Alcipe

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Luís Vieira nº18 10ºD

Fig.1- Marquesa de Alorna

[MARQUESA DE ALORNA]


Índice:         

Índice Introdução Enquadramento Histórico Nascimento e Juventude Casamento e Viagens Viuvez e Exílio Final de vida e Morte Conclusão Bibliografia

Introdução: D. Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre, pode ser considerada uma das figuras mais importantes para o feminismo em Portugal, assim como para a literatura em Portugal, e ainda assim para a política internacional, uma vez eleita a mulher mais intelectual de Portugal, D. Leonor, 4ª marquesa de Alorna, vai ter um papel importante na elevação das mulheres na cultura em Portugal, ao tornar-se a primeira poetisa portuguesa e ao apoiar causas feministas fervorosamente. Foi também uma mecenas da cultura literária principalmente.

Enquadramento Histórico: A 3 de setembro de 1758, o Rei D. José I foi atacado com armas de fogo enquanto percorria uma rua secundária de coche, os ferimentos apenas foram ligeiros. Sebastião de Melo, mais conhecido com Marquês de Pombal assumiu pessoalmente o caso, permanecendo assim em segredo o facto de ter havido uma tentativa de regicídio, no geral julgamento foi relativamente rápido, sendo que poucos dias depois, dois homens foram capturados e encarcerados, ambos confessaram que tinham recebido ordens da família dos Távoras cujos motivos passavam por tentar pôr no trono o então Duque de Aveiro, José Mascarenhas. No dia seguinte acabariam por ser os dois enforcados e o caso tornou-se público. Nas semanas seguintes, todos os que estavam ligados ao nome Távora eram agora presos, encontravam-se entre eles: a marquesa Leonor de Távora, o seu marido, Conde do Alvor, adicionalmente, o Conde de Atouguia e Gabriel Malagrida1 (de notar que estes eram apenas os mais notórios, todos os que estivessem diretamente relacionados com estes nomes foram também presos). 1

Padre jesuíta Italiano que já tinha sido missionário no Brasil, era na altura da captura o confessor da marquesa Leonor de Távora, foi posteriormente considerado herege na conclusão do Processo dos Távora


Todos estes nomes foram acusados de tentativa de regicídio e alta traição, várias provas simples foram apresentadas, como por exemplo o facto de apenas os Távoras terem acesso à “agenda” do rei nessa noite2 . Apesar de negarem todas as acusações, a condenação prosseguiu, além de serem condenados à morte, os seus bens foram confiscados pela coroa, os brasões familiares proibidos, para além de terem o nome apagado da alta nobreza. A execução de todos os membros da família dos Távoras (incluindo mulheres e crianças) deu-se a 13 de Janeiro de 1759, próxima da Torre de Belém, foi bastante violenta até para os padrões da altura, a brutalidade da execução (que envolveu os condenados serem queimados vivos) fora usada como exemplo do rei para todas as casas da alta nobreza que se quisessem tentar cometer regicídio. Gabriel Malagrida seria apenas executado uns anos depois, mais precisamente a 21 de Setembro de 1761, para reforçar a mensagem foram expulsos todos os jesuítas do território português nacional e ultra-mar. A família de Alorna e os descendentes do Duque de Aveiro ficaram condenados a prisão perpétua em vários mosteiros e conventos, estava aqui incluída a Marquesa de Alorna, então conhecida apenas por Leonor de Almeida.

Nascimento e Juventude: Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre nasceu no dia 31 de Outubro de 1750 em Lisboa, filha primogénita de D. João de Almeida Portugal, 2º marquês de Alorna e 4º conde de Assumar e de Dª Maria de Lorena, filha dos marqueses de Távora. Aos 8 anos viu a sua avó3 ser decapitada e os seus tios e primos serem queimados vivos numa execução pública que decorreu em Belém. Devido à sua tenra idade e ao facto de que a sua família já não possuía ligações muito fortes com os Távoras, foi poupada da execução em conjunto com o pai, a mãe e os irmãos, ainda assim toda a família fora condenada a prisão perpétua em mosteiros. Leonor, a mãe e a irmã foram enviadas para o convento de Chelas em Lisboa, enquanto que o pai foi enviado para a torre de Belém (apesar de mais tarde ser transferido para o forte da Junqueira). No convento dedicava a maior parte do tempo aos estudos, assim como à composição de poesias (que mais tarde seriam alvo de grande fama devido à sua qualidade, chegando a integrar nas suas obras de poesia publicadas). Não eram raras as vezes em que vários homens estudiosos iam ao convento recitar versos, na maioria das vezes para animar o espírito das freiras e das crianças, Leonor aprendia muito com esses estudiosos, não só sobre questões de poesia mas sobre os mais variados temas, mas um desses poetas destacava-se especialmente pela sua qualidade, Francisco Nascimento, que usava o pseudónimo de Filinto Elísio, ficava sempre encantado com o espírito de Leonor e com a sua capacidade para a poesia. Acabou por se tornar de certa forma o seu educador, alimentando as suas veias filosóficas, cientistas e progressistas, aliás foi ele que sugeriu pela primeira vez o nome de “Alcipe” a Leonor (que mais tarde acabaria por usá-lo como pseudónimo). Motivada ainda mais pelo seu educador não desprezou a leitura das principais figuras relacionadas com as áreas da filosofia, teologia e ciência, inserem-se aqui autores como John Locke no ramo da filosofia, Jean d’Alembert no ramo da ciência, e finalmente Jacques Bossuet no ramo da teologia, com isto acabou por adquirir uma gigantesca instrução científica e filosófica, ainda assim era muito querida no convento, todos apreciavam a sua amabilidade e o 2 3

O Rei mantinha uma relação íntima com Teresa de Távora, também ela estava entre os acusados D. Leonor de Távora, 3ª Marquesa de Távora


seu carácter afável. A mãe de Leonor devido à sua saúde frágil, parou de conseguir responder às cartas enviadas a muito custo pelo de Leonor, devido a esse facto, foi a partir dos onze anos que a jovem começou a responder por ela mesma, mostrando a sua elevada maturidade desde muito cedo. Dezoito anos após a sentença de prisão perpétua acabaria por ser libertada (em 1777) toda a família, isto deve-se à saída do poder de Marquês de Pombal e a subida ao trono de D. Maria I, que desde sempre achou a ideia da encarceração das pessoas relacionas com os Távoras desnecessária. Tinha então vinte sete anos.

Casamento e Viagens: Logo após a libertação, toda a família foi viver para a antiga propriedade, quinta de Vale de Nabais, que se encontrava próxima de Almeirim. Leonor era agora uma mulher com um estatuto enorme, tornando-se mesmo um ícone da altura, isto deve-se ao facto de ter aguentado todos os seus infortúnios sem se queixar uma única vez ou pedir sequer piedade, e obviamente por ter aguentado durante dezoito anos a ira do Marquês de Pombal (e de certa forma chegou a combatê-la ao escrever poemas altivos), isto abençoou-a com uma grande fama na sociedade, o que permitiu a publicação do seu primeiro livro de poesia. Era comum o pai de Leonor reunir nas suas salas os mais brilhantes membros da sociedade aristocrática, a presença de Leonor era sempre muito apreciada pelos convidados, ela era mesmo o encanto para muitos dos presentes, o seu espírito fino aliado ao seu talento apenas justificavam a esses membros que a sua fama era merecida. Rapidamente casou após a sua libertação, encontrando o amor num fidalgo alemão que tinha sido contratado em 1762 pelo Marquês de Pombal para organizar e comandar parte do exército português, o conde de Oeynhausen, acabaram por casar4 a 15 de fevereiro de 1779, a madrinha de casamento foi D. Maria I e o padrinho o rei D. Pedro III. O conde foi armado cavaleiro da Ordem militar de Cristo, e ambos mudaram-se para o Porto, pois era lá que o conde tinha o comando da sua parte do exército português, mais precisamente o 1º Regimento de Infantaria do Porto. Devido ao seu bom serviço, mais tarde foi nomeado ministro plenipotenciário5 de Portugal na Áustria, foram então para Viena, o primeiro fruto do casamento, uma filha acabou por ficar em Portugal, com a sua avó, a marquesa. Antes de chegarem a Viena, Leonor encantou particularmente as cortes de Espanha e França, Carlos III e Luís XVI ficaram maravilhados com a sua graciosidade, ao chegar a Viena, também a imperatriz Maria Teresa caiu nas graças de Leonor, aliás Pio VI, o papa na altura, conseguiu resistir ao seu estado de espírito fino, daí que a marquesa teve a honra de ter a companhia do papa em todas as cerimónias que se seguiram. Infelizmente o conde não se adaptou bem ao clima temperado continental de Viena, e devido a problemas de saúde, o casal voltou a Lisboa, onde o fidalgo seria nomeado governador do Algarve, acabaria por falecer a 3 de Março de 1793, com apenas cinquenta e quatro anos de idade, deixando assim Leonor sozinha com 6 filhos para criar.

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O fidalgo alemão acabou por se converter ao cristianismo de forma a puder desposar a marquesa Chefe de uma missão diplomática


Viuvez e Exílio: Ainda que fosse famosa na sociedade, a morte do marido deixou Leonor com algumas dificuldades económicas, sendo que foi essa a causa que a obrigou a regressar a Portugal, instalando-se desse modo nas suas propriedades em Almeirim (situa-se em Benfica e Almada). Voltou a ser muito apreciada pela sociedade, devido ao facto de se ter empenhado numa operação social que consistiu em; contratar mestras para ensinar as raparigas das povoações de Almeirim e arredores (incluía-se neste lote de raparigas: várias idades e “moralidades”, desde prostitutas a raparigas adolescentes) a ler, a escrever e a coser, na tentativa de elevar o papel das mulheres numa sociedade que não privilegiava a educação feminina, foi por isso muito estimada pelos mais pobres da região. Ainda assim, não ajudou apenas os mais pobres, foi também uma grande mecenas das artes, dando bolsas e encorajando encontros e reuniões entre artistas nos seus salões de S. Domingos de Benfica, que eram principalmente frequentados por escritores (com principal destaque para os poetas), frequentaram os salões personalidades literárias desde Bocage a Almeida Garrett chegando ainda a Alexandre Herculano. Nesses debates, evidenciava-se a intelectualidade de Leonor, sendo novamente o centro das atenções entre poetas e outras elites literárias, inclusive Bocage chegou a dedicar-lhe vários poemas6 (principalmente de amor), especula-se que tenha havido alguma relação amorosa entre a marquesa e o poeta, evidenciado pela quantidade de poemas dedicados e trocados entre ambos. Em 1802 começam as perseguições a D. Leonor por Pina Manique7, especula-se que houvessem dois motivos, o primeiro seria o facto de D. Leonor ostentar grande poder entre os intelectuais (que por motivos lógicos estavam associados a ideias mais liberalistas), o segundo recaindo no facto de D. Leonor ter fundado a “Sociedade da Rosa” cujo objectivo era fracassar a ameaça napoleónica, em Portugal e na Europa, isso levou à desconfiança de Pina Manique. A morte do pai, aliada às perseguições de Pina Manique apenas motivaram o exílio que se deu em 1803 em Espanha, passando para Inglaterra em 1804. Continuou as suas actividades políticas a partir de Inglaterra, ainda que continuasse a passar várias dificuldades económicas. Após a saída de Pina Manique do cargo de “Intendente-Geral da polícia”, tentou voltar mas situação em Portugal era de incertezas devido às invasões francesas sucessivas, foi logicamente impedida de voltar, foi também impedida de se juntar à corte no Brasil pois o seu irmão8 era agora considerado um traidor, devido a ter comandado a Legião Portuguesa integrada no exército francês. Apenas voltaria a Portugal em 1814, quando a situação havia estabilizado e também devido à morte do seu irmão, o seu objetivo passava agora por tentar ilibar o nome do irmão, que nove anos depois (1823) acabaria por se realizar, recuperando assim os títulos de “Marquês de Alorna” e “Conde de Assumar”.

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Tomo III do seu livro Rimas publicado em 1804 Diogo Inácio de Pina Manique, era o Intendente-Geral da polícia durante o reinado de D. Maria I e o princípio do reinado de D. João, dedicou-se à perseguição de intelectuais que tentavam afirmar as ideias liberais provenientes da revolução francesa 8 D. Pedro de Almeida, general português 7


Final de vida e Morte: D. Leonor frequentou entre 1816 e 1829 várias assembleias na qual se encontravam novos escritores, com futuros promissores, essas assembleias eram realizadas na casa de Francisca da Costa, uma escritora trinta e três mais nova que a marquesa, Alexandre Herculano e António de Castilho9, também chegaram a frequentar essas assembleias. Nos últimos anos de vida, eram poucas as vezes que a marquesa saía de casa, a tristeza pela morte do primogénito, a saudade do marido aliado à saúde que já não o permitia, não pode comparecer ao segundo casamento de D. Maria II com D. Fernando (os noivos visitaram-na depois em Benfica). A sua saúde deteriorou-se bastante nesses últimos anos devido à sua apreensão pela medicina, sendo que recusava muitas vezes tomar os medicamentos, considerando-os inúteis, apenas os tomava quando lhe era dito que a rainha assim o ordenava (mostrando assim que do princípio ao fim fora obediente aos seus soberanos). Morreu a 11 de Outubro de 1839 em Benfica, as suas obras (assim como aconteceu com a maioria dos escritores da época) apenas foram publicadas após a sua morte, sendo assim publicadas em 1844 pelas suas duas filhas com o título “Obras Poéticas”, que incluía 6 tomos10.

Conclusão: D. Leonor foi evidentemente uma das figuras mais importantes do século XVIII em Portugal, nas mais variadas vertentes, hoje em dia apenas uma pequena porção específica da população reconhece o nome, a razão pela qual isso se sucedeu foi o facto que D. Leonor nunca procurou fama própria e tentou antes agir em prol dos problemas da sua época, a educação de mulheres demonstra um carácter feminista que foi ligeiramente avançado para a época, os seus poemas ainda que uma qualidade impressionante, perdem terreno para os de Alexandre Herculano e Almeida Garrett (que curiosamente frequentaram os salões da D. Leonor em Benfica e pensa-se mesmo que a marquesa tenha servido de inspiração para ambos), em suma, D. Leonor foi uma figura importante que ajudou bastante em várias áreas desde poesia a política, hoje em dia apenas é lembrada pela poesia.

Bibliografia: Figuras: 1. http://acurvadoslivros.blogspot.pt/2011/10/alcipe-261.html (retirado a 10/11/2014) 2. http://pt.wikipedia.org/wiki/Filinto_El%C3%ADsio (retirado a 10/11/2014) 3. http://arquivohistoricomadeira.blogspot.pt/2010/11/obras-poeticas-de-d-leonordalmeida.html (retirado a 10/11/2014)

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António Feliciano de Castilho, escritor e pedagogista português, impulsionou a educação em Portugal com a invenção de um método de ensino infantil que envolvia usar uma cartilha (livro didático dedicado à alfabetização de crianças) 10 Volumes


Webgrafia:       

http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/alorna.html (visto a 11/10/2014) http://www.leme.pt/biografias/80mulheres/alorna.html (visto a 11/10/2014) http://alorna.pt/quem-somos (visto a 12/10/2014) http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonor_de_Almeida_Portugal (visto a 11/10/2014) http://www.infopedia.pt/$marquesa-de-alorna (visto a 11/10/2014) http://www.arqnet.pt/dicionario/alorna4.html (visto a 11/10/2014) http://www.luso-livros.net/Livro/poemas-alcides/ (visto a 11/10/2014)

Bibliografia: Dicionário no Feminino, Lisboa, Livros Horizonte, 2005

Fig.2- Filinto Elísio

Fig.3- Capa do livro “Obras Poéticas”


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