Mercado do Sexo

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MERCADO POUCO EXPLORADO E SEM REGULAÇÃO A campainha toca anunciando um possível comprador. Duanne Ribeiro que trabalha há dez anos com materiais eróticos e possui uma loja na Avenida dos Bandeirantes em São Paulo, enfatiza que “neste ramo não é a pessoa que compra, é você quem vende”. O atendimento é personalizado, cada cliente permanece no mínimo de 20 a 30 minutos no sex shop e sempre precisa de orientação. “A pessoa para atender neste tipo de comércio tem que ser delicada, tem que saber decifrar o cliente sem ofendê-lo”, avalia a vendedora. O público que frequenta a loja é em sua maioria casais de heterossexuais com idade entre 25 e 50 anos que chegam com a intenção de investir no sexo e na relação, gastando em média entre R$150 e R$200 em cada compra. A vergonha para entrar num sex shop, no entanto, ainda é grande. “Percebo que de dia as pessoas param o carro ao lado e vêm a pé. “Observam se não tem ninguém olhando e então entram na loja”, comenta Duanne. As principais preocupações de Duanne são a saúde dos clientes e a falta de legislação específica que regule o setor. Este é regido por leis municipais básicas que impõem limites para a exposição de materiais impróprios para menores e regula as restrições de localização para este tipo de estabelecimento. Alguns produtos são fiscalizados e registrados pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), seguindo normas feitas para cosméticos, pois não há regulação exclusiva para materiais eróticos. Aqueles que são tecnológicos como os vibradores, não são reconhecidos por lei no país. Além disso, os produtos não possuem autorização para trazer especificações sexuais nos rótulos, a única empresa autorizada é a Johnson&Johnson que traz na embalagem de KY a indicação “lubrificante íntimo”. Esta proibição da utilização de palavras eróticas trouxe, porém, uma vantagem para a indústria destes tipos de cosméticos brasileiros, pois a impossibilidade de importar produtos com estes rótulos fez com que a indústria crescesse e hoje é considerada a terceira maior do Mundo. O mercado erótico não possui uma rede de suporte para empreendedores que desejam iniciar um negócio no ramo, encontrando poucas opções de ajuda. Uma delas é a A.T.E.N.A.S


(Agência Técno-Estratégica para Negócios e Ação Segmentada) especializada no segmento erótico. Ela reúne profissionais da área para prestar consultoria, treinamentos e troca de informações. Uma das fundadoras da agência, Paula Aguiar que já publicou dois livros sobre este mercado: Sex shop Guia de Negócios e Sex shop.com, defende uma normatização do setor e indica a Feira Erótica, hoje em sua 16ª edição, para quem deseja buscar orientação e conhecer fornecedores. Em breve a A.T.E.N.A.S deve assumir a direção da ABEME (Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual), criada em 2002, porém que não atende aos objetivos propostos segundo Paula. Ela que trabalha desde 1999 no ramo e conhece muitos distribuidores, fornecedores e pioneiros da área, indica algumas ações que pretende realizar junto á ABEME: levantar quem trabalha no mercado, criar um código de ética e criar condições para melhorar a qualidade dos produtos e satisfazer o consumidor. Uma grande ação da A.T.E.N.A.S foi a realização da 1ª Pesquisa Nacional Setorial do Mercado Erótico. Foram 143 empresários do ramo de todo Brasil que responderam o questionário e destes, 65% era da região Sudeste. A falta de informação sobre fabricantes e fornecedores do setor é enorme: 65% declararam ter pouco ou nenhum conhecimento. O contrário foi verificado em relação á qualidade, preço e uso dos produtos, sobre os quais 61% confirmaram possuir de razoável a excelente conhecimento. As Regras e leis do setor também são pouco conhecidas ou são totalmente desconhecidas segundo 65% dos entrevistados. A primeira parte da pesquisa confirma porque Duanne Ribeiro, a dona do sex shop, pretende instituir um sindicato: a ausência de informação por parte dos empresários do ramo. “Não há um SEBRAE para ajudar neste setor”. A pesquisa também revela que 48% dos novos empreendedores gostariam de investir em sex shop virtual e 42% da produção é voltada para cosméticos contra apenas 8% de vibradores fabricados. Das empresas que atuam no mercado, 45% possuem menos de um ano de existência e apresentam número reduzido de funcionários: 37% possuem apenas dois a três funcionários, sendo que destes, 68% é do sexo feminino. A média de atendimento é de dez clientes


por dia segundo 74% dos empresários. A pesquisa segundo Paula Aguiar é essencial para conduzir algumas ações de melhoria no mercado erótico que ela vem tentando aplicar. Duanne Ribeiro, a dona do sex shop, entende que o mercado erótico oferece produtos que “fascinam as pessoas” e muitos de seus clientes perceberam que eles podem fazer mais do que isso, são capazes de transformar uma relação. Um músico paulistano casado há 25 anos declarou que “Se ele soubesse que utilizar estes produtos faria diferença na relação com a mulher, não teria perdido tanto tempo com a bebida”. Diferentemente do músico, o jovem Fernando não quis esperar todo este tempo para buscar ajuda. Namorando há apenas três meses e de casamento marcado declarou a Duanne: “Não quero errar igual todo mundo, procurar por isso depois de anos de casados”. Outro homem que a procurou foi Ricardo que não entendia porque sua relação com a mulher não ia bem. “Minha mulher tem tudo, todos os dias compra uma loja inteira”. Após uma conversa com Duanne e R$ 740 gastos, ele descobriu que faltava apenas comunicação. Todas estas pessoas foram á loja de Duanne em busca de algo no qual ela acredita: “o contato íntimo é a parte mais pura de uma relação”. “Sou sonhadora e acredito no amor. Eu vejo que não sonho sozinha”. “O sorriso dos casais é prova disso e me deixa muito feliz, me relembra porque amo fazer o que faço”.


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