Nicolau II

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Nicolau II

LuĂ­s Vieira 10/17/2015


Índice:  Introdução  Enquadramento histórico  Nascimento e Juventude  Reinado -Casamento e Coroação -Guerra Russo-Japonesa -Revolução de 1905 e Domingo Sangrento -Manifesto de Outubro e Constituição de 1906 -Rasputin -1ª Guerra Mundial  Final de Reinado e Morte  Fontes

Introdução: Nicolau II foi o último Czar da Rússia, herdando um país desejoso de mudança num mundo em transformação, o seu curto reinado é caracterizado por muitas falhas de compreensão das situações e que vão gerar um clima de desordem geral.

Enquadramento histórico: O seu pai Alexandre III resolveu não dar seguimento à liberalização legal do país começada por Alexandre II (avô de Nicolau II), tomando o caminho da Autocracia, com o lema de “Uma nação: Uma língua, uma religião, uma nacionalidade” enfraqueceu o poder local e concentrou o poder num governo soberano. Temendo a “Oestificação”1 da Rússia, manteve-a fechada para o exterior, como resultado, o país continuou drasticamente atrasado em relação aos estados da Europa Central, no entanto a política externa revelou-se relativamente pacífica, declarando inclusive uma aliança com a França. A Rússia apresentava-se então como um país feudal com 80% da população a trabalhar nos campos e em condições miseráveis.

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Eslavófilia, nome dado a uma corrente de pensamento originada no séc. XIX na Rússia que propunha um regresso aos seus valores de origem, Alexandre III foi um grande apoiante deste pensamento.


Nascimento e Juventude: Nicolau foi o 1º filho de Alexandre III (da dinastia Romanov na Rússia) e de Maria Feodorovna2, desde cedo teve uma educação muito rica com tutores que se especializavam em matérias como história, ciência militar, várias linguagens e economia, de realçar que o ambiente familiar era muito ternurento mas austero nas posessões e prazeres, vivendo assim em modos humildes, muito por vontade da mãe do futuro Czar. Ainda que fosse particularmente bom com línguas estrangeiras e história, sentia algumas dificuldades na compreensão de temas como política e finanças, para piorar a situação o Czarevich3 não teve praticamente contacto com nenhuma classe social senão a mais alta4, muito pelo medo de terrorismo5 que perseguia a família constantemente, isto afetou gravemente a compreensão do país que iria herdar. Após os estudos alistou-se no exército com 19 anos e lá permaneceu durante 3 anos, nesse período viajou pela Europa e pela Ásia e chegou ao cargo de Coronel. Era visível o seu desinteresse pela liderança militar e pelas áreas intelectuais do exército, focando-se unicamente na partes práticas, como no exercício físico e nas marchas. Após a participação militar foi incumbido com várias visitas oficiais pelo mundo, com o objetivo de expandir as suas perspectivas visitou a Europa e os Estados Unidos, onde ficou especialmente impressionado com a aplicação da democracia. “Que me irá acontecer? E à Rússia? Não estou preparado para ser Czar. Nunca quis ser um. Nada sei sobre governar“- Nicolau II

Reinado:  Casamento e Coroação: Ficou noivo de Alice de Hesse e Reno6 neta da Rainha Vitória em Abril de 1894. Com a morte inesperada do seu pai em Novembro apressou o casamento de forma a garantir desde logo alguém de confiança a seu lado, acabariam por se casar a 26 de Novembro de 1894. A nova Czarina nunca conseguiu impressionar nenhuma classe social, as mais baixas, algo supersticiosas, consideraram que um casamento tão perto de uma morte só podia significar um reinado infeliz, a aristocracia, desejosa de uma liberalização política, ficaram desapontados com o facto de ter encorajado o marido a manter as tendências autocráticas.

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O último nome foi alterado mais tarde, a príncipio o sobrenome era “Dagmar”. Nome dado ao herdeiro do Czar. 4 Composta por nobres, alto clero e a própria realeza. 5 O avô de Nicolau foi alvo de um ataque terrorista que lhe acabou por tirar a vida e o seu pai sofreu de igual modo vários ataques que nunca foram fatais. 6 Mudou o nome posteriormente para Alexandra Feodorovna devido à conversão para a Ortodoxia Russa. 3


Com a família real Romanov a situação não foi muito diferente e a Czarina teve dificuldades em integrar-se, a culpa reside especialmente no choque cultural que enfrentou ao passar da Inglaterra Vitoriana para uma Rússia rural cujas pessoas eram mais emotivas, daí que uma queixa frequente fosse que a Czarina era arrogante e desligada, não tendo qualquer interesse nos costumes Russos. Ainda assim o casamento foi feliz, com os dois a dedicarem-se a uma vida matrimonial, tudo isto porque a união fora por amor mútuo e não politicamente motivada como a maior parte dos casamentos reais. Nicolau foi finalmente coroado a 26 de Maio de 1896, sensivelmente dois anos após a morte do pai.

 Guerra Russo-Japonesa: Há muito que a Rússia procurava um porto de “águas-quentes”7 virado para o Oceano Pacífico dado que o único que possuía (Vladivostok) só era viável no Verão. Em 1898 é finalmente concedido o acesso ao “Porto Arthur” na península de Liaotung no extremo Sul da Manchúria, com isto a Rússia começa uma campanha de colonização do “Extremo Oriente” mobilizando vários milhares de soldados e preparando um rota para o expresso Transiberiano que ao passar por outra zona da Manchúria para ligar Vladivostok a Moscovo dava ainda mais território a Nicolau. O Japão que já previamente tinha pretensões territoriais nessa mesma zona aliou-se à GrãBretanha em 1902 para impedir uma futura aliança russa com a Alemanha ou com a França em caso de guerra. O conflito começou em 1904 e viria a acabar no ano seguinte com uma embaraçosa derrota (nunca em tempos modernos uma potência europeia tinha sido derrotada por uma asiática), adicionalmente uma parte considerável da frota marinha russa fora destruída. A derrota é atribuída há má gestão política de Nicolau, as tropas russas estavam em desvantagem, tanto em número como na própria logística militar, a sua inflexibilidade nas negociações com o Japão levaram a uma guerra cujo propósito não era a manutenção de territórios, mas sim para elevar um espírito nacionalista na Rússia (serviria também para desviar as atenções das condições miseráveis em que a população geral vivia). Todo o conflito serviu depois como argumento anti-czarista que se começava tornava cada vez mais frequente.

 Revolução de 1905 e Domingo Sangrento: A oposição ao Czar foi crescendo progressivamente, na forma de greves operárias, desinquietações entre camponeses e insurgências militares, a partir de 1905 intensificam-se bastante ao ponto de se discernir o começo de uma revolução.

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Um porto em que o acesso é permitido o ano inteiro, ou seja, o mar circundante não congela no Inverno.


Eram 4 grandes problemas que se destacavam na revolução: A necessidade de uma reforma agrária, conflitos étnicos8, condições dos trabalhos industriais, rebeldia das classes académicas. A 22 de Janeiro, o padre Georgy Gapon9 liderou um grupo de operários ao Palácio de Inverno para entregar diretamente ao Czar uma lista de pedidos sindicais, isto fora apresentado aos órgãos de liderança menores uns dias antes, que não permitiram sequer que um membro da família real fosse receber a lista. Nicolau não se encontrava em São Petersburgo e portanto as massas operárias foram lidadas por um grupo de soldados comandados pelo tio do Czar, Grão-duque Vladimir, que ao não conseguir a dispersão da multidão, ordenou o ataque armado. Ainda que tenham morrido mais de 100 pessoas, este evento, posteriormente recordado como “Domingo Sangrento” é o começo simbólico da revolução de 1905, muito por culpa de Nicolau que o causou indiretamente, pela total negligência administrativa, os cargos superiores eram ocupados por pessoas próximas do Czar e não por um regime de mérito10, esta situação demonstrou perfeitamente o desligamento entre classes. Este evento marca também uma mudança no consenso geral entre as classes sociais, o povo, naturalmente ligado ao Czar pela tradição de há séculos, começava agora a desacreditar da sua capacidade de liderar, aliado a este facto dá-se o progressivo fortalecimento dos bolcheviques a partir de 190511, que aproveitavam os desaires do Czar para cimentarem uma nova ideologia. “Um triste dia. Têm ocorrido graves desacatos por São Petersburgo, porque alguns homens queriam entrar no Palácio de Inverno. As tropas tiveram que abrir fogo em vários sítios da cidade; muitos morreram ou ficaram feridos. Deus, como isto é triste e doloroso.”- Nicolau II no dia do “Domingo Sangrento” 

Manifesto de Outubro e Constituição de 1906:

Após o “Domingo Sangrento”, seguiram-se todo o tipo de revoluções pelo território russo, progressivamente mais agressivas, as greves gerais começavam a paralisar o país, para evitar que o império caísse em anarquia, Nicolau outourgou em Outubro de 1905 um conjunto de leis que iriam dar uma maior liberdade individual ao povo russo (liberdade de expressão e liberdade de associação), no entanto a maior alteração seria a instituição de um concelho popular, denominado Duma, na qual todas as leis teriam que ser aprovadas. A oposição ficou espantada com este esforço democrático e a revolta geral parou quase que imediatamente, ainda assim, a Duma foi criticada por ser apenas uma ilusão democrática, Nicolau continuava a ter o poder de vetar qualquer lei que fosse e de a dissolver totalmente.

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Entre 1903 e 1905 houveram várias ações anti-semiticas. Era o líder da “Associação de trabalhores russos das fábricas e moinhos de São Petersburgo”. 10 Sendo a Rússia, como foi referido anteriormente, um país feudal na época, era relativamente comum os cargos administrativos superiores serem ocupados pela nobreza, sufocando o mérito da burguesia. 11 O soviete de São Petersburgo foi criado em 1905 e liderado por Léon Trotsky, que contou com 200,000 votos de operários para a formação de um concelho de mais de 400 membros. 9


A constituição publicada a 23 de Abril de 1906, foi uma continuação do Manifesto de Outubro, tornando a Rússia numa monarquia constitucional, com a criação de um “Concelho de Estado” que era composto por mais de 60 pessoas, representantes12 dos vários interesses russos, este concelho seria onde as leis se formulariam para depois serem apresentadas à Duma. O descontentamento geral voltou quando todo o mecanismo governamental falhava constantemente, Nicolau dissolveu as 2 primeiras Dumas e alterou ilegalmente a constituição para adicionar lugares a grandes latifundiários no “Concelho de Estado”. Pode ser considerado natural no processo de integração, a 3º e 4º Duma já conseguiram permanecer intactas durante mais tempo, no entanto, o balanço final é que a Constituição de 1906 não foi muito eficaz e foi só um prolongamento improvisado para a manutenção monárquica no poder.

 Rasputin: Grigori Rasputin era um camponês que num percurso relativamente caricato conseguiu chegar à corte de Nicolau enquanto “curandeiro místico”. O herdeiro ao trono, Alexei, sofria de hemofilia, não havendo tratamento conclusivo na altura, houve uma grande procura por uma cura. Rasputin, com uma fama já considerável pelo império russo, em 1907 consegue uma visita oficial ao Czarevich13 que se encontrava em mau estado, não só parou uma morte que se julgava iminente como no dia seguinte já Alexei mostrava sinais de boa saúde. Com isto consegue não só uma posição permanente na corte, mas a amizade com o casal Romanov. Não era incomum para Nicolau aceitar concelhos e até basear as suas decisões nos argumentos de Rasputin, que possuía uma enorme força de vontade. Toda a história com Rasputin é envolta em mistério e falsos testemunhos, o que é certo é que exercia uma influência notável no Czar e especialmente na Czarina (que por sua vez reforçava a influência sobre Nicolau), com as suas humildes origens, foi nele que se focou o desagrado da alta nobreza, sentindo que Rasputin exercia demasiada autoridade14 sobre a família Romanov. Como tal, foi assassinado no final de 1916, a mandato de uma aristocracia com pretensões revolucionárias, fica assim para a história, como o símbolo da pouca força de vontade de Nicolau que se deixava dominar por um suposto mero camponês. “Ele é só um simples homem, religioso e humilde. Quando me encontro com dúvidas ou alguma ansiedade, gosto de falar com ele, sinto-me invarivelmente em paz quando o faço”- Nicolau II sobre Rasputin

 1ª Guerra Mundial: Em 1907, para resolver questões territoriais na Ásia Central com Inglaterra, Nicolau formaliza um acordo que também vai possibilitar à Rússia nos anos seguintes participar em acções de formação militar com a Tríplice Entente (formada também pela França).

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Não só haviam representantes de todos os distritos, mas também representantes académicos, comerciais e clericais. 13 Nome dado ao herdeiro do trono. 14 Já tinham sido retirados alguns membros do Concelho de Estado por sugestão de Rasputin.


A entrada na guerra por parte da Rússia dá-se com o intuito de apenas proteger as suas pretensões políticas na Sérvia, fazendo simplesmente frente à Áustria, como tal, quando a Áustria declara guerra à Sérvia, a Rússia entra no conflito trazendo consigo a França e a Inglaterra, do outro lado, a Alemanha juntava-se também a esta nova guerra. A 1ª guerra mundial foi um desastre para a Rússia, a má preparação era evidente e a falta de caminhos de ferro esgotava os soldados mesmo antes de chegarem ao conflito em si. Com a demissão do principal general, Nicolau planeou a estratégia de guerra por si, isto não só desmoralizou as tropas como levou ao abandono voluntário de outros generais importantes, todos estes acontecimentos contribuíram para a desordem geral sentida na frente de batalha russa. Com um complexo bélico deficiente a única vantagem da Rússia recaía no números de homens, a mobilização inicial de 4 milhões foi desastrosa, em 1915 já se tinham perdido metade. Outro grande problema foi o da gestão em tempos de guerra, medidas como a proibição de álcool foram desastrosas pois o estado viu-se sem as preciosas taxas que permitiriam importar mantimentos. Por 1917, o conflito já tinha levado mais de 15 milhões de homens, o que provocou uma crise laboral com a falta de mão de obra, isto provocou uma inflação galopante caracterizada pela falta de alimento, isto incitou múltiplas revoltas na qual a “Revolução de Fevereiro” viria a ser a mais marcante.

Final de Reinado e Morte: Em Março de 1917, a “Revolução de Fevereiro” tinha tomado controlo, a 12 desse mesmo mês, uma força de 60,000 homens tinha tomado a cidade de São Petersburgo, Nicolau abdicou ao ver que já não tinha qualquer regimento leal à sua causa, dois dias depois é criado o “Governo Provisório Russo”. Nem a Inglaterra nem a França aceitaram o pedido de exílio da família real com receio que isso fosse levar a revoluções internas, dado que a reputação do Czar estava num auge negativo15, com isto a família real foi realojada várias vezes, em condições cada vez piores, enquanto isso abdica do trono a 15 de Março, sem deixar um herdeiro nítido16. Em 1917 dá-se ainda a “Revolução de Outubro” e com isso o bolchevismo vai ganhado força na Rússia, a 17 de Julho de 1918 dá-se a execução da família real numa cidade perto dos Montes Urais, existem várias versões da história e do porquê da execução, a mais aceite das versões expõe que Lenin ordenou a morte para evitar que fosse resgatada pelo exército branco17 e usadas para repor a monarquia na Rússia.

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O “Domingo Sangrento” foi criticado extensivamente pelos jornais europeus. A abdicação foi feita em 2 ocasiões separadas em que foram escolhidos 2 herdeiros diferentes, numa o filho Alexei, noutra o irmão Grão-Duque Miguel. 17 Exército leal à monarquia apoiado pela maior parte das potências. 16


Conclusão: Nicolau enquanto péssimo lider, apenas o foi por tentar a todo o custo manter o formato autocrático. A constituição de 1906 é prova suficiente que seria possível manter uma monarquia constitucional conservando obviamente a monarquia, ainda assim, o principal problema de gestão parte do passado, duma educação que não fora visionária (nem o conseguiria ser) para o preparar para com situações que nunca antes os seus parentes tinham enfrentado, foi portanto uma vítima dum destino que muito provavelmente seria inevitável.

Fontes: Bibliografia: -Warth, Robert D. (1997). Nicholas II, The Life and Reign of Russia's Last Monarch -Mark D. Steinberg and Vladimir M. Khrustalev (1995). The Fall of the Romanovs: Political Dreams and Personal Struggles in a Time of Revolution -Ferro, Marc (2002). Nicolau II o Último Czar -Raymond A. Esthus (1981). The russian review (pp 396-411) -Daniel Field. Translated Russian Manifesto of 1905

Webgrafia: - http://www.alexanderpalace.org/palace/AlexPalaceNRbio.html (consultado a 16/10/2015) - http://www.britannica.com/biography/Nicholas-II-tsar-of-Russia (consultado a 14/10/2015) - http://web.mit.edu/russia1917/papers/0302-AbdicationOfTsarNicholasII.pdf (consultado a 14/10/2015)


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