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Vida e Cidadania
GAZETADOPOVO SEGUNDAFEIRA, 25 DE MAIO DE 2015
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Aparelho de assistência ventricular é esperança de cardíacos Estudos clínicos com pacientes de São Paulo e do Ceará devem começar ainda neste ano. Expectativa é que o sistema chegue ao mercado em 2016 e seja adotado pelo SUS Caroline Olinda
Como o Homem de Lata, do filme O Mágico de Oz, não são poucos os homens, de carne e osso, que sonham em ter um coração. No Brasil, de acordo com dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, até março deste ano eram 262 pessoas. As estatísticas mostram que, para cerca de 40% delas, a morte chegará antes do novo coração. Nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, esse quadro mudou na última década muito devido à popularização dos dispositivos de assistência ventricular (VAD, na sigla em inglês) implantáveis. Usada como um tratamento ponte até o transplante e, em alguns casos, como tratamento fim, a técnica
ainda é rara no Brasil por causa do preço. A situação devemudar a partir do ano que vem, com a entrada de um VAD nacional no mercado brasileiro. Desenvolvido pela empresa StudHeart, o dispositivo já passou pela fase de testes in vitro e em animais com sucesso. Agora, de acordo com os desenvolvedores do sistema, estão sendo compilados documentos que serão enviados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a liberação dos estudos clínicos, em humanos. Segundo o criador do sistema, o italiano Alessandro Verôna, já foi confeccionado um lote de 50 bombas para essa fase de avaliação. Os estudos serão feitos em pacientes do Incor de São Paulo e do Hospital do Coração de Messejana (CE), que também é referência no tratamento de doenças cardíacas. Sem um fabricante no Brasil, o custo médio de um VAD implantável – que pode ser usado fora do ambiente hospitalar – é de R$ 500 mil. Porenquanto, os fabricantes evitam falar no valor que o sistema serávendido.Mas,afirmamque ficará pormenos da metade do praticado atualmente. “Ainda não estamos falando em nú-
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meros, mas a ideia é que seja bem acessível. A intençãoé que ele seja adotado pelo SUS”, comenta o médico cardiologista Flávio Studart, que também faz parte da equipe de desenvolvimento do VAD nacional. Flávio explica que, além de servir como uma ponte até o transplante, em alguns casos o VAD também é usado como uma terapia fim. Isso ocorre em situações em que o paciente sofre de insuficiência cardíaca severa, mas o transplante não é recomendado devido a outros problemas de saúde. Esseé o caso, normalmente, dos mais idosos. Estudos de fora do país indicam que, apesar de eficaz como tratamento para pessoas em estágio final e insuficiência cardíaca, o futuro da tecnologia deve ser justamente como um apoio a longo prazo. Normalidade A vantagem desse sistema é que ele possibilita que a vida siga quase dentro da normalidade para o doente. O acompanhamentomédicoconstantee o uso de medicamentos – como anticoagulantes, para evitaro risco de trombose, e antibióticos, por causa da possibilidade de infecções– continua a ser necessário. E, apesar de implantado no peito, o dispositivo também possui uma parte extracorpórea. São duas baterias de lítio de um sistemade controle,que devemser carregados junto ao corpo todo o tempo. De qualquer forma, as experiências de fora do Brasil mostram que há um ganho de qualidade – e tempo – de vida para os precisam de um transplante de coração. “Você melhora a qualidade de vida do paciente e aumenta a sobrevida. Além disso, ele pode ficar fora do hospital e voltar às suas atividades cotidianas”, defende Flávio.
SEX. CONSUMIDOR
SAB. HISTÓRIA
O AJUDANTE DO CORAÇÃO Confira como funciona o Dispositivo de Assistência Ventricular (VAD):
Funcionamento normal
Como funciona a circulação O lado direito do coração recebe o sangue pobre em oxigênio e o bombeia pelas artérias pulmonares até os pulmões. Lá, o sangue é oxigenado e volta para o coração, dessa vez, para o lado esquerdo. O sangue então é impulsionado para a aorta e segue de volta para o resto do corpo. sangue oxigenado
sangue desoxigenado
Sangue que vem da cabeça e membros superiores veia cava superior
Sangue enviado à cabeça e membros superiores
1
aorta ascendente
7
4
Insuficiência
4 3
6 5
2 ventrículo direito veia cava inferior
Em seu funcionamento normal, o coração recebe sangue oxigenado pelos pulmões na mesma medida em que o sangue sem oxigênio sai do coração e segue para o pulmão.
átrio esquerdo
No quadro de insuficiência, o lado esquerdo do coração não consegue bombear todo o sangue oxigenado do pulmão para o corpo. Isso cria um volume residual de sangue no pulmão, que passa a ficar inchado.
ventrículo esquerdo
1
Sangue que vem do tronco e membros inferiores
O A PA R E L H O
8
aorta descendente
Sintomas: Falta de ar, tosse persistente, ganho de peso, palpitações, dificuldades para dormir, fadiga, perda de apetite, redução do volume de urina, náuseas e inchaços nos pés e nos tornozelos.
Sangue enviado ao tronco e membros inferiores
1.
O coração é incapaz de bombear adequadamente o sangue para a aorta ascendente
Flávio Studart, cardiologista
dispositivo entra por uma incisão
bateria
sistema de controle
2.
Uma mini-bomba de sangue de fluxo contínuo é implantada dentro do ventrículo esquerdo, pelo ápex do coração.
O sistema de controle possibilita que o paciente ou médico calibre a velocidade de rotação da hélice, que determina o quanto o dispositivo irá auxiliar o coração. A bateria tem autonomia de 30 horas. O conjunto inclui uma bateria adicional.
Hélice
3.
A bomba é ligada por um tubo à aorta descendente. O sangue oxigenado segue para o corpo.
“Melhora a qualidade de vida do paciente e aumenta a sobrevida. Ele pode sair do hospital e voltar à atividade cotidiana.”
Parte externa
o movimento das hélices espirais cria um fluxo de sangue o sangue segue pelo tubo conectado à aorta descendente
Testes O dispositivo já foi testado em ovelhas, e o resultado foi considerado excelente pelos médicos. A última etapa será a avaliação no tratamento de humanos com cardiopatia terminal. Isso só ocorrerá após a liberação das autoridades competentes. Fonte: StudHeart. Infografia: Lucas dos Santos / Gazeta do Povo.
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A peça principal da máquina é uma pequena hélice de titânio que cria um fluxo laminar de sangue.