b) objetivo do projeto Realizar a exposição Topografia Suada de Londres: Jack Pound Financial Art Project & o trabalho gira em torno. Os trabalhos que compõe esta exposição foram idealizados e materializados desde 2008. Eles tem como substrato períodos de convivência em diferentes situações em Londres, Reino Unido. A exposição traz uma relação entre duas peças principais e alguns resquícios do processo delas. As duas peças dialogam e estarão em duas salas diferentes que tenham alguma comunicação entre si. Resumirei a seguir a montagem nas salas. Sala1 com a peça Jack Pound Financial Art Project: 1. A bandeira feita de 1000 libras (notas de 10 e 5 libras) num mastro fincado na parede no fundo da sala; 2. O chão da sala, devidamente protegido por compensado, estará todo pavimentado com asfalto vermelho (desenho e uma simulação digital na justificativa); 3. Os 42 quadros tamanho A3 com fotos dos acionistas* na hora da compra e suas respectivas ações. Fotos da montagem destes quadros anexas. *como será explicado na justificativa a bandeira de libras é uma sociedade de ações com investidores de várias partes do mundo.
4. Uma câmera de segurança* filmará a bandeira todo o tempo e transmitirá para uma TV fora da sala que estará ao lado dos quadros citados acima. *este equipamento além de agregar mais significados ao trabalho é para segurança da peça que já tentaram roubar, afinal eu tenho que deixar os acionistas seguros do investimento.
Sala2 com a peça o trabalho gira em torno: Esta segunda peça produzi com Friedel Schroder, dono da companhia na qual eu alugava os Rickshaws. Uma escultura motora e interativa com três Rickshaws e um vídeo rodopiante que circula pela sala. Dei um título o trabalho gira em torno. Ela é uma peça única composta de 3 Rickshaws ou táxi bikes e um projetor de vídeo. A projeção é liberada quando alguém pedala a 1° bike. Pedalando a 2°, o espelho gira fazendo a projeção também girar pela sala. A pedalada da 3° acende um farol. Sem público a sala é escura. Mando na impressos na justificativa uma foto, um desenho da peça e alguns frames do vídeo. Então falemos das peças na justificativa.
c) justificativa Peça 1. Jack Pound Financial Art Project Esta se desenvolveu no ano de 2008 que passei quase todo em Londres. Vim acompanhando minha mulher que fez nesse período um curso de mestrado. Neste tempo, trabalhei entre projetos artísticos no Brasil e em alguns empregos hard work que tive em Londres; afinal, uma libra esterlina valia mais ou menos quatro reais. Durante esta experiência, minha relação com dinheiro e minhas observações sobre o modo como o povo britânico e imigrantes lidavam com a libra me guiaram numa pesquisa que gerou esta peça/projeto. É uma bandeira da Inglaterra confeccionada com notas reais de dez e cinco libras esterlinas costuradas umas nas outras. As notas de cinco compõem o fundo branco e as de dez formam a cruz vermelha da bandeira. Calculei o desenho para que a soma das notas resultassem em exatamente mil libras (122 notas de £5 e 39 notas de £10). Este valor foi definido no momento em que li no jornal tablóide The Sun que 80% dos ingleses não notariam se mil libras sumissem de suas contas bancárias. Quando li esta matéria, estava num emprego em que entrei logo que cheguei nas terras da Rainha - barista na rede multinacional de cafés Costa Coffee - e um colega de trabalho argumentou: "Mas eu notaria se sumissem mil libras da minha conta!". Então eu lembrei-lhe que ele era italiano. Neste momento percebemos que nenhum inglês trabalhava lá conosco. Coloquei o nome desta peça de Jack Pound, pois a bandeira o Reino Unido é chamada de Union Jack, resultado da combinação gráfica das bandeiras da Inglaterra, Escócia e Irlanda. Jack é o apelido das bandeiras de mastro dos barcos ingleses, então os britânicos chamam a Union Flag de Union Jack. A que vou fazer é a inglesa (cruz vermelha e fundo branco) com notas de cinco e dez libras, pois as outras nacionalidades do Reino Unido (escoceses, irlandeses e galeses) notariam o sumiço de tal quantia de suas contas.
Na verdade acho que hoje, depois do “credit crunch”, bem menos de 80% dos ingleses não notariam. Isto até deixa o trabalho mais atual como se poderá ver na argumentação a seguir. Mas voltemos um pouco à forma, as notas serão costuradas umas nas outras pois precisam ser vistas frente e verso, com a figura da Rainha de um lado e as de Charles Darwin e Elizabeth I do outro (foto da bandeira abaixo).
Costurei metade da bandeira com notas de libras que ganhei no meu último emprego londrino: Rickshaw Rider (taxi-bike). Ela tem 1,7 m x 1 m. A proposta é usar o papel-moeda como matéria-prima. Trabalhei com dinheiro e penso que estabeleci um outro valor pra ele, não somente o valor de troca.
Neste emprego de Rickshaw eu levava as pessoas para onde elas queriam numa bicicleta que suporta até três passageiros (desenho e fotos abaixo). O dinheiro que ganhava era diretamente proporcional ao suor da pedalada, não é como trabalhar num café ou num projeto artístico financiado, como já fiz, que envolve um dinheiro virtual depositado numa conta bancária. No taxibike, eu produzia aquela matéria, a nota, com o esforço da pedalada.
A produção desta matéria, que tem um valor econômico gigante, mas é ao mesmo tempo um papel recebido ao final da corrida, acontece somente no Reino Unido. Na Índia, um Rickshaw ganha muito pouco e em New York, a moeda que ele recebe não é tão forte. Com esta matéria prima a peça fala muito sobre imigração, pois em muitos momentos o que sobra nos bolsos
ingleses é o que faz a maioria dos imigrantes sobreviver. Estas sensações de liberdade e solidão no espaço urbano, misturadas com algum senso de oportunidade são pontos extremos na cabeça do imigrante. O trabalho de Rickshaw sintetiza estes sentimentos. Você trabalha sozinho, vai para onde quer, desenvolve suas estratégias e sabe que a geografia direta da cidade é onde estão as oportunidades. Uma psico-geografia que me guiava por um extinto não só de sobrevivência, mas de caça. Este sentimento me guiou na outra peça da qual falarei mais tarde. Como Rickshaw, eu trabalhava principalmente à noite. Em tal horário, este tipo de transporte é um certo luxo. O trabalho é bem pago e feito em sua maioria por imigrantes. Uma bandeira das terras da Rainha, feita com notas da noite luxuosa de Londres, seria exatamente a peça...se não fosse uma brilhante idéia de minha mulher. Para a aceleração do processo ela pensou numa estratégia sustentável que traria ao Jack Pound outros significados da cultura britânica. Para a confecção da peça um segundo componente foi incorporado ao trabalho, uma metáfora do mercado financeiro e de seu modus operandi na economia mundial: passei a vender ações da bandeira. Então a peça foi dividida em duas metades: uma, confeccionada com dinheiro do meu trabalho no Rickshaw e a outra, com dinheiro de pessoas que se interessaram em investir neste projeto que passei a chamar de Jack Pound Financial Art Project. Quem quis investir pagou uma nota de £ 5 (cinco libras) ou £ 10 para ser costurada na bandeira. Em troca, recebeu uma ação certificando a compra, tornando-se um sócio-investidor do projeto. Imagem da ação:
Se a bandeira for vendida por £ 5.000, o investidor poderá trocar a ação por cinco vezes o valor que pagou. Se ela for vendida por mais, o investidor lucrará proporcionalmente. Por exemplo, se a peça chegar a valer £10.000 e seu investimento foi de £ 10 então sua ação valerá £ 100. E o investimento ainda garante ao investidor a escolha do lugar da bandeira no qual a sua nota será costurada.
A procura por ações superou minhas expectativas. O Jack Pound Financial Art Project conta com mais de 40 investidores de 10 países diferentes. Eles têm perfis variados, do estudante de dança Fernando Lopes Silva ao artista plástico Cildo Meireles, da crítica de arte Glória Ferreira ao Rickshaw Rider Botond Laczko-Szentmiklosi da Transilvânia. Passando pela alfabetizadora de adultos Eunice Silva de Araújo e pelo colecionador português Antônio Branco, todos têm sua cota. Tirei fotos com os investidores no momento da compra e cada um de nós tem uma cópia da ação certificando o contrato. Tenho a intenção de vender esta peça num leilão por, no mínimo, £ 5.000. É aí que o trabalho se completa, pois cria especulação em cima de especulação, dinheiro com valor ilusório com ilusão aumentada pelo fato de ser arte. Mercado monetário = mercado de arte = especulação = mercado de gente = serviço = valor da moeda britânica = noite = luxo = sobrevivência = imperialismo = hedonismo = colonialismo. Tudo aí nesta bandeira, nesta cidade e na relação deste país com o resto do mundo. Para enfatizar a intersecção trilhada pelo projeto entre as áreas de arte e economia é interessante desenvolver uma estratégia de comunicação que divulgue o Jack Pound Financial Art Project não apenas como um produto artístico, mas também como investimento financeiro. Durante a exposição, a atuação de uma assessoria de imprensa que objetive mídia cultural e econômica será estratégica. O projeto pode ser divulgado tanto em cadernos, revistas e programas culturais, quanto em veículos que cobrem economia, tais como: Gazeta Mercantil, Valor Econômico, etc. O trabalho toca no que me parecem dois pilares presentes na economia inglesa: trabalho imigrante e mercado financeiro. Com a minha parte de £ 505 na bandeira feitas com um tipo de trabalho, o Rickshaw, que migrou de outros países, como Índia ou Japão, para a Inglaterra e, ao mesmo tempo, é exercido principalmente por imigrantes, eu sou o sócio majoritário desta sociedade especulativa. E o mercado financeiro está representado na venda de ações. Como já disse todo este processo de venda de ações foi documentado com fotos dos acionistas no ato da compra e pela própria ação que é um contrato. O conjunto da ação com a foto do respectivo acionista forma um quadro. Teremos 42 quadros dos acionistas na exposição (foto da montagem abaixo).
Outro elemento que acompanhará a bandeira na sala é o asfalto vermelho que encontramos em frente ao Buckingham Palace. Nele só quem pode andar com passageiros é o clássico Black Cab (o táxi preto de Londres). Rickshaws não podem pedalar ali com passageiros. Este asfalto em frente ao palácio é um grande tapete vermelho real e tem uma textura e plasticidade especiais, pois, como na maioria do asfalto em Londres, são usados grandes pedaços de granito (foto abaixo).
A sala da bandeira terá o chão protegido por compensado de madeira que depois será asfaltado com este asfalto vermelho (montagem digital da sala 1 abaixo).
Simulação digital da sala 1 com a Jack Pound Financial Art Project
Resumindo a peça completa é da seguinte forma: 1. A bandeira no fundo da sala com o mastro fincada na parede; 2. O chão da galeria todo pavimentado com asfalto vermelho(desenho abaixo);
3. Uma câmera de segurança filmará a bandeira todo o tempo e transmitirá para uma TV fora da sala que estará ao lado dos quadros que descrevo abaixo (este equipamento, além de agregar mais significados ao trabalho é para segurança da peça que já tentaram roubar, afinal eu tenho que deixar meus acionistas seguros do investimento). 4. Os 42 quadros com as fotos dos acionistas na hora da compra e suas respectivas ações. Eles estariam dispostos numa parede externa (foto abaixo) e teríamos também emoldurado um texto sobre esta sociedade de ações.
Peça 2. o trabalho gira em torno. Esta segunda peça produzi com Friedel Schroder, dono da companhia na qual eu alugava os Rickshaws. Uma escultura motora e interativa com três Rickshaws e um vídeo rodopiante que circula pela sala. Dei um título de o trabalho gira em torno. Desenho e foto abaixo.
O publico poderá pedalar os rickshaws para ativar a projeção do vídeo e a circulação dele pela sala. O filme projetado foi feito com uma micro câmera/caneta de espião que era instalada na roda do Rickshaw. Enquanto eu trabalhava, ela filmava Londres rodopiando da perspectiva do pneu. Frames do vídeo e DVD com excertos dele abaixo:
noite
dia