Luís Vieira nº18 11ºD 23/01/2015
Fig. 1- Jean-Paul Marat
[JEAN-PAUL MARAT]
Índice:
Índice Introdução Enquadramento Histórico e Precedentes Princípio de Vida e Primeiros Trabalhos Trabalho na Corte e Iniciação na Política Ajuda na Revolução Morte Conclusão Bibliografia Introdução:
Quem era Jean-Paul Marat? Ainda hoje os historiadores discutem esta questão; se por um lado é considerado um percursor do socialismo que apoiava o 3º estado, que promovia os ideais de “Igualdade e Justiça Social”, também ele é reconhecido como um apoiante de violência desnecessária para com vários grupos que se opuseram à revolução, com uma sede de sangue que preocupava alguns dos seus aliados, ainda assim, ainda hoje as suas ideias são usadas e o seu espírito bondoso para com os mais desfavorecidos é amplamente reconhecido.
Enquadramento Histórico e Precedentes: O seu pai nasceu na Sardenha e estava associado ao Protestantismo, sendo efetivamente um Huguenot, um grupo etno-religioso que pertencia à Igreja Reformada Francesa (na subcategoria de protestantes) e devido a isso as opções de emprego foram sempre limitadas1, acabou por trabalhar como químico e designer nalgumas manufaturas da região.
Princípio de Vida e Primeiros Trabalhos: Jean-Paul Mara(t2) nasceu em Boudry, no principiado Neuchâtel, localizado na Prússia (atualmente esta zona corresponde à Suíça) a 24 de Maio de 1743, filho de uma família considerada classe média-baixa. Os seus primeiros anos são relativamente desconhecidos, apenas havendo uma descrição do próprio Jean-Paul no seu jornal “Journal de la Republique française”3 que dita uma infância repleta de imaginação e de um temperamento ardente, com paixão pela fama. Aos 16 anos, após a morte da sua mãe, sai de casa com o objetivo de encontrar uma escola/universidade onde pudesse seguir os estudos preparatórios de medicina, é desconhecido onde Jean-Paul realmente foi nesta altura ou onde é que ganhou o seu primeiro diploma em medicina (ou se sequer ganhou algum diploma). Podemos finalmente encontrar registos que estudou em Toulouse e Bordéus durante 2 anos, disciplinas variadas como medicina, política e filosofia. Após este período de estudos chega a Paris onde permanece durante alguns anos, aqui faz uso dos seus já profundos conhecimentos na áreas da eletricidade e óptica para curar uma doença ocular, prosseguiu então os seus estudos por vários países, Holanda e Inglaterra, acabando por se fixar neste último praticando a sua principal atividade, a medicina. 1
Após a contra-reforma, era comum os Protestantes em França serem perseguidos, sendo que houve uma migração considerável deste grupo para outras zonas que aceitassem o Protestantismo. 2 Jean-Paul Mara ou Marat estão ambos corretos, o “t” foi adicionado para dar a impressão que era francês. 3 Journal de la Republique française nº 98.
Em 1773 publica a sua primeira obra “Ensaio Filosófico sobre o Homem”, o livro demonstra um conhecimento extensivo dos mais influentes filósofos dos vários países, o ataque direto a Helvétius4 mostra a sua personalidade extremista (ainda numa fase menos radical), isto tudo porque na obra De L’espirit, Helvétius afirma que um filósofo não precisa de conhecimentos científicos. Mais tarde em 1774, escreve a obra “Correntes da Escravatura”, que tece duras críticas ao despotismo e à liberdade que este retira ao povo, isto ganha a Jean-Paul o lugar honorário nalgumas sociedades patrióticas espalhadas por Inglaterra. A partir de 1775 publica algumas obras relacionadas com a saúde, especialmente com a saúde ocular, isto dá-lhe a merecida fama enquanto médico, o seu livro “Ensaio Filosófico sobre o Homem” ganha a sua 3º edição, acabando assim por chegar às mãos de Voltaire que critica Marat pela sua obra, defendendo assim o seu amigo Helvétius, isto serviu para trazer o autor ao conhecimento geral do público e aprofundou a divisão entre Jean-Paul e Voltaire/Helvétius.
Trabalho na Corte e Iniciação na Política: Em Junho de 1777 após um ano em Paris, torna-se o médico oficial dos guardas do irmão mais novo5 de Luís XVI, passando assim a auferir uma quantia avolumada que permitiu formar um laboratório na cidade, que resultou na apresentação de alguns trabalhos nas áreas da eletricidade, da luz e do fogo. Marat ganhou fama passando a ser muito requisitado enquanto doutor nos círculos aristocráticos, influenciando também os círculos científicos da cidade que apesar de reconhecerem como válidas as suas teorias, rejeitavam-nas, favorecendo as de Newton. Em 1780 surge o primeiro indício da sua amizade para com as classes mais baixas, com a publicação de “Plan de législation criminelle”, que baseado nos trabalhos de Rousseau e outros importantes filósofos, afirma que a pena de morte não deve depender da classe social6 e que para assegurar julgamentos justos, o júri deve ser composto por 12 homens. Em 1786 rejeita o lugar na corte e passa a trabalhar por conta própria, em 1788 publica o seu último trabalho científico, a partir desta data começa oficialmente a sua vida política. Em 1787 a Assembleia dos Notáveis7 é reunida para tentar resolver a crise financeira que assolava a França, esta crise é causada pela dívida contraída na guerra da Independência Americana em que a França providenciou soldados e forças navais, mas também munições e enormes reforços económicos, a proposta de adoção de reformas tributárias é rejeitada pelo clero pois ia enfraquecer os seus privilégios, perante este fracasso, a Assembleia dos Estados Gerais8 é convocada em 1789, pela primeira vez desde 1614. As eleições para a Assembleia dos Estados Gerais contaram com a participação de Marat que produziu alguns panfletos que coincidiram com a generalidade das ideias expostas nos outros panfletos.
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Filósofo francês que fez várias obras rivais a Montesquieu além de rivalizarem também a Igreja Católica e o próprio Rei . 5 Torna-se em 1824 Carlos X. 6 A pena de morte era reservada para a classe mais baixa, o 3º Estado (que só por si tinha várias classes internas, da burguesia a camponeses, de inventores a manufatureiros). 7 Grupo composto por nobres de castas altas, de funcionários de estado e de membros do clero que aconselhavam o rei, eram convocados apenas em situações de emergência para resolver assuntos de estado. 8 Orgão político que representava os 3 estados, o 1º consistia no clero, o 2º a nobreza e o 3º tudo o resto, englobando assim mais de 95% da população, o seu carácter era puramente consultivo não tendo um poder verdadeiro como o Parlamento Inglês.
Ajuda na Revolução: Nas primeiras semanas de 1789 Jean-Paul publica um panfleto denominado “Offrande à la patrie” em que admite a capacidade do rei em puder resolver os problemas que assolavam França, no entanto, meses depois num suplemento ao panfleto original ataca o rei, afirmando que apenas estava preocupado com os seus interesses e que por isso negligenciava as necessidades do povo, em julho do mesmo ano publica “La constitution” em que propõe algumas ideias para a constituição francesa, complementou este projeto com “Tableau des vices de la constitution d’Anglaterre” que aponta os defeitos da constituição inglesa, usando como base o tempo em que viveu na Inglaterra, testemunhando que o sistema se baseava numa oligarquia9 apoiada pela própria coroa sendo nada mais que uma monarquia disfarçada de formas livres. Este documento foi apresentado na Assembleia dos Estados Gerais que era composta por uma grande maioria de apoiantes da implementação da constituição Inglesa na França, a vida de Marat estava agora completamente associada à política. No final de 1792 publica a primeira edição de “L’ami du peuple”10, um jornal que além de representar as classes mais baixas, servia para denunciar criminosos na sociedade, qualquer que fosse a pessoa era perseguida até ser descoberta a sua inocência ou culpa, em princípio Marat focou-se nos membros mais altos da sociedade em Paris: ministros, governadores municipais, membros da Assembleia Constintuinte, entre outros foram todos alvos de perseguições, que inclusive levaram à prisão várias vezes Jean-Paul. As campanhas contra o Marquês de Lafayette obrigaram Marat a esconder-se de forma a evitar a prisão, nos esgotos onde se abrigou, foi vítima de uma horrível doença de pele degenerativa. A 10 de Agosto de 1792 dá-se a vitória dos Republicanos (que englobavam os Sans-Culottes11, a Guarda Nacional Francesa e os Fédéré12) sobre os Realistas (apoiantes da existência de um monarca), nas eleições para a Convenção Nacional13 Jean-Paul é eleito de entre 24 deputados, para celebrar a implatação da 1ª República Francesa, altera o nome do seu jornal “L’ami du peuple” para “Journal de la République Française”, que acabou por ser igual ao último, continuou a denunciar atrocidades cometidas por quem quer que fosse. Na Assembleia Marat não tinha aliados e acabava por lutar sempre contra as figuras mais poderosas, especialmente Charles Dumouriez, que ainda que tivesse ajudado França a vencer batalhas contra a Prússia e o Sacro Império Romano-Germânico, não escapou às duras críticas de Marat que o considerava um traidor que conspirava restaurar a monarquia em França, curiosamente alguns anos após a morte de Jean-Paul, Dumouriez tornou-se um rival de Napoleão e conselheiro da Inglaterra, tentado efectivamente restaurar a monarquia.
Morte: Depois dos ataques a Dumouriez, a Assembleia começou a nutrir um ódio enorme por Marat, após a execução de Luís XVI (na qual Jean-Paul considerou injusta pois todos os atos cometidos pelo rei foram antes da formação da constituição que os tornava ilegais, desse modo Luís XVI seria inocente), os Girodinos14 começaram então no príncipio de 1793 um enorme processo legal contra Marat que os considerava muito emocionais e irracionais por terem levado França a uma guerra desnecessária (Batalha de Valmy, que opôs à França, a Prússia e o Império de Hadsburgo), as constantes denúncias de Jean-Paul progressivamente mais agressivas levaram à 9
Forma de governo em que o poder está nas mãos de um pequeno número de pessoas, estas pessoas podem estar ligadas ao poder pela riqueza, laços familiares, educação, religião ou por controlo militar. 10 Já tinha sido publicado 2 vezes com nomes diferentes:”Moniteur patriote” e “Publiciste parisien”. 11 Pessoas provenientes das classes mais baixas que ajudaram a causa da revolução, o nome traduzido seria: sem(sans) calções(culottes, era um item de vestuário usado pelas classes mais altas). 12 Voluntários da Guarda Nacional Francesa. 13 Assembleia dedicada a formar uma constituição para França, os votantes eram do sexo masculino e inéditamente qualquer classe social era permitida votar. 14 Facção política republicana.
seu julgamento, no entanto, a 24 de Abril de 1793 é ilibado de todos as acusações e retornou à Assembleia com o enorme apoio das classes mais baixas. A 31 de Maio dá-se a queda dos Girodinos com a execução15 de 21 membros, com a enorme ajuda de Marat que denunciou as suas irregularidades, isto foi a última grande vitória de JeanPaul, dado que a sua doença degenerativa na pele o obrigou a reformar-se, saindo assim da Assembleia. Continuou a escrever de casa, porém as suas cartas eram ignoradas pela Assembleia, os Montagnards16 que beneficiaram das denúncias de Marat afastavam-se agora progressivamente dado que Jean-Paul já não tinha nada a oferecer. A 13 de Julho uma jovem chamada “Charlotte Corday” requisita uma visita a Marat afirmando saber o paradeiro dos últimos Girodinos que planeavam dominar a Normandia, assim que lhes disse os nomes, cravou um punhal no coração de Jean-Paul, matando-o assim instantaneamente. Marat deixou um legado considerável,o seu corpo entrou no Panteão Nacional (sendo retirado em 1795), o quadro de Jacques-Louis David “A morte de Marat” foi então considerado anos depois como a primeira pintura modernista17, na União Soviética, o nome “Marat” tornou-se comum e algumas ruas foram agraciadas com temas alusivos a Jean-Paul.
Conclusão: Jean-Paul não era o homem vil que a história por vezes o faz passar, se por um lado tinha alguns momentos em que pedia medidas como ditaduras temporárias e uso excessivo de violência, ao analisarmos o contexto histórico, Marat é um visionário que sempre criticou sistemas como feudalismo, plutocracia inclusive foi um dos primeiros críticos do sistema capitalista, o seu apoio incondicional pelos mais pobres e desfavorecidos fê-lo lutar desesperadamente pelos seus direitos, o que o torna num humanista cujas medidas não eram mais drásticas que a altura em que se passaram.
Webgrafia:
Bibliografia:
http://en.wikipedia.org/wiki/Jean-Paul_Marat http://www.hamptoninstitution.org/marat.html http://www.sparknotes.com/history/european/frenchrev/section1.rhtml
Figuras:
Fig.1- http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5f/Jean-paul_marat_3.jpg
Bibliografia:
Jean-Paul Marat. The People’s Friend- Belfort Bax
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Execuções realizadas durante o “Reino do Terror” em que a França passava por uma fase de guerras civis e com outros estados, foram tomadas medidas drásticas contra todos os que fossem suspeitos de ser inimigos da revolução. 16 Facção política que teve o seu auge com a queda dos Girodinos, aliás foram responsáveis pela queda dos mesmos. 17 Por T.J.Clark, um importante historiador da arte, antigo professor na Universidade de Harvard.