Recursos Didáticos Melhoram a Criatividade da Formação Sugestões práticas para a utilização adequada e eficaz de recursos didáticos são o tema principal da entrevista a Luís Relvas, especialista e formador de recursos didáticos, um dos nossos parceiros desde há 15 anos, e autor do mais importante blogue em língua portuguesa sobre recursos didáticos na formação profissional e do referencial Utilização do PowerPoint para Desenvolvimento de Produtos Interativos para Formação. Conversa longa e aprofundada mas repleta de informação útil, tal como as sessões do Luís. Nuno Queiroz de Andrade (NQA): Durante as três décadas em que tem sido formador, o que é que tem melhorado na qualidade da formação que se faz no nosso país? Luís Relvas (LR): Sou da geração do quadro de ardósia. Como técnico que toda a vida trabalhou com meios audiovisuais (fotografia, cinema e vídeo) fui testemunha da evolução tecnológica e do progresso que felizmente “invadiu” o mundo da formação e contribuiu para o aumento da sua qualidade. Pela minha experiência verifico que os jovens formandos estão completamente integrados com estas tecnologias e equipamentos, descobrem novas utilizações e constroem novas aplicações que vão facilitando e estimulando a criatividade no mundo da formação. Na minha perspetiva, este aspeto é muito motivador e desafiante.
Atualmente, quando se entra numa sala de formação e não se vê no teto ou numa mesa um projetor de data parece que ficamos “desarmados”. Formadores e formandos usam os seus PC,o seu PowerPoint e as suas apresentações para transmitir quase todo o tipo de conhecimento. Começa a ser um exagero. Os meios mais clássicos: quadros, retroprojetor, etc. Quase que desapareceram das salas. A fotografia e o vídeo digitais ocuparam, com grandes vantagens, o espaço dos meios clássicos. São simultaneamente meios que permitem transmitir toda a criatividade e imaginação de quem os utiliza e contribuem em grande escala para a melhoria da qualidade do trabalho do formador.
O aumento do número de formadores certificados permitiu separar o “trigo do joio” e constituir um lote de profissionais altamente qualificados que ao transmitirem os seus conhecimentos e experiência permitem um diálogo construtivo e enriquecedor entre formando e formador e com o qual todos ficam a lucrar. Infelizmente, por vezes, a quantidade tem prejudicado a qualidade. Teremos todos, formadores e formandos, de lutar pela manutenção da qualidade e pela competência dos intervenientes de modo a que a evolução continue numa época em que o país bem necessita. NQA: Os programas de apresentação, como o PowerPoint, são o recurso didático mais utilizado pela maioria dos/as formadores/as. A que se deve tal utilização massiva? LR: Deve-‐se, acima de tudo, à percentagem de computadores cujo sistema operativo é o Windows da Microsoft. Analisando o gráfico, verificamos que somando os diferentes Windows obtemos praticamente 75% do mercado de PC. O mercado de Mac OS está cerca dos 9% e Linux nos 1,66%. Além deste fator, muitos desses PC trazem também instalado o Microsoft Office. Como o PowerPoint faz parte do Office fica quase tudo explicado.
A “pirataria” através da Internet permite facilmente obter o Office, o que o torna ainda mais popular. Todos nós recebemos diariamente apresentações feitas em PowerPoint como anexos de muitos mail que recebemos o que nos estimula a também construir e divulgar apresentações elaboradas com o mesmo programa. É fácil encontrar à venda ou fazer download grátis de manuais de todas as versões de PowerPoint.
Muitos utilizadores desconhecem que também há versões de Office para MacOS. Visualmente o layout é diferente do do Windows mas o software faz exatamente o mesmo. As apresentações construídas em PowerPoint nos diferentes sistemas operativos, salvo pequenos detalhes, são compatíveis o que permite fácil intercâmbio entre os dois sistemas operativos. Em sessões de formação, quando tenho de explicar este software, é evidente que utilizo exclusivamente o PowerPoint no sistema Windows. É o que todos os formandos usam nos seus PC. Quando trabalho outros temas como fotografia, recursos didáticos, etc. uso o Keynote da Apple. Pessoalmente, como utilizador do MacOS, costumo construir as minhas apresentações neste software que faz parte de um conjunto de programas que formam o conjunto iWork que é semelhante ao Office. Outro software de apresentações que começa a ser muito utilizado é o PREZI. Tem uma estrutura de construção e funcionamento completamente diferente do PowerPoint mas muito interessante. Com Prezi é muito fácil dar largas à imaginação e criatividade. Link para tutorial em português do Prezi: http://prezi.com/yb0bryu1olrj/prezi-‐tutorial-‐em-‐portugues-‐baseado-‐no-‐prezi-‐de-‐adam-‐ somlai-‐fischer/ NQA: Quais as três principais recomendações para a construção de uma apresentação útil e de qualidade? LR: Muito sinceramente: Simplicidade, simplicidade e simplicidade. Parece exagero mas é a pura da verdade. Aqui estão algumas dicas que considero importantes: Antes de ligar o computador e “abrir” o PowerPoint sente-‐se e pense: • • •
Porquê/para quê -‐ Qual o objetivo da sua exposição/apresentação? O quê -‐ Quais as ideias importantes do seu assunto para a audiência reter? Como? Que estrutura vou usar, como vou dispor os elementos, etc.
-‐ Ao planear, faça-‐o em modo analógico, ou seja, em vez de mergulhar logo no software faça um esboço das suas ideias e objetivos com lápis e papel onde pode desenhar um organigrama para estruturar e organizar tudo. Se puder use um quadro de escrita grande. Pode usar a tecnologia digital quando constrói e exibe a sua apresentação. -‐ O ato de falar e comunicar com a sua audiência para persuadir, vender ou informar é bastante analógico. -‐ As boas apresentações incluem histórias. Os bons apresentadores ilustram as suas ideias com o uso de histórias. -‐ A maneira mais simples de explicar ideias complicadas é através de exemplos ou partilhando histórias que ilustrem o assunto. As histórias são fáceis de recordar. Se possível, basear as histórias em imagens. -‐ Há 3 componentes envolvidos numa apresentação: a audiência, você e o meio (PowerPoint). O objetivo é criar uma espécie de harmonia entre os 3. -‐ Reduza o texto da sua apresentação ao mínimo. Os melhores diapositivos podem nem ter texto. Lembre-‐se que os diapositivos são para apoiar ou complementar o discurso do orador e não para tornar o orador supérfluo. -‐ Não leia o texto dos diapositivos palavra a palavra. A audiência sabe ler.
-‐ Evite usar modelos/templates Microsoft. -‐ Evite usar ClipArt e WordArt do PowerPoint. O objetivo não é decorar; é comunicar. -‐ Use e abuse de imagens de alta qualidade, sobretudo fotografias. -‐ Use animações e transições com moderação e só se se justificar. -‐ Use vídeo e áudio só se for indispensável. Consomem imensos recursos do PC e podem causar bloqueios. -‐ Limite as ideias a uma ideia principal por diapositivo. -‐ Visibilidade, legibilidade e síntese são os três fatores fundamentais de cada slide/diapositivo. -‐ Afaste-‐se do púlpito e comunique com a audiência. Se possível, use um comando a distância para fazer avançar a apresentação. -‐ Lembre-‐se da tecla “ponto final” em modo de apresentação (o ecrã fica negro e a atenção da audiência recai sobre o apresentador). -‐ Mantenha contacto visual com a audiência e nunca lhe vire as costas. -‐ Vá com calma. -‐ Nunca ponha a sala às escuras. Termino com duas citações que refiro nas minhas formações: “Tornar o que é simples em complicado é vulgar; tornar o complicado em simples é criatividade” (Charles Mingus) “Simplicidade é a suprema sofisticação” (Leonardo da Vinci) NQA: Que outros recursos didáticos, além dos programas de apresentação, recomenda que os/as formadores/as utilizem para introduzir diferenciação nas sessões de formação? LR: Tablets. Há muitos Tablets tipo iPad ou Asus além de outras marcas e modelos que podem ser usados para mostrar ou demonstrar e que têm imensas aplicações simples e úteis para os ambientes iOS e Android. Muitos deles podem ser ligados a projetores de data, com as vantagens que todos conhecemos. Comandos a distância para apresentações em PowerPoint ou Keynote que permitem ao formador controlar praticamente todas as funções de uma apresentação. Como funciona via rádio, não é necessário apontar o comando ao computador o que permite uma grande liberdade de posicionamento e movimentação em sala. Alguns destes comandos têm ponteiro laser. Temos exemplos aqui e aqui.
Há também software que se pode instalar em alguns telemóveis e que permite fazer ainda mais funções. Um destes software é grátis e pode fazer download a partir deste endereço e outro, não grátis, pode ser encontrado neste endereço. Fotografia e vídeo digitais são dois recursos importantíssimos. Atualmente são muito fáceis de fazer ou obter. A maioria dos telemóveis e máquinas fotográficas mais recentes fazem fotografia e vídeo com qualidade suficiente para inserir numa apresentação. Na Internet é muito fácil obter imagens explorando o Google (atenção ao tamanho e qualidade do ficheiro). Também se podem usar ou fazer download de vídeos do YouTube. Desde que disponha de uma ligação à Internet durante a apresentação pode e deve usar links a vários sites ou a outros ficheiros para ilustrar aquilo de que está a falar. Não “enche” tanto a apresentação de ficheiros e há menos hipótese de surgirem problemas. Por exemplo, pode fazer links para vídeos no YouTube em vez de os inserir na apresentação. Como já referi a utilização de vídeo e áudio inseridos nas apresentações podem causar bloqueios e crash nos PC com poucos recursos (memória RAM e velocidade de disco e processadores). Faça vários testes com o seu PC para se certificar de que tudo corre bem, antes da verdadeira exibição. Nunca esqueça a famosa Lei de Murphy -‐ "Se alguma coisa puder correr mal, correrá mal".