Relatos de Experiências Colaborativas

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE ARTES - CEART DEPARTAMENTO DE ARTES VISUAIS - DAV

Relatos de Experiências Colaborativas Lucas Sielski Kinceler

FLORIANÓPOLIS 2013


UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE ARTES - CEART DEPARTAMENTO DE ARTES VISUAIS - DAV

Relatos de Experiências Colaborativas Lucas Sielski Kinceler

FLORIANÓPOLIS 2013


LUCAS SIELSKI KINCELER

Relatos de Experiências Colaborativas

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Artes Visuais como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel. Orientadora: Profa. Dra. Nara Milioli.

FLORIANÓPOLIS 2013


LUCAS SIELSKI KINCELER

Relatos de Experiências Colaborativas

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Artes Visuais como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel.

Banca Examinadora Orientadora:

____________________________________________________ (Profa. Dra. Nara Milioli) UDESC

Membro:

____________________________________________________ (Profa. Dra. Raquel Stolf) UDESC

Membro:

____________________________________________________ (Prof. Me. João Calligaris Neto) UDESC

FLORIANÓPOLIS 28/06/2013


Dedico este trabalho aos meus Pais; JosĂŠ Luiz Kinceler e Isabela Mendes Sielski.


Agradecimentos Agradeceço profundamente aos meus Pais, pelo apoio incondicional, amor e sabedoria. Aos meus amigos por me apoiarem, criarem juntos, pela amizade e parceria. À minha família. Ao meu primo e fotógrafo Douglas Sielski pela parceria e belas imagens cedidas. A todo o Coletivo Geodésica Cultural Itinerante. Ao Helton Matias, Leonardo Lima, Francis Pedemonte, Paulo Villalva, Tatiana Rosa, Antônia Wallig, João Calligaris Neto, Aires da Fé, Pedro Freiberger, Paula Tonon, Gustavo Tirelli, Rafael Alves, Victor Guilherme, Adelino Neto. Ao Coletivo LAAVA A Seu Gentil do Orocongo A todos que participaram das Oficinas de Light Painting e outras oficinas. Às crianças que participaram em propostas, pela energia transmitida. Em especial agradeço do fundo do coração ao Helton Matias, Leonardo Lima, Letícia Jorge, Francis Pedemonte e Paulo Villalva por contribuírem com seus relatos, ampliando a visão sobre cada projeto. Aos professores do Curso pelos aprendizados. À Nara, meu agradecimento de coração pela excelente orientação. À Banca agradeço desde já suas contribuições. A todos que vem colaborando e acreditam em outros mundos possíveis!


“Seja a mudança que deseja ver no mundo”

Mahatma Gandhi


Sumário

1. Introdução ............................................................................................................14

2. Tocata Visual Aberta ...........................................................................................19 2.1 Relato Francis ..................................................................................................35

3. Assombrações da Ilha...........................................................................................37 3.1 Relato Helton....................................................................................................52

4. Conecsom...............................................................................................................55 4.1 Relato Letícia....................................................................................................67

5. Light Painting ......................................................................................................69 5.1 Relato Leonardo ..............................................................................................81

6. Geodésica Cultural Itinerante ............................................................................83 6.1 Relato Paulo ....................................................................................................100

7. Referências Bibliográficas ..................................................................................102

8. Apêndice ...............................................................................................................104


Introdução Vivemos um momento histórico onde a postura para com o mundo nos coloca frente à novas atitudes. A devastação dos recursos naturais e humanos instauraram zonas de miséria e superexploração provocadas por um sistema voltado para o lucro excessivo. Felix Guattari já em 1989 alertou em seu livro “As Três Ecologias” sobre a necessidade de se repensar maneiras de viver no planeta daqui em diante. Sugeria uma articulação entre os três registros ecológicos: meio ambiente, relações sociais e subjetividade humana a que chamou Ecosofia; indicou que uma consciência “ecosófica” necessitaria aflorar dentro desta sociedade do espetáculo onde as relações humanas tendem cada vez mais a uma padronização. Dentro deste contexto a subjetividade1 tem perdido sua potencialidade criativa tendendo também à uma homogeneização crescente. A arte tem o potencial de propor outros caminhos para esta realidade. Ao artista, e não somente ao artista, cabe questionar tais fatos, desenvolvendo exemplos de como o cotidiano pode ser vivido de diferentes maneiras, que não somente as formas impostas pela sociedade. Assim a arte critica narrativas estereotipadas, estimulando enredos alternativos de sociabilidade. (BOURRIAUD, 2009) Um dos caminhos que a Arte está propondo hoje frente a este cenário são experiências e práticas colaborativas. Estas vêm se proliferando em oposição à um contexto que estimula valores individualistas e superficiais. Para tal, cada vez mais tende a mesclar-se a outros campos de saberes em busca de situações complexas. Sob esta perspectiva Maria Lind em seu texto “The Collaborative Turn” comenta que a colaboração como método, tem se tornado um ponto central no novo paradigma da produção imaterial durante as últimas décadas. Existindo um interesse crescente por formas alternativas de produção de conhecimento, com afinidade no ativismo, por um novo tipo de sociedade baseada no compartilhamento e na cooperação. (LIND, 2007) O artista passou de um estado de isolamento (de gênio artístico e possuidor de uma técnica específica), para atuar como mediador e propositor de situações que gerem zonas de convívio, reinvenção do cotidiano, produção de subjetividade e experiência.

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1 Subjetividade é definida por Guattari como o conjunto de relações que se criam entre o indivíduo e os vetores de subjetivação que encontra.

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Jorge Larrosa Bondía em seu texto “Notas sobre o saber de experiência” aponta:

O grupo vem atuando sob a “Arte relacional em sua forma complexa”.

A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece. Dir-se-ia que tudo o que se passa está organizado para que nada nos aconteça.1 Walter Benjamin, em um texto célebre, já observava a pobreza de experiências que caracteriza o nosso mundo. Nunca se passaram tantas coisas, mas a experiência é cada vez mais rara. Em primeiro lugar pelo excesso de informação. A informação não é experiência. E mais, a informação não deixa lugar para a experiência, ela é quase o contrário da experiência, quase uma antiexperiência. (BONDÍA 2001, p.2)

A experiência está ligada à existência. É particular e subjetiva já que duas pessoas, ainda que enfrentem o mesmo acontecimento, não vivenciam a mesma experiência. Assim ela é única. Não se repete e está aberta ao desconhecido, diferentemente do experimento onde se tem um objetivo, não é o caminho a um objetivo previsto, não podendo antecipar um resultado. Bondía complementa ao nos passar nos forma e nos transforma. Somente o sujeito da experiência está, portanto, aberto à sua própria transformação. (BONDÍA 2001, p.26) Ao longo da graduação no curso de Bacharelado em Artes Visuais da UDESC, estive em busca de experiências com outras áreas e pessoas, pois acredito no potencial da arte praticada de maneira integral e interdisciplinar. Acredito na criatividade como meio de empoderamento pessoal e coletivo. Assim tive a oportunidade de me envolver em diferentes processos que em sua maioria foram realizados através de parcerias. Experiências que extrapolaram o limite curricular em projetos de pesquisa e extensão. Desde o início do curso participo de um grupo que veio se transformando2 ao longo dos anos e agora se configura como Coletivo “Geodésica Cultural Itinerante”3. 2 Uma das características do grupo é seu estado mutável, interdisciplinar, colaborativo. Está em constante fluxo. Pessoas se aderem, outras saem. Está aberto ao outro, à propostas. O grupo passou por “Coletivo LAAVA”, grupo antes e após evento “embuscadointerior”, hoje se configurando como Geodésica Cultural Itinerante. É possível conhecer mais ações do Coletivo LAAVA através do Trabalho de Conclusão de Curso em Artes Plásticas de Noara Quintana Pimentel realizado em 2010, “COLETIVO LAAVA: percursos teóricos e desdobramentos práticos no ano 2009” com acesso em: http://www.pergamumweb.udesc.br/dados-bu/000000/000000000011/0000118E.pdf . Assim como produções do grupo no canal do Youtube “coletivolaava” e artigos publicados (ver bibliografia). 3 Este tem suas ações e parte do Coletivo vinculados também ao Grupo de Pesquisa Arte e Vida no Limite da Representação – UDESC/CNPq.

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O termo “Arte relacional em sua forma complexa” está sendo construído pelo grupo de pesquisa Arte e vida nos limites da Representação – UDESC/CNPq. Este entende o fazer arte a partir de um entendimento complexo de mundo, passa a ser uma atitude ético-estética capaz de ao identificar oportunidades no contexto social, utilizar os referentes de outros campos representacionais, provocar descontinuidades crítico-reflexivas na realidade, assim como instalar processos de convívio, que permitam a reinvenção do cotidiano e a produção de novas subjetividades. KINCELER (2008)

Dentro deste contexto escolhi para este Trabalho de Conclusão de Curso cinco trabalhos/ processos que marcaram meu percurso acadêmico e possuem táticas similares. Todos estão englobados por noções de colaboração, participação, convívio, processos criativos onde a criatividade pode ser compartilhada, diluição da autoria. Propõe momentos de desvio para um cotidiano acelerado, constituindo brechas, que podem levar a produção de experiência e subjetividade. Proposições que se manifestam em torno do lúdico, da ativação e estimulo da criatividade e imaginação. Processos construídos ora para o outro, ora com o outro, onde os laços afetivos construídos são tão importantes quanto os resultados e processos. “Tocata Visual Aberta”, “Assombrações da Ilha”, “Conecsom”, “Light Painting” e “Geodésica Cultural Itinerante”, compõe o corpo do trabalho. Utilizo o relato destes projetos como maneira de expor/ compartilhar momentos de experiência e como reflexão sobre propostas ocorridas. Para ampliar a visão sobre cada projeto estão acompanhados de cinco depoimentos/relatos de amigos que estiveram presentes criando este percurso junto e foram fundamentais, pois vivenciaram e ainda hoje vivenciam as propostas que se vem formulando.

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Tocata Visual Aberta

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No período que transcorreu entre o segundo semestre de 2007 e o segundo semestre de 2008 ocorreu na UDESC um projeto chamado Tocata Aberta1 desenvolvido em diferentes etapas. Em um primeiro momento ocorreram oficinas de construção de instrumentos musicais abertas à comunidade, utilizando como matéria prima principal o barro. Criaram-se instrumentos com diferentes formatos como Djambês2, ocarinas 3 (imagem central), flautas de cerâmica e outros de corda, em um processo que durou alguns meses. A criação destes instrumentos visou promover em um segundo momento encontros musicais abertos; “Tocatas Abertas”. Nestes encontros eram disponibilizados os instrumentos musicais produzidos, unindo com pessoas que surgiam trazendo outros instrumentos. O intuito era proporcionar um espaço aberto que agregasse pessoas que nunca haviam tocado um instrumento musical e pessoas com um pouco mais de experiência.

1 A proposta ocorreu dentro do Projeto de Pesquisa: Vinho Saber- Arte Relacional em sua Forma Complexa-CEART. Orientador:José Luiz Kinceler, Departamento de Artes Visuais. Bolsistas: Aline Goedert Volkmer (PROBIC), Francis Albrecht Pedemonte (PROBIC) 2 Djembê (também chamado de djimbe, jembe, jenbe, yembe e sanbanyi) é um tipo de tambor originário de Guiné na África ocidental. O instrumento é muito antigo e até hoje é importante nas culturas africanas, sobretudo na região mandingue, que compreende os países Mali, Costa do Marfim, Burkina Faso, Senegal e Guiné. É um instrumento musical de percussão (membranofone) que possui o corpo em forma de cálice e a pele tensionada na parte mais larga, que pode variar de 30 a 40 cm de diâmetro.http://pt.wikipedia.org/wiki/Djembe. Cada instrumento de cerâmica produzido possuia sua singularidade. Tendo como referência assim os Djambês africanos e se assemelhando aos formatos de Darbakes e Darbukas, tambores do Oriente Médio. 3 A Ocarina é um instrumento de sopro milenar presente em diferentes culturas.

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As Tocatas iniciaram com um número reduzido de pessoas que cresceu conforme a realização de novos encontros até atingir momentos onde havia ao redor de 50 pessoas das quais 20 participantes produzindo sons. Um espaço aberto que começou a agregar uma diversidade grande de proposições simultâneas. Junto à música, estavam a dança, performances, malabares, petecas. A partir de certo período foram aderidas às tocatas projeções audiovisuais transformando-se em “Tocata Visual Aberta” e criando um espaço ainda mais plural. Trechos de filmes de consagrados artistas e vídeos de artistas locais, produções de acadêmicos e animações eram projetados no ambiente. Ao longo do semestre aconteceram Tocatas em diferentes locais e formatos ocupando espaços da Universidade como a arena do Centro de Artes, o Corredor de acesso ao bloco de Artes Visuais, uma sala de escultura e fora desta em locais como o “Bar do Capenga”, Canto da Lagoa, casa de amigos, etc.

Tocata Visual Aberta

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A Tocata surgiu como um espaço para o desvio e desaceleração de um cotidiano veloz. Uma brecha (TAZ)4 aberta à experimentações e livre expressão. Uma opção convidativa à experiência coletiva. Francis Pedemonte, Aline Volkmer e José Kinceler idealizadores do projeto comentam em artigos5 escritos sobre a proposta “Esta visou criar espaços diferenciados de convívio onde os participantes pudessem experimentar novas relações, criar novos vínculos, tendo a música como suporte à forma relacional... uma prática em arte relacional em sua forma complexa que abordou as inter-relações dos participantes, suas reações ao inesperado e suas colaborações.” (KINCELER, José; VOLKMER, Aline. 2008, p.1)

“A Tocata é uma forma diferente de experimentar a música, não é necessário saber tocar, nem entender de música, a idéia é simplesmente compartilhar uma experiência diferente e a música é simplesmente o meio que permite essa experiência.” (KINCELER, José; VOLKMER, Aline. 2008, p.9)

Conforme os encontros cresceram foram realizados registros sonoros e imagéticos que possibilitam assimilar uma pequena fração do que são estes encontros, já que somente ao experienciar o acontecimento é possível absorver sua energia e complexidade.

Durante uma tocata existem diversos momentos. Geralmente ocorre um caminho gradual de desinibição. Sucedem momentos mais experimentais que vão se transformando e a partir da repetição surgem variações atingindo-se harmonias sonoras entre os envolvidos. O improviso, a criatividade e a espontaneidade ativam uma “música intuitiva” onde colaboração e o diálogo rítmico heterogêneo se unem gerando uma expressão sonora coletiva e fluida. Para uma experiência profunda é essencial a atenção, saber escutar, estar aberto a perceber os sons, perceber o que o outro está colocando, tocando e os momentos de pausa. O espaço está aberto à livre escolha, à preferência por determinado instrumento e o momento de tocar. As possibilidades estão presentes, basta o participante escolher ou até criar a maneira de participar.

Aline comenta sua experiência em artigo (idem nota 5) sobre a proposta

“É justamente a junção do momento de cada um que torna aquilo possível, a vontade de cada um de improvisar, de se soltar, de esquecer se sabe ou não tocar, se sabe ou não cantar e se entregar as mais profundas pulsões melódicas e rítmicas de seu próprio ser.” “Com o passar do tempo não temos mais consciência de sermos separados do todo, a única coisa que sentimos é uma sensação orgânica, de uníssono, uma junção de todos aqueles indivíduos únicos em uma grande música. Mas é uma música que nos preenche não apenas os ouvidos, mas também os olhos, pois olhamos à nossa volta e vemos pessoas diferentes, algumas desconhecidas outras conhecidas, tocando instrumentos que pareciam ser uma extensão de nós mesmos.” (KINCELER, José; VOLKMER, Aline. 2008, p.7)

4 TAZ “Zona Autônoma Temporária”, conceito escrito por Hakim Bey (...) Seu livro T.A.Z.: Zona Autônoma Temporária escrito em 1985 foi traduzido para vários idiomas sendo lido no mundo todo. Nele, a partir de estudos históricos sobre as utopias piratas, descreve a criação e propagação de espaços autônomos temporários como tática de resistência e esvaziamento do poder. wikipedia.org/wiki/Hakim_Bey Livro disponível em: http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/arq_interface/4a_aula/Hakim_Bey_TAZ.pdf 5 KINCELER, José; VOLKMER, Aline. Tocata Visual Aberta. Florianópolis, 2008 KINCELER, José; PEDEMONTE, Francis. Tocata Aberta, A Internet e os processos colaborativos. Florianópolis, 2008

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Durante a Tocata se estabelece uma igualdade pois não são lideradas ou regidas por um pessoa ou sub grupo, assim como em Drum Circles6. Cada encontro é singular já que as pessoas e suas formas de expressão diferem entre si assim como o conjunto de instrumentos reunidos7. A quantidade de instrumentos gera uma sonoridade plural, uma mescla de diferentes ritmos e estilos, uma miscelânea sonora. Alguns encontros são completamente instrumentais já outras possuem até intervenções sonoras com letras improvisadas e sonoplastias. Em sua maioria uma música deriva da outra por não haver pausas, o que origina uma espécie de corrente sonora onde cada elo ou grupo de elos representa um trecho musical. Assim surgem gravações com durações entre duas e três horas, contendo músicas extensas que extrapolam padrões comerciais usualmente adotados.

6 A prática de Drum Circle ou “Círculo do Tambor” possui grandes similaridades e essências com a Tocata. O termo surgiu nos Estados Unidos nos anos 60 e 70 para qualquer grupo de pessoas particularmente da contracultura, que se reuniam informalmente para tocar juntos. O único critério estabelecido para tal é a improvisação e produção em grupo. Também à semelhança da Tocata, em um Drum Circle a música surge sempre nestes casos como uma expressão coletiva, não limitada por gênero ou instrumentação. São utilizados diversos tipos de instrumentos musicais ou formas de se expressar sonoramente. Ocorrem em diferentes locais, de praias à estacionamentos. Drum Circles adotam diferentes configurações, possuindo uma variedade de aplicações como construção de equipe, educação, celebrações, espiritualidade, crescimento pessoal, música de lazer, bem-estar, etc. 7 Alguns instrumentos que já participaram: Cuíca, saxofone, bateria, chocalhos diversos, orocongo elétrico e orocongos acústicos, guitarra, baixo, violão, viola caipira, cabasax, trompete, triângulo, cajón, Djambês de cerâmica, Darbuka, Surdo, ocarinas, flauta, acordeon, piano, escaleta, kalimbas, agogô, berimbau, pandeiro, udu, pau de chuva...

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Minha experiência com a Tocata é sempre enriquecedora. Um momento onde existe a oportunidade de se integrar com o outro. Um espaço de produção coletiva que geram uma mistura também de sentimentos e sensações. Ao me entregar ao momento, atinjo ocasiões onde não penso mais racionalmente na produção sonora, passo à uma intuição rítmica um estado de fluxo8, uma espécie de êxtase. “Quando se encontram em estado de fluxo, as pessoas praticamente ‘se tornam parte da atividade’ que estão praticando e a consciência é focada totalmente na atividade em si.” Um momento em que se esquece o “resto”, uma imersão e um desvio por um período de tempo, que ao fechar os olhos se está em ritmo.

8 Um estado onde Fluxo (do inglês: flow) é um estado mental de operação em que a pessoa está totalmente imersa no que está fazendo, caracterizado por um sentimento de total envolvimento e sucesso no processo da atividade. O termo é proposto pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, o conceito tem sido utilizado em uma grande variedade de campos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Fluxo_(psicologia)

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A Tocata está em processo e cada vez mais em busca de integrações com outras áreas simultâneas ao tocar. Como exemplo marcante está a realização de uma Tocata para produção de uma trilha sonora de um projeto que trato a seguir, a vídeo animação “Assombrações da Ilha”. Uma das áreas que tenho ativado dentro da Tocata é a experimentação imagética através da projeção de criações e manipulações em tempo real de imagens que interagem com a sonoridade do momento. Como desdobramento também está o compartilhamento de algumas ações que estão presentes em vídeos no canal Youtube9 e uma página na plataforma de compartilhamento musical “Sound Cloud” foi criada recentemente para a livre veiculação das produções e sua utilização sem fins lucrativos.

O projeto Tocata Visual Aberta mesmo após seu término vinculado ao projeto de pesquisa vigente na época, foi responsável por desencadear uma série de desdobramentos ao longo dos anos. A Tocata serviu como ponto de encontro e ativador de importantes laços afetivos para a formação de um grupo, já que foi possível conhecer o outro e saber que existiam pessoas, artistas e estudantes que possuíam gostos semelhantes por diversas áreas como música, fotografia, intervenção, vídeo e inclusive animação, o que levou a produzir o projeto que trato a seguir chamado “Assombrações da Ilha”. Passou por diferentes períodos, mais ativos, menos ativos, mantêm-se como uma prática frequente e motivo de estar juntos produzindo.

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9 Todos os links estão disponíveis ao final deste trabalho na seção “Apêndice”.

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Relato Francis Albrecht Pedemonte “A Tocata aberta disponibiliza instrumentos musicais instalados em um espaço incomum. A proposta é simples e direta: “Fazer um som”! O objetivo da tocata é desinibir as pessoas e possibilitar a criação musical para aqueles que não necessariamente dominam esta linguagem. A premissa principal é de que todo ser humano é um músico natural, tendo em vista que, antes do nascimento, o primeiro dos sentidos a ser experimentado é o Som. A intenção é fazer como que todos os presentes se permitam manter uma relação sincera com a música, sem medo de se expressar. Tocar algum instrumento musical é como falar sem palavras. Não é preciso saber ler ou escrever partitura para entender a linguagem sonora, pois estamos constantemente associando imagens, sons, aromas, sabores, e texturas em nosso cotidiano. Trata-se de propor um estreitamento entre a música e as pessoas. Quão fértil pode ser uma “relação musical” quando ela se estende para fora deste encontro? Quão inusitados e originais podem ser os improvisos? A “Tocata Aberta como informação” é completamente diferente da experiência compartilhada entre os presentes. No entanto, esta informação veiculada de maneira correta pode incentivar novas experiências independentes. Para tanto foram registrados encontros ao longo do primeiro semestre de 2008 para a criação de um CD e de um DVD que serão disponibilizados gratuitamente na internet. O registro da experiência tem como objetivo disseminar esta idéia, estimular novas experiências e o intercâmbio entre este material. A internet funciona como agente mediador entre os acontecimentos reais em diferentes lugares. O internauta, ao assistir um dos vídeos do evento, é convidado a realizar o seu próprio som, veiculando-o na rede, agindo como multiplicador.”

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Assombrações da Ilha

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“Assombrações da ilha” foi uma vídeo animação experimental realizada colaborativamente1 com a temática abordada pelo artista e pesquisador Franklin Cascaes. Cascaes foi um pesquisador da cultura açoriana, folclorista, artista, professor, ceramista, gravurista e escritor nascido em Florianópolis que atuou durante 40 anos tendo seu trabalho divulgado somente na década de 70. Seus estudos e produção eram voltados à aspectos culturais, folclóricos, lendas e superstições. Possuía a prática de coletar relatos de histórias e estórias populares sobre bruxas e seres místicos contados pela população ilhoa. Cascaes era interessado por estes temas, pois percebia que estavam sendo perdidos e esquecidos dentro de um contexto de progresso e modernidade da época. Amava a tradição, deixando grandes contribuições para o resgate e preservação da identidade cultural do município.

As gravuras e desenhos de Cascaes possuem uma riqueza de elementos, detalhes, figuras e seres interessantes, propícios para migrar à outras linguagens. Com base neste acervo cada participante do grupo escolheu a gravura que mais lhe tocou retirando desta um personagem. A partir desta seleção foram utilizados diferentes recursos e técnicas de animação e vídeo para a produção de pequenos trechos animados. Alguns optaram por produzir partindo do bidimensional para o tridimensional, criando modelos mais escultóricos em massinha, silicone e madeira ou simplesmente utilizando objetos do cotidiano como garrafas PET para a produção. Outros preferiram por uma animação bidimensional, utilizando softwares de computação gráfica, desenhos quadro a quadro, recortes fotográficos digitais animados ou modificações digitais.

1 O grupo recebeu um convite para produzir um vídeo a ser exibido durante a Semana de Comemoração do Centenário de Franklin Cascaes em 2008.

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Em meu caso ocorreu uma colaboração com Aires da Fé, técnico da Oficina de Marcenaria no Centro de Artes. Foi escolhida uma imagem, que retratava uma inversão de valores e funções onde dois bois chicoteavam dois homens que puxavam um carro de bois, como uma revanche. Com as técnicas e imaginação de Aires optamos por confeccionar a cena em madeira, criamos então uma miniatura articulada do carro de bois. As rodas do carro ao se movimentarem, moviam os bonecos-bois que chicoteavam os bonecos-homens que por sua vez moviam suas pernas simultaneamente. Assim ao optar por tal tipo de construção, pudemos filmar movimentos do carro de boi para inseri-los em outros ambientes utilizando o fundo verde em um processo de Chroma key2. Por se tratar da primeira experiência com este tipo de técnica tivemos alguns problemas na realização deste processo o que resultou em certas falhas no resultado final, mas que fizeram parte do aprendizado.

2 Chroma key é uma técnica de efeito visual que consiste em anular uma cor padrão, como por exemplo o verde ou o azul para posteriormente combinar com uma outra imagem de fundo. Muito utilizado em grandes produções cinematográficas, assim como constantemente em noticias de previsão do tempo televisionadas.

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Durante o processo foram elaborados dois tipos de trechos animados com distintas finalidades e interações. Uns especificamente para serem inseridos em vídeos de fundo onde o próprio personagem passava por certas situações dentro do vídeo, já outros trechos para projeção não possuíam um fundo na imagem abrindo espaço para o preenchimento ao vivo no momento em que eram inseridos em diferentes locais. Em um segundo momento munidos de uma Kombi e um gerador a diesel foi realizado um trajeto urbano pela cidade de Florianópolis projetando em movimento estes trechos das animações produzidas. Para dar início a este trajeto foi necessário abastecer o gerador de energia e acioná-lo em um posto de gasolina. Após diversas tentativas para o funcionamento de seu motor, logramos finalmente ativá-lo. Surgiu assim a primeira imagem animada projetada na cobertura do posto. Foi emocionante, após dias de dedicação na produção dos trechos animados, era como se estivéssemos “liberando os seres”. Sua “materialização” no ambiente estava presente. Assim foi iniciado o percurso. O gerador alimentava os aparelhos eletrônicos no interior do veículo e produzia um som estridente similar ao motor utilizado em baleeiras3. Com a porta aberta e projetor em mãos inseríamos assim os “bichos” animados em diferentes contextos conforme o caminho percorrido. Algumas pessoas se deparavam com a situação e olhavam estranhadas, já outras se encantavam com as criaturas e acenavam. Uma ativação efêmera do espaço público através de um imaginário local onde a projeção “animava” o lugar por onde passava.

3 Barco tradicional de pesca muito utilizado em SC. Conhecimento trazido por açorianos que colonizaram o litoral catarinense. Apresenta dupla proa e uma ótima navegabilidade. Surge em diversos contos e ilustrações de Cascaes. http://escribadoitapocu.blogspot.com.br/2013/02/as-baleeiras-barco-tipico-de-santa.html

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Além da Kombi, outros integrantes seguiam em dois carros produzindo assistência, registrando o processo e as imagens projetadas. Foram realizadas diversas projeções experimentais em edifícios históricos, ponte Hercílio Luz em sua parte inferior, ponte Colombo Salles em seu guard-rail, embaixo de escadas, em muros e calçadas. Foram adotados modos de projeção em movimento de dentro da Kombi: projetavam-se imagens em movimento, o que gerava um dinamismo único ou maneiras mais estáticas de projeção onde a luz projetada se moldava à superfície cobrindo partes ou por completo tais estruturas. O percurso realizado enfatizava a preocupação com o meio ambiente, assim como locais de importância cultural e histórica da cidade. Um destes locais fundamentais na construção da narrativa foram as pedras na praia de Itaguaçu onde projetamos os seres interagindo na água, nas pedras e areia do local, ampliando o leque de projeções experimentais.

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“Onde hoje é a praia de Itaguaçú, existia um lindo gramado onde muita gente ia descansar. Um dia as bruxas da região resolveram fazer uma linda festa aos moldes da alta sociedade. O local para o encontro festeiro seria a praia do Itaguaçú, o mais belo cenário da Terra. Todos seriam convidados, os lobisomens, os vampiros e as mulas-sem-cabeça. Os mitos indígenas também compareceram, entre eles estavam os curupiras, os caiporas, os boitatás e muitos outros. Em assembléia, as bruxas decidiram não convidar o diabo pela razão de seu imenso odor de enxofre e pelas atitudes anti-sociais, pois ele exige que todas as bruxas lhe beijem o rabo como forma de firmar seu odor debochadamente absoluto. A orgia se desenrolava, quando surge de surpresa o diabo que, entre raios e trovões, raivosamente irritado pela atitude marginalizante das bruxas, castiga todos transformando-os em pedras gigantes, que até hoje flutuam nas águas do mar verde e azul da praia de Itaguaçú. Daí o nome do lugar na língua dos indígenas: ITA = PEDRA E GUAÇU = GRANDE.”

Conto de Gelci José Coelho, o “Peninha”

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O processo de edição final centrou-se em unir trechos dos registros das projeções com partes das animações realizadas por cada integrante. Para a composição da Trilha sonora foi realizada uma Tocata Visual Aberta na sala de escultura da UDESC. Assim a partir da projeção ao vivo da video/animação se reagiam aos estímulos visuais com o intuito de traduzir sonoramente as cenas. Adotamos assim um processo que encurtava a distância entre a criação da trilha e sua edição criando especificamente a música a partir das imagens. É importante salientar que os integrantes da produção musical eram membros da equipe da animação, assim como outros amigos que colaboraram com a Tocata mesmo sem fazer parte do vídeo ou do projeto. A animação é um meio que pode envolver diversas áreas e um processo transdisciplinar. No caso de “Assombrações da Ilha” isto ocorreu ativamente já que o grupo envolvido era heterogêneo. É importante destacar também o método de aprendizagem ocorrido onde a cada encontro um participante preparava uma aula sobre algum assunto estabelecendo uma rede de troca de experiências e contaminação com o saber do outro. Uma colaboração como em outros processos onde todos cooperaram com o todo partilhando descobertas no fazer. O processo de “Assombrações da Ilha” se caracterizou por um experimentalismo presente em todas as etapas do projeto assim como um espaço onde a criatividade pôde ser compartilhada. O maior desdobramento surgido a partir da experiência foi a intensificação do convívio entre os membros do grupo, constituindo um dos motivos precursores para o início do Laboratório de Animação e Vídeo-Arte, do Centro de Artes da UDESC, (como laboratório de experimentações colaborativas) e do Coletivo LAAVA. O vídeo reativa o imaginário local em um ciclo que inicia com a estória, o conto, a lenda popular e graças à atitude e expressão de Cascaes materializou um legado do qual foi possível usufruir e assim conceber uma nova materialização aberta a outras transformações. Foi realizada por: Aires da Fé, Ruth Steyer, Francisco Sedrez Warming, Francis Pedemonte, Bruno Ropelato, Leonardo Lima, Lucas Kinceler, João Calligaris Neto, José Luiz Kinceler, Helton Matias, Wilton Pedroso, William Silveira, Tiaraju Verdi, André Ventura, Marcelo Wasen, Rafael Carmolinga, Maximilian Tommasi e Filippi DeLuca.

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Helton Matias em relato transcrito de conversa comigo, realizada e registrada em áudio em 06 de Junho de 2013.

“...Foi uma forma que a gente estava encontrando de subverter o que estava sendo feito em arte. Era o LAAVA surgindo ali. O início das nossas manifestações. O Assombrações foi uma continuidade louca das tocatas, porque nós utilizamos as tocatas até para editar os vídeos. Eu acho que para mim o principal foi quando fui tentar colocar a Barravento pra andar...tentei muitas vezes. Cheguei a propor o lugar para colocar a Barravento. Ficavam perguntando o que eu estava fazendo lá...”eu estava fazendo a garagem para a baleeira”. Quando foram inaugurar a FAED, era como a obra do Christo. Por que o Christo empacota as coisas? Porque na infância dele quando os políticos chegavam, eles empacotavam as casas velhas para os político não ver. ..Levamos a baleeira para o lugar onde era sua garagem que eu ia fazer....tirei fotos dela, editei no corel e no photoshop naquele lugar. Cada um ia na sua viagem. A ideia era cada um criar...tu (Lucas) foi com o carrinho de boi com o Aires, que foi sensacional. Tirei a foto no corel recortei e vetorizei, e cortei tudo o que não era dela, então ficou árvore na frente, a estrutura do carrinho, a roda, e fui tratando no photoshop.... e eu trabalhava no filme (Anima king), e eu convivia com uma galera, e dentre outras coisas eles estavam trabalhando com flash. Então eu fui me capacitando, e como não tinha muito tempo... foi legal porque cada um foi atrás da sua viagem. No último dia eu estava sabendo muita coisa.... mas ainda não estava muito seguro. E fomos no fim de semana para terminar na tua casa. Quem me ajudou muito foi o Deco, foi uma figura fundamental nisso tudo. Eu lembro que ele fez duas animações. Ele fez o lobisomen, que foi muito legal, ele passeando no muro embaixo da ponte, e a lua que ele colocava no prédio do lado do Victor Meirelles . Era para eu fazer no sábado (a projeção...), mas eu fiquei ajudando todo mundo, e no final da noite

Assombrações da Ilha

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eu não quis fazer. Mas, como eu sabia das histórias das baleeiras que roubavam as bruxas, ou melhor, as bruxas que roubavam as baleeiras umas das outras. ... fiz como se daquela cena do Cascaes, as bruxas saíam dela e vinham roubar a baleeira Barravento que não andava mais. Eu tirei as bruxas do Cascaes e coloquei na Barravento. Tenho todos os passos que congelei das imagens dos vídeos de vocês. Congelei imagens em uns momentos.. coloquei a historinha do Cascaes, embaixo a baleeira já editada, e coloquei as bruxinhas na nossa baleeira e comecei a animar. Eles me ensinaram a fazer uns efeitos de luz para assombrar... e depois me surpreendeu o jeito que fomos fazendo. A cena mais legal foi saindo da tua casa chovendo, e paramos no posto do Rio Tavares. E a primeira coisa... já começamos a projetar no teto no posto. E lembro que logo que saímos do posto começamos a pirar no muro e voltamos pela Lagoa. E no centrinho da Lagoa demos umas duas voltas. Uns dois anos depois um cara veio me dizer que estava cuidando de carros em um estacionamento de um evento e nós passamos de carro projetando. E duas vezes projetamos nele...e ele pirou. Ele pensou: “que caras doidos...”. Também teve um momento que um amigo da Ruth entrou de carona, de gaiato, ..e fomos pra baixo (da ponte) e depois na Escola Técnica - IFSC. E de lá, foi muito legal, a gente ia de porta aberta pra projetar a imagem e projetar a poluição...(risos) tinha que ir com máscaras de guerra, de gases nocivos. E também o mais legal que achei... eu nunca tinha passado a ponte, a Colombo Salles ... na saída fomos sempre na primeira projetando no guard rail. Quando chegamos lá (em Itaguaçu) fomos direto para as pedras. Aí nós piramos. A cena que eu achei muito legal lá foi a projeção da baleeira na pedra, que deu a sombra como se ela estivesse ali. Uma das coisas que também achei muito legal...as cenas que poderíamos fazer uma edição do making off.”

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Conecsom

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A proposta Conecsom derivou de um primeiro momento em 2008. Realizou-se em Novembro do mesmo ano uma exposição coletiva dos alunos de Artes Visuais da UDESC chamada “Coporaneidade”, no Museu da Escola Catarinense. Em colaboração com Filippi de Luca após viajem à 28ª BIENAL de São Paulo, retornamos inspirados pelo trabalho de Walter Smetak1 e suas “esculturas sonoras” , e resolvemos então produzir objetos sonoros com materiais descartados. Para tal realizamos derivas em busca de materiais, passando por diferentes construções de prédios e ferros-velhos. A proposta dentro do Museu da Escola Catarinense se concretizou em um espaço onde foram disponibilizados objetos construídos a partir da combinação de materiais descartados e outros onde o próprio objeto era disposto para sua exploração sonora. Tubos de PVC de diversos comprimentos a serem percutidos, garrafas de vidros com diferentes timbres, tubos conduítes2 ligados à bexigas de plástico, garrafões de água, escapamento de moto, metal, cerâmica, só possuíam sentido se “ativados”3, experienciados pelos participantes. Um espaço aberto à experimentações sonoras.

1 Anton Walter Smetak foi um músico suíço que viveu no Brasil a partir de 1937. violoncelista, compositor, escritor, escultor e construtor de instrumentos musicais, Smetak lecionou na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia e influenciou toda uma geração de músicos brasileiros, entre os quais Tom Zé, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Marco Antônio Guimarães. Constrói uma oficina onde cria instrumentos musicais com tubos de PVC, cabaças, isopor e outros materiais pouco usuais. Alguns dos instrumentos não têm utilidade puramente musical. São esculturas influenciadas por sua forma mística de encarar a música e as formas. Ao longo de sua permanência na UFBa, o músico construiu cerca de 150 destes instrumentos, os quais chamou de “plásticas sonoras”. Fonte Wikipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/Anton_Walter_Smetak 2 sm (fr conduite) Tubo de ferro ou plástico, rígido ou flexível, usado em instalações elétricas para passagem de fios condutores de energia. (Fonte Dicionário Michaelis Online). Neste caso foram utilizados de plástico flexível. 3 O termo faz referência ao caráter participativo presente nas propostas de Lygia Clark e Hélio Oiticica. Foram pioneiros em pensar as obras de arte como proposições a serem experiênciadas (parangolés, objetos relacionais ect). Estiveram sempre em busca de descobertas, de seu desenvolvimento pessoal e ser criativo, sendo fundamentais para a concepção deste processo criativo.

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Entre eles havia o que nomeamos de “Medusa”4 por seu formato orgânico, composto por canos conduítes que lembravam tentáculos. Os tubos se dispunham conectados entre si enquanto outros sem conexão funcionavam como saídas ou entradas para o som. Assim, os participantes poderiam escolher entre emitir sons no interior dos tubos, escutar o que estava sendo produzido, tentar se comunicar, ouvir sons provenientes de diferentes pessoas. Estabelecia-se um “circuito sonoro”, um “chat analógico” presencial o que exaltava seu caráter participativo. Medusa- Interasom O primeiro desdobramento desta proposta ocorreu pensando em potencializar a experiência dos participantes. Foram então adaptados à “Medusa”, abafadotres de ruído. Estes possuiam outra função, além de diminuir o ruído externo, possibilitavam a chegada do som aos participantes como grandes “fones de ouvido”. Com isto tornaram o som mais limpo e o circuito um pouco mais limitado ao número de abafadores.

4 Foi inspirado na obra Pindorama (imagem em preto e branco ao lado) de Walter Smetak onde 28 pessoas tocam o instrumento de sopro simultaneamente. Diversos instrumentos criados pelo artista continham a ideia de domar o ego e unir as pessoas.

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Conecsom Um segundo desdobramento se deu ao pensar este último como instalação. Foi realizado pela primeira vez no Bloco Amarelo do Centro de Artes, como uma das propostas para a 2ª Semana Integrada de Produção Simbólica e de Diversidade Cultural do CEART. A instalação interagia com o espaço e as pessoas que se aventuravam a experimentar a proposta (Fig 1 e 2), que permaneceu no local durante três dias. Um pequeno desenho explicava seu funcionamento. Desta vez os abafadores não foram utilizados e haviam cinco saídas que “conectavam” até cinco pessoas simultaneamente quando ativado. Os conduítes são tubos utilizados em instalações elétricas, normalmente “invisíveis” no cotidiano pois estão por dentro das paredes na maioria das construções. Nesta proposta e suas derivações adquirem um outro uso, diferente para o qual foi projetado inicialmente. No contexto como foram sugeridos permaneciam fora interagindo com o lugar e se camuflando na arquitetura. Ao experienciar o Conecsom existem diferentes atitudes. Se ativado por mais de duas pessoas o diálogo se expande à novas possibilidades. O participante pode optar por ouvir mais que falar. Normalmente as pessoas iniciam querendo escutar mais até se sentirem à vontade passando a interagir, em um processo similar ao que ocorre na Tocata, uma “desinibição gradual”.

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Existe o tempo entre falas, se canaliza a atenção, se propõe situações. Situações como a brincadeira da “Rádio Conduíte” onde no caso uma pessoa interpretava um locutor de rádio, surgindo entrevistas entre participantes e até pediam músicas que eram então interpretadas improvisadamente no instante. A exploração sonora também era realizada ao perceber os sons provenientes de movimentos percussivos nos tubos ou simplesmente escutar através destes o ambiente. Um som que muitas vezes remete ao mar. A qualidade do som é alta, já que as ondas sonoras não se dissipam pelo ar mantendo-se através do tubo. Assim os participantes ativavam sua criatividade, imaginação e participação de inúmeras maneiras. Existe a noção de um diálogo íntimo x público onde se pode conhecer um pouco o outro. Atua como um dispositivo artístico relacional que gera uma descontinuidade com as relações com o outro e com o objeto (conduíte, agora em outra função assim como o objeto “comunicação”). A possibilidade de um outro tipo de conversa, ativa outras percepções propondo-se um desvio ao que normalmente se está habituado. O diálogo pode se expandir ao ponto em que ocorrem múltiplos diálogos, cruzamentos e caos. O Conecsom pode ser o mediador para iniciar uma aproximação de maneira distinta. Proporciona uma desaceleração dentro do contexto em que está inserido gerando um momento lúdico aos participantes.

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Outra ocasião onde o Conecsom pôde se desdobrar foi durante o 8º Encontro Regional Sul de Estudantes de Design ocorrido em Florianópolis entre 15 a 18 de Setembro de 2011, desta vez em parceria com Letícia Jorge. O tema do evento “Reviravolta”, descrito pelos organizadores: Trata-se de uma nova proposta de evento, abordando os cinco sentidos, emoções e sensações, de modo que se relacionem com o inesperado e possibilitem, tanto aos participantes quanto aos organizadores do evento, redescobertas e reinvenções de modos, de mundos e de designs.

A proposta da intervenção consistiu unir sonoramente distintos locais do evento utilizando os tubos conduítes. Esta incluiu a criação de diferentes tipos de instalações e conexões específicas para cada local, adquirindo outros formatos. Diferentemente da instalação produzida no Bloco Amarelo do CEART, desta vez estava espalhada por diversos locais. Conectou-se, por exemplo, um banheiro masculino ao feminino. Os participantes só percebiam isto ao tentar estabelecer contato. Neste caso pude notar que a proposta revelou outras interações. Normalmente ocorria o contato visual dos participantes envolvidos. Aqui o tubo ligava sonoramente dois ambientes distintos assim dependendo da intenção, era possível manter o “anonimato”. Outra instalação foi realizada no Hall de entrada ao Auditório do evento. Uniram-se três pontos distintos do primeiro andar ao térreo. Esta possibilitava a escolha de contato visual ou não. Estes desdobramentos do Conecsom apontam para uma relação com tubos utilizados antigamente como comunicação interna dentro de navios, que percorriam longas distâncias conectando diferentes ambientes e são conhecidos como “Talk tubes”. Por se tratar de uma instalação em ambiente público está exposta à diferentes atitudes dos participantes. Mesmo havendo um desenho explicativo deram outro uso a certos dispositivos vertendo líquidos por dentro dos tubos de uma extremidade à outra. O Conecsom como processo que se adapta conforme as condições, que se metamorfoseia, que adquire mutações, me remete à obra Trepantes de Lygia Clarck, assim como o caráter orgânico que adquire.

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Relato Letícia Jorge

O Conecsom passou por diferentes níveis de colaboração, surgindo de uma proposta mais direta (com Filippi) e se expandiu adotando diferentes formatos e funções. Me interessa pensar estas relações já que o Conecsom vem se desdobrando a cada proposição. Desde o primeiro momento se caracterizou como uma proposta que necessita do outro para existir. É pensada para que ocorra a interação e somente tem sentido quando ativado. Cada local absorve sua atividade de maneira singular, seja na forma que é proposto, seja em suas interações. Atos simples (“falar por tubos”) que sugerem outras relações e ativam outras percepções propondo-se um desvio. Em tempos onde o diálogo está ocorrendo cada vez mais auxiliado por equipamentos tecnológicos e dispositivos portáteis o Conecsom caminha em direção oposta já que é necessária a presença física do participante para que ocorra sua ativação, estimulando essa troca interpessoal.

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“Lembro dos primeiros objetos expostos em 2008, onde as pessoas interagiam entre si e a própria obra para obter sons. A primeira reação que tive ao experienciar o Conecsom foi me lembrar da sensação de quando éramos crianças e coletávamos conchas na praia para colocar ao pé do ouvido e escutar aquele barulhinho que parecia do mar, mas era apenas o vento batendo na concavidade da conchinha. Foi assim que me senti, interagindo com um objeto inusitado que proporcionava um resultando também inesperado. Montar o Conecsom no R Design 2011 foi interessante pelo fato de eu já ter conhecido os objetos prévios, mas a proposta desta instalação era conectar as pessoas em diferentes locais, de uma forma que talvez elas nem estivessem dentro do campo de visão da outra. Durante a montagem muitos de nossos colegas e participantes do evento não entendiam o que aquele enorme tubo significava e eu e o Lucas passamos a apresentar a proposta e explicar o que o objeto fazia, e a partir dai as relações já foram se realizando e a interação começando. Novamente me fazia lembrar de outra brincadeira de criança, o telefone sem fio. Onde tentávamos passar mensagens através de copinhos de plástico/embalagens e barbante... Aquela sensação de você falar algo e esperar a reação do lado oposto, ver se a outra pessoa entendeu o que você falou e vice e versa. Os dias foram passando e nós cruzando os lugares constantemente, tendo em vista que instalamos os dispositivos em lugares que havia trânsito continuo de pessoas ou onde poderia haver uma repercussão descontraída, como um dos banheiros. Creio que o dispositivo foi mais utilizado em momentos que as pessoas estavam mais descontraídas como as festas ou horas de grande fluxo de pessoas como as refeições e happy hours. Tivemos situações engraçadas onde falamos com pessoas através dos tubos e encontramos depois falando que conversaram com alguém através da obra; amigos que flertaram as cegas; e pessoas tomando cerveja pelos tubos.Foi uma experiência divertida e de intuito relacional onde interagimos de diferentes formas com pessoas e o espaço, que com certeza seria bem vinda a outros eventos com a mesma proposta.”

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Light Painting é uma técnica fotográfica onde é possível literalmente “Pintar com a Luz” através de um processo de longa exposição onde o obturador da máquina fotográfica é aberto permitindo à câmera capturar qualquer fonte luminosa durante o período estabelecido. O trabalho com a técnica fotográfica de Light Painting* vem sendo desenvolvido desde 2010 e tem sido caracterizado por ser heterogêneo e adquirir diferentes formatos até o momento. Como em outros processos (exemplo: Assombrações da lha), mantêm-se a experimentação através da criação compartilhada tendo o Light Painting como meio. Historicamente os primeiros experimentos em Light Painting ocorreram em 1889 por Étienne-Jules Marey e Georges Demeny que realizavam fotografias como meio de estudo do movimento. Então ao fixar lâmpadas em certas articulações para a caminhada de um de seus assistentes criaram o primeiro Light Painting conhecido. Arquivos do Collège de France. (Figura 1) Outros experimentos foram sendo criados ao decorrer da história, até que Man Ray foi o primeiro artista que se tem registro a usar a técnica.

Fig. 1

Gjon Milli expandiu consideravelmente o meio, inicialmente engenheiro, tornou-se fotógrafo autodidata e utilizou a fotografia e luzes estroboscópicas para pesquisas também entorno do movimento. Ao ser enviado para fotografar Pablo Picasso este se encantou com a técnica e produziu alguns experimentos que ficaram conhecidos como “Desenhos de Luz de Picasso”. (Figura 2) Um artista e também arquiteto que utilizou o Light Painting de maneira peculiar foi Eric Staller. Entre 1976 e 1980, Staller elaborou na cidade de Nova York diversas intervenções urbanas com luzes. Munido com diferentes fontes luminosas interagia com a arquitetura local, criava elementos geométricos, percursos e ações performáticas. Através de suas ações contribuiu amplamente, sendo considerado um dos pais da área. Recentemente com avanços de tecnologias em câmeras e fontes de luz portáteis como LEDs, este meio se tornou mais acessível. Tem sido disseminado principalmente através de Workshops e a internet vem colaborando como plataforma de troca de experiências e compartilhamento, existindo assim uma comunidade entorno deste em constante crescimento. Fig. 2 Picasso Desenha um Centauro, 1949

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Em meu caso, a possibilidade da luz se tornar desenho através de um movimento e seu registro no espaço, me fascinou. Desde o primeiro momento de experimentação da técnica percebi um grande potencial colaborativo. A vontade de disseminar e compartilhar esta experiência com outras pessoas levou a criação de Oficinas. A Oficina de maior duração surgiu vinculada ao Projeto de Extensão – VIDEAR Laboratório Aberto de Animação e Vídeo Arte do qual era bolsista. Ocorreu durante três meses, contou com cerca de 30 participantes e culminou em uma Exposição Coletiva1. Esta foi responsável por descobertas e reflexões para a aplicação em outras oficinas que surgiram posteriormente. Seu objetivo assim como em outras oficinas foi explicar e desenvolver os princípios básicos que determinam a técnica, incentivando a pensar as possibilidades criativas e específicas de cada lugar. Assim a cada encontro formava-se um grupo diferente para a produção das fotografias. Estes não possuíam estudos prévios da direção de cada fotografia, bem como o local, que eram eleitos segundo interesses do coletivo. Logo eram considerados o contexto como principio e as formas de intervir no espaço. A própria natureza da técnica sugere uma articulação direta entre mais pessoas para compor a foto. Deste modo se acionava uma concepção de imagem onde o autor é diluído, e o ato criativo é compartilhado, produzindo de modo colaborativo os “Light Paintings”. Tal articulação resulta em um momento que ocorre a união de pessoas, movimentos e luzes. Inicialmente eram gerados “rastros luminosos” como índices de uma ação performática de gestualidades espaciais, com certos ritmos, ora mais velozes, ora mais tranquilos dependendo da proposta. Após um período a luz passou a auxiliar na criação de cenas improvisadas; uma união entre desenhos luminosos, encenação e produção era necessária para sua efetivação. Cada participante assumia uma posição ou uma determinada função. Alguns participantes atuavam “invisivelmente” encarregados de produzir o desenho no espaço para completar o sentido da imagem. Uma ação veloz destes “agentes invisíveis” que corriam contra o tempo de fechamento do obturador da câmera fotográfica. 1 “Intervenções Luminosas, Experimentações Colaborativas em Light Painting” ocorreu no Espaço Cultural Rita Maria, no Terminal Rodoviário de Florianópolis, entre Outubro e Novembro de 2010. Seu objetivo foi expor alguns dos resultados da Oficina assim como um espaço para a produção de novos Light Paintings. Disponível em http://lightpaintinglab.carbonmade.com/

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O aprendizado surgia a partir da prática. Era interessante notar a velocidade com que os participantes a assimilavam e como em um curto espaço de tempo já se realizavam propostas mais complexas. Já que após a concretização de uma ideia logo em seguida se pensava outra proposta, ativando a criatividade e imaginação nos participantes. Além do desenho luminoso outras ações se expandiram do local para o corpo dos participantes ao iluminar partes de rostos de diferentes pessoas ocorria uma fusão de retratos, ou mescla de rostos, de corpos, identidades sobrepostas com um aspecto fantasmagórico criando-se “novos seres”. Tudo o que for iluminado dentro do espaço de tempo estipulado será registrado na fotografia. A luz dura um período e se dissipa sem materializar-se no espaço, mas sim na imagem. Pode durar poucos segundos ou até horas dependo da proposta. No caso de oficinas até o momento se optou por ocasiões mais efêmeras. Como na “Tocata” o registro produzido captura uma fração da experiência mas, diferentemente e isto é uma das especificidades do meio, este somente ocorre no registro específico da ação. Também difere de uma fotografia “direta”. Além do tempo de produção da ideia concebida, existe outro tempo presente. O tempo de processamento da imagem, que varia entre câmeras. Este gera um período de espera e surpresa, até que o momento é revelado. Se a expectativa e idealização são altas a frustração pode ser de igual tamanho, já que o que se imagina aparece muitas vezes de outra maneira. Deve-se estar aberto ao que surgir, em um “estado de desapego”. Se analisa então a foto para perceber os “índices do ocorrido”; os rastros luminosos marcados na imagem. Dependendo da ideia alguns elementos são fundamentais para que a imagem faça sentido então se necessário repete-se a ação. Após o processo concluído muitas imagens apontam para uma produção com auxilio de softwares de manipulação digital mas, raramente se utilizam ajustes digitais (se utilizados são no sentido de contraste e brilho), assim se preservam as características do momento.

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O Projeto de Extensão LAAVA foi inscrito dentro do 6º Encontro de Extensão2 da UDESC. Como maneira de estender e representar um pouco do que foi promovido durante o Projeto, optou-se por uma apresentação em forma de Oficina para gerar uma ocasião de experimentação da técnica para os alunos de uma escola de educação básica do município. A faixa etária das crianças variou entre 7 e 9 anos. Percebi o potencial educacional através desta técnica, pois ao compartilhar o fazer, se estimula um senso de companheirismo. Outros potenciais estão ao ativar a imaginação, a criatividade e a noção espacial das crianças, ao se desenhar no “vazio”. Assim como a coordenação motora que também é trabalhada através deste desenho expandido. A proposta foi totalmente absorvida por eles de maneira rápida e logo já estavam movimentando de forma energética as lanternas. As crianças tinham vontade de ver imediatamente o resultado, ansiavam por novidades, aprender e mostrar que sabiam. Esta técnica funcionou muito bem, pois as luzes ao serem atraentes, fascinaram a maioria e o resultado era instantâneo, o que estimulou ainda mais as crianças a querer explorar outras possibilidades.

O Light Painting também pode se mesclar a outras áreas e contribuir para ampliar seus limites. Tive a oportunidade de colaborar com um grupo de teatro formado por alunos da UDESC incorporando a proposta á peça criada. Um processo longo de experimentações e ensaios que resultou em uma apresentação onde se mesclou dança, jogos teatrais, coreografias e Light Paintings criados e projetados ao vivo.

2 Foi realizado em Joinville entre 19 e 20 de Maio de 2011 e teve como tema “Extensão Universitária: Instrumento de Transformação Social”. O encontro discutiu questões pertinentes à Extensão Universitária, assim como propiciou um espaço para a socialização dos trabalhos desenvolvidos no decorrer de 2010 pela UDESC. Reuniu mais de 300 extensionistas, foram apresentadas 182 ações de Extensão, sendo apresentadas de forma oral, vídeo relato, banner ou oficinas que passaram por uma avaliação por professores da UDESC, UFSC, IFSC, UFFS, UFSM e UFRGS.

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Relato Leonardo Lima da Silva “Durante os encontros da Tocata Visual, éramos acostumados com a exibição de videoarte e animações em

Este meio permite uma grande variedade de experimentações. No caso apresentado um processo em constante exploração que foi e está sendo construído em torno de suas especificidades, partindo de algo graficamente isolado até encontrar maneiras de interagir com o local, se integrando e propondo outros significados para certas situações. Mais que o resultado estético da imagem, interessam os processos construídos nas oficinas que vêm possibilitando momentos de convívio e criação onde cada um se expressa para contribuir com o todo gerando experiências que ampliam a subjetividade individual e coletiva.

simultâneo a improvisação musical, o que culminaria na proposta coletiva do Assombrações da Ilha, a qual possibilitou a instalação de um laboratório experimental onde a linguagem do vídeo era compartilhada e criada a partir de outras linguagens e procedimentos, como a escultura, desenho ou animação digital, atuando como uma possibilidade de construir sentido coletivo. Acredito que desde então as câmeras passaram fazer parte indispensável de todos os encontros, primeiro como forma de registro das diversas ações e situações de convívio que criávamos. Com certo tempo, as imagens atingiram um limite em que o registro documental não atendia mais as expectativas e era preciso encontrar novas maneiras em que as imagens pudessem envolver outros processos criativos a serem compartilhados com o outro e em diálogo próximo com contextos específicos. Nesta época, a técnica fotográfica de Light Painting surgiu como um recurso ideal para atender essas expectativas. Possibilitou uma maneira de fotografar diferenciada, ao invés de simplesmente posicionar a câmera e disparar a máquina em uma cena passível de ser capturada, a fotografia em Light Painting da maneira que víamos, envolvia outras ações além do ato de fotografar. Uma série de encontros foram então realizados, onde as fotografias só seriam produzidas se houvesse a colaboração de todos para sua prática. Os temas, enquadramento assim com todo o resto, eram decididos por quem estivesse participando em cada situação e contexto. Enquanto um estava na câmera, outro estava com as lanternas, outro estava em movimento, outro parado enquanto era “desenhado” pela luz e a foto resultava como produto de uma dinâmica complexa, repleta de gestos performáticos, improvisados e encenados em contextos específicos. Nem percebíamos as horas que se passavam enquanto estávamos imersos no Light Painting, vivenciando por completo a fotografia que estávamos encenando. Se bem me recordo, os encontros foram realizados durante um semestre nas quintas-feiras à noite, mas se desdobrou para outros contextos envolvendo pessoas diferentes e mostrando como um dispositivo capaz de gerar descontinuidades e produzir relações de afeto através da fotografia.”

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A Geodésica Cultural Itinerante é uma estrutura Geodésica1 criada com o intuito de realizar itinerancias artístico culturais e se constitui como espaço de múltiplo uso, aberto à trocas de experiências, desejos e saberes entre os participantes. Um dispositivo agregador de atividades e de autogestão que incentiva propostas que gerem colaboração, diálogos e reflexão. (...) “a Geodésica Cultural tem como objetivo atuar um espaço praticado itinerante capaz de oferecer condições materiais e humanas para a realização de diferentes projetos cuja base é a implementação da criatividade visando a reinvenção de relações sociais, culturais e meio ambientais.” (...) “Esta proposta passa então a englobar situações na realidade onde o laço representacional que fundamenta o campo específico da arte se vê diluído em favor de estratégias que atuam nos limites entre a arte e mundos de vida possíveis de serem compartilhados.” (Geodésica Cultural Itinerante, 2012, p.14 [livro ainda não publicado]) Desde sua inauguração, em 2011 a Geodésica “itinerou” por distintos locais passando pelo Estacionamento do CIC Centro Integrado de Cultura em Florianópolis, comunidade do Mont Serrat, Rádio Campeche e Escola Básica da Barra da Lagoa, além de atuar como coletivo junto ao Projeto Revolução dos Baldinhos e no projeto Vila Flores (POA).

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Além de ser uma estrutura física constitui o coletivo Geodésica Cultural Itinerante atualmente formado por: Helton Patricio Matias, Leonardo Lima, Lucas Sielski Kinceler, Paulo Villalva, Tatiana Rosa, Paula Tonon Bittencourt, Aires de Souza, José Luiz Kinceler, João Calligaris Neto, Pedro Freiberger, Raphael Alves, Adelino Neto, Francis Pedemonte. Sendo alguns de seus integrantes vinculados ao grupo de pesquisa Arte e Vida nos Limites da Representação - UDESC/CNPq.

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Estação Geodésica A Geodésica iniciou seu percurso itinerante através da realização do evento “Estação Geodésica: Ações em Arte Contemporânea” no dia 19 de Novembro de 2011. Este ocorreu no estacionamento do Centro Integrado de Cultura, o CIC, em Florianópolis. O projeto foi criado e desenvolvido em parceria entre a Geodésica e acadêmicos da disciplina de Agenciamentos Culturais do curso de Artes Visuais. Aconteceram diferentes propostas como interferências ambientais, teatro, instalações, oficinas, música e mostras audiovisuais. Dentro deste agenciamento propus uma Oficina de Light Painting onde foram possíveis mais experimentações. Como em outras oficinas a dinâmica para a criação das fotografias surgiu sem um roteiro predeterminado, as próprias experiências foram norteando, e apontado novos caminhos a partir do entendimento da proposta. Dentro do espaço do Evento, é possível destacar um momento de integração entre a Oficina e uma Tocata. ao se interagir com luzes nos participantes. Ao final da proposta, os resultados/ experimentações foram projetados em uma tela de Lycra esticada na estrutura. Assim foi ativado um espaço fora dos padrões tradicionais de exibição. Um estacionamento se torna habitado, praticado já que se estabelecem outros usos que vão além do projetado inicialmente e sua função é assim distorcida. Com esta ação senti um “estado nômade” possível pela proposta e seu contexto.

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Panorâmica Mont Serrat A “Panorâmica Mont Serrat” foi um evento artístico cultural realizado na comunidade do Monte Serrat também em Florianópolis e envolveu um grande agenciamento entre diferentes grupos2. Segundo o release do evento “A PANORÂMICA tem como proposta artística promover a reinvenção do cotidiano por meio de vivências artísticas através da produção de descontinuidades, da simultaneidade de saberes, da solidariedade afetiva e, principalmente da criatividade compartilhada a ser vivenciada conjuntamente com a comunidade do Mont Serrat”. Assim foi proposto “um intercâmbio cultural entre os saberes de ambos os contextos sendo realizadas oficinas de arte, apresentações musicais, apresentações de dança, projeções áudio visuais3, jogos, sorteio de passeio de balão, entre outras propostas”. Em parceria com Antônia Wallig propomos a montagem de uma Horta Vertical4 de maneira lúdica. O processo de montagem da Horta foi desconstruído em etapas e transformado em uma espécie de “gincana”. Esta possuía o objetivo de gerar uma experiência entorno da Horta para as crianças, estimulando o trabalho em equipe, o contato com a terra, o plantio e os outros sentidos. Assim cada etapa foi permeada por estímulos à outros sentidos por meio de “vendas” para anular a visão, sacos plásticos cheios d’água, a relação com diferentes matérias, provocou sensações que aguçaram a sensibilidade das crianças. Mesmo sem qualquer ajuda financeira para os diferentes grupos envolvidos no evento, ocorreu a sensibilização com a proposta e atuaram de forma cooperativa e solidária em um dia que ficou marcado na história do Mont Serrat. 2 Produzida entre os mestrandos da disciplina Arte Relacional nos limites do Real, do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV) da UDESC, pelo Conselho Comunitário do Monte Serrat, pelo Centro Cultural Escrava Anastácia, Escola de Ensino Básico Lúcia do Livramento Mayvorme, Projeto de Extensão Laboratório Aberto de Animação e Vídeo-Arte (LAAVA- VIDEAR), Oficina Experimental de Vídeo Arte e Geodésica Cultural Itinerante. 3 Gentil Camilo Nascimento Filho, foi um músico tocador de um isntrumento raro, ancetral do violino, o orocongo. Antigo residente da comunidade do Mont Serrat, Seu Gentil do Orocongo. Uma Mostra de Vídeos foi realizada em sua homenagem “VI Mostra VIDEAR - Seu Gentil do Orocongo” reuniu um material inédito de vídeo e áudio que abordavam alguns dos momentos de convívio do Coletivo LAAVA com Seu Gentil. Já que durante dois anos, se teve a oportunidade única de vivenciar algumas de suas canções, tocando e aprendendo a construir o instrmumento monocórdio em extinção. Em foto abaixo: projeção em copa de árvore no espaço do evento (fotografias de Douglas Sielski). 4 A Horta Vertical constitui um Projeto iniciado pelo Prof. Dr. José Luiz Kinceler com início em 2006 e vem se desdobrando em diferentes agenciamentos coletivos.

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Revolução dos Baldinhos A Geodésica como coletivo, vem atuando desde o início de 2012 junto ao Projeto Revolução dos Baldinhos. Este é um projeto de agricultura urbana com a finalidade de transformar o resíduo orgânico da comunidade Chico Mendes em adubo5. O coletivo vem atuando junto à “Revolução” com saberes que envolvem cerâmica, Hortas Verticais através da reutilização de pneus, vídeo, fotografia, etc. Algumas propostas que já se realizaram junto à Comunidade entre 2012 e 2013 foram: Sementeiras, Roteiro Experimental Colaborativo, Oficina Aberta de Cerâmica , Forno cerâmico, Hortas Verticais, Mostras Audiovisuais, Cortejos 1,2 e3, “Torneio Vira Pneu”, Oficina de História em Quadrinho (HQ), HQ Expandido e Teatro de Sombra Experimental. Como um dos frutos desta parceria entre os dois projetos está no fato que uma moradora e participante dos projetos, chamada Cintia Cruz, com o conhecimento adquirido durante este período, está atualmente ensinando cerâmica para crianças na comunidade.

Os projetos seguem em processo, ocorrendo semanalmente uma Oficina aberta de cerâmica e novos

desdobramentos a cada encontro.

5 Idealizado e gerido pelo Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (CEPAGRO). O projeto iniciou como solução para uma grave infestação de ratos que causou doenças e até mortes de pessoas. Surgidos na comunidade devido ao manejo incorreto do lixo. São utilizados baldes para a coleta dos resíduos orgânicos por agentes comunitários de aproximadamente 100 famílias e destinados ao pátio de compostagem para sua transfomação. Uma tecnologia social que vem capacitando jovens, sensibilizando famílias e promovendo melhorias na comunidade.

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Vila Flores O Projeto Vila Flores está se desenvolvendo em Porto Alegre, a partir da revitalização de um conjunto arquitetônico histórico6 localizado no Bairro Floresta. A proposta é criar um centro cultural a partir de processos artísticos colaborativos em integração com a comunidade. Em Dezembro de 2012 foi realizado o primeiro encontro nos prédios que se chamou “Visita aos predinhos do José Lutzenberger”. Este reuniu grupos diferentes da região Sul. O evento principal foi concentrado em um dia, abriram-se as portas ao público, à comunidade para iniciar um processo de diálogos, trocas e ideias sobre o Projeto. O Coletivo Geodésica realizou uma Oficina de Construção de Horta Vertical a partir da reutilização de pneus, que foi construída compartilhando este saber com os interessados colaborativamente. Além disto, promoveu momentos de Tocata Aberta, onde se interagiu por exemplo com uma fachada dos prédios transformando suas varandas em pequenos palcos voltados para um pátio interno, onde cada membro participante posicionou-se com um instrumento musical para produzir um momento sonoro. A convivência durante a residência marcou o evento, estabelecendo relações com a vizinhança e outros coletivos. O Projeto está em andamento em busca de formas de financiamento coletivo, prefeitura, editais de incentivo à cultura, etc. Desde seu recente início já cativou diferentes grupos que estão colaborando cada vez mais para o crescimento da proposta.

6 O conjunto arquitetônico foi projetado por Joseph Franz Seraph Lutzenberger em 1928. Os amigos Antônia Wallig e João Wallig são atualmente os proprietários e idealizadores da proposta.

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Relato Paulo Andrés de Matos Villalva. “Fazem agora quase dois anos desde que entrei por uma das conexões da Geodésica Cultural itinerante, atraído primeiramente pelas experimentações com instrumentos de cerâmica, me emaranhei em suas linhas e na construção de sua cópia expandida no espaço. Digo isso por que a Geodésica de hoje não é mais a mesma de outrora, de estrutura física transformou-se em escultura transparente que deslizou por diferentes lugares, sempre atrás de propostas que não vingavam como idealizadas, mas sim sempre como o outro, desconhecido infinito que sempre nos surpreende não por sua superação, mas pela superação de nossa petulância em acreditar que podemos dizer sempre o que esperar das pessoas. Não podemos, para o bem e o mal, e isso esta itinerância provou. A estrutura escultórica Geodésica foi planejada e construída em grande parte pelo colega Helton Matias, construção que chamava a atenção de quem chegasse á sala de esculturas da UDESC. O que poderiam aquelas pessoas estar criando dentro daquela escultura de linhas de dimensões prediais no espaço? Logo no seu batismo, no estacionamento quase abandonado de um CIC em semelhante estado mergulhei em simultaneidades afetivas e no “caos” gerador do devir do momento. Além de realizar uma oficina de cerâmica, participei de uma grande tocata espontânea, com diversos tipos de instrumentos, misturada com as oficinas de queima-de-minuto, lightpainting, e uma macarronada a lá Tiravanija. Sai dali com um certo incômodo: havia ido ao evento esperando uma diversidade maior de oficinas, que na verdade não ocorreram, em geral, por que seus propositores não apareceram. Ali a proposta da geodésica causara em mim uma descontinuidade, eu saíra dali com mais amigos e deslocado de minha zona de conforto. Dali em diante passei a atuar coletivamente na construção de propostas para a itinerância da Geodésica. Os planos nesse ponto: propostas para a instalação da Geodésica na Rádio Comunitária Campeche. Começamos ajudando na festa de final de ano da Rádio, aberta á comunidade, com oficinas e shows de diversos grupos musicais. Em seguida, início de 2012, “Deslizamentos em Pet”. Ficou na idealização, assim como a integração do pessoal da Rádio, que apesar de nossos insistentes convites nunca participavam das atividades realizadas naquele espaço. Apesar disso, aconteceu: “Peteca cervejeira”, “Pastel Cervejeiro”, “Ping Pong Cervejeiro”, Tocata cervejeira”, e vários de nós

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saímos como “mestres cervejeiros” ao final de um semestre. Apesar das frustrações, saí da Rádio conquistando alguns novos amigos, como as moças da Revolução dos Baldinhos, o Rafa das visuais, Taliana, e o Rafa da música. Do Campeche para a Barra da Lagoa. Planejado: Atividades em conjunto com a escola municipal do bairro e com o grupo cultural Arreda Boi. Realidade: a diretora da escola e o grupo cultural não possuíam um bom diálogo. Muitas oficinas planejadas, poucas concretizadas, mas fiz acontecer uma oficina de cerâmica e história em quadrinhos. Mas, para além do relato da oficina, que trouxe muitas novidades, principalmente nos conflitos que gerou com a diretora no referente ao forno para queima de cerâmica, recorto agora um detalhe inesperado e significativo: a Geodésica, montada no pátio da escola, “desnudada” de sua cobertura improvisada, e por isso até mais interessante como escultura, servia como base para a invenção de jogos, pelos alunos, no período do recreio. Com uma criança dentro, várias do lado de fora, aquela de dentro tenta “pegar” quem está fora, que por sua vez se aproximam e dão chance ao azar de serem pegos. A Geodésica, desmontada por que incomodava a diretora da escola com sua presença, serviu de brinquedo para as crianças no recreio. Por fim voltou para a UDESC, reformada, pintada, e nesse instante montada ao lado do prédio das Artes Visuais por solicitação do Diretor de Centro. Ali ela deve participar de novas histórias e abrigar incontáveis afetos. Além dos calos nas mãos das montagens e desmontagens daqueles caibros pesados, a Geodésica me deixa um sentido de itinerância que se aproxima em muito de errância: me perdi para me achar, e continuo me perdendo, apostando no incerto e nos devires de cada contexto e momento.”

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Referências Bibliográficas

TCCs

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Apêndice

Coletivo LAAVA

Links para acesso a trabalhos

http://www.youtube.com/user/coletivolaava Laboratório Aberto de Annimação e Vídeo Arte

Youtube Tocata Aberta “Tocata Aberta - Construção do Djambé” https://www.youtube.com/watch?v=DdvzT1b7-QA “Tocata Aberta - Colocando o couro”

https://www.youtube.com/user/laboratoriolaava Assombrações da Ilha http://www.youtube.com/watch?v=xEv8_-1aZCY&feature=c4-overview&list=UUBJJeG5M0yGdbyWPndw6kaw

Oficina Light Painting LAAVA

https://www.youtube.com/watch?v=ZRZj8yDNpDA “Tocata Aberta – Queima”

http://lightpaintinglab.carbonmade.com/projects/2895160#1 Geodésica Cultural Itinerante

https://www.youtube.com/watch?v=XETf1spO4Ns “Tocata Aberta - Primeira e Segunda”

https://www.facebook.com/geodesicacultural?fref=ts Canal Youtube Geodésica

https://www.youtube.com/watch?v=uhzMwRgowts “Tocata Aberta – Terceira” http://www.youtube.com/watch?v=gJMLI5CI_Kw “Tocata Aberta – Quarta” http://www.youtube.com/watch?v=-CD9QH1F6MY

https://www.youtube.com/channel/UCBJJeG5M0yGdbyWPndw6kaw “Estação Geodésica: Ações em Arte Contemporânea” http://geodesicanocic.wordpress.com/about/ Revolução dos Baldinhos

“Tocata Aberta - Quinta e Sexta”

https://www.youtube.com/playlist?list=PLOjBCyiwBVVI2ZiolSSh4EDkfRvVbqGpF

http://www.youtube.com/watch?v=MqRu11v6CcA

http://cepagroagroecologia.wordpress.com/tag/revolucao-dos-baldinhos/

Link Sound Cloud Tocata Visual Aberta

Projeto Vila Flores

https://soundcloud.com/tocata-visual-aberta

https://www.facebook.com/vilaflorespoa?fref=ts

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