´ no Chao ˜ Pes 3
Ha´ quem sambe diferente 6
Onda 8
A linha do tempo da UNE e do Movimento Estudantil na UFMG 13 a 25
Os estudantes e os protestos de junho no Brasil 28 a 38
Banco de imagens SXC
Editorial BOOM! Jordânia Souza e William Campos Viegas
Boom! Essa expressão é a que melhor define o processo de elaboração da Revista Outros Pontos. A nossa missão e dos demais alunos que participaram do Laboratório de Produção de Reportagem, disciplina ofertada pelo Curso de Comunicação Social, foi pensar uma reportagem especial a partir de um tema relacionado ao Campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para tal empreitada, decidimos retratar a história, o funcionamento, os desafios e
1
conquistas do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e do movimento estudantil. O primeiro boom ocorreu durante o processo de apuração. A grande quantidade de informação, mais de dez horas de entrevistas e as múltiplas facetas de um mesmo assunto mudaram o percurso que havíamos planejado. O que, de início, era pra ser uma simples matéria especial, trans-
William/Jordania: 1/2 virada FaFich
formou-se em uma revista. Foi então que surgiu a Outros Pontos. Mas as surpresas não pararam por aí. O segundo boom veio no dia 15 de junho de 2013 com as manifestações que se espalharam pelo país. Ansiando por mudanças, a população foi às ruas. Os diversos protestos contaram, também, com a participação massiva de estudantes, ligados ou não, ao movimento estudantil. Em Belo Horizonte, a história não foi diferente. No dia 18 de junho, alunos da UFMG, em resposta à truculência policial ocorrida na manifestação do dia anterior e, também, para lutar por mudanças em nossa sociedade, organizaram um ato em frente à Universidade. Como nosso trabalho teve início dias antes das manifestações, nas matérias que retratam as diferentes chapas do DCE, os leitores não encontrarão menção ou a opinião dos representantes e militantes entrevistados sobre os acontecimentos. Porém, como esses atos interessam
aos estudantes, é inevitável não tocarmos no assunto. Sendo assim, o tema será abordado nas páginas dedicadas a contar a história do movimento estudantil na UFMG e no Brasil e, ainda, na seção Opinião. Nas demais páginas, os leitores vão conferir entrevistas com membros das três chapas que mais se destacaram nas últimas eleições para o órgão – Pés nos Chão, Há quem sambe diferente e Onda. Eles explicaram seus posicionamentos, as causas que defendem, o início da militância, dentre outros assuntos. Os novos militantes também ganham espaço. Eles revelaram suas motivações para participar do DCE e falaram sobre a importância do envolvimento dos alunos com o diretório que os representa. E, ainda, o que pensam os estudantes que não têm relação com a entidade e o movimento estudantil? Isso, só lendo a Revista Outros Pontos! OP
Expediente: Revista apresentada como trabalho final da disciplina Laboratório de Produção de Reportagem, do
Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 1º semestre de 2013. Edição única. Professora: Terezinha Silva. Produção e redação: Jordania Souza e William Campos Viegas. Diagramação e Projeto Gráfico: Luiz Lagares. Colaboração: Léo Rodrigues. É permitida a reprodução de
textos, desde que citada a fonte.
2
Reprodução: Internet.
´ pes no ˜ chao
Para além das carteirinhas ... Por Jordania Souza Entre bancos e lojas funciona, na Praça de Serviços do Campus Pampulha, uma salinha que muitos estudantes da UFMG procuram pelo menos uma vez durante a graduação. Ali é o Diretório Central dos Estudantes, o DCE. Grande parte passa por lá para solicitar a carteirinha estudantil, mas não conhece o que os funcionários fazem. Geralmente, o contato com o DCE ocorre nas eleições, época em que começa a correria das chapas em busca de votos. Porém, poucos sabem que o órgão é tão antigo quanto a UFMG e, indiretamente ou não, todos os alunos, para além das carteirinhas, precisam dele. Atualmente, a tarefa de representar a comunidade universitária da UFMG é da chapa Pés no Chão. Vencedora da última eleição para o Diretório, ocorrida em 07 de dezembro de 2012, a gestão se divide em núcleos e, também, possui integrantes que participam de alguns Centros e Diretórios Acadêmicos para resolver as mais variadas demandas que aparecem. “É gente pedindo ajuda para o C.A ou D.A, por causa de uma disciplina, de algum problema no sistema
3
acadêmico. Às vezes, o aluno já recorreu a todas as instâncias e não conseguiu resolver o problema, então, busca o DCE”, relata a estudante de Comunicação Social e membro da chapa, Isabela Reges. Mas as responsabilidades não param por aí. Entre as diversas causas defendidas, a luta por melhorias e ampliação da assistência estudantil – gerenciada pela Fundação Mendes Pimentel (Fump) – é uma das principais e duradouras reivindicações da entidade. “Nossa gestão luta por isso. É preciso garantir que todos que entram na UFMG consigam manter-se nela. Temos até uma comissão com a Reitoria para discutir isso. Hoje, a assistência estudantil na UFMG não consegue atender a todos. A Fump não garante mais que isso aconteça, até por ser uma instituição privada”, conta o também membro da Pés no Chão e estudante de Antropologia, Marco Gatti. A atual gestão também trava outra batalha. Os integrantes lutam pela revogação da Portaria 034, ato executivo da Reitoria que proíbe festas e confraternizações no Campus. Para Jorge Mairink,
Divulgação/ Pés no chão
dos Trabalhadores (PT) e à União Nacional dos estudante de Ciências Sociais e um dos coordenaEstudantes (UNE), já que alguns integrantes são dores da gestão, a proibição reflete um modelo de filiados ou se identificam com essas correntes universidade que vai contra o projeto que a chapa políticas. Mas será que isso influencia no trabalho defende e provoca situações de embate com o reido DCE? Para Marco, Isabela e Jorge essa ligação torado. “Quando vem a questão das festas e dos não é um problema, desde espaços de convivência, não que não haja um oportudá para discutir. E, quando Estrutura nismo de ambas as partes, tentamos,claramente não 3 coordenadores gerais como explica Jorge. “Se o há intenção da outra parte. 2 tesoureiros seu representante estuA proposta do DCE é a reedi1 secretário-geral dantil vai permitir que a ção da Portaria 016, que filiação partidária se soVerba permite festas. Mas não breponha aos interesses Dinheiro arrecadado através da existe uma proposta da confecção das carteirinhas. dos estudantes, isso é Reitoria para a convivência uma questão de confino campus. A proposta é Aluguel do Cine Belas Artes: ança que se deve ter em estudantes da UFMG têm benefícios não ter. Temos que discutir um grupo, coletivo e, inpara usar o local alugado pelo DCE. o projeto de universidade dividualmente, em alguque queremos”, afirma. Contribuição da Reitoria, eventualmas pessoas. Se essas A terceira grande premente. propostas vão de enconocupação do DCE é com No papel tro a algum partido, isso relação ao Hospital das precisa estar claro. Mudar Campanha “UFMG dos sonhos”: Clínicas da UFMG. Com a propõe conversar com os estudantes as propostas que é compossibilidade de ser gerenpara saber qual a UFMG que eles plicado. Sempre fomos ciado pela Empresa Brasileidesejam. contra a EBSERH, por ra de Serviços Hospitalares exemplo, e ela é uma pauDCE Itinerante e Orçamento Participa(EBSERH), várias dúvidas ta do governo”. tivo: unidades receberão barraquinhas pairam a respeito de como da gestão e os estudantes serão DCE representa? será o ensino e o atendiconsultados sobre as prioridades mento da instituição, refedo orçamento. O nome já diz: Unirência na oferta de serviço versidade. Como repreCalourada do DCE: obrigação de todas público de saúde em Misentar a pluralidade que as gestões que assumem o Diretório. nas Gerais. “Nós criamos (festa que o Diretório organiza anualmente para existe nela? A difícil um comitê de combate à os alunos da Universidade) tarefa pode variar de EBSERH. Já fizemos ações mais pontuais na acordo com as unidades acadêmicas, com os Faculdade de Medicina e, toda segunda-feira, cursos, os interesses envolvidos e os turnos. reuníamos para pensar estratégias para levar Dessa forma, será que o DCE consegue fazer-se essa luta aos estudantes. É uma causa que prerepresentativo? “Infelizmente, não. Nem todos cisa que eles se sensibilizem e lutem juntos, já participam do jeito que a gente tem uma visão que fere a autonomia da Universidade”, explica de universidade. Porque não é só chegar, estudar Isabela. e ir embora. A universidade tem de ser vivida de ParTidos? outras formas, para além do estudo. É até uma Desde as eleições, a chapa Pés no Chão ficou visão de sociedade que a gente do movimenconhecida por uma provável vinculação ao Partido to acredita. Não é essa visão mercadológica de 4
Facebook DCE-UFMG Foca Lisboa/UFMG
Ação UFMG sem Homofobia, ocorrida no dia 17 de maio, Dia Internacional de Combate à Homofobia. Dentre as várias atividades culturais sobre o tema, a gestão Pés no Chão promoveu um “beijaço”, como símbolo da luta contra a opressão aos homossexuais.
5
formar rápido e ganhar dinheiro. Mas se formar como ser humano, como indivíduo”, argumenta o estudante Marco Gatti. A luta por questões externas à Universidade é outro ponto que pode afastar ou dificultar a identificação dos estudantes com o DCE. Segundo Jorge Mairink, como o próprio nome da chapa busca reforçar, a ideia é manter o Diretório com os pés no chão na hora de resolver questões da UFMG. “Precisamos, primeiro, cumprir o nosso dever de casa, dialogar com as mais diversas pautas dos estudantes, mas, em nenhum momento, deixar de dialogar, como foi no caso da ONDA, com qualquer tipo de pauta externa”. Debater as causas sociais é uma forma também de justificar para quem está do lado de fora o que é feito na UFMG, uma vez que se trata de órgão público. É o que reforça Marco Gatti. “A universidade está inserida na sociedade, não é uma bolha, não está imune. As pessoas pagam impostos e bancam quem estuda aqui. Então, a gente tem, no mínimo, que dá algum tipo de retorno”. É nesse sentido, que causas como o combate às opressões, como o machismo, racismo e a homofobia ganham espaço entre as ações da gestão Pés no Chão. Algumas atividades, promovidas no primeiro semestre desse ano, refletem essa preocupação. Em 2013, o DCE levantou e organizou debates sobre o trote na recepção de calouros, principalmente depois das manifestações racistas, ocorridas na Faculdade de Direito. Realizamos a Semana de Combate à Homofobia promovendo várias atividades culturais no Campus. Acreditamos que a Universidade não pode ser conivente com esses acontecimentos. Precisamos de mecanismos para que esses crimes tenham punições administrativas dentro da universidade também”, ressalta Jorge Mayrink. OP
Debate realizado no dia 11 de abril de 2013, como parte da Campanha Trote não é legal, organizado pela Reitoria em parceria com o DCE. O encontro contou com a presença de diversas autoridades políticas e professores da UFMG, entre elas, a Ministra da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Maria do Rosário.
Reprodução: Internet.
´ ha quem sambe Diferente De que lado você samba? Por William Campos Viegas A pergunta instigante – trecho da música “Qual é?”, sucesso do rapper Marcelo D2 – era entoada pelos esquerdistas da chapa “Há quem sambe diferente” para mobilizar os alunos da UFMG durante a campanha de 2011 para o Diretório Central dos Estudantes (DCE). Se a pergunta mexia com os eleitores indecisos, o discurso inflamado dos integrantes deixava claro de qual lado eles “sambavam”. Na eleição passada, o grupo mudou de nome – concorreu como De que lado você samba? – mas não abandonou suas ideologias e marcas inconfundíveis: a passagem nas salas, a oposição ferrenha aos posicionamentos das gestões, a luta por causas múltiplas e a íntima relação com o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e com a Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre (ANEL). Enquanto algumas chapas inovaram para angariar votos, os integrantes da Há quem sambe diferente não abandonaram o mais tradicional dos meios. “Adoro passar nas salas. Quando vamos para o conjunto de estudantes para mostrar nossos posicionamentos, percebemos uma to-
mada de consciência por parte deles e, também, que alguns já faziam as mesmas discussões, mas não tinham o espaço ideal”, relata Firminia Rodrigues, estudante de História e integrante da chapa. Embora alguns considerem uma maneira arcaica de alcançar o eleitorado, para Diego Ribeiro, estudante de Comunicação Social e integrante da chapa, é uma forma efetiva de mobilização. Segundo ele, a atitude que sobra em sua chapa foi esquecida pelas últimas gestões do DCE – Onda em 2012 e a atual, Pés no Chão. “Falta mais presença, de chamar mais os estudantes, de mobilizá-los. Nós somos os que passam em sala e isso pode ser visto de forma negativa, mas não temos vergonha. Não se pode ter vergonha de ser o DCE o tempo todo”, argumenta. A ligação com o PSTU e ANEL – entidade fundada em 2009, por militantes insatisfeitos com a União Nacional dos Estudantes (UNE) – é outro ponto muito criticado entre os opositores da Há quem sambe diferente. “Existe uma resistência grande aos partidos. Tem alguns que fazem os
6
militantes de trampolim eleitoral, mas há outros que querem movimentar os estudantes. E eu acho isso muito válido”, declara Firminia. Para ela, é fundamental que as chapas assumam sua posição partidária. “Nós fazemos propaganda na UFMG e não escondemos isso. Não há como avançar no movimento estudantil ocultando sua ligação com partido político. Temos orgulho de dizer que somos do PSTU, de vestir a camisa. Isso gera confiança no conjunto de estudantes”, completa.
Lutas múltiplas
Diego Ribeiro
Mesmo atuando no movimento estudantil e pretendendo ocupar o órgão máximo de representação dos estudantes, a chapa luta por causas que não só às estudantis. O combate às opressões e a questão das ocupações em Belo Horizonte também são pautas levantadas pelo grupo. “Nossa tarefa é mostrar que as ocupações Dandara e Camilo Torres, por exemplo, interferem na universidade, pois ela também vive para o conjunto da cidade. Também trazemos o debate sobre o machismo, a homofobia, o racismo. É algo que tem de ser feito o tempo todo. Nós não vivemos numa bolha!”, lembra Firmina. Além dessas lutas – comuns para grupos de esquerda – a chapa também defende causas
voltadas aos estudantes e à Universidade, como o combate à Portaria 034 e à EBSERH, pautas também discutidas pela gestão atual, Pés no Chão. Nesse sentido, mesmo participando de atividades junto ao DCE, a chapa diverge quanto à forma que elas vêm sendo tratadas pelo órgão. “Cumpriram o importante papel de tirar a Onda, gestão mais de direita. Mas não conseguem fazer um embate na Universidade e pecam em não dar uma resposta rápida, como no caso da Portaria 034. Poderiam ser mais atuantes, inclusive pelo número de pessoas e pela força política que possuem”, afirma Firminia. Para Diego Ribeiro, o discurso da atual gestão não é franco. “Tocam campanhas importantes, como ser contra à EBSERH, mas é contraditório, tendo em vista que apoiam o governo federal e agora estão contra uma ideia desse mesmo governo”, conclui. Mesmo não tendo vencido nenhuma eleição, os esquerdistas conquistaram resultados expressivos. No pleito de 2011, dos 5.472 alunos que votaram, 1.146 depositaram sua confiança na Há quem sambe diferente. Ela garantiu o segundo lugar com apenas 149 votos a menos do que a Onda. Na disputa de 2012, vencida pela Pés no Chão, os integrantes, concorrendo pela De que lado você samba?, garantiram a terceira colocação, com 1.243 votos recebidos. OP
7
Integrantes reunidos durante campanha para o DCE/UFMG.
Reprodução: Internet.
Onda No balanço da onda Por William Campos Viegas Em 2011, o resultado das eleições para o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais (DCE-UFMG) veio como um “tsunami” para os grupos de esquerda. Levantando a bandeira do apartidarismo e com um discurso diferente do já conhecido, a chapa Onda (O Nosso Diretório Apartidário) conquistou a simpatia do corpo discente, venceu o pleito e acabou com a hegemonia esquerdista que, desde 1976, quando as eleições passaram a ser diretas, comandava o órgão. A chapa – que derrotou a tradição com 35% dos votos e assumiu a gestão de 2012 – surgiu da insatisfação de estudantes de Medicina, Engenharia, Biologia, entre outros cursos, com a gestão anterior, a Voz Ativa. “O descontentamento já vinha nos conselhos de centros e diretórios acadêmicos. Então, começamos a articular a ideia de uma chapa independente e com propostas mais estudantis do que pautas que são legitimamente partidárias e que vão além do âmbito da universidade”, conta o estudante de Filosofia, Otavio Sousa. Durante a campanha e gestão, a Onda relegou pautas que extrapolavam os muros da UFMG – muitas defendidas pelas chapas concorrentes –
em prol de outras direcionadas exclusivamente aos seus representados e à universidade. “Trabalhamos para o estudante, para melhorias na UFMG”, lembra Camila Cacique, estudante de Química e integrante da chapa. Para ela, trazer propostas que saem do âmbito universitário pode atrapalhar a identificação do aluno com o movimento estudantil. “As questões de movimentos sociais são importantes, mas trazidas por movimentos estudantis para dentro da universidade, de uma forma tão forte e em detrimento das nossas pautas, é ruim. O aluno pode se perder e achar que movimento estudantil está simplesmente para lutar pelo social”, afirma.
Apartidarismo Destoando das chapas com posicionamentos políticos declarados e com vínculo partidário, a Onda sofreu críticas por assumir um discurso apartidário. O grupo foi acusado pelos adversários de ser de direita e, diferente do que queria transparecer, de ter ligação com o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). “No início, antes de se chamar Onda e quando ainda não tinha a ideia de apartidarismo, tinha um estudante vinculado ao PSDB. Quando começou a existir, ele não par-
8
ticipou mais. O pessoal amplificou isso a revelia de qualquer argumento nosso. Era um ganho pra eles dizer que tínhamos um vínculo com o partido. Nós fomos procurados pelo PSDB e PT, mas negamos os dois”, comenta o estudante de medicina, Guilherme Lima, salientando que, hoje, é admitido pessoas filiadas a partidos. “O nosso apartidarismo é uma forma de desvincular nossa linha de pensamento de outro grupo que não o de estudantes. Mas não é anti-partidário. Não vou proibir alguém filiado de participar e expor suas ideias, pois ele faz parte do todo”, finaliza. Em 2012, a chapa tentou a reeleição, mas apenas alcançou o quarto lugar. Nesse ano, a Onda passou por dois momentos delicados – a greve nacional dos professores universitários e o “pula-catraca” organizado pelos estudantes quando o Conselho Universitário reajustou os preços do Restaurante Universitário. Diante desses fatos, a gestão viu sua relação com a Reitoria da UFMG ser alvo de críticas da oposição. “Fomos acusados de sermos um braço da reitoria, que tínhamos nos vendido e que fazíamos só o que o reitorado quisesse, mas isso nunca aconteceu. Também votávamos contrário em vários quesitos e até tivemos problemas para organizar nossa última calourada”, relata Otavio que acredita que essas críticas têm ligação
com o posicionamento da chapa. “Não nos preocupamos em definir se é de esquerda e direita e tomamos como mais importantes as pautas estudantis. Então você fica aberto a uma crítica direta dos partidos de esquerda”.
Facebook/ondaUFMG
Propostas
9
Durante campanha, integrantes da chapa distribuíram algodão-doce aos estudantes
Com o mote vencedor “Para reviver o DCE... Onda...ainda há esperanças”, a chapa propunha a reestruturação da recepção de calouros, constituição de um código de convivência para a comunidade acadêmica, ônibus intercampi, dentre outras. “Mesmo com o orçamento e um grupo reduzido, nossa equipe foi muito eficiente e conseguiu realizar uma calourada no primeiro semestre, algo que a atual gestão não fez. Também reestruturamos e restauramos a credibilidade do órgão perante os estudantes, o reitorado e à sociedade”, lembra Otavio. Em comparação com a atual gestão, Pés no Chão, a chapa apartidária tinha e mantém propostas semelhantes, por exemplo, a assistência estudantil. Mas a forma de viabilização é oposta. “Éramos contrários a criação de uma Pró-Reitoria de Assistência Estudantil. Acreditávamos que poderíamos tornar a Fump mais eficiente por meio de projetos. Desenvolvemos a proposta de criação do nível IV para dar acesso ao bandejão e, quase saiu, o convênio com a prefeitura que previa, para quem era da Fump, pagar meia passagem nos ônibus”, conta Otavio. Hoje, com no máximo 15 integrantes, a Onda não tem conseguido manter-se articulada. “As pessoas não encontram o grupo Onda em vários lugares como o pessoal do PSTU e outras chapas. Isso é um fato. Não temos tanto contato, mas compartilhamos das mesmas ideias, isso é um sinal de que o grupo ainda existe”, comenta Camila Cacique. Ela esclarece que a chapa busca sempre se renovar, encontrar pessoas que partilham ideais semelhantes e, mesmo não tendo nada decidido, o grupo pensa tentar a próxima eleição para o DCE no final de 2013. OP
Lucas Braga/Cedecom UFMG
Novas Militantes Calouras no DCE Entrar na universidade é uma experiência única para qualquer estudante. Tudo é fascinante – a aprovação no vestibular, a recepção de calouros e as primeiras aulas – até aparecer os primeiros problemas de estrutura e gestão. A magia pode até acabar, mas também pode despertar a vontade de lutar por mudanças na universidade. A partir disso, o caminho, provavelmente, levará ao Diretório Central dos Estudantes (DCE). Assim foi com a estudante de Letras, Bruna Jacob. O motivo que a trouxe à militância foi o desejo de combater as opressões. “Venho de uma cidade pequena, Itanhandu. Lá, tenho muitos amigos gays e percebia como a mentalidade das pessoas era fechada. Aí, você entra na UFMG acreditando que vai se deparar com um cenário diferente, com pessoas de mente aberta, mas você percebe que não é bem assim”, conta ela que, logo no primeiro período do curso, entrou para a atual gestão do DCE e começou a debater causas ligadas às opressões. Porém, a sua relação com o movimento estudantil não iniciou na Universidade. No Ensino Médio, a jovem já integrava o movimento secundarista e o grêmio do colégio. Situação semelhante viveu sua amiga e “xará”, Bruna Moreira, estu-
Alice Ventura
Por Jordania Souza
As estudantes Bruna Jacob (à esquerda) e Bruna Moreira (à direita) durante participação no 53º Congresso da UNE (CONUNE).
10
dante de Comunicação Social da UFMG. Mesmo entendendo pouco sobre movimento estudantil, a aluna ocupou por dois anos o cargo de diretora cultural no grêmio da escola. No segundo semestre de 2012, Bruna Moreira foi convidada por um amigo para participar da chapa Pés no Chão que, à época, concorria às eleições para o DCE. Sem muita bagagem como militante, a vitória nas urnas foi a chance para ela conhecer de perto o dia a dia no órgão de representação máxima dos estudantes. Porém, o entusiasmo durou até ela perceber alguns problemas e decidir largar o DCE, ainda no início da gestão. “Quem é muito novo tem dificuldade de se expressar dentro do movimento estudantil. Muitas pessoas militam há bastante tempo e têm uma formação política muito maior. E quando você chega, não sabe como se colocar e acaba sofrendo repressão de quem é experiente. Mas isso não quer dizer que os novatos não tenham ideias a colocar! Percebi que é estudante engajado falando para outro também engajado”, esclarece.
Já para a aluna do primeiro período de Farmácia e integrante da Pés no Chão, Alice Ventura, optar por participar do movimento estudantil precocemente trouxe vantagens para a vida acadêmica e pessoal. “Conheci muita pessoas que compartilhavam dos mesmos pensamentos. Na minha vida universitária, não tem um dia que não discuto política com alguém e isso é importante, pois não estamos na faculdade apenas pelo curso. De três meses pra cá, minha cabeça mudou muito”, afirma. Seguindo a mesma linha de raciocínio, Bruna Jacob acrescenta que o movimento estudantil permitiu que ela conhecesse outras unidades, trazendo experiência em relação a seus veteranos, inclusive. “Tem muitos estudantes, principalmente do noturno, que até hoje não conhecem os outros prédios. Só vêm aqui para estudar e vão embora. O movimento estudantil proporciona ao aluno o contato com coisas incríveis. Todos deveriam participar, até mesmo para conhecer seus direitos”, ressalta a jovem.
Bruna Jacob
Hora de tomar partido
11
Caloura do curso de Farmácia, a estudante Alice Ventura também participou da 53º CONUNE. Foi seu primeiro contato com a Juventude do PT e com a UNE.
As Brunas, todavia, mesmo tendo experiências diferentes dentro da mesma gestão, não pararam apenas no DCE. Ambas ampliaram seus horizontes e, hoje, militam no Partido dos Trabalhadores, pela Juventude do PT e pelo movimento Kizomba – segunda força majoritária da União Nacional dos Estudantes. Para Bruna Moreira, essas vertentes fora da UFMG são como escolas para os jovens que anseiam militar no movimento estudantil. “Uma das principais metas é agregar mais pessoas. Os novatos têm muito espaço. São realizados seminários de formação para conhecer sobre os coletivos. É diferente entrar para o DCE, C.A ou D.A que já tem uma linha política definida”, pontua.
Divergindo dessa opinião, Alice, por enquanto, prefere não tomar partido. Ela, que já teve um breve contato com a Juventude do PT, afirma que deseja conhecer melhor esse universo de ideologias. “Hoje, as pessoas se ligam muito aos partidos, mas esquecem das causas. Há alguns que lutam pelo mesmo objetivo, mas por serem de diferentes ordens partidárias, entram em conflito”, pondera. OP
Na contramão
Lucas Braga/Cedecom UFMG
Calouros entrando, veteranos de partida. Essa é ordem natural da vida universitária. O estudante de Comunicação Social, Victor Rodrigues, já está se despedindo da UFMG. Sobre o movimento estudantil, o veterano, que nunca participou de nenhuma gestão, ressalta a importância do DCE nas lutas pelos estudantes, mas critica o exagero em relação as abrangência das causas. “O DCE deveria ser voltado mais para a universidade. Não que o órgão deva abandonar as lutas externas, mas como gestão, seria mais interessante que propusessem o debate, mas não se intrometesse tanto. Se o DCE tentar consertar o mundo, ele não vai conseguir, mas tentar consertar o mundo no qual ele está inserido, já é um passo importante”, finaliza o jovem.
12
13
Fontes consultadas: sites da UNE, UBES, ANEL, UFMG, DCE Unifesp e Brasil Escola.
14
15
16
17
18
19
20
É criado o jornal Gol a gol se reunia as ações estudantis d assuntos relacionados ao Cam texto político do período e tem veiculo de comunicação dos es
21
pegar com o pé é dibra, publicação do DCE, que dos 19 diretórios acadêmicos. Além de tratar de mpus, trazia também opiniões e fatos sobre o conmas ligados à vida universitária. Foi um importante studantes na época.
Fontes consultadas: sites da UNE, UFMG, Documentos Revelados, Revista Diversa, Revista Outros Sentidos e Jornal Estado de Minas.
22
23
24
25
William/Jordania: 1/2 virada FaFich
perfil Firminia vai sair? Por Jordania Souza e William Campos Viegas É difícil imaginar algo sem pensar nas figuras ou símbolos que o compõe. No recente movimento estudantil da UFMG não é diferente! Quem entrou na Federal depois de 2005, provavelmente já teve pelo menos uma aula interrompida (um instante que seja) para ouvir o discurso de uma das militantes mais conhecidas dos últimos anos da Universidade. Estamos falando da estudante de História, Firminia Rodrigues. Ativa militante do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e da Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre (ANEL), Firminia faz parte de uma geração de estudantes mobilizados por mudanças efetivas no contexto político e social, não apenas da UFMG, mas também de toda a sociedade. “A geração da década de 90 tem outras aspirações do movimento que vão para além da universidade, como a questão das opressões, o combate ao machismo, racismo e à homofobia”, explica. É ainda mais difícil imaginar as próximas eleições para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) sem a presença de Firminia Rodrigues. Sua trajetória estudantil explica o porquê. Engana-se quem pensa que o gosto pela militância começou na adolescência. A trajetória no
movimento estudantil foi construída dentro da UFMG. “Eu fazia o curso de Farmácia e, em 2005, entrei para o Diretório Acadêmico do curso. Confesso que não me recordo exatamente o motivo que me levou a entrar para o DA. Lá eu estive na gestão durante três anos e também ocupei um cargo na Gestão Executiva do curso de Farmácia”, conta a entrevistada. Dado o primeiro passo, Firminia sentiu necessidade de ir além. Ela estava em busca de respostas para as inquietações que o movimento estudantil não supria. Foi então que decidiu filiar-se a um partido político. “O movimento estudantil tem uma limitação que é do próprio movimento. Então, as respostas mais amplas para minha ansiedade de militância, encontrei num partido político”, conta ela que, por seis anos militou pelo PSOL e, atualmente, está filiada ao PSTU. E as mudanças não foram apenas de partido político. Firminia deixou para trás o curso que a fez conhecer o movimento estudantil para aventurar-se no curso de História. Na Fafich, entrou para a chapa “Para Além dos Muros”, que ganhou as eleições do DCE em 2007 e se reelegeu no ano seguinte. “Era uma chapa com uma
26
Arquivo pessoal
proposta mais de esquerda. Os estudantes nos reconheciam como uma gestão que lutava pela assistência estudantil”, destaca Firminia. É desse período, aliás, um dos momentos mais marcantes da militância da jovem na UFMG. Em abril de 2008, os estudantes ocuparam o prédio da Reitoria. “Esse episódio ocorreu por causa da entrada da policia no Campus. Estávamos numa reunião do DCE e, de repente, vimos uma notícia de que tinha um helicóptero sobrevoando a área e mais cinco carros de polícia na porta do IGC. Vê esse momento na universidade foi chocante! A resposta que a gente, enquanto DCE, e todos os outros movimentos da universidade, de ocupar a Reitoria, foi um momento marcante no movimento estudantil para mim!“, conta. Na época, o episódio obteve resultados positivos, entre eles, a retratação do reitorado diante da intensa mobilização promovida durante a ocupação. Para Firminia, essa pressão do movimento é o diferencial na hora de negociar pautas e causas para os estudantes. “A pressão da mobilização nas negociações com a Reitoria é muito importante. É muito diferente a forma como te tratam quando existe um conjunto de estudantes que apoia você”.
Possível saída?
27
Conhecida por passar nas salas, discutir suas causas com afinco e não negar em nenhum momento suas ideologias partidárias, Firminia tornou-se referência quando o assunto é movimento estudantil na UFMG, mesmo entre aqueles que não compartilham de seus ideais. Esse ano, todavia, pode ser o último da estudante na Universidade, já que no próximo ela se forma. “É possível que eu saia, inclusive do movimento estudantil, em breve. Acho importante essa trajetória na universidade, porque é um lugar onde você vê tudo passando muito rápido. Eu já vi muitas coisas aqui na UFMG. E é interessante vê como as coisas, as pessoas, o movimento e até a forma de militar muda”, finaliza. OP
William/Jordania: 1/2 virada FaFich
mapa das ,˜ manifestacoes
O Brasil dos protestos Por Jordânia Souza e William Campos Viegas Em junho, o país do futebol foi às ruas. No mês da Copa das Confederações, as manifestações apagaram o brilho do torneio e abriram espaço para os brasileiros expressarem suas insatisfações. Os protestos – que reuniram estudantes, trabalhadores e representantes de diferentes movimentos sociais – foram dos gastos exorbitantes com o evento à redução nas tarifas do transporte público, passando por melhorias na educação, saúde, mobilidade urbana e repúdio a qualquer forma de opressão. Nos cartazes e gritos, o povo exigia e lutava por seus direitos. Confira alguns momentos dos protestos pelos quatro cantos do Brasil, resumidos aqui a partir do que foi divulgado em diferentes mídias Belo Horizonte - MG
Flickr/mariaobjetiva
Na capital mineira, as manifestações começaram no dia 17, reunindo mais de 50 mil pessoas que protestaram da Praça Sete de Setembro até as imediações do Estádio Magalhães Pinto, o Mineirão, local onde ocorria a partida entre Taiti e Nigéria. Os manifestantes tentaram ultrapassar o bloqueio imposto pela Fifa, mas foram contidos pela Polícia Militar com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. No dia 26, mais de 200 mil pessoas fizeram o mesmo trajeto. Novamente houve enfrentamento com militares, concessionárias da região da Pampulha foram incendiadas, pessoas ficaram feridas e o dia terminou com a morte do estudante Douglas Henrique Oliveira, de 21 anos. O jovem caiu do Viaduto José de Alencar, que liga as avenidas Antônio Carlos e Abraão Caram. Desde o dia 29, manifestantes ocupam a Câmara Municipal de BH. Eles exigem a redução das passagens de ônibus e abertura das planilhas de custos das empresas que gerenciam o transporte coletivo de BH. (Até o momento de fechamento, desta revista, em 21/06/2013, os manifestantes continuavam no local).
28
Gustavo de Oliveria
No dia 17, o protesto reuniu 20 mil pessoas na Praça do Pedágio da Terceira Ponte. Os manifestantes interditaram a via mais movimentada da cidade e se deitaram ao som do Hino Nacional e de “Que país é esse?”, de Renato Russo. A manifestação terminou na Casa Oficial do Governo do Espírito Santo. Por lá, quatro caminhões da Tropa de Choque da Polícia já aguardavam - munidos de balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo, cassetetes e spray de pimenta - os protestantes que entoavam o grito “sem violência”. Houve tumulto e um manifestante, com passagem na polícia, foi preso por depredação ao patrimônio. No dia 20, o ato reuniu mais de 100 mil pessoas. A manifestação que seguia pacífica terminou com violência e vandalismo no Tribunal de Justiça Eleitoral do Espírito Santo. As manifestações começaram no dia 06. Redução nas tarifas e melhoria no transporte público era o que exigiam os manifestantes. No dia 17, o protesto teve início na Candelária e seguiu para a Praça da Cinelândia, centro da capital. Entidades dos movimentos sociais e estudantis, como a UNE, engrossaram a manifestação que reuniu 100 mil pessoas na av. Rio Branco. Houve confronto com policiais e o protesto terminou com a depredação da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. No dia 21, 300 mil pessoas foram às ruas, 62 ficaram feridas e 15 foram presas. A manifestação do dia 27 foi marcada pela volta de bandeiras vermelhas de partidos de esquerda às ruas e por críticas à ação policial que resultou em 10 mortes no complexo de favelas da Maré, na zona norte do Rio, na noite de segunda-feira (24). Foi o 13º protesto realizado na cidade desde o dia 6 de junho. No último dia da Copa das Confederações, 5 mil pessoas participaram dos protestos que começaram na Barra da Tijuca e terminaram a uma quadra do Maracanã, palco da final entre Brasil e Espanha.
Eduardo Biermann
Sao ˜ Paulo - SP
No dia 03 de junho, moradores bloqueiam uma faixa da Estrada do M’Boi Mirim, zona sul da cidade. Exibindo faixas de “3,20 é roubo”, o grupo protestava contra o aumento das passagens e as más condições do sistema de transporte. No dia 6, bloquearam a av. Paulista, depredaram estações do metrô e lojas. O protesto terminou em confronto com policiais. O abuso da Polícia Militar na ação foi criticado pelo Movimento Passe Livre (MPL) e por autoridades. No dia 19, o prefeito Fernando Haddad e o governador Geraldo Alckmin revogaram o aumento. As tarifas voltaram a três reais. No dia seguinte, 100 mil pessoas foram às ruas e o protesto foi marcado pela paz. No dia 21, o MPL anunciou que não convocaria novos protestos, mas a cidade teve manifestações contra a PEC-37 e o projeto de “cura gay”. Em outros pontos, manifestantes fecharam rodovias, provocando congestionamentos no trânsito.
29
Marcelo Sayão/EFE
Rio de Janeiro - RJ
En da Co da ras tim de gre
Thiago Gomes/FuturaPress
´ - ES vitoria
No n tos a Maca manif tura d quand do ga soas a ped repre efeito 60 mi das p de 20 sede
As manifestações aconteceram nas capitais de todos os estados d iniciaram-se no dia 16 de maio, antes das passagens dos ônibus ocorreu no dia 22. No dia 28 do mesmo mês, ocorreram protestos n sitário. Na ocasião, 4 ônibus foram destruídos, 13 veículos danificad No dia 6 de junho, estudantes interditaram as ruas do centro da ca bas caseiras e danificaram carros da polícia. No dia 13, as tarifas vo de 20 mil pessoas foram às ruas protestar contra a PEC-37 e reiv Em Cuiabá, Mato Grosso, 10 mil pessoas reuniram-se em frente à p Grosso do Sul, Campo Grande, 30 mil pessoas ocuparam o centro d pessoas foram detidas por dano ao patrimônio.
ntoando palavras de ordem, milhares de pessoas protestaram pelas ruas a capital federal no dia 15 de junho, data de abertura oficial da Copa das onfederações. No dia 17, mais de 10 mil manifestantes passaram pelo cerco a polícia e invadiram a cobertura do prédio do Legislativo. Durante seis hos, os jovens se aglomeraram na marquise do edifício exigindo mais invesmentos na saúde e na educação e protestaram contra a PEC-37, o projeto e “cura gay” e o preço das tarifas dos ônibus. Eles tentaram invadir o Conesso, mas foram contidos pela polícia com spray de pimenta. Sérgio Lima/Folhapress
´ - DF brasilia
Regiao ˜ norte
O ápice dos movimentos na região Nordeste ocorreu no dia 20. Milhares de pessoas de todos os estados entoaram palavras de ordem contra o aumento das passagens. Em Salvador, mais de 20 mil cidadãos estiveram no protesto que começou no centro da cidade de forma pacífica, mas terminou em confronto com a polícia local. Já em Fortaleza, o protesto reuniu mais de 30 mil manifestantes e houve tentativa de invasão à sede do Governo, o Palácio da Abolição, ação contida pelos militares. Dois fatos curiosos ainda marcaram os protestos nordestinos. Primeiro, a Prefeitura de Aracajú (SE) reduziu a tarifa dos ônibus no dia 19. Porém, o anúncio não enfraqueceu a população, que foi às ruas no dia seguinte. Já a cidade de Natal foi lembrada pelo jornal americano New York Times como pioneira entre as manifestações brasileiras, já que os protestos na capital potiguar começaram em maio. No ano passado, porém, os habitantes já tinham ido às ruas para pedir a saída da prefeita Micarla de Sousa e redução das tarifas de ônibus.
Regiao ˜ nordeste
Regiao ˜ sul
A capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, puxou os protestos que se espalharam pelo país. Em março, os gaúchos protestaram contra o aumento da tarifa dos ônibus e “lotações”. No dia 17, três mil pessoas se concentraram em frente à prefeitura da cidade. Elas carregavam faixas e cartazes com mensagens contra o reajuste da passagem, a realização da Copa do Mundo no Brasil, a violência da polícia e a PEC 37. No dia 18, os manifestantes queimaram um ônibus e dezenas de containers de lixo. Houve confronto com a brigada militar e cinco pessoas foram detidas. Em Florianópolis, Santa Catarina, 10 mil manifestantes fecharam as pontes de entrada e saída para a ilha. O protesto do dia 18 foi marcado ainda com a ocupação do Terminal de Integração do Centro (Ticen). No dia 21, 30 mil pessoas fecharam as pontes novamente. Houve confronto com a polícia e um jovem de 19 anos foi levado ao hospital após cair da ponte Campos Salles. Em Curitiba (PR), no dia 17, dez mil manifestantes se reuniram na Boca Maldita, centro da capital. No dia 21, a manifestação reuniu 15 mil pessoas. Manifestantes infiltrados depredaram a fachada do Palácio do Iguaçu. A Polícia Militar utilizou bombas de gás e balas de borracha para dispersar os vândalos. 30 Cadu Roli/Fotoarena
da região. Em Goiânia (GO) os protestos subirem de R$ 2,70 para R$ 3,00, que na Praça da Bíblia, no Setor Leste Univerdos e 24 jovens detidos por vandalismo. apital, queimaram pneus, lançaram bomoltaram a custar R$ 2,70. No dia 20, mais vindicar melhorias em diversos setores. prefeitura, no dia 20. Na capital do Mato da cidade também no dia 20. Neste dia, 7
Mary Juruna/MídiaNews
Regiao ˜ cento-oeste
ESTADÃO/Conteúdo
norte do Brasil, os principais protesaconteceram nas cidades de Belém, apá, Manaus e Palmas. Em Belém, a festação seguiu pacífica até a Prefeida capital paraense. A confusão iniciou do o prefeito Zenaldo Coutinho desceu abinete para dialogar com as 15 mil pesque estavam no lugar. Ele foi recebido dradas e disparos de rojões, ato que foi eendido pela polícia com bombas de o moral. Já em Manaus, foram mais de il pessoas nas ruas exigindo a redução passagens e contra os gastos da Copa 014, já que a capital é uma das cidadesdo evento.
Fabiano Costa/G1
˜ OPINIaO Pra onde caminham as manifestações? **
Por Léo Rodrigues* O Brasil é destaque no noticiário internacional. Nesta segunda-feira (17/05), cerca de 250 mil cidadãos saíram às ruas de diversas capitais do país para apresentar os seus anseios. A movimentação, construída de forma espontânea através da internet, nos coloca de vez na rota dos novos protestos sociais que emergem da utilização do potencial democrático das novas tecnologias. Assim como na “primavera árabe”, a população decidiu levar para as ruas a indignação que já era manifesta nas redes sociais. Mas que anseios são esses? E o que fez o grito virtual se transformar em grito real? Não é difícil perceber que três bandeiras convergiram inicialmente na formação da onda
31
de manifestações. No dia 12 de junho, cidadãos paulistas saíram às ruas na primeira de uma série de atos organizados pelo Movimento Passe Livre (MPL). No dia seguinte, a rua Augusta se transformou num cenário de guerra, com policiais despreparados atirando a esmo, em jovens, adultos, idosos, jornalistas, enfim, a quem surgisse no caminho. A ação policial, sem dúvida, se transformou em um catalisador da indignação nacional. E assim, os já planejados protestos contra os gastos da Copa do Mundo se tornaram de forma automática também numa manifestação em solidariedade ao povo paulista. É possível que, sem a repressão da polícia de Alckmin, talvez a força
Foto: Mídia Ninja
desse movimento nacional que agora toma as ruas fosse bem inferior. As manifestações diante da Copa eram previsíveis. Setores da imprensa conservadora tentaram deslegitimar os protestos, sob o argumento de que “agora não adianta mais, pois não dá para voltar atrás”. Mas a onda de manifestações segue uma lógica histórica: quando o centro das atenções se converge para determinado local, as reivindicações da população também ganham em evidência. E é por isso que, nesses momentos, mais adeptos se somam às manifestações. Essas pessoas, muitas delas apaixonadas por futebol e a favor da realização da Copa (assim como eu), protestam contra os gastos exorbitantes de um evento que suga muito dinheiro público e deixa pouco retorno social ao país. A estrutura melhora, é fato, mas sem um planejamento inteligente e sem a transparência necessária. Constrói-se um estádio de R$1 bilhão para mais de 70 mil espectadores no Distrito Federal, onde o campeonato local reúne cerca de 800 pessoas por jogo. Enquanto 9 em 10 engenheiros consideram que o VLT é um meio de transporte mais adequado, menos poluente e mais barato para as capitais brasileiras, as Prefeituras insistem no BRT. É motivo de indignação também a forma como as ordens da Fifa se sublevam sobre a própria Constituição, proibindo manifestações, ao mesmo tempo em que buscam artificializar o país, escondendo seus próprios elementos culturais: o Mineirão não pode vender feijão tropeiro e o acarajé está banido da Fonte Nova. Essas são apenas algumas pinceladas dos problemas visíveis na organização desses grandes eventos esportivos. A Copa do legado social se transformou na Copa das empreiteiras e dos interesses obscuros. Não há transparência nos gastos públicos.
Ainda assim, é difícil imaginar que sem os acontecimentos de São Paulo, as ruas seriam tomadas da forma como foi. A repressão policial causou indignação nacional e, com o aumento dos tiros de bala de borracha em outras capitais, o povo decidiu sair às ruas. Assim, foram levantadas, pelo menos inicialmente, três bandeiras claras: pela melhoria e redução do preço do transporte público, contra os gastos exorbitantes da Copa do Mundo (e consequentemente da Copa das Confederações), e contra a repressão policial.
Por uma nova polícia É óbvio que qualquer manifestação onde se reúna milhares de pessoas trará a possibilidade de que um ou outro mais radical se exalte em suas ações e cometa atos violentos. São esses exemplos que a imprensa e os políticos conservadores utilizam para taxar manifestantes de “vândalos” e “baderneiros”. No entanto, é preciso distinguir de forma racional a característica majoritária dos grupos mobilizados. Tenho convicção de que a própria polícia seria capaz de realizar essa diferenciação, detendo eventuais agressores sem precisar atacar de forma generalizada os ativistas. Eu estive nos arredores do Mané Garrincha, como repórter, cobrindo as manifestações que ali ocorreram durante a abertura da Copa das Confederações. Vi uma ação irracional da polícia. Com base num decreto inconstitucional, que proíbe protestos no perímetro do estádio, lançamentos de bombas de gás e disparos de balas de borracha foram realizados indiscriminadamente. Bastava qualquer aglomeração pacífica de 50 pessoas portando cartazes e gritando palavras de ordem para que a tropa de choque expusesse toda a sua truculência. Felizmente, na segundafeira subsequente, as manifestações foram pací-
32
Reprodução – Internet
ficas e a polícia agiu como dela se espera, mesmo com os ativistas ocupando o teto do Congresso num movimento simbólico e democrático. É utopia achar que um estado pode viver sem polícia, como sugerem alguns manifestantes. No entanto, é nítida a necessidade de uma reforma profunda nas bases da corporação. Nas redes sociais, já circulam mensagens de policiais anônimos e até um vídeo, no qual há críticas aos oficiais superiores, que despejam suas ordens para atacar cidadãos pacíficos. A impressão que fica é que há um nítido problema de formação humanista nestes profissionais que muitas vezes não compreendem de forma clara qual é o seu papel. A baixa remuneração, aliada a uma cultura do confronto, leva à atração de profissionais de perfis violentos que pouco exercitam a reflexão racional sobre o seu próprio trabalho. Obviamente, como bem demonstram as mensagens anônimas nas redes sociais, não se trata de uma generalização, dado que há policiais que, felizmente, destoam da regra. O que me parece que falta é um curso superior específico de Segurança Pública, que englobe um forte componente de sociologia e filosofia em seus currículos. Uma graduação obrigatória para ingressar na corporação e que seja ofertado pelas universidades. Os cursos ministrados institucionalmente pela própria Polícia correm o risco de terem conteúdos viciados, para perpetuar a atual cultura da truculência policial.
Lamentáveis declarações
33
É triste ouvir do Aldo Rebelo, político que já realizou tantas façanhas dignas de admiração, a frase que estampou jornais desta segunda: “Quem achar que pode tentar impedir a realização dos jogos enfrentará a determinação do Es-
tado”. Ainda que este possa ser o sonho de algum manifestante, não houve nas ações populares, até o momento, nenhuma iniciativa no sentido de tentar criar obstáculos para a realização das partidas. A declaração num tom de confronto e sem contribuir para o ambiente democrático assusta ao sair da boca de alguém que traz no currículo a luta contra a ditadura militar. Na pasta do Ministério dos Esportes, Aldo parece perdido e com pouco a fazer, já que o evento é mais da Fifa do que do próprio Governo. Talvez por isso, tenha se sentido desconfortável para responder a sérios questionamentos de ordem administrativa na realização da Copa. No programa Roda Viva, da TV Cultura, questionado sobre os gastos exorbitantes na construção de estádios que posteriormente não terão serventia, o ministro rebateu acusando o jornalista da ESPN de ter simpatia por um clube italiano. Mas o que uma coisa tem a ver com a outra? Também lamentável foi a declaração de Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal, que disse que os manifestantes na abertura da Copa das Confederações eram pagos pela oposição. Será que os 10 mil que estiveram presentes ontem em frente ao Congresso Nacional também receberam dinheiro? Tentar deslegitimar as manifestações é a pior maneira que os políticos encontram para superar a pressão. Já é hora de ouvir as vozes de rua e, de forma humilde, tentar entender o que elas clamam, para tentar dar uma resposta de estadista. Muitos que foram às ruas o fizeram pela primeira vez. E daí surgiram jargões como “O Brasil acordou”, e variações criativas circularam nas redes sociais: “Brasil muda status de deitado eternamente em berço esplêndido para verás que um filho teu não foge à luta”. Militantes cotidianos dos movimentos sociais já responderam no ambiente virtual, lembrando que há bra-
Reprodução – Internet Foto: Mídia Ninja
sileiros acordados desde sempre. A celeuma entre novos e velhos ativistas se traduzirá numa questão chave para o futuro das manifestações. Eventuais conquistas dependerão dessa articulação. A juventude dos partidos políticos não pode mais ter a pretensão, como teve durante muito tempo, de liderar protestos. Não há mais espaços oportunistas para que grupos cheguem de última hora reivindicando falar em nome do movimento. Qualquer iniciativa nesse sentido receberá a imediata vaia do conjunto dos manifestantes. O movimento é difuso e as pautas também. Portanto, o papel de cada grupo ideológico, partidarizado ou não, é disputar os rumos políticos com base no debate de ideias. Embora a tríade inicial - pela melhoria e redução do preço do transporte público, contra os gastos exorbitantes da Copa do Mundo, e contra a repressão policial - continue a ser o eixo das manifestações, um novo conjunto de pautas vão surgindo. Algumas mais genéricas, outras mais específicas. Em Brasília, as mais concretas presentes em cartazes e palavras de ordem eram contra a PEC 37 e pela destituição de Marco Feliciano da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Como provavelmente aconteceu nas demais capitais, havia também o jargão genérico “mais saúde e educação e menos corrupção”. Em meio a tantos gritos, alguns manifestantes chamavam a presidenta Dilma Roussef de corrupta e pediam sua renúncia. É legítimo que aconteça, dado a própria natureza da manifestação. Mas esses gritos são prato cheio para que políticos e imprensa conservadora anunciem o apoio ao movimento. O senador Aécio Neves ressaltou o descontentamento do povo com o Governo Federal, numa clara jogada de marketing visando as eleições de 2014.
34
Foto: Mídia Ninja
se o transporte é uma concessão pública, porque não há um Portal da Transparência expondo as finanças e os lucros das empresas responsáveis? Os avanços ainda são tímidos. As manifestações têm um potencial acima disso. Resta saber se a articulação entre as experientes lideranças de movimentos sociais e os novos indignados que surgem de mobilização nas redes terá condições de render frutos propositivos, capaz de orientar o Governo no atendimento a estas demandas. Pelo lado do Governo, falta sensibilidade de saber ouvir e, mais do que isso, saber atender: aproximar a agenda governamental da agenda popular. É por nós que eles estão lá.
*Jornalista da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) **Texto originalmente publicado no Blog brasilianas.org no dia 18/06/2013. 35
Foto: Mídia Ninja
Como eleitor de Lula e Dilma e entusiasta dos programas sociais que desenvolveram este país, não vejo alternativa mais progressista colocada até o momento para 2014. Marina Silva e muito menos Aécio Neves e Serra não representam a possibilidade de avanços das pautas inicialmente propostas. Pelo contrário, representam o retrocesso das conquistas, o fim dos programas sociais e menos verba pública para saúde e educação. O grande desafio é fazer o que muitos analistas políticos progressistas já apontavam em 2002, quando Lula foi eleito com uma base de apoio diversificada: o povo deve estar nas ruas para contrabalancear o peso do lobby das grandes empresas e lembrar cotidianamente a este Governo o compromisso que ele assumiu com as políticas sociais. Diante disso, o grande desafio é: uma vez que não há lideranças, como estabelecer uma mesa de negociação com o Governo para apresentar as pautas? E que pautas seriam essas? Não há respostas prontas. O novo está sendo construído. O recado está sendo dado. Em São Paulo, o governador Alckmin, acuado, mudou o discurso e proibiu o uso de bala de borracha pela polícia. Agora só pode spray de pimenta e bomba de gás. Parece piada pronta, mas querendo ou não, é um avanço. Também no noticiário já pipocam intensões das Prefeituras de reduzir, em 5 ou 10 centavos, os preços das passagens de ônibus. Infelizmente o reajuste aconteceria desonerando os impostos e não reduzindo o lucro das empresas de transporte, como deveria ser. E mais:
William/Jordania: 1/2 virada FaFich
movimento estudantil A hora e a vez dos estudantes Para a professora de Ciência Política, Marlise Matos, as recentes manifestações podem ajudar a renovar o Movimento Estudantil. Entrevista: Jordania Souza e William Campos Viegas vor de melhorias na educação e saúde e do combate às opressões. E agora, o jovem será levado a sério? Para conversar sobre esse assunto e refletir sobre o atual papel do Movimento Estudantil, convidamos a pesquisadora e professora do Departamento de Ciência Política da UFMG, Marlise Matos. Acompanhe a entrevista. Ricardo Costa
É comum ouvir que o jovem é alienado, individualista ou que pouco se interessa por política. Mas, como diz a letra da música “Não é sério”, da Banda Charlie Brown Jr, o que falam sobre o jovem no Brasil definitivamente não é sério! A história do Movimento Estudantil (ME) confirma isso. Basta olhar o passado de lutas e resistência frente à repressão violenta sofrida durante a ditadura (1964-1985). Os jovens, com as “caras pintadas”, também foram às ruas para mostrar toda sua indignação e exigir o impeachment do presidente Fernando Collor de Melo. Após a redemocratização do país, eis que os brasileiros voltam a conhecer a força promissora dos estudantes. Em junho de 2013, eles participaram ativamente das manifestações que tomaram conta do Brasil. Nos protestos, além da redução das tarifas do transporte público, os estudantes – unidos a representantes de movimentos variados – entoavam gritos de ordem contra a má gestão dos recursos públicos e a fa-
36
Reprodução – Internet
Outros Pontos: Como você vê o movimento estudantil? Marlise Matos: O Brasil tem uma história muito bacana de mobilização, organização e resistência de estudantes, onde o ápice foi na luta contra a ditadura. Com a redemocratização, o movimento estudantil, como os demais, entrou em refluxo. Houve também uma partidarização e um processo de institucionalização. Por um lado, isso propiciou a eleição de alguns candidatos que vieram do ME, o que em si não é ruim. Mas, por outro, produziu um distanciamento dos estudantes devido à falta de renovação das lideranças dentro do movimento. Observo, com clareza, que vivíamos isso há um mês atrás. Um movimento criticado pela partidarização e estudantes não identificados com as agendas propostas. Havia um desencanto generalizado. Não estou dizendo que não havia pauta, que o movimento tivesse estagnado, não é isso. Mas não tinha uma adesão massiva. E, agora, acho que foi o movimento estudantil que puxou um dos estopins das manifestações que vêm acontecendo, não foi o único, mas nós temos visto uma gigantesca onda de renovação. Pode ser rico e positivo para o movimento estudantil, aproveitar essa oportunidade, renovar suas lideranças e trazer essa juventude que está nas ruas e que se reencantou pelo espaço público e pela luta política. OP: Os estudantes da UFMG eram menos engajados e depois das manifestações eles demonstraram certo engajamento? MT: Minha percepção, embora eu não seja uma pesquisadora do ME, era que não tinha uma canalização do movimento estudantil para esse engajamento. As pessoas reputavam certo jogo de partidarização que não concordavam, achavam que tinha um obstáculo de estar ali e não fazer nada que fosse efetivo para mudar as estruturas, para transformar as relações, então, tinha certo acomodamento. Não era um canal de expressão do jovem da UFMG. A rua hoje é
37
um canal. Estamos vendo que os estudantes da UFMG têm puxado essas manifestações em BH, mas, se é para ser constitutivo de um aprofundamento democrático, tem de ir além dos estudantes da UFMG. Acho que a internet tem impacto total nisso. As articulações nas redes sociais propiciaram um movimento de engajamento, uma sinergia para mobilização. Então, se o movimento estudantil não for ingênuo, pode e deve se apropriar, pois são seus atores que estão aí no espaço público. Deve trazer essas pessoas para continuar o processo iniciado com essas mobilizações intensas. OP: Na UFMG, há chapas que trazem pautas que vão para além das causas dos estudantes e outra focada nas questões estudantis. É importante que o ME aborde pautas externas, sociais? MT: Essa é uma condição de renovação do próprio ME. Então, eu vejo com excelentes olhos a entrada das discussões dos públicos LGBT, feminista, racial nos movimentos estudantis. Não vejo nisso nada de grave na coptação das pautas dos estudantes. Pelo contrário, são temas que vão trazer contribuições de aprofundamento da agenda dos movimentos estudantis. A questão das ocupações urbanas, por exemplo, acho totalmente legítima. Eles têm essa autonomia pra debater. Se o movimento estudantil dentro das universidades não for capaz de ser protagônico nisso, não vai vir da cabeça bem pensante só dos próprios professores. Tem que ter uma consciência esclarecida que também lute dentro dessas próprias agendas dos movimentos estudantis, para uma reflexão mais crítica, esclarecida sobre isso. OP: E o envolvimento de partidos? MT: Eles devem fazer parte do processo democrático brasileiro, a não ser que alguém me apresente outra forma de institucionalizar e canalizar os processos de demandas públicas para o atual sistema eleitoral brasileiro. O partido é
Reprodução – Internet Reprodução: Internet.
Manifestação na Praça Sete.
Reprodução: Internet.
OP: Vislumbra novas manifestações? MT: Não tenho dúvida de que as pessoas vão dar diferentes destinos para essa energia que foi liberada, mas que estava contida há algum tempo. Vejo com maravilhosos olhos a experiência das assembleias populares na cidade, isso é um mecanismo de canalização brilhante para esse processo que está em curso. Mas, em algum momento, os partidos têm de retomar também a parte deles nesse processo. Nós vamos ter eleições ano que vem, inevitavelmente vai estar na agenda. Vamos ver os desdobramentos da discussão da reforma política. Tem a copa que também vai ser de novo um efeito de mobilização grande. Talvez dê uma desacelerada nos próximos meses, aí depois, temos uma agenda que eu acho que as mobilizações vão retomar. OP
Ricardo Costa
corrente de transmissão entre o sistema representativo, o eleitoral e a população. Isso não significa dizer que eu concorde que os que temos no Brasil sejam bons. Está muito longe disso. Não vejo com maus olhos que eles procurem os estudantes. Acho que a revitalização das lideranças partidárias passa também pelo movimento estudantil. Acho que a luta do ME, inclusive, deveria ser de renovação dos sistemas programáticos dentro dos partidos. O sistema partidário no Brasil está falido e o movimento estudantil pode ser um elemento crucial de renovação dessa agenda programática, propositiva do sistema. Tomara que essa renovação programática seja um dos encaminhamentos dessas manifestações que estamos vivendo agora.
Assembleia Popular sob o Viaduto Santa Teresa.
38