A C I D A D E N O E SC U R O urbanismo, sentidos, percepção e inclusão.
A CIDADE NO ESCURO urbanismo, sentidos, percepção e inclusão.
ENSAIO TEÓRICO 2/2016
LUISA CORREA DE OLIVEIRA 12/0017253 Universidade de Brasília Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Ensaio Teórico Orientadora:
Prof. D.ra. Giselle Chalub Martins Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UnB
Banca examinadora:
Prof. D.ra. Gabriela de Souza Tenório Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UnB Prof. Ma. Paola Caliari Ferrari Martins Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UnB
Brasília - DF
Às minhas viagens que tanto me inspiraram, aos meus queridos FAUmigos pelos anos de amor, carinho e boas risadas, aos meus incríveis voluntários que tão carinhosamente me ajudaram na experiência prática deste Ensaio em uma manhã chuvosa de sábado: Bárbara Coelho, Célia Corrêa, Diogo Corrêa, Sirleno Filho, Jéssica Oliveira, Iara Martins, Rayssa Soares, Luísa Sabino, Raquel Vitória, Giselle Chalub, Gabriela Tenório, Wanda Meyer e Thiago Abreu; à minha orientadora pelo zelo, dedicação e empolgação desde o primeiro minuto até o último, às pessoas do CEEDV por serem a inspiração e o sentido deste trabalho e à minha família por ser minha luz, minha vida e meu maior motivo de dedicação. Sem vocês eu nada seria. Sem vocês nada teria porquê. À vocês, escrevo.
Entrada da exposição “Tactografia e Fotografia” do fotógrafo Gabriel Bonfim. Museu da Imagem e do Som, São Paulo. Foto: Acervo Pessoal.
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
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Apresentação Objetivos Justificativa Metodologia
A percepção espacial e os sentidos 21 Perceber 23 Corpo e espaço Arquitetura e os sentidos 25
A deficiência visual e a escala urbana Cidade para as pessoas A legislação A cegueira e a cidade multissensorial
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CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
DIRETRIZES
De que cor é a sensação do escuro? As pessoas Realidade mapeada
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À deriva
Deriva urbana Os resultados
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72 BIBLIOGRAFIA
Diretrizes Conclusão
31 33 42
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12. INTRO DUÇÃO
13. 14. 15. 18.
apresentação objetivos justificativa metodologia
APRESENTAÇÃO
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Este Ensaio Teórico desenvolvido para a disciplina Ensaio de Teoria e História de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília com o título “A Cidade no Escuro”, trata do tema da deficiência visual e seu impacto na experiência urbana. Consiste, primeiramente, no estudo aprofundado das questões filosóficas, psicológicas e sensíveis que abrangem o tema da deficiência visual, o estudo das transformações urbanas que aconteceram historicamente em nossas cidades no âmbito da legislação e a nossa situação atual, no que concerne ao tema da acessibilidade, da inclusão e da apreensão de nossos espaços urbanos. O produto final do estudo são diretrizes a respeito dos atributos morfológicos que contribuem ou prejudicam a adaptação de deficientes visuais na cidade.
Fonte: https://www.pinterest.com
O objetivo deste Ensaio Teórico é, a partir de embasamento teórico e técnico, estudar e analisar a percepção e a vivência cotidiana de pessoas deficientes visuais inseridas no espaço urbano contemporâneo, resultando em diretrizes e reflexões teóricas e práticas a respeito de uma cidade acessível e inclusiva.
ESPECÍFICOS 1
Revisar a literatura sobre a filosofia e a psicologia relacionadas à deficiência visual e à percepção espacial;
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Revisar a literatura sobre as transformações urbanas que culminaram no modelo que vivemos hoje, o conceito de cidade para as pessoas, sustentabilidade social e a escala humana;
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Elaborar entrevista com deficientes visuais em Brasília e entender sua vivência cotidiana no espaço urbano;
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Realizar deriva urbana com estudantes de arquitetura e arquitetos, para sensibilização e reflexão acerca dos atributos morfológicos, que ajudam ou atrapalham o deficiente visual;
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Desenvolver diretrizes para refinar a acessibilidade e a experiência multissensorial de nossas cidades.
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OBJETIVO GERAL
JUSTIFICATIVA
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Praga 2015, retorno. Após vivenciar o mundo europeu e conhecer muitas e muitas pessoas, lugares e culturas diferentes eu nunca mais fui a mesma. Retornei para Brasília e a forma como eu enxergo sua modernidade e todas as suas peculiaridades mudou bastante. Buscando formas de entender o mundo além da minha realidade, com o olhar de estudante de arquitetura e urbanismo, ingressei no CEEDV Centro de Ensino Especial para Deficientes Visuais como voluntária e fui absorvida e profundamente tocada pelo mundo daquelas pessoas. Buscando uma oportunidade de espalhar essa sensação para o maior número de pessoas possível, e cumprindo o papel social de minha futura profissão, assim escrevo. “Você e eu vivemos em um mundo claro. O escuro nos incomoda, limita e tem constantemente uma conotação ruim. Mesmo no escuro, queremos sempre enxergar.
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A paz e o silêncio perderam espaço para uma tormenta de informações e um bombardeamento de luzes neon, cartazes, propagandas e outdoors, que nos lembram a toda hora onde estamos, o que comemos, como devemos nos comportar, o que devemos comprar - mais e mais luz. Somos filhos da modernidade desenfreada, da velocidade da luz, da massificação de sentimentos, da homogeneidade de sensações. O tato, o olfato, o paladar e a audição foram, pouco a pouco, sendo consumidos pelo império hegemônico da visão. Tudo é criado e pensado para seduzir o olhar de quem vê. Vê, mas não enxerga.”1 Como seria se a pizza perdesse o sabor? Se o abraço de sua mãe não fosse mais sentido? Se o perfume do seu pai não tivesse mais aquele cheiro doce? Se escutar rock no fim da tarde não fosse mais possível? E se o mundo fosse escuro?
HUMMEL, MARIANA. A sensorialidade espacial em um Centro Público Integral de Educação Especial - Diplomação 1 - Brasília: FAU/UnB, 2013
PALLASMAA, JUHANI. Eyes of the Skin: Architecture and the senses - Academy Press, 2005.
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O nosso corpo é o lugar sagrado da percepção, do pensamento e da consciência. Os nossos sentidos articulam e processam respostas e juízos sensoriais, através dos quais podemos provar o mundo com nossas próprias mãos. Devemos viver a cidade, devemos tocá-la, devemos resgatar a sua principal função: “fornecer uma experiência multissensorial que seja única, integrando em um só corpo o material e o mental, trazendo coerência e significado aos edifícios”2, mostrando a sua obra àqueles cujo o olhar foi calado, mas não o corpo. Assim como afirma Juhani Pallasmaa(2005), a arquitetura deve ser confrontada e simultaneamente experienciada com todo o corpo. O corpo vive a cidade e a cidade vive o corpo. “Primeiro nós moldamos as cidades, então elas nos moldam”3. Dessa forma, não podemos considerar um só sentido.
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Não seria mais mundo? Ou seria entendido de outra forma, enriquecido de novas sensações e descobertas através de todos os outros sentidos que estão normalmente adormecidos ? Assim como o mundo atual, a cidade foi se modificando devido aos avanços tecnológicos e sociais da nova era tornando-se fria e distante. E essa perda de proximidade diz respeito exatamente à supervalorização do sentido da visão, deixando que os outros sentidos caiam em esquecimento. “Uma cidade feita somente para ser observada não nos fornece o sentido completo dela, que é para ser vivenciado e experimentado em toda a sua profundidade. Ao contrário, nos isola do contexto, segrega, inibe. Faz com que o ser humano seja um mero transeunte, um observador, e então seu papel original de usuário ativo é esquecido.”2
GEHL, JAN. Cidades para as pessoas - 1ed. - São Paulo: Perspectiva, 2013
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E através de uma experiência multissensorial, onde podemos experimentar o espaço com todo o nosso corpo, a cidade pode ser descoberta e sentida também por deficientes visuais, talvez de uma maneira muito mais profunda e poética do que se faz normalmente. É responsabilidade do arquiteto, nesse âmbito, além da aplicação dos princípios básicos de acessibilidade, ser capaz de transmitir os valores de espaço e trazer aos usuários a compreensão do que está sendo vivido. Por meio da arquitetura, o arquiteto deve ser capaz de explicar e guiar aqueles que não enxergam. Fonte: https://www.pinterest.com
Para o desenvolvimento do Ensaio Teórico foram utilizados dois procedimentos metodológicos complementares: O primeiro, conceitual, utilizará a revisão bibliográfica para fundamentar os conceitos que serão abordados no trabalho como: percepção espacial, topofilia, sustentabilidade social e acessibilidade, e identificar elementos dentro desses conceitos que possam se constituir em critérios de estudo de campo. Nessa fase serão atendidos os objetivos específicos 1,2 e a primeira parte do 3. Na segunda parte, a metodologia terá como base o trabalho de campo, com entrevistas diretas às pessoas portadoras de deficiência visual e uma deriva urbana para identificação e experimentação de espaços críticos para a criação das diretrizes. A análise se dará a partir dos elementos identificados na primeira parte. Nesta etapa se cumprirão os objetivos 3, 4 e 5.
PASSOS 1
Estudo dos conceitos base para a pesquisa, entendimento filosófico e psicológico da deficiência visual e apreensão do mundo pelos outros sentidos;
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Estudo dos conceitos base para a pesquisa, entendimento a respeito da acessibilidade universal, configuração dos espaços urbanos, sustentabilidade social, escala humana das cidades e estudos de caso sobre intervenções já realizadas sobre o tema;
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Coleta de dados demográficos, qualitativos e quantitativos institucionais a respeito dos portadores de deficiência visual em Brasília.
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Entrevistas presenciais desenvolvidas a partir da pesquisa prévia com o objetivo de identificar as maiores dificuldades dessas pessoas, os lugares que mais frequentam e como seus anseios podem ser traduzidos em desenho urbano;
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METODOLOGIA
A partir do resultado das entrevistas, organizar a deriva urbana com o objetivo de mapear os elementos configuracionais da cidade que atrapalham ou auxiliam os deficientes visuais e a partir da experimentação das pessoas nesse percurso, discutir ideias do que poderia ser feito para melhorar a cidade;
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Desenvolvimento de diretrizes e propostas de intervenções, físicas ou não, a respeito do deficiente visual na cidade de forma a empoderar essas pessoas e incluí-las na sociedade.
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Fonte: https://www.pinterest.com
20. CAPÍ TULO 1 a percep ç ão es p a c i a l e os s ent i d os
21. perceber 23. corpo e espaço 25. arquitetura e os sentidos
PERCEBER
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As pessoas utilizam estratégias perceptivas para explorar e identificar espaços, adquirindo informações espaciais por meio dos sentidos. Essas informações são adquiridas de forma sequencial, sendo necessária uma interação contínua. Para Lawson (1994), a percepção é um processo complexo através do qual os indivíduos selecionam, organizam e interpretam estímulos sensoriais. Lynch (2006) afirma que quase todos os sentidos estão envolvidos no processo de percepção, que não é íntegra e ocorre de forma parcial e fragmentária. Gibson (1966) explica que existem dois significados do verbo sentir, que pode significar tanto “detectar algo” quanto “ter uma sensação”. Na primeira definição, os sentidos atuam como sistemas perceptivos, já a segunda definição tem uma carga mais subjetiva. Reid (REID, 1785 apud GIBSON, 1966) traz uma concepção mais clara a respeito dos
sentidos: “Os sentidos externos têm dois propósitos: nos fazer sentir e nos fazer perceber. Eles nos fornecem uma variedade de sensações, algumas agradáveis, outras dolorosas, e outras indiferentes; ao mesmo tempo em que nos dão uma concepção e uma crença invencível da existência de objetos externos. [...] Essa concepção e a crença que a natureza produz por meio dos sentidos, chamamos de percepção. A percepção e a sensação são produzidas ao mesmo tempo”. Gehl (2014) divide os sentidos em dois grupos: o primeiro se refere aos sentidos da distância, onde estão incluídos a visão, a audição e o olfato, pois “nossos olhos, ouvidos e nariz voltam-se para frente, para nos ajudar a perceber perigos e oportunidades na rota adiante”. Outro grupo se refere aos sentidos de proximidade, que são o tato e o paladar, que abrangem uma esfera mais
Visão: A visão implica em discernir, priorizar e catalogar. É a partir da seleção que ocorre a interpretação. Audição: Permite localizar fontes sonoras, além de julgar distâncias. Um som cria uma sensação de interioridade enquanto que o sentido da visão nos implica com o exterior. Ouvir articula a compreensão do espaço, que exerce uma influência sobre a imaginação, pois ao distinguir os sons, isto permite imaginar um espaço quando não podemos vê-lo. Olfato: Ajuda identificar as funções dos ambientes, por exemplo, sentir cheiro de pães sendo produzidos indicando que
existe uma padaria. É assim que cada cidade possui seus próprios odores e sabores. Não existe nada mais memorável que o odor, pois o olfato evoca mais lembranças que a visão e a audição. Grupo 2: Sentidos da proximidade: Tato: É o reconhecimento do espaço e do nosso entorno que se desenvolve por meio de toque, em objetos ou pessoas. Reconhece texturas, pesos, densidades e temperatura de objetos, assim como também os interpreta. Além da visão, o tato é a única modalidade que permite a um indivíduo entender as qualidades espaciais de um objeto como forma e tamanho. No entanto, o toque difere da visão à medida que exige o contato direto e a continuidade dos movimentos.
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íntima. Estes sentidos classificam-se da seguinte maneira: Grupo 1: Sentidos da distância:
CORPO E ESPAÇO
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Paladar: o olfato e o paladar são sentidos interrelacionados, mas o paladar não possui a extensão espacial, pois se refere à uma sensação interior e única de cada indivíduo. Dessa forma, o paladar tem a função de provar ou degustar. Apesar de não serem a única forma de experienciar o mundo, nossos cinco sentidos são um bom ponto de partida para estudos da percepção. A complexidade do assunto mostra o quanto o ser humano é sensível e tem uma imensa capacidade de se adaptar frente às adversidades. A forma como percebemos o mundo diz muito do que somos e como vivemos e isso é único para cada pessoa nesse mundo, independente dos sentidos que utiliza.
As pessoas que não enxergam geralmente recorrem às informações sonoras, cinestésicas, táteis, térmicas e olfativas através dos sentidos remanescentes em um determinado ambiente, seja da natureza ou construído. As pessoas com baixa visão, além de recorrer a esses tipos de informações para percepção e orientação espacial, também buscam aproveitar o máximo de resíduo visual que possuem. Estas pessoas ainda utilizam recursos de tecnologia assistiva que auxiliam nos processos de orientação espacial e de mobilidade, como a bengala longa, cão-guia, entre outros. Primeiramente, convém elucidar as conceituações de orientação espacial que variam de autores, como Felippe e Felippe (1997) que definem a orientação espacial como sendo a habilidade de um indivíduo de perceber o ambiente, estabelecendo relações corporais, espaciais e temporais com o mesmo.
informação espacial. Tal tarefa pode ser particularmente estressante, especialmente quando a maioria das informações requeridas para o mapeamento mental é coletada preferencialmente pelo canal visual. Dogu e Erkip (2000) afirmam que existem dois fatores que afetam o processo de orientação espacial: o layout do ambiente e a qualidade das informações existentes neste ambiente. De acordo com Dischinger (2000), a capacidade de orientar-se depende de duas esferas conectadas entre o mundo e o indivíduo. Quando se trata de perceber e entender um determinado ambiente com clareza, o conceito de legibilidade é de extrema importância para os estudos de orientação espacial sob ponto de vista de Lynch (2006): “[...] a imagem clara permite ao indivíduo deslocar-se facilmente e depressa [...] Mas o meio ambiente organizado pode fazer muito mais do que isto; pode servir como estrutura
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Orientar-se não é apenas estabelecer posição no espaço, como também, para Dischinger (2000), vai além da mobilidade independente, onde existe a noção de saber onde se situa, como também a capacidade de identificar lugares, possíveis rotas em direção a objetivos desejados e poder tomar decisões com autonomia. Ele considera como uma ação intencional que envolve uma compreensão básica de situações espaço-temporais e de relações espaciais em contextos físicos. O autor acrescenta que a orientação não apenas é influenciada pelas experiências vividas por cada indivíduo como também depende da capacidade do espaço em oferecer ao indivíduo informação necessária. Particularmente para as pessoas com deficiência visual, orientar-se em espaços é uma tarefa que requer um conjunto de habilidades sensório-motor-cognitivas, como a percepção, codificação, aprendizagem e recall de
A ARQUITETURA E OS SENTIDOS
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envolvente de referência, um organizador de atividade, crença ou conhecimento. [...] um meio ambiente característico e legível não oferece apenas segurança, mas também intensifica a profundidade e a intensidade da experiência humana.” Dessa forma, podemos perceber o papel fundamental do arquiteto na estruturação de espaços que sejam legíveis, que promovam um senso de pertencimento e identidade no qual se fortaleça a capacidade de pessoas portadoras de deficiência visual de se localizarem e locomoverem. Um bom desenho arquitetônico e urbanístico permite não só que as pessoas sejam independentes, mas que tenham uma boa qualidade de vida apesar das adversidades.
De acordo com Herssens e Heylighen (2011), a arquitetura é vivenciada com todos os sentidos, mas o sentido da visão tende a receber maior atenção de projetistas. Vermeersch(2009) demonstrou em sua pesquisa que os arquitetos geralmente tendem a centralizar a sua própria experiência espacial sem considerar as experiências de outros. Para Fúnez (2013), a arquitetura se esqueceu de seu principal elemento: o ser humano, pois a arquitetura atual foi e é concebida para agradar aos olhos, considerados como órgãos prediletos em detrimento de outros sentidos, como o tato, a audição, o olfato e o paladar. Assim, termina por desconsiderar o ser humano como um ser perceptivo em todos os sentidos, sem que haja possibilidades de perceber o espaço através dos sentidos comumente ignorados pelos profissionais do meio. De acordo com Herssens e Heylighen (2011), a predileção pela visão é
multissensorial a fim de que todos os indivíduos, com as suas capacidades e limitações diferentes, possam desfrutar dos espaços democraticamente. Se arquitetos e projetistas criam ambientes “visuais” sem levar em consideração o usuário e a multissensorialidade, essa criação resulta em “espaços distorcidos” por não estarem compatíveis com as necessidades de toda a diversidade dos usuários. Portanto, faz-se necessário reconsiderar a maneira como a arquitetura é concebida e ensinada, criando projetos que provoquem não apenas a visão, como também os demais sentidos, pois o espaço não deve ser apenas funcional, deve transcender a um mero espaço físico em que se pode vivenciar além da percepção visual, assim criando o sentimento de pertencimento ao lugar. Castillo (2009), então, propõe uma arquitetura centrada na pessoa sem perder a funcionalidade do espaço.
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inerente ao cérebro humano que é alimentado pela cultura ocidental. Como resultado disso, estamos diante de uma arquitetura deficiente. Restrepo (1998) considera a nossa cultura como sendo audiovisual, pois “(...) frente a uma percepção mediada pelo tato, gosto ou olfato, o Ocidente preferiu o conhecimento dos exteroceptores, ou receptores à distância, como são a visão e o ouvido”. Em vista disso, Sousa (2004) sugere que as percepções tátil e visual, embora sejam distintas, não devem ser tratadas como antagônicas. Esta hegemonia da visão coloca uma grande parcela da população em desvantagem, sobretudo as pessoas com deficiência visual que geralmente estão em situações de dependência de terceiros ao confrontar um mundo repleto de referências visuais. Para Castillo (2009), diante do império da visão no campo de arquitetura e urbanismo, faz-se necessário integrar o conceito de arquitetura
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Fúnez (2013) recomenda desenvolver um projeto arquitetônico no qual a ausência de visão seja a chave, incorporando sensações que nos levam a outros sentidos. Segundo Pallasmaa (2005), a planificação das construções nos padrões de hoje em dia é fortalecida por um fraco senso de materialidade. Materiais naturais - pedra, tijolo e madeira - permitem nossa visão penetrar em sua superfície e permite que sejamos convencidos de sua veracidade e que experimentemos sua textura e existência. Essa sensibilidade permite que a arquitetura possa se transformar de algo imaterial em uma experiência positiva de espaço, lugar e significado. Segundo Bloomer (1977), o que está faltando em nossas construções hoje são as potenciais transições entre corpo, imaginação e meio ambiente. Geralmente todo lugar pode ser recordado porque é único, mas
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também porque afetou nossos corpos e gerou associações suficientes para permanecer em nosso mundo pessoal. Uma caminhada por uma floresta, por exemplo, é revigorante devido a constante interação de todas as modalidades dos sentidos. O olho colabora com o corpo e os outros sentidos. O senso de realidade é fortalecido e articulado por sua constante interação. “Arquitetura é essencialmente uma extensão da natureza para o mundo feito pelo homem, fornecendo a base para a percepção e o horizonte para experienciar e entender o mundo”1. Não é um artefato isolado e autossuficiente, direciona nossa atenção e experiência existencial para horizontes maiores. “Arquitetura também cria estrutura conceitual e material para instituições da sociedade assim como condições para a vida cotidiana; qualidades do espaço, material e escala são igual-
PALLASMAA, JUHANI. Eyes of the Skin: Architecture and the senses - Academy Press, 2005.
em imagens de memória e fantasia. O atemporal papel da arquitetura é criar metáforas existentes que concretizem e estruturem a nossa existência no mundo. Arquitetura reflete, materializa e eterniza ideias e imagens da vida real. Construções e cidades nos permitem estruturar, entender e relembrar o fluxo disforme da realidade, e, por último, reconhecer e lembrar quem somos. Arquitetura nos permite entender e buscar a dialética da permanência e da mudança, nos posicionar no mundo e nos colocar na continuidade da cultura e do tempo. No seu jeito de representar e estruturar ação e poder, ordem cultural e social, interação e separação, identidade e memória, arquitetura é comprometida com questões fundamentais existenciais. Toda experiência implica atos de recolher, relembrar e comparar. Toda memória incorporada tem um papel essencial na base de lembrar de um espaço ou de um lugar.
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mente medidos pelo olho, orelha, nariz, pele, língua, esqueleto e músculo. A arquitetura fortalece a experiência existencial, o senso de existir de alguém no mundo. Ao invés de mera visão, ou os clássicos cinco sentidos, a arquitetura envolve vários domínios de experiência sensorial que interagem e se fundem uns com os outros. A experiência arquitetônica traz o mundo para um contato mais íntimo com o corpo. Os elementos da arquitetura não são unidades visuais, são conflitos e confrontações que interagem com a memória. Em tal memória, o passado é incorporado de ações. Ao invés de estar contido em algum lugar isolado no cérebro, é um ingrediente ativo nos movimentos mais corporais para realizar determinada ação. Nós temos uma capacidade inata para relembrar e imaginar lugares. Percepção, imaginação e memória estão em constante interação; o domínio do presente se funde
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Nós transferimos todas as cidades e lugares que visitamos, que reconhecemos, para uma memória do nosso corpo. Nosso domicílio se torna integrado com nossa identidade, se torna parte de nosso próprio corpo e nossa existência.”1 A partir dessa reflexão, percebe-se a importante e indissociável relação do ser humano com a arquitetura e consequentemente com a cidade. Porém, o desenvolvimento industrial e tecnológico vem contribuindo para o distanciamento do homem e da construção. Como seria possível fazer esse resgate da sensibilidade? Como seriam as cidades pensadas e adaptadas para seus usuários? Kunst Museum, Aarhus. Fonte: https://www.pinterest.com
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PALLASMAA, JUHANI. Eyes of the Skin: Architecture and the senses - Academy Press, 2005.
30. CAPÍ TULO 2 os senti do s e a es c a l a ur b ana
31. cidade para as pessoas 33. a legislação 42. a cegueira e a cidade multissensorial
CIDADE PARA AS PESSOAS1
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Por décadas a dimensão humana tem sido um tópico de planejamento urbano esquecido e tratado a esmo, enquanto várias outras questões ganham mais força, como a acomodação do vertiginoso aumento do tráfego de automóveis. Além disso, as ideologias dominantes de planejamento - em especial o modernismo - deram baixa prioridade ao espaço público, às áreas de pedestres e ao papel do espaço urbano como local de encontro dos moradores da cidade. Por fim, gradativamente, as forças do mercado e as tendências arquitetônicas afins mudaram seu foco, saindo das inter-relações e espaços comuns da cidade para os edifícios individuais, os quais, durante o processo, tornaram-se cada vez mais isolados, autossuficientes e indiferentes. Uma característica comum de quase todas as cidades - independentemente da localização, economia e grau de desenvolvimento - é que as pessoas que ainda utilizam o
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espaço da cidade em grande número são cada vez mais maltratadas. Espaço limitado, obstáculos, ruído, poluição, risco de acidentes e condições geralmente vergonhosas são comuns para os habitantes, na maioria das cidades do mundo. O rumo dos acontecimentos não só reduziu as oportunidades para o pedestrianismo como forma de locomoção, mas também deixou sitiadas as funções culturais e sociais do espaço da cidade. A tradicional função do espaço da cidade como local de encontro e fórum social para os moradores foi reduzida, ameaçada ou progressivamente descartada. Agora, no início do século XXI, podemos perceber os contornos dos vários novos desafios globais que salientam a importância de uma preocupação muito mais focalizada na dimensão humana. A visão de cida-
GEHL, JAN. Cidades para as pessoas - 1ed. - São Paulo: Perspectiva, 2013
Uma preocupação crescente com a dimensão humana no planejamento urbano reflete uma exigência distinta e forte por melhor qualidade de vida urbana. Existem conexões diretas entre as melhorias para as pessoas no espaço da cidade e as visões para obter cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis. A aplicação desses conceitos fica ainda mais necessária quando direcionamos o discurso para pessoas com algum tipo de deficiência. O padrão de cidade para carros, onde tudo acontece muito rápido, distancia ainda mais essas pessoas, tornando tudo muito perigoso e impedindo sua independência. A escala humana nesse âmbito é mais que necessária, ela é imprescindível. É necessário ter uma atenção ainda mais especial com as pessoas que mais precisam de um espaço pensado para elas.
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des vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis tornou-se um desejo universal e urgente. Os quatro objetivos-chave: cidades com vitalidade, segurança, sustentabilidade e saúde podem ser imensamente reforçados pelo aumento da preocupação com pedestres, ciclistas e com a vida na cidade em geral. Um grande reforço desses objetivos é uma intervenção política unificada por toda a cidade para garantir que os moradores sintam-se convidados a caminhar e pedalar, tanto quanto possível, em conexão com suas atividades cotidianas. Reforça-se a potencialidade para a cidade tornar-se viva, sempre que mais pessoas sintam-se convidadas a caminhar, pedalar ou permanecer nos espaços da cidade. A importância da vida no espaço público, particularmente as oportunidades sociais e culturais, assim como as atrações associadas com uma cidade cheia de vida devem ser uma preocupação constante.
A LEGISLAÇÃO
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Esse cuidado vem sendo traduzido, na cidade contemporânea, na forma de normas que buscam mapear as necessidades das pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, inclusive a visual, e transformá-las em desenho arquitetônico. O caminho para uma maior inclusão ainda é longo, mas a legislação acerca da acessibilidade é um bom ponto de partida no aperfeiçoamento da escala humana atualmente.
“Uma cidade é construída por diferentes tipos de homens, pessoas iguais não podem fazê-la existir.” Aristóteles Os espaços urbanos abertos construídos são ambientes complexos e dinâmicos, nos quais se registram múltiplos e simultâneos acontecimentos. Para entendê-los, o sentido da visão é cada vez mais requerido. A maior parte deles é estruturada para atender ao homem idealizado, distanciando- se da realidade humana composta por sociedades predominantemente caracterizadas pela diversidade. A partir dessa reflexão, apresenta-se um breve histórico de como a inclusão social e a acessibilidade foram sendo discutidas no nosso país no âmbito das legislações, que regulam e prezam pelo bem estar das pessoas como critério de avaliação das diretrizes que serão propostas.
ABNT NBR 15450:2006, Norma de Acessibilidade de passageiros no sistema de transporte aquaviário. 2
“Norma de Acessibilidade de passageiros no sistema de transporte aquaviário”. A norma cita o piso tátil, usado para constituir alerta ou linha-guia: “o piso tátil de alerta, usado para sinalizar alteração de percurso ou de plano bem como projeção de objetos suspensos; e o piso tátil direcional, utilizado em áreas de circulação, na ausência ou interrupção da guia de balizamento, em ambientes internos ou externos, em espaços amplos ou quando houver caminhos preferenciais de circulação.”2 A NBR 15599, de 2008, apresenta pela primeira vez as normas para a comunicação visual sobre a deficiência visual. Ficou estabelecido que lugares que prestam o serviço inclusivo devem usar os seguintes pictogramas de identificação:
Fonte: ABNT NBR 15599:2008 Acessibilidade para a comunicação visual
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A primeira Norma Brasileira a tratar de acessibilidade foi criada em 1970, a NBR 14020. A norma se referia apenas a pessoas portadoras de deficiência motora e sugeria princípios gerais para acessibilidade em trens de longo percurso. A primeira norma a se referir à deficiência visual foi criada em 1999, a NBR 14273. A norma trata de acessibilidade em aeronaves e menciona a legalidade do cão guia acompanhar o passageiro com deficiência visual desde que dotado de coleira e focinheira. A NBR 16001, de 2004, traz uma reflexão muito importante, pois trata da necessidade de empregar o conceito de sustentabilidade social de forma geral. A norma sugere a preocupação com a ética e a cidadania e propõe ações e planejamento para inclusão de pessoas desfavorecidas. A primeira norma a se referir à necessidade de utilização do piso tátil é datada de 2006:
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A norma, no caso, não seria útil para as pessoas com deficiência, e sim para seus possíveis acompanhantes. Finalmente, em junho de 2016, criou-se a NBR 16537: Acessibilidade - sinalização tátil no piso - Diretrizes para elaboração de projetos e instalação. A norma é a mais completa acerca do tema e traz, de fato, muitas informações. Explica termos e definições da deficiência visual e estabelece princípios gerais. A norma faz uma minuciosa diferenciação entre os diferentes tipos de piso tátil e estabelece desenhos específicos e medidas para cada um. A norma cita o contraste de luminância e aborda bem especificamente os usos para degraus, escadas e rampas. Posteriormente, aborda também as normas para travessias de pedestres, elementos suspensos, elevadores, bilheterias e balcões de atendimento e sobre as distâncias de objetos. Nas próximas páginas seguem algumas imagens retiradas da norma que ilustram alguns dos parâmetros.
Fonte: ABNT NBR 16537:2016 Acessibilidade - sinalização tátil no piso - Diretrizes para elaboração de projetos e instalação
36 Fonte: ABNT NBR 16537:2016 Acessibilidade - sinalização tátil no piso Diretrizes para elaboração de projetos e instalação
37 Fonte: ABNT NBR 16537:2016 Acessibilidade - sinalização tátil no piso Diretrizes para elaboração de projetos e instalação
Fonte: ABNT NBR 16537:2016 Acessibilidade - sinalização tátil no piso Diretrizes para elaboração de projetos e instalação
38 Fonte: ABNT NBR 16537:2016 Acessibilidade - sinalização tátil no piso Diretrizes para elaboração de projetos e instalação
39 Fonte: ABNT NBR 16537:2016 Acessibilidade - sinalização tátil no piso Diretrizes para elaboração de projetos e instalação
40 Fonte: ABNT NBR 16537:2016 Acessibilidade - sinalização tátil no piso Diretrizes para elaboração de projetos e instalação
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Estudando a Norma e observando as figuras aqui apresentadas, percebe-se que a legislação traz muitas informações e possíveis soluções aplicadas a alguns casos. O que se conclui, porém, é que o que é proposto na legislação raramente é aplicado na realidade. E quando isso acontece (e usualmente só acontece na escala da arquitetura), é apenas uma solução muito básica, nunca utilizando as especificidades apresentadas na Norma. Indo mais além, a mesma não apresenta muitas soluções para a questão urbana. Envolve apenas situações de travessia, mas não apresenta proposições para o trajeto em si, como calçadas inteiras diferenciadas ou algo do tipo. O que significa que o pedestre deficiente visual consegue ter apoio durante as transições no seu percurso, mas não durante o trajeto em si. A norma é muito limitada no sentido que só considera o piso tátil como solução, sendo que ele apenas previne que a pessoa esbarre em algum objeto
ou saia de sua rota. Mas, para que seja útil a pessoa já deve saber qual caminho seguir e isso é quase impossível diante da ausência de mapas táteis pela cidade. Analisando com um olhar mais sensível, embasado pela revisão bibliográfica apresentada no capítulo anterior, a legislação é extremamente fria, direta e funcional nas propostas para solucionar os problemas. A questão da percepção de forma lúdica e sensível é completamente descartada, priorizando a pura funcionalidade negligenciando a necessidade multissensorial das pessoas. Como seria então se as normas extrapolassem o funcional? A aplicação real de normas assim, provavelmente, não só melhoraria a acessibilidade das cidades, como também as tornariam mais humanizadas, inclusive para pessoas sem algum tipo de deficiência.
Muitas cidades ao redor do mundo desenvolveram sistemas que acomodam a mobilidade para pessoas cegas ao redor da cidade e iniciaram discussões no desenvolvimento de sistemas multissensoriais. Esse é o caso de Tóquio, capital do Japão. Tóquio é uma cidade absolutamente surpreendente, pois apesar de ter a área urbana mais populosa do mundo, ser um dos maiores e mais importantes centros financeiros do planeta e ter uma circulação de mais de 2,5 milhões de pessoas ao mesmo tempo em seu centro em um dia comum, a cidade não é um caos completo. Pelo contrário, Tóquio possui o sistema de transporte mais eficiente do mundo. As ruas são limpas, seguras e extremamente silenciosas (difícil de imaginar quando vemos fotos do centro da cidade). Por esse e outros motivos, Tóquio é a cidade mais convidativa para uma pessoa com deficiência visual viver.
O que fez com que a cidade tenha se desenvolvido de forma tão primorosa e o que faz com que ela seja tão acessível assim? Além da cultura oriental em si, que será discutida um pouco mais à frente, Tóquio sofreu inúmeros bombardeios e atentados durante as guerras do século passado e precisou ser reconstruída. Durante a reconstrução, as edificações e ruas foram dispostas de forma aleatória e então deciciu-se, alguns anos depois, investir massivamente no sistema de transporte para abastecer a população que na época já era muito grande. Hoje, por exemplo, mais de 40 milhões de passageiros circulam pelo sistema na cidade. Os meios de transporte são controlados por parcerias entre empresas privadas e o governo e todos são movidos por tecnologias não poluentes. E, apesar de não parecer, isso tem relação direta com o bem estar das pessoas que não enxergam.
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A CEGUEIRA E A CIDADE MULTISSENSORIAL
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Todos os veículos de Tóquio são movidos a energia elétrica, o que faz com que os automóveis sejam extremamente silenciosos. Isso é respeito com o ser humano e com a natureza. Como os automóveis não fazem barulho, as pessoas com deficiência visual não ficam desnorteadas ao andar pelas ruas, perdidas em uma confusão de ruídos. Elas podem se concentrar apenas nos sons que precisam para guiar sua locomoção. Locomoção essa que é totalmente guiada pelo piso tátil. Em Tóquio, todas as calçadas possuem uma faixa com piso tátil e todos os lugares com grande importância/circulação de muitas pessoas possuem um mapa tátil da edificação. Ou seja, as pessoas conseguem saber para onde precisam ir e o piso tátil as leva para esse caminho. Dentro do metrô, shoppings, ou qualquer outro lugar com grande fluxo de pessoas, todas as escadas possuem uma indi-
cação em braile gravada no corrimão, indicando para onde ela vai.
Piso tátil em toda a calçada. Fonte: https://www.tokyo5.com
Escrita em braile no corrimão de escadas. Fonte: https://www.tokyo5.com Indicação em braile do sabor do refrigerante Fonte: https://www.tokyo5.com
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Além dessas soluções mais comuns no âmbito da locomoção, a cidade foi muito além para acolher as pessoas com necessidades especiais. Tudo é traduzido para braile. Tudo que faz parte do nosso cotidiano é acessível para quem não enxerga. Rótulos de shampoo, latas de refrigerante, etiquetas, tabelas de preços... Isso possibilita ao deficiente visual ter indepedência e autoestima.
45 Cardápio com tradução em braile. Fonte: https://www.tokyo5.com
A cidade de Tóquio nos mostra que não é uma utopia uma cidade acessível para todos. Basta que alguém se importe com isso, pense em soluções realmente úteis e que haja apoio para sua implementação. Um quesito muito importante para o sucesso dessas políticas é uma característica que foi mencionada brevemente no início deste capítulo: a cultura oriental. A cultura oriental ensina as pessoas a terem respeito. A terem respeito com as outras pessoas e a terem respeito com o mundo natural e construído. E isso é fundamental para uma vida sustentável em sociedade, independente de qualquer necessidade especial. Respeito é uma via de mão dupla. Como a arquitetura do lugar é respeitosa com as pessoas, as pessoas respeitam a arquitetura, cuidando dos ambientes e valorizando a cidade.
46 Exemplo de respeito ao meio ambiente e à arquitetura: Templo histórico preservado imerso em uma zona natural no meio do centro de Tóquio. Fonte: Flávia Amorim - acervo pessoal.
47 Exemplo de respeito ao meio ambiente e à arquitetura: A escala do edifício é acolhedora. O pé direito em alguns momentos é quase a altura de uma pessoa e as paredes permitem que você fique bem próxima delas em seu percurso. Fonte: Flávia Amorim - acervo pessoal.
sidades especiais, mas sim porque valoriza a vida civil como um todo, porque promove a integração das pessoas e possibilita a vivência urbana de forma mais diversa e completa. Esta é, certamente, uma visão utópica no sentido de que é impossível adaptar todas as cidades do mundo em todas as formas de uma vez só. Porém, a discussão e a sensibilização das pessoas acerca do assunto é muito importante. Nossas cidades são nossos lares, extensões de nós mesmos. E por isso todos deveriam se sentir acolhidos, para garantir o zelo e o cuidado do ambiente e das pessoas, criando um futuro sustentável em todos os sentidos. Uma das formas de começar a conscientização, é expandir os horizontes de todos, para além de sua realidade, buscando empatia com a situação e despertando a vontade de ajudar a cidade.
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O caminho então para uma cidade com foco no ser humano, seja no âmbito da acessibilidade, seja no âmbito da segurança, da educação, da cultura, começa pela conscientização das pessoas acerca do lugar em que elas estão inseridas e dos outros que ali moram também. É importante ter em mente, que ter um sistema todo funcionando diminui a necessidade de legislações que tratam de soluções pontuais e descontinuadas. Pensar uma cidade onde a escala humana é a prioridade, com incentivo aos deslocamentos a pé e de bicicleta, calçadas em bom estado de conservação, arborização, edifícios com uma escala compatível e convidativos, faz com que todas as pessoas, inclusive aquelas com deficiência, tenham seus sentidos constantemente estimulados, tornando a vida mais sensível e saudável para todos. A cidade multissensorial não deve ser estimulada e pensada apenas por conta de neces-
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O experimento do Percurso Sensitivo Interpretativo, que será apresentado nos próximos capítulos, foi uma dessas tentativas, e proporcionou uma discussão e um posicionamento sobre o assunto, que acredito, muito importantes para meu papel social de arquiteta e urbanista e a confirmação de minhas hipóteses. Dessa forma, a sensibilização pode se transformar em diretrizes, que podem se transformar em políticas públicas, que podem se transformar em projetos transformando todo o sistema. E para que seja possível projetar uma cidade para todos é preciso que se conheça quem são essas pessoas, qual é a sua rotina, quais as suas necessidades e suas maiores dificuldades. Seguindo o foco do meu trabalho, conversei com pessoas deficientes visuais e a sutileza de sua vida cotidiana é o tema do próximo capítulo.
50. CAPÍ TULO 3 de q ue c or é a sensação d o es c uro?
51. as pessoas 53. realidade mapeada
AS PESSOAS
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De acordo com o censo realizado pelo IBGE em 2010, cerca de 45,6 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência, o que corresponde a 23,9% da população brasileira, sendo 35,7 milhões acometidos pela cegueira ou baixa visão. Conforme demonstra a figura abaixo, a deficiência visual é aquela de maior incidência, o que reforça a necessidade de dar atenção especial a esta parcela significativa da população.
A deficiência visual não compreende apenas a ausência de visão, pois há formas de enxergar diferentes entre si que se configuram como deficiência visual, englobando dois grandes grupos: a cegueira e a baixa visão. Estes grupos são delimitados por escalas oftalmológicas: acuidade visual, que possibilita enxergar de forma precisa os objetos a uma determinada distância, e campo visual, que significa a amplitude da área alcançada pela visão, isto é, abrange tudo o que pode ser visto como um todo sem movimentar os olhos.
O percentual de pessoas com deficiência no Brasil por segmento. Fonte: IBGE, 2010.
incapacidade de distinção de cores, etc. As pessoas com baixa visão podem ter dificuldades de reconhecer um rosto, de distinguir contornos de um ambiente pela ausência de visão periférica, de focar no objeto desejado ou de ler pela falta de visão central, entre outras. Enquanto que há pessoas cegas que têm alguma percepção de luz, outras não possuem qualquer resíduo visual. No entanto, utilizam os demais sistemas perceptivos (audição, orientação, háptico, sistema olfato- paladar) para a orientação e locomoção. Também podem utilizar-se de bengala longa, um instrumento geralmente utilizado por indivíduos cegos e com baixa visão para orientação e mobilidade. Santos(2007) e Gil (2000) acrescentam que as pessoas com baixa visão, além de acuidade e/ou campo visual comprometidos, apresentam dificuldades de enxergar com clareza, adaptação à luz, ao escuro e à percepção de cores, são sensíveis aos contrastes, mas
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A deficiência visual pode ser adquirida em qualquer estágio da vida – após o nascimento – ou congênita, desde o nascimento, decorrente de causas genéticas, acidentais ou ainda decorrente de doenças como diabetes, deslocamento de retina, entre outras. Uma pessoa que adquiriu a cegueira ao longo da vida possuirá memórias visuais, ou seja, consegue se lembrar de coisas que foram vistas antes de perder a visão, e então estas memórias ficam preservadas. Já a pessoa que nasceu com cegueira total não terá a capacidade de formar imagens visuais, mas em contrapartida, desenvolve estratégias para estruturar a representação mental do espaço (CONDE, 2005; CONDE, 2012; GIL, 2000). A visão pode ser afetada de diversas formas, como a perda de nitidez, perda de visão periférica e/ou visão central, manchas no campo visual, ofuscamento,
REALIDADE MAPEADA
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Para entender um pouco mais do complexo universo de pessoas com deficiência visual, para que se possa criar diretrizes de desenho urbano, foi desenvolvida uma entrevista embasada pelos conceitos teóricos pesquisados, realizada diretamente com os alunos do Centro de Ensino Especial para Deficientes Visuais localizado na Quadra 612, na Asa Sul em Brasília. Abaixo segue o escopo dos questionamentos e os seus resultados:
potencialmente capazes de realizar tarefas utilizando a visão residual, usando recursos ópticos (óculos, lupas, etc.). E quanto às pessoas que perderam tardiamente a visão, estas apresentam capacidades diferentes daquelas que nasceram com cegueira. Portanto, essa diversidade que existe na deficiência visual se torna um desafio para o desenvolvimento de projetos que contemplem as necessidades de todo o espectro.
1
Nome, idade e endereço.
2
Com quem você mora?
3
Aonde você costuma ir no seu dia-a-dia? Você vai sozinho(a) ou acompanhado(a)?
4
O que você acredita que faça com que um lugar seja mais convidativo de ir sozinho ou não?
Quais códigos ou metodologia você usa para se locomover?
6
Como você costuma circular pela cidade? (a pé, de carro, de transporte público...).
7
Quais são as maiores dificuldades do seu dia-a-dia?
8
Você tem conhecimento da norma de acessibilidade para projetos de arquitetura?
9
Você acha que as recomendações da norma estão sendo aplicadas? Essas recomendações são realmente úteis?
10
O que você gostaria que fosse feito para melhorar a sua independência na cidade?
54
5
A entrevista foi realizada com 10 pessoas. Todas as conversas foram um profundo aprendizado combinado com uma grande sensibilização. A vida dessas pessoas tem tanto a nos ensinar, basta querermos ouvir. A sensibilidade com que essas pessoas vivem a cidade, nos apontam diretrizes e mudanças que certamente contribuiriam com a sociedade como um todo. Muitas vezes foram levantados questionamentos além das dez perguntas base descritas anteriormente, por isso os resultados que serão apresentados a seguir muitas vezes não são respostas diretas aos mesmos. Todas as pessoas com quem tive a oportunidade de conversar foram imprescindíveis para a realização deste trabalho e foram todas muito solícitas e colaborativas. Mas duas delas se destacam por serem minha inspiração constante e por esse motivo não poderia deixar de apresentá-las aqui.
Estes são o Paulo e a Vivi:
55 Paulo, 31 anos, publicitário.
Viviane, 19 anos, estudante de Letras na Universidade de Brasília.
A tabulação das respostas das entrevistas mostra o seguinte:
90%
100%
100%
dos entrevistados não moram sozinhos
dos entrevistados vão sozinhos para suas atividades cotidianas
dos entrevistados utilizam transporte coletivo
dos entrevistados consideram lugares barulhentos intimidadores
100%
80%
100%
100%
dos entrevistados utilizam sons, cheiros e a bengala para locomoção
dos entrevistados consideram a locomoção em transporte público a sua maior dificuldade diária
dos entrevistados têm conhecimento das normas de acessibilidade
dos entrevistados consideram que as normas não são cumpridas em espaços públicos
56
70%
57
100%
90%
70%
dos entrevistados consideram o piso tátil insuficiente para sua orientação
dos entrevistados sugeriram mapas táteis em paradas de ônibus e metrô
dos entrevistados sugeriram avisos sonoros no transporte público
Os dados apresentados são muito preocupantes. Eles mostram que diariamente essas pessoas são obrigadas a vivenciar o angustiante desafio da locomoção por transporte público. O outro ponto adverso é o piso tátil, que resolve muito pouco a orientação espacial. Esse piso é a única solução presente em nossa atual legislação e, ainda assim, não efetivamente empregado como deveria ser. Outro ponto bastante interessante desses resultados é a convergência e ressonância das respostas. As pessoas têm a mesma opinião sobre as fragilidades do sistema e realizam suas atividades cotidianas da mesma forma, usando os mesmos códigos. Essa informação nos ajuda a pensar em diretrizes que correspondem às necessidades do todo de forma mais assertiva.
58. CAPÍ TULO 4 à d er i v a
59. deriva urbana XX. os resultados
DERIVA URBANA
59
O procedimento metodológico escolhido para complementar as entrevistas é um Percurso Sensitivo Interpretativo, ou simplesmente Deriva Urbana. “Consiste em um procedimento psicogeográfico: estudar os efeitos do ambiente urbano no estado psíquico e emocional das pessoas que a praticam. Partindo de um determinado lugar, o grupo seguirá uma rota deixando que o próprio meio urbano os guie ao acaso, pelo caminho que segue.”1 O objetivo da atividade é, a partir das respostas das entrevistas, percorrer um caminho em um local pré definido de onde se possam ter informações pertinentes acerca da morfologia do espaço urbano, que possam se traduzir em diretrizes de desenho para uma cidade mais acessível. A atividade necessita de voluntários da área de arquitetura e urbanismo, para que o percurso e a discussão aconteçam.
1
Fonte: https://www.derivaurb.blogspot.com
Como foi revelado nas entrevistas, o principal problema enfrentado pelos portadores de deficiência visual é o transporte coletivo. Muitos deles mencionaram a Rodoviária de Brasília como sendo um dos piores lugares da cidade para se orientar, pois tudo é igual e não há sequer piso tátil. Tendo isso em mente, a proposta da deriva é que se faça o percurso do Centro de Ensino Especial para Deficientes Visuais até a rodoviária, contando os deslocamentos a pé e o percurso de ônibus. Chegando na rodoviária, dirigir-se até a plataforma de onde saem os ônibus para a Universidade de Brasília. Dessa forma, serão mapeados trechos em escala urbana, e também, na escala da arquitetura em um prédio icônico e fundamental na cidade. A atividade foi realizada no dia 12 de novembro de 2016 e contou com a incrível contribuição de 13 voluntários, sendo dois engenheiros, uma economista e os demais profissionais/estudantes de arquitetura. O processo e o resultado da deriva serão mostrados nas próximas páginas.
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O grupo se encontrou às 9h no Centro de Ensino Especial para Deficientes Visuais e lá explicou-se a teoria do trabalho e como a deriva aconteceria. Foram formados pares, sendo uma pessoa vendada, simulando a cegueira, e a outra pessoa sem vendas, auxiliando a primeira e tomando notas sobre a experiência. Recomendou-se que deveria haver silêncio na medida do possível para auxiliar na concentração para a percepção do espaço. Após o alinhamento das pessoas, começamos o percurso a pé até a parada de ônibus e apenas parte deste caminho tinha piso tátil. Entramos então em um ônibus para a rodoviária e lá descemos e andamos até a plataforma F. Chegando no destino final retiramos as vendas e discutimos a experiência como um todo, de onde pude esclarecer minhas conclusões.
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Explicação do desenvolvimento do trabalho. Fotos: Thiago Abreu
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Experimentação do piso tátil Foto: Thiago Abreu
Com os grupos formados, início do percurso em direção a parada de ônibus. Foto: Thiago Abreu
Aguardando o ônibus. Foto: Thiago Abreu
63 Um dos maiores problemas enfrentados: diferenciação de notas bancárias. Foto: Thiago Abreu
Percurso dentro do ônibus. Foto: Thiago Abreu
64 A descida do ônibus é muito complicada devido aos degraus e diferenças de altura do meio fio. Foto: Thiago Abreu
Deslocamento na rodoviária: muito barulho e nenhuma orientabilidade. Foto: Thiago Abreu
OS RESULTADOS A experiência foi bem sucedida na esfera da sensibilização e empatia das pessoas e também na confirmação e experimentação dos problemas urbanos vividos por deficientes visuais. Um consenso da percepção dos voluntários mostra que:
65 Discussão ao final da deriva. Foto: Thiago Abreu
1
Um piso com diferentes rugosidades proporciona muito mais segurança do que um piso liso. (a calçada nos arredores da Escola Especial é de blocos intertravados em oposição ao concreto liso no restante da cidade);
2
O piso tátil realmente facilita o deslocamento e o piso tátil de atenção é o mais legível de todos;
3
É muito difícil perceber que se chegou à algum lugar quando o mesmo é aberto ou possui múltiplas entradas, como uma parada de ônibus ou a rodoviária;
5
Atualmente não existe outra forma de pegar um ônibus a não ser perguntando para outras pessoas. A mesma relação de dependência/confiança é necessária ao realizar pagamentos e receber trocos; Os degraus para acessar o ônibus são muito altos e a diferença de altura com o meio fio muito perigosa;
6
A rodoviária não possui ponto de apoio/atendimento para auxiliar as pessoas a encontrarem suas plataformas;
7
Lugares sem fluxos definidos são muito confusos para se orientar;
8
O sinal sonoro em semáforos é realmente útil e extremamente importante.
9
O cheiro e os sons são capazes de transmitir orientabilidade.
Os 9 pontos citados foram os mais importantes e pertinentes ao assunto do Ensaio. Com base nesses problemas, no próximo capítulo são propostas diretrizes de como solucioná-los, pensando em ações de curto, médio e longo prazo.
66
4
67. DIRET RIZES 68. diretizes 71. conclusĂŁo
DIRETRIZES a vivência urbana de deficientes visuais no âmbito das relações cotidianas:
1
Cartazes de conscientização fixados em paradas de ônibus, metrô e outros lugares públicos pertinentes indicando a importância de se ajudar deficientes visuais e como isso deve ser feito;
2
Instalação de mapa tátil e ponto de atendimento em metrôs, rodoviária e outros grandes pontos de circulação de pessoas na cidade;
3
Gravação de texto em braile no corrimão de escadas indicando a direção das mesmas;
4
Instalação de piso tátil em locais de grande circulação como a rodoviária;
5
Instalação de balizadores em pontos críticos de travessias;
68
A nossa sociedade é regida por diferentes regras as quais são criadas e fiscalizadas por diferentes órgãos e instâncias. O arquiteto e urbanista deveria ter uma grande parcela de responsabilidade na proposição de regras que dizem respeito à nossa cidade. A complexidade de nossas cidades abrange muitos níveis e conceitos e englobar e contemplar cada um deles é muito difícil. Por esse motivo devemos compreender o lugar em que vivemos como um grande universo mutável onde as mudanças tecnológicas e comportamentais moldam o espaço pouco a pouco. E essa última parte é bem importante. As mudanças comportamentais estão atreladas às mudanças espaciais. Por isso, para mudar algo de verdade as pessoas precisam fazer parte da mudança. Tendo isso em mente, essas são as diretrizes de curto prazo que poderiam melhorar
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Diretrizes a médio prazo:
Diretrizes a longo prazo:
6
Instalação de sinalização sonora em semáforos;
7
Instalação de indicação sonora do destino e paradas do ônibus dentro do mesmo;
8
Novo desenho de paradas de ônibus que acomodem a diferença de alturas entre a rua e o ônibus;
Instalação de dois tipos diferentes de piso em calçadas, como concreto e piso intertravado, por exemplo. Onde o piso diferente serviria como orientação e ainda demarcaria um espaço da calçada para locomoção mais lenta, ajudando idosos e deficientes;
9
Plantio de árvores/plantas do cerrado (ou mini jardins no caso de edifícios) que possuam cheiros característicos na proximidade de destinos, como paradas de ônibus e rodoviária para que a pessoa identifique onde ela está pelo olfato. Cada planta simbolizaria um local diferente.
10
11
Instalação de biovaletas em ruas de grande porte, proporcionando que os deficientes visuais se guiem pelo barulho da água e impedindo que fiquem muito perto dos carros prevenindo acidentes;
12
Redução da altura de todos os meio-fios para 5cm chanfrados;
13
Padronização dos acessos da cidade em um manual de calçadas e ruas.
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Paradas de ônibus com altura nivelada em Curitiba Fonte: https://www.pinterest.com
Jardins de chuva Fonte: https://www.pinterest.com
Balizadores em rua combinados com piso tátil Fonte: https://www.pinterest.com
Mapa tátil Fonte: https://www.pinterest.com
Meio fio baixo Fonte: https://www.pinterest.com
CONCLUSÃO
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Todo o estudo realizado e a experiência prática deste Ensaio teórico apontam que para que exista verdadeira sustentabilidade social em nossas cidades, o sistema deve ser tratado como um todo completo e não como partes isoladas. Dentro desse complexo universo, o desenho urbano é incapaz de resolver todos os problemas e ditar todas as regras. São necessárias também políticas públicas, medidas e ações administrativas. No campo da arquitetura e do urbanismo muito pode ser feito no âmbito do cuidado do espaço público. A criação de um documento que garanta a padronização da trama de acessos da cidade por meio de um manual de ruas e calçadas é imprescindível para uma cidade melhor. Ao padronizar um espaço, garante-se que as pessoas possam ter um mapa mental geral da cidade, proporcionando segurança e conforto sabendo-se onde, em linhas gerais,
sempre estariam posicionados mobiliário, vegetação e infraestrutura. O acesso ao espaço público seria universalizado por meio do conhecimento espacial. A combinação de um bom desenho urbano com políticas públicas alinhadas e empatia das pessoas, é a chave para um futuro saudável.
72. BIBLIO GRAFIA
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