U
O
T
P
I
habitar o contemporâneo
Universidade Federal de Pelotas Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação II
Orientadora: Ana Paula Faria Graduanda: Luísa Mantelli Anklam
2020/01
AS
modernismo
contemporâneo
projetos
01 02 03
TEMPOS. INTERESSANTES.
U T O P I A S . PA R A . O A G O R A .
P
TEMPOS. MODERNOS.
T O
apresentação
U I
habitar o contemporâneo
AS
I N T
E
N Ç
Õ ES
Propósitos do trabalho. + Compreender a sociedade contemporânea a partir de contrapontos com a sociedade moderna, evidenciando seu “descompasso” com o habitar; + Investigar como essa sociedade analisada se expressaria em moradias, a nível utópico e sem alguns dos limitantes da realidade; + Como o desenho faz parte do pensar do arquiteto e urbanista, é proposta aplicação da teoria em experimentações de projeto, questionando e criando diferentes formas de significar e produzir o habitar. Por que o habitar? A vontade de analisar e pensar o habitar veio de um questionamento: a forma como moramos está de acordo com a maneira que vivenciamos outros ambientes construídos? É um programa arquitetônico conservador e extremamente pessoal. Talvez seja a melhor forma de representar o “eu” em arquitetura e, desta forma, criar uma relação direta com as mudanças da sociedade, o “nós”. [04]
propósito do trabalho final de graduação
“La vivenda es el primer espacio de sociabilizacion y la representacion espacial de las diversas agrupaciones familiares. Por ello há de ser capaz de albergar las diversas maneras de vivir que se evidencian en las sociedades del siglo XXI. La pregunta de partida es: qué câmbios se han producido em la sociedade, las costumbres, los trabajos y las estructuras familiares?” MONTANER, MUXI, FALAGÁN, 2011, p.21
habitamos em diversas escalas . . . habitamos um planeta, participando de uma extensa multiplicidade de ESPÉCIES, de CULTURAS, de POSSIBILIDADES . habitamos nosso país, compreendeendo seus LIMITES GEOGRÁFICOS E CULTURAIS, suas LINGUAGENS, suas NUANCES. habitamos nosso estado e nossa cidade, conhecemos e reproduzimos seus COSTUMES, sabemos os SEGREDOS do nosso bairro, temos INTIMIDADE com a vizinhança .
[05]
I N T
E
N Ç
Õ ES
propósito do trabalho final de graduação
habitamos nossa casa, nosso espaço mais particular. a vida cotidiana que acontece na moradia é uma forma de compreensão da sociedade, a tradução em arquitetura das
partes mais íntimas de uma pessoa. por fim, habitamos em nós mesmos. nossa CORPOS, nossa PELE e nossos PENSAMENTOS . habitamos e convivemos com todas esses lugares diariamente e, ainda que de forma inconsciente, sentimos que ELES NOS PERTENCEM
[06]
“La vivenda es el primer espacio de sociabilizacion y la representacion espacial de las diversas agrupaciones familiares. Por ello há de ser capaz de albergar las diversas maneras de vivir que se evidencian en las sociedades del siglo XXI. La pregunta de partida es: qué câmbios se han producido em la sociedade, las costumbres, los trabajos y las estructuras familiares?” MONTANER, MUXI, FALAGÁN, 2011, p.21
Utopias ou distopias As utopias encontram a realidade na Tamara e na Zora de Itálo Calvino1, por exemplo. Ao descrever as cidades com linguajar fantasioso, o autor torna possível a reflexão sobre sua proximidade com as nossas cidades reais. Da mesma forma, futuros distópicos descritos por George Orwell2 ou Margareth Atwood3 também se aproximam do hoje, servindo como um artifício para a compreensão da realidade. O exercício teórico do pensar projeto em um meio termo entre utopia e distopia, visando a sociedade contemporânea refletida no habitar, também pode servir como meio para que projetos executáveis possam ser mais explorados criativamente.
1. Referência ao livro As Cidades Invisíveis (1972); 2. Referência ao autor do livro 1984 (1949); 3. Referência à autora do livro O Conto da Aia (1985).
[07]
C ON C
E I
T
OS
gerais
Habitar Ciente de que a questão do habitar é uma discussão longa e complexa, no presente TFG não se utilizou o termo “habitação” para se referir ao lugar de moradia. Segundo Heidegger (1951), o habitar é o traço fundamental do ser-homem. A habitação pode restringir esse conceito muito amplo do habitar que, por sua vez, está mais relacionado com apropriação, adaptação e as atividades vivenciadas em seu interior. Outro ponto importante é a forma como esses habitares são delimitados pelas atividades realizadas em seu interior que, por sua vez, afetam e são afetadas por diferentes conformações sociais de acordo com um determinado período de tempo. O ato de habitar se refere à vida cotidiana, sendo o espaço habitado a casa, a rua, o bairro ou qualquer outro lugar.
Ferramentas para habitar o presente Como bibliografia para o trabalho, foi utilizado o livro “Herramientas para Habitar el Presente”, dos autores Josep Maria Montaner, Zaida Muxi e David H. Falagán (2011). O primeiro capítulo do livro apresenta conceitos básicos, sobre os quais se apoiam as reflexões acerca do habitar contemporâneo ao longo da discussão. Esses conceitos foram usados neste TFG como guia para análise de projetos (sendo aplicados a cada época analisada com devidos ajustes de interpretação) e para o desenvolvimento de projetos utópicos. [08]
“A residência é o primeiro espaço de sociabilização e da representação das diversas estruturas familiares.” 1 A sociedade de cada época influencia as maneiras de viver que o habitar deve propiciar. É o período histórico, as estruturas familiares e demais conformações sociais vigentes que refletem, direta ou indiretamente, no morar.
CI DA DE
S OCI E D A DE
“A qualidade arquitetônica da habitação é feita sob a perspectiva de sua relação com o funcionamento da cidade e o uso da comunidade.” 2 O habitar deve ser entendido a partir do contexto em que está inserido. As correlações entre construções e análises em diferentes escalas são necessárias para uma compreensão do morar de forma não isolada.
TECNO LO GIA
“Existe uma estreita relação entre as contribuições do mundo da tecnologia (estruturas, sistemas de construção, instalações) e as condições da habitação.” 3 A tecnologia no habitar é entendida a partir do “fazer”: métodos de fabricação de materiais, maneiras de construção e sua execução. Essas técnicas podem proporcionar formas diferentes de usar e conformar o espaço, influenciando diretamente nos modos de morar.
“A habitação deve se basear no eficaz aproveitamento dos recursos, fomentando a economia energética, o uso de energias renováveis e gerenciando a correta e seletiva coleta de resíduos.” 4 Recursos são as inovações no pensar aplicadas ao habitar e atrelamse às noções de manutenção e durabilidade da construção: para que uma construção se mantenha, deve-se utilizar ao máximo o potencial disponível em cada época e lugar de forma a alinhar-se ao discurso relevante no período.
RE CURSOS 1. 3.
MONTANER, MUXI, FALAGÁN, 2011, p.21; 2. MONTANER, MUXI, FALAGÁN, 2011, p.39; MONTANER, MUXI, FALAGÁN, 2011, p.53; 4. MONTANER, MUXI, FALAGÁN, 2011, p.63
[09]
01.
MODERN
ISM
O
em um mundo de criações, imaginativo e inventivo, o que é forte o suficiente para permanecer imutável? a vida fervilhando,
a cidade se modernizando,
o advento de novas tecnologias!
O HOMEM É O HOMEM IDEAL a arquitetura o envolve -o HOMEM- e ele anseia por se adaptar, aparando suas pontas e deformações até se encaixar na fôrma que lhe foi dada .
[11]
o homem IDEAL que habita a arquitetura IDEAL, é representado por le corbusier através do MODULOR . é o homem perfeito, com medidas, organismos, funções e necessidades PADRONIZADAS
representado por um homem, branco, 1,85m de altura, forte . . .
. . . IDEAL ! ! ! ! ! ! ! ! !
01.
MODERN
ISM
O
Utopias no Movimento Moderno. Para
que
se
possa
entender
a
vanguarda
contemporânea e pensar em utopias atuais, fez-se necessário compreender o que é realmente novidade e o que vem como herança do passado. Optou-se por estudar o modernismo como ponto comparativo por ser este o último grande movimento de vanguarda habitacional. Para
finalidades
de
análise,
o
modernismo
estudado é o anterior às inúmeras revisões pelas quais o movimento passou. Trata-se da ideia de modernismo que antecede a incorporação de críticas sugeridas ao longo do século XX, antes, portanto, de muitas das flexibilizações e correções.
figura icônica no filme Mon Oncle (1958)
na arquitetura com grandes impactos na questão
[13]
C ON C
E I
T
OS
aplicados ao modernismo
Sociedade.
“Os tempos modernos encontraram os sólidos pré-modernos em estado avançado de desintegração; e um dos motivos mais fortes por trás da urgência em derretê-los era o desejo de, por uma vez, descobrir ou inventar sólidos de solidez duradoura, solidez em que se pudesse confiar e que tornaria o mundo previsível e, portanto, administrável.” (BAUMAN, 2000, p. 10). O modernismo nasce em um momento de ruptura na maneira de se pensar o mundo, quando as condições políticas europeias no fim do século XIX e início do século XX fornecem base para movimentos de vanguarda (BENEVOLO, 2006). Portanto, os primeiros reflexos da arquitetura moderna aconteceram na Europa, sobretudo após a Primeira Guerra Mundial. Com o desafio de reconstruir cidades, a arquitetura tem como objetivo oferecer luz, libertação e cura. Ela era a arquitetura pela qual ansiava-se desde meados do século XIX:
formalmente
pura,
plasticamente
transparente, com avanços tecnológicos e
desprovida
de
ornamentos
desnecessários (MONTANER, 2001). O
perfil
da
família
nuclear
burguesa (rígida, restrita e patriarcal) não condizia mais com a organização social
e
habitacional
modernista
(TRAMONTANO, 1998). Correntes da psicologia também influenciaram a arquitetura, sendo a pessoa vista como funcional, ética e moral, capaz de viver em espaços que, como ela, eram racionalizados e transparentes (MONTANER, 2001). Christabel Pankhurst e Annie Kenney Sufrágio feminino britânico (1905)
[14]
Plano Piloto de Brasília (1960)
Cidade. Questão relevante para a época era o déficit habitacional que poderia ser resolvido, utopicamente, com moradias coletivas e individuais produzidas em série. Para ser em série, é uma habitação tipo (célula de morar) que deveria adequar-se à a) um modelo de homem (modulor); b) um modelo de cidade (máquina) e; c) um modelo de paisagem zoneada e racional (CORBUSIER, 1923). A cidade segue os princípios de zoneamento e racionalidade de todo o movimento. Ela abriga as tecnologias da época e tenta acobertar diferenças sociais, a exemplo de Brasília. Intenta-se, portanto, trazer a cidade para dentro dos edifícios, controlá-la.
Operários - Tarsila do Amaral (1933)
[15]
Tecnologia. Apesar de uma pluralidade de expressões dentro do movimento moderno, há, entre eles, um forte ponto de convergência: a exploração de novas tecnologias que os modos de produção passavam a permitir. Por isso Montaner (2001) afirma ser esse um momento simultaneamente destruidor e construtor. A razão foi novamente valorizada na produção de arquitetura, com o ordenamento servindo como contraponto ao caos e à destruição. Além da forma e da linguagem, havia nova metodologia de projetar a arquitetura, de implementá-la em uma cidade racional e de propô-la como fator social essencial (MONTANER, 2001). Exemplo dessa mentalidade modernista é o uso de novos materiais e o aprendizado de seu manejo em produção em massa. O concreto armado, por exemplo, permite vãos maiores e uso do terraço. Também surgiam novas formas de esquentar/ refrigerar ambientes, armazenar alimentos e objetos.
Albert Einstein (1951)
Casa Modernista na Rua Itápolis Gregori Warchavchik (1930) [16]
Les demoiselles d’Avignon Pablo Picasso (1907)
Bauhaus - Edifício Dessau (1919-1933)
A Fonte - Marcel Duchamp (1917)
Recursos. No movimento moderno, não havia preocupação com os recursos. Eles eram vistos como inesgotáveis em função do deslumbramento das questões tecnológicas. Em função disso, “recursos” não foi um conceito levado em consideração nas análises do período modernista. [17]
H AB I
T AR
a utopia moderna
Método. Foram
realizadas
análises
de
residências
consideradas icônicas e inovadoras do movimento moderno. A escolha das obras foi feita para que se conseguisse compreender a síntese do movimento anterior às suas revisões posteriores, e as respostas espaciais que foram dadas à teoria estudada.
Mon Oncle - Jacques Tati (1958)
Convergências. Mesmo
com
a
grande
heterogeneidade
do
movimento moderno, levantaram-se alguns pontos em comum dentre as residências analisadas. Um deles e, talvez o principal, é a discrepância entre teoria e prática do movimento. O que se consegue aplicar das teorias de universalidade e coletividade é visto apenas em edifícios e residências para média e baixa rendas. Já as inovações tecnológicas vêm, principalmente, para quem tem maior poder aquisitivo. Com essa divergência, a análise resulta em dois “homens-tipo”, diferenciados principalmente pela sua condição social. E essa dualidade também é presente na flexibilidade: presente nas áreas sociais e normalmente esquecida nas zonas íntimas. Outro ponto em comum é na conformação dos acessos. Eles começam a sumir nas fachadas, sendo por cima, por baixo, pelo meio da construção (lugares não convencionais). [18]
ASSEPSIA: a sujeira é o pior inimigo. o sujo é um anti-moderno, contrário à luz e à pureza. limpa-se tudo: as plantas, os carros, as construções LIBERDADE: os elementos são independentes e cada um cumpre sua função (racional, lembra?) e assim eles podem ser modificados sem interferência. PERMEABILIDADE: fluidez sem barreiras que faz com que o entorno sólido desapareça. estou dentro ou fora? sob ou sobre? de que lado? onde?
[19]
H AB I
T AR
a utopia moderna
Método. Foram
realizadas
análises
de
residências
consideradas icônicas e inovadoras do movimento moderno. A escolha das obras foi feita para que se conseguisse compreender a síntese do movimento e as respostas espaciais que foram dadas à teoria estudada. Movimento não revisado. Arquitetura de vanguarda e de exceção, não cotidiana.
PADRONIZAÇÃO: com tudo padrão, quem fica insatisfeito que é o problema. basta repetir pavimentos-tipo, com apartamentostipo resumidos à uma fachada unitária, que o homem-tipo ficará satisfeito com sua modernidade. RACIONALIDADE: cada coisa em seu lugar. a lógica existe nas formas, nos espaços e na sua ausência. geométrico, respeitando a ordem e o espaçamento. FLEXIBILIDADE: não existe mais rigidez. as regras impostas anteriormente são flexibilizadas. a mente é instável e mutável e, ao passo em que se sabe mais sobre ela, é aceitável transportar sua instabilidade e mutabilidade para outros campos do dia-a-dia.
[20]
Mon Oncle - Jacques Tati (1958)
Habitares analisados: 01 Casa Rietveld Schroder 02 Villa Savoye 03 Casa na Cascata 04 Casa Farnsworth 05 UnitĂŠ Radieuse 06 Casa de Vidro 07 Casa das Canoas 08 Conjunto Pedregulho
Mon Oncle - Jacques Tati (1958)
[21]
1924 CASA RIETVELD SCHRÖDER G E R R I T R I E T V E L D - U T R E C H T, H O L A N D A
Sociedade:
Cidade:
Tecnologia:
Flexibilização de uso
Construção
localizada
Fundações e sacadas
com divisórias móveis,
em
urbana
em concreto. Paredes
porém mobiliário fixo
residencial.
e
com
demarcações
no
zona o
piso impossibilitam a
material,
diversidade de layouts.
e
Alguns
ambientes
tem
a
e
Contrasta
entorno
por
tijolo
esquadrias,
e
gesso, assoalho
forma
e barrotes de madeira,
Conversa
algumas vigas e pilares
com o entorno pelos
de aço. O conceito da
altura;
cor,
de
possibilidade
recuos. Fachadas são
integração
de usos múltiplos e
geométricas, com cores
só é possível graças
sobrepostos, além da
primárias
ao material leve das
presença de ambientes
combo pintura+ design
de trabalho.
+ arquitetura. Acesso no
que
unem
nível térreo, não sendo fortemente marcado na composição da fachada. O percurso do adentrar é feito através de pátio e hall de entrada.
[22]
de
usos,
divisórias móveis.
4
5
3
6
1
7
8
acesso + social 5,9m² 1 hall 4,98m² 2 lavabo 1m²
2
0
1
íntimo 21,4m² 3 biblioteca 6,76m² 4 estúdio 10,30m² 5 área de trabalho 4,40m² serviço 20,62m² 6 dormitório serviço 6,50m² 7 varanda 5,57m² 8 cozinha/jantar 14,12m²
2
pavimento térreo
10 16
15
12
13
14
9
11
17
18
0
1
2
pavimento superior
social 19,71m² 9 circulação 2,85m² 10 banheiro 0,66m² 11 estar/jantar 16,20m² íntimo 40,83m² 12 banheiro 2,77m² 13 dormitório 4,55m² 14 balcão terraço 5,53m² 15 dormitório 11,75m² 16 balcão terraço 3,04m² 17 dormitório 9,31m² 18 balcão terraço 3,88m²
[23]
1 9 2 8 - 2 9 V I L L A S AV O Y E LE CORBUSIER - POISSY, FRANÇA
Sociedade:
Cidade:
Térreo com ambientes
Construção
de
serviço
a curvatura da casa
são
fora do tecido urbano.
é
compartimentados,
Contraste em relação
percurso
enquanto o social é
ao
carro
integrado.
Pavimento
edificado:
segue
forma
superior mesma as
que
Tecnologia:
localizada
linha,
zonas
a com
íntimas
entorno
com
não-
cor,
altura,
horizontal ângulos
Construção
e
retos.
solta
no
determinada
pelo
de
um
(chegar
de
automóvel, de máquina, à
porta
da
casa)
terraço e forma (grandes vãos)
adequados
às
compartimentadas.
lote. As fachadas são
novas
Presença
geométricas
(ângulos
t e c n o l ó g i c a s
racionais
recém-surgidas
zonas e
de
de
muitas transição
percursos
que
retos), (legibilidade),
tornam o habitar uma
(sem
experiência.
e
limpas
ornamentos) horizontais.
(impermeabilização
e
estruturas em concreto
O
armado, com estrutura
adentrar consiste em
independente modular).
percurso
contornando
a construção e o acesso é escondido “atrás” da fachada principal, no térreo sob pilotis.
[24]
possibilidades
6
6
7
8 9
10
8
11
13
5
4
2
9 7
3
4
12
2
2 6
1
3
1 5
5
1
0
0 driveway 201,70m²
0
1
2
pavimento térreo
acesso + social 73,64m² 1 hall de entrada 55,50m² 2 rampa circulação 17m² 3 lavabo 1,14m²
serviço 110,25m² 4 dormitório serviço 12,85m² 5 lavanderia 8,79m² 6 lavanderia 13,27m² 7 edícula serviço 20,64m² 8 wc serviço 4,25m² 9 garagem 50,45m²
0
1
2
pavimento superior
social 240,15m² 1 sala de estar 80m² 2 terraço 104,90m² 3 rampa + corredor 53m² 4 lavabo 2,25m²
serviço 34,45m² 5 cozinha 27m² 6 terraço cozinha 7,45m²
íntimo 96,30m² 7 dormitório 15,20m² 8 banheiro 4,45m² 9 dormitório 22,70m² 10 suíte 24,80m² 11 banheiro 8,40m² 12 lavabo 2,25m² 13 terraço privativo 18,50m²
0
1
terraço
2
social 77,85m² 1 solarium 66,20m² 2 circulação 11,65m²
1 9 3 6 - 3 9 C A S A D A C A S C ATA F R A N K L L O Y D W R I G H T - M I L L R U N , P E N N S Y LV A N I A , E U A
Sociedade:
Cidade:
A
construção
possuí
cinco
níveis,
Tecnologia:
Localizada do
fora
tecido
urbano.
Incorporação natureza
no
da projeto.
configurando um tipo
Contrasta em relação
A cascata passa por
de
ao
natural
baixo da casa, fazendo
retos
com que a construção
compartimentação
vertical. térreo
Apenas
possuí
o
grande
entorno
pelos
Conversa
área livre. Ambientes
entono
mais
cor,
à
relacionados
serviço
ângulos
o
agarre a rocha. Essa
natural
com
por
apropriação é possível
materiais
e
pela
tecnologia
de
(garagem,
implantação. O percurso
impermeabilização. Os
dormitórios de serviço,
do adentrar se inicia
materiais são concreto,
lavanderia) ficam em
com a ponte de acesso.
pedra
uma
auxiliar.
Hall de entrada como
nativa, madeira e aço. A
móveis
um espaço de transição
estrutura é em pórticos.
casa
Muitos planejados
não
Acesso não é facilmente
permitem a troca de
identificado na fachada.
layout.
[26]
que
bruta,
pedra
12
5
3
13
16
5
4
14 8
1
15 6 7
3
10
11
2
4
0
1
2
pavimento térreo
acesso + social 122,04m² 1 adentrar 5,46m² 2 biblioteca/estudos 6,46m² 3 sala de estar/jantar 92,42m² 4 terraço 17,70m²
serviço 22,75m² 5 cozinha 22,75m²
9
0
1
2
pavimento superior
íntimo 197,67m² 3 terraço 41,80m² 4 dormitório 19m² 5 banheiro 6,60m² 6 dormitório 21,70m²
7 banheiro 7,42m² 8 banheiro 3,80m² 9 terraço 53,70m² 10 dormitório 15,15m² 11 terraço 19,50m²
0
12 ponte 9m²
1
terraço
2
íntimo 49,75m² 13 quarto 2,77m² 14 circulação 14,08m² 15 terraço 13,82m² 16 escritório 19,08m²
1945-51 CASA FARNSWORTH MIES VAN DER ROHE - PLANO, ILLINOIS, EUA
Sociedade:
Cidade:
Tecnologia:
Apenas a cozinha e
Fora do tecido urbano
A
o
banheiro
construção
pousa
possuem
Contraste em relação
sobre
mobiliário e instalações
ao entorno natural por
próprio”, a separando
fixas,
o
cor e forma. As paredes
da natureza. A estrutura
todo
o
de
“somem”
é
cortinas
virtude da proximidade
que resto
torna da
vidro
planta em U flexível.
quando
Espaço
de
trabalho/
estão abertas e assim
da
estudo,
não
as
um
sob
“terreno
palafitas
construção
em com
definido
a residência se adapta
um
pela planta mas pelo
ao entorno. O adentrar
minimalista
mobiliário.
é definido por platô em
modular
dois níveis. Não existe
lajes de concreto pré-
hall de entrada, então
fabricadas, fechamento
se pode entrar e ter a
em vidro, tornando-a
visão de quase toda a
muito
residência (exceto do dormitório). marcado
na
Acesso fachada
por pequeno desnível. .
[28]
lago.
Estrutura metálica (6,60m),
permeável
visualmente. .
5
4
6
2
8
3
1
0
1
2
pavimento térreo
1 terraço 109,15m² 2 terraço 59,80m²
7
social 81,90m² 3 sala de estar/jantar/escritório 76,40m² 4 banheiro 5,50m²
serviço 20,95m² 5 cozinha 15,25m² 6 instalações 5,70m²
íntimo 36,45m² 7 banheiro 4,95m² 8 dormitório 31,50m²
1952 UNITÉ RADIEUSE LE CORBUSIER - MARSELHA, FRANÇA
Sociedade:
Cidade:
Tecnologia:
Ambientes divididos e
Localizada
bem demarcados, com a
urbana e não central.
encaixe de diferentes
preocupação da cozinha
Conversa
apartamentos
ser integrada à sala
entorno por ter recuos
dinamismo e encaixe
através de um balcão,
grandes em todas as
aproveitamento
para que as mulheres
direções. Fachadas são
tipologia.
não ficassem excluídas
geométricas
(ângulos
habitável possível pela
no ambiente de serviço.
retos), com marcação
impermeabilização.
Quarto
dos
Pilotis
é
dos
no
sobre
pais
mezanino
a
sala,
como
menores. é
medida os
toda
em
sob todos
Possui um sistema de
“”rua””
calefação com gás por
em
relação
“”casas”” os
com
que
as
dentro
das
paredes.
seriam
Refrigeração na cozinha
apartamentos,
com gelo incorporado
Conformada para uma
construção
(não
de intimidade. A única
tinha
tradicional
parte em que o edifício
incluindo a tecnologia
2
toca o chão sem pilotis
de usos na concepção
é o acesso.
do apartamento.
filhos).
Não possui ambientes
ap A
ap B
de trabalho.”
corte esquemático
[30]
que
espaços
são como
na
+
robustos
estacionamento.
configuram outro nível
(casal
Terraço
liberam o térreo para
apartamentos.
família
na
do
Corredores
vistos
Cozinha
verticais
criando
cores. edificio
quartos
o
Concreto armado
e horizontais. Uso de
Divisória
nos
zona
com
planos
mecanismo de controle. móvel
em
geladeira),
5
1
6
1
2
pavimento superior
3
íntimo 57,81m² 1 circulação 13,50m² 2 banheiro 0,91m² 3 banheiro 3,70m²
apartamento A
0
4 suíte 11,70m² 5 dormitório 14m² 6 dormitório 14m²
1
1
apartamento B
2
0
1
2
pavimento acesso
social 13,72m² 1 adentrar 2,42m² 2 sala de jantar 11,30m²
2
serviço 3,20m² 3 cozinha 3,20m²
social 32,17m² 1 adentrar 2,42m² 3 sala de estar/jantar 23,35m² 4 balcão 6,40m²
1 5
0
1
4
2
pavimento inferior
4
2
íntimo 81,93m² 1 circulação 13,45m² 2 banheiro 0,88m² 3 banheiro 3,70m² 4 suíte 23,40m²
2
3
4
serviço 3,20m² 2 cozinha 3,20m²
6 8 3
5 balcão 6,40m² 6 dormitório 13,90m² 7 dormitório 13,90m² 8 balcão 6,30m²
7
1951 CASA DE VIDRO L I N A B O B A R D I - S Ã O P A U L O , S P, B R A S I L
Sociedade: Divisão muito
Cidade: em
Tecnologia:
zonas
Contrasta em relação
Vigas
de
concreto
demarcada.
ao entorno natural em
armado, pilares de aço,
Área social com planta
termos de forma e cores.
fechamentos em vidro.
livre,
Conversa
e
de
setores serviço
íntimo muito
entorno
com
o
pilotis, a casa pousa no
natural
por
terreno irregular. Pátios
compartimentados.
ter
implantação
internos permitem luz
Social
adaptada
ao
e ventilação dentro da
com
grandes
terreno
janelas para a frente,
Permeável
íntimo voltado para o
paredes de vidro. O
interior (protegido) e
percurso do adentrar
social nos fundos, como
se dá pelo jardim e em
se estivesse escondido.
função do acesso ter ser
por
ter
através de escadas, por baixo da construção.
[32]
grande residência.
14 1
2
8
9
13
10
6
1
12
7
14
10 15
11
18 16
4 12
3
5
0
1
2
pavimento térreo
serviço 110,60m² 1 depósitos 46,45m² 2 máquinas 14,2m² 3 garagem 49,95m²
0
1
2
pavimento superior
10
acesso + social 220,00m² 4 acesso 7,8m² 5 biblioteca 53,4m² 6 sala de estar 76,4m² 7 pátio das rosas 22,4m² 8 lareira 31,8m² 9 refeições 24,6m²
17
íntimo 59,90m² 10 dormitórios 37,3m² 11 closet 10,3m² 12 banheiros 12,30m²
serviço 154,20m² 13 cozinha 32m² 14 quarto serviço 13,7m² 15 sala serviço 7,4m² 16 rouparia 10,3m² 17 varanda 14,6m² 18 pátio 76,2m²
1952 CASA DAS CANOAS OSCAR NIEMEYER - RIO DE JANEIRO, RS, BRASIL
Sociedade: Térreo onde
Cidade:
com a
social,
planta
é
Tecnologia:
Não é no tecido urbano.
Incorporação
de
Contraste em relação
pedra do terreno na
predominantemente
ao
construção
livre.
cobertura
Andar
inferior
entorno
natural: com
elemento natural, além
com o íntimo espaços
cor que aparece muito
da adaptação do subsolo
compartimentados.
em relação ao entorno
ao relevo original.
Conversa com o entorno
laje curva de concreto
natural:
implantação
é suportada por struts
em nível subsolo, as
finos. Fechamento em
paredes nas
laje
como
desaparecem
fotografias.
adentrar,
se
Ao tem
percurso que permite a visão da casa como um todo primeiro, para depois
ser
possivel
entrar. Acesso não é fortemente marcado na edificação.
[34]
vidro.
A
6
8
6
6
8 3
5 2
7
4
1 8
6
0
1
2
pavimento térreo social 100,71m² 1 sala de estar 39,20m² 2 sala de jantar 51m² 3 lavabo 2,61m² 4 circulação 7,90m² serviço 15,50m² 5 cozinha 15,50m²
0
1
2
pavimento subsolo
íntimo 85,50m² 6 dormitórios 49,10m² 7 sala íntima/biblioteca 30m² 8 banheiros 6,40²
1947 CONJUNTO HABITACIONAL DO PEDREGULHO AFFONSO REIDY - RIO DE JANEIRO, RS, BRASIL
Sociedade:
Cidade:
A p a r t a m e n to s
É
são
setorizados
dentro
Tecnologia:
de
um
Cobogós
como
e
conjunto-cidade.
elemento local, criam
sem
possibilidade
Contraste com os outros
corredores
de
flexibilidade.
edifícios do conjunto
O
(e da vizinhança) em
mais de uma tipologia
ser um limitante de
termos
de
espaço.
possui
material Adentrar no
Adequação da forma ao
ambiente específico de
edifício: ponte de acesso
terreno
trabalho.
no “meio” do edifício,
A pequena
área pode
Não
espaço
de
forma
e
intermediário
aberto para então ir para os apartamentos. O corredos do edifício também
serve
como
espaço de permanencia, criando
nível
intimidade.
[36]
de
ventilados.
edifício
possui
apartamento.
6 4
0
1
2
pavimento superior
íntimo 41,73m² 4 circulação 6,17m² 5 dormitório 17,42m²
7
6 dormitório 12,73 7 banheiro 5,41m²
apartamento tipo B - pavimentos 1 e 2
apartamento tipo A - duplex - pavimentos 4, 5, 6 e 7
5
1 5
3
2 4
0
1
2
pavimento único
social 26,05m² 1 acesso+circulação 2,48m² 3 sala de estar/jantar 20,57m² 4 banheiro 3m²
serviço 3,00m² 2 cozinha 3,00m² íntimo 10,27m² 5 dormitório 10,27m²
apartamento tipo A
apartamento tipo A
ponte de acesso
3
2
apartamento tipo B apartamento tipo B
1
0
1
2
pavimento inferior
serviço 5,70m² 2 cozinha 5,70m²
acesso + social 34,69m² 1 acesso+circulação 4,45m² 3 sala de estar/jantar 30,24m²
corte esquemático
[38]
02. CON
TEMPO RÂNEO
CYBERPUNK É A DISTOPIA DO HOJE ! grandes corporações, crise de recursos naturais, onipresença da tecnologia . . . . . . isso é o cenário futurista descrito pelo cyberpunk. incorporado a ideia de “high tech, low life”, (parece que blade runner acertou nas previsões) é uma cidade colagem, todos estão nesse contexto, ainda que com diferenças sociais gritantes.
[39]
[40]
02. CON
TEMPO RÂNEO
Panorama geral. A Bienal de Veneza de 2019 teve o título “May You Live In Interesting Times”. Essa frase de origem chinesa é comumente dita de forma irônica, seguindo a ideia de que os tempos desinteressantes são mais calmos e pacíficos que os interessantes. Sob essa perspectiva, a contemporaneidade pode ser classificada como “interessante” e é um período essencialmente múltiplo e contraditório. A atualidade é fortemente marcada pela presença de tecnologia acessível, em contato diário com a maior parte da população, paralelamente com crescentes desigualdades sociais. Além da tecnologia, a nova onda de governos autoritários, crises ambientais e de refugiados foram temas tratados na 58ª edição da Bienal sob um viés não tradicional, que instiga o pensamento sobre a conexão e relação entre esses assuntos tão presentes na contemporaneidade.
Altered Carbon (2018)
[41]
C ON C
E I
T
OS
aplicados ao contemporâneo
Sociedade
Solidão e valorização do indivíduo O mundo enfrenta muitas mudanças a partir da década de 1980. Com a ascensão global do modelo neoliberal pós-Guerra Fria e a América Latina saindo de um período repleto de opressivas ditaduras militares, o ocidente teve ideais de “liberdade” e propriedade privada justificados por uma busca da maximização das preferências individuais (PETERS, 1998). Passaram a operar, então, a partir dessa lógica neoliberal, um conjunto de técnicas “pela individualização/administração da vida ao modo de uma empresa múltipla, no sentido de levar o indivíduo a se reconhecer como responsável, competitivo, produtivo e empreendedor de si mesmo” (CANDIOTO, 2011, p.488). Como resultado, acentuam-se problemáticas relacionadas à desigualdades sociais, concentração de renda etc. Bauman (2000, p.14) afirma que “A nossa é uma versão individualizada e privatizada da modernidade, e o peso da trama dos padrões e a responsabilidade pelo fracasso caem principalmente sobre os ombros dos indivíduos.” No quesito moradia, no Brasil, 10,4% da população morava sozinha em 2005, enquanto que em 2015 este número já era de 14,6% da população (IBGE, 2016). Para pensar nesse aumento em mais de 40% de pessoas que moram sozinhas no país, Klinenberg (2013), analisando o contexto global, entende a taxa como tendência mundial e elenca a tecnologia como um dos fatores passíveis de influenciar essa mudança no habitar. Ao mesmo tempo em que existem diferenças sociais, a cidade/arquitetura pensada para um homem pretensiosamente universal exclui todos, já que esse homem universal não existe e ninguém se encaixa totalmente nesse perfil rígido (MONTANER; MUXI, 2014). Portanto, o desafio está em construir espaços que sejam capazes de evidenciar o individual, ou seja, escapando da padronização dos indivíduos, mas, ao mesmo tempo, minimizando as desigualdades sociais (MONTANER; MUXI, 2014). [42]
Cidade
Impermanência, desapego. A unidade e a setorização fixa das cidades começa a ser comprometida. As
cidades
setorizadas
não por
são seus
mais usos,
tão mas
seguem sendo por questões sociais. Um lugar socialmente segregado, com impessoalidade crescente e que não estimula relações de vizinhança.
Bike Shelter - MAPA Arq (2018)
Também não é hegemônica em termos de arquitetura, porque as edificações passam a se expressar através de formas não convencionais, únicas. Uma
das
grandes
questões
das
cidades
contemporâneas é a mobilidade urbana, que com cidades maiores e mais povoadas têm se tornado um problema ainda mais crescente. As soluções ligadas à transportes coletivos ou individuais com baixa emissão de carbono
perpassam o próprio
zoneamento das cidades e as distâncias entre atividades a serem realizadas.
Compartment C Car - Edward Hopper (1938) Laugh Now - Banksy (2003)
[43]
Mr. Robot (2015) Dancing Pavilion - Guto Requena (2016)
Tecnologia
O ser é único, mas a estrutura é em rede. A
noção
efêmera
contemporaneidade.
de
indivíduo
Como
um
dos
pauta
a
reflexos
observáveis, o indivíduo não se vê mais como, primeiramente,
membro
de
uma
comunidade
imutável, mas como um “eu” que, aí sim, não exatamente
pertence,
mas
encontra-se
em
determinado grupo (CASTELLS, 2009). O relacionamento (de forma bastante seletiva) necessita uma compatibilidade de interesses cada vez maior para que, assim, criem-se criteriosas redes (CASTELLS, 2009). As redes sociais são o ambiente perfeito para que isso aconteça, no entanto, a sua estrutura de relacionamentos extrapola o ambiente digital e passa a guiar o comportamento diário, configurando nosso modo de pensar (PARISER, 2016). Porém, a tecnologia na construção está atrelada ao modo de construir: estruturas efêmeras, leves, produzidas em fábricas e não no canteiro de obras. A automatização e tecnologia para o uso do espaço são implantadas posteriormente e não projetadas juntamente d construção. [44]
Recursos
Contradições. Em meio à uma crise ambiental, em que muitos cientistas consideram as mudanças climáticas irreversíveis, surge espaço para um momento de “contracorrente”. Como uma resposta às dificuldades enfrentadas, se pensa muito em sustentabilidade e a minimização de impactos sobre à natureza: a
consciência
quanto
à
escassez
de
recursos impulsiona técnicas de projeto arquitetônico relacionadas à bioclimática; A busca por tornar edifícios inteligentes, aproveitamento
passivo
de
recursos
naturais, formas alternativas de gerar energia, maior contato com a natureza.
Sede CCTV - OMA (2004)
[45]
H AB I
T AR
a utopia contemporânea Método. As construções (e anexos) analisadas foram escolhidas a partir de grandes nomes da arquitetura contemporânea e suas tendências. Buscou-se ter ao menos um exemplar brasileiro e outros que mostrem a diversidade da produção “utópica”, diferenciada e
que
contemple
algumas
contemporâneas.
Convergências. O recorte de camadas sociais está, mais uma vez, fortemente presente no momento em que se pensa: quem tem direito à arquitetura utópica? Foram observadas muitas diferenças na forma quando comparadas entre si, porém são poucas as distinções no uso dos ambientes. Isso traz a tona o questionamento do quanto realmente a arquitetura mudou e quanto ela quer aparentar que mudou. As variações em função da área são relevantes. Quanto espaço se pode ter (habitações mínimas ou mansões de 5.000 m²) se interseccionam com capacidade de poder aquisitivo. Um
ponto
que
permanece
em
função
do
modernismo são os acessos em locais inusitados da construção e a tecnologia em materiais de construção mudando a sua forma. Outra
característica
observada
é
como
os
ambientes de trabalho nas moradias se tornaram indispensáveis até mesmo em ambientes que não tem espaço para o social.
[46]
das
orientações
Habitares analisados: 01 Keret House 02 Gago House 03 Capital Hill Residence 04 Rucksack Haus 05 VM Houses 06 MiniMod 07 GAP House
Casinhas Willian Santiago (2020)
Quinta Monroy - ELEMENTAL (2003)
Balancing Barn MVRDV (2010)
[47]
2012 KERET HOUSE JAKUB SZCZESNY - VARSÓVIA, POLÔNIA
Sociedade:
Cidade:
A construção é uma
Inserida
instalação artística e prevê espaços mínimos
Tecnologia: zona
Estrutura metálica pré-
urbana,
contrastando
moldada que viabiliza
com
o
entorno
a
necessários para viver.
ser
uma
Nível
terreno.
de
intimidade
vertical.
Presença
recuos
em
“sobra”
com
por de
condições
e
espaço.
circulação
fachada
interna é vertical, por
lisa, sem ornamentos
menos socia (socializar
(pele de vidro). Acesso
pouco
através
habitar).
de
que ficam escondidas
de
por
mesmo
sendo unidade mínima.
A
nesse
escadas.
escadas
Presença de ambiente trabalho,
nessas
Mantém
de uma área mais ou no
construção
fechamento
no
alinhamento predial.
Recursos: Com o interior pintado de branco para permitir a melhor iluminação, a
construção
possui
claraboia e aberturas em
lugares
não
convencionais em
função
da
implantação.
[48]
sua
1
4
2
5
3
0
1
2
pavimento térreo
0
1
2
0
1
2
primeiro pavimento
segundo pavimento
social 1,75m² 1 jantar 1,75m²
íntimo 3,90m² 4 home office 1,75m² 5 dormitório 2,15m²
serviço 2,14m² 2 cozinha 1,07m² 3 banheiro 1,07m²
corte esquemático [49]
2013 GAGO HOUSE P E Z O V O N E L L R I C H S H A U S E N - S A N P E D R O D E L A PA Z , C H I L E
Sociedade: Cada
Cidade:
um
dos
4
Tecnologia:
Inserida em subúrbio
Estrutura
pela escadaria central
suportada
pavimentos
(12
residencial,
plataformas
em
com o entorno em todos
de
diferentes
níveis)
os aspectos. O acesso
divisórias de madeira.
possui
planta
é na diagonal, com as
Resultado
portas
revestidas
do
ambientes irregulares e
mesmo
material
da
assimétricos “cortados”
uma
diferente, os
para
espaços
que sejam
apropriados o
uso
pelos Os
com
fachada,
desejado
marcada
moradores. pavimentos
contrasta
não
sendo
na
composição.
sua
concreto,
Ponto
com
é
importante
de
é
a assimetria do jogo de formas (plantas e
são
fachadas)”
encarados como níveis de
intimidade
alto, mais íntimo).
(mais
Recursos Placas
solares
terraço habitável.
[50]
no
4
1
5
7
6
1
3
0
8
2
2
pavimento térreo
social 31,81m² 1 acesso 31,81m²
0
1
2
primeiro pavimento
serviço 15,78m² 2 banheiro 3,47m² 3 serviço 8,82m² 4 lavanderia 3,49m²
social 33,21m² 5 sala de estar 15,75m² 6 sala de jantar 10,36m² 7 sala de jantar 7,10m² serviço 12,19m² 8 cozinha 12,19m²
13
12
11
0
1
10
2
segundo pavimento
9
íntimo 31,79m² 9 dormitório 10,30m² 10 banheiro 1,28m² 11 sala privativa 7,10m² 12 banheiro 1,32m² 13 dormitório 11,79m²
0
1
2
terceiro pavimento
íntimo 46,1m² 14 dormitório 16,52m² 15 closet 9,99m² 16 sala privativa 7,10m² 17 banheiro 1,58m² 18 escritório 10,91m²
2018 CAPITAL HILL RESIDENCE ZAHA HADID - MOSCOU, RÚSSIA
Sociedade: A
construção
eleva
acima
se das
Cidade:
Tecnologia:
Não é no tecido urbano.
É de aço e concreto com
Contrasta
o
fechamentos de vidro.
separando
entorno natural por ser
A questão é toda sobre
acima
do
mais alta e também
a forma. O exterior é
serviço.
em termos de cores.
muito mais importante
Essa relação estabelece
A
que
na
o
parecendo uma nave
(monumentalidade
preceito de o individuo
espacial, não tem o
formal)
ser superior à sociedade
acesso bem marcado na
árvores, o
íntimo
social
e
do
arquitetura
e à natureza.
fachada
com
futurista,
composição.
o
interior
Recursos Não
foi
encontrada
referência.
[52]
11
9
10 12
13
27
29
8
28 7 3
26
41
25
4 14
34
24
32
17 2
0
1
2
pavimento térreo
1 sala de estar 171m² 2 33,82m² 3 circulação 42,83m² 4 70,44m² 5 academia 57,15m² 6 15,95m² 7 14,43m² 8 12,66m² 9 13,39m² 10 14,51m² 11 5,87m² 12 ... 13 42,52m²
46
43
30 6
1
39
40
5 15
14 175,48m² 15 80,81m² 16 8,70m² 17 94,65m² 18 18,28m² 19 5,70m² 20 10,36m² 21 5,50m² 22 9,85m² 23 7,84m² 24 21,89m² 25 16,79m² 26 31,53m² 27 49,01m² 28 7,60m² 29 43,13m²
35
36
37
42
38
33 45
31 16
18
19
20
21
22
23
30 90,60m² 31 59,56m² 32 28,46m² 33 7,39m² 34 4,65m² 35 11,92m² 36 20,50m² 37 15,53m² 38 64,35m² 39 44,65m² 40 20,06m² 41 23,83m²
42 99,40m² 43 11,90m² 44 12,98m² 45 33,65m² 46 28,49m²
44
2004 RUCKSACK HAUS STEFAN EBERSTADT - LEIPZIG, ALEMANHA
Sociedade: É
um
módulo
Cidade: que
Tecnologia:
Contrasta com qualquer
Os
serve como expansão
entorno
painéis
para
projetado
e
apartamentos incorporação
por
ser
para
além
materiais retráteis
são de
madeira que podem ser
dos recuos, em outros
abertos
materiais e ritmo de
A caixa é içada com
existentes. Ele pode ser
esquadrias
torna
cabos de aço e presa
qualquer cômodo (que
uma caixa de luz, com
com perfis metálicos.
não exija tubulação de
ritmo
de
Rasgos no piso e no
áreas molhadas), sendo
esquadrias e cabos para
teto dão a sensação de
prendê-la na fachada
“caixa voadora” dentro
em
construções
super flexível à usos.
já
Se
irregular
desse
ou
fechados.
parasita
na
fachada Recursos Não é possível analisar.
[54]
1
0
1
2
planta A
0
1
2
corte A
1 ambiente 9,40m²
os módulos podem ser usados para qualquer uso, com a liberdade de ter um ou mais acoplados aumentando ou diminuindo o espaço [55]
2005 VM HOUSES BIG E JDS - COPENHAGEN, DINAMARCA
Sociedade:
Cidade:
Tecnologia:
São 230 unidades, com
As
mais
plantas
excêntricas
e
apartamentos
configuram
aspecto
de
de
80
são
Feito
de
estrutura
metálica
com
fechamentos
em
diferentes
entre
que
se
encaixam
gerado
como
lego
para
dar
das
individualidades
forma
ao
edifício.
dos
apartamentos
origem aos diferentes
(imposição em mostrar
apartamentos,
suas
pensando
A
multiplicidade
a
possibilidade
si
fachadas
e de
agressivo
espinhento,
pela
projeção
diferenças).
No
vidro. A tecnologia de encaixar
diferentes
“peças”
para
em
expressar e se encaixar
seu interior, inspirado
tanta
através
pela
possibilitada
estão
da
moradia
presentes
conceito.
no
de
Unité Le
Radieuse
Corbusier,
os
dar
variedade,
é
pelos
materiais construtivos.
corredores são como uma extensão da rua, sendo
Recursos
diferenciados
Corredores em zig-zag
entre si de acordo com
(VM) permitem entrada
o pavimento.
de
luz
natural
em
ambos lados do edifício.
[56]
8
9
12
5 13
1
7
2
1
6
14
16
3 10
15
11
4
0
1
2
0
pavimento inferior apto A apto B social 30,33m² 1 sala de estar 30,33m² serviço 7,62m² 2 cozinha 5m² 3 banheiro 2,62m² íntimo 7,16m² 4 dormitório 7,16m²
íntimo 22,87m² 5 dormitório 17,55m² 6 circulação 2,26m² 7 banheiro 3,06m²
1
2
0
pavimento intermediário apto A apto C íntimo 15,64m² 8 escritório 15,64m²
social 15,64m² 9 estar 15,64m²
apto B
social 15,23m² 10 estar 15,23m² serviço 8,13m² 11 cozinha 8,13m²
1
2
pavimento superior apto C apto B
íntimo 17,98m² íntimo 9,52m² 12 dormitório 17,98m² 16 escritório 9,52m² social 27,20m² 13 estar 27,2m² serviço 11,28m² 14 banheiro 3,15m² 15 cozinha 8,13m²
apto A
apto B esquema de apartamentos
apto C
2019 MINIMOD SPOT M A PA A R Q - T O D O L U G A R
Sociedade:
Cidade:
Tecnologia:
Um mini módulo que
Pode ser inserida em
Módulo pré moldado,
configura
habitação
qualquer lugar, apesar
que chega no lugar da
mínima. O que é o
de as analisadas serem
implantação
mínimo necessário de
em sua totalidade em
Construído
espaço para viver. O
zonas rurais. O volume
tecnologia CLT (Cross-
conceito de MINIMOD
não precisa conversar
Laminated
foi aplicado pelo mesmo
ou
que
escritório
entorno,
residência,
em em
outra uma
fazenda em Catuçaba.
contrastar o
que
do
pronto. com Timber),
permite
cada
abre
morador escolher como
maiores possibilidades
combinar seus módulos
de implantação.
e o tipo de revestimento. Recursos Ele
pretende
mais
ser
autossuficiente
possível. foram
o
Não encontradas
informações geração/consumo
sobre de
energia no módulo.
[58]
1 0
1
2 2
0
3 1
2
planta A
planta B
1 ambiente 2,27m²
2 ambiente 0,72m² 3 ambiente 3,27m²
0
1
2
corte A
0
1
2
corte B
os módulos podem ser usados para qualquer uso, com a liberdade de ter um ou mais acoplados aumentando ou diminuindo o espaço [59]
2015 GAP HOUSE ARCHIHOOD WXY - SEONGNAM-SI, COREIA DO SUL
Sociedade:
Cidade:
Tecnologia:
No tecido urbano, a
Contrução em concreto
coletiva. Está localizada
construção
contrasta
armado. Os recortes na
em área com muitos
em termos de cor e
fachada dão dinalismo e
estudantes (próxima à
forma
possibilitam ambientes
universidade de Seul).
Possui
Espaços comuns são
primeiro
sala de estar, cozinha
c o n f i g u r a n d o
e áreas de refeições,
construção
Projeto
de
habitação
além dos espaços livres e
abertos.
Também
existem varandas que geram
socialização
entre moradores.
[60]
das
lindeiras.
comércio
no
diferenciados
pavimento, de
misto.
no
interior.
uso
Recursos Não
foi
encontrada
referência.
6
7
8
9
23
22
6
15
2
16
13
14
20
15
22
21 24
10 5 3
17
6 10
11 1
24
12
18
17
15
19 20
25
7 21
14 10
11
4
18
6
5
17 12
17
10
20
15 25
24
24 25
19 21
6
0
1
2
pavimento térreo 1 jardim 33,84m² 2 comércio 84,32m² 3 banheiro 5,95m² 4 depósito 4,87m²
0
1
9
8
7
6
2
0
primeiro pavimento social 59,38m² 5 acessos 12,08+12,08m² 7 balcões compartilhados 5,51+5,51+5,51m² 8 estar 9,27+9,42m²
15
1
14
13
16
2
serviço 23,05m² 9 cozinha 4+4m² 10 banheiros 3,59+2,41+1,88+3,59m² 11 serviços 1,79+1,79m²
social 59,38m² 12 acessos 12,08+12,08m² 13 balcões compartilhados 5,51+5,51+5,51m² 14 estar 9,27+9,42m²
22
0
segundo pavimento íntimo 63,90m² 6 dormitórios 10,67+11,94+10,40+9,72+10,36+10,81m²
20
15
1
22
23
2
terceiro pavimento íntimo 63,90m² 15 dormitórios 10,67+11,94+10,40+9,72+10,36+10,81m² serviço 23,05m² 16 cozinha 4+4m² 17 banheiros 3,59+2,41+1,88+3,59m² 18 serviços 1,79+1,79m²
social 59,50m² íntimo 53,57m² 22 dormitórios 8,70+11,40+12,40+11,94+9,13m² 19 acessos 2,82+5,93m² 20 balcões compartilhados 5,19+5,19+7,92+5,19m² serviço 26,64m² 21 estar 14,76+12,50m² 23 cozinha 4,50+4,50m² 24 banheiros 3,59+4,50+1,81+2,44m² 25 serviços 2,25+1,26+1,79m²
a arquitetura contemporânea é muito mais próxima do modernismo do que ela gostaria
... talvez a arquitetura habitacional contemporânea não esteja correspondendo aos anseios das múltiplas personas da atualidade
[62]
a pessoa fornece as diretrizes para o morar. o protagonismo estĂĄ no indivĂduo
tendĂŞncias da contemporaneidade levadas ao extremo
utopias [63]
[64]
“Essa parece ser a distopia feita sob medida para a modernidade líquida — e capaz de substituir os terrores dos pesadelos de Orwell e Huxley.” BAUMAN Junho de 1999
[65]
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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