APRENDIZAGEM SOCIAL As teorias de aprendizagem social têm a sua origem no comportamentalismo. Partilham o seu princípio de que se as consequências do comportamento influenciam a repetição do mesmo. Diferem no aspecto em que processos cognitivos não directamente observáveis, como expectativas, pensamentos e crenças, têm influência no comportamento. Estudaremos uma das teorias da aprendizagem social, a teoria cognitivo-social de Bandura. Bandura defende que aprendemos a observar os outros. A observação de modelos exteriores (pessoas, meios electrónicos, livros) acelera mais a aprendizagem do que se esse comportamento tivesse de ser executado pelo “aprendiz”. Também se evita receber consequências negativas. Os princípios básicos da sua teoria são: • A interacção recíproca – factores internos (intrínsecos ao sujeito), factores externos (do meio ambiente) e o comportamento do sujeito interagem uns com os outros, influenciando-se mutuamente. Umas vezes tem mais peso um dos elementos, outras vezes outro. Assim se abandona a tradicional polémica dos que defendem que o comportamento apenas é influenciado por factores ambientais e os que apenas dão valores aos factores pessoais, ignorando os ambientais. Bandura agrupa todas estas influências de forma que nenhum dos três seja considerado uma entidade separada. Por exemplo, não há uma inevitabilidade do ambiente influenciar o sujeito, apenas uma possibilidade, se os factores pessoais estiverem predispostos a isso. O organismo não só responde aos estímulos do meio, mas também reflecte sobre eles, devido à sua capacidade de usar símbolos (representa mentalmente as acções sem precisar de sofrer as consequências de as tomar), da capacidade de previsão, de aprender pela experiência alheia e da autorreflexão. • O 2º princípio básico é que há uma distinção entre a aprendizagem (aquisição de conhecimento) e o comportamento (execução observável desse conhecimento). Pode dar-se o caso de não haver factores internos e/ou externos que nos impelem a não agir da forma que sabemos. Há 4 elementos na aprendizagem por observação: • A Atenção. Existe uma selecção àquilo que prestamos atenção, o que é crucial para se aprender por observação. Essa selecção é feita em função das características do modelo (estatuto/prestígio, competência, valência afectiva), do observador e da actividade em si. • A Retenção. A informação observada é codificada, traduzida e armazenada no nosso cérebro, com uma organização em padrões, em forma de imagens e construções verbais. Deve possuir o que se designa por prática coberta (ser capaz da repetição imagética ou preposicional de procedimentos que observou ou de regras) e do que se designa de prática comportamental (ser capaz da execução repetida e sistemática dos procedimentos que observou) • A Reprodução. Consiste em traduzir as concepções simbólicas do comportamento armazenado na memória nas acções correspondentes. Pode haver dificuldades nessa tradução (ex. inabilidades físicas) e por isso, deve-se facilitar a execução correcta, quando se está a ensinar alguém.
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• A Motivação e os Interesses. Bandura defende que a aquisição é um processo diferente da execução. Então para que um determinado comportamento aprendido seja executado, deve-se estar motivado para fazê-lo, o que pode ser alcançado através de incentivos. Experiências demonstram que um modelo de comportamento recompensado tem mais probabilidades de ser imitado pelos observadores do que um modelo cujas consequências não eram recompensadoras ou mesmo penalizadoras. Foram identificados três tipos de reforços: reforços directos em que o observador é reforçado ao reproduzir o que observou; reforços indirectos em que o modelo é que é reforçado. Os resultados observados no comportamento dos outros pode modificar o nosso comportamento da mesma forma que os resultados obtidos da experiência directa; Auto-reforços em que é o sujeito que controlo os seus próprios reforços. Tal como os comportamentalistas defendem, Bandura diz que as consequências ditam em boa escala o nosso comportamento. As acções que geram consequências positivas tendem a manter-se, enquanto as que geram negativas tendem a desaparecer. A distinção entre a aprendizagem por condicionamento operante e a aprendizagem social é que para aquela as consequências têm o objectivo de fortalecer o comportamento e para esta as consequências do comportamento são as suas fontes de informação e de motivação. As consequências informam as pessoas acerca da correcção ou conveniência da sua acção. As consequências experimentadas (recompensas ou castigos) pelos modelos transmitem informação aos observadores de que acções são efectivas ou não. Para além disso, as consequências também geram motivação para realizarmos as acções que geraram consequências positivas noutros. Por exemplo, a motivação cresce em toda a turma quando vemos um professor elogiar outro aluno por ter trabalhado bem. No entanto, a observação de modelos não garante, por si só, a aprendizagem dos comportamentos. Os factores envolvidos na aprendizagem por observação são: • As consequências do comportamento sejam consideradas muito positivas. Mesmo comportamentos considerados negativos podem ser imitados se as consequências forem consideradas positivas. • As características do observador: A maioria dos factores que influenciam a avaliação das consequências de uma acção observada dependem do observador: idade, sexo, posição social, valores. Deverá haver uma certa adequação entre quem imita e quem é imitado. • As características do modelo: O prestígio do modelo é crucial. Pode ser por ser competente numa determinada actividade ou por ser uma pessoa significativa para o observador. Muitas vezes, os efeitos do prestígio alargam-se a outras áreas que não aquelas em que este é competente. Nota-se na publicidade em que somos induzidos a adoptar comportamentos de atletas que nada têm a ver com aquilo que admiramos neles Há posições sociais que encerram prestígio por si só, independentemente das pessoas em causa, como o professor. Tendem a ser modelos para muitas crianças. Quanto ao ensino, existem 4 aplicações a ter em conta da aprendizagem por observação:
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• O ensino de novos comportamentos – Quando se quer ensinar novas habilidades ou novas formas de pensar e de sentir, deve-se utilizar as mudanças ocorridas no comportamento, no pensamento ou nas emoções do modelo, de forma deliberada. Ou seja, mostrar claramente os passos necessários para o modelo atingir o objectivo ou executar a tarefa (explicando um raciocínio, as razões que motivam, como se executa, etc.). • Desenvolvimento das emoções – Através da aprendizagem por observação, as pessoas podem desenvolver reacções emocionais a situações nunca experimentadas. Pode-se ter medo de andar de avião sem nunca o ter feito. • Facilitar os comportamentos – Pode-se aprender comportamentos que façamos não por estarmos especialmente motivados para isso, mas por serem necessários em determinadas situações sociais, através da observação dos outros. Por exemplo, qual a roupa adequada para uma determinada situação. • Troca de Inibições – Se os alunos vêm um colega infringir as regras e não lhe acontecer nada, ficam com a ideia de que nem sempre se obtém consequências negativas ao infringir as regras, o que pode desinibir um pouco a turma. A inibição ocorre quando se vê um modelo obter consequências negativas com o seu comportamento, tornando indesejável a sua imitação. Existe o chamado “efeito onda” que consiste no efeito exponenciado da desinibição duma turma pelo facto de ter sido o seu líder a quebrar a regra. No entanto, este efeito também pode beneficiar o professor, pois se o líder for castigado, a turma ficará ainda mais inibida.
Bibliografia González-Pérez, J., Criado, M.J. (2003). Psicologia de la Educacion para una Enseñanza Prática. Madrid. Editoral CCS.
A APRENDIZAGEM SOCIAL VISTA POR LUÍS AGUILAR Para começar, creio que as teorias da aprendizagem social vêm colmatar falhas existentes nas teorias anteriores que tentam explicar os factores que influenciam o comportamento. Se por um lado uns defendem que apenas os factores ambientais têm influência no comportamento, desprezando os factores hereditários ou pessoais do sujeito, por outro lado outros afirmam que apenas os factores pessoais influenciam o comportamento, não dando qualquer importância ao meio que nos rodeia. Ao afirmarem que existe uma interacção recíproca entre estes factores e o próprio comportamento do sujeito, todos os três elementos influenciando-se mutuamente, os teóricos da aprendizagem social sintetizam o melhor que cada uma das teorias anteriores tinha oferecido. Aliás, e sendo este parêntesis uma perspectiva muita pessoal, creio até que é uma pura perca de tempo esta mania dos cientistas ou teóricos das ciências sociais e humanas, esta mania, dizia eu, de primeiro elaborarem um tese para explicar qualquer coisa, depois surgirem os detractores da mesma com uma antítese, uma nova teoria que diga precisamente o contrário da tese inicial, para finalmente vir alguém dizer que sim senhora, todos têm um bocado da razão, o melhor é elaborarmos uma síntese que tire o melhor de cada teoria e que fique como explicação definitiva para o problema em causa
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(obviamente que estou a ser irónico, claro que consigo reconhecer o valor que este processo evolutivo na descoberta do conhecimento tem). Feito este prelúdio inicial, cabe agora pronunciar-me acerca da aprendizagem social. Falando então de aprendizagem propriamente dita, a aprendizagem social vem introduzir um novo conceito que consiste na aprendizagem por observação de modelos. Após este estudo superficial da teoria de Bandura, dou comigo a dizer que sim senhor, o homem tem razão. É um tipo de aprendizagem muito importante, e como o mostram os inúmeros exemplos que ilustram a teoria, grande parte do nosso desenvolvimento dá-se a observarmos os outros. Ao relembrar o conhecimento popular, por exemplo dizendo, “Filho de peixe sabe nadar”, não estou com isto a apresentar tal provérbio como argumento a favor da validade da aprendizagem por observação, mas apenas a assinalar que o conhecimento empírico das populações que vai ficando cristalizado neste tipo de clichés, por vezes, também consegue aperceber-se correctamente da realidade. Escusado será dizer que a explicação Banduriana de tal ditado será que se os filhos se tornam hábeis nas actividades que distinguem os pais, isto é porque a sua proximidade na convivência familiar, e o estatuto inerente à posição de Pai são factores suficientes para estes servirem de modelos àqueles. Por outro lado, e elaborando agora, sobre os aspectos que mais me atraíram nesta teoria de Bandura, talvez seja de assinalar a atenção dada por ele aos aspectos cognitivos da aprendizagem. Digo talvez, porque, por um lado, como já mencionei, o estudo feito foi pouco mais que superficial e, por outro lado, estes aspectos do processamento que o nosso cérebro efectua para aprendermos desde sempre me intrigaram/interessaram. No entanto foram já suficientes para despertarem o meu interesse adormecido. Estas histórias de como guardamos a informação através de imagens ou conceitos – de como existe um processo de codificação e tradução anterior da mesma – são realmente fascinantes. Não sei este interesse vem do desejo de pretender estabelecer paralelos com a minha área científica de eleição, que em termos abstractos nada mais significa do que esse mesmo processamento e representação de informação, de estabelecer paralelos, ou mesmo quem sabe de procurar aproximações, de tornar benéficos para a computação os conhecimentos que o homem vai, a pouco e pouco, adquirindo sobre si próprio...
Luís Aguilar, nº14676 Informática (Ensino)
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