A realidade da oração | Capítulo 1

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©2016, Edward M. Bounds Originalmente publicado em inglês com o título The Reality of Prayer. Editora Vida Rua Conde de Sarzedas, 246 – Liberdade CEP 01512­‑070 – São Paulo, SP Tel.: 0 xx 11 2618 7000 Fax: 0 xx 11 2618 7030 www.editoravida.com.br

Editor responsável: Marcelo Smargiasse Editor assistente: Gisele Romão da Cruz Santiago Tradução: Juliana Kummel de Oliveira Revisão de tradução: Sônia Freire Lula Almeida Revisão de provas: Josemar de Souza Pinto Projeto gráfico e diagramação: Claudia Fatel Lino Capa: Arte Peniel

Todos os direitos desta tradução em língua portuguesa reservados por Editora Vida. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com indicação da fonte.

Scripture quotations taken from Bíblia Sagrada, Nova Versão Internacional, NVI ®. Copyright © 1993, 2000, 2011 Biblica Inc. Used by permission. All rights reserved worldwide. Edição publicada por Editora Vida, salvo indicação em contrário. Todas as citações bíblicas e de terceiros foram adaptadas segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em 1990, em vigor desde janeiro de 2009.

1. edição: ago. 2016

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Bounds, Edward M., 1835-1913. A realidade da oração / Edward M. Bounds ; [tradução Juliana Kummel de Oliveira]. -- São Paulo : Editora Vida, 2016. -- (Série Vida de oração) Título original: The Reality of Prayer ISBN 978-85-383-0338-1

1. Oração – Cristianismo 2. Vida cristã – I. Título. II. Série.

16-03088

CDD-248.32 Índices para catálogo sistemático: 1. Oração : Prática religiosa : Cristianismo  248.32


SUMÁRIO Prefácio...................................................................................7 1. Oração — um privilégio, magnífica, sagrada..................9 2. Oração — Enche a pobreza do homem com a riqueza de Deus.........................................................................19 3. Oração — A essência da adoração terrena....................29 4. Deus tem tudo a ver com a oração................................36 5. Jesus Cristo, o Mestre divino da oração........................50 6. Jesus Cristo, o Mestre divino da oração (continuação).....61 7. Jesus Cristo, um exemplo de oração.............................75 8. Eventos de oração na vida do nosso Senhor.................87 9. Eventos de oração na vida do nosso Senhor (continuação).........................................................................95 10. O modelo de oração do nosso Senhor........................106 11. A oração sacerdotal do nosso Senhor..........................111 12. A oração do Getsêmani...............................................121 13. O Espírito Santo e a oração.........................................132 14. O Espírito Santo, nosso ajudador na oração...............144



PREFÁCIO Durante os últimos 25 anos do século XIX e alguns anos do século XX, viveram e morreram três grandes homens de Deus que conheci — homens que, sem dúvida, Deus contou entre os principais do exército celestial. O primeiro foi Edward McKendree Bounds, autor deste livro e de outros livros sobre a vida espiritual. O segundo foi Claud L. Chilton, ministro durante muitos anos da Igreja Episcopal Metodista do Sul e compositor de hinos religiosos de valor considerável. O terceiro, Clement C. Cary, pregador e editor, perdeu a vida em um acidente automobilístico em 1922. O quarto foi o doutor B. F. Haynes, ministro, editor e escritor que morreu em Nashville em 1923. O que o puritano e doutor Thomas Goodwin significou para Strong, Arrowsmith e Sparstow; o que John Wesley foi para Whitefield, Fletcher e Clark, Bounds foi para Chilton, Cary e Haynes. O que o diário de David Brainard fez por Cary, Martyn, McCheyne, os livros de Bounds podem fazer por milhares de filhos de Deus. Ele foi um homem que sempre viveu nas regiões da oração. Ele caminhou e conversou com o Senhor. A oração era a grande arma em seu arsenal, seu caminho para o


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trono da graça. Ninguém que tenha lido o que ele escreveu pode deixar de perceber que Edward McKendree Bounds conversava com Deus assim como um homem conversa com um amigo. Homer W. Hodge Flushing, N.Y.


1. ORAÇÃO — UM PRIVILÉGIO, MAGNÍFICA, SAGRADA Sou criatura de um dia, que passa pela vida como flecha que cruza o ar. Sou um espírito que vem de Deus e que retorna para ele; que simplesmente paira sobre o grande abismo; em poucos instantes não serei mais visto; desapareço em imutável eternidade! Quero saber uma coisa, o caminho para o céu; como atracar em segurança naquela margem alegre. O próprio Deus concordou em ensinar-me o caminho; para isso, ele veio do céu. Ele escreveu em um livro, dê-me este livro! A qualquer custo, dê-me o Livro de Deus! Senhor, não foste tu que disseste: “Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida” (Tiago 1.5)? Tu disseste que, se alguém estiver disposto a fazer tua vontade, ele saberá. Estou disposto a fazer; permite-me conhecer a tua vontade. — John Wesley

A palavra “oração” expressa a maior e mais ampla abordagem de Deus. Ela dá proeminência ao elemento da devoção. É comunhão e comunicação com Deus. É desfrutar de Deus. É acesso a Deus. “Súplica” é uma forma mais restrita e mais intensa de oração, acompanhada por um senso de necessidade


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pessoal, limitada à busca urgente de provisão para necessidades prementes. “Súplica” é a própria alma da oração na forma de rogo por alguma coisa, muito necessária, a necessidade intensamente sentida. “Intercessão” é um alargar da oração; é sair de si mesmo em largura e profundidade em favor de outros. Primeiramente, ela não se centra em orar pelos outros, mas refere-se à liberdade, ousadia e confiança infantil da oração. É a plenitude da influência confiante da alma ao se dirigir a Deus, ilimitada e sem hesitação em seu acesso e exigências. Essa influência e confiança são usadas em favor de outros. A oração sempre e em todo lugar é uma atitude imediata e confiante, e um pedido a Deus, o Pai. A oração universal e perfeita que é o modelo de toda oração é “Pai nosso, que estás nos céus!” (Mateus 6.9). No túmulo de Lázaro, Jesus levantou os olhos e disse: “Pai” (João 11.41). Na Oração Sacerdotal, Jesus ergueu os olhos ao céu e disse: “Pai” (João 17.1). Sua oração era pessoal, familiar e paternal. Forte, instrumental, tocante e com lágrimas. Leia as palavras de Paulo: “Durante os seus dias de vida na terra, Jesus ofereceu orações e súplicas, em alta voz e com lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, sendo ouvido por causa da sua reverente submissão” (Hebreus 5.7).


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Também em outro lugar “pedir” é apresentado como oração: “Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida” (Tiago 1.5). “Pedir a Deus” e “receber” do Senhor — pedido direto a Deus, conexão imediata com Deus — isso é oração. Em 1João 5.14,15, há a seguinte declaração sobre a oração: Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus: se pedirmos alguma coisa de acordo com a vontade de Deus, ele nos ouvirá. E, se sabemos que ele nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que temos o que dele pedimos.

Em Filipenses 4.6, há as seguintes palavras sobre a oração: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus”. Qual é a vontade de Deus quanto à oração? Em primeiro lugar, é vontade de Deus que nós oremos. Jesus Cristo contou a seus discípulos uma parábola, para mostrar-lhes que eles deviam orar sempre e nunca desanimar (cf. Lucas 18.1). Paulo escreve ao jovem Timóteo sobre as coisas que o povo de Deus deve fazer e entre as primeiras


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ele estabelece a oração: “Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens” (1Timóteo 2.1). Relacionadas a essas palavras, Paulo declara que a vontade de Deus e a redenção e mediação de Jesus Cristo para a salvação de todos os homens estão vitalmente relacionadas a essa questão da oração. Nisso sua autoridade apostólica e solicitude de alma conspira com a vontade de Deus e a intercessão de Cristo para que os “homens orem em todo lugar” (1Timóteo 2.8). Observe com que frequência a oração é mencionada no Novo Testamento: “perseverem na oração” (Romanos 12.12); “Orem continuamente” (1Tessalonicenses 5.17); “Dediquem-se à oração, estejam alerta e sejam agradecidos” (Colossenses 4.2); “sejam criteriosos e estejam alertas; dediquem-se à oração” (1Pedro 4.7); o chamado de Cristo era “Vigiem e orem” (Mateus 26.41). O que significam todas essas declarações e outras se não for o fato de que a vontade de Deus é que os homens orem? A oração é eficiente, coopera com e complementa a vontade de Deus, cujo controle soberano é correr em paralelo ao alcance e poder da expiação de Jesus Cristo. Ele, por meio do Espírito Eterno, pela graça de Deus, em favor de todos experimentou a morte (cf. Hebreus 2.9). Nós, pelo Espírito Eterno, pela graça de Deus, oramos por todos os homens.


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Mas como saber se estou orando de acordo com a vontade de Deus? Cada tentativa verdadeira de orar é em resposta à vontade de Deus. Ela pode ser mal executada ou não ter sido instruída por mestres humanos, mas é aceitável a Deus porque é em obediência à sua vontade. Se eu me entregar à inspiração do Espírito de Deus, que ordena que eu ore, todos os detalhes e as petições dessa oração estarão em harmonia com a vontade daquele que deseja que eu ore. A oração não é algo insignificante, não é uma questão menor e egoísta. Ela não se preocupa com os interesses mesquinhos de uma pessoa. A menor das orações expande-se pela vontade de Deus até que toque todas as palavras, preserve todos os interesses e intensifique a maior riqueza do homem e o maior bem de Deus. Deus está tão interessado que os homens orem que ele prometeu responder à oração. Ele não prometeu fazer alguma coisa geral se orarmos, mas prometeu fazer exatamente aquilo pelo qual oramos. A oração, como ensinada por Jesus em suas características essenciais, atinge todos os relacionamentos da vida. Ela santifica o amor fraternal. Para os judeus, o altar era o símbolo e o lugar da oração. Os judeus devotavam o altar à adoração de Deus. Jesus Cristo toma o altar de oração e o dedica à adoração do amor fraternal. Como Cristo purifica o altar e o expande! Como ele


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o tira da mera esfera da atuação e faz que sua virtude consista não no mero ato de orar, mas no espírito que nos impulsiona em direção aos homens. Nosso espírito em relação às pessoas reflete-se na vida de oração. Devemos estar em paz com os homens e, se possível, que eles estejam em paz conosco, antes de podermos estar em paz com Deus. A reconciliação com os homens é o precursor da reconciliação com Deus. Nosso espírito e nossas palavras devem abraçar os homens antes que possam abraçar Deus. A unidade aliada à irmandade antecede a unidade com Deus: “Portanto, se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta” (Mateus 5.23).

Não orar é ilegalidade, discordância, anarquia. No governo moral de Deus, a oração é tão forte e de longo alcance como é a lei da gravidade no mundo material e é tão necessária quanto a gravidade para segurar as coisas em suas esferas próprias e na vida. O espaço ocupado pela oração no Sermão do Monte evidencia a importância que ela tinha para Cristo e a relevância que possuía em seu sistema.


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Muitos princípios importantes são discutidos em um versículo ou dois. Esse sermão é composto por 111 versículos, e 18 deles estão diretamente relacionados à oração; e outros, indiretamente. A oração era um dos princípios fundamentais da piedade em cada dispensação e para cada filho de Deus. Não fazia parte das tarefas de Cristo criar novos deveres, mas, sim, recuperar, remodelar, espiritualizar e enfatizar aqueles deveres que são primordiais e originais. Em Moisés as grandes características da oração são proeminentes. Ele nunca esmurra o ar, nem luta uma batalha fingida. A mais séria e enérgica tarefa de sua vida era a oração. Ele se dedicava a ela com o mais intenso fervor da alma. Mesmo sendo íntimo de Deus, sua intimidade não diminuiu a necessidade da oração. Tal intimidade apenas trouxe mais clareza quanto à natureza e à necessidade da oração, e levou-o a enxergar o maior dever de orar e a descobrir os maiores resultados da oração. Ao relembrar uma das crises pelas quais Israel passara, quando a própria existência da nação estava ameaçada, escreveu: “ ‘Fiquei prostrado perante o Senhor durante aqueles quarenta dias e quarenta noites [...]’ ” (Deuteronômio 9.25). Oração maravilhosa e resultados surpreendentes! Moisés sabia orar maravilhosamente, e Deus sabia conceder resultados maravilhosos.


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Toda a intensidade da declaração bíblica serve para aumentar nossa fé na doutrina de que a oração afeta Deus, assegura o favor de Deus, que não pode ser assegurado de outra forma, e que não será concedido por Deus se não orarmos. Todo o cânon do ensino bíblico serve para ilustrar a grande verdade de que Deus ouve e responde à oração. Um dos maiores propósitos de Deus em seu Livro é marcar em nós de forma permanente a grande importância, o valor inestimável e a necessidade absoluta de pedir a Deus aquilo que necessitamos para o tempo presente e para a eternidade. Ele nos conclama, insiste e adverte por todos os meios. Ele nos aponta seu próprio Filho, entregue para nosso bem, como promessa de que nossa oração será respondida, ensinando-nos que Deus é nosso Pai, capaz de fazer tudo por nós e nos dar todas as coisas, muito mais do que pais terrenos podem ou estão dispostos a dar a seus filhos. Devemos nos compreender completamente e também compreender a grande tarefa que é a oração. Nossa grande tarefa é a oração, e nunca a executaremos bem sem nos apegarmos a ela com todas as forças. Nunca oraremos bem sem promover as melhores condições para realizá-la bem. Satanás sofreu tanto por causa de boas orações que todas as estratégias astutas, sagazes e sedutoras que ele usa serão usadas para enfraquecer sua atuação.


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Devemos, por todos os meios que encontrarmos, conectarmo-nos à oração. Estar desconectado no tempo e no espaço é abrir a porta para Satanás. Estar atento, preparado, firme e cuidadoso diante de cada detalhe é criar uma fortaleza contra o Maligno. A oração, pelo próprio juramento de Deus, pertence às próprias pedras da fundação de Deus, tão eternas como sua companheira: “[...] Que se ore por ele continuamente [...]” (Salmos 72.15). Esta é a condição eterna que faz avançar a causa de Deus e a torna poderosamente empreendedora. Os homens devem sempre orar por isso. Sua força, beleza e energia estão nas orações que fazem. Seu poder repousa simplesmente em seu poder de orar. O poder não está em outro lugar senão em sua capacidade de orar. “ ‘[...] pois a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos’ ” (Isaías 56.7). Ela se baseia em oração e é mantida pelos mesmos meios. A oração é um privilégio, um privilégio sagrado e magnífico. A oração é um dever, uma obrigação comprometedora e imperativa que nos prende a ela. Mas a oração é mais do que um privilégio, mais do que um dever. É um meio, um instrumento, uma condição. Não orar é perder muito mais do que falhar no exercício e prazer de um privilégio doce ou elevado. Não orar é falhar em questões mais importantes até mesmo que a violação de uma obrigação.


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A oração é o requisito para alcançar o auxílio de Deus. Esse auxílio é tão multifacetado e ilimitado como a capacidade de Deus, e tão variado e inexaurível como são as necessidades do homem. A oração é a avenida pela qual Deus supre os desejos do homem. É o canal pelo qual todo o bem flui de Deus para o homem e todo o bem dos homens, para os homens. Deus é o Pai do cristão. Pedir e receber fazem parte dessa relação. O homem é quem está mais imediatamente interessado nessa grande obra da oração. A razão do homem é enobrecida ao ser empregada na oração. O ofício e a obra da oração é o mais sagrado compromisso da razão do homem. A oração faz a razão do homem brilhar. A inteligência da ordem mais elevada aprova a oração. O homem mais sábio é o que ora mais e melhor. A oração é a escola da sabedoria, bem como da piedade. A oração não é uma imagem para ser manuseada, admirada, observada. Não é beleza, cor, forma, atitude, imaginação ou genialidade. Essas coisas não pertencem a seu caráter nem conduta. Não é poesia nem música. Sua inspiração e melodia vêm do céu. A oração pertence ao espírito e às vezes toma o espírito e desperta nele os propósitos e resoluções mais santos e elevados.


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