AVIÁRIO DAS ARTES: ARTE COLABORATIVA NO ASSENTAMENTO CONQUISTA NA FRONTEIRA

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TERRA – MST CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATU SENSU ARTE NO CAMPO UDESC/MST

AVIÁRIO DAS ARTES: ARTE COLABORATIVA NO ASSENTAMENTO CONQUISTA NA FRONTEIRA

Lucas Sielski Kinceler

FLORIANÓPOLIS, ABRIL DE 2015

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AVIÁRIO DAS ARTES: ARTE COLABORATIVA NO ASSENTAMENTO CONQUISTA NA FRONTEIRA

LUCAS SIELSKI KINCELER

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso Latu Sensu Arte no Campo UDESC/MST como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista.

Banca Examinadora Orientador: ____________________________________________________ (Prof Me. Paulo Renato Viegas Damé) UFPEL

Membros: ____________________________________________________ Prof. Dr. Luiz Sérgio de Oliveira UFF ____________________________________________________ Prof. Dr. Douglas Ladik UDESC

FLORIANÓPOLIS 28/04/2015

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AGRADECIMENTOS

Agradeço profundamente a todos os moradores do Assentamento Conquista na Fronteira por me acolher desde o inicio como parte da família, confiando no trabalho. Aos Jovens do Coletivo de Jovens Sidnei Scher, por haver conhecido cada um de vocês e saber que estamos construindo juntos uma nova possibilidade. Por nos tornarmos um só coletivo em prol do Aviário. Por todos os momentos e por me ensinar suas virtudes. Por todas as trocas e compartilhamento de saberes. Ao Curso Arte no Campo por contribuir com minha formação e possibilitar o trabalho junto ao Assentamento. A todos os alunos que se tornaram colegas. A todos os professores pelos ensinamentos e paciência. A Gustavo Tirelli, a Gilberto Dal Grande e Lidiane Cézar pela parceria, amizade e comprometimento, que sem vocês o projeto não aconteceria. A Paulo Damé pela orientação e companheirismo. À Banca agradeço pela aceitação e desde já por suas contribuições. A minha família e amigos A meus Pais.

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“De minha parte, eu acredito que o lócus decisivo para a transformação politica e cultural será precisamente no nível dos coletivos, sindicatos, grupos ativistas e ONGS progressistas em conjunto com as lutas e movimentos políticos que vão desde o local até o transnacional” Grant Kester

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RESUMO

O presente trabalho visa relatar, refletir e compartilhar experiências entorno do projeto “Aviário das Artes”, desenvolvido durante o curso de Especialização em Arte no Campo UDESC/MST. Um trabalho de arte colaborativa socialmente engajada, que vem ocorrendo desde Abril de 2014 junto ao Coletivo de Jovens Sidnei Scher e a comunidade do Assentamento Conquista na Fronteira em Dionísio Cerqueira, SC. Diferentes práticas colaborativas e transdisciplinares vêm ocorrendo com o intuito de compartilhar a criatividade, a imaginação, o convívio, e as trocas de saberes junto ao Coletivo de Jovens e a Comunidade.

Palavras Chave: Arte Colaborativa, Transdisciplinariedade, espaço cultural comunitário, Coletivo de Jovens Sidnei Scher, Assentamento Conquista na Fronteira

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9 2 CAPÍTULO I. CAMINHOS ATUAIS.................................................................... 13 3 CAPÍTULO II. RELATOS DE ENCONTROS......................................................23 3.1 Encontro 1 ............................................................................................................... 23 3.2 Encontro 2 ............................................................................................................... 27 3.3 Encontro 3 ............................................................................................................... 32 3.4 Encontro 4 ............................................................................................................... 38 3.5 Encontro 5 ............................................................................................................... 44 3.6 Encontro 6 ............................................................................................................... 50 3.7 Encontro 7 ................................................................................................................55 4 CONCLUSÃO........................................................................................................... 58 5 REFERÊNCIAS..........................................................................................................61

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INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo compartilhar experiências em torno do projeto “Aviário das Artes”. O Projeto “Aviário das Artes” está sendo um desdobramento dentro do Curso de Especialização Lato Sensu em Arte no Campo UDESC /MST1. Iniciado em Agosto de 2013, o curso com caráter interdisciplinar teve em sua estrutura metodológica o “Tempo Escola” e o “Tempo Comunidade”. O “Tempo Escola” destinado aos módulos bimensais contendo as disciplinas do curso. Já o “Tempo Comunidade” correspondendo ao período entre módulos que proporcionou atuações práticas em diferentes assentamentos da reforma agrária de Santa Catarina. Assim, diferentes grupos de alunos foram criados para a atuação na comunidade. No presente caso o “grupo de atuação na comunidade” foi formado por Lucas Sielski Kinceler, Gustavo Tirelli e Gilberto Dalgrande e enviado para realizar o trabalho do Tempo Comunidade junto ao Coletivo de Jovens Sidnei Scher no Assentamento Conquista na Fronteira em Dionísio Cerqueira, SC. O Assentamento, está localizado no extremo oeste de Santa Catarina e foi formado em 1988. Após superar as dificuldades no processo de formação, optaram pelo caminho do trabalho coletivo2. O espírito de união e cooperação está enraizado no Assentamento que sob este aspecto é modelo para o Brasil e para o Mundo. Neste contexto a juventude da comunidade se organizou em 1995 formando o Coletivo de Jovens Sidnei Scher3. O Coletivo é composto por 21 jovens entre 15 e 25 anos. O grupo é majoritariamente constituído por jovens que nasceram no Assentamento e possuem naturalmente em seu cotidiano valores sócio-culturais pautados na coletividade. A partir das primeiras idas ao Assentamento percebemos uma lacuna frente as ações relacionadas à arte e a falta de um espaço físico para atividades artísticas voltado para os jovens. Portanto, como preocupação principal de nossa proposta pensamos em como 1

“O curso tem como objetivo formar profissionais capacitados para ampliar a inserção da arte na vida dos assentamentos rurais da reforma agrária, enquanto um recurso poético e pedagógico que possa empoderar seus moradores, contribuir para a expressão de seus diferentes segmentos e articulá-los no enfrentamento de seus problemas.” Em: https://artenocampo.wordpress.com/ 2

Alguns anos depois de se assentarem, fundaram a “Cooperunião”. A cooperativa possui uma organização estabelecida por Setores. Atualmente vivem 41 famílias em um lote compartilhado de aproximadamente 1200 hectares. Sua produção é diversificada passando de mel ao mate, sendo as principais atividades produtivas o leite e o frango. 3 Coletivo de Jovens Sidnei Scher: Anderson Draszevski, Ariane de Oliveira, Bruna Luiza Cezar, Camilo Miotto, Cladis Chiquelero, Elivandro Assis, Elizandra do Rosário, Gian Binder, Gilson Névio, Jonas Binder, Karise Rodrigues, Kellen Rodrigues, Lidiane Cezar, Luana Binder, Marcelo Martin Weber, Mathias Weber, Milena Matt, Silvana de Vargas, Sônia Chiquelero, Thalia dos Santos e Tiago José Casarin.

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contribuir com o encantamento dos jovens e da comunidade para o engajamento e continuidade de práticas artístico-culturais? Tais fatores nos motivaram a realizar um trabalho em arte colaborativa que estivesse em alinhamento com os valores já enraizados no Assentamento. Cabe salientar que o grupo enviado para atuar na comunidade já vinha realizando uma prática artística sob as bases da arte colaborativa/arte pública4, foi então que ocorreu a junção ideal com os valores de cooperação da comunidade. O presente trabalho está estruturado em dois capítulos, onde o primeiro “Caminhos Atuais” apresenta as teorias que influenciaram a pesquisa, expondo exemplos recentes de grupos que vem expandindo o campo da arte colaborativa ao redor do mundo. No segundo capitulo “Relatos de Encontros” visa o compartilhamento de experiências a partir de relatos e reflexões sobre o processo do projeto Aviário das Artes. Metodologia Ao descobrirmos a existência de 12 aviários desativados no Assentamento surgiu a ideia de ativação de um desses lugares para realização de ações artístico-culturais. Alterando sua função inicial ao qual foi projetado o espaço transformou-se em um “Aviário das Artes”. Segundo Michael DeCerteau, “o espaço é o lugar praticado”, ou seja, o espaço surge ao vivenciar o lugar, na medida em que indivíduos exercem dinâmicas de movimento nele através do uso, e assim o potencializam e o atualizam5. A metodologia esteve atrelada à processos e experiências desenvolvidas dentro do Grupo de Pesquisa Arte e Vida nos Limites da Representação –UDESC/Cnpq. Tais como a produção de práticas colaborativas e transdisciplinares. Momentos de criatividade compartilhada, tendo a oficina como principal catalizador de trocas intersubjetivas para a criação de plataformas de saberes e desejos compartilhados6. Foram realizadas primeiramente 4

Dentro do Grupo de Pesquisa Arte e Vida nos Limites da Representação –UDESC/Cnpq, coordenado pelo professor José Luiz Kinceler. Integrando também o Coletivo Geodésica Cultural Itinerante em Florianópolis. . 5 (GUIDEROLI. Ilma; COLOMBO. Camila. O espaço segundo Michel de Certeau. Em: <http://roteirosflutuantes.blogspot.com.br/2010/06/o-espaco-segundo-michel-de-certeau.html>. Acesso em: 16 fevereiro 2015.) 6

Ver: Geodésica Cultural Itinerante e a Revolução dos Baldinhos: A Horta Vertical como uma Plataforma de Saberes e Desejos Compartilhados em Arte Colaborativa. Belém do Pará. Anais 22o Encontro Nacional Anpap, 2013. Disponível em: http://www.anpap.org.br/anais/2013/ANAIS/simposios/06/Jos%C3%A9%20Luiz%20Kinceler,%20Leonardo%20Lima,%20 %20Paulo%20Villalva%20e%20Lucas%20Sielski%20Kinceler.pdf e Arte Colaborativa: O Coletivo Laava como uma Plataforma de Desejos Compartilhados. 4o Ciclo de Investigações PPGAV Udesc. 2009. Disponível em:

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atividades para integrar e fortalecer o grupo para o surgimento de outros deslizamentos a partir do desejo do coletivo. Foram criados contextualmente oficinas e encontros de atividades simultâneas para trocas de saberes visando a produção de sentido e experiência Bondia (2002). Jorge Larrosa Bondía em seu texto “Notas sobre a experiência e o saber de experiência” aponta: A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece. Dir-se-ia que tudo o que se passa está organizado para que nada nos aconteça.1 Walter Benjamin, em um texto célebre, já observava a pobreza de experiências que caracteriza o nosso mundo. Nunca se passaram tantas coisas, mas a experiência é cada vez mais rara. Em primeiro lugar pelo excesso de informação. A informação não é experiência. E mais, a informação não deixa lugar para a experiência, ela é quase o contrário da experiência, quase uma antiexperiência. (BONDÍA 2002, p.2)

Deste modo nosso objetivo esteve atrelado à geração de experiências para contribuir no processo de descoberta do que realmente toca o jovem. Propostas como meios para estimular a criatividade, expansão da subjetividade, sensibilidade, imaginação, colaboração e união. Estimulando um processo de descobertas, explorações de novas formas de coexistência, incluindo a valorização das relações interpessoais, dos saberes dos jovens e dos saberes da comunidade. Um processo de convívio prolongado com o intuito de gerar transformação e empoderamento. Na busca por explorar diferentes possibilidades de experiência encontramos na transdiciplinariedade um modo de atravessar o campo das disciplinas, permitindo que coexistissem diferentes saberes sem hierarquias. Sendo ampla, inclusiva e harmônica, a transdiciplinariedade promove uma visão mais integral do mundo. A transdisciplinaridade é uma teoria do conhecimento, é uma compreensão de processos, é um diálogo entre as diferentes áreas do saber e uma aventura do espírito. A transdisciplinaridade é uma nova atitude, é a assimilação de uma cultura, é uma arte, no sentido da capacidade de articular a multirreferencialidade e a multidimensionalidade do ser humano e do mundo. Ela implica numa postura sensível, intelectual e transcendental perante si mesmo e perante o mundo. Implica, também, em aprendermos a decodificar as informações provenientes dos diferentes níveis que compõem o ser humano e como eles repercutem uns nos outros. A transdisciplinaridade transforma nosso olhar sobre o individual, o cultural e o social, remetendo para a reflexão respeitosa e aberta sobre as culturas do https://ciclo2009.files.wordpress.com/2009/11/jose-luiz-kinceler_arte-colaborativa-o-coletivo-laava-como-umaplataforma-de-desejos-compartilhados.pdf

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presente e do passado, do ocidente e do oriente, buscando contribuir para a sustentabilidade do ser humano e da sociedade. (O que é a TransD, Centro de Estudos Transdisciplinares, CETRANS, disponível em: http://cetrans.com.br/cetrans/o-que-e-a-transd/) A Profa. Patricia Limaverde Nascimento escreve a partir de Edgar Morin que um dos pressupostos da Transdisciplinaridade é o Pensamento Complexo. Tratando-se de uma nova maneira de perceber e pensar o mundo: Edgar Morin defende esse pensamento como uma maneira de repensar a realidade e a educação. O Pensamento Complexo é uma maneira de sair de um padrão de pensamento cartesiano, que leva à fragmentação do conhecimento, negligenciando as relações que existem entre esses conhecimentos e que são essenciais à visão significativa do todo. Ao propagar a ideia de um Pensamento Complexo, apostamos em uma mudança de paradigmas, passando de um paradigma de dominação e poder, de fragmentação, classificação e hierarquização, para um paradigma de cooperação, que valoriza e restabelece as relações, as atitudes significativas. (Pensamento Complexo, P.1) disponível em: https://transdisciplinaridade.wordpress.com/2012/01/20/pensamentocomplexo/ )

O projeto Aviário das Artes lida com o pensamento complexo que Morin propõe, visando sempre fortalecer este paradigma de cooperação. Tratando os saberes de maneira horizontal, mais próximos da realidade e dialogando de forma democrática. Deste modo, estabelecendo novas redes e pontos de conexão.

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CAMINHOS ATUAIS Pode- se perceber no cenário contemporâneo de praticas artísticas, uma emergência de ações socialmente engajadas. Colaborações entre coletivos, ONGs, ativistas,

centros

comunitários, escolas e uma pluralidade de pessoas com diferentes aptidões, que possuem em comum o comprometimento com o outro e a vontade de um mundo melhor. Estando preocupados com o futuro do planeta, seus recursos naturais e seus bens culturais. Através de ações coletivas e criativas se unem para encorajar-se, superar os problemas e muitas vezes desafiar os interesses políticos e econômicos locais ou globais. Neste cenário o artista passou de um estado de isolamento (de gênio artístico e possuidor de uma técnica específica), para atuar como mediador e propositor de situações que contribuam para tais questões, gerando zonas de convívio, reinvenção do cotidiano, produção de subjetividade e experiência. KINCELER (2013). Alguns autores como Grant Kester e Reinaldo Laddaga vem contribuindo para ampliação do campo artístico propondo novas relações da arte com a vida. Grant Kester (2006), mapeia diferentes exemplos de grupos de arte socialmente engajada que possuem como metodologia a prática artística colaborativa. Ações que utilizam a oficina como meio para interação entre as pessoas envolvendo artistas e não artistas. Para Kester (2006) o poder da arte reside no fato de esta desestabilizar formas padronizadas de identidade e modelos sociais. Já Laddaga em seu livro Estética da Emergência, apresenta exemplos de proposições colaborativas que vem gerando modos de existência e ecologias culturais. Aponta para um regime prático das artes contraposto a um antigo regime estético da modernidade (Rancière). Com base em Laddaga (2006), Amador Fernández-Savater escreve em Notas sobre a Estética de la Emergência7,

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“En definitiva, en el régimen práctico no se producen tanto obras, como ecologías culturales, comunidades experimentales, procesos abiertos y cooperativos, formas de vida y mundos comunes. En el “régimen práctico”, el espectador ya no es un desconocido silencioso, sino un colaborador activo que realiza acciones orientadas a modificar estados de cosas inmediatos en el mundo. Lo que se hace ya no se presenta en exterioridad al lugar donde aparece (un museo por ejemplo), sino que construye directamente espacios de vida (o interviene en ellos). Lo que se hace no son tanto obras-eventos que magnetizan o agreden al espectador, sino contextos de investigación y aprendizaje colectivo, laboratorios al aire libre. Y lo que se produce sobre todo son vínculos y conexiones, visibilización de esas conexiones, interrogación sobre lo conectado.” .” (Notas sobre a Estética de la Emergência, P.1) disponível em: http://medialab-prado.es/mmedia/7897

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Definitivamente, no “regime prático” não se produzem tanto obras, como ecologias culturais, comunidades experimentais, processos abertos e cooperativos, formas de vida e mundos comuns. No “regime prático”, o espectador já não se apresenta em exterioridade ao lugar onde aparece (um museu por exemplo), senão que constrói diretamente espaços de vida (ou intervém neles). O que se faz não são tanto obras-eventos que magnetizam ou agridem ao espectador, senão contextos de investigação e aprendizagem coletivo, laboratórios ao ar livre. E o que se produz sobre tudo são vínculos e conexões, visibilidade dessas conexões, interrogação sobre o conectado. (SAVATER. Notas sobre a Estética de la Emergência, p1. tradução nossa)

O projeto “Aviário das Artes” se espelha em tais questões para se constituir em um laboratório de práticas multidisciplinares e transdisciplinares aberto ao desejo de seus ativadores. Um espaço cultural comunitário em construção (Fig. 01).

Fig.01 – Preparando a argila FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Para contextualizar estes marcos teóricos a seguir se apresentam algumas propostas artísticas colaborativas que vem ocorrendo ou já ocorreram ao redor do mundo que, sob determinados aspectos e respeitando seus contextos, o Projeto Aviário das Artes possui certas semelhanças. São eles The Land, Park Fiction, Navjot Altaf – “Dialogue”, “Nalpars”, “Pilla Gudi” e Projeto Quietude Da Terra. The Land “The Land” é um projeto/processo colaborativo localizado na comunidade de Sanpatong próximo a capital Chang Mai na Tailandia. Foi fundado por Rirkrit Tiravanija e Kamin Lerdchaiprasert em 1998 e constutuiu a “fusão de idéias de diferentes artistas para cultivar um lugar de e para o engajamento social.” Está localizado em uma região de fazendas de arroz que apresentava um grande êxodo rural devido as enchentes que afetavam a produtividade dos campos. Para incentivar a produção local o governo os oferecia para o desenvolvimento a custo menor. Assim os artistas conseguiram adquirir um terreno e iniciar o projeto. O objetivo foi “abrir o espaço para fins públicos para agricultura natural auto-sustentável e realizar um laboratório de experiência nos aspectos sociais de convivência regular e naturalmente.” “The Land foi iniciado com o anonimato e sem o conceito de propriedade. The Land era para ser cultivada como um espaço aberto, embora com certas intenções em relação à comunidade, no sentido de discussões e para a experimentação em outros campos de pensamentos.” O ambiente topográfico do local foi cultivado através da filosofia e de técnicas agrícolas com princípios budistas do agricultor Tailandês, Chaloui Kaewkong. O terreno estabelece uma relação com o corpo humano. Sua área foi desenhada para possuir ¼ de terra (massa) e ¾ de água (liquido), mesmas proporções de nosso corpo. Artistas de diferentes localidades vem desenvolvendo projetos em The Land como o grupo dinamarquês Superflex, Tobias Rehberger, Philippe Perreno, Francios Roch, além de arquitetos e estudantes da universidade local. Uma comunidade auto-sustentável se formou onde plantam arroz, constroem suas casas, possuem sistemas de biogás e produção alternativa de energia elétrica, purificação e viabilização da água; comercialização e troca de produtos, meditação Vipassana, yoga e arte. Além de realizar atividades culturais e encontros artísticos abertos a outras comunidades. Atualmente dois projetos “The Land” e “Umong Silppadhamma” se uniram para formar a “The Land Foundation”. Esta promove um programa de residência artística aberto a interessados do mundo inteiro que possibilita uma imersão no local para desenvolver um projeto, colaborar com outras pessoas e vivenciar as atividades do próprio espaço, seguindo três fundamentos: auto-sustentabilidade, diálogo e auto-controle.

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Fig. 3 Festa (Noeway ridge beam party)

Fig. 2 Cerâmicas Fig. x Cerâmicas

Fig. 5 Casa do artista Rirkrit Tiravanija

Fig. 4 Superfex - Instalação de biogás

Fig. 7 Programa de Residência Artística “One Season Project” em The Land

Fig. 6 Plantação de Arroz

FONTE: http://www.thelandfoundation.org

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Park Fiction Foi um projeto/ processo de arte colaborativa engajada que iniciou em 1994 na cidade de Hamburgo na Alemanha. No bairro portuário de Saint Pauli as margens do rio havia um terreno com alta especulação imobiliária onde o governo previa a construção de edifícios coorporativos. Frente ao processo de gentrificação que seria iniciado os moradores do bairro se uniram para criar um processo de planejamento paralelo que estivesse em alinhamento com os anseios da comunidade. Segundo um dos ativistas envolvidos foi necessário realizar “uma rede na comunidade muito ampla e inteligente, por um novo grupo de táticas, truques, sedução e teimosia”. Reivindicar o espaço significava enfrentar o poder de frente. O bairro já possuía um histórico de resistência, quando os moradores tomaram o controle de vários quarteirões da cidade na década de 80. Se formou o movimento chamado Park Fiction. Diferentes práticas culturais sempre foram aliadas deste movimento de ocupação; mobilizando teatros de rua, radio pirata, pintura mural visando desafiar a policia e atrair a atenção da mídia, consolidando um senso de solidariedade e integração no bairro. Possuíam como estratégia a criação de plataformas alternativas de troca entre os residentes e pessoas das mais diversas áreas culturais: músicos, sacerdotes, uma diretora, uma cozinheira, um barman, um psicólogo, posseiros, artistas e moradores intervencionistas. Ações de protesto que articulavam processos complexos de conversações, conferências, palestras, debates, exposições, exibições, eventos de música e arte. Realizaram um “planejamento urbano não autorizado”. Utilizavam um , no local e que também se movia em torno do bairro para recolher os desejos dos moradores. O processo de trabalho levou a slogans como: “Os desejos vão sair de casa e ir para as ruas”, “Arte e política tornam-se mutuamente mais inteligentes”, “Uma produção colaborativa de desejos” e "O parque é um lugar, modelado após o Paraíso, o parque nos mostra como o mundo poderia ser" Uma ficção que foi capaz de ser vivenciada e concretizada na realidade a partir do desejos manifestos e articulados pelos participantes. Após exercerem pressão suficiente sobre as autoridades da cidade conseguiram transformar o lugar em um parque público. O Parque foi finalizado em 2005 e conta atualmente com o “Tapete Voador”, um gramado ondular cercado por um mosaico inspirado na Alhambra, a Ilha do “Teagarden” que conta com palmeiras artificiais que está rodeada por um banco de 40 metros de Barcelona. Para manter o horizonte de planejamento do Parque aberto se realizará o “Instituto de Urbanismo Independente”. O projeto participou da Documenta 11 de Kasel, em Viena e também na Italia onde foram expostos arquivos documentais do processo em pequenas arquiteturas disponibilizando vídeos e impressos informativos.

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Fig. 8 Vista geral do parque em construção, Banco “Tapete Voador” e “Teagarden Island”

c Fig. 35 Banco tapete-voador

Fig. 9 “Arquivo de Desejos”, 1996

no cais

Fig. 11 Projeção de filmes

Fig. 10 Manifestação em solidariedade

a Gezi Park em Instambul

Fig. 13 Container de Planejamento Urbano Independente

Fig. 12 Exposicao Documenta 11-Kassel, 2002

FONTE: http://park-fiction.net/

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Navjot Altaf – “Dialogue”, “Nalpars” e “Pilla Gudi” A artista indiana Navjot Altaf iniciou sua carreira na década de 1970 e desde então vem atuando através de diferentes meios filmes, esculturas, instalações, fotografias, passando as fronteiras disciplinares permeando arte e ativismo político. Seu engajamento social ocorre de múltiplas maneiras. Trabalhou intensamente a problemática do feminino através de sua compreensão da teoria marxista. Analisando profundamente a temática feminista nos campos da história social da arte, teoria cultural e psicanalítica. Incorporou em sua própria prática artística leituras profundamente engajadas de arte histórica e contemporânea, cinema e teoria cultural. “Sua metodologia verifica os aspectos interativos de colaboração, em que o trabalho emerge de uma interação dialógica estendida e, simultaneamente, altera a relação convencional entre o espectador e a obra de arte.” A artista trabalha com músicos, documentaristas, ativistas, público em geral e artesãos e já expos seus trabalhos em diversos países. Desde 1997 tem colaborado com a comunidade indiana Adivasi. Os Adivasi são a população nativa indiana que sofre descriminação social e econômica. Em colaboração com os artistas indianos Rajkumar, Shantibai e Gessuram, construíram um pequeno centro cultural independente na vila de Kopaweda, chamado “Dialogue” “Diálogo”. Criaram o centro no intuito de desenvolver projetos com o povo Adivasi e as comunidade passantes. Inicialmente contaram com o apoio financeiro da “Fundação Indiana para as Artes” mas logo tiveram que ser autossuficientes dependendo da venda de trabalhos de arte de Altaf e outros colaboradores. O nome do centro reflete uma questão chave de sua filosofia criativa. Atividades coletivas, processos de aprendizado reciproco, criação e diferentes formas de interação social. Um dos maiores problemas na região é o acesso à água, o grupo iniciou projetando bombonas de água mais eficiente e ergonômicas para diminuir os esforços físicos realizados na coleta e transporte da água. Para definir o local de instalação das bombonas, organizaram oficinas colaborativas envolvendo a população local. Este processo originou pequenas construções semiesculturais que se tornaram importantes pontos de encontro para as mulheres e crianças (um dos poucos lugares que podiam encontrar-se e interagir socialmente), recriando os Nalpars (fontes de água). Outra construção recriada foram os Ghotuls. Estes eram espaços dormitórios onde os jovens mais velhos ensinavam aos mais novos diferentes artes, poemas, danças, permitindo encontros entre jovens de ambos sexos se encontrarem. Estes espaços começaram a sofrer repressão por parte da população Hindu. Percebendo isto a artista desenvolveu em colaboração com diferentes artistas, com o povo Adivasi e não Adivasi os Pilla Gudi (“Templo das Crianças”), centros para atividades ou trocas entre os jovens da vila, artistas, aberto a qualquer pessoa interessada. Criaram-se diferentes espaços onde as crianças poderiam se encontrar, brincar e ensinar um ao outro fora do sistema formal da escola ou do templo. Organizavam oficinas, rodas de conversas, apresentações, e atividades que encorajam novos modos de interação e convivência.

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Fig. 14 “Bomba D’Água”, Kondagaon, India, 2007 Fonte: Grant Kester

Fig. 15 Estrutura Nalpar: Bairro de Kopaweda, Bastar, 2005

Fig. 16 Centro: Diálogo Associação Artística Interativa,

Kopaweda, 2004

Fig. 17 Pilla Gudi (Templo das Crianças) em Kusma.

Desenhado por Rajkumar e construido coletivamente em madeira, virdo, barro e telhas de terracota, 2000.

FONTE: http://www.navjotaltaf.com/pillagudi.html

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Projeto Quietude da Terra “The Quiet in the Land “Quietude na Terra” é uma série de projetos de arte e educação comunitários iniciados pelo curador de arte contemporânea e historiador France Morin, em 1995, que já ocorreu em 3 países diferentes. Laos, Shakers e Brasil. Um projeto multicultural em busca de uma forma de trabalhar que reafirma o potencial de artistas contemporâneos como catalisadores de mudança positiva. Esta nova forma possivelmente abriria uma nova linguagem para falar sobre a relação entre arte e vida, em que as definições padrão de termos como “artista”, “comunidade” e “obra de arte” talvez já não seriam mais adequados. “Com a criação de situações em que os artistas e as comunidades podem trabalhar em conjunto para perceber tanto as diferenças que os separam e as semelhanças que os ligam, esses projetos se esforçam para ativar o "espaço entre" grupos e indivíduos como uma zona de potencialidade, em que a relação entre arte contemporânea e vida pode ser renegociado. Fundamental para cada projeto é uma concepção de arte enraizada na cultura do espírito criativo que está dentro de cada um como um poderoso agente de ambas transformações pessoal e social.” No Brasil foi realizado em Salvador, Bahia, em 1998, junto ao Projeto Axé. Axé é uma palavra de origem Yorubá que significa o poder de realização através da força da natureza, energia vital junto a crença nos Orixás e Ancestrais. O Projeto Axé é uma ONG que desenvolve atividades de arte e educação junto a crianças, jovens e adolescentes em situação de rua de Salvador visando seu resgate e inclusão social. Segundo o blog do projeto “O projeto não adotou o perfil assistencialista, não faz caridade. Trabalha de forma a conscientizar os jovens e crianças das situações anti-sociais em que vivem, com diálogos e conselhos, deixando partir destes, o interesse de se integrar à instituição”. Atualmente conta com mais de 1000 jovens. O agenciamento do projeto Quietude da Terra consistiu em convidar 19 artistas de diferentes partes do mundo para realizarem trabalhos colaborativos com os jovens do projeto Axé. Os artistas moraram por 6 semanas em Salvador. Mesmo com recursos limitados e superando desafios econômicos os organizadores mantiveram o projeto. Cada artista escolheu um centro do projeto Axé para trabalhar. O objetivo principal das ações realizadas era estar em uníssono com a filosofia do Axé “empoderar as crianças transformando sua energia transgressiva, de uma força de destruição em uma força de criação”. “Ajudar as crianças a compreender por elas mesmas , como elas conduziram a suas próprias vidas, que a arte não tem que ser uma atividade privilegiada, mas pode preferivelmente ser uma aproximação ao mundo:

um trajeto do auto conhecimento, ao orgulho/ dignidade, e

empoderamento”

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As crianças, compartilhando suas histórias poderosas, e seu senso de transgressão, auxiliaram os artistas a repensar as relações de sua vida e seu trabalho para o reino além do mundo da arte, estabelecendo-se trocas em que todos se empoderaram.

Fig.18, 19 e 20. FONTE: Imagens do Catálogo “A quietude da terra: vida cotidiana, arte contemporânea e Projeto Axé = The quiet in the land : everyday life, contemporary art and Projeto Axé / France Morin. -

A maioria destes projetos são propostas complexas que trabalham com problemas reais, com situações do cotidiano, indo muitas vezes na direção contraria ao caminho comum, padronizado. Se enfrentam, saem de suas zonas de conforto. Assumem a arte como ferramenta de transformação social e transformação do individuo. Empoderam seus envolvidos, se contaminam na troca e no dialogo se fortalecem. Possuem caráter transdisciplinar e estimulam processos de criação compartilhada. O Projeto Aviário das Artes, busca nestes exemplos bem sucedidos se espelhar e entender seus processos criativos, estruturais, logísticos, para também iniciar novos processos de ativação na comunidade.

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RELATOS DE ENCONTROS O Projeto Aviário das Artes iniciou em Abril de 2014, a partir de idas ao Assentamento, a que chamamos de “Encontros”. Durante o ano foram realizados 7 encontros em uma dinâmica quase mensal. Normalmente cada encontro durava 3 dias completos de atividades (com exceção do 3o encontro que durou 9 dias), totalizando 27 dias de atividades. A dinâmica de “produção” dos encontros foi descoberta no processo, a partir do entendimento do funcionamento do assentamento, suas jornadas de trabalho, estudo e lazer. No presente caso os jovens estudavam de manhã e trabalhavam 4 horas à tarde em diferentes setores produtivos do Assentamento. O “tempo livre” que restava para outras atividades se concentrava nos finais de semana. As datas para os encontros eram escolhidas em conjunto com os Jovens, observando o calendário de acontecimentos do próprio Assentamento. Para a realização das ações/atividades nos adaptamos também ao contexto pensando práticas e experiências que poderiam fazer sentido a partir dos desejos por eles manifestados. Dentro desta dinâmica, Lidiane Cezar, colega do curso de especialização, nascida no Assentamento, participante do Coletivo de Jovens e professora da escola interna do Assentamento, se tornou uma articuladora entre o Coletivo, Comunidade e o “grupo de atuação na comunidade”. Esta comunicação e amizade criada foi fundamental para o sucesso do projeto já que aos poucos nos tornamos um só coletivo em prol do Aviário.

Encontro 1 A primeira ida ao Assentamento Conquista na Fronteira em Dionísio Cerqueira ocorreu nos dias 5 e 6 de Abril de 2014. Foi possível iniciar o processo de entendimento e reconhecimento do local e das pessoas. Fomos muito bem recebidos, como uma família (Fig.21). Junto a alguns jovens realizamos um trajeto pelo assentamento, passando por suas principais estruturas físicas; o espaço comunitário, o alojamento, a área de lazer, a escola multiseriada “Construindo Caminho”, a ciranda, o campo de futebol, as hortas de subsistência, medicinal e a lavoura. Começava assim a vivenciar o lugar me adaptando ao meio. Escutando mais que falando. Experimentando uma nova culinária; novos sabores, frutas, comidas. Um outro clima, mais seco e com temperaturas contrastantes. Logo nos levaram a conhecer 4 cachoeiras, o que incluiu a visita à maior queda do Oeste. Um momento mágico que marcou o primeiro encontro (Fig.22).

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Foi ao voltar das cachoeiras que descobrimos a existência dos 12 aviários desativados. No mesmo momento surgiu a ideia de utilizarmos aquele lugar para ações artístico-culturais e com o passar do tempo se definiu o nome “Aviário das Artes”. Ao realizar nossa primeira reunião onde apresentamos algumas possibilidades junto ao Coletivo de Jovens Sidnei Scher (Fig.23), iniciamos o processo de perceber suas vontades que incluíam a principio música, cerâmica, reciclagem criativa e criatividade em geral. Paralelamente começamos a descobrir os materiais disponíveis no local; pneus descartados, garrafas PET, resíduos sólidos dos aviários, couro de animais e principalmente a argila. Previamente haviam nos informado da existência de argila no local. Assim no mesmo encontro realizamos a primeira caminhada guiada pelos jovens por locais que imaginavam ser possível encontrar o barro (Fig.24). Coletamos amostras de mais de 10 pontos diferentes para realizar testes em Florianópolis. Sua qualidade apontava para um ótimo aproveitamento já que sua plasticidade impressionou desde o primeiro contato (Fig.25). Ao final do encontro a impressão transmitida pelos jovens foi de um Grupo de Jovens aberto à novas experiências, curiosos, interessados, organizados e pró-ativos, o que motivava a ação.

Fig.21 – Chegada ao Assentamento FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Fig. 22 – “Cachoeirão” FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Fig. 23 – Primeira reunião com o Coletivo de Jovens Sidnei Scher FONTE: Arquivo pessoal, 2014

Fig. 24 – Em busca de argila

FONTE: Arquivo pessoal, 2014

Fig. 25 – Argila encontrada

FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Encontro 2 Neste segundo Encontro, que ocorreu nos dias 08 a 12 de maio de 2014, fomos surpreendidos por uma triste noticia. Euclides dos Santos Rodrigues havia falecido. Uma grande liderança dentro do Assentamento e do MST, “Kide” como era carinhosamente conhecido, estava à frente da Cooperativa Cooperoeste e dedicou sua vida à luta. Foi comovente. Centenas de pessoas de SP, RS, SC compareceram para consolar, apoiar a família naquele momento difícil. O velório foi marcado por homenagens que ocorriam a cada hora. Música, poesia, depoimentos que enalteciam a pessoa que foi seu camarada. Todos o admiravam muito, segundo os relatos emocionados, Kide era exemplo de honestidade, generosidade, sensibilidade, comprometimento entre outras qualidades. Por respeito, mantivemos em segundo plano nossas atividades, estando abertos à disponibilidade deles. Ao final, nos informaram que poderíamos realizar as atividades sábado à tarde e domingo durante o dia. Sábado e com muito respeito ao ocorrido iniciamos algumas atividades com o Jovens. O Grupo havia se articulado frente à Coordenação do Assentamento no intervalo entre o 1o e o 2o encontro e conseguiram a liberação de um dos Aviários para a realização das ações. Fomos ao “Aviário” (Fig. 26 e 27) e iniciamos os primeiros planejamentos sobre o lugar, onde poderiam alocar-se o ambiente para as oficinas de cerâmica; o forno cerâmico, estantes, mesas de trabalho, possível cozinha, e outros. Havia uma vontade coletiva de criar um espaço para projeção de vídeos, assim propusemos a criação do “Cine Aviário”. Esta foi a primeira atividade cultural em que todos os jovens participaram dentro do novo espaço. Com criatividade e improvisação adequamos o lugar para a projeção. Foram criados grandes bancos utilizando blocos de feno presentes no Aviário e cobertos com lona plástica. O suporte para a projeção das imagens foi solucionado com uma lycra branca esticada entre os postes estruturais do Aviário (Fig. 28). O “Cine Aviário” surgiu da necessidade de um espaço destinado ao compartilhamento de produções audiovisuais sobre assuntos diversos. Certas ocasiões adquiriu a função de partilhar conhecimentos que complementassem as praticas do encontro, como também um momento lúdico de união e aprendizado. Atualmente está se consolidando como prática constante dos encontros e o mais importante se concretizou como ação semanal dos jovens, contribuindo assim para a ampliação da linguagem audiovisual, dos saberes e de seu pensamento crítico (Fig. 29).

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Fig.26 – Primeira ida ao Aviário FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Fig.27 – Aviário das Artes - Vista Externa

FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Fig.28 – “Primeiro Cine Aviário” FONTE: Arquivo pessoal, 2014

Fig.29 – “Cine Aviário” FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Algo que também marcou o segundo encontro foi a 1a retirada de argila com carro de boi. (Fig.30). Com cuidado e preocupação com o manejo correto retiramos a argila (Fig.31) de dois pontos distintos apenas com as mãos e poucas ferramentas. A coloração variava entre tons de cinza, prateado e preto carvão (Fig.32), o que chamou nossa atenção. Certas partes muito rígidas petrificadas e outras com uma plasticidade quase pronta para o uso. A segunda etapa do processo consistiu em iniciar o tratamento das argilas para seu uso adequado. A caçamba de metal do carrinho de carga se converteu em um coxo para amassar a argila. Simultaneamente ao preparo da argila, foi realizado o 1o Almoço no Aviário e ocorreu uma oficina de Macramê com Gilberto. Tivemos ainda nesta etapa a participação espontânea de um jovem de Abelardo Luz, apelidado de “Chinelo”, que com sua presença bem humorada e proativa influenciou positivamente o encontro.

Fig.30 – Em busca de argila com o carro de boi FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Fig.31 – Coletando argila FONTE: Arquivo pessoal, 2014

Fig.32 – Argila negra FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Encontro 3 O terceiro Encontro realizado no período de 20 à 28 de Junho de 2014, foi o mais longo entre todos. A data foi escolhida para construir o forno cerâmico e participarmos do Aniversário de 26 anos do Assentamento. O processo de construção do forno dilatou o tempo do encontro, de 5 para 9 dias. Um trabalho colaborativo e intenso que atuou como um marco em nosso percurso, proporcionando maior legitimidade ao nosso trabalho e pertencimento junto à comunidade. Um trabalho coletivo que fortaleceu laços afetivos com todos os envolvidos. Nesta etapa ocorreram colaborações de duas pessoas além do projeto. Para auxiliar na construção do forno convidamos nosso colega Aires de Souza, o “Aires da Fé”, mestre de Marcenaria do CEART/UDESC, com domínio em diversos materiais. Além de Aires, Camila Argenta colega e artista visual decidiu ir por conta própria acompanhar e colaborar neste encontro. Camila desenvolvia o Projeto Caramanchão (revista de pesquisa entre arte e agroecologia para mapear projetos por SC) convidando o “Aviário” para ser incluído em seu Projeto. Utilizamos cerca de 2000 tijolos (Fig.33), pedras de rio e o forno atingiu uma altura de 2 metros, possuindo uma área de queima de peças onde era possível entrar 5 pessoas quase em pé. Um fato importante foi a liberação do Pai de um dos Jovens, Guilherme Weber, de seu trabalho cotidiano para ajudar com o forno, contando horas de trabalho dentro da Cooperativa.

Fig.33 – Descarregando os tijolos

FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Fig.34 – Preparo da massa para o forno FONTE: Arquivo pessoal, 2014

Fig.35 – Construção do forno em processo.

FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Fig.36 – Camila Argenta, Gustavo, Tirelli, Aires da Fé e Guilherme Weber no forno

FONTE: Arquivo pessoal, 2014

Fig.37 – Forno Cerâmico pronto FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Ao estender o tempo planejado para aquela etapa, e já que a dinâmica de construção do forno exigia um número equilibrado de pessoas, ocorreram paralelamente outras atividades com os jovens. Iniciei a oficina de construção de instrumentos musicais e outros objetos sonoros a partir da construção de alguns instrumentos de sopro. Utilizando principalmente resíduos sólidos provenientes de latas de alumínio do aviário para construir diferentes “canofones”, “vuvuzelas” com balão, flautas d’água e outros. Outra ação realizada envolvia saberes em torno da Reutilização Criativa e contou com momentos de experimentação a partir de garrafas PET criando livremente alguns modelos de diferentes hortas verticais e suspensas. Lidiane surgiu com a ideia de transformar uma antiga geladeira em nossa “Biblioteca” (Fig.38). Assim nos encontros que se seguiram trouxemos diversos livros com temáticas variadas e Gilberto doou parte de seu acervo pessoal de livros.

Fig.38 – “Geladeira Biblioteca” FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Com o intuito de compartilhar e tornar visíveis os desejos dos jovens para o aviário, criamos um “painel de desejos compartilhados para o Aviário das Artes” (Fig.39), tendo como referencia o processo de ParkFiction8 (Fig. 40) e a plataforma de desejos compartilhados propusemos um local para expor abertamente ideias e vontades. Este hábito, aos poucos está se desenvolvendo, e alguns jovens já contribuíram com desenhos e escritos. O interessante é que o construímos a partir de antigas portas de frigorífico, resignificando seu uso. Utilizando este mesmo material e feno, criamos uma mesa de ping pong (Fig.41), que está sendo intensamente utilizada por todos. A mesa forneceu mais uma opção de utilização, de “prática” do lugar, atraindo mais jovens que podem se interessar por outras ações que ocorrem por lá. Neste Encontro inclusive a “Sala do Aviário” começou a tomar forma a partir da reutilização de sofás doados pela própria comunidade, outros materiais e inclusive um tapete que havia sido doado também por Gilberto no encontro anterior.

Fig. 39 - “Mural de Desejos Compartilhados”

Fig. 40 - “Arquivo de Desejos”, 1996

FONTE: Arquivo pessoal, 2014 2014

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ParkFiction, “Arquivo dos desejos” 1996, “Wishes Archive”

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Fig.41 – Mesa de Ping Pong do Aviário das Artes FONTE: Arquivo pessoal, 2014

Como já citado, um dos acontecimentos que marcaram e constituíram um dos motivos para o encontro surgir foi o Aniversario de 26 anos do Assentamento. Este ocorreu dia 24 de Junho de 2014. Uma data que no passado marcou o inicio de uma trajetória árdua mas compensatória para todas as famílias. Um momento de celebração com missa, batismos, falas de diferentes autoridades, fartura gastronômica, música e danças. Foi uma oportunidade para integrar- nos à comunidade (Fig 42), conhecendo mais sua cultura.

Fig.42 – Nós e o Coletivo de Jovens Sidnei Scher durante o Aniversario de 26 anos do Assentamento FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Encontro 4 O quarto Encontro aconteceu no período de 30 de Julho a 4 de Agosto de 2014. Quatro meses depois de nossa primeira ida ao Assentamento, ocorreu um momento muito especial. A Inauguração do Aviário das Artes, do forno cerâmico, a comemoração do dia dos Pais e a Festa Junina que se tornou “Agostina”. Tudo em um mesmo dia. Uma celebração que marcava o inicio do reconhecimento de toda a comunidade frente ao novo espaço. A comunidade inteira participou da Festa, que contou com a presença de pessoas que normalmente não compareciam em festividades. A fogueira cuidadosamente preparada por alguns jovens atingiu 3 metros de altura. Ao redor desta uma grande roda de bancos formaram um cenário ideal para uma grande celebração. Um porco inteiro foi assado para inaugurar o forno cerâmico de maneira única. Ao luar se acendeu a fogueira e com todos sentados a sua volta iniciaram os agradecimentos, homenagens, contação de histórias e causos do tempo da ocupação (Fig.43). Aos poucos surgiam histórias cômicas, outras de luta e coragem dos primeiros anos no assentamento. A música tocada e cantada por todos animava e tornava mágico tal momento.

Fig.43– Pedrinho contando histórias FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Além da extraordinária ocasião, outras atividades tomaram conta do Encontro. Outra oficina que desenvolvi foi a de Light Painting ou “Pintando com a Luz”. Esta é uma técnica fotográfica onde é possível literalmente “Pintar com a Luz” através de um processo de longa exposição onde o obturador da máquina fotográfica é aberto permitindo à câmera capturar qualquer fonte luminosa durante o período estabelecido (Fig.44). Em ambientes escuros (normalmente a noite) e cada participante munido com diferentes lanternas se exploram diferentes interações com a luz em movimento, com o local e com o outro (Fig.45). O aprendizado surge a partir da prática em momentos de experimentação coletiva onde a criatividade é compartilhada. Até aquele momento haviam sido realizadas 4 oficinas de Light Painting. A cada encontro percebeu-se mais entrosamento e entendimento deste processo onde a pratica como em outros processos auxilia a ampliar o campo de possibilidades do meio. Não possuímos um roteiro pré-estabelecido para realização das fotografias, as ideias surgiam no momento da vivência (Fig.46). Cada um sugeria uma ação para ser realizada. Ações livres. Dependendo do momento ocorriam com um planejamento oral da ideia ou espontaneamente explorando o improviso. As fotos ora eram mais coletivas; onde diversas pessoas se movimentam pelo espaço, correndo, caminhando, “desenhando no ar”, ora mais individuais, onde cada um se posicionava em frente a câmera e realizava algo. Esta ação vem possibilitando o estimulo da criatividade, imaginação, agilidade motora, expressão corporal e momentos de fluxo. Esta permite a integração com outras linguagens, musica, dança que começam a ser descobertas (Fig.47).

Fig.44 – Oficina de “Light Painting” – escrevendo no ar

FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Fig.45 – Oficina de “Light Painting” – primeiras explorações FONTE: Arquivo pessoal, 2014

Fig.18 – Oficina de “Light Painting” – O Ser Mariposa FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Fig.47 – “Light Painting” e música FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Para dar continuidade aos saberes em torno da música, realizamos também a Oficina de Musicalização e Sensibilização Sonora. A partir de exercícios de percepção sonora do ambiente, de si mesmo, de objetos encontrados, assim como explorações rítmicas com alguns instrumentos musicais percussivos. Durante a Musicalização cantamos e tocamos a música “O Trenzinho Caipira” ocorrendo um momento de improvisação junto a Leandro Aires da Fé, trompetista e filho de Aires. Tocamos formando um trem musical percorrendo o gramado externo do Aviário. Um momento de improviso que surgiu e todos se entregaram e se envolveram na brincadeira, sem se importar com o erro, mas arriscando algo novo. Neste Encontro ocorreu a finalização da construção de um Torno Cerâmico de partida manual. Como maneira de estimular os jovens aos fazeres cerâmicos Tirelli desde o inicio mostrou interesse em construir um torno cerâmico simples baseado em modelos ancestrais do oriente médio. O ponto positivo destes tornos seria o fato de não necessitarem energia elétrica e possuírem um processo construtivo mais simples. Foi ao descobrimos a existência de uma “oficina”, no assentamento, um local destinado a consertar as maquinas agrícolas, ferramentas e serviços em geral que este desejo tornou-se mais próximo. Durante os encontros 3 e 4, Aires e Tirelli em colaboração com o responsável pela oficina Remidio Xavier, construíram o torno cerâmico a partir da reutilização de diferentes peças presentes na oficina que estavam sem uso. Para tal, um eixo de motor velho, uma roda de ferro e barras de ferro soldadas a muita criatividade. O torno surgiu e apenas empregando um bastão de madeira para girar sua base circular podia-se modelar. Sem possuir motor e não necessitando de energia elétrica tornou-se versátil para instalar em qualquer lugar. Foi levado ao Aviário e desde então possibilitou aos jovens experimentarem algumas técnicas básicas com a argila em movimento (Fig. 48) . Ainda na “cerâmica” mais uma produção de massa e uma nova experiência foi testada. Um moedor de quirera (Fig.49) foi utilizado para moer fragmentos menores de barro seco e obter o pó da argila. Esta técnica veio tornando possível acelerar o processo de tratamento da argila. Além destes testes começaram a ser transmitidas as primeiras técnicas de cerâmica básica: placa e acordelado. Vimos as primeiras peças de cerâmica serem criadas pelos jovens e nos surpreendemos com a facilidade com que manuseavam o barro (Fig.50). Gilberto e Gustavo também estimularam a partir deste Encontro a realização de oficinas de cerâmica voltadas para as mulheres do assentamento, mães de jovens do coletivo e outras senhoras (Fig.51). Uma ação estratégica que se manteve ao longo dos outros encontros e influenciou o processo de envolvimento de distintos moradores com o “Aviário”.

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Fig.48 – Anderson e o torno FONTE: Arquivo pessoal, 2014

Fig.50 – Primeiras Peças FONTE: Arquivo pessoal, 2014

Fig.49 – Nevio e Mathias triturando a argila seca no moedor de quirera. FONTE: Arquivo pessoal, 2014

Fig.51 – Oficina de cerâmica com jovens e mulheres do assentamento.

FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Encontro 5 De 12 a 14 de Setembro de 2014 ocorreu o quinto Encontro. Como maneira de estimular os jovens e mostrar o que poderia ser produzido com a argila, Gustavo Tirelli levou ao Aviário, tambores “Batás”9 de cerâmica para seu empachamento. O empachamento (encouramento) é à técnica de instalar a pele/couro em um tambor. As etapas de construção do tambor constituíram um processo colaborativo que durou de um encontro a outro. Primeiramente o Coletivo conseguiu o couro inteiro de um boi. Durante o 3o encontro, Aires esticou o couro em um bastidor de madeira enquanto os jovens acompanharam a ação (Fig.52), logo os jovens cuidaram por 2 meses do processo de “curtição do couro”, para então continuarmos o processo. (Fig.53) Utilizando apenas o couro e corda foi possível desmistificar o processo de construção, revelando-se sua simplicidade, e como seria acessível a eles produzirem também os tambores. Ao final foram concluídos 3 instrumentos que serviram em inúmeras situações musicais no Aviário e fora dele. (Fig.54) Outra importante experiência realizada foi o empachamento de uma lata de metal (Fig.55), resíduo da prática avicultora e presente nos Aviários. Esta lata tem seu uso original voltado à alimentação das aves e com nossa ação, outro uso foi atribuído, transformando agora em tambor. Este teste foi muito importante pois apresentou outra alternativa viável para a produção de tambores. A reutilização criativa de um material que se encontra obsoleto abre novas possibilidades de relações entre os objetos, os envolvidos e o meio. Uma criação especifica do local que se originou colaborativamente no processo a partir da experiência, originando um objeto contextual. Esta questão de atribuir outro uso aos objetos é uma prática frequente que percebemos ser comum por lá. Quando os recursos são menores, estes são mais valorizados. Alongar a vida útil de um objeto a partir da criatividade não significa apenas reutilizar, mas principalmente respeitar as necessidades de nosso tempo, promovendo um mundo mais criativo e sustentável. 9 Bata é um instrumento de percussão horizontal, um tambor formado por uma caixa de ressonância (geralmente um cilindro de madeira) coberta com couro nas duas extremidades, sendo um dos lados maior que o outro. Acredita-se ser originário das terras Yorubás na Nigéria. Difundido em diferentes países, seu uso principal esta ligado a praticas religiosas da cultura nativa Yorubá, adoradores da Santeria em Cuba, Haiti, Porto Rico e EUA. É relativamente raro nas religiões afro-brasileiras, com exceção do Tambor de Mina do Maranhão, onde é extremamente usado. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Batá

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Fig.52 – Aires estica o couro FONTE: Arquivo pessoal, 2014

Fig.53 – Mathias e Tirelli cortando as peles para empachamento dos Batás FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Fig.54 – Tambores Batás prontos FONTE: Arquivo pessoal, 2014

Fig.55 – Empachando a lata FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Desde o inicio do projeto havia uma vontade de mapear e valorizar os saberes presentes na própria comunidade. Para não sermos impositivos, era necessário um tempo de convívio, um entrosamento com o Grupo de Jovens e o Assentamento. Após alguns meses então foi possível articular uma Oficina com Guilherme Weber, (o mesmo pai que havia ajudado na construção do forno cerâmico) (Fig.56). Este compartilhou seu saber de construção de Balaio utilizando taquara. Um fazer manual tradicional que vem se perdendo frente a um cenário de produção em massa descartável. Para Guilherme foi uma descontinuidade, pois há mais de 15 anos que não produzia um balaio. Nossa vontade é que este tipo de experiência se torne cada vez mais comum entre os envolvidos. Que cada pessoa possa compartilhar o que sabe com o outro gerando momentos de convívio diferenciados, já que todos possuem saberes. Estas ações fazem parte do empoderamento da comunidade frente ao “Aviário das Artes”, pois estimulam o uso autônomo do espaço, sem depender de “professores” ou “oficineiros” externos.

Fig.56 – Oficina de Balaio de Taquara com Guilherme

FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Como parte da sequencia de saberes entorno da Musicalização, propus uma oficina de construção de Didgeridoos alternativos a partir de canos PVC (Fig.57). experimentos com Taquaruçu. O Didgeridoo

e alguns

é um instrumento de sopro original dos

aborígenes australianos. Tradicionalmente é produzido a partir de troncos de eucaliptos ou diferentes tipos de bambus. Neste caso optou-se em criar utilizando primeiramente tubos PVC, pois o tempo de confecção era mais rápido e principalmente por ser mais fácil tocar, tornando a proposta mais acessível. Como um dos objetivos era cativá-los também através da musica, assim diferentes propostas, com nível mais acessível, foram desenvolvidas. Outro fator importante que contribuiu para escolha deste instrumento foi seu caráter intuitivo, sem notas estabelecidas, mais livre, podendo também com pratica executar melodias complexas. Seu som é ancestral. Ao tocar o didgeridoo é possível acessar níveis de consciência diferenciados. É tocado a partir da vibração dos lábios para gerar um som que percorre o comprimento do tubo. As variações sonoras são produzidas na boca. A principal técnica utilizada é a respiração circular, na qual o didgeridoo é tocado sem parar. É utilizado em rituais, meditação, havendo estudos recentes comprovando seus efeitos terapêuticos como benefícios na redução da ansiedade, vulnerabilidade ao estresse, sistema respiratório e insônia. Utilizando os tubos PVCs, os jovens cortaram, montaram e personalizaram seus próprios instrumentos. A pratica foi complementada com a exibição de três vídeos sobre o assunto. Um vídeo onde um aborígene australiano tocava na rua, outro mostrava as experimentações com didgeridoo e outro instrumento o “Hang Drum” (disco percussivo e altamente melódico) de um músico em uma praça em Lisboa e um terceiro vídeo que explicava um pouco das técnicas para tocá-lo. Em relação ao didgeridoo mais natural de Taquaruçu, conseguimos produzir somente um didgeridoo. Seu processo é mais lento. Foram realizadas tentativas de tratamento do bambu utilizando partes do forno de cerâmica, pesquisa que esta em andamento. Outra atividade realizada foi o Mural de fotos. Como iriamos expor as fotos do processo no Aviário? Levei uma primeira ideia de mural e em conversa com os jovens decidiu-se outro formato. Assim foi criado a partir do mesmo resíduo solido da mesa de ping pong; uma porta de frigorifico e fixada em frente ao outro mural já existente. Com a impressão de uma centena de fotos, registros de meses de trabalho com os Jovens. Ocorreu

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um momento de roda para ver as imagens e relembrar momentos. Posteriormente, com alguns jovens colamos as fotos compondo o mural (Fig.58). Um dos objetivos seria a possibilidade de compartilhar mesmo que por imagens, muitas experiências e processos que haviam ocorrido durante o ano. Assim muitos “adultos” puderam acompanhar um pouco do que havia sido realizado até o momento.

Fig.57 – Momento de experimentações com os Didgeridoos construídos FONTE: Arquivo pessoal, 2014

Fig.58 – Detalhe do Mural de Fotos FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Encontro 6 O trabalho realizado desde Abril de 2014, junto ao Coletivo de Jovens e a comunidade vinha se intensificando a cada encontro. Desde o início dentro do grupo de jovens um dos desejos mais latentes havia sido desenvolver a musicalidade. Para o Sexto Encontro, ocorrido entre os dias 14 e 16 de novembro de 2014, pretendíamos fortalecer ainda mais as ações de musicalização e começar a encerrar este ciclo anual de maneira especial. Assim conseguimos contar com a participação do amigo Leopoldo Cabrera, o “Polo”, 69, músico multiinstrumentista chileno, residente em Florianópolis, que nos anos 70 gravou com grandes nomes da MPB como Milton Nascimento, Ney Matogrosso e Moraes Moreira. Participaram também os colegas e amigos Leonardo Lima e Raphael Duarte10 ambos integrantes da banda “Novo Código Genético”. Durante o ano de 2014, Lucas, Leonardo, Raphael e “Polo” estavam realizando juntos encontros de música experimental, improviso e construção de instrumentos e assim surgiu a ideia de envolver todos em uma proposta junto aos Jovens. Durante o Sexto Encontro foram realizadas oficinas de musicalização (Fig.59) guiadas por “Polo” e com contribuições de todos. Trabalhamos assim a sensibilização musical através de Cantos ameríndios, danças circulares (Fig 60), momentos de múltiplas vozes e improviso . Mostramos novos ritmos (Fig 61)., realizamos sons coletivos “Tocatas Abertas” estimulando a intuição musical. Esta sequencia de atividades com raízes étnicas realizados com Polo retomavam práticas ancestrais dos índios. Cantos ritualísticos para ativar a força interior. Se reverenciam os quatro planos e os quatro elementos pois para os índios o numero quatro é sagrado, relacionado aos quatro elementos e as quatro estações. O importante nestas praticas foi visualizar e se entregar a proposta. Não pensar em nada externo. Se concentrar. A repetição, o ritmo com os pés, marcando com o passo, o movimento, a circularidade, as diferentes vozes elevaram a energia do grupo. Paralelamente à outras ações Raphael e Leonardo ensinaram violão à alguns meninos interessados (Fig 62)., realizando também a gravação em áudio e vídeo de diferentes momentos. A contribuição de “Polo” foi além da música, já que propôs também a realização de um Tótem coletivo de cerâmica como símbolo do trabalho cooperativo e expressivo onde cada um modelou parte da peça com diferentes rostos e texturas (Fig 63).

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Leonardo Lima é Bacharel em Artes Visuais/UDESC e atualmente realiza mestrado em Processos Artísticos Contemporâneos das Artes Visuais na UDESC. Raphael Duarte é acadêmico em fase conclusiva de Licenciatura em Música da mesa instituição. Ambos também participam do Grupo de Pesquisa Arte e Vida nos Limites da Representação – UDESC/Cnpq e do Coletivo Geodésica Cultural Itinerante.

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Fig.59 – Oficina de Musicalização com Polo FONTE: Arquivo pessoal, 2014

Fig.60 – Danças Circulares Ameríndias com Polo FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Fig.61 – Léo, Polo e Rapha FONTE: Arquivo pessoal, 2014

Fig.62 – Rapha ensina Grimpa alguns acordes FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Fig.63 – Tótem Coletivo em argila FONTE: Arquivo pessoal, 2014

O processo de saberes da Cerâmica atingiu seu ápice com a realização da 1ª queima cerâmica. O processo de meses descobrindo a argila, experimentando, produzindo suas primeiras peças, acertando, errando, controlando a ansiedade do tempo de secagem, culminava com a estreia do forno com a produção de peças criadas por eles próprios (Fig.64). O forno cerâmico superou as expectativas e atingiu os 970 ºC transformando a argila negra depois de queimada em uma coloração o bege claro (Fig.65). Surpreendentemente poucas peças racharam, assim o volume de peças retiradas do forno foi suficiente para cobrir uma mesa de trabalho inteira. Moradores do assentamento curiosos retornavam para ver o que ocorria e se admiravam com o trabalho realizado. Entre outras ações realizadas neste encontro estiveram o Cine Aviário, a Oficina de Light Painting, Slackline11 e a construção de pífaros de taquara. Léo, Rapha e “Polo” colaboraram ativamente em todos os momentos propostos, influenciando positivamente a juventude e a comunidade que abriu as portas à eles. Saímos deste encontro com mais entrosamento entre o grupo e com a sensação de gratidão e dever cumprido. 11

Slackline, em inglês significa "linha folgada", similar a “corda bamba”. É um esporte de equilíbrio onde

o praticante anda e realiza manobras sobre uma fita elástica esticada entre dois pontos fixos.

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Fig.64 – Oficina de Cerâmica - últimos retoques nas peças antes de irem ao forno. FONTE: Arquivo pessoal, 2014

Fig.65 – Peças queimadas FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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Encontro 7 Imaginávamos que o Encontro 6 havia sido o encerramento do ano mas fomos surpreendidos com a noticia da possibilidade de mais uma ida em Dezembro. O Assentamento foi então escolhido como locação de parte do longa-metragem catarinense “Lua em Sagitário”12, de Marcia Paraiso (Plural Filmes). Souberam da existência do Aviário das Artes e o incluíram no roteiro de filmagens. Entre os dias 12 e 16 de Dezembro de 2014 ocorreu um Encontro diferenciado no Aviário das Artes. O “Aviário” foi transformado em um set de filmagem; câmeras de cinema, luzes e equipamentos que muitos nunca haviam visto anteriormente. Não sabia ao certo o que iria ocorrer. No inicio pensei que iria auxiliar o personagem principal a realizar uma peça em nosso torno. Ao final foi filmada uma cena onde a protagonista “Ana”, interpretada pela atriz e colega Manuela Campagna, mostra curiosidade por uma oficina de cerâmica que esta acontecendo no local e acaba experimentando o torno e o barro. Acabei participando da cena como “professor” de cerâmica enquanto os jovens Gilson, Marcelo, Milena e Ariane como “alunos” (Fig.66). A equipe também necessitava uma banda para realizar algumas filmagens no Aviário. Foi assim que Novo Código Genético (Fig.67). (banda de Leonardo e Raphael) participou desta vez com sua formação completa, incluindo os outros dois integrantes e amigos, Victor Guilherme e Pedro Henrique. Douglas Sielski fotografo e primo de Lucas e, também decidiu ir por conta própria para acompanhar o processo de filmagem e contribuir com o projeto. Junto a Lucas realizaram momentos de fotografia criativa utilizando a técnica de Light Painting. O filme movimentou todo o Assentamento. Além do Aviário diferentes partes do Assentamento como a lavoura, a cachoeira e a estrada foram aproveitadas para produção de 12

Sinopse: “Lua em Sagitário” conta a historia de amor e aventura de um casal de jovens – Ana e Murilo – que

moram em Princesa (SC). Os jovens são apaixonados por rock e sonham em participar de um festival de bandas independentes em Florianópolis o que os faz “fugir” de moto para chegarem ao destino, passando por varias aventuras, que provocam a reflexão e um mergulho no autoconhecimento. O filme é um road movie que promete descortinar paisagens do interior de Santa Catarina. Lua em Sagitário é um projeto realizado em co-produção Brasil-Argentina, com roteiro vencedor do prêmio Ibermedia de produção com estreia prevista para Julho de 2015.

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determinadas cenas. Com nossa participação, dos jovens e da comunidade colaborando com os atores e a equipe ocorreu uma expansão na subjetividade de todos. Alguns jovens relataram que havia sido incrível participar e obter uma noção de como se realizava um filme, algo até então inimaginável. Junto a Lidiane auxiliamos o setor de comunicação do Incra coletando relatos de jovens, da diretora, e de um membro da direção do Assentamento e enviando o material para que fosse realizada uma matéria13 sobre o filme no assentamento. Cezar Brizola da Silva Gonçalves, membro do conselho social e político do assentamento, enfatizou: “Acho importante mostrar na tela do cinema que nós temos muita coisa boa para acrescentar à sociedade, porque isso muitas vezes não é o que é mostrado na mídia”. Segundo a Diretora Marcia Paraiso “Um dos desafios do projeto é mostrar a reforma agrária de dentro para fora, com uma visão humanizada” além disto “Lua introduz questões que são inéditas no cinema jovem - o viver na fronteira, em uma região que a maioria dos brasileiros desconhece, o ser jovem e estar a margem desse universo cosmopolita, a reforma agrária e a luta pela terra e ainda, o ser jovem dentro desse contexto.” Ela aponta ainda para um fato importante “a intenção da quebra de preconceito com o filme já se iniciou com a própria equipe, que com certeza, a partir dessa experiência, serão multiplicadores desse novo olhar, dessa vez com conceito.” A realização de cenas do filme dentro Aviário das Artes reafirmou a potencialidade transdisciplinar e de convívio que este passou a gerar. A escolha por parte da direção do filme para a realização de cenas no Aviário me tocou muito, pois foi o reconhecimento do trabalho de um ano realizado que será eternizado nas telas, mostrando o Aviário para diferentes pessoas. Nunca havia participado de um filme, foi uma experiência muito rica. Saber os diferentes agenciamentos necessários para a realização de um longa metragem, o envolvimento de uma equipe técnica que formava um coletivo.

13 http://www.incra.gov.br/noticias/assentamento-catarinense-e-cenario-de-filme-sobre-juventude-ereforma-agraria

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Fig.66 – Preparativos para cena no torno cerâmico. FONTE: Douglas Sielski 2014

Fig.67 – Participação da banda Novo Código Genético. FONTE: Arquivo pessoal, 2014

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CONCLUSÃO

Trabalhar em uma comunidade onde sua estrutura é diferenciada dos modelos padronizados habituais da sociedade constituiu um desafio mas uma grande oportunidade de aprendizado. Durante o curso foi possível agregar diferentes conhecimentos que se somaram a experiência de cada um e contribuíram para o desenvolvimento deste projeto. O Curso de Especialização em Arte no Campo permitiu nossa inserção no Assentamento através do Tempo comunidade. Possibilitou nosso convívio com diferentes modos de vida e trocas de experiências, conhecer e nos integrar ao assentamento, desenvolvendo um projeto a longo prazo com os jovens e a comunidade. Durante o processo, alguns fatores foram determinantes para seu desenvolvimento. O primeiro fator foi nossa postura desde o primeiro contato com as pessoas do Assentamento, com a atitude de querer realizar algo para o bem de todos e com a vontade de realizar um trabalho sério que colaborasse com o crescimento pessoal do jovem. Buscando maneiras de contribuir com o encantamento dos jovens e da comunidade para o engajamento e continuidade de práticas artístico-culturais. Outro fator decisivo foi a recepção da comunidade que nos tratou como uma família desde o inicio. Isto permitiu uma maior integração que nos levou a participar dos momentos mais felizes assim como dos mais tristes. O diálogo horizontal, com muita escuta ao outro, valorizando seus saberes, levando a tomada de decisões de maneira coletiva e sem imposições. O estimulo a momentos de criatividade compartilhada, onde se partilhou o risco, o acerto, o erro, o aprendizado, a experiencia. O convívio intensificado oportunizou trocas de experiências que foram além do planejado, assim como estimulou a construção e fortalecimento de laços afetivos. Aproveitamos as oportunidades que se apresentaram no percurso. Nos arriscamos naturalmente. É importante enfatizar a atitude da maioria dos jovens de se lançar ao desconhecido, pois sem esta disposição não seria possível o que realizamos. Sua vontade de fazer acontecer algo diferente, podendo mostrar o que sabiam, aceitando sair da rotina e passar por outras experiências. Em muitos momentos adotamos o pensamento “E se dá certo?!” constituindo a atitude que moveu nossa experimentação, não nos conformando e usando a criatividade para superar os desafios. A improvisação foi trabalhada em diferentes situações e áreas. Seja

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improvisando com criatividade para suprir uma necessidade imediata ou ao surgirem momentos onde todos se entregaram e se envolveram sem preocupação. Este projeto foi possível em devido ao otimismo, determinação, garra, coragem, força de vontade, perseverança, valores que estão muito presentes no Assentamento e que os jovens absorveram em grande parte da trajetória de luta e conquista de seus pais. Minha postura e do grupo também foi sempre de otimismo e perseverança. Pessoalmente meu objetivo foi compartilhar o máximo diferentes experiências e saberes assim como estar aberto ao outro e ao desconhecido, mostrando diversas possibilidades, podendo ensinar, assim como aprender muito com cada um. Os momentos de celebração foram muito importantes. Celebramos pois passamos por processos de trabalho intensos e dedicados. Quando a produção é coletiva, ocorre um sentimento ainda mais forte, pois se compartilha a alegria com o outro. O outro passou junto por diferentes momentos e sabe o que significa aquela conquista. Pretendiam-se realizar ainda mais ações, mas no processo percebeu-se a diferença entre idealizar no projeto e concretizar na prática. Mesmo assim os momentos mais ricos ocorreram além do planejado, propostas que se desenvolveram a partir da fluidez do momento e do processo, experiências que foram muito valorizadas. Um dos grandes desafios superados foi a questão da distância geografia entre o grupo de atuação na comunidade e o Assentamento, pois se localizavam em lados opostos do Estado. A internet foi importante no processo como um todo pois se tornou nossa aliada ao facilitar a comunicação com os jovens, proporcionando o compartilhamento de conteúdos para além de nossa presença física no Assentamento. Deste modo o Projeto Aviário das Artes vem se constituindo em um espaço de compartilhamento coletivo de saberes e experiências, aberto ao desejo de seus ativadores. Um espaço de práticas colaborativas, lúdicas e experimentação social. Em relato, o Coletivo de Jovens Sidnei Scher, manifesta: Quando pensamos na arte. Na nossa arte frente a luta e a nossa organização, pode-se perceber claramente onde esse espaço contribui, sendo na organização da juventude e comunidade, na sensibilização frente as questões cotidianas, na compreensão da sociedade, possibilitando refletir e pensar nossa

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atuação frente a isso. Estamos super animados com as perspectivas e projeções do Aviário das Artes. Esperamos potencializa-lo e estender nossa experiência para outros espaços de nossa organização, trocando experiências e conhecimentos, construindo e fortalecendo a nossa identidade Sem Terra.” O “Aviário” está contribuindo com tais questões na medida que cada um se envolve e descobre novas maneiras de coexistir, de colaborar, de se “contaminar”, de colocar seus saberes e desejos na troca com o outro. Um espaço cultural comunitário em construção, que vem agregando cada vez mais pessoas, jovens de Assentamentos vizinhos. Indivíduos de diferentes lugares começam a colaborar em seu processo de construção física e subjetiva, surgindo assim uma comunidade experimental em torno do “Aviário”, além das fronteiras do Assentamento. Este permanece aberto a novas contribuições que venham a agregar ao processo. O Curso está em sua fase conclusiva mas o Aviário das Artes começa a ser autogerido assumindo novas perspectivas e usos da comunidade.

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Site Aviário das Artes: http://aviariodasartes.wix.com/aviariodasartes

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