seja tão sincero quanto possível caso se veja em qualquer uma delas. Primeiro, você tem problemas com a inveja material e financeira? Veja como saber se esse é o seu caso: quando um amigo posta no Twitter o carro novo que comprou, na mesma hora você se lembra da sua lata velha que mal dá partida? Ou digamos que alguém do trabalho publique a foto de uma praia. Seu primeiro pensamento é: Espere um pouco...
Hall, Allan. “Facebook ‘Makes You Feel Miserable and Jealous’ ”, DailyMail. com, January 22, 2013. Disponível em: <http://www.dailymail.co.uk/ sciencetech/article-2266317/Unsociable-networking-Researchers-say -checking-Facebook-make-miserable-jealous.html>. Acesso em: 23 dez. 2015, 11:52:46.
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Essa não é a segunda viagem para a praia que ele faz este ano? (Não que você esteja contando, certo?) Ou digamos que a sua amiga poste mais um #diadefolga. Você então começa a rolar todas as postagens dela e de repente lhe ocorre — essa menina tem mais pares de sapatos do que a Zappos consegue vender on-line em um mês inteiro? Seja sincero: você luta contra a insatisfação material e financeira? Segundo, você abriga alguma inveja relacional? Quando começam a aparecer na sua linha do tempo fotos de todos os seus amigos jantando fora — todas ao mesmo tempo —, você se pergunta: Por que ninguém me convidou? Talvez você não esteja em um relacionamento, mas gostaria de estar, e é primavera, e parece que todo mundo que você conhece está se casando. Parte de você quer se sentir feliz pelos amigos porque você realmente os ama. Mas, se você for sincero, também dói um pouco ver todos aos pares e sorridentes com os novos cônjuges. Você se sente excluído, negligenciado, desprezado? O problema poderia ser o fato de você trabalhar em dois empregos, viver exausto só para manter a cabeça fora da água e ficar triste por não conseguir oferecer aos seus filhos todo o tempo e atenção que gostaria. E você tem aquele amigo que sempre parece acompanhar os filhos nos jogos, ou levá-los para o lago ou para o parque de diversões (de novo), ou mesmo fazer coisas simples como ler para eles na hora de deitar. Em vez de se sentir feliz pelo amigo, você sente culpa por tudo o que não pode fazer com seus filhos? Se essa costuma ser a sua reação, vamos chamar a sua atitude pelo que ela de fato é: inveja relacional. Por fim, talvez você lute contra a inveja circunstancial. Você vê o que outras pessoas estão fazendo, onde trabalham,
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como vivem. Olha então para a sua vida e as suas circunstâncias e se pergunta por que você não tem as coisas que os outros têm, ou por que não consegue fazer o que eles fazem. Você pensa: Nesta idade, eu acreditava que já seria mais bem-sucedido — ou, pelo menos, que estaria fazendo algo de que gostasse? Talvez você queira ter um filho, mas não enxerga a concretização dessa possibilidade tão cedo. Parece que toda vez que você olha para a sua linha do tempo, vê outra pessoa postando colagens de seus meses de gravidez ou da festa em que revelou o sexo do bebê. Você pensa: Bem, opa-que-legal! O bolo deles era rosa por dentro!? Se é assim, é provável que você esteja verde de inveja. 1.3 ALCANÇAR, CONQUISTAR, ACUMULAR Para ser franco, a inveja circunstancial é mais difícil para mim do que as outras duas (financeira e relacional). Como pastor, trabalho aos finais de semana, sábado e domingo. Assim, quando estou “on”, a maioria dos meus amigos e membros da igreja estão “off”. Mal consigo olhar para as mídias sociais nos finais de semana porque tudo o que vejo é gente jogando futebol, ou frisbee, ou passeando de bicicleta, ou pulando ondas no Sea-Doos. Fico louco de inveja. Preciso tentar me convencer o tempo todo: Bem, acho que vou salvar o mundo para a glória de Deus enquanto as pessoas estão por aí se divertindo e fazendo todas essas bobagens. Mas a verdade é que me convencer disso não me faz sentir nada melhor. Chuck Swindoll leva o crédito por ter dito que “A vida é 10% o que lhe acontece e 90% como você reage ao que acontece”. Claro, a maioria de nós provavelmente sente que a vida é justamente o oposto. Vivemos como se ela fosse 90% (ou
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mais) do que nos acontece. E às vezes achamos que a nossa reação não faz a menor diferença. Não consigo pensar em ninguém na História que tivesse melhor entendimento de como administrar as próprias reações do que o apóstolo Paulo. Na prisão romana, acorrentado 24 horas por dia a um guarda (eles se revezavam em turnos), Paulo escreveu as seguintes palavras: “Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.12,13). Vamos analisar essa declaração. Em essência, Paulo está dizendo: “Já vivi antes sem as coisas de que necessito. Mas também houve época em que tive mais do que o suficiente. A vida acontece em estações. Tive boas estações, quando tudo ia bem, e tive estações difíceis, quanVocê lutará contra a insatisfação até do nada ia bem. Em toda a minha vida, no deixar que Cristo seja entanto, aprendi que existe um segredo tudo aquilo de que para estar satisfeito, sejam quais forem as necessita. circunstâncias no momento. E esse segredo é que posso fazer qualquer coisa e todas as coisas não pelo meu poder, mas por meio de Cristo. Ele é quem me dá a força para lidar com seja lá o que quer que cruzar o meu caminho”. Não deixe passar despercebida essa verdade. Você lutará contra a insatisfação até deixar que Cristo seja tudo aquilo de que necessita. Não acredita em mim? Então prove que estou errado. Corra atrás de tudo o que sempre quis. Vá em frente. Eu o desafio. Eu o desafio duplamente. Vá e ganhe todo o dinheiro que puder. Compre tudo o que desejar. Alcance, conquista, acumule, repita. Isso soa familiar? Pode ser que você
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já tenha tentado algumas dessas coisas, ou ao menos conhece alguém que tentou. Nada disso funciona. E no fim do dia, de todos os dias, você ainda se sentirá vazio. 1.4 TUDO AQUILO DE QUE VOCÊ NECESSITA Talvez você não seja do tipo que se interessa muito por coisas materiais. Talvez o cenário que faz mais o seu estilo seja o das festas. Então tente seguir por esse caminho. Festeje até estourar os miolos. Vá em busca de cada arrepio, busque o máximo de prazer, alcance toda a alegria que puder encontrar. Adivinhe só: depois que a festa acaba, e todo mundo volta para casa, e uma ressaca de matar enfim começa a fazê-lo esmorecer, lá estará você, de volta ao ponto de partida, almejando mais. Talvez você seja mais do tipo que se dá com todo mundo, mas não consegue encontrar a pessoa certa que satisfaça todas as suas necessidades. Portanto, continue tentando. Arrume um novo namorado ou namorada. Se a próxima pessoa não funcionar, tente outra. Se esse outro alguém ainda não diminuir o incômodo, talvez seja porque uma só pessoa não é suficiente. Troque todos os velhos amigos por novos. Seja popular. (Um montão de livros e sites da Internet promete ensiná-lo a fazer isso.) Quem sabe? Pode até ser que você fique famoso! Mas, depois que todo mundo vai embora e as luzes se apagam, será só você outra vez, sozinho, ainda solitário, ainda ansioso. Se você pretende experimentar qualquer uma dessas coisas ou todas elas, certifique-se de aproveitar bem cada momento. Contrate o maior plano de dados que puder e colecione senhas de wi-fi a cada parada. Marque presença em
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todos os lugares descolados. Compartilhe cada pensamento inspirador que tiver, e cada piada que conhecer. Publique montes de fotos e vídeos também, claro. Jamais pare de compartilhar o que acontece à medida que o vive. Publique tudo on-line para o mundo inteiro ver. Colecione curtidas e amigos e seguidores até tudo se transformar em um único borrão indistinto. Seja agressivo até a vida real exceder todos os seus sonhos. E, mesmo depois de atingir o topo, uma coisa posso garantir: seu anseio por mais nunca cessará. Por que não? Porque você foi criado para a eternidade, não para este mundo como o conhecemos. Nada do que existe sobre a terra jamais poderá satisfazer o anseio espiritual que você experimenta no interior, mesmo que consiga ter tudo. Nada. Lembro-me de, adolescente, anos antes de conhecer Cristo, ouvir as pessoas dizerem: “Deus criou um vazio no formato de Cristo dentro de cada pessoa”. O ditado me aborrecia. Eu não entendia do que elas estavam falando. Mas então, um dia, aprendi por mim mesmo por que diziam aquilo: porque era a mais absoluta verdade. Nada fora de um relacionamento vivo com Cristo jamais pode preencher o vazio interior. Você sabe que tem buscado. Estou aqui para dizer que o que você vem buscando é Cristo. Ele é a sua fonte. A sua força. O seu sustento. Ele é a sua alegria. O seu Quando Cristo é tudo o que você tem, afinal contentamento. O seu tudo em tudo. você compreende que Quando Cristo é tudo o que você tem, ele é tudo aquilo de afinal você compreende que ele é tudo que você necessita. aquilo de que você necessita. Tudo o que importa.
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Se você continuar buscando, comparando e invejando, nunca terá o suficiente. Portanto, vamos estudar três maneiras pelas quais podemos nos ajudar a combater o pecado da inveja, tendo em mente que necessitaremos da força de Cristo para vencer a guerra.
1.5 ALÉM DA COMPARAÇÃO Como vencer o forte impulso humano de comparar? Analisemos a primeira maneira de combater a inveja voltando-nos para a Bíblia: “Não temos a pretensão de nos igualar ou de nos comparar com alguns que se recomendam a si mesmos. Quando eles se medem e se comparam consigo mesmos, agem sem entendimento” (2Coríntios 10.12). O pastor Andy Stanley explica isso de modo mais simples do que qualquer pessoa que conheço: “Não existe vitória nas comparações”. Precisamos dar um basta nas nossas comparações porque elas são mais sérias do que a maioria de nós se dá conta. Vejamos mais uma passagem, e espero que você perceba o que estou querendo dizer: “Contudo, se vocês abrigam no coração inveja amarga e ambição egoísta, não se gloriem disso nem neguem a verdade. Esse tipo de ‘sabedoria’ não vem dos céus, mas é terrena; não é espiritual, mas é demoníaca. Pois onde há inveja e ambição egoísta, aí há confusão e toda espécie de males” (Tiago 3.14-16). Observe que sabedoria está entre aspas, pois Tiago estava sendo sarcástico; essas atitudes não são sábias. Mas também note o seguinte: a inveja é demoníaca. Onde há inveja, há confusão. Onde há inveja, há toda espécie de males. Olhe bem para essas palavras. Demoníaca? Toda espécie de males? Isso é coisa séria. A inveja não é do céu. Ela é terrena. Não tem
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nada de espiritual. É demoníaca. Não quero tomar parte em atividades que a Bíblia chama de demoníacas. Você tampouco, tenho certeza. Tiago não diz: “ProvavelA inveja não é do mente seria uma boa ideia se você considecéu. Ela é terrena. Não tem nada de rasse a possibilidade de tomar mais cuidado espiritual. com a inveja”. Ele afirma que, onde há inveja, É demoníaca. há o mal. Ainda não se convenceu? Então o que você me diz dos Dez Mandamentos? Você sabe quais são, os “dez mais” de Deus, entre os quais se inclui “Não cobiçarás [...]” (Êxodo 20.17)? Não cobiçarás a casa do seu próximo. Nem a esposa do seu amigo. Nem o carro do seu colega de escritório. Nem algo ou alguém que pertença a outrem. Nem mesmo o gato deles. (Bem, agora estou dando a minha própria interpretação da Bíblia. Ela não diz nada ruim sobre gatos.) A inveja não é só doentia. Aos olhos de Deus, é um pecado categórico. Precisamos dar um basta nas nossas comparações, porque nos comparar com os outros não é sábio. Dar um basta nas comparações significa coisas diferentes na vida de pessoas diferentes. Como ser mais sincero consigo mesmo em relação às coisas que acionam o seu botão da inveja? Talvez seja hora de dar um tempo nas mídias sociais, ainda mais se elas alimentarem o pecado da inveja em você. Não estou dizendo que você deva jogar seu celular fora ou cancelar o wi-fi de casa. Mas, no mínimo, se você percebe que reage com inveja às postagens de determinadas pessoas, deve ocultá-las em sua linha do tempo. Deixe-me ser bem claro: acredito que o melhor é evitar por completo o botão da inveja. Falaremos mais sobre “desligar-se da tomada” no Capítulo 8, quando considerarmos o tema do descanso.
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No entanto, se você não estiver disposto a se desconectar por algum tempo a fim de combater a inveja, permita-me apresentar algumas outras sugestões e levar a discussão além das mídias sociais. Quando você se põe a folhear o último catálogo que chegou a sua casa, acaba sempre querendo algo mais? Talvez você tenha de cancelar a assinatura desses catálogos, ou simplesmente jogá-los fora. Ou quantos aplicativos de compras estão instalados no seu celular? Você está viciado? Talvez devesse deletá-los. Você poderia parar de assistir a programas sobre cuidados com a casa e o jardim se não consegue evitar de pecar cada vez que aparece o palacete de alguém na tela da TV do seu apartamento patético de tão minúsculo. Talvez você precise parar de ir à feira náutica, ou de carros, ou de caça, ou a qualquer feira que o leve a gastar mais tempo do que você sabe que deveria gastar desejando algo que não tem. É hora de dar um basta nas comparações e usar esse tempo para outra coisa. Talvez você precise parar de olhar as postagens de determinados amigos no Facebook, porque tende a se sentir enciumado, com inveja ou desejoso de ter o mesmo, ou incapaz, insatisfeito e descontente com a vida em geral ao ver tudo o que eles parecem possuir. Por quê? Porque a inveja é como um fogo incontrolável, sempre consumindo e jamais extinto. É algo demoníaco. Ela põe “toda espécie de males” de emboscada no seu interior, incluindo a luxúria, esse anseio por algo mais que é insaciável. O primeiro passo no combate à inveja consiste em considerar do que você pode e deve abrir mão. Escolha algo para deixar de fazer hoje. Por exemplo, deixe de conferir a linha
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do tempo do seu Facebook antes de deitar. Não publique a imagem de um prato delicioso de comida que foi servido a você no restaurante. Pare de retribuir a todos os que o seguem no LinkedIn, ainda mais quando for quem você não conhece. Pratique a atitude de dar um basta nesse comportamento vezes e mais vezes. Peça a outras pessoas à sua volta que o ajudem a parar. Comprometa-se consigo mesmo e com elas de que o fará. O passo seguinte mostrará como parar, o que facilitará o cumprimento do seu compromisso.
1.6 UM TIRO NO CORAÇÃO Dar um basta nas comparações não significa apenas identificar as más influências na sua vida e extirpá-las. O segundo passo prático que você pode dar para acabar com as comparações é celebrar o sucesso dos outros. Ao ver alguém sendo abençoado da mesma maneira que você espera ser abençoado um dia, celebrar com essa pessoa pode purificar as intenções do seu coração. Outra pessoa ficou com o emprego que você desejava? Experimente fazer a oração: “Deus, o Senhor deve ter tido um motivo para abençoá-la. Obrigado, Pai, por suas bênçãos na vida dessa pessoa”. Ao ver alguém conseguir aquilo que você sempre quis, tente agradecer a Deus em vez de chafurdar na inveja: “Deus, muito obrigado por sua mão abençoaA celebração dispara dora estar sobre a vida dessa pessoa. Por um tiro mortífero favor, continue a abençoá-la”. A celebração contra o coração dispara um tiro mortífero contra o corada inveja. ção da inveja. Escrevi este livro em uma época bastante atarefada na minha vida. Eu ansiava de verdade pela próxima oportunidade de
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tirar férias em família e comecei a ver fotos on-line de um casal conhecido viajando fora do país. Dublin, Irlanda. Edimburgo, Escócia. Chegando ao topo das montanhas com seus snowmobiles. Atravessando geleiras. Na Islândia. Tudo isso da mesma viagem! “Obrigado, Pai, por estarem se divertindo tanto”, orei. “Essa viagem é uma bênção muito grande para eles.” Sufoque as chamas da inveja com um cobertor de gratidão. Deixar de celebrar as bênçãos alheias também afeta como Deus opera na nossa vida. Na minha vidinha cotidiana, estou convencido de que, quando não posso celebrar pelos outros, na verdade limito o que Deus quer fazer por meu intermédio. A nossa igreja tem quase 20 anos de idade. Nesse tempo todo, temos sido abençoados vendo expandir o número de pessoas que somos capazes de alcançar — exceto por dois períodos. Quando olho para trás, para esses períodos em que não crescemos, reconheço que tanto em um quanto no outro eu carregava um pecado significativo no meu coração. Em uma dessas épocas, além de não conseguirmos alcançar novas pessoas, na verdade perdemos algumas. A nossa igreja contava então com dois endereços, e eu costumava ir de carro de um para o outro nos domingos para pregar. No caminho, passava por uma pequena igreja. Era evidente a luta que ela travava, e só oito a dez carros ocupavam seu estacionamento a cada semana. Orei por eles algumas vezes, tipo: “Pai, abençoe essa igrejinha. Por favor, ajude-os a encontrar o caminho para dar passos mais largos”. Contudo, para ser franco, no exato momento em que a oração passava pelos meus lábios, havia orgulho no meu coração. Pensava: Uau! Que alegria saber que a nossa igreja não passa por uma situação como essa. Era um orgulho meio doentio que envolvia
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contar com atenção os carros toda vez que passava por aquele lugar. Não é o tipo de coisa que digo com frequência, mas acredito de verdade que Deus me falou a respeito disso. Para que fique muito claro: não estou dizendo que escutei a voz audível de Deus ribombando dentro do carro. Mas posso afirmar com toda a sinceridade que senti uma espécie de presença, um poder enchendo o carro, e ouvi claramente as seguintes palavras dentro da minha cabeça, proferidas por uma voz que não era a minha: “Você ficaria mesmo feliz se eu os abençoasse? E se os abençoasse mais do que venho abençoando vocês?”. Reconheci que as minhas respostas francas a tais perguntas não honrariam a Deus. “Que nada. Isso não me deixaria feliz de verdade. Abençoe-os muito, Deus. Apenas, por favor, não os abençoe tanto quanto o Senhor tem abençoado a nossa igreja”. Senti o estômago embrulhar quando vi que o meu coração era impuro. O meu coração não estava preocupado com a edificação do Reino de Deus; estava mais preocupado em edificar o meu próprio reino. E esse é um lugar muito perigoso para um pastor. Comecei a orar sobre o assunto no mesmo instante. Revirei a ideia na minha mente diversas vezes por vários dias. Então me arrependi com sinceridade. Clamei: “Deus, quero de verdade chegar a um ponto em que deseje que o Senhor abençoe outras igrejas mais do que tem abençoado a nossa”. Deus honrou essa oração e mudou o meu coração, de modo que a minha vida passou a ser dedicada inteiramente ao seu Reino outra vez. E ele voltou a abençoar a nossa igreja com o crescimento. Não tenho como provar a próxima afirmação que farei. Não está na Bíblia, portanto seja criterioso ao interpretá-la.
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No meu coração, no entanto, vivo isso como uma verdade: talvez a razão pela qual Deus não o abençoa com algo que você deseja muito é por você não celebrar as bênçãos de Deus na vida de outra pessoa. Como não quero menosprezar as bênçãos de Deus na minha vida tomando-as como certas, quero sempre celebrá-las na vida dos outros, pois nos é dito: “Alegrem-se com os que se alegram” (Romanos 12.15). Não quero que a minha vida tenha que ver só comigo. Jesus nos chama para algo melhor, para algo mais elevado.
1.7 UMA FESTA CONTÍNUA O terceiro modo de dar um basta nas comparações é mediante o cultivo da gratidão. Li uma excelente definição de inveja que dizia mais ou menos assim: inveja é ressentir-se contra a bondade de Deus sobre a vida de outra pessoa e ignorar sua bondade na nossa própria vida. Uma afirmação poderosa. Falando nisso, eis outro versículo que eu amo sobre o assunto. Provérbios 15.15 diz: “Para quem tem o coração aflito a vida é só infelicidade” (A Mensagem). Todos conhecemos gente assim. (Até você pode ser um pouco desse jeito.)
• “Meu, já estou até vendo, hoje o dia vai ser péssimo.” • “Que maravilha! Amanhã vai chover o dia inteiro.” • “Acabo de conferir os indicadores econômicos. A nossa economia está um bagaço, não resta a menor dúvida.” • “Os meus filhos são sempre muito difíceis. Todo dia é a mesma coisa.” • “Odeio este carro. Vai me deixar na mão qualquer dia desses. Já estou sentindo.”
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O aflito vê cada dia lhe trazendo mais problemas. Não enxerga as bênçãos porque seu copo está sempre meio vazio. Mas Provérbios 15.15 não para por aí. Essa é só a primeira metade. A segunda diz: “[...] Mas o coração bem-disposto está sempre em festa”. Quem começa o dia se sentindo miserável vive o mesmo dia que as pessoas de coração bem-disposto? Claro que sim! A diferença está no que essas pessoas procuram. Os aflitos Os aflitos procuram procuram problemas — e os encontram. problemas — e os Gente de coração bem-disposto procura a encontram. Gente de bondade de Deus — e a encontra! coração bem-disposto Se você quiser procurar o mal neste procura a bondade de Deus — e a encontra! mundo, com certeza o encontrará em grande quantidade. Não é difícil achar problemas. Mas você já pensou na possibilidade de procurar o bem? A quantidade é a mesma, se não for maior. Basta procurar as bênçãos de Deus — e você as encontrará! “O coração bem-disposto está sempre em festa.” Toda vez que leio este versículo, lembro-me do meu pai. De todos os motivos pelos quais admiro o meu pai — e são muitos —, o maior deles é sua perspectiva positiva da vida. Sempre que lhe telefono, ele diz a mesma coisa. “Oi, pai, como vai?” “Filho, a vida é boa!” Essa é uma daquelas coisas que, quando jovem, costumavam me aborrecer. O meu pai dizia isso com tanta frequência que eu pensava que fosse automático, apenas um jeito seu de falar. Lembro-me de quando ele lutava para se recuperar de um sério derrame que poderia ter-lhe tirado a vida. Muito preocupado, perguntei: “Oi, pai, como vai?”.
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Sem vacilar um segundo, ele respondeu: “Oh... (cof, cof), a vida é boa”. “Não parece boa agora, pai!” “Como? Não, ela é boa.” Enfim, um dia conversei com ele sobre o assunto. Perguntei: “Pai, o senhor percebe que sempre diz ‘A vida é boa’, não importa o que esteja acontecendo? Não importa como o senhor está de fato se sentindo?”. Uma coisa engraçada no meu pai é que ele ama se comunicar usando metáforas de beisebol. Por exemplo, se estou pregando, ele diz que subi “no monte do lançador”. Depois, em vez de me desejar “Boa pregação”, ele fala: “Mantenha todo mundo de olhos grudados na bola”. Quando me mostrei surpreso por ele se mostrar tão positivo mesmo enfrentando problemas sérios relacionados ao derrame, sua resposta foi: “Bem, Craig, digo que a vida é boa porque isso é verdade. Filho, você sabe que eu poderia ter morrido. Do meu ponto de vista, neste exato momento estou vivendo a prorrogação do meu jogo. Por isso, é verdade. A vida é mesmo boa”. Adoro isso! O meu pai diz “a vida é boa” porque acredita genuinamente que assim seja, haja o que houver. Está no seu coração. E ele tem toda a razão! É tudo uma questão de perspectiva. “O coração bem-disposto está sempre em festa.” Algumas pessoas acreditam que Salomão não apenas foi o homem mais rico da sua época, como também, levando em consideração coisas como inflação, distribuição de renda e densidade populacional, o mais rico de todos os tempos. Pois esse sujeito afirmou o seguinte: “Melhor é contentar-se com o que os olhos veem do que sonhar com o que se deseja” (Eclesiastes 6.9).
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Você quer viver uma festa que não acaba mais? Contente-se com o que Deus dá a você, em vez de ansiar pelo que não tem. Seja grato pelo que Deus tem concedido a você, em vez de se ressentir do Instagram dos outros: “Oh, eu queria ter a vida deles!”. Adivinha só? Eles anseiam por sua vida em sentidos de que você nem desconfia! Na próxima vez em que se sentir tentado a reclamar “Odeio essa porcaria de carro”, tente reverter a situação e orar: “Obrigado, Senhor, por ter um teto sobre a minha cabeça — e encanamento que funciona!”. Você já se conscientizou de que metade da população mundial não conta com isso? Água limpa corrente dentro de casa? É incrível! Uma bênção importante dada por Deus, pela qual devemos e podemos ser gratos. Você se sente tentado a protestar: “A minha vida está uma loucura neste momento. Vivo ocupado demais”? Por que há tanta coisa para fazer na sua vida? Porque você tem uma família? Porque tem filhos? Porque seus filhos saudáveis estão envolvidos em diversas atividades? Porque têm amigos de cuja companhia podem desfrutar? Porque você participa de uma comunidade pulsante com a qual sempre contribui? Em vez de protestar, tente orar: “Obrigado, Deus, por ter tantas oportunidades de abençoar outras pessoas. Obrigado por dar significado à minha vida. Sou muito grato porque o Senhor tem me presenteado com tanta gente com quem me importo”. Com a ajuda de Cristo, vamos dar um basta às comparações. A inveja é terrena, nada espiritual. Demoníaca. Toda espécie de mal está vinculada à inveja. Antes, celebremos as bênçãos que Deus confere aos outros. As mídias sociais deveriam ser um lugar para se ver o que acontece
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na vida das pessoas a quem amamos, não um local que nos torne invejosos. Alegremo-nos com quem se alegra. Cultivemos a gratidão. Adoremos o nosso Deus não porque ele nos dá tudo que desejamos, mas porque ele é digno do nosso louvor. Adoremos a Deus porque aprendemos o segredo de estarmos contentes quer vivemos em plenitude, quer em necessidade. Esse segredo é que podemos todas as coisas por intermédio do Filho de Deus, Jesus Cristo, que nos fortalece. Porque Jesus é tudo aquilo que precisamos, devemos buscá-lo de todo o nosso coração. Só nele encontraremos verdadeira alegria e verdadeira satisfação. Só ele é vida, e só ele satisfaz verdadeiramente.
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