Guia do Caminho Francês

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DE BOTA POR AÍ.... Caminho Francês CEBREIRO – SANTIAGO DE COMPOSTELA 19 a 26 de Setembro de 2010

Que el camino suba a tu encuentro, que el viento te de siempre en la espalda que el sol brille cálido sobre tu cara hasta que nos encontremos de nuevo mañana u otro día, donde estés… que Dios te guarde en el hueco de su mano. A.A.


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O Caminho de Santiago é como a nossa vida…

Caminhar é ir adiante, mover-se, avançar. Caminhar é lembrar que estamos vivos e que estamos em contínua mudança. Assim como a nossa vida pessoal que está sempre em movimento através dos tempos. É um esforço, o caminho é longo, com subidas e descidas, pedras e folhas, carregar a mochila com o indispensável, o cajado ajuda, aparecem as feridas nos pés, as dores musculares, doem os joelhos, as costas... Quantas vezes experimentamos as dificuldades que, com coragem e esperança, vamos superando. Com o passar do tempo damo-nos conta das coisas importantes da vida e das que não o são. Também aparecem as feridas em nossos corações pelas relações difíceis ou interrompidas, por algum fracasso, ou por alguma doença... Podemos caminhar em grupo, partilhar a amizade, o diálogo, abrir o coração às outras pessoas e conhecer pessoas novas. Caminhar com os outros faz com que também possamos ajudar-nos mutuamente a fazer o caminho diante das adversidades.

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DIA 1 – Quem sou eu? Não te deixes enganar por mim. Não te iliudas com as minhas aparências. São apenas uma máscara, talvez mil máscaras, que tenho medo de tirar, embora nenhuma delas me represente. Sou habitado por muitas vozes, por medo, por solidão. Por detrás de cada máscara, escondido, está o meu verdadeiro eu. Tremo só de pensar em mostrar-to. Por issso, constantemente, me protejo de algum olhar perspicaz. E sabes o que é curioso? É precisamente esse olhar a minha única salvação. Se for acompanhado de aceitação e amor, então converte-se na única coisa que pode libertar-me de mim, do mecanismo de barreiras que levantei; na única coisa que pode dar-me a certeza daquilo que não consigo convencer-me a mim mesmo: que tenho valor, que sou amado. Mas não tenho coragem de to dizer. Receio que possas mudar de opinião a meu respeito e que o teu olhar e a tua voz se convertam em distância. Por isso prossigo o meu jodo de máscaras com aparência de segurança, por fora, e como uma criança trémula, por dentro. Exibo o meu cortejo de máscaras e deixo que a minha vida se transforme em ficção. Sabes, conto-te tudo o que não conta para nada e nada do que é verdadeiramente iomportante, o que me atormenta por dentro. Por isso te peço: não te deixes enganar pelas minhas palavras, escuta bem o que não te digo, o queria dizer, o que preciso de dizer, mas consigo exprimir. Bem sei, às vezes parece que, quanto mais te aproximas de mim, mais revolto contra a tua presença. É algo irracional, mas é assim: luto contra aquilo que mais necessito. Mas, sabes, quero acreditar que o amor é mais forte do que qualquer resistência. Ajuda-me a derrubar estas barreiras cpom as tuas mãos fortes, mas também delicadas, porque uma criança é sempre algo muito frágil. Quem sou eu? - Perguntas desse lado. Sou alguém que conheces muito bem. Sou cada pessoa que encontras. Sou tu mesmo. Fonte: Henrique Manuel em “mas há sinais… Rádio Renascença - Momentos de reflexão”

Para reflectires: O que te moveu para fazeres o caminho? O que esperas do caminho? Que questões te foram nascendo?

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Atitudes Procura tempos de silêncio e dedica-os a escutar o que está à tua volta e o que fala dentro de ti. Compromete-te com o caminho da vida: encontra diariamente um tempo para ti e procura silenciar o corpo e a mente. Escuta o modo como pronunciam o teu nome. Oração (opcional) Ajuda-me, Senhor, a descobrir o que queres de mim. Dá-me força para ser aquilo que queres que seja.

O Cebreiro - Triacastela - 19 de SETEMBRO • •

O Cebreiro * Liñares

Hospital da Condesa *

Padornelo

Alto de Poio

Fonfría

Biduedo

Triacastela * *Albergues no caminho Distância - 22 km Dificuldade: média-alta

O trecho galego do Caminho Francês começa na aldeia de O Cebreiro, uma aldeia de origem pre-histórica situada a 1300m de altitude, entre as serras de O Courel e Os Ancares.

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Desde o albergue de O Cebreiro podem tomar-se duas rotas, um caminho que sai desde a mesma porta para cima à direita, ou o caminho original, descendo até à estrada principal e seguindo por ela até Liñares (uns 3 km). Uma vez em Liñares temos a rota assinalada para a esquerda, subindo por entre as casas até à igreja românica. Seguir, após o primeiro caminho pedregoso assinalado, para a esquerda e começar a subir sobre Os Ancares. Após de uma série de subidas e descidas pronunciadas, chega-se ao alto de San Roque (1.270 metros) onde se encontra uma estátua de um peregrino observando o vale. Desde este ponto, os sinais conduzem em paralelo à estrada até Hospital da Condesa. A entrada na povoação realiza-se pela esquerda, seguindo depois pelo desvio da direita. Na povoação, onde se destaca a sua calçada de pedra, há um albergue. À saída de Hospital encontra-se uma preciosa igreja das típicas da zona, de pedra e um austero estilo românico. Seguindo o caminho marcado (continuamente aparecem setas amarelas e cada 500 metros marcos que indicam a distância a Santiago) chega-se à estrada para caminhar junto à berma, atravessando dois pequenos riachos antes de tomar um desvio à direita. Continua a rota por uma estrada meio asfaltada paralela ao riacho. Toma-se um desvio à esquerda e, sem se desviar desta estradinha asfaltada, entra-se em O Padornelo. Passada a igreja de San Juan, com seu campanário e a sua fonte, os sinais conduzem a um caminho de pedra que decorre em empinada costa ao alto de Poio, o ponto mais alto do Caminho Francês. Desde lá continua-se pela estrada à mão direita, tomando um caminho paralelo que está assinalado até Fonfría. Na saída de Fonfría o caminho divide-se em três, devendo continuar pelo meio, pelo caminho de piçarra que desemboca na estrada, mesmo no começo do município de Triacastela. Após poucos metros pelo asfalto, o caminho segue à direita para, mais adiante atravessar a estrada e continua até Biduedo. Lá sai-se pela esquerda e depois por um caminho desde o qual se pode ter uma panorâmica espectacular da serra de O Courel e em concreto do Monte Caldeirón. O Caminho prossegue descendo por sendas pedregosas até chegar à entrada a Filloval, onde é preciso virar à esquerda e ir seguindo os sinais até Pasantes e, de lá, a Triacastela e seu albergue. Curiosidades Chegando a Triacastela muitos peregrinos tomavam uma pedra de uma pedreira situada nesta zona e transportavam-na até Castañeda, aldeia próxima a Arzúa. Lá deixavam-na no forno de cal que trabalhava para a obra da catedral compostelã, deforma que cada pessoa que chegava realizava a sua contribuição pessoal para a construção do templo.

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DIA 2: Quem caminha comigo? E o dia veio, trémulo por entre as sombras a princípio frágil no seu rugido de luz invisível como o início de um discurso de fala muito lenta. Digo para quem vai comigo: Aí o tens como um sulco para semear. Sê hoje feliz. É-me absolutamente necessário que o sejas. Desperta, lava de luz o teu rosto. Que os teus olhos impregnem de vida os que te estão próximos. Se necessário, imita os pescadores Cantarola baixinho uma canção que afaste a morte e o medo do alto mar. Vive este dia a prumo Sem medo da agenda que carregas pesada pelos dias. Seja outro om teu riso; a tua alegria tão real Que as próprias aves te confundam com a primavera. Reaprende o sabor dos frutos e o sabor dos gestos repetidos; reaviva as brasas das tuas ilusões embora, contando que sejam afluentes dos teus sonhos. Que mesmo a água arda e se derrame em incêndios de alegria. Mais logo, quando o sol exausto adormecer, Possas dizer: valeu a pena! Digo para quem comigo vai: Aí tens este dia como um sulco por semear. Sê hoje feliz. É-me absolutamente necessário que o sejas. Fonte: Henrique Manuel em “mas há sinais… Rádio Renascença - Momentos de reflexão”

Para reflectires: Os peregrinos começam a coinhecer-se rapidamente. Ninguém tem de demosntrar nada a ninguém. As aparências desaparecem depois de três horas de caminhada. O que realmente conta é a proximidade, a juda e o serviço, seja a quem for, quer conheças a língua, quer não. Rapidamente se descobre que o mais bonito do Caminho são os outros. Pensa que ninguém é superior a ninguém, quer os peregrinos quer as outras pessoas que encontres, todos somos irmãos. Hoje és convidado a caminhar com os olhos, os ouvidos e o coração abertos. Aproximate dos peregrinos que hoje encontrares de forma amistosa e sem preconceitos. Escuta com atenção aquilo que te falarem. Aprende algo com as pessoas com quem te cruzares. Se encontrares alguém que está fisicamente mal, aproxima-te e fala com ele. Deixa que o teu coração se comova, oferece-lhe ajuda. Se encontrares um peregrino de outra

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cultura ou país que não o teu, pergunta-lhe pela sua cultura, os seus costumes e as suas crenças. Fala-lhe também das tuas. Atitudes Memoriza o nome dos que caminham contigo diariamente. Saúda aqueles com quem te cruzares, também aqueles que estão na berma do Caminho. Faz um compromisso para o caminho da vida: cultiva gestos de proximidade com os outros, interessa-te pelos seus problemas e necessidades. Oração (opcional) Senhor, faz-me descobrir por detrás de cada rosto, No fundo de cada olhar, um irmão. Dá-me um olhar compassivo como o Teu.

Triacastela - Sarria (por San Xil) - 20 de SETEMBRO        

Triacastela * San Xil A Balsa Montán Pintín Calvor * San Mamede do Camiño Sarria * *Albergues no caminho

Distância - 19 km Dificuldade: baixa

Na saída de Triacastela apresentam-se duas alternativas para chegar a Sarria, uma por San Xil e outra por Samos.

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Desde Triacastela, passando por San Xil, o caminho decorre para Sarria através de uma cadeia de pequenas localidades de tradição jacobeia, como A Balsa, Montán, Pintín, Calvor e San Mamede do Camiño. Triacastela (675 m), ponto final de uma das últimas etapas do Caminho Francês estabelecidas por Aymeric Picaud (s. XII), conserva uma estrutura urbana articulada em função desta rota. O topónimo parece proceder de “três castos”. Da Idade Média conserva a abside românica (s. XII) de igreja de Santiago. A nave, a fachada e a torrecampanário deste edifício são do século XVIII. Triacastela teve hospital e, inclusivamente prisão para peregrinos, dos quais se conservam vestígios. À saída de Triacastela, o Caminho bifurca-se. Pode-se continuar directamente até Sarria atravéz de uma cadeia de velhas aldeias de grande tradição jacobeia – A Balsa, San Xil, Montán, Pintín, Calvor e San Mamede do Camiño – uma paisajem rural de exuberante beleza e com mostras únicas de vegetação autóctone. No entanto, outros peregrinos preferem desviar-se em direcção a sul, buscando a hospitalidade dos monges do mosteiro beneditino de Samos, que mantém viva a antiga hospedaria. A etapa em direcção à localidade de Samos ( 530 m) oferece não só o desfrute do antigo mosteiro, como também o das belas paisagens que atravessa o rio Sarria e o de aldeias como San Cristovo, Renche e San Martiño. O mais característico da arquitectura popular da zona encontra-se aqui. Curiosidades A variante por Samos não está assinalada com os miliários que marcam a distância até Santiago, reservados para a rota por San Xil, mas as setas amarelas indicativas do Caminho de Santiago estão presentes em toda a rota até à povoação de A Guiada, onde liga com o Caminho de San Xil durante os últimos 4 km, para entrar juntos em Sarria.

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DIA 3: A hospitalidade que encontro por onde passo A hospitalidade começou a ser referida na Idade Média quando as ordens religiosas católicas ofereciam alojamentos nos mosteiros, principalmente aos peregrinos, aos pobres e doentes. Mas esta realidade está presente no coração humano há muito mais tempo. Já em “O mundo de Ulisses”, da cultura grega clássica, se percebe o surgimento e o significado da hospitalidade. Nos tempos primitivos, o homem vivia em estado de luta permanente, em guerra com os estrangeiros. A seguir, intervieram os deuses e, com seus preceitos, apresentaram aos homens o dever da hospitalidade. Desde então, o homem teria de seguir o difícil caminho entre dois pólos: a realidade de uma sociedade em que o estrangeiro era uma ameaça e o novo ideal moral, “abençoado pelos deuses”. Pode dizer-se, então, que são os vínculos de hospitalidade que permitem o apaziguamento e a redução de tensão entre esses dois pólos. A hospitalidade tem sempre a inospitalidade como horizonte! A hospitalidade é um modo privilegiado de encontro interpessoal, marcado pela atitude de acolhimento em relação ao outro. As práticas de hospitalidade deverão marcar todas as situações da vida, ou seja, a hospitalidade não deverá ficar circunscrita à disponibilidade para receber o estrangeiro, o turista, o visitante que chega de fora e está de passagem. É necessário que esta atitude de acolhimento e cortesia subsista sempre em relação ao próximo: seja um vizinho, um colega de trabalho ou um desconhecido. A hospitalidade é também utopia e prática: integra o sonho e a realidade dentro de si. Ou seja, a hospitalidade é antes de mais nada uma disposição da alma, aberta e irrestrita. Ela, como o amor incondicional, em princípio, não rejeita nem discrimina a ninguém. É simultaneamente uma utopia e uma prática. Como utopia representa um dos anseios mais caros da história humana: de ser sempre acolhido independentemente da condição social e moral, e de ser tratado humanamente. Como prática cria as possibilidades que viabilizam e permitem o acolhimento. Mas por ser concreta, situada no tempo e no espaço, sofre os constrangimentos e as limitações das situações em que é exercida. A hospitalidade é também uma maneira de se viver em conjunto, regida por regras, ritos e leis. Nesse sentido, a hospitalidade é concebida não apenas como uma forma essencial de interacção social, mas também como uma forma própria de humanização, ou no mínimo, uma das formas essenciais de socialização.

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Para além de estabelecer novas relações, a hospitalidade promove os relacionamentos já existentes. Os actos relacionados com a hospitalidade, desse modo, consolidam estruturas de relações, afirmando-as simbolicamente, ou (no caso do estabelecimento de uma nova estrutura de relações) são estruturalmente transformadas. A hospitalidade transforma: estranhos em conhecidos, inimigos em amigos, amigos em melhores amigos, forasteiros em pessoas íntimas… Nestes tempos complexos e frágeis em que vivemos, a hospitalidade aponta para um modelo de relação, a ser resgatado, no qual se partilham cuidados e conhecimentos, na qual se aguarda e escuta o outro.

Pensa em pessoas como São João de Deus, São Bento Menni, Teresa de Calcutá e muitos outros que fizeram do acolhimento e da hospitalidade a sua razão de viver. A hospitalidade é um dos grandes acontecimentos do Caminho. Tu também podes aprender. Encontra no Caminho a força para praticar a hospitalidade quando voltares para a tua casa. Para reflectires: Vivemos num mundo onde há muitas pessoas excluidas. Quando todo o mundo é uma economia de mercado, como implementar estruturas de acolhimento e gratuidade? Nos albergues respira-se um ambiente de proximidade, há tempo para os outros, brota a amizade, a alegria é contagiosa as atitudes de serviço são permanentes. Isto também pode acontecer no nosso dia-a-dia, no nosso quotidiano. Disponibiliza-te para ajudares no Albergue, quer seja na preparação da refeição, lavando a loiça ou varrendo o chão. Procura entregar-te totalmente e com muito amor a este trabalho. Experimenta o amor incondicional que surge dos erviço gratuito. Atitudes Que a imagem que cada peregrino deixa pelo Caminmho seja a de uma pessoa agradecida. Faz um compromisso para o caminho da vida: estás diante do desafio de aprender a conviver com outros povos, culturas e religiões, mostra interesse e solidariedaed para com todos. Oração (opcional) Senhor, o teu Caminho é verdadeiramente um património da mais autêntica e verdadeira humanidade; a que vê em cada peregrino não mais do que um ser humano aberto às estrelas. Tu ensinas-nos a ser humildes diante do mistério presente no coração de cada peregrino. Em cada peregrino do Caminho abrimos portas para Ti. Queremos que sejas nosso hóspede.

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Sarria - Portomarín - 21 de SETEMBRO        

Sarria * Barbadelo * Rente Leimán Morgade Ferreiros * Belesar Portomarín * *Albergues no caminho

Distância - 23 km Dificuldade: média-alta

O Caminho Francês abandona Sarria através da ponte de A Áspera, caminho de Barbadelo. Atravessando carvalhais e prados, entra no município de Paradela e desce depois para as ribeiras do Miño para atravessar a ponte que conduz à vila de Portomarín. A saída de Sarria realiza-se passando pela Igreja paroquial de Santa Mariña, a do Salvador, a torre da antiga muralha e o convento de A Madanela. Após abandonar o casco urbano, uma descida muito acentuada conduz até a ponte de A Áspera. Ao atravessar a ponte segue-se o trajecto da linha do combóio durante aproximadamente 1km. Em seguida atravessa-se para subir a encosta mais dura da etapa e chegar depois, por um caminho plano, até Barbadelo, onde se pode visitar a sua igreja de Santiago. Segue-se para Rente por um caminho em muito bom estado, passando Mercado da Serra, Leimán e Peruscallo, onde começa uma zona de riachos, com arcenes e veredas de pedra para os salvar.

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Passados Lavandeira Casais, A Brea e Morgade, chega-se, após uma dura subida, a Ferreiros, a primeira povoação da Ribeira Sacra lucense. Tomando um desvio da estrada à entrada de Franco, segue-se por um caminho pedregoso no qual predominam as descidas, passando por numerosas pequeninas aldeias. A paisagem do vale alterna-se entre prados cheios de vacas e construções típicas de tectos de piçarra. O terreio neste trecho é muito desigual, principalmente descendente, com bastantes pedras. Deixando atrás este caminho, desemboca-se numa estrada de onde se obtém uma primeira visão da represa de Belesar. Atravessando a ponte sobre a represa, o caminho entra na povoação por umas escadas que se encontram mesmo em frante à estrada e que conduzem ao centro da povoação, onde se localiza o albergue, muito perto das igrejas de San Pedro e de San Nicolás. Portomarín é uma vila de grande atração turística. A zona histórica está totalmente empedrada e oferece todos os serviços. Ainda que não temha praia fluvial, a gente aproveita a represa para se banhar nos meses de calor. Outra atração local: um dos produtos típicos da zona é a água-ardente. Curiosidades A antiga povoação de Portomarín, ligada à de San Pedro, foi inundada na construcção da represa. A igreja de San Nicolás (hoje San Juan) assim como outras construcções foram trasladadas pedra a pedra até sua localização actual. Quando o nível da água o permite, podem-se ver restos da antiga ponte e as ruinas da povoação no fundo da represa.

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DIA 4: O encontro com a natureza Tão difícil parece a alegria neste mundo! Bonita é a casa habitada, o café com leite, a manteiga no pão, a partilha da luta quotidiana, o beijo do “até logo”, a tenacidade dos que lutam. Bonita a morte da vela na luuz que nasce, a semente que apodrece e serve de alicerce ao caule. Bonito uma mãe que na perda do filho descobre o ganho de um anjo. Bonita a doença, quando humilhada por um sorriso em cabeça erguida. Bonito é transportar pedras de poder para edificar escadarias de serviço. Bonito o gato que te adopta como mãe, o aninhar de uma criança num colo, a espera pelo filho que ainda não chegou. Bonito é respirar, ouvir, andar, ver um paralítico subir a rua e um cego rir. Bonita é a ascenção que dói, é ousar, ralaxar os músculos no alto da montanha, depois de ter trepado até lá cima. Bonito é saber que existe em nós uma força por descobrir, é ver o espanto das tempestades ao encontrarem-nos refeitos; é escorregar e rir depois da queda. Bonita a magia da linguagem, a força da imaginação, o homem em Marte, as carícias dos avós, o amor que não se consome e é capaz de sofrimento. Bonita a indignação que pede justiça, o funeral das armas, o diálogo de verdades e direitos, o estreitar das mãos. Bonita a amizade, as marés de memória, o reconhecer de um rosto através das coisas. Bonita a carta que chega sem remetente para dizer: “Estou.” Bonitos os milagres íntimos, ver o homem carregado de dons e grandeza dobrar-se como uma árvore generosa e humilde. Bonita a colmeia dos nossos sonhos; bonito é o bonito não caber nas palavras. Fonte: Henrique Manuel em “mas há sinais… Rádio Renascença - Momentos de reflexão”

Para reflectires: Tantas horas em contacto com a natureza! Que beleza! Tudo é importante, desde as coisas mais pequenas ou grandes. Tudo é uma pista para quem está numa atitude de busca. Quando te concentras a escutar a natureza e a sentes, passas a ouvir-te a ti mesmo. Enches-te de alegria, admiração e gratidão por tantas maravilhas, tanto dentro como fora de ti. Procura hoje um sítio tranquilo. Tira os sapatos e, de pé, sente a terra debaixo dos teus pés. Senta-te, em seguida e com tranquilidade, sobre a terra. Sente-te unido à paisagem que te rodeia, às outras criaturas, com toda a terra, com todo o universo. Deixa neste lugar tudo o que te preocupa e recomeça o teu Caminho com confiança.

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Atitudes Faz um compromisso para o caminho da vida: começa cada dia com um olhar de bondade para com a criação, deixa que brote no teu coração a alegria e o agradecimento. Oração (opcional) Obrigado, senhor, por todas as coisas bonitas e maravilhosas que me ofereces todos os dias! Que admirável é o Teu nome em toda a terra!

Portomarín - Palas de Rei - 22 de SETEMBRO        

Portomarín * Gonzar * Castromaior Hospital Ventas de Narón * Os Lameiros Eirexe * Palas de Rei * *Albergues no caminho

Distância - 24 km Dificuldade: média

Desde a aldeia de Gonzar, o Caminho continua por Castromaior e Ligonde, cujo hospital acolheu ao imperador Carlos I e a seu filho Filipe II, os mais conhecidos peregrinos do século XVI. Imediatamente após, a rota entra em terras do município de Palas de Rei, que deve o seu nome a um suposto paço real construido no seu contorno. Sai-se de Portomarín atravessando a represa por uma ponte pedonal. A partir de lá começa uma subida bastante intensa, seguindo o curso da estrada até chegar a Gonzar, com sua igreja e o seu albergue, situado ao pé do caminho.

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Desde Gonzar segue-se até Castromaior, conhecido pela sua igreja românica, situada à margem dum pequenino riacho e próximo aos restos de um antigo castro. Continua depois para Hospital, atravessa uma ponte sobre a estrada geral para desembocar numa via comarcal de caminho a Ventas de Narón, A Previsa e Lameiros, onde está a pequenina capela de San Marcos entre carvalhos centenários. Depois, chega-se a Ligonde, com alguns restos históricos mas muito poucos serviços, que só estão disponíveis em Eirexe, onde se encontra o albergue. O caminho continua passando por diferentes aldeias, entre as que destaca um albergue com estábulos para cavalos, entre Portos e Lestedo. Nesta última povoação destaca-se o seu cemitério, onde os nichos estão virados para a estrada, cobrindo de flores a pequena borda. Segue a rota até A Brea, onde se desvia durante um pequeno trecho por um caminho que liga mais tarde à estrada principal, que seguirá até perto de entrar em Palas de Rei, pela sua área recreativa, Os Chacotes, onde está localizado o Pavilhão de Peregrinos. Seguindo até ao centro urbano de Palas de Rei passa-se pela igreja de San Tirso. O albergue está mesmo em frente do concelho, na rua principal, e passa muito desapercebido. Em frente temos uma cabina telefónica e numerosos serviços próximos. Curiosidades O percurso Ligonde-Palas de Rei esteve protegido, desde 1184 e durante séculos, pelos cavaleiros da Ordem de Santiago. Fora do itenerário do caminho, mas muito aconselhável encontra-se a igreja românica de Vilar de Donas, um dos exemplos mais típicos do românico galego e em volta da qual estão soterrados alguns dos cavaleiros da Ordem de Santiago, encarregados de proteger o caminho. O templo estava fora do percurso compostelano, precisamente para conseguir o recolhimento necessário para sua função.

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DIA 5: Encontrar na solidão… Gabriel Gacia Marquez, em Cem Anos de Solidão, escreve que “o segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão”. Será? A experiência não me permite qualquer juízo digno de crédito. Das cartas que recebi esta semana, uma, em linhas trémulas traçadas a azul, por uma mãe avançada em idade: «Não podemos chorar diante dos que nos cercam, porque não nos compreendem. Se nos vissem chorar, diriam: “ Porque chorais? Nada vos falta!” Não, a seus olhos nada nos falta. Mas falta-nos, sim! Falta-nos, ao coração envelhecido, um raio de ternura que nos acalente, um sorriso, e mais àqueles que não têm a ventura de sentir, às vezes, à volta do pescoço, uns bracinhos de criança, porque só havendo crescidos, ocupados como andam no trabalho e nos cuidados, não têm tempo para nos dedicar! E se conversando, às vezes, pretendemos dizer alguma coisa, depressa nos respondem que já não se pode viver agora com ideias de há vinte e cinco anos… Evoluiu-se! É preciso estar actualizado. Nós… já nos encontramos no fim do livro da nossa vida. Com, por conseguinte, estamos ultrapassados, não temos outro remédio senão emudecer e fechar os olhos, para reter as lágrimas. É então que, dentro, as lágrimas nos caem como bagos de chumbo no coração! Quem compreender tal dor a não ser quem sofra? Não temos outro recurso que não seja dormitar ao longo das solitárias noites, no nosso quarto, a sós, com velhos retratos e velhas recordações que ninguém quer à vista e que para nós são relíquias. Haveis de compreender quão pouca coisa nos faz bem. Não bastam os cuidados materiais que nos dispensam…» Não estaremos nós a evoluir depressa demais? Fonte: Henrique Manuel em “mas há sinais… Rádio Renascença - Momentos de reflexão”

Durante estas etapas fomos semeando coisas e ideias. Agora fica sozinho na próxima etapa. Faz passar pelo coração aquilo que foste vendo nas reflexões. Procura o silêncio e vai meditando no que fostes vendo: abre os olhos para ver as maravilhas que existem, diariamente, no teu Caminho.

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Atitudes Procura hoje a solidão no Caminho. Por certo que também deves procrar estar acompanhado em algum momento do dia, é necessário, mas é importante aprender a estar só e a encontrar um sentido na solidão. Oração (opcional) Mãe de Deus e nossa mãe, Que em cada dia possa expressar o meu amor por ti; Mas, se o meu amor te esquecer, minha Mãe, Tu não te esqueces de mim.

Palas de Rei - Arzúa - 23 de SETEMBRO        

Palas de Rei * Ponte Campaña Casanova * O Leboreiro Melide * Boente Ribadiso * Arzúa *

*Albergues no caminho Distância - 28 km Dificuldade: média

O Caminho Francês abandona Palas pelo Campo dos Romeiros, tradicional lugar de encontro de peregrinos, para entrar na aldeia medieval de Leboreiro. Entre Leboreiro e Melide, atravessa a aldeia de Furelos e seu rio, através de uma ponte medieval para entrar na zona urbana de Melide.

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O Caminho Francês abandona Palas de Rei atravessando a estrada geral até entrar num caminho que conduz até Carballal e após San Xulián, linda povoação com uma igreja e um cruzeiro de interesse. Após uma série de descidas e subidas chega-se a Ponte Campaña e depois a Casanova. Segue-se o caminho até mudar de província, deixando Lugo atrás e entrando em A Coruña por O Coto para ir descendo até Leboreiro. Continua atravessando pequeninas aldeias e o que parece uma zona industrial, á margem da estrada principal, antes de voltar a entrar no bosque para chegar à ponte medieval de Furelos, pela qual se chega a Melide, considerada uma das jóias da arquitectura civil do caminho francês.

Após Melide, o Caminho passa por Boente e Castañeda para chegar depois a Arzúa, vila queijeira que conta com uma importante oferta de turismo rural e activo, especialmente nas proximidades da represa de Portodemouros. O Caminho apressenta-se, nesta etapa, dócil e em muito bom estado, misturando terra e pedra com pequeninas estradas entre povoações, com suaves subidas e descidas, alternando com trechos planos. Em Boente encontramos uma fonte de quatro canhos e um cruzeiro, separados da igreja pela estrada principal. Daqui chega-se a Ribadiso por uma ponte sobre o rio Iso, junto ao qual está o albergue, um dos mais lindos do Caminho Francês, composto de várias casinhas reabilitadas, con lareira na sala de jantar e extenso jardim com escadas directas ao rio, onde se banham os peregrinos no verão. Depois de Ribadiso, o Caminho decorre pela estrada até chegar a Arzúa, a terra do queijo por excelência. Arzúa é uma vila com todos os serviços para os peregrinos, lugares onde comer e dormir, bancos, centro de saúde, farmácia, supermercados e lojas. O albergue está situado junto à Capela da Madanela, que se abre eventualmente como sala de exposições. Mesmo em diagonal com esta, encontramos a igreja de Santiago.

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DIA 6: O encontro… Não consigo acertar. Só faço asneiras. Ensina-me a viver. Mas, aviso-te já, estou cansada de palavras. Começaste assim o teu telefonema. E, como imaginas, o teu aviso deixou-me mudo. Separavam-nos mais de 500 km. Unia-nos a tua aflição e a amizade que há anos nos vem levedando. As palavras também me cansam. Mas elas são a roupagem e instrumento do nosso dizer; o cais de chegada do nosso pensar. Por isso te disse uma série de coisas, na vã ilusão de responder ao que me pedias – mas tu sabes, em última análise ninguém nos explica o mistério nem nos ensina a viver. Não te disse, porém, o essencial. Mesmo agora não consigo articular forma de to dizer. E é tão simples, afinal é só isto: és amada. Um olhar largo pela história… partículas no tempo. Um livro ao qual arrancaram os dois capítulos mais importantes – o primeiro e o último. Pelo meio, milhares de milhões de anos… milheres de milhões de outros, como nós, sentiram já o mesmo desacerto. É esta a nossa experiência profunda. Não somo os únicos a sentir a alma, às vezes, parece rebentar-nos nas mãos. E sabes o bonito da coisa? Andamos todos a aprender. Mas mais bonito ainda é saber que nesta sinfonia de invernos e primaveras alguém nos conhece pelo nome, alguém nos ama e, por isso, nos chamou à vida. Não é fácil acreditar, eu sei. Conta-se que plos fins do século XVIII, o prior de um convento em construção chamou o arquitecto e pediu-lhe que construi-se uma cela isolada, sem janelas, apenas com pequenas frinchas por onde pudesse entrar um pouco de sol. Nada mais haveria naquele espaço além desta inscrição: “ Deus ama-me infinitamente, ternamente, exactamente como eu sou.” Ali não seria permitido meditar em qualquer outro assunto, que não neste: Deus ama-me infinitamente, ternamente, exactamente como eu sou.” Sabes a quem se destinava aquela cela? A algum monge ansioso, que não conseguisse acertar, que só fizesse asneiras e se perguntasse: “Como pode Deus amar alguém como eu?” Pensa-o tão fundo quanto puderes. Fonte: Henrique Manuel em “mas há sinais… Rádio Renascença - Momentos de reflexão”

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Para reflectires: O Caminho de Santiago é silencioso e o silêncio leva à contemplação. À medida que andas percebes que algo se está a passar no teu interior. Isso que acontece pode ser convertido por ti, diariamente, numa breve e simples contemplação. Não precisas de frases grandes e bonitas para falar, basta dizeres o que te vai no coração. Atitudes Hoje concentra-te num sítio tranquilo, faz silêncio e contempla. Faz um compromisso para o caminho da vida: procura momentos de silêncio para falar e escutar, para amar e deixares-te amar. Oração (opcional) Como o veado anseia pelas correntes de água Assim, meu Deus, todo o meu ser te procura. Tenho sede de deus, do deus vivo, Quando contemplarei o rosto de Deus?

Arzúa - O Pedrouzo - 24 de SETEMBRO  Arzúa *  Santa Irene *  O Pedrouzo (Arca-o-Pino) * *Albergues no caminho Distância - 19,20 km Dificuldade: baixa

Neste trecho o Caminho entra novamente entre prados, carvalhos e eucaliptos que rodeiam pequeninas aldeias, algumas com topónimos de resonância jacobéia: Calzada,

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Rua, Ferreiros, Salceda, Brea, Santa Irene e Rúa, esta já às portas de Arca, capital do município de O Pino, o último antes de Santiago. Em geral a etapa transcorre por caminho de terra, com trechos secundários e também em paralelo à estrada. Bastante equilibrada no que diz respeito a subidas e percurso plano e muito bem assinalada de princípio a fim. Em quase todas as povoações há bares onde tomar alguma coisa e fontes em intervalos regulares. O Caminho Francês abandona Arzúa por uma pequenina estrada que deixa atrás a comarca de Arzúa para entrar em O Pino. Atravessa a estrada principal por debaixo (túnel) na comarca de Arzúa e depois volta a atravesar-se com ela em de Santa Irene, onde se encontram o albergue público e uma linda capela. Seguindo o Caminho, desde a sua entrada em O Pino, destacam grandes trechos entram por bosques de eucalipto e replantação de pinheiros e abetos em filas totalmente simétricas, o que produz um curioso efeito visual. Curiosidades Practicamente em nenhuma das aldeias que atravessa a etapa há cartazes indicadores mostrando os seus nomes. Para saber onde se está tem que se procurar nos miliários que marcam o Caminho.

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DIA 7: Preparar-se para depois do Caminho Para reflectires: Estás na Galiza, há muitíssimos peregrinos, é tempo de te desprenderes de algo. Se tens uma cama lembra-te que um companheiro peregrino pode ter de dormir no chão. Se tens água quente para tomar duche, pode haver quem não tenha. Faz uma oração, segundo o modelo apresentado ou outra que prefiras, e torna-a realidade. Senhor, recebi tanto durante este caminho, que quero agora fazer alguma coisa pelos outros. Quero desprender-me de …… para que outras pessoas possam ter mais. Ajuda-me a não me vangloriar com o que estou a fazer e a manter a minha decisão no silêncio. Amém. No caminho para Santiago seguiste umas setas amarelas, que te indicavam o caminho, que te ajudavam a chegar à meta. Agora precisas de setas amarelas para a tua vida “normal”. Procura-as e dedica-te a ser seta amarela para os outros. O caminho é a escola da vida, mas a vida é a universidade. Atitudes Sugiro-te que, até que chegues a Santiago, vás meditando no Pai Nosso. Repete-o ao ritmo da tua caminhada, mas começa e termina, rezando o Pai Nosso completo. Pai (que abençoas, acompanhas, amas e cuidas de todos) Nosso (de todos, seja qual fora idade, cor, cultura ou religião) Que estais nos céus (e na terra, porque o teu amor ultrapassa todas as distâncias) Santificado seja o vosso nome (para que vejam a beleza das Tuas mãos e a bondade do Teu coração) Venha a nós o vosso Reino (que és Tu connosco e se traduz em paz e amor solidário) Seja feita a vossa vontade assim na terra como no Céu (o teu plano de que todos sejamos uma família de amigos) Dai-nos hoje o nosso pão de cada dia (o que está amassado com carinho e amor, com ele constrói-se a civilização do amor) Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós poerdoamos a quem nos tem ofendido (para que os gestos de reconciliação inundem a terra) E não nos deixeis cair em tentação (de nos considerarmos os melhores e depreciarmos os demais) Mas livrai-nos do mal (que nos ameaça, divide e destrói) Amém. (Obrigado. Bendito e louvado sejas! Tu és a nossa fidelidade!)

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Compromisso para o caminho da vida O que te fez vibrar durante o caminho, isso és tu. Aquilo que é mais teu, que é o mais de Deus, é para todos. Realiza o teu projecto de vida. A luz brilha quando pões em prática o que descobriste em cada momento do Caminho e o entendeste à luz de Deus. Continua a ser humilde para aceitar a ajuda dos outros e generoso para partilhares os teus dons. Conta a tua fé e escuta os relatos dos outros peregrinos. Não estás sozinho. Deus acompanha-te com a Sua bênção e Maria com a sua ternura. Deus está nos irmãos. Acompanham-te os irmãos da Igreja através do seu alento. Bom Caminho, peregrino! Reza por todos em Compostela! Oração (opcional) Pai, coloco-me nas tuas mãos, Faz de mim o que quiseres: seja o que for, dou-te graças. Estou disposto a tudo, aceito tudo, Desde que a Tua vontade seja realizada em mim e em todas as criaturas. Não desejo nada mais, Pai. Confio-te a minha alma, dou-ta com todo o amor que sou capaz, Porque te amo e preciso de me dar, colocar-me sem medida nas tuas mãos Com uma confiança infinita, porque tu és o meu Pai. Amém.

O Pedrouzo - Santiago - 25 de SETEMBRO    

O Pedrouzo * San Antón A Lavacolla Santiago *

*Albergues no caminho Distância - 19,98 km Dificuldade: média

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Sai-se desde o albergue de O Pedrouzo para a gasolinheira da entrada da povoação, onde se volta a encontrar o Caminho. Atravessa-se então para a povoação de Santo Antón, onde começa a subida até à entrada do município santiaguês, por bosques de pinheiros e eucaliptos, muito juntos e simétricos, nalgumas zonas, também alguns carvalhos. Ao chegar ao cume, passa-se à margem do aeroporto e começa a suave descida para A Lavacolla. A Lavacolla, já no termo de Santiago, encontra-se muito perto do Monte do Gozo, uma pequenina elevação desde a qual os peregrinos têm a primeira la visão da catedral de Santiago. O Monte do Gozo, reconvertido no Jacobeu 93 numa zona para peregrinos, tem um monumento no seu cume, fonte, capela de San Marcos, restaurantes, hotéis e bares, e um grande albergue, o último público do Caminho. Desde aqui, o percurso é practicamente urbano, chegando à Catedral através do bairro de San Lázaro, Rua de San Pedro, Porta do Camiño, Rua das Casas Reais e Praça de Cervantes, para descer já directamente à catedral e entrar pela Porta Santa ou, senão é Ano Santo, pela de Azabachería.

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DIA 8: 26 de SETEMBRO (O regresso) Bienaventuranzas del camino (María del Prado González Heras, Agustina contemplativa) - Serás feliz, peregrino, se descobrires que o Caminho te abre os olhos para aquilo que não se vê. - Serás feliz, peregrino, se ao longo do caminho encontraste companhia, outras pessoas que decidiram cominhar contigo até ao fim. - Serás feliz, peregrino, se no caminho percorreste o trilho do silêncio e da solidão, e aí encontraste Deus. - Serás feliz, peregrino, se no caminho carregaste com outra dor que não a tua, com outro peso que não o teu, com outra vida que o caminho te fez responsável. - Serás feliz, peregrino, se deste um passo atrás para ajudar os outros, se esperaste o que se atrasou, se animaste o abatido. - Serás feliz, peregrino, se no Caminho procuras a Verdade e a Vida e a encontras em Jesus Cristo e no seu Evangelho. - Serás feliz, peregrino, se o coração se enche de gratidão perante os dons recebidos. - Serás feliz, peregrino, se o caminho te fez paciente contigo mesmo e com os demais. - Serás feliz, peregrino, se fizeste o Caminho, da Paz verdadeira com todas as pessoas que encontraste e deixaste atrás de ti um sinal da Bondade do mesmo Deus. - Serás feliz, peregrino, se o Caminho te mostrou o paradoxo da vida, a noite e o dia, a chuva e o sol, a tristeza e a alegria, e tudo acolheste convertendo-o em oferenda de vida. - Serás feliz, peregrino, se o caminho te permitiu comprender que se chega à alegria de meta através do trilho da cruz, da renúncia, da perda de vida… - Serás feliz, peregrino, se o caminho te ensinou que começa quando acaba…

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