Elas por elas | Capítulo 1

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Elas por elas


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Nancy Leigh DeMoss (Organizadora)

Elas por elas o mundo feminino e a Bíblia

Tradução Jamil Abdalla Filho

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©2002 de Nancy Leigh DeMoss (org.)

Editora do grupo Z ONDERVAN HARPERCOLLINS

Filiada à CÂMARA BRASILEIRA

DO

LIVRO

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDITORES CRISTÃOS

DE

Título do original Biblical Womanhood in the Home, edição publicada pela INTERVARSITY PRESS Crossway Books – Uma divisão da Good News Publishers, (Wheaton, Illinois, 60187, Michigan, EUA)

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por

EDITORA VIDA

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Todas as citações bíblicas foram extraídas da Nova Versão Internacional (NVI), ©2001, publicada por Editora Vida, salvo indicação em contrário. Coordenação editorial: Sônia Freire Lula Almeida Edição: Lena Aranha e Magaly Fraga Moreira Revisão: Juliana de Cássia Ribeiro e Liege M. S. Marucci Diagramação: Set-up Time Capa: Souto design

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Elas por elas : o mundo feminino e a Bíblia / Nancy Leigh DeMoss organizadora ; tradução Jamil Abdalla Filho — São Paulo : Editora Vida, 2005. Título original: Biblical Womanhood in the Home. ISBN 85-7367-911-5

1. Mulheres - Ensino bíblico 2. Mulheres cristãs - Vida religiosa I. DeMoss, Nancy Leigh.

05-7604

CDD 248.843

Índices para catálogo sistemático 1. Mulheres : Vida cristã : Cristianismo 248.843 2. Cristianismo e autoridade 261.1

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Às nossas filhas — geradas física ou espiritualmente. Que vocês adornem continuamente o evangelho de Cristo. Que experimentem a alegria de serem autênticas mulheres de Deus. E que seus lares sejam um reflexo do grandioso plano de redenção do Senhor.

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Sumário

Agradecimentos...........................................................................9 Colaboradoras ......................................................................... 11 Introdução .............................................................................. 15 I. A glória de ser mulher segundo o padrão criado por Deus 1. Feminilidade: revelando a perspectiva bíblica CAROLYN MAHANEY ................................................. 25 2. A verdadeira beleza CAROLYN MAHANEY ................................................. 39 3. A garotinha do papai: o conhecimento de Deus como Pai MARY A. KASSIAN .................................................... 56 II. O desafio de ser mulher segundo a Bíblia em um mundo corrompido 4. Retrato da mulher usada por Deus NANCY LEIGH DEMOSS ........................................... 75 7


5. Retrato da mulher insensata NANCY LEIGH DEMOSS ........................................... 96 6. Podar para florescer P. BUNNY WILSON .................................................. 117 III. A liberdade da mulher como auxiliadora 7. A esposa e sua responsabilidade como auxiliadora do marido BARBARA HUGHES .................................................. 133 8. Liberada pela submissão P. BUNNY WILSON .................................................. 154 IV. A alegria da mulher como geradora e cultivadora de vida 9. Como criar filhas femininas SUSAN HUNT ......................................................... 169 10. Mães que nutrem e educam DOROTHY KELLEY PATTERSON ................................ 186 11. Mulheres mais velhas que orientam as mais jovens: o texto de Tito 2 aplicado à igreja atual SUSAN HUNT ......................................................... 198 Conclusão ............................................................................. 212 Índice ................................................................................... 217

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Agradecimentos

Cada colaboradora deste livro foi incentivada e auxiliada de muitas formas neste projeto por pessoas queridas, dentre elas maridos, assistentes e colegas de ministério. As limitações de espaço não nos permitem identificar essas pessoas pelo nome, contudo queremos expressar nosso profundo agradecimento pelas orações, pela colaboração e pela participação efetiva. Dedicamos, também, um agradecimento coletivo às seguintes entidades e pessoas: Council on Biblical Manhood and Womanhood (CBMW), bem como ao FamilyLife (FL) — os dois ministérios que coordenaram o congresso intitulado Building Strong Families in Your Church [Edificando famílias sólidas no seio da igreja], realizado em março de 2000, quando essas mensagens foram originalmente apresentadas sob a forma de breves seminários ou workshops. Wayne Grudem (presidente do CBMW na época) e Dennis Rainey (Diretor-executivo do FL), pela liderança exercida nesses ministérios estratégicos e pela fidelidade em levantar bem alto a bandeira da Verdade numa época em que fazê-lo exige muita coragem. 9


Somos gratas a Deus por conceder homens como esses à igreja e oramos para que o Senhor lhes acrescente seu favor e multiplique suas forças para glória dele. À Editora Crossway Books e Lane Dennis (presidente da editora), por seu destemido compromisso com a Verdade e por sua visão na publicação desta série. Agradecemos por considerarem com seriedade aquilo precisa ser dito à igreja do século 21 e pelo empenho para penetrar as trevas com a luz esplendorosa dos caminhos de Deus. Ted Griffin — você é um verdadeiro servo do Senhor e do seu povo. Muito obrigada por assumir a ingrata tarefa de revisar, editar, ajudar a dar forma a este livro e compilar os índices que fazem dele um recurso ainda mais útil. Soli Deo Gloria.

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Colaboradoras

Nancy Leigh DeMoss é apresentadora e professora do Revive Our Hearts [Avivando nosso coração], um programa de rádio direcionado a mulheres, que vai ao ar diariamente e é transmitido por mais de 250 emissoras. Desde 1979, Nancy é membro da equipe do Life Action Ministries em Niles, no estado de Michigan. Ela é autora dos seguintes livros: A Place of Quiet Rest [Um local de repouso tranqüilo], Lies Women Believe and the Truth that Sets Them Free [Mentiras em que as mulheres acreditam e a verdade que as liberta] e A Thirty Day Walk with God in the Psalms [Uma caminhada de trinta dias com Deus em Salmos]. Nancy já compartilhou o desafio, guardado em seu coração, por um reavivamento pessoal e coletivo em palestras pelos Estados Unidos e por outros países. Barbara Hughes é esposa de pastor há 35 anos. Escreveu dois livros em co-autoria com o marido: Common Sense Parenting [Criar filhos com bom senso] e Liberating Ministry from the Success Syndrome [Liberando o ministério da síndrome do sucesso]. É autora do livro Disciplines of a Godly Woman [publicado em português pela CPAD, 11


Disciplinas da mulher cristã]. Nos últimos 24 anos, Bárbara orientou e ministrou muitos estudos bíblicos. Susan Hunt faz parte do Women in the Church Consultant para o Comitê de Educação Cristã e Publicações da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos. Recebeu o diploma de bacharel em Educação Cristã pelo Columbia Theological Seminary. É autora de diversos livros, dentre eles: The True Woman [A verdadeira mulher], Heirs of the Covenant [Herdeiras da aliança], By Design: God’s Distinctive Calling for Women [De acordo com o projeto: o chamado específico de Deus para as mulheres], Spiritual Mothering: The Titus 2 Mandate for Women Mentoring Women [Maternidade espiritual: a ordem de Tito 2 para que mulheres aconselhem mulheres], Your Home — A Place of Grace [publicado em português pela Editora Cultura Cristã, Graça que vem do lar], além de dois livros infantis, um deles My ABC Bible Verses [Meu ABC dos versículos bíblicos]. Ela e o marido, Gene, que é pastor, moram em Marietta, no estado da Geórgia. Têm três filhos já adultos e nove netos. Mary A. Kassian é presidente do Alabaster Flask Ministries, um ministério que desafia mulheres jovens a buscar a Deus com ardor e a se deleitar em seu plano. Mary, atualmente, está se dedicando à tese de doutorado em Teologia Sistemática pela University of South Africa. Ela é autora de diversos livros e vídeos, tais como: The Feminist Gospel [O evangelho feminista]; Women, Creation, and the Fall [Mulher, criação e queda]; In My Father’s House: Relating to God as Father [Na casa de meu Pai: relacionando-se com Deus como Pai]; e Conversation Peace: the Power of Transformed Speech [Conversa tranqüila: o poder da palavra transformada]. Mary e o marido têm três filhos e moram em Edmonton, Canadá. Carolyn Mahaney é esposa, mãe e dona de casa. Lidera o ministério feminino da Igreja Covenant Life (PDI Ministries) — em Gaithersburg, no estado de Maryland — da qual seu marido, 12


C. J., é pastor titular. Carolyn também faz palestras para mulheres em congressos e igrejas fundamentadas no livro Feminine Appeal: Seven Virtues of a Godly Wife and Mother [publicado em português pela Editora Vida, As sete virtudes da mulher cristã] o casal tem quatro filhos e um neto. Dorothy Kelley Patterson é dona de casa, autora, conferencista, teóloga e professora de disciplinas acadêmicas para mulheres no Southeastern Baptist Theological Seminary. Ela é autora dos seguintes livros: BeAttitudes for Women [Bem-aventuranças para mulheres], A Woman Seeking God [Uma mulher em busca de Deus] e Where’s Mom? [Onde está a mamãe?]. Dorothy é editora geral The Woman’s Study Bible [publicada em português por Editora Mundo Cristã e SBB, A Bíblia da mulher]. Ela e o marido, Paige, moram em Wake Forest, na Carolina do Norte, e têm dois filhos e duas netas. P. Bunny Wilson é fundadora e presidente da New Dawn Productions. Ela é autora talentosa, conselheira, palestrante e professora. Já se apresentou nos seguintes programas de TV: The Oprah Winfrey Show, The 700 Club, Woman to Woman e Beverly LaHaye Live. É autora dos seguintes livros: Liberated Through Submission [Liberada pela submissão], Betrayal’s Baby [O bebê da traição], Knight in Shining Armor [Cavaleiros em armaduras reluzentes], The Master’s Degree [O diploma do Mestre], Seven Secrets Women Want to Know [Sete segredos que as mulheres precisam saber] e Night Come Swiftly [A noite cai rapidamente]. Ela e o marido, Frank, casaram-se em 1973 e têm seis filhos. A família vive no sul da Califórnia.

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Introdução

Em 1990, a revista Time dedicou uma edição especial ao tema mulheres.1 A coluna do editor-chefe começava assim: Como representantes de quase metade da população mundial, é difícil imaginar que as mulheres precisem lutar para chamar a atenção para suas causas. Contudo, é exatamente isso o que elas vêm fazendo nas últimas décadas do século 20. Seus esforços merecem ser descritos apenas por uma palavra: revolução — nas expectativas, nas conquistas, na auto-realização e no relacionamento com os homens. É uma revolução que, apesar de estar longe de terminar, promete, ao longo do tempo, provocar mudanças tão profundas para homens e mulheres quanto as que já ocorreram no Leste Europeu ou na União Soviética no ano que se findou.2

A edição especial, de 86 páginas, incluía artigos acerca desses avanços revolucionários, tais como: “o caminho para a igualdade”, a psicologia do desenvolvimento da mulher, a mudança de papéis das mulheres na força de trabalho, mulheres como consumidoras, 15


a modificação de pontos de vista sobre casamento e família e obstáculos que as mulheres enfrentam na busca de uma carreira na política. Uma seção da revista publicou o perfil de “10 mulheres de fibra” que aliaram “talento e esforço” para se tornarem mulheres “bemsucedidas” na profissão: a comandante de uma importante força policial metropolitana, a dona de um time de beisebol, uma cantora de rap, uma ativista do movimento em prol dos aidéticos, uma alpinista, a bispa de uma das mais importantes denominações religiosas, uma magnata do mundo da moda, uma saxofonista, a cacique de uma tribo indígena e uma coreógrafa. Essas mulheres foram elogiadas, principalmente pelo sucesso na profissão escolhida. A ausência de qualquer reconhecimento às mulheres bem-sucedidas em áreas que não estão relacionadas a nenhuma profissão — mulheres que obtiveram êxito em permanecer casadas com o mesmo marido ou em educar filhos que contribuem positivamente para a sociedade — foi notória ao longo de toda a edição da revista. Não é de admirar que nenhum buquê de flores tenha sido entregue às mulheres em homenagem à reverência e temperança, à prudência e pureza, à docilidade e tranqüilidade, ao amor dedicado ao marido e aos filhos, à manutenção da casa limpa e organizada, ao cuidado dedicado aos pais idosos, à hospitalidade oferecida, aos atos de bondade, ao serviço e misericórdia ou à compaixão pelo pobre e necessitado — aquele tipo de sucesso que, de acordo com a Palavra de Deus, as mulheres deveriam almejar (1Tm 5.10; Tt 2.3-5). Embora a cobertura da Time desse destaque a mulheres em diferentes funções e contextos, fiquei surpresa com o fato de que havia raríssimas referências ao lar (As poucas referências ao casamento e à família davam ênfase a “mulheres solteiras com filhos que optaram por não se casar...”3, pais “donos de casa” integralmente ocupados com as tarefas do lar, mães divorciadas, lésbicas e mães que trabalham fora — todas elas uma evidência da difusão dessa revolução que aceita todos os estilos de vida como escolhas igualmente válidas, com a única exceção, talvez, daquelas mulheres que escolhem 16


direcionar o coração e a vida para a família. As leitoras da revista que escolheram a carreira de “dona de casa” talvez tenham se sentido abaladas com o artigo isolado no canto de página sobre “esposas”, intitulado: “Cuidado: tarefa perigosa”. O subtítulo dizia: “Você está a procura de estabilidade financeira pelo resto da vida? Não aplique em afazeres domésticos”.4). Meu objetivo, nesse contexto, não é apenas enfocar a questão da mulher em relação à carreira profissional, mas também indicar até que ponto a identidade e o valor da mulher estão equiparados ao seu papel na comunidade ou no mercado de trabalho. É dessa forma que seu “valor” é definido, medido e conhecido na prática. Em contrapartida, atribui-se relativamente pouco valor ou prioridade ao papel da mulher no lar. Ao ler comentários como esse publicado pela revista Time, sinto profunda tristeza em relação ao que se perdeu em meio a essa revolução — a beleza, a maravilha e a preciosidade da constituição física e moral, vocação e missão que distinguem a mulher. Não deveria causar surpresa o fato de o mundo secular estar equivocado e confuso quanto à identidade e a vocação da mulher. Entretanto, o que me angustia é a que ponto chegou a revolução acima descrita dentro da realidade evangélica. Vemos o fruto dessa revolução quando cristãos proeminentes, como conferencistas, autores e líderes, promovem, sigilosa ou publicamente, um programa que incentiva as mulheres a definir e descobrir seu valor no mercado de trabalho, na sociedade ou na igreja enquanto depreciam (ou até sacrificam) seu papel distinto no lar como filhas, irmãs, esposas e mães — como geradoras e cultivadoras de vida, como doadoras de atenção e cuidado, que têm o privilégio e a responsabilidade de moldar o coração e o caráter da geração seguinte. A revolução feminista tinha a intenção de levar as mulheres a uma condição de maior realização e liberdade. Pretendia fazer com que nos sentíssemos melhor a nosso respeito. Afinal: “Você 17


foi longe, garota!”. Contudo, vemos o fruto venenoso da revolução nos olhos e no apelo lastimável de mulheres que estão afundando no pântano de divórcios em série, sucessivos casamentos e filhos desobedientes e obstinados; mulheres que estão completamente exaustas em conseqüência das exigências da dupla jornada de trabalho, do papel de mães solteiras e de membros ativos da igreja; mulheres que estão desorientadas e confusas, que perderam o senso de missão, visão e propósito da existência e que vivem, perpétua e tristemente, envoltas em feridas e amarguras, incertezas, ressentimento e culpa. Sim, a revolução chegou à igreja. E quando se faz o balanço de todos os ganhos e perdas, não tenho a menor dúvida de que as mulheres são as grandes perdedoras, assim como maridos, filhos e netos, a igreja e, também, nossa cultura descrente e perdida. Há alguns anos, um nítido senso de missão começou a agitar meu coração. Daquele momento em diante, o senso de pessimismo e desesperança, de ser engolida pela revolução feminista, deu lugar à preciosa esperança e ao entusiasmo. Uma análise do desenvolvimento do feminismo moderno (o feminismo, em si, remonta ao jardim do Éden) mostrou-me que essa poderosa revolução não começou como um grande movimento revolucionário. Ela teve início no coração de um grupo relativamente pequeno de mulheres que tinham uma agenda, mulheres determinadas, com objetivos definidos; teve início com alguns livros e palestras embrionários; espalhou-se pelas salas de estar (onde as mulheres se encontravam naquele tempo) dos Estados Unidos até tornar-se a onda gigantesca de um maremoto; disseminou-se ao pintar para as mulheres um quadro (ilusório como era) de sua situação e gerar uma visão de como as coisas poderiam ser diferentes; insuflou indignação, aspirações e esperança no coração das mulheres; acendeu a chama da recusa em contentar-se com o status quo. Ao refletir acerca dessas coisas, comecei a imaginar o que poderia acontecer em nossos dias se um pequeno número de mulheres 18


consagradas e resolutas começasse a orar e crer que Deus pode iniciar uma revolução diferente — uma contra-revolução — no mundo evangélico. O que aconteceria se um “remanescente” de mulheres estivesse disposto a se arrepender, submeter-se novamente à autoridade da Palavra de Deus, adotar as prioridades e os propósitos de Deus para sua vida e lar e viver a beleza e a maravilha de ser mulher de acordo com o plano de Deus? Naturalmente, entendo que tais mulheres serão sempre minoria (tal como foram as primeiras feministas). Contudo, à medida que essa compulsão cresceu em meu coração, tomei coragem, motivada pela promessa de que “ ‘Um só de vocês faz fugir mil, pois o SENHOR, o seu Deus, luta por vocês...’ ” (Js 23.10). Passei a crer que a medida do sucesso não é se “vencermos” a guerra (pois bem sabemos que essa batalha já está vencida), mas sim se estamos dispostas a “travar” uma nova batalha. Eu gostaria que entendessem que não sou combatente por natureza. À medida que envelheço, mais almejo um estilo de vida simples, descomplicado e discreto. Havia em mim uma relutância natural para tomar a iniciativa de ingressar naquilo que sabia ser uma vida inteira remando contra a maré (até mesmo dentro da igreja); eu não gostava da idéia de ser politicamente incorreta o tempo todo. Contudo, maior do que meus temores e reservas é a paixão pela glória de Deus. E Deus é glorificado na vida de mulheres gratas, confiantes, obedientes, compassivas, prontas a servir, virtuosas, alegres e femininas, que refletem para o mundo o coração e o caráter do Senhor Jesus. Quando estamos cheias do seu Espírito, irradiamos a beleza de Cristo e cooperamos para que o evangelho seja aceito. Essa contra-revolução, ao contrário da maioria das revoluções, não exige que marchemos pelas ruas, enviemos cartas aos parlamentares, nem que nos associemos a outras organizações ativistas. Não exige que abandonemos nossos lares; na realidade, para muitas mulheres, essa contra-revolução as convoca para voltar ao lar. 19


Ela exige apenas que nos humilhemos, que aprendamos, confirmemos e vivamos pelo padrão bíblico de feminilidade, e que ensinemos os caminhos de Deus à próxima geração. É uma revolução que terá início sobre nossos joelhos dobrados. Quando aceitei o chamado de Deus para fazer parte dessa contra-revolução, descobri que não estava sozinha. Em todos os lugares onde compartilhei essa visão, constatei que o chamado para retornar à feminilidade bíblica ressoa no íntimo das mulheres cristãs que provaram o fruto amargo da revolução feminista e, em seu coração, sabem muito bem que os caminhos de Deus são retos. Além disso, conheci muitas mulheres que estudam com seriedade as Escrituras e são extraordinariamente talentosas na comunicação do plano de Deus para a vida da mulher. Que alegria foi compartilhar idéias com algumas dessas mulheres na conferência Building Strong Families in Your Church, coordenada em março de 2000 pela FamilyLife e pelo Council on Biblical Manhood and Womanhood. Nosso coração bate em consonância para que a glória de Deus seja vista em nossos lares e igrejas, à medida que as mulheres assumem a vocação que lhes foi dada por Deus. As mulheres que dirigiram as oficinas ou workshops nessa conferência, e cujas mensagens são apresentadas neste livro, representam uma variedade de contextos e experiências de vida. Elas abordam o tema da feminilidade bíblica no lar por diferentes ângulos e estilos de ensino. No entanto, os diferentes ângulos e estilos estão ligados pelo fio condutor da alegria com a magnificência da ordem criada por Deus e com o papel que nós, mulheres, desempenhamos no seu plano de redenção. Essas mulheres unem-se a mim para convidá-la a fazer parte dessa contra-revolução, não travada com as armas da ira, do descontentamento, da rebelião e do rancor, mas com as armas da humildade, obediência, amor e oração — crendo que, no tempo de Deus, as transformações resultantes serão, de fato, mais profundas e de categoria mais elevada do que qualquer transformação 20


sociopolítica de monta que o mundo experimentou nesta geração. Ainda que não tenha sido escrita no contexto do tema em questão, esta oração de John Greenleaf Whittier capta um pouco da essência deste livro e do movimento que, acreditamos, Deus vai reacender em nossos dias: Amado Senhor e Pai da humanidade, Perdoa a insensatez de nossos caminhos! Reveste-nos com mente mais justa Para que te sirvamos com vida mais pura, E te louvemos com mais profunda reverência. Em singela confiança como a daqueles que, Às margens do mar da Síria, Ouviram o chamado gracioso do Senhor, Que nós, à semelhança deles, sem uma palavra sequer, Levantemos e sigamos a ti. Goteja teu sereno orvalho de quietude Até cessar todo esforço nosso. Tira a tensão e a fadiga de nossa alma, E que, em perfeita ordem, nossa vida confesse A beleza da tua paz.

Notas 1

Revista Time, “Women: The Road Ahead”, outubro de 1990. Idem, p. 4. 3 Idem, p. 76. 4 Idem, p. 79. 2

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I A GLÓRIA DE SER MULHER SEGUNDO O PADRÃO CRIADO POR DEUS


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1 Feminilidade: revelando a perspectiva bíblica CAROLYN MAHANEY

Quando Nicole, minha filha mais velha, casou-se, escolheu um tema incomum para o casamento: sua peça favorita de Shakespeare, Muito barulho por nada. Além da decoração alusiva à renascença italiana, caracterizada pelo mastro enfeitado com flores e fitas, grinaldas de flores naturais suspensas e arredondadas sob as quais as pessoas se beijavam, o tema foi mantido durante a recepção, quando os convidados foram entretidos com quatro cenas da peça, encenadas pelo grupo teatral da igreja. Embora escrita no final do século 16, a espirituosa disputa entre a mordaz e auto-suficiente Beatriz, e seu relutante pretendente, Benedito, é tão atemporal quanto qualquer comédia romântica moderna: BEATRIZ — Admira-me que ainda insistais em dizer alguma coisa, senhor Benedito; ninguém vos dá atenção. BENEDITO — Oh, prezada Senhorita Desdém! Ainda estais viva? BEATRIZ — Como poderia morrer o desdém, se ainda encontra matéria da espécie do senhor Benedito para alimentar-se? Onde

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quer que apareçais, a própria cortesia se transforma em desdém.1

Ainda que a linguagem seja arcaica, a observação aguçada de Shakespeare acerca da guerra dos sexos é tão atual em nossos dias como à época em que foi escrita a peça. A mordaz Beatriz, ou “Senhorita Desdém”, como Benedito apropriadamente a chama, ainda é exaltada com louvores em nossa cultura. Trata-se de uma mulher que, ao longo da vida, disputa com os homens e mostra seu desrespeito com palavras e ações. Lamentavelmente, esse é o modelo que muitas jovens imitam, à medida que vão amadurecendo. Embora me alegre o fato de Nicole gostar dessa peça clássica de Shakespeare, agrada-me muito mais que ela tenha uma perspectiva bíblica da mulher. Sem a Palavra de Deus como âncora, as mulheres modernas são arrastadas para os extremos — seja pela adoção de versões caricatas da feminilidade, seja rejeitando-a totalmente. Susan Brownmiller, feminista secular, sintetiza essa confusão em seu livro Femininity [Feminilidade]: “Todas as mulheres, até certo ponto, são atrizes que personificam alguém”.2 A definição de feminilidade oferecida por Susan Brownmiller também é alarmante: “A feminilidade, em essência, é um sentimento romântico, uma tradição nostálgica de restrições impostas”,3 escreve ela. A Bíblia concede às mulheres honra, esperança e liberdade muito maiores do que essa definição de feminilidade. Não somos obrigadas a fingir que somos uma outra pessoa, muito menos a sofrer restrições impostas. Os textos das Escrituras que fazem menção às mulheres e à feminilidade piedosa estão impregnados de dignidade e propósito. O Deus que criou a feminilidade tem um plano e um propósito maravilhoso para as mulheres.

FEMININA DESDE A CRIAÇÃO Consideremos juntas o início da feminilidade no alvorecer da Criação. A linguagem de Gênesis possui uma elegância simples: 26


Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou [...]. Então o SENHOR Deus fez o homem cair em profundo sono e, enquanto este dormia, tirou-lhe uma das costelas, fechando o lugar com carne. Com a costela que havia tirado do homem, o SENHOR Deus fez uma mulher e a levou até ele (Gn 1.27; 2.21,22).

Essa passagem mostra que a mulher foi um belo trabalho das mãos de Deus, nosso Criador. A mulher foi idéia de Deus, criação dele. Na verdade, quando lemos o relato completo da brilhante criação de Deus, descobrimos que a mulher foi o projeto conclusivo de tudo o que Ele criou. Ela foi o último ato. Será que nos atreveríamos a dizer que Deus deixou o melhor para o final (Não creio que possamos nos orgulhar muito desse fato quando nos lembramos de quem foi a primeira pessoa a comer do fruto proibido!)? A questão importante aqui é que Deus nos criou, e ser uma criação de Deus determina tudo o que devemos ser como mulheres. Não precisamos olhar para a nossa cultura a fim de encontrar nossa identidade feminina; não precisamos consultar os sentimentos para descobrir o propósito da nossa condição de mulher. Tudo o que somos e tudo o que fazemos deve estar arraigado em Deus. Não é por mero acaso que somos mulheres — nosso gênero não é acidental. Fomos criadas intencional e propositalmente como mulheres. Somos o resultado de uma determinação planejada e preordenada de um Deus onisciente, Todo-poderoso e plenamente amoroso. Isso significa que, no momento em que Deus criou a primeira mulher, ele fez uma criatura integralmente feminina. Você e eu não nos tornamos femininas só porque um dia alguém nos deu uma boneca ou nos vestiu com um vestido — nascemos femininas porque fomos criadas femininas. A doutrina feminista de nossos dias advoga o conceito de que feminilidade é uma questão de condicionamento cultural. Muitas 27


feministas argumentam que a única diferença entre homens e mulheres encontra-se na anatomia, mas o livro de Gênesis ensina o contrário. Como Deus criou homem e mulher, nós, mulheres, somos femininas por natureza. Admito que uma mulher possa acentuar ou desvalorizar sua feminilidade, contudo não pode alterá-la — nossos cromossomos sexuais estão presentes em cada célula do nosso corpo. Nossa feminilidade é um presente da graça de um Deus amoroso.

O CHAMADO PARA SER AUXILIADORA No jardim do Éden, Deus tornou o homem e a mulher mordomos, em parceria, da criação, embora com diferentes papéis. “Então o Senhor declarou: ‘Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda’ ” (Gn 2.18). Foi para isso que Deus criou Eva de Adão. Ela foi criada para ser uma auxiliadora que fosse adequada a ele, para complementá-lo, nutri-lo e auxiliá-lo na tarefa que Deus lhe confiara. Paulo resume o plano da Criação ao declarar: “Pois o homem não se originou da mulher, mas a mulher do homem; além disso, o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem” (1Co 11.8,9). Esse propósito feminino singular é muito bem definido por John Piper: “No âmago da feminilidade amadurecida reside uma disposição voluntária de afirmar, receber e cultivar poder e liderança de homens respeitáveis, de modo apropriado aos distintos relacionamentos na vida de uma mulher”.4 Observe a expressão “distintos relacionamentos”. Não é apenas no contexto do casamento que podemos expressar nossa feminilidade. Fomos criadas femininas, e essa não é uma condição conferida após o casamento. Não precisamos esperar até chegar diante do altar para expressar plenamente nossa feminilidade. Embora não haja notável diferença entre a vida de casada e a vida de solteira, a verdade é que todas as mulheres são chamadas a exibir sua feminilidade numa variedade de relacionamentos. 28


Por favor, não me entenda mal. Isso não significa permitir que homens nos induzam a pecar ou a nos desviar das prioridades de Deus para a nossa vida, mas, sim, que estamos dispostas a reconhecer a liderança e a iniciativa dos homens que estão ao nosso redor. Mulheres solteiras, deleitem-se (apropriadamente) com o papel de auxiliadora nos diferentes relacionamentos com os homens e, quanto ao futuro, confiem em Deus. Incentivo-as a viver em paz nessa fase da vida. Se o Senhor projetou o casamento para você, não se aflija, porque ele também é perfeito para providenciar o par perfeito. Deus disse que não era bom o homem ficar só. Não temos nenhum registro na Bíblia de que Adão tenha se queixado de alguma carência. Ao contrário, foi Deus que afirmou que a solidão não faz bem ao homem. Foi Deus que tornou o homem consciente da necessidade de uma mulher. Embora você tenha contato com homens solteiros que, aparentemente, não reconhecem a necessidade uma esposa, lembre-se de que Deus sabe disso. Assim como fez com Adão, Deus pode intervir na vida desse homem solteiro e levá-lo a perceber que deseja uma companheira. Ao descansar nessa verdade, você se libertará da tentação de manipular, reclamar ou ficar amargurada — três características que ofuscam tremendamente o brilho da feminilidade. Deveríamos, em todos os relacionamentos, dar espaço para que homens comprometidos com Deus exerçam a liderança como servos. Eu gostaria de incentivar, principalmente, as mulheres solteiras a pedir ao Senhor que lhes conceda meios criativos de estimular os homens a liderar. Concordo que nem sempre é fácil, e não prometo que todos os homens passarão, automaticamente, a liderar. O importante é que você cultive o hábito de dar oportunidade à liderança masculina em sua vida. Em sua vida de solteira, Deus colocou homens ao seu redor — pais, chefes, amigos — e você precisa demonstrar que “tem boa disposição” em relação a eles, em vez de exibir a resistência de um coração obstinado. Você incentiva a liderança espiritual deles quando 29


busca o conselho desses homens antes de tomar suas próprias decisões. Você os respeita quando evita reclamar — e pecar — das ações ou decisões deles em relação a outras pessoas e resiste à idéia de questionar publicamente suas ações. No momento apropriado, devemos fazer perguntas, discordar respeitosamente e oferecer o conselho. Precisamos, porém, vigiar o coração para não permitir que a atitude feminina de desrespeito, promovida pela cultura, por tudo o que os homens fazem, permeie nossa perspectiva sobre a liderança masculina. Se você não sabe se está procedendo corretamente nessa área, pergunte a opinião dos homens com os quais convive.

SERÁ QUE ISSO AUXILIA MEU MARIDO? Se você é uma mulher casada, o Senhor a chama para expressar sua feminilidade, de forma mais específica, no contexto do casamento. Em certos aspectos, trata-se do mesmo chamado dirigido às mulheres solteiras, porém com especificações definidas e direcionadas para o marido. Você exibe sua feminilidade ao apoiar seu marido e auxiliá-lo na tarefa que Deus designou para ele. O escritor Douglas Wilson apresenta o maravilhoso quadro de um casamento consagrado a Deus em que ambos se completam: O homem tem necessidade de auxílio. A mulher tem necessidade de auxiliar. O casamento foi criado por Deus para proporcionar companheirismo na dura tarefa de dominar. A ordem cultural, expressa na exigência de encher a Terra e de sujeitá-la, ainda está em vigor, e o marido não pode cumprir essa parte da tarefa isoladamente. Ele precisa de uma companheira que lhe seja adequada na obra para a qual Deus o chamou. Ele é chamado ao trabalho e deve receber a ajuda dela. Ela é chamada ao trabalho por meio do auxilio que lhe presta. Ele é orientado para a tarefa, e ela é orientada para ele.5

Esposas, todas nós temos a mesma tarefa: somos auxiliadoras dos nossos maridos. Se você quer saber se deve ou não dedicar-se a 30


um determinado objetivo, faça a si mesma esta importante pergunta: Será que isso auxilia meu marido? Em geral, essa simples pergunta vai-lhe trazer a decisão correta. Meu problema é que esqueço, com muita freqüência, de fazer a mim mesma a pergunta. A bem da verdade, sou obrigada a confessar que, muitas vezes, minha tendência realmente é a de me favorecer em vez de favorecer meu marido. Em várias ocasiões, fiz escolhas ou busquei oportunidades que serviam a mim, não a ele. Essa tendência é, muitas vezes, ilustrada em atividades cotidianas. Há pouco tempo, eu estava limpando e arrumando alguns armários da cozinha. Enquanto trabalhava, lembrei-me do armário do banheiro, que necessitava de uma faxina com urgência. Por diversas vezes, meu marido havia indagado, com cortesia, enquanto tentava encontrar alguma coisa naquele armário desarrumado, quando eu pretendia dar uma ordem naquela confusão. Em geral eu respondia que no momento estava muito ocupada, mas que o faria assim que pudesse. Entretanto, naquele dia, enquanto limpava os armários da cozinha, percebi que o verdadeiro problema não era a falta de tempo para limpar o armário do banheiro; a verdade é que eu realmente não estava nem um pouco preocupada com aquele armário. Eu queria que os armários da cozinha estivessem limpos porque eles serviam aos meus propósitos. Minha atitude não estava direcionada a meu marido e suas preferências — estava direcionada a mim. Minha propensão egoísta evidenciou-se não apenas naquele dia em que cuidei da casa, mas se revelou também em outras áreas. Certa vez, Deus a exibiu quando me ofereci para fazer o jantar para uma amiga que passava por um momento de dificuldade. É claro que isso soa como um nobre esforço, porém eu me dispus a ajudá-la sem perguntar ao meu marido e sem considerar se essa ação seria do agrado dele ou não. Eu simplesmente dei andamento ao meu plano porque me parecia bom. Quando meu marido soube que eu me oferecera para preparar o jantar àquela amiga, ele carinhosamente 31


chamou-me a atenção para o fato de que aquele não era o momento apropriado para servir daquela forma. Era uma época em que tínhamos muitos compromissos com viagens e conferências já agendadas. Eu não estaria servindo ao meu marido e à minha família se acrescentasse mais uma tarefa à vida tumultuada que enfrentávamos naquele momento. Enquanto refletia sobre a situação, percebi que concordara em fazer aquele jantar porque queria parecer bondosa aos olhos de minha amiga; queria que ela soubesse que eu era uma amiga tão prestativa quanto as demais mulheres que diariamente levavam refeições à casa dela. Se minha amiga soubesse como estávamos sobrecarregados com tantos compromissos e responsabilidades, tenho certeza de que ela mesma me desaconselharia a assumir tal tarefa. Contudo, não levei nada disso em conta, pois minha intenção era impressioná-la. Após confessar a Deus e ao meu marido que fora induzida a me destacar por vaidade, optei por encomendar a refeição para minha amiga num restaurante. Entretanto, tudo isso poderia ter sido evitado se eu tivesse perguntado: Será que isso auxilia meu marido? Eu teria chegado rapidamente à conclusão que preparar uma refeição para minha amiga naquela semana não era a coisa mais sábia a fazer. Esposas, à luz da instrução do Senhor, há algumas perguntas difíceis que precisamos responder com certa regularidade: cuido da minha casa de uma forma que auxilia meu marido ou que serve aos meus propósitos? Administro meu tempo de modo a dar assistência ao meu marido ou a atender meus compromissos? A maneira pela qual sirvo às outras pessoas apóia meu marido ou me promove? Pergunto a opinião do meu marido antes de me comprometer com alguma atividade? Direciono a minha vida para ajudar meu marido e a obra para a qual Deus o chamou? Honramos ao Senhor quando servimos aos nossos maridos de formas que acentuam os papéis de companheiras e auxiliadoras que nos foram concedidos por Deus. 32


CRIADA PARA EDUCAR FILHOS Lembro-me de uma viagem de avião em que me sentei ao lado de uma senhora que endereçava envelopes. Começamos a conversar, e ela me disse que estava enviando convites de casamento de uma das filhas e convites de formatura de outra. Eu estava prestes a cumprimentá-la quando ela confessou: — É muito bom me ver livre das duas ao mesmo tempo. Encolhi-me ao ouvir isso. Agradeci a Deus por suas filhas não estarem ali para ouvir as palavras dela. Embora essa atitude seja comum entre muitas mulheres em nossa sociedade, essa maneira de agir não nos caracteriza como cristãs. O plano de Deus é que apreciemos a experiência da maternidade e tenhamos grande prazer em nossos filhos. Como mulheres, fomos criadas para ser portadoras da vida. Nosso corpo foi projetado com a capacidade de ser mãe — receber, carregar e dar à luz uma criança. De fato, nosso corpo se prepara periodicamente para conceber e dar à luz uma criança. Expressamos nossa feminilidade ao aceitar com gratidão todas as fases da gravidez, recebendo e cuidando de cada filho como um gracioso presente de Deus. Isso não exclui, de forma alguma, as mulheres solteiras. Como Elisabeth Elliot nos lembra, uma mulher solteira pode desempenhar o papel de mãe para muitos filhos: “Ela pode ter filhos! Talvez ela seja mãe espiritual, como Amy Carmichael, que, ao dedicar sua vida de solteira ao Senhor, transformou e encaminhou mais filhos para o bem do que uma mãe natural poderia gerar. Tudo é recebido e santificado por aquele a quem é ofertado”.6 Tanto as mulheres solteiras como as casadas sem filhos podem expressar sua feminilidade ao cuidar dos filhos de outras pessoas. Quando você cuida de uma criança na ausência dos pais está expressando sua feminilidade. Quando você cativa e acaricia ou pega no colo os filhos de outra pessoa, está exibindo a feminilidade que 33


Deus lhe deu. Quando você ensina ou se dispõe a ser mantenedora de uma criança carente de outro país, trabalha como voluntária num centro de auxílio a mães solteiras ou a mães cuja gravidez é indesejada, ou, ainda, desenvolve um bom relacionamento com sobrinhas e sobrinhos, você está produzindo fruto nessa área. Sou muito grata a Deus pelas mulheres solteiras que ele colocou em minha vida e pelas inúmeras vezes que elas cuidaram dos meus filhos, amando-os como se fossem seus filhos. Nós, mães, queremos agradecer por sua disposição em ajudar e por nos abençoar dessa maneira. O que fizeram significa muito para nós, e somos gratas a elas. Contudo, essas mulheres, ao cuidar de nossos filhos, fazem muito mais do que nos abençoar, pois, na verdade, estão honrando a Deus por investir, com abnegação, nos pequeninos que estão ao seu redor.

LÁGRIMAS DA MATERNIDADE Se temos filhos e nos alegramos em nossa missão de mãe, trazemos regozijo ao coração de Deus. E quando chegam aqueles momentos em que achamos que a tarefa de ser mãe é um fardo pesado demais? O que dizer daquelas horas em que nos falta a alegria ou nos sentimos oprimidas pelas exigências infindáveis do papel de mãe? A maternidade é uma tremenda responsabilidade, uma tarefa colossal. Na realidade, talvez não haja profissão que exija maior sacrifício e espírito de serviço. Ser uma boa mãe não é nada fácil. Como certa mulher afirmou: “Pode ser desgastante, dilacerante e gerar ansiedade — e isso tudo numa única manhã!”. É fácil sentir-se cansada e desviar o foco para todos os sacrifícios que estão sendo feitos, em vez de focalizar as alegrias que a maternidade pode trazer. Lembro-me claramente de um determinado fim de semana em que cheguei ao ponto de fusão da maternidade. Minhas duas filhas mais velhas estavam com 4 e 5 anos de idade, a mais nova ainda era bebê, e meu marido, C. J., estava ausente em virtude 34


de uma viagem ministerial. As duas mais velhas caíram doentes devido a uma grave virose estomacal e passei literalmente 24 horas atrás delas limpando vômitos. É claro que elas não conseguiam usar o balde na maioria das crises de vômito. Tudo acontecia ao mesmo tempo: limpeza de vômito, troca de fraldas sujas e montes de roupa suja para lavar. Não havia descanso, e eu fiquei completamente exausta. Lembro-me dos pensamentos que passavam pela minha mente: Será que isso tudo que estou fazendo é tão importante? Há mulheres lá fora trabalhando das 9 às 5 da tarde e fazendo algo muito mais importante que isso! Foi um período desanimador e emocionalmente desgastante. Quando C. J. voltou da viagem, praticamente me expulsou de casa para que eu tirasse minha manhã de folga, um hábito que mantemos semanalmente. Peguei a Bíblia e me isolei no canto mais escondido de uma lanchonete, buscando a Deus a fim de obter uma nova perspectiva de minha missão de mãe. Enquanto orava e estudava a Palavra de Deus, o Senhor me revelou que eu não tinha de ser “apenas” a mamãe; pelo contrário, Deus me chamara para ser mãe no pleno sentido da palavra. A percepção de ter um chamado de Deus trouxe um significado totalmente novo à maternidade e me arrependi por haver murmurado e reclamado. É normal que mães exaustas percam de vista a perspectiva bíblica e tenham necessidade de uma visão renovada do significado do nosso chamado. Nesses momentos, não há nenhuma outra fonte de restauração a não ser Deus. Eu gostaria de incentivá-la a orar entregando seu cansaço e desânimo a Jesus, confiando que ele intercede por você. Somente o seu Criador pode supri-la com a perspectiva eterna de que você precisa para entender a importância vital desses anos transitórios na vida de seus filhos. Deus quer renovar suas forças e sua alegria para a missão, e ele é plenamente capaz de provê-las com as riquezas de sua graça, que “ele derramou sobre nós com toda a sabedoria e entendimento” (Ef 1.7,8). 35


AMOR PELO LAR A mulher virtuosa, retratada em Provérbios 31, é elogiada por zelar pelos afazeres de sua casa. Em Tito 2.3-5, Paulo instrui as mulheres mais velhas a ensinar às mais novas como devem cuidar da casa. Esses e outros textos das Escrituras deixam claro que, enquanto a responsabilidade do homem é ser provedor do lar, a responsabilidade da mulher é cuidar e zelar pelo lar. Devoção à qualidade da vida familiar é uma faceta essencial da feminilidade. Mulheres solteiras (principalmente as mais jovens), permitam que lhes ofereça um conselho. Não esperem até o casamento para cultivar essa qualidade. Você, casada ou não, pode expressar sua feminilidade desenvolvendo amor e dedicação ao lar. Na verdade, não presuma que, ao ignorar o cultivo do amor pelo lar enquanto for solteira, ele se desenvolverá automaticamente assim que você se casar. Você pode ser pega de surpresa! Tenho conversado com muitas mulheres casadas que admitem que, ao se casar, não valorizavam a vida familiar. Elas não gostavam de ficar em casa; não gostavam de cuidar da casa. Não valorizavam a administração do lar como uma profissão digna. Por quê? Porque não desenvolveram a perspectiva da importância da vida familiar enquanto solteiras. Elas preencheram os anos de solteira buscando todas as opções possíveis, exceto a dedicação ao lar. Não estou afirmando que outras atividades são erradas: a época de solteira oferece oportunidades para muitas outras atividades que honram a Deus, mas elas deveriam ser equilibradas com o cultivo do amor pelo lar. Quer você more com seus pais, quer tenha a própria casa, há algumas medidas práticas que você pode tomar para aprender a cuidar do lar. Aprenda a administrar a ordem e a limpeza de uma casa, a cozinhar, a cuidar das roupas e a embelezar a casa. Até mesmo para as solteiras mais velhas há um chamado de Deus para que sejam mulheres que mantenham o equilíbrio entre a vida profissional e os cuidados com o lar (Tt 2.5). Conheço muitas 36


mulheres solteiras que têm lares bonitos e aconchegantes — independentemente da profissão escolhida — e que, constantemente, praticam a hospitalidade. Algumas guardam livros de convidados ou álbuns de fotos das pessoas que compartilharam uma refeição ou passaram uma noite em sua casa; outras fazem trabalhos manuais e decoram os ambientes com belas peças artesanais. O estado civil não está vinculado ao desejo feminino de criar um lar aconchegante e acolhedor. Existem muitos aspectos práticos em relação aos cuidados com o lar que devem ser considerados. Em 1Timóteo 5.14, Paulo ordena que as viúvas jovens “administrem”, ou superintendam, suas casas. Devemos administrar a ordem ou o planejamento da casa, da limpeza e da ambientação, bem como nos incumbir de outras atividades práticas de serviço, como preparar refeições e cuidar da roupa da família. O texto de Provérbios 14.1 declara: “A mulher sábia edifica a sua casa, mas com as próprias mãos a insensata derruba a sua”. Em outras palavras, o lar é um local para edificação. A sociedade afirma que o lar não é um lugar digno de nossos melhores esforços, porém devemos ser cautelosas e não permitir que o mundo influencie nosso modo de pensar. O lar é o local mais importante para exercer o ministério. Certa vez, alguém fez o seguinte comentário sobre Edith Schaeffer: “Assim como muitas pessoas conheceram o Senhor por meio dos sermões do dr. Schaeffer, outras tantas o conheceram por meio dos pãezinhos doces de canela da senhora Schaeffer”.7 Nosso escopo de ministério é diferente do designado para os homens, mas não é menos importante que o deles. Essa é a atribuição que Deus nos deu.

O TESTEMUNHO DA FEMINILIDADE Fomos criadas por Deus para, conforme seu plano, viver de acordo com sua Palavra. Embora o mundo, e até mesmo a literatura 37


clássica, erijam um memorial à língua e à atitude da “Senhorita Desdém”, as mulheres cristãs podem ser diferentes pelo poder do Espírito Santo. Não precisamos ser “atrizes que personificam alguém”, que enxergam a feminilidade como uma “tradição nostálgica de restrições impostas”. A feminilidade, ao contrário da opinião popular, não é “muito barulho por nada!”. Na generosidade do Senhor, que inspira admiração e temor, fomos criadas com uma tarefa singular a ser cumprida, a fim de que ele seja glorificado. Se cultivarmos e expressarmos nossa feminilidade com essa perspectiva em mente, seremos elogiadas por termos administrado com sabedoria o precioso dom que recebemos do nosso Criador.

Notas 1

Versão publicada no site www.mundocultural.com.br/biblioteca/shakespeare/ shake_barulho.PDF; Shakespeare, atualmente em domínio público. Acesso em 3/7/2005. 2 Sumário de Susan Brownmiller, conforme publicado em SusanBrownmiller.com, um site criado pela autora. 3 BROWNMILLER, Susan. Femininity. Originalmente publicado por Linden Books, uma divisão de Simon & Shuster, 1984. Edição atual: Nova York: Fawcett Columbine, 1985. 4 PIPER, John & GRUDEM, Wayne, orgs., Recovering Biblical Manhood & Womanhood: A Response to Evangelical Feminism. Wheaton, IL: Crossway Books, 1991, p. 36. 5 WILSON, Douglas. Reforming Marriage. Moscow, ID: Canon Press, 1995, p. 19. 6 ELLIOT, Elisabeth. “Virginity”, Elisabeth Elliot Newsletter mar./abr. 1990 (Ann Arbor: Servant Publications), p. 1. Citado novamente por John Piper no prefácio do livro Recovering Biblical Manhood and Womanhood, p. xxv. 7 PRIDE, Mary. The Way Home: Beyond Feminism, Back to Reality. Wheaton, IL: Crossway Books, 1985, p. 202.

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