Exposição "o suor da testa mora dentro dos marimbondos"

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DAVI DE JESUS DO NASCIMENTO

Ministério da Cidadania e Vale apresentam

Davi de Jesus do Nascimento (1997 - Pirapora, MG) é artista barranqueiro curimatá, arrimo de muvuca e escritor fiado. Gerado às margens do Rio São Francisco - curso d’água de sua pesquisa -, trabalha coletando afetos da ancestralidade ribeirinha e percebendo “quase-rios’’ no árido. Um de seus maiores interesses para a nascença na prática primária da pintura é a terra, mãe inicial. Utiliza o corpo como instrumento de medida do mundo. Corpo-médium, confrontado e confundido com a natureza. Uma natureza aquática, barrenta e silenciosa, que pode ser lida como isca, peixe e pedra.

o suor da testa mora dentro dos marimbondos DAVI DE JESUS DO NASCIMENTO

Foto acervo do artista 1992

CURADORIA JÚLIO MARTINS

Iniciativa:

Patrocínio:

A exposição o suor da testa mora dentro dos marimbondos apresenta trabalhos recentes do artista barranqueiro curimatá - Davi de Jesus do Nascimento. Natural do norte de Minas Gerais, da cidade de Pirapora, e gerado às margens do Rio São Francisco - curso d’água de sua vida e também de sua pesquisa artística -, Davi localiza

Apoio:

suas performances, fotografias e acervo imagético familiares, objetos apropriados e reencantados, desenhos feitos em aguamento barrento e vídeos na paisagem ribeirinha de suas origens. Sensível “aos gemidos das carrancas naufragadas e aos gritos de alerta dos surubins e saruês”, reconstrói elementos cotidianos, míticos e Realização:

sagrados das águas sanfranciscanas em suas obras. Reconhece “nostalgia e ancestralidade densas” na corrente fluvial, vinculando intimamente sua memória familiar ribanceira ao fluxo do rio-tempo, “por de través o galgar


trêmulo do adoecimento dos corpos de rio”, ao relacionar a morte por afogamento de sua mãe à agonizante

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situação do Rio São Francisco (a ponte caiu, se vira e atravessa nadando - exorcismo de dor). Há meses Davi carrega consigo, “na cacunda”, uma imensa carranca de 20 kg, figura de proa das embarcações originárias de

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sua terra natal no século XIX e que vai protegendo e abrindo os caminhos singrados pelas canoas. Vindo de uma família de mestres carranqueiros, Davi, com esse gesto, demonstra seu desejo de manter-se ancorado

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às águas espessas do rio e honrar a cultura barranqueira que forja e alimenta seu ser: “Prometi vida às águas

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sanfranciscanas a partir de meu fazer artístico”. Assim, seus oratórios são feitos a partir de proas de barcos construídos por seu pai, erguidos no chão do espaço expositivo e ornados com vestígios da umidade da terra, da suculência dos tamarindos, do fedor das escamas viscosas dos peixes, das carniças molhadas de sua

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comunidade, das correntezas e demais “águas guardadas” que esconde em si (oratórios). Já as partes anteriores das mesmas embarcações se acoplam para, sob o véu de um mosquiteiro, tornarem-se um “leito” - palavra que o rio e seu corpo, novamente, partilham em cumplicidade (caixão). Em pesca-ameaça de naufrágio da barca ou ensaio para morrer com o Rio, a ação de Davi narra um nascimento ou batismo às

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avessas, já que o artista é pescado pelo pai desde as águas para a canoa, como num relato mítico em que gênese e morte se dissolvem, indistintas. Para Davi, “é importante lucidar que os rios nunca morrem. E que eles se vingam. O Rio São Francisco - este que não canso de moer em meus dizeres e continuo tendo ao lado, como no quintal em que nasci, cresci, e sobre o qual me pego pensando a todo instante - vai se

1 “visita é bom só até três dia, depois começa a feder peixe” tapete impresso, 2024 (outra obra da série encontra-se no hall de entrada do Memorial Minas Gerais Vale, 1º andar)

transformar num gigante curso d’água de pimenta braba para banhar os olhos de quem o mata.

2 “grito de alerta” carta do rio para a população barranqueira encontrada nos documentos de

Eu cego com ardência o andado de meus inimigos enquanto eles se banham. Tomo corpo de sucuri

minha mãe junto com meu umbigo embrulhado numa gase jornal impresso, 33x24 cm, 2000

para destruir suas casas”.

3 “a ponte caiu, se vira e atravessa nadando”, exorcismo de dor lembrete e fotografia contidos

Júlio Martins, curador

dentro de fragmento de álbum, 33x26 cm, 2013-18 trabalho realizado dias após a morte de minha mãe. 4 “oratório I” fragmento de embarcação construída pelo meu pai, objeto de águas guardadas, 300x80x40 cm, 1998-2019 5 “oratório II” fragmento de embarcação construída pelo meu pai, objeto de águas guardadas, 300x80x40 cm, 2003-2019 6 “caixão” ou “silenciador de muruins” fragmentos de embarcações construídas pelo meu pai com mosquiteiro, objeto de águas guardadas, 215 kg, 1998-2003-2019

O Edital para Novos Artistas do Memorial Minas Gerais Vale foi lançado entre 2013 e 2014 com o objetivo de apoiar e dar visibilidade à vasta e diversificada produção artística contemporânea do estado, sobretudo de artistas em início de carreira. Durante esse período foram realizadas 19 exposições. Em 2019, inicia-se mais uma etapa do Edital, ainda voltado a artistas em início de carreira, mas independentemente de idade. Com uma nova coordenação, o projeto atual propõe um acompanhamento junto aos artistas, com o objetivo de proporcionar o maior amadurecimento dos trabalhos e a potencialização dos projetos expográficos.

7 “conversa afiada” áudio de minha bisavó Francisca, 33 segundos, 2019 8 “pirão de peixe com pimenta” vídeo VHS do acervo de família, 3’57”, 2001 9 10 11 “a correnteza zanza silêncios” desenhos com aguamento barranqueiro, 55x75 cm, 2019 12 “pesca-ameaça de naufrágio da barca ou ensaio para morrer com o rio” ritual de rede prá engasgo de espinha, fotografias, 40x60 cm, 2016. crédito: Bicho Carranca 13 “inundador de barcas de afago” ou “anti-gemido de carrancas naufragadas” objeto de águas guardadas, cabeça de saruê fincada em corda torada de âncora, 40x42x6 cm, 2017-18 14 “corpo-embarcação” fotografia analógica, 23x17cm, 2019. crédito: Alexandre Lopes


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