realiza
Governador de pernambuco
Eduardo Campos
Vice-governador de pernambuco
João Lyra Neto
Secretário Estadual de Educação
Danilo Cabral
Secretário Especial de Cultura
Ariano Suassuna
Presidente da fundação do patrimônio histórico e artístico de pernambuco – Fundarpe
Luciana Azevedo
Diretor de Políticas Culturais
Carlos Carvalho
Diretor de difusão Cultural
Adelmo Aragão
diretora de gestão do funcultura
Martha Figueirêdo
diretora de projetos especiais
Rosa Santana
Coordenador de Artes Plásticas e Gráficas Félix Farfan Coordenadora do 47º Salão de Artes Plásticas de pernambuco
Luciana Padilha
Coordenadora de museus
Uma das propostas do Salão de Artes Plásticas de Pernambuco é abrigar, sob o mesmo teto, todos os modos de expressão que fazem do povo pernambucano um dos pilares da identidade brasileira, por definição, múltipla e una. Nesta 47ª edição, o Salão abre espaço para que arte e tecnologia dialoguem e se complementem. Elementos à primeira vista contraditórios revelam-se a um olhar mais atento, em perfeita sintonia. E Pernambuco, a um só tempo pólo digital e centro cultural, se exibe por inteiro como síntese. É com muita satisfação, pois, que o Governo do Estado apresenta no nosso Salão de Artes Plásticas a mostra O Lugar Dissonante. Uma encruzilhada de diferentes tendências, correntes e linguagens estéticas. É a segunda mostra do Salão e explora limites das relações entre arte e tecnologia. Direcionada a sondar a existência humana, põe em questão noções como passado e futuro, enquanto redefine o que é alta e o que é baixa tecnologia. Em atinência ao compromisso de apoiar a produção científicotecnológica e artística do nosso estado, o Governo de Pernambuco dá as boas vindas aos artistas e a todos os que vierem ao nosso sempre inovador Salão de Artes Plásticas de Pernambuco.
Gabriela Severien
gestora do sistema estadual de cultura
Teca Carlos
Eduardo Henrique Accioly Campos
assessor de comunicação
Governador de Pernambuco
Rodrigo Coutinho
Apresentar à sociedade questões que envolvem a cultura e lutas de povos indígenas e quilombolas é revelar a importância da história de batalha desses povos.
A Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco tem como objetivo colocar em prática a política pública de cultura, de forma estruturadora, em todas as Regiões de Desenvolvimento do Estado, atuando em todas as linguagens culturais, sempre tendo como premissa a participação e interferência do tecido sociocultural. Essa postura permite o diálogo e, como resultado da troca de ideias, a consolidação e preservação das manifestações características de cada localidade, sem se esquecer de que isso impulsiona a criação de novas cenas artísticas.
Em sua terceira atividade, o 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco 2009, promovido pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), traz à tona essa temática, através da mostra Macunaíma Colorau, que faz uma reflexão sobre o meio ambiente, o direito à cidadania e a identidade étnica através da arte. A exposição desse novo trabalho deixa distante a ideia do estereótipo de povo selvagem e primitivo, visto que as comunidades indígenas vêm dando exemplos de como se exerce a cidadania, através da luta por melhores condições de saúde, cultura, trabalho e educação. O mesmo acontece com as comunidades quilombolas, que, desde o final do século XVI, apresentam um histórico de lutas e resistência à escravidão. É inegável a influência na formação étnica, na cultura, nos costumes, na língua portuguesa, na dança, na música, nas comidas, deixados de herança ao povo brasileiro pelos índios e negros.
Em dezembro de 2009, chegamos à última exposição do ano do 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco: Macunaíma Colorau. Idealizada por um coletivo de artistas que compreenderam o sentido de inclusão e transformação social da arte, a exposição coloca como protagonistas índios e quilombolas em seus próprios territórios. O resultado dessa interação são vídeos e instalações que vão ao encontro do modelo de cogestão implementado desde 2007 pela atual gestão. Através da criação de 120 novos Pontos de Cultura, em parceria com o Ministério da Cultura, a Fundarpe vem garantindo um fomento continuado a grupos que trabalham, entre outros temas, com as questões de gênero e em comunidades indígenas e quilombolas. Ao todo, são onze entidades envolvidas.
O Governo do Estado de Pernambuco, através da Secretaria de Educação, desenvolve uma política pública de respeito às diferenças e de garantia da cidadania plena a todos os pernambucanos e, no caso dos índios, negros, brancos, mulatos e demais raças, soma-se à nossa política o resgate e a preservação da identidade cultural desses povos. Os investimentos na melhoria de infraestrutura e educacional das escolas dessa gente, são exemplos do nosso compromisso com o resgate e a recomposição de uma dívida histórica que o País e o nosso Estado têm com essas comunidades.
A conexão entre as duas realidades (a artística e a social) coloca a exposição em uma posição emblemática, pois aproxima ainda mais o mundo das artes plásticas ao da política pública de cultura em Pernambuco. É um sinal também do amadurecimento e da nova fase por que passa o Salão de Artes Plásticas. Macunaíma Colorau inaugura um tempo de integração das ações à rede de equipamentos culturais do Estado, por meio de atividades de fomento à pesquisa, além de residências artísticas e atividades de formação de novas plateias.
Nesse sentido, a mostra Macunaíma Colorau vem somar na difusão da diversidade cultural do nosso estado, dando visibilidade às realidades dos povos indígenas e quilombolas através de apresentações de vídeos e instalações artísticas.
Luciana Azevedo Presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco
Danilo Cabral Secretário de Educação de Pernambuco
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Arte e Engajamento Político no 47° Salão de Artes Plásticas de Pernambuco
Artistas, índios e quilombolas se encontram para provocar uma reflexão sobre meio ambiente, cidadania e identidade étnica a partir de discussões que envolvem a arte contemporânea e o engajamento político na exposição Macunaíma Colorau, realizada no Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco (MAC), em Olinda. A exposição é a terceira atividade do 47° Salão de Artes Plásticas de Pernambuco em 2009, realizada pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), e busca colocar no eixo dessa discussão o envolvimento político, ativo e crítico, principalmente entre as artes visuais e a sociedade. Macunaíma Colorau foi um trabalho desenvolvido no interior de Pernambuco, especificamente em territórios indígenas Xukuru, Truká, Kambiwá e, ainda, nas comunidades quilombolas de Castainho e Conceição das Crioulas, localizados, respectivamente, nos municípios de Pesqueira, Cabrobó, Ibimirim, Garanhuns e Salgueiro, cujo resultado foi desenvolvido a partir de pesquisa, fotografias, oficinas, vídeos e instalações. Para o 47° Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, a exposição Macunaíma Colorau representa o desdobramento da ação que envolveu esse coletivo, somado nesta mostra à participação de outros artistas que também apresentam discussões de uma arte engajada através de seus trabalhos, ampliando, assim, o sentido de coletivo e o diálogo com o público por meio das artes visuais, ressaltando, ainda, a maneira como foi elaborada e montada a exposição, sendo resultado de um processo colaborativo desse novo grande coletivo. Equipe do 47° Salão de Artes Plásticas de Pernambuco
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Apresentação
O chamado engajamento social da arte parece ter, hoje, outra complexidade, formas e repertório de intenções. Não se trata de considerá-la como “porta-voz dos excluídos”, mas entendendo sua potência de reverberação social, tomá-la como participante ativa da construção coletiva de ações e estratégias de empoderamento, heterogeneidade e espaços de enunciação de voz. A partir de trocas entre partes diversas, a arte vai deixando de ser um “canal” para se delinear como uma interface de contato, expandindo-se no tempo, no espaço e na linguagem e, às vezes, aproximando-se às concepções de ativismo. É como interface de contato e célula de ativismo que se configura o Macunaíma Colorau. Ao longo dos últimos três anos e em momentos diversos (pesquisa, oficinas, intervenções), o projeto tem articulado povos indígenas, comunidades quilombolas, artistas, cineastas, fotógrafos, ativistas, entre outros, num esforço coletivo de trazer à tona e problematizar o atual panorama étnico do Brasil e, em especial, de Pernambuco com seus inúmeros embates e implicações: políticos, sociais, culturais, ambientais, em face da sociedade nacional. Macunaíma Colorau integra a programação de atividades especiais do 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, trazendo para a capital do Estado uma síntese das trocas estabelecidas no decorrer do projeto, cujos primeiros resultados já foram exibidos nos territórios indígenas Xukuru, Truká, Kambiwá, nas comunidades quilombolas de Castainho e de Conceição das Crioulas e nas cidades de Pesqueira e Salgueiro. A ocupação do Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco com as vozes e as imagens desses que, ainda hoje, são pouco escutados pela sociedade e pelo Estado brasileiro tem caráter político contundente. A arte mais que um “canal” e o Museu, não mais uma prisão, emparelhamse ao desejo desse coletivo por justiça, direitos e autonomia para povos indígenas e comunidades quilombolas. A Corrente da Destruição trazida do território Kambiwá às calçadas de Olinda incrusta-se na rua com a intenção de ir além das partes (índios, quilombolas, artistas ou ativistas) para tornar-se, efetivamente, coisa e causa públicas. Coletivo Macunaíma Colorau 9
SÃO JOSÉ DO EGITO
EXU ARARIPINA
34
IPUBI
OURICURI
SÃO JOSÉ DO BELMONTE
SERRITA
RD SERTÃO CENTRAL
19
50
84
CABROBÓ
77
58 SANTA MARIA DA BOA VISTA
RD SÃO FRANCISCO
CUSTÓDIA59
RD ITAPARICA
BREJO DA MADRE DE DEUS
34
80
67
IBIMIRIM
45 38 35 ARCOVERDE 47
48
BELO JARDIM
SÃO LOURENÇO DA MATA CAMARAGIBE
PAULISTA
OLINDA RECIFE
JABOATÃO
BEZERROS
RD METROPOLITANA
CABO DE SANTO AGOSTINHO
GRAVATÁ
CARUARU
ESCADA
SÃO CAETANO
PESQUEIRA
49
IPOJUCA
BONITO
SIRINHAÉM
BUÍQUE
PALMARES
LAJEDO
83
CAETÉS
RD AGRESTE MERIDIONAL
PETROLÂNDIA
53
IGARASSU PAUDALHO ABREU E LIMA
LIMOEIRO
TORITAMA
RD AGRESTE CENTRAL
86
86
SURUBIM
GOIANA
NAZARÉ DA MATA
RD AGRESTE SETENTRIONAL
33
81
46
70 LAGOA GRANDE
SANTA CRUZ DO CAPIBARIBE
SERTÂNIA
40 62 63 RD MOXOTÓ
FLORESTA BELÉM DE SÃO FRANCISCO
OROBÓ
60
56
52
78
ALIANÇA
77
55
64
37
61 35
66
FLORES
51
SALGUEIRO
PARNAMIRIM
44 68 TRIUNFO 39
SERRA TALHADA
RD MATA NORTE
36 RD PAJEÚ AFOGADOS 75 DA INGAZEIRA 42 74
CEDRO
RD ARARIPE
TIMBAÚBA
54
82
74
65 BARREIROS
GARANHUNS
18
41
RD MATA SUL
72
71 57
BOM CONSELHO
79 69 PETROLINA
POVOS INDÍGENAS
COMUNIDADES QUILOMBOLAS 1 Abelha
12 Cachoeira da Onça
23 Onze Negras
2 Afranto 3 Águas Claras
13 14 15 16 17
Cajueiro Caldeirão Caloête Carrapicho Carvalho
24 25 26 27 28
Engenho Siqueira Estivas Estrela Fandango Feijão
18 19 20 21 22
Castainho Conceição das Crioulas Contendas Cruz dos Riachos Cupira
29 30 31 32 33
Fundão Furnas Gamaleira Gia Gravatá das Varas
4 5 6 7 8
Araçã Arara Bacuré Borba do Lago Brejo de Dentro
9 Buenos Aires 10 Caatinguinha 11 Cachoeira
56 Queimadas
34 Ingazeira 35 Jatobá
45 Maria Martins 46 Massapê
36 Jiquiri
47 48 49 50
Morada de Negras Negros de Gilú Pé de Serra Pedra Branca
57 58 59 60 61
Quilombo Remanso Riacho do Meio Riacho dos Porcos Santana
51 52 53 54 55
Pintada Poço dos Cavalos Povoação Queimada de Zé Vicente Queimada dos Felipes
62 63 64 65 66
São José Serra da Torre Serra do Talhado Serra dos Quilombos Serrote
37 38 39 40 41
Juazeiro Grande Lagoa da Porta Lagoinha Águas Claras Lajedo Lambedor
42 Leitão 43 Leitão da Carapuça 44 Livramento
67 Severos 68 Sítio Novo 69 Sítio Pião 70 71 72 73 74 75
Tamaquiús Tanquinho Tigre Timbó Travessão Umbuzeiro 76 Varzinha dos Paulinos 77 Viturino
78 Atikum 79 Fulni-ô 80 81 82 83 84 85 86
Kambiwá Kapinawá Pankararu Pipipã Truká Tuxá Xucuru
Clarissa Diniz
– dentre esses, a que aqui escreve. Posição de sorte, a minha: como todo conhecer é, em vários aspectos, um reconhecer, ter-me aproximado desses povos por meio do projeto foi ter podido construir uma aproximação mediada por uma relevante interface de reconhecimento, a arte.
De índios, quilombolas e artistas
Da arte
Citoplasma Colorau
Eles já foram idealizados e considerados heróis. Depois, foram marginalizados, inclusive “sepultados” – morte à qual resistiram bravamente. Ao que parece, hoje almejam coexistir compreensivamente sem que, para isso, precisem viver sob antigos estereótipos: dedicam-se a contínuas e plurais reinvenções culturais, políticas, sociais e econômicas. Eles são, genérica e simultaneamente, índios, quilombolas e artistas. Mas apenas índios e negros foram, durante séculos, explorados, escravizados, violentados, exterminados. Entre a trajetória histórica destes e a dos artistas, há, apesar de algumas semelhanças e aproximações pontuais, um largo fosso vermelho. E é sem a intenção de negá-lo, no que poderia vir a ser uma superficial e ingênua ação de identificação, que artistas, índios e quilombolas se encontram no Macunaíma Colorau, projeto que, já em seu título, reconhece a cor do fosso. O Macunaíma em questão – filho de um raríssimo encontro entre o Sol e a Lua – nasceu vermelho-urucum: é, portanto, Colorau. Do encontro Ele não foi; já vem sendo. Desde antes, bem como deverá ser depois. O envolvimento dos criadores do projeto com as lutas dos movimentos indígena e quilombola – mais ampliadamente, com as questões étnicas postas no Brasil da atualidade – é de outrora, mas no Macunaíma Colorau encontra novo espaço de atuação, marcadamente transdisciplinar e criativo, bem como estendido ao longo do tempo em múltiplas etapas – de pesquisa, de estudo e criação, de exibição. Ao pontapé dos idealizadores, Clarice Hoffmann e Lourival Cuquinha, somaram-se, então, várias pessoas que emprestaram colaborações diversas ao projeto: na mediação entre os povos e os organizadores, nos workshops desenvolvidos, na elaboração dos vídeos coletivamente criados, na montagem das instalações/objetos, no acompanhamento e registro fotográfico, em vídeo e escrito, na programação visual dos produtos gráficos, no transporte e em outras atividades de apoio, no incentivo constante e amigo, dentre outros. Dado que vários já haviam tido experiências prévias com povos e comunidades tradicionais, poucos foram os que tiveram, no Macunaíma, uma vivência de cunho “iniciático” 12
Assim como os índios há muito já não são aqueles “índios do passado” – imagem estereotipada, difundida pela mídia e presente no imaginário popular mediante um cínico argumento de “autenticidade” que, em última instância, corrobora para a ignorância de grande parte da população mundial acerca das reais preocupações e dos interesses indígenas, difundindo preconceitos – também a arte a que me refiro como ‘interface de reconhecimento’ é outra, distante da ideia de obra de arte e flexibilizadora da concepção de artista. Há muitas décadas, a arte relativizou seu próprio ‘estatuto’; já se vai quase um século desde que, por meio dos ready-mades de Marcel Duchamp, ficou claro que a arte não mais se caracterizaria apenas pela criação de um objeto “original”, mas, expandidamente, pela ação do artista na e a partir da cultura. Esse debruçamento sobre as questões culturais vem a ser enfatizado, contudo, a partir da década de 1960, encontrando, mais adiante, um vasto espectro de experiências surgidas com os anos 1990. Assenta-se nos anos 1960, por parte dos artistas, um comprometimento político até então não vivido pela história da arte ocidental. No âmbito global, tem-se, por exemplo, a Internacional Situacionista, cujas/os as ações/pensamentos se aprofundaram e se fortaleceram junto às agitações que tomaram o mundo ainda naquela década. No Brasil, a presença problematizadora de Hélio Oiticica deixou uma herança até hoje investigada pela produção das gerações recentes. Entre as questões postas por sua obra, estão o esforço “desmaterializador” da arte (transformada em experiência e ambiente) e o interesse (e engajamento) diante das “minorias” – grupos sociais não hegemônicos cultural, política e economicamente. De sua aproximação com o morro, surgiram trabalhos como o slogan-bandeira “Seja marginal, seja herói!”, sinalizando uma mudança de perspectiva na interpretação do crime a partir da mitificação de seu praticante, o dito “criminoso”, que Oiticica então redefine como “marginal”, evidenciando, assim, suas implicações e seus condicionamentos sociais, aos quais é atribuída certa potência revolucionária. Durante as décadas que correram, esse “engajamento” adquire nova forma, complexidade e repertório de intenções. À arte, parece caber cada vez menos a “simples” função de “porta-voz dos excluídos”. Os 13
artistas surgidos nos anos 1990, cônscios da força de reverberação social da arte, somam-se às “minorias” no desejo de construir coletivamente ações e estratégias de empoderamento, heterogeneidade e espaços de enunciação de voz. Esse encontro, que encara a arte não como canal, mas como interface – prevendo um contato mais ativo entre as partes envolvidas –, vai aos poucos se caracterizando como ação expandida no tempo, no espaço e na linguagem, identificando-se mais, em sua tentativa de ir além da denúncia, à ideia de ativismo. Nessa forma de ativismo, sublinha-se, todavia, uma alargada exploração da linguagem. A “voz” já não corresponde unicamente à fala e invade a imagem, a ação, o ambiente, a experiência do corpo, pensados dialogicamente a tal ponto de serem lidos como uma possível estética relacional (Nicolas Bourriaud). Quando, numa das ações do Macunaíma Colorau, realizada em Cimbres (território do povo Xukuru), ao sino da Igreja de Nossa Senhora das Montanhas somou-se outro, composto de maracas que podiam ser acionadas por qualquer um, a qualquer momento (visto que seu mecanismo de controle pendia para fora da porta da Igreja), em exercício estava tal raciocínio dialogal. Tendo o catolicismo exercido domínio religioso/cultural sobre os povos indígenas e africanos, provocando o surgimento de estratégias de resistência e sobrevivência cultural como o sincretismo, a ponto de, por exemplo, Sr. Chico Jorge, índio Xukuru, dizer possuir duas religiões (“a do meu povo e a católica”), a duplicação do sino da Igreja permite a visualização desse processo, expondo convivências e conflitos. No sinomaraca reside, entretanto, uma fundamental diferença: a democratização de seu uso, a não necessidade de recorrer a hierarquias cultivadas pela distinção social – a prática coletiva tão essencial à cultura indígena; estado colaborativo almejado por tantas outras culturas. Dessa forma, a arte deixa de lado sua tradicional função de “representação” das relações e identidades para, agindo por outra via, cultivá-las e torná-las possíveis diante de uma cultura globalizante de mercantilização e espetacularização dessas. O Macunaíma Colorau não vai ao encontro dos povos indígenas e quilombolas para “captar uma imagem” que os singularize e represente, mas para promover um estado espaçotemporal de invenção – dialógica, crítica e contextualizada – dessas imagens-ações-ideias, construídas, ao longo do projeto, por meio da arte enquanto interface de (re)conhecimento cultural, como parte do interstício social.
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Da experiência, da interface, da voz De oficinas orientadas por artistas – Lourival Cuquinha e Zzui Ferreira –, cujo foco foi menos a história da arte do que as possibilidades de atuação social da produção artística (considerando também outros tipos de experimentação crítica, como o ativismo), surgiram roteiros para vídeos, que foram desenvolvidos coletivamente. Entre a videoarte e o filme, apresentam narrativas e inspiram metáforas. Estrategicamente vídeos, podem ser reproduzidos ao infinito. Além de terem sido coletivamente produzidos, podem ser largamente compartilhados em sua exibição que, por sua vez, podem se dar grupal ou individualmente: a partir dos vídeos, surgiram videoinstalações que ampliam o campo de significação destes, fazendo um convite físico à nossa interação com sua forma e conteúdo. Para além dos temas abordados – resistência, destruição, herança, identidade, dominação, guerra, preconceito, orgulho, entre outros –, a importância central dos vídeos reside no trânsito permitido por essa linguagem. Se um dos entraves públicos dos povos e comunidades tradicionais é a comunicação, ainda marcada pela origem não indígena/ quilombola do discurso hegemônico sobre o índio/quilombola, os vídeos produzidos pelo Macunaíma Colorau distinguem-se criativa e criticamente de tais discursos dominantes ao dar voz (e visibilidade) aos sujeitos em questão. O que se percebe, diferentemente das ideologias de cunho igualitário que marcam os discursos dominantes que outrora quiseram fazer crer na total aculturação desses povos, é a afirmação de uma posição de heterogeneidade. Não há, na voz vinda dos Xukuru, Truká, Kambiwá ou dos quilombolas de Castainho e de Conceição das Crioulas, a demanda por um processo de “inclusão cultural”. Contrariamente, persiste o desejo do reconhecimento, do estabelecimento, da compreensão e do respeito às diferenças, que para tal são enfatizadas. A relativa autonomização – relativa porque com a manutenção de evidentes vínculos, mormente econômicos – almejada pelos povos e comunidades tradicionais após séculos de subjugação física e simbólica contrasta dolorosamente com a expectativa burguesa e neoliberal da “inserção social”, cujo interesse subliminar é a preservação do foco emanador de poder: insere-se o outro para mantê-lo submetido à estrutura central de controle, que a tudo e todos engloba. A utopia da retomada de autonomia política vinculada à retomada da terra, horizonte informado por preceitos neorevolucionários presentes no movimento 15
consequentemente, toda a sociedade nacional. Aos direitos retomados nas últimas décadas (dentre os quais, centralmente, está a homologação dos territórios), somam-se uma série de “deveres” da sociedade nacional para com os povos e as comunidades tradicionais. O principal deles, acredito, uma espécie de comprometimento advindo da consciência de “fazer parte”, seja étnica, cultural, econômica, política ou historicamente.
indígena e quilombola (como no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, entre outros), aos poucos ganha corpo e, ao que parece, adquire força na situação do território Raposa Serra do Sol, localizado entre o Brasil e a Venezuela. Ao ocupar duas nações, vislumbra a possibilidade de fundar-se como uma terceira – “a terceira margem do rio”, de que falou Guimarães Rosa.
E o “fazer parte” tem estado também no cerne das preocupações artísticas/estéticas da última década1, marcada pela consciência de que a força entrópica da arte consiste em sua atuação micropolítica, calcada não na “representação” dos grandes programas ideológicos, mas na ação problematizadora (porque sensível e crítica) numa escala menor que aquela nacional, agindo subjetivamente em meio à alteridade. Já em 1964, Nelson Leirner criara o trabalho Você faz parte, caixa com 16 fechaduras com chave, numa das quais se tem, em vez da chave correspondente, um espelho que reflete a imagem do espectador. A obra parece fazer ver que, ao querermos conhecer o outro (ver através da fechadura, voyeuristicamente), estamos, de várias maneiras, nos reconhecendo. A arte, então, se expande e se reinventa como uma interface propícia a esse diálogo existencial.
Do terceiro Do encontro de dois mundos que se põem a dialogar heterogeneamente, sem a pretensão de domínio de um sobre o outro, pode nascer um terceiro. Não o “terceiro mundo” econômico, aquele caracterizado pelo acúmulo dos restos físicos e ideológicos do “primeiro” e “segundo” mundos, como outrora foi vista a organização global das nações que incluiu o Brasil na qualidade de número três da hierarquia. Mas uma terceira possibilidade, que ultrapasse campos e limites, gerando fluidez e flexibilidade; desejo de conexão e reconhecimento; afeto e política de convivência; e, mais uma vez, heterogeneidade. A ideia de diálogo persiste como meio de ação, mas dele não mais se espera a síntese (hipotético consenso entre tese e antítese). Quer-se a continuação da conversa. Descontínua continuidade Agora, a conversa é outra. Se, por exemplo, durante a história da colonização brasileira a Igreja coprotagonizou, principalmente através da evangelização compulsória, os esforços assimilatórios lançados na direção das culturas indígena e negra, ela hoje articula um dos órgãos de maior apoio à luta indígena, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Como slogan, recorre à ideia de um comprometimento histórico-cultural – “a causa indígena é de todos nós” – ao qual se filia através do argumento missionário. Tal reposicionamento da Igreja, ainda que possa conter nuances de recalque histórico, denota, contudo, não apenas uma mudança ética/étnica dos preceitos cristãos, mas, sobretudo, dá a ver as dinâmicas de reorganização social que tomam as sociedades a partir do empoderamento dos povos e das comunidades tradicionais. O crescente desenvolvimento do pensamento histórico por parte dessas comunidades (às quais anteriormente vislumbrava-se somente um pensamento mítico), hoje capazes de agir através dos canais legais de luta sancionados pelo Estado brasileiro, bem como à margem dele (como por meio das retomadas de terras entendidas, pela justiça, como “invasões”, por exemplo), reposiciona, portanto, não apenas os índios e quilombolas, mas, 16
Da interdependência
1. Personificações desse interesse foram as 27ª e 28ª Bienais de São Paulo, intituladas Como viver junto e Em vivo contato, respectivamente.
Edgar Morin, numa reflexão sobre ética, enuncia enfaticamente que “é preciso ser dependente para ser autônomo”2. Complexificando a ideia de autonomia, faz ver que, se a dependência tem a ver com a instauração de relacionamentos, a independência também o tem. Para a autonomia de índios e quilombolas, então, seria necessária sua interdependência, surgida em contatos colaborativos entre si e com a dita sociedade nacional, da qual obviamente fazem parte os artistas. A arte, que também já não se quer autônoma como ansiou ser por volta dos anos 1950 (quando preconizou uma ruptura radical com a “realidade”), coloca-se, nesse contexto, como um estado de convivência, uma interface cultural possível. Porque, no âmbito do possível, ocorre inclusive o improvável: Macunaíma, filho do Sol e da Lua.
2. morin Edgar. O Método 6: ética. Porto Alegre: Sulina, 2005. 222 p.
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de instalações, vídeos, fotografias. Mais adiante, mobiliza “não artistas” a pensarem também esteticamente suas – e nossas – inquietações políticas: os militantes das causas indígena e quilombola, Ângelo Bueno e Carol Leal, criam, juntos, para a mostra do Macunaíma Colorau no MAC – PE, uma instalação com 44 barretinas4 engaioladas. São 44 os índios Xukuru processados. Dentre esses, 23 condenados, dois cumprindo “uma injusta e ilegal prisão preventiva e os outros aguardando um indecoroso julgamento”5. Diante da criminalização indígena que vem sendo levada a cabo no Brasil, a arte se torna mais uma possibilidade de revolta.
Fagia
O Macunaíma Colorau chega à capital inchado, repleto de gente, experiências, trocas e ideias. De novembro a dezembro de 2009, ocupa o Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco com o que, ao longo de três anos, coletivamente produziu nos territórios Xukuru, Kambiwá, Truká, de Conceição das Crioulas e de Castainho. Reunidos, estão vídeos, fotografias, couros, beijus, gaiolas, almofadas, telas, terra, cercas, barretinas, fornos e corrente dos muitos realizadores do projeto, que se encontram nas ruas de Olinda para dias de luta e festa. Cem índios e quilombolas aqui se fundem aos seus pares artistas, ativistas, cineastas e antropólogos. Incluído pelo 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco em sua programação de atividades especiais, o Macunaíma por sua vez inclui a outros. Como célula, promove constantes fagias através de seu citoplasma Colorau.
Re-revolta Assim como o faz o capitalismo, a revolta também precisa mudar suas táticas de ação. Tal qual o primeiro, precisa introduzir-se nos mais inesperados recônditos, atiçando pouco a pouco a inflamação geral. A proclamada falência da revolução não extinguiu, contudo, os revolucionários, que estão nos protestos, nas comunidades indígenas e quilombolas, mas também nos museus.
Emergência Em 1979, Hélio Oiticica, após ter realizado inúmeras experiências coletivas, afirma que vivenciávamos “[...] uma passagem do individual, de valores individuais e individualistas, para o coletivo, [...] na realidade a gente está dividido, entre o mais individual e ao mesmo tempo imergindo nessa emergência do coletivo”1. Nesse contexto, sua obra não se pensava como obra de arte, mas como “estado de invenção”.“Não há mais possibilidade de existir estilo, ou a possibilidade de existir uma forma de expressão unilateral como seja a pintura, a escultura departamentalizada... Só existe o grande mundo da invenção...”2. 1. Hélio Oiticica em depoimento para o filme HO, em janeiro de 1979. FILHO, César Oiticica; VIEIRA, Ingrid (org). Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2009. 2. Idem.
Desacorrentados O prédio do Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco foi cadeia. Parece ter sido, desde o século XVIII, a única prisão eclesiástica do Brasil (aljube): inquisição. Sob jurisdição da Igreja, ali ficaram, por incontáveis anos, os acusados de cometer delitos contra a religião católica romana. Tal passado de instância homogeneizadora da diversidade cultural brasileira desaparece diante do Museu e do Macunaíma Colorau em seu esforço de fazer conviver heterogeneidades. À Capela de São Pedro Advíncula,parte do MAC – PE, soma-se o maraca gigante,marcando as diferenças sem desejar extingui-las: Sino-maraca. As demandas indígenas e quilombolas não desejam fazer com a cultura do outro o que esse tentou fazer com a sua:abafamento e homogeneização.
Trinta anos depois, o Macunaíma Colorau parece mostrar que Hélio acertara em sua constatação da “emergência do coletivo”. Assim como muitos outros grupos de arte e/ou ativismo Brasil afora, o projeto articula diferenças de forma plural, mobilizando artistas e “não artistas” num processo de invenção estética e política que vai além da ideia de arte, importando-se majoritariamente com os diversos níveis de mobilização social capaz de serem ativados por sua ação:“criar não é a tarefa do artista. Sua tarefa é mudar o valor das coisas”3.
3. Hélio Oiticica em Experimentar o experimental, entrevista originalmente publicada na revista Navilouca, em 1972. FILHO, César Oiticica; VIEIRA, Ingrid (org). Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2009.
Do Outro Mundo Óbvia e felizmente, não é tarefa exclusiva dos artistas “mudar o valor das coisas”. Longe de poderem fazê-lo sozinhos, e tantas vezes enfadados com uma arte que se pensava autônoma diante da realidade, põem-se a criar laços que aticem “estados de invenção”. A prévia experiência de Fred Zero Quatro, da TV Viva e dos Xukurus, na realização do clipe O Outro Mundo de Xicão Xukuru, atualiza-se nas diversas parcerias estabelecidas entre artistas, índios e quilombolas para a criação 18
O passado desses povos justifica seu presente, mas, a ele, índios e quilombolas não anseiam manter-se atados. Sobre a Praça Assis Chateaubriand, em frente à fachada do Museu, o ruidoso chamado6 da Corrente da Destruição, responsável pelo desmatamento de 400 hectares do território Kambiwá, relembra que correntes matam. É preciso insistir em sua substituição por laços.
4. Objetos da vestimenta ritual Xukuru. 5. Carol Leal. 6. Peça sonora produzida por Thelmo Cristovam.
Enlaçamento Incorporar sem destruir é antropofagia. Dizem que alguns índios brasileiros sabiam fazê-lo. Fomos atrás do rastro, e o Macunaíma Colorau se tornou um coletivo antropofágico. Em sua mostra no contexto do 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, incorporou também os artistas Tonho Ceará, Luiz Santos, Mateus Sá e Thelmo Cristovam. Nessa célula de ativismo e arte, o núcleo se deslocou para as pontas e é, agora, um grande citoplasma colorau. 19
Sino-Maraca, 2009 Composto por maracas e cabaças, o Sino-Maraca pode ser acionado por qualquer um, a qualquer momento, visto que todos têm acesso ao seu mecanismo de controle. O objeto foi instalado pela primeira vez entre os sinos da Igreja Nossa Senhora da Montanhas, localizada na Vila de Cimbres, território Xukuru. realizadores Lourival Cuquinha e Cícero Brasilino dos Santos (Bino) 20
Corrente da Destruição, 2009 Para a corrente destruidora de quatrocentos hectares de terra, mata e caça do território Kambiwá, Thelmo Cristovam preparou um objeto sonoro comissionado para dialogar com a gigantesca corrente de desmatamento, baseado em rígidas regras da organização da música concreta. Construído com sons reais, concretos, de desmatamento em vários locais ao redor do globo. realizador Thelmo Cristovam 23
Corrente da Destruição, 2009 Os Kambiwá relatam de uma maneira ficcional-novelesca a luta contra aqueles que tomaram posse de suas terras. No vídeo, Seu Ivan, uma das principais lideranças do povo Kambiwá, relata a luta contra a “corrente destruidora” utilizada pelas oligarquias locais para o desmatamento e a transformação das terras sagradas dos índios em grandes campos de pastagem. realizadores Ana Cristina Barbosa, Berenice Pereira da Silva, Damião Felix da Silva, Davi João dos Santos, Ediclecio José da Silva, Felipe Wanatã da Silva, Guilherme Josué da Silva, Irenilda Félix dos Santos, Ivan Pereira da Silva, Ivanice Luzia da Silva, Jailson Ivan da Silva, Jandira Irenilda dos Santos, João Simão Fi24
lho, João Vianes da Silva, José Filho da Silva, Joel Pereira da Silva, Joelma Pereira da Silva, José Gabriel da Silva, José Ivan da Silva, José Walas da Silva, Josué Pereira da Silva, Juliana Maria da Silva, Julião Josué Barbosa da Silva, Juvenal Walison da Silva, Juvina Pereira da Silva, Luana Maria da Silva, Lucas João dos Santos, Luzia Quitéria da Silva, Manuel Eduardo da Silva, Marco do Projeto, Maria Alice da Silva, Maria Antonia Gomes, Maria Catarina da Silva, Maria Creuza da Silva, Maria José da Silva, Mariana Alice da Silva, Mariano João dos Santos, Mateus Josué Barbosa, Quitéria Irenilda dos Santos, Sebastião da Silva, Sergio Damião da Silva, Valdenice Maria Barbosa, Valdiclecia Irair da Silva, Valdira Ana da Silva, Valmir Ricardo Barbosa, Weldo Ricardo Barbosa e Wereia Ivan da Silva. 25
Mapas de Pele Luiz Santos A foto tirada com a câmera lambe-lambe se aproxima muito de algo que eu poderia chamar de “foto com pele”. Tonho Ceará, parceiro dessa pesquisa visual, diz que é o tipo de retrato “casca grossa”, que arranca tudo que o sujeito tem ou esconde.
Retratos dos Kambiwá, 2006 O projeto A Volta do Lambe-Lambe idealizado e dirigido pelo artista Luiz Santos e realizado em parceria com Tonho Ceará, último fotógrafo lambe-lambe em atividade no Recife, retratou de forma ímpar o povo Kambiwá. Nessa série de retratos, selecionados especialmente para essa mostra do coletivo Macunaíma Colorau, o aspecto etnográfico das imagens engana olhares desatentos e àqueles que têm uma visão estereotipada sobre a “aparência” física de índios. Realizadores: Luiz Santos e Tonho Ceará
Mapas de pele no A Volta do Lambe-lambe e no Macunaíma Colorau, não somente na cor, ou menos isso. A pessoa, física, como uma paisagem imensa de um astro planetário, sobrevoada por naves prospectoras a perguntar, investigar, admirar. A alma tem grandes chances de localizar-se na pele, peri, feérica. Foi atrás de pele que percorreu-se um bom monte de terra do sertão de Pernambuco, no Macunaíma e no A Volta; atrás de alma: pela palavra e pela medição de máquinas. Você é branco, índio, negro? A máquina responde. A pessoa responde. Só não responde quem pensa que a diferença que aproxima está na cor. Os retratos que Tonho Ceará e eu realizamos, numa simbiose propícia à arte, querem expor a alma que entendemos. São tantas as outras possíveis.
Território Cercado, 2009 Jovens de Conceição das Crioulas falam sobre as cercas que impedem o livre acesso dos quilombolas ao seu próprio território. Com potência, criatividade e autocrítica, eles contrapõem a força e os ideais do movimento aos entraves criados por interesses de forças políticas contrárias à luta que, por vezes, chegam até mesmo a provocar desunião e ameaçar a secular aliança entre quilombolas e indígenas. No final, um recado àqueles que estão no centro do poder do País. realizadores Allyson Martins da Silva, Ashley Martins da Silva, Cícero Mendes, Clodoaldo José de Souza e Silva, Daniel de Oliveira Bezerra, Danilo Pedro de Oliveira Bezerra, Edina Antonia de Oliveira, Evânia Antonia de Oliveira, Fabiana Ana da Silva Mendes, Gilsa Maria da Silva, Gisania Maria da Silva, Islaine Maria da Silva, Leydiane Maria da Conceição, Lucicleide Maria de Oliveira, Maria de Lourdes da Silva, Mauro Sergio Leite, Aurilia Mônica de Oliveira, Patrícia Maria da Silva e Thays de Oliveira. 28
Buraco Negro, 2009 Para o fotógrafo Mateus Sá, o termo Buraco Negro sempre o remeteu a algo misterioso. O fim por si só, o inverso da criação. “Isso sempre me fez refletir sobre a existência, o significado da vida e para onde ela caminha a partir das escolhas que fazemos no seu decorrer”. A série faz parte de uma tríade que trata da questão ambiental com foco no desmatamento urbano. realizador Mateus Sá 31
Guerreiros da Água e da Terra, 2009 Jovens Truká percorrem as ruas de Cabrobó amordaçados em uma performance que fala mais alto do que qualquer mensagem veiculada por um potente carro de som. Ao final da caminhada, eles duelam com a maior autoridade do País no Buraco do Geddel, construído pelo Exército durante a visita do ministro da Integração, Geddel Vieira Lima, às obras de transposição do Rio São Francisco. 32
realizadores Ana Maria da Silva, Cláudia da Silva, Clebson Pereira Nunes, Francinaldo P. dos Santos, Jéssica Carinhanha Marques, João Paulo Carinhanha Marques, Joseilson Damacena Carinhanha, Larissa de Sá Alves de Oliveira, Maria Luiza Santos Neta, Maurílio Nogueira dos Santos, Tania Maria da Silva, Thaís Andressa Carinhanha da Silva, Vinícius Lima dos Santos e Vitória Jamaria Lima dos Santos. 33
Me Apertou Sem Me Abraçar, 2009 Fogões usados nos processos de retomada Truká escrevendo a frase “Me apertou sem me abraçar”, do Cacique Neguinho, que traduz as tentativas de cooptação do povo por parte de várias instâncias de poder que apertam, mas não afagam. realizadores Lourival Cuquinha e Ivan Alves dos Santos
Lapada Seca, 2009 De forma poética, jovens quilombolas de Castainho relacionam a principal atividade econômica da comunidade à luta que se trava em suas mentes ao se depararem com o preconceito racial. Um duelo enfrentado muitas vezes de forma solitária, que tritura a autoestima de qualquer um, mas aqueles que o vencem tornam-se livres como seus ancestrais – negros e negras do Quilombo dos Palmares. realizadores Edivane Lopes Isidio, Erivaldo Lopes Isidio, Jaqueline Lopes de Brito, João Lopes da Silva, Joseane Silva Lopes, Josenaldo Lopes Bernardo, Liliane Luciana Bernardo da Silva, Madalena Lopes Bernardo, Maria José da Silva Lopes, Manoel da Silva Gomes, Renaldo Lopes Bernardo, Valmira Mendes Barbosa.
Barretinas e Gaiolas, 2009 Na gaiola, 44 barretinas – objeto da vestimenta ritual – expressam a indignação coletiva contra a criminalização dos índios Xukuru de Ororubá. Quarenta e quatro são os indígenas processados, entre eles 23 condenados, dois cumprindo uma injusta e ilegal prisão preventiva e o restante aguardando um indecoroso julgamento. realizadores Carol Leal e Angelo Bueno 38
Sangue de Fogo, 2009 Atualmente, o povo Xukuru detém 98% do controle político, ambiental e econômico de seu território. Como ocupar essas terras e desenvolver atividades econômicas, preservando o meio ambiente da magnífica Serra Ororubá, é hoje uma das principais discussões desse povo. Neste vídeo, os jovens Xukurus retratam exatamente essa preocupação, ultrapassando os limites do território indígena ao abordar um problema que é de todos nós: a destruição do meio ambiente e suas consequências para a vida. 40
realizadores Adilson Henrique Barbosa, Ana Carolina Cabral de Lima, Anna Flávia Araújo Dantas Silva, David Rian Araújo de Amorim, Diego Renan Araújo de Amorim, Eliane Beserra dos Anjos, Gilmário Raony Martins da Silva, Guilherme Araújo Marinho Magalhães, José Silvânio Soares da Paz, Maria Deysiany Alves dos Santos, Micaele Simplício, Rayra Millena de Araújo Mandu, Ronaldo Santos da Paz, Wyne Nogueiro de Souza. 41
Você é Macunaíma Colorau?, 2009 Videopesquisa acumuladora de dados e experiência para o desenvolvimento do projeto. Nela, centenas de indivíduos são provocados a se autodefinirem do ponto de vista “colorau”: étnico, racial, cultural, epidérmico, etc. Cerca de 500 entrevistados, moradores dos epicentros dessa babilônia étnica e racial, respondem muitas vezes de forma surpreendente se são índios, brancos ou negros. E você, sabe o que é? Negro, branco ou índio? Ou todos? Ou alguns? Ou nenhum? realizadores Angelo Bueno, Clarice Hoffmann, Çarungaua, Guma Farias, Lourival Cuquinha, Renato Pimentel, Thelmo Cristovam e Zzui Ferreira.
47° SALÃO DE ARTES DE PERNAMBUCO Coordenação executiva
Rosa Melo
Coordenação de montagem
Clarice Hoffmann Produção executiva
Cláudia Moraes (Página 21) Produção
Adah Lisboa | Janaisa Cardoso Design gráfico e de montagem
Luciana Calheiros e Aurélio Velho (Zoludesign) Fotografia
Paulo Melo Júnior vídeodocumentarista
Leo Crivellare
Planejamento de comunicação
Dani Acioli (Aponte Comunicação) Coordenação de Educativo
Lúcia Cardoso
Educador Núcleo de Mediação
Niedja Santos Mediadores
J osé Rafael | Rebeca Matos | Paloma Borba | Vivianne Valença | Yale Cerqueira Design Sonoro
Thelmo Cristovam Montagem e pintura
Estevão Mendes | Ivan Amorim (mac) marcenaria
Otoniel Silva eletricista
Sebastião Farias EQUIPAMENTOS DE PROJEÇÕES
Tom Produções impressão
MXM Gráfica e Editora AMPLIAÇÕES FOTOGRÁFICAS VOIL
Studio Mundo Alfa
AMPLIAÇÕES FOTOGRÁFICAS couro
Ilha de Tecnologia Sinalização
Ultrasign
COLETIVO MACUNAÍMA COLORAU
Adilson Henrique Barbosa | Alice Pereira | Allyson Martins da Silva | Ana Carolina Cabral de Lima | Ana Cristina Barbosa | Ana Maria da Silva | Andrelino Neto da Silva | Angelo Bueno | Anna Flávia Araújo Dantas Silva | Antonio Neto da Silva | Ashley Martins da Silva | Aurilia Mônica de Oliveira | Berenice Pereira da Silva | Carla da Silva Lopes | Carlos Machado | Carol Leal | Clarice Hoffmann | Clarissa Diniz | Cláudia da Silva | Célio Murilo Macena | Cícera Maria da Silva | Cícero Brasilino dos Santos (Bino) | Cícero Mendes | Clebson Pereira Nunes | Clodoaldo José de Souza e Silva | Çarungaua | Damião Felix da Silva | Daniel Barros | Daniel de Oliveira Bezerra | Daniela Brilhante | Danilo Pedro de Oliveira Bezerra | Davi João dos Santos | David Rian Araújo de Amorim | Diego Renan Araújo de Amorim | Ediclecio José da Silva | Edilson Pereira | Edina Antonia de Oliveira | Edivane Lopes Isidio | Eliane Beserra dos Anjos | Erivaldo Lopes Isidio | Eunice Maria da Silva | Evânia Antonia de Oliveira | Fabiana Ana da Silva Mendes | Felipe Wanatã da Silva | Francinaldo P. dos Santos | Francinete Maria da Silva | Gilmário Raony Martins da Silva | Gilsa Maria da Silva | Gisania Maria da Silva | Guilherme Araújo Marinho Magalhães | Guilherme Josué da Silva | Guma Farias | Irenilda Félix dos Santos | Islaine Maria da Silva | Ivan Pereira da Silva | Ivanice Luzia da Silva | Jailson Ivan da Silva | Jandira Irenilda dos Santos | Jaqueline Lopes de Brito | Jéssica Carinhanha Marques | João Lopes da Silva | João Paulo Carinhanha Marques | João Simão Filho | João Vianes da Silva | Joel Pereira da Silva | Joelma Pereira da Silva | José Carlos da Silva Lopes | José Filho da Silva | José Gabriel da Silva | José Ivan da Silva | José Silvânio Soares da Paz | José Walas da Silva | Joseane Silva Lopes | Joseilson Damacena Carinhanha | Josenaldo Lopes Bernardo | Josué Pereira da Silva | Juliana Maria da Silva | Julião Josué Barbosa da Silva | Juvenal Walison da Silva | Juvina Pereira da Silva | Larissa de Sá Alves de Oliveira | Lela | Leydiane Maria da Conceição | Liliane Luciana Bernardo da Silva | Lourival Cuquinha | Luana Maria da Silva | Lucas João dos Santos | Lucicleide Maria de Oliveira | Luiz Santos | Luzia Quitéria da Silva | Madalena Lopes Bernardo | Manoel da Silva Gomes | Manuel Eduardo da Silva | Marco do Projeto| Maria Alice da Silva | Maria Antonia Gomes | Maria Catarina da Silva | Maria Creuza da Silva | Maria Deysiany Alves dos Santos | Maria de Lourdes da Silva | Maria José da Silva | Maria José da Silva Lopes | Maria Luiza Santos Neta | Mariana Alice da Silva| Mariano João dos Santos | Mateus Josué Barbosa | Mateus Sá | Maurílio Nogueira dos Santos | Mauro Sergio Leite| Micaele Simplício | Mozart | Patrícia Maria da Silva | Petrônio de Lorena | Quitéria Irenilda dos Santos | Rayra Millena de Araújo Mandu | Renaldo Lopes Bernardo | Renato Pimentel | Rogério Barata | Ronaldo Santos da Paz | Silvaneide Soares dos Santos | Sebastião da Silva | Sergio Damião da Silva | Severina Soares | Tania Maria da Silva | Thaís Andressa Carinhanha da Silva | Thays de Oliveira | Thelmo Cristovam | Tonho Ceará | Vinícius Lima dos Santos | Valmira Mendes Barbosa | Valdenice Maria Barbosa | Valdiclecia Irair da Silva | Valdira Ana da Silva | Valmir Ricardo Barbosa | Romário | Vitória Jamaria Lima dos Santos | Weldo Ricardo Barbosa | Wereia Ivan da Silva | Wyne Nogueiro de Souza | Zzui Ferreira