Oração: o exercício contínuo da fé_primeiro capítulo

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©2016, João Calvino Originalmente publicado em inglês com o título Of Prayer: A Perpectual Exercise of Faith. The Daily Benefits Derived From It.

Editora Vida

Rua Conde de Sarzedas, 246 – Liberdade CEP 01512­‑070 – São Paulo, SP Tel.: 0 xx 11 2618 7000 Fax: 0 xx 11 2618 7030 www.editoravida.com.br

Editor responsável: Gisele Romão da Cruz Santiago Tradução: Carlos Caldas Revisão de tradução: Rogério Portella Revisão de provas: Josemar de Souza Pinto Projeto gráfico e diagramação: Claudia Fatel Lino Capa: Arte Peniel

Todos os direitos desta tradução em língua portuguesa reservados por Editora Vida. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com indicação da fonte.

Scripture quotations taken from Bíblia Sagrada, Nova Versão Internacional, NVI ®. Copyright © 1993, 2000, 2011 Biblica Inc. Used by permission. All rights reserved worldwide. Edição publicada por Editora Vida, salvo indicação em contrário. Todas as citações bíblicas e de terceiros foram adaptadas segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em 1990, em vigor desde janeiro de 2009.

1. edição: set. 2016

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Calvino, João, 1509-1564. Oração : o exercício contínuo da fé / João Calvino ; [tradução Carlos Caldas]. -- São Paulo : Editora Vida, 2016. Título original: Of Prayer : A Perpetual Exercise of Faith. The Daily Benefits Derived From It. 1. Igreja Reformada - Doutrinas 2. Igreja Reformada - Doutrinas - Obras anteriores a 1800 3. Teologia doutrinária - Obras anteriores a 1800 I. Título. 16-04391

CDD-230.42 Índices para catálogo sistemático:

1. Igreja Reformada : Doutrinas : Cristianismo   230.42


Oração: o exercício contínuo da fé João Calvino

Da oração — o exercício perpétuo da fé e os benefícios diários derivados dele. As principais divisões do presente texto:

I. Conexão do tema da oração com os textos anteriores. A natureza da oração e sua necessidade como exercício cristão (1, 2). II. A quem a oração deve ser oferecida. Refutação da objeção apta demais para se apresentar à mente (3). III. Regras a serem observadas na oração (4-16). IV. Por meio de quem a oração deve ser feita (17-19). V. Refutação de um erro a respeito da doutrina de nosso Mediador e Intercessor, com respostas aos principais argumentos formulados a favor da intercessão dos santos (20-27). VI. A natureza da oração, e algumas de suas ocorrências (28-33). VII. A forma perfeita da invocação, ou uma exposição da Oração do Senhor (34-50). VIII. Algumas regras a serem observadas a respeito da oração, como o tempo, a perseverança, a sensação da mente e a certeza da fé (50-52). —5—



1 Resumo do conteúdo da parte anterior deste livro. A transição para a doutrina da oração e sua conexão com o tema da fé.

D

a parte anterior deste trabalho, vimos com clareza quão completamente destituído o homem é de todo o bem, quão desprovido, em todos os sentidos, de buscar a própria salvação. Por conseguinte, se deseja encontrar auxílio em sua necessidade, ele precisa ir além de si mesmo e procurar socorro em outro lugar. Já se demonstrou que o Senhor se manifesta de forma bondosa e espontânea em Cristo, em quem ele oferece toda a felicidade para nossa miséria, toda a abundância para nossa necessidade, abrindo os tesouros do céu para nós, para que possamos nos voltar com toda a fé para seu Filho amado, depender dele em plena expectativa, descansar nele e nos apegarmos a ele em plena esperança. Esta, de fato, é a filosofia secreta e oculta que não pode ser aprendida por silogismos: a filosofia entendida de modo completo pelas pessoas cujos olhos Deus abriu para contemplarem a luz em sua luz (Salmos 36.9). Mas, depois que aprendemos pela fé que todas as coisas que nos são necessárias ou defeituosas em nós são supridas em Deus e em nosso Senhor Jesus Cristo — em quem está o prazer do Pai e em quem toda a plenitude habita —, resta-nos —7—


Oração extrair dessa fonte inexaurível e, em oração, implorar dele o que aprendemos que nele se encontra. Saber que Deus é o fornecedor soberano de todo o bem, que nos convida a apresentar a ele nossos pedidos, e mesmo assim não nos aproximarmos dele nem lhe pedirmos nada — longe de ser algo útil para nós —, será como quem sabe de um tesouro, mas lhe permite permanecer enterrado. Por isso o apóstolo, a fim de demonstrar que a fé desacompanhada de oração a Deus não pode ser genuína, declara e afirma: a fé tem sua fonte no Evangelho; assim, pela fé em nosso coração somos capacitados a invocar o nome de Deus (Romanos 10.14). E é exatamente o que ele expressou pouco antes, ou seja: o Espírito de adoção, que sela o testemunho do Evangelho em nosso coração, nos dá coragem para que façamos nossos pedidos conhecidos diante de Deus, e se expressa com gemidos inexprimíveis, e nos capacita a clamar Aba, Pai (Romanos 8.26). Este último ponto, que tocamos apenas com brevidade, precisa agora ser considerado com mais detalhes.

—8—


2 Definição de oração. Sua necessidade e uso.

À

oração, então, somos devedores para descobrir as riquezas entesouradas para nós com nosso Pai celestial? Pois há um tipo de relacionamento entre Deus e os homens pelo qual, tendo entrado no santuário superior, eles se postam em sua presença e invocam suas promessas para que, quando a necessidade obriga, aprendam pela experiência que não era vão tudo que eles acreditavam apenas pela autoridade de sua palavra. Da mesma forma, vemos que nada é colocado diante de nós como objeto de expectativa da parte do Senhor que não sejamos ordenados a lhe pedir em oração, e isso é tão verdadeiro que a oração desenterra os tesouros que o Evangelho de nosso Senhor revela aos olhos da fé. Nenhuma palavra pode expressar com suficiência a necessidade e a utilidade do exercício da oração. Não é sem motivo que o Pai celestial declara que nossa única segurança reside em invocar seu nome, pois, ao assim fazer, pedimos a presença de sua providência para cuidar de nossos interesses, do seu poder para nos sustentar quando estamos fracos e quase desfalecendo, de sua bondade para nos receber com favor, ainda que estejamos miseravelmente carregados de pecado; em suma, invocá-lo para que se manifeste a nós em todas as suas perfeições. A partir daí, paz e tranquilidade admiráveis —9—


Oração são concedidas à nossa consciência; pois, lançando sobre o Senhor os apertos pelos quais somos pressionados, descansamos plenamente satisfeitos com a segurança de que nenhum dos nossos males lhe é desconhecido e de que ele é capaz de fazer o melhor para nós e está desejoso de fazê-lo.

— 10 —


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