As tecnologias de informação e comunicação (TIC) e a educação Lubélia de Paula Souza Barbosa Garantir a todos o direito ao uso das TIC é essencial nos dias atuais, o governo tem investido em tecnologias, equipando as escolas com computadores e acesso à internet. No Projeto de Lei nº. 8.035/2010 (PNE) é marcante a recorrência da menção às TIC como estratégia para a consecução das mais diversas metas, com ênfase na redução da desigualdade social. Nos mais variados discursos à democratização do acesso a informação é posta como sinônimo de conhecimento. Por outro lado, ainda são poucos, comparativamente, os discursos produzidos do lugar da Escola, dando conta da contextualização das TIC nas práticas pedagógicas, não como novos meios para executar as “mesmas” tarefas, mas para a instauração de diferenças qualitativas no trabalho docente e na qualidade da educação. Segundo Alípio Casali (2011), a qualidade da educação pode ser compreendida no campo de quatro dimensões, a saber: précondição, condição, práticas e resultados. No rol das pré-condições, está, por exemplo, a democracia, o estado de direito, as políticas públicas com recursos adequados, a remuneração digna dos profissionais da educação, sua formação inicial e continuada, entre outras. Como condição, instalações adequadas (salas de aula, laboratórios, equipamentos – e podemos incluir computadores, internet etc.) vestuário e alimentação, processo de avaliação permanente, gestão democrática, infraestrutura com direito a acesso às tecnologias etc. Como práticas, um currículo que integre a escola com a comunidade, que propicie a aprendizagem cognitiva, emocional, social, que respeite cada sujeito em sua diversidade; práticas essas vivenciadas em relações de respeito, solidariedade, liberdade. São resultados, a formação pessoal e social, a autoestima, a emancipação dos sujeitos, a apropriação do espaço público, a capacidade de ser bem sucedido no mundo do trabalho, de participar socialmente. Daí, a necessidade da reflexão acerca do caminho a ser percorrido no sentido da apropriação das TIC nos processos de ensinar e aprender, no enfrentamento da expropriação do conhecimento do professor. Deixando de considerar as inter-relações concretas que constituem as práticas pedagógicas em nome da fragilidade associada à formação profissional. Neste tempo-espaço, pensar a formação de professores implica no sentido do centramento do processo de trabalho, abrangendo finalidade, matéria e instrumentos/meios, tendo como horizonte o redimensionamento de formação e trabalho docente pela intervenção crítica para a transformação da prática concreta. O uso das TIC em vários setores da sociedade é um fenômeno crescente e, porque não dizer, irreversível. Numa sociedade que muda muito rápido e onde, cada vez mais, as informações assumem papel de destaque, desenvolver a capacidade de transformar estas informações em conhecimento e potencializar interações é um desafio da escola e dos seus professores. As TIC potencializam estas interações, criando novos espaços de aprendizagens. Para Siemens (2004), aprender é conectar ideias, competências, pessoas e recursos para a resolução de problemas. As TIC conectam pessoas e recursos educacionais proporcionando uma mudança no centro de gravidade da escola: de centro de ensino para centro de aprendizagem. As TIC, segundo Ponte, Oliveira e Varandas (2003) podem colaborar com o professor na criação de situações de aprendizagem estimulantes, favorecendo, também, a diversificação das possibilidades de aprendizagem. Não é um desafio que possa ser enfrentado sozinho. Portanto, dominar as ferramentas que proporcionem a comunicação e interação entre professores e aprendizes é razão mais do que suficiente para que as TIC se tornem tão familiares aos professores de hoje como foram os livros e as lousas na Era Industrial. Com o crescimento da oferta de conexão e também da possibilidade de acesso a bens digitais pelos professores, quer seja
pelo barateamento dos computadores (devido a políticas fiscais) ou mesmo graças a políticas públicas de modernização da Escola e/ou de capacitação dos seus profissionais, se torna cada vez mais necessário que profissionais de educação, comprometidos com o seu tempo, usem mais intensamente os recursos da internet. Não se trata aqui de utilizar a qualquer custo as tecnologias, mas sim de acompanhar conscientemente uma mudança de civilização que está questionando profundamente as formas institucionais, as mentalidades e cultura dos sistemas educativos tradicionais e, notadamente, os papéis de professor e aluno. Segundo Levy (2007), o que está em jogo na Cybercultura, é a transição entre uma educação e uma formação estritamente institucionalizada (escola, universidade) e uma situação de intercâmbio generalizado dos saberes, de ensino da sociedade por ela mesma, de reconhecimento autogerido, móvel e contextual das competências. Antigas crenças de ensino e métodos de educação estabelecidos devem ser remodelados para incorporarem os benefícios que as TIC podem trazer. E o papel da educação nesse contexto, não menos real, é o de servir como instrumento capaz de consolidar aprendizagens, pela amplitude de possibilidades de obtenção de conhecimento, troca de informações, comunicação, como instrumento para ser utilizado no processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, o currículo pode ser pensado a partir de experiências que propiciem a apropriação das tecnologias e dos conteúdos a serviço de uma vida digna para todos. Aprender a utilizar as TIC é fazer um investimento na criação de competências e isso não virá apenas pela democratização do acesso à educação, mas pela qualidade do processo educativo. Qualidade esta que pode ser alcançada alocando as tecnologias como instrumentos a serviço da educação, promovendo interações e experiências educativas, possibilitando as condições para que sejam estabelecidas relações privilegiadas com o aluno, entre alunos e desses com os professores e o meio, transformando o seu modo de pensar e agir, levando-os a interrogarse e a repensar as estratégias utilizadas para a criação de novos esquemas e estruturas cognitivas. Para tanto, é imprescindível que o professor compreenda as implicações das TIC na sala de aula, ele deve criar condições para que seus alunos possam recontextualizar o aprendizado, procurando propor estratégias e reflexões que contemplem a autoria dos alunos e preservem a função essencial da escola: o desenvolvimento da autonomia do ser humano e a produção de conhecimentos, aspectos que fundamentam a construção da cidadania para a vida nesta nova fase da Cybercultura. PONTE, J. P., OLIVEIRA, H., & VARANDAS, J. M. O contributo das tecnologias de informação e comunicação para o desenvolvimento do conhecimento e da identidade profissional. In D. Fiorentini (Ed.), Formação de professores de Matemática: Explorando novos caminhos com outros olhares (pp. 159-192). Campinas: Mercado de Letras, 2003. SIEMENS, George. Conectivismo: uma teoria de aprendizagem para a idade digital. Dez. 2004. Disponível em:<http://www.webcompetencias.com/textos/conectivismo.htm>. Acesso em: 19 jun.2008. LÉVY, P. A Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. – São Paulo: Ed. 34, 6ª reimpressão, 2007. Conferência Nacional de Educação (CONAE). Disponível em: http://fne.mec.gov.br/images/pdf/documentoreferenciaconae2014publicacao_numerada3.pdf Projeto de Lei nº.8035/2010 (PNE). Disponível em:
http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/5826 CASALI, Alípio. O que é educação de qualidade? - In: Quanto custa universalizar o direito à educação? Brasília: UNICEF/CONANDA, 2011.