Mini catálogo - VALIE EXPORT

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PROGRAMAÇÃO Exposição: quarta 6 abril a domingo 1 maio 2011 terça a sábado das 9h30 às 21h domingo das 16h às 21h centro de arte contemporânea e fotografia avenida afonso pena, 737 – centro belo horizonte – mg Exibição do filme: Action Art International. Documents on International Actionism VALIE EXPORT, 1989, 73 min Trata-se de um documentário sobre os movimentos da arte moderna, que cobre o período de 1945 até os dias de hoje. Destaca a produção do Grupo de Viena, o Happening e o movimento Fluxus, incluindo os Acionistas de Viena, a Body Art e a Artemídia. O documentário exibe um importante material fotográfico e fílmico relacionado a esses movimentos, além de temáticas comuns a eles nos anos 1980 e 1990. * Ao final da sessão haverá um debate com a curadora Berta Sichel e a artista VALIE EXPORT.

quarta 6 às 19h30 palácio das artes – cine humberto mauro avenida afonso pena, 1537 – centro belo horizonte – mg

capa u VALIE EXPORT - SMART EXPORT. Autorretrato do arquivo da artista. Foto: Gertraud Wolfschwenger.


VALIE EXPORT: CORPO = LINGUAGEM é a primeira exposição individual da artista VALIE EXPORT no Brasil. Sua trajetória se confunde com as principais manifestações dos movimentos de contracultura das décadas de 1960 e 1970 e sua produção é um marco histórico no contexto da arte contemporânea que trata das questões do corpo, da performance e do feminismo. Esta mostra, com curadoria de Berta Sichel, traz uma antologia das séries de fotografias Body Configuration e Left Overs, sua produção pioneira no campo da videoperformance e a instalação Die Macht der Sprache (2002), um dos seus mais recentes e importantes trabalhos. A exposição integra a Mostravídeo Itaú Cultural, um programa de exibição de vídeos e filmes que, desde 1997, apresenta em Belo Horizonte o que tem sido realizado de mais instigante na produção experimental contemporânea no Brasil e no mundo. Com curadoria de João Dumans e Andre Costa, terá início em abril a programação periódica de filmes e vídeos experimentais no Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes. Haverá exibições também em Curitiba, no Sesc Paraná Paço da Liberdade. Para saber mais, acesse mostravideoitaucultural.wordpress.com.

Itaú Cultural



VALIE EXPORT (Linz, Áustria, 1940) certamente não foi a única mulher nas décadas de 1960 e 1970 a explorar as possibilidades do vídeo, da performance ou da combinação de ambos, chamada na época de novas mídias. Tampouco foi a única a usar uma obra centralizada no corpo para criticar os tabus ligados a séculos de silêncio misógino. No entanto, foi uma das mais audaciosas, a começar pela criação de sua própria marca: VALIE EXPORT. O nome, intencionalmente escrito em letras maiúsculas, é por si só uma criação para o mundo da arte, uma persona assumida por Waltraud Lehner no fim dos anos 1960. O que também nos surpreende é que a maior parte de sua obra foi criada dentro do pequeno e ensimesmado mundo artístico de Viena. Embora compartilhasse algumas das preocupações dos seus colegas artistas vienenses envolvidos com o Acionismo, principalmente com ênfase no Existencialismo, ela deixou suas tendências expressionistas e criou seu próprio léxico artístico, totalmente misterioso ao seu público na época. A mostra VALIE EXPORT: CORPO = LINGUAGEM apresenta, pela primeira vez no Brasil, uma parte de seu imenso e diverso conjunto de obras criadas ao longo de quase 50 anos, ressuscitando muitos trabalhos que ficaram escondidos ou esquecidos, como os vídeos single channel em preto e branco. Integra a exposição Action Art International (1989), filme de EXPORT sobre arte contemporânea, no qual ela apresenta material fotográfico e fílmico relacionado aos movimentos artísticos mais influentes, dentre os quais o dos Acionistas de Viena. Mais do que muitos dos seus contemporâneos (grande parte deles morando nos Estados Unidos, onde o vídeo já era popular desde o fim dos anos 1960), EXPORT explorou a dinâmica entre o artista e o público de formas fisicamente abertas.


Posicionou sua arte como algo inerentemente social, político e experimental, além de tratar dos temas ostensivos de corpo, gênero, classe, igualdade e política de identidade – questões que vêm à mente quando olhamos para a sua obra. Os primeiros vídeos feitos por EXPORT estabelecem um vínculo entre o Modernismo e o Pós-Modernismo durante um momento de transição no mundo da arte. Trabalhos como Sehtext Fingergedicht (1973) e Raumsehen und Raumhören (1973-1974), presentes na exposição, são, de certo modo, versões eletrônicas de estratégias modernistas de autorreferencialidade e repetição. No entanto, o uso de som e efeitos especiais e a colocação de imagens de vídeo com performances ao vivo são mais coerentes com a estética pós-moderna. O próprio título Fingergedicht, traduzido para o português como Texto Visual: Poema do Dedo, mostra a linha de análise desta obra de performance para a câmera na qual a artista se comunica com seus dedos, usando a língua de sinais como uma elisão de palavra e gesto. O outro vídeo, Raumsehen und Raumhören – em português Espaço-Vendo – Espaço-Ouvindo –, indica claramente o enfoque da obra: ver um espaço e ouvir uma música (uma composição eletrônica original feita pela própria artista). O uso de múltiplas câmeras e técnicas dá a impressão de que a artista está se movendo quando, na verdade, ela está estática. Da série Cinema Expandido, o documento de um minuto Touch Cinema (1968) chama a atenção para a famosa performance de rua de VALIE EXPORT, na qual o público era convidado a tocá-la dentro de uma caixa coberta com um pano, como se fosse um pequeno palco, e presa à parte superior do tronco da artista. Um comentário espirituoso e confrontati-


vo sobre a objetificação dos corpos femininos, Touch Cinema é um epítome das relações de poder entre os dois sexos. O uso do corpo como material artístico e a sua relação diante do espaço e da identidade são as questões mais evidentes nos primeiros trabalhos de EXPORT. O conceito de gênero, como usado hoje, só se popularizou no início dos anos 1970, duas décadas depois que o Second Sex (1949), de Simone de Beauvoir, proporcionou uma visão geral da diferença de gênero que mais tarde viria a ser amplamente adotada. Além disso, trabalhos recentes sobre antropologia cultural explorando a relação entre espaço e identidade sugerem que “o espaço marcado por gênero deveria ser entendido menos como uma geografia imposta por estruturas patriarcais e mais como um processo social de codificação e decodificação simbólica que produz uma série de homologias entre ordens espaciais, simbólicas e sociais”.1 Essa leitura enfatiza que certos espaços foram demarcados como femininos, outros como masculinos, com o único propósito de reforçar as relações de poder. Essa possibilidade sempre foi inerente à obra de EXPORT, que faz aparecer o corpo e o espaço em múltiplas formas e encarnações. Ela ultrapassou as fronteiras do “espaço feminino” usando áreas públicas para suas ações, apresentações e obra fotográfica, como na série Body Configuration; a pavimentação, a rua e a calçada constituíam seus espaços para respirar e ela os ocupava como uma condição de sua obra. O espaço urbano tornou-se sua arena; o vídeo, seu espaço alternativo. Seu uso não autorizado de imagens do espaço público incentivou a participação das pessoas e ampliou as possibilidades de provocação do espectador de arte ainda letárgico.2


Último vídeo single channel desta exposição, Syntagma (1983) leva muitas das ideias anteriores encontradas nos primeiros vídeos feitos ou nas fotografias de Body Configuration para seu próximo passo lógico, substituindo EXPORT por uma atriz. Uma vez mais, há um pensamento autobiográfico por trás da obra, já que, nessa época, a artista tinha se transformado em um ícone da mídia, um objeto se assim quiserem. A abordagem de Syntagma é sobre o objetivo e o subjetivo, a autoconsciência e a percepção dos outros e pelos outros. Aqui, nosso tema feminino (e novamente EXPORT utiliza a nudez intermitente como meio de salientar sua feminilidade) é representado de várias formas; sua imagem sendo repetida, rimada, ecoada e dividida por telas separadas – um efeito utilizado pela artista em Space Seeing – Space Hearing. O potencial do repertório de EXPORT de abordar questões de relações de espaço e corpo parece infinito. Ela entrou no século XXI trazendo sua experiência, seu senso de experimentação e uma maneira individual de olhar o mundo para produzir um novo trabalho, empregando métodos variados conforme exigido pelo tema. Na última década, EXPORT criou um poderoso grupo de obras que se move dentro do corpo ao mesmo tempo que reflete a continuidade de suas preocupações anteriores. Todas elas mostram imagens de uma glote, a parte mediana da laringe onde estão localizadas as pregas vocais, e enfocam o corpo como uma fonte de linguagem e discurso. Esses são temas já explorados pela artista anteriormente. Aqui, no entanto, ela força o espectador a um confronto visceral com o discurso. Die Macht der Sprache (2002) apresenta uma imagem ampliada de uma glote que, em uma versão diferente, foi empregada em Glottis (2007) e também fez parte de sua instalação


exposta no Pavilhão da Áustria na Bienal de Veneza de 2007.3 Na Bienal, a artista usou sua própria glote, fazendo referência, assim, à sua própria voz. A primeira obra da “série glote” estava acompanhada de um texto: “O poder da linguagem mostrando seu vestígio mesmo depois do silêncio”. Segundo EXPORT, essa afirmação está relacionada com o poder masculino; porém, quem pode identificar o gênero da glote que é retratada? Sua afirmação é outra forma de impor as diferenças de gênero? Talvez a discussão sobre ser uma glote masculina ou feminina não tenha importância alguma. O que conta é a resposta a esta ideia cada vez mais complexa e de múltiplas camadas. Olhando a parte interna em vez da parte externa do corpo, ela encontrou um meio alternativo de desconstruir imagens corpóreas predominantes. Essa visão interior invoca inevitavelmente associações eróticas, já que a glote normalmente não vista, não identificável à primeira vista, apresenta uma forma carnuda um tanto semelhante à vagina. Embora a glote esteja ligada à habilidade da fala e da expressão de ideias e emoções, nas obras de EXPORT sua imagem também redefine o corpo e seu uso como material para a arte. As imagens dessa carne interna, atípica como tema artístico, evocam uma gama de associações, uma vez que a linguagem é um forte significante sob vários pontos de vista (fenomenologia, pós-modernismo, estruturalismo e pósestruturalismo, psicanálise, teoria feminista etc.). A preocupação com a linguagem remete às obras iniciais de EXPORT, como Sehtext: Fingergedicht (1973), na qual ela se comunicava usando a língua dos sinais: o corpo como um transmissor de pensamentos. Essas “peças de glote” enfatizam que a linguagem e o discurso, comumente entendidos como canais para compartilhar pensamentos, ideias e emoções, também podem ser vistos em termos de poder e dominação. A violência da linguagem, falada


e escrita,4 ou do silêncio também pode ser estratégia de resistência à força opressora. Os temas explorados nestes indiscutíveis destaques de sua arte incluídos nesta exposição nunca a deixaram; podem ser encontrados em sua obra de 40 anos atrás e nos seus trabalhos mais recentes também. Berta Sichel curadora 1 Henrietta L. Moore. “Space Text Gender: An Antrophological Study of the Marekewet of Kenia,” in Women´s Colonial and Postcolonial Geographies; Writing Women and Space, Alison Blunt e Gilian Rose (editores). (The Guilford Press: Nova York, Londres, 1994.) 2 Algumas partes deste artigo foram publicadas anteriormente no texto “To Us All: VALIE EXPORT´s Film and Video Works”. Catálogo da exposição Time and Countertime, Husslein-Arco, Nollert e Rolling (editores). (Belvedere and Lentos Musem: Viena, Áustria, 2010.) 3 Para a instalação em Veneza em 2007, a artista criou The Pain of Utopia, que incluía Glottis. Ela também fez uma apresentação ao vivo em Veneza – algo que não fazia havia mais de duas décadas – e escreveu um texto-poema para a performance. 4 Jacques Derrida trata amplamente de violência e escrita (outra forma de expressar a linguagem). Ao mesmo tempo em que se recusa a oferecer uma resposta à violência no mundo contemporâneo, ele aborda de forma concreta essa temática em seu texto sobre Nelson Mandela e as questões feministas. Há também uma vasta bibliografia de Teoria Feminista tratando da violência. O valor da definição de violência, seja cultural, seja em termos legais, é um reflexo do poder de grupos sociais específicos. A Teoria Feminista, empregando uma definição ampla ou não de violência, aceita universalmente que a violência está baseada no gênero.



OBRAS


VALIE EXPORT Die Macht der Sprache, 2002 O Poder da Linguagem, 2002 videoinstalação (6 telas, 6 DVDs, sonora) fotografia de instalação realizada no Freudmuseum London, 2004 foto: © Andy Keate cortesia: Charim Galerie, Viena O poder da linguagem mostrando seu vestígio mesmo depois do silêncio.


VALIE EXPORT Syntagma, 1983 16 mm, colorido, sonoro duração: 18 min cortesia: Charim Galerie, Viena © VALIE EXPORT O corpo, especificamente o corpo feminino, é frequentemente usado como ponto central de questões sobre origem, relações sujeito-objeto, resistência política e sexualidade. A ideia de VALIE EXPORT de “linguagem corporal” propõe uma relação irônica que reconhece “o fim do corpo” ou, no mínimo, o rompimento final com a maneira como o entendemos, como uma entidade biológica, existencial ou metafísica. EXPORT cortou relações com qualquer noção de unidade – seja corporal, seja espacial ou temporal – para aderir ao mundo fragmentado de multiplicidade e diferenças capturado na representação.


VALIE EXPORT TAPP und TASTKINO, 1968 Touch Cinema, 1968 p&b, sonoro duração: 1min10seg Touch Cinema documenta a famosa performance de rua de VALIE EXPORT. Dentro de uma caixa, a artista convida o público a tocá-la. A obra é uma crítica mordaz à objetificação dos corpos femininos.


VALIE EXPORT Raumsehen und Raumhören, 1973-1974 Space Seeing – Space Hearing, 1973-1974 Espaço Vendo – Espaço Ouvindo, 1973-1974 p&b, sonoro duração: 6 min

Videoperformance simples e elegante na qual a artista, ao mesmo tempo em que se mantém em pé em um estúdio em total imobilidade, desloca-se no espaço e no tempo real por meio de técnicas de múltiplas câmeras. O áudio é uma composição eletrônica original da própria artista. A obra é construída em trechos semelhantes aos de uma composição musical.


VALIE EXPORT Sehtext: Fingergedicht, 1973 Visual Text: Finger Poem, 1973 Texto Visual: Poema do Dedo, 1973 p&b, mudo duração: 1min48s

VALIE EXPORT comunica-se com seus dedos. A linguagem de sinais, como uma elisão de palavras e gestos, é analisada nesta obra de performance para a câmera. A artista escreve: “O corpo como um portador de informação, com o propósito de transmitir conteúdos tanto espirituais como físicos, é a imagem refletida da realidade interna/psicológica e externa/institucional”.




SÉRIE

BODY CONFIGURATION


VALIE EXPORT Zuhhockung, 1972 Squat Within, 1972 Agachamento para Dentro, 1972 Body Configuration fotografia em p&b 56,5 x 79 cm foto: Hermann Hendrich cortesia: Charim Galerie, Viena Š VALIE EXPORT


VALIE EXPORT Einrundung, 1976 Round Inwards, 1976 Curvando-se para Dentro, 1976 Body Configuration fotografia em p&b 56 x 79 cm foto: Hermann Hendrich cortesia: Charim Galerie, Viena Š VALIE EXPORT


VALIE EXPORT DER TAG DER LÄNGER WAR, 1972 Body Configuration fotografia em p&b 41,8 x 60,5 cm foto: Hermann Hendrich cortesia: Charim Galerie, Viena © VALIE EXPORT


VALIE EXPORT Einfügung, 1976 Insertion, 1976 Inserção, 1976 Body Configuration fotografia em p&b 56 x 79 cm cortesia: Charim Galerie, Viena © VALIE EXPORT


SÉRIE

LEFT OVERS



VALIE EXPORT Interrupted Line, 1971-1972 Linha Interrompida, 1971-1972 Left Overs, 2007 103 x 80 cm edição: 25 + 5 cortesia: Charim Galerie, Viena © VALIE EXPORT


Menschenfrauen II, 1997 Left Overs, 2007 103 x 80 cm edição: 25 + 5 cortesia: Charim Galerie, Viena © VALIE EXPORT


Syntagma I, 1983 Left Overs, 2007 103 x 80 cm edição: 25 + 5 cortesia: Charim Galerie, Viena © VALIE EXPORT


Syntagma II, 1983 Left Overs, 2007 103 x 80 cm edição: 25 + 5 cortesia: Charim Galerie, Viena © VALIE EXPORT

Syntagma III, 1983 Left Overs, 2007 103 x 80 cm edição: 25 + 5 cortesia: Charim Galerie, Viena © VALIE EXPORT


Unsichtbare Gegner II, 1976 Left Overs, 2007 103 x 80 cm edição: 25 + 5 cortesia: Charim Galerie, Viena © VALIE EXPORT


Menschenfrauen IV, 1997 Left Overs, 2007 103 x 80 cm edição: 25 + 5 cortesia: Charim Galerie, Viena © VALIE EXPORT


Praxis der Liebe II, 1984 Left Overs, 2007 150 x 80 cm edição: 25 + 5 cortesia: Charim Galerie, Viena © VALIE EXPORT


FICHA TÉCNICA Idealização e organização Núcleo de Audiovisual do Itaú Cultural Curadoria da exposição Berta Sichel Curadoria da Mostravídeo Andre Costa e João Dumans Museografia, produção e montagem do espaço expositivo Núcleo de Produção do Itaú Cultural Produção editorial, edição de textos e revisão Núcleo de Comunicação e Relacionamento do Itaú Cultural Projeto gráfico Luciana Orvat Ricardo Daros | assistência


A Fundação Clóvis Salgado agradece seus patrocinadores 2011

Mantenedores

Apoio Institucional

Apoio

entrada franca

Correalização

Realização

[indicado para maiores de 14 anos]

ADMINISTRAÇÃO DE VERBAS


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