Destinos Entrelaçados

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Catalogação na Fonte do Departamento Nacional do Livro (Fundação Biblioteca Nacional, Brasil)

Guedes, Sheila Destinos Entrelaçados, Sheila Guedes. Lura Editorial - São Paulo. 2016 ISBN: 978-85-5849-002-3 1.  Romance 2 . Ficção I.  Título.

Índice para catálogo sistemático: 1. Ficção 869.3


Sheila Guedes



“Palavras são meu jeito de calar.” Lia Luft



Clara


Capítulo I “O coração é a região do inesperado.” Machado de Assis

O dia hoje não começou bem. A dor de cabeça, companheira quase diária, vem me saudar assim que abro os olhos. Bocejo, respiro fundo e me forço a puxar minhas pernas para fora da cama. Levanto e abro a grande porta de vidro que separa meu quarto da varanda. O vento forte e as nuvens escuras anunciam um dia chuvoso. Uma tempestade de verão se aproxima. Apesar do aspecto sombrio, o mar revolto permanece com sua beleza ímpar. Adoro esta casa, principalmente meu quarto. Meu pai o projetou para que ficasse de frente para o mar. Paredes pintadas em um tom de verde-claro com branco trazem para o ambiente uma sensação de tranquilidade. Meu quarto é espaçoso e muito aconchegante. Uma cama enorme e confortável toma conta de quase todo o espaço. Várias estantes com meus livros preferidos, uma pequena escrivaninha e um grande mural de fotos que está disposto na parede lateral concluem a decoração. No mural estão fotos das muitas férias que passei aqui ao longo dos anos, tornando este ambiente um pedaço de mim. Estico os braços acima da cabeça, espreguiçando-me, entro no banheiro e me olho no espelho que toma conta de toda a parede. A 10


camiseta velha que uso para dormir faz com que pareça menor do que sou. Entro no box e tomo meu banho rapidamente. Visto um short e uma regata, passo as mãos pelo meu cabelo curto e meio espetado e me preparo para mais um dia neste paraíso. Desço as escadas e vou até o balcão da cozinha, onde deixei meu celular na noite passada. Rolando a tela, dou uma checada em meus e-mails e na caixa de mensagem. Não tem nada de importante. Deixo-o novamente no balcão. Abro a geladeira e encho um copo de suco de laranja, e saio pela porta lateral da sala de estar, que dá acesso ao jardim. Uma profusão de flores coloridas está espalhada por toda parte. O jardim é motivo de orgulho da minha mãe, tanto o daqui quanto o de nossa casa na cidade. Nossa casa fica no alto de uma falésia, um lugar realmente privilegiado, onde árvores frondosas são circundadas por um gramado bem aparado que mais parece um tapete felpudo. Apesar da ausência do sol, respirar este ar com o cheiro da maresia é um bálsamo para mim. Não estou muito bem, vivo uma fase difícil em casa e estou aflita com as constantes brigas entre meus pais. Descalça, dirijo-me para o início do jardim e sento-me embaixo de uma enorme árvore frondosa, onde o antigo balanço de madeira está pendurado. É meu lugar favorito aqui. Ao observar o mar, sou preenchida por uma sensação de paz que tanto busco atualmente. Dou um longo suspiro. Meus pais estão se divorciando, e, apesar de amá-los, sei que essa foi a decisão mais correta e honesta que eles tomaram. Não é saudável para ninguém viver da forma como eles estão vivendo. Mas é tão doloroso ver um amor que outrora foi tão sólido e feliz se desmanchar como castelos de areia beijados pelas ondas do mar! Tem horas que sinto vontade de gritar com eles, sacudi-los, sei lá, tomar qualquer atitude para que eles simplesmente parem e olhem um para o outro. As razões das discussões ainda são um mistério para mim. Eles evitam conversar comigo, não sei se por medo de concretizar uma decisão que já foi tomada ou porque, para eles, ainda sou criança e não estou pronta para saber as causas do fim. Para que eles tenham um pouco de privacidade, resolvi dar um tempo aqui. 11


Estava assim, observando o mar, perdida em pensamentos, quando o vejo. As nuvens escuras que cobrem o céu como um grande manto cinza tornam impensável alguém se aventurar no mar. Com curiosidade, desço a encosta da falésia até a praia. De onde estou, só consigo ver uma minúscula cabeça que aparece uma vez ou outra acima da arrebentação das ondas. O mar está cada vez mais agitado, olho o céu e vejo que a tempestade que está se formando aproxima-se rapidamente. Chego mais perto da praia e a ansiedade começa a me dominar. Sento-me na areia, mantendo uma distância segura, sem saber ao certo o que fazer. Estou sozinha na casa, é terça-feira, o que diminui drasticamente o número de pessoas que frequentam este lugar. Na verdade, esta praia só é frequentada por alguns surfistas, que enfrentam a distância e o difícil acesso da enseada para usufruir das altas ondas que se formam aqui. Coloco as mãos sobre os olhos e tento enxergar melhor. Fico como em transe observando o nadador solitário. As ondas estão mais fortes a cada minuto. Sou arrancada do meu transe quando percebo que o nadador está tendo problemas. Aproximo-me da água, tentando entender o que acontece, quando noto que, na verdade, ele não está mais nadando, está tentando manter-se na superfície. Entro na água sem pensar. Mergulho sem me importar como vou fazer para ajudar, eu só quero alcançá-lo. Com vigorosas braçadas, vou em sua direção. O mar revolto e a chuva que começa a cair tornam a visibilidade difícil. Nado, então, o mais rápido que consigo. A distância não é muito grande, mas as fortes ondas que estão se formando tornam o percurso difícil. Grito, tentando chamar sua atenção, mas minha voz sai entrecortada. O pânico tenta me dominar, mas também é o que parece me dar forças para avançar sobre as ondas violentas e a chuva que agora se torna densa. Lutando contra a correnteza que tenta me levar para longe e o medo que se avoluma dentro de mim, consigo gritar as palavras de forma clara. — Estou chegando, estou chegando! — grito, desesperada. — Aguente firme! 12


Uma onda enorme me obriga a mergulhar, e o pânico de perdê-lo de vista me envolve completamente. Emergindo novamente, procuro desesperada qualquer sinal dele. Vejo sua cabeça mais próxima agora. Não vou perdê-lo. Determinada a resgatá-lo, continuo nadando cada vez mais rápido. Quando consigo alcançá-lo, uma sensação de alívio me invade. Ele está exausto e quase não consegue manter a cabeça fora da água. A chuva agora desaba copiosamente. Ventos fortes jogam água em nosso rosto e faço um esforço muito grande para segurar sua cabeça na superfície. Meus olhos estão ardendo e meus braços estão cansados, mas o seguro por baixo do braço da melhor maneira que posso. Uma onda nos atinge, engulo um pouco de água e mais uma vez luto contra o pânico. Segurando-o, deixo a correnteza nos arrastar para a praia. Quando meus pés tocam o chão, estou exausta. Tentando me manter de pé, seguro seus braços e o arrasto para a praia. Meu corpo esgotado desaba sobre ele assim que chegamos à areia. Tossindo, consigo me recompor e sair de cima dele. Fico de pé e o puxo pelos braços para a areia o mais longe que posso do mar. O vento forte e a chuva colam meus cabelos no rosto. Afasto com impaciência. Continuo puxando-o da melhor maneira que posso. Quando estamos a uma distância segura da água, observo seu rosto com atenção. Seus olhos continuam fechados. Seus cabelos, quase do comprimento dos meus, estão colados em seu rosto, escondendo um pouco suas feições. Olho por toda a praia mesmo sabendo que não tem ninguém para ajudar. Apesar de continuar de olhos fechados, sei que ele está vivo, sua respiração está ofegante, mas ele permanece de olhos fechados. É como se tivesse adormecido profundamente. Sacudindo seu ombro de leve, tento acordá-lo. Afasto o cabelo de seu rosto e não sei por quê, mas sinto meu coração dar um pequeno salto dentro do peito. Continuo a chamá-lo, tentando acordá-lo, e já começo a me preocupar, quando ele, tossindo um pouco, abre os olhos. Prendo a respiração. Meu Deus, que olhos lindos! Cílios espessos cobrem um par de 13


olhos de um verde-escuro que me olha de forma limpa e clara. Ele é lindo! Rosto másculo, lábios grossos, nariz anguloso, traços tão harmônicos, que me pego imaginando como aquele rosto deve ficar com um sorriso... Pisco, pela intensidade de seu olhar, e tento falar. Sinto meu rosto enrubescer. “Droga, o que está acontecendo comigo?”, penso, irritada. Ele se senta, desnorteado. A confusão está estampada em seu semblante. A chuva agora é apenas um chuvisco, a tempestade está passando, arrastada pelos fortes ventos. — Cara, você me deu um grande susto! Você está bem? Ele franze a testa como se não entendesse como chegou até a praia e responde, ainda confuso: — Agora estou. — Não viu a tempestade se aproximando? É perigoso demais nadar com o mar assim! Fico parada olhando para ele como uma perfeita idiota, sem saber por que meu coração está tão acelerado. Tento me acalmar. Respiro fundo e pergunto: — O que aconteceu? Ele continua me olhando, agora de forma concentrada, como se só agora estivesse recobrando a consciência. Surpresa e algo mais passam rapidamente por seu rosto. Pigarreando, ele limpa a garganta e diz: — Estava me afogando, eu acho, e você me salvou. Revirando os olhos para esse pensamento, digo: — Que você estava se afogando eu percebi, só não entendi como isso foi possível. Ele desvia seus olhos dos meus e murmura: — Câimbras, eu acho. Fico em silêncio, esperando que continue. Ele franze ligeiramente a testa e diz: — Te agradeço. Você me ajudou. Na verdade, me salvou. Quase não consigo acreditar no que poderia acontecer se você não estivesse por perto. Confusa com a frieza com que ele me agradeceu, pergunto: 14


— Não sentiu os primeiros sinais das câimbras? Mais uma vez, ele desvia os olhos dos meus enquanto diz, de forma quase rude: — Na verdade, ignorei. Achei que era apenas cansaço, mas de repente perdi o controle das minhas pernas, não conseguia mexê-las. Tento manter minha expressão neutra, mas a verdade é que seus olhos me perturbam de uma maneira esquisita. Sua frieza me desconcerta. Fico de pé e pergunto, apontando para suas pernas: — Acha que consegue andar? Ele flexiona os dedos dos pés e massageia a panturrilha. Olha-me como se só agora se desse conta de que eu o salvei e diz, de forma mais suave: — Sim, acho que hoje nadei mais do que deveria. Assentindo com a cabeça, pergunto, minha voz saindo mais rouca do que de costume: — Mora aqui perto? Nunca te vi por aqui... Seu olhar percorre todo o meu corpo. Ele trava seus olhos nos meus e responde: — Mais ou menos, no momento estou morando. Mordendo o lábio, fico indecisa sobre como agir. O mais educado seria convidá-lo para ir até em casa, já que ele estava se afogando. Mas, pensando bem, ele é um desconhecido. Melhor não. Seus olhos estão cravados nos meus. Desviando do seu olhar intenso, baixo os olhos para minha roupa encharcada e só agora começo a sentir frio. Cruzo os braços em frente ao peito, tentando me abraçar. Os pelos do meu braço estão arrepiados, não sei se devido ao frio ou à intensidade daquele olhar. Tento parecer descontraída: — Bem, tente nadar mais próximo à praia da próxima vez. É mais seguro. Ele me olha com curiosidade, e um pequeno sorriso se espalha por seu rosto, deixando-o mais lindo do que já é — se é que isso é possível. — Vou seguir seu conselho. Dou um sorriso meio sem graça e tento soar o mais natural possível: — Sorte sua que eu estava por perto... 15


Uma suave brisa sopra e sinto os pelos do meu braço se eriçarem novamente. Confusa, me despeço. — Bem, vou indo. — Espere — ele diz, segurando meu braço. Dedos fortes e uma mão máscula trazem uma onda de eletricidade para meu corpo e me pergunto por que diabos eu estou tão sensível hoje. Exasperada, suspiro. Meus olhos baixam para a mão que segura meu braço. Ele lentamente me solta e diz: — Meu anjo protetor tem nome? — Anjo? — meus lábios se curvam para cima e, balançando a cabeça, digo: — Não creio que anjo seja uma palavra adequada para me descrever. Ele ergue uma sobrancelha grossa e diz: — Por que não? Não respondo. Sua sobrancelha continua erguida, esperando uma resposta. Um calafrio percorre meu corpo e percebo que nada tem a ver com minhas roupas molhadas. Respondo, confusa: — Clara. — Clara... — repete suavemente. Sua voz é rouca ao pronunciar meu nome. Sentindo-me corar com a intensidade do seu olhar, tento quebrar o encanto. — E você é? — Théo... Muito prazer, Clara — diz, e estende a mão. Olho para a mão estendida e sinto um formigamento de antecipação por segurá-la. — O prazer é meu, Théo, fico feliz que eu tenha chegado a tempo. Sério e com uma expressão misteriosa, ele responde: — Sim, também fico feliz que você tenha me encontrado... Olho dentro dos seus olhos e sinto uma emoção desconhecida me envolver. Murmurando uma desculpa qualquer, dou as costas sem saber por que de repente meu coração acelerou novamente.

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Capítulo II “É preciso ter coragem de agir em vez de reagir.” Ear lene L arson

Chego em casa ofegante. Não sei exatamente se por causa do esforço físico ou pela inquietação que aqueles olhos me causaram. Tiro apressadamente minhas roupas molhadas e vou tomar um banho. Imagens estranhas de corpos se entrelaçando, do mar revolto e de olhos inquietos inundam minha mente. Saio do banho e balanço a cabeça fortemente, como para expulsar aquelas imagens, e, sorrindo para mim mesma, chego à conclusão de que preciso parar de ler romances eróticos. Troco de roupa, vestindo um velho short jeans rasgado e uma regata preta, penteio rapidamente meus cabelos, pego o livro que estou lendo e vou para a cozinha preparar uma xícara de café. Cafeína. É disso que preciso para clarear as ideias. Com a xícara de café nas mãos e o livro embaixo do braço, vou para a sala e me jogo no confortável sofá. Ligo a TV e tento me concentrar no noticiário, mas os pensamentos voltam a todo minuto para Théo. Estou distraída bebericando meu café, até o som do meu celular me despertar. Olhando para o aparelho em minhas mãos, fico surpresa ao perceber que é a minha mãe e que já perdi várias chamadas dela hoje. Nossa relação não anda bem. O divórcio entre eles criou uma tensão entre nós que não existia antes. Suas constantes mudanças de humor e o fato de tornar-se agressiva sem motivo aparente, descontando 17


em mim suas frustrações, abalaram nossa convivência e nossas brigas são cada vez mais regulares. Essa foi uma das razões que me trouxeram para cá. O fato de ela estar me ligando é, no mínimo, esquisito. Retorno a ligação, temendo que algo muito grave tivesse acontecido. Ela atende no primeiro toque. Parece aflita. Respiro fundo e procuro me concentrar em nossa conversa. — Oi, mãe. Silêncio. Um constrangimento que não existia antes paira entre nós. Ouço sua respiração e aguardo: — Clara, você está bem? Onde você estava? Por que não atendeu ao maldito telefone? — Bom dia para você também, mãe — ironizo, chateada com o bombardeio. — Não tem graça! Liguei para você várias vezes na última hora. Já não basta estar aí sozinha, nos preocupando? — Preocupando vocês? Do que você está falando? — Você sabe muito bem como fica esta praia neste período. Completamente deserta. Sem sombra de dúvida, isso é motivo de preocupação! — diz, irritada. A chuva está de volta. Grossos pingos batem na janela aberta. Levanto-me para fechá-la. Respiro fundo e tento não me abalar com o tom de voz que ela usou para falar comigo. — Mãe, calma, está bem? O que houve? Aconteceu algo grave? Por que você está tão agitada? Foi algo com o papai? Ela parece perceber o exagero em sua reação. Ouço sua respiração e sei que tenta se acalmar. Nossa relação, que sempre foi muito harmoniosa, transformou-se em um caos nos últimos meses. Para se ocupar, ela tenta monitorar todos os meus passos. Sempre fui criada com muita autonomia, e ter minha mãe tentando me controlar de uma hora para a outra tem nos levado a discussões sem fim por nada. Meu pai tentou conversar comigo e até pediu que eu fosse mais tolerante com ela. Como ambos se negam a explicar o motivo da separação, não tenho tentado compreender os motivos de ninguém. Sinto raiva dos dois. Das coisas que eles teimam em esconder de mim. Ouço sua voz insegura e imediatamente me arrependo. Eu a amo e não gosto de brigar com ela. 18


— Não... Desculpe se pareci nervosa — ela diz. Dá um longo suspiro para se acalmar e continua: — É que não dormi bem à noite e senti vontade de ouvir sua voz, e, como você não atendia ao telefone e está aí sozinha, pensei que algo poderia ter acontecido, filha. Volto para o sofá e sento. — Mãe, não está me escondendo algo, está? Ela fica em silêncio por alguns minutos e depois responde, com uma voz cansada: — Não. Como disse, não dormi bem e acordei um pouco estressada. Desculpe se te assustei — suspira e tenta mudar o tom da conversa: — E aí, como estão as coisas? Estava na praia? Aliviada pela mudança em seu tom, respondo: — Na verdade, estava começando a tomar um café quando ouvi o celular. — Te liguei várias vezes hoje — acusa, suavemente. Decido não contar o pequeno incidente que aconteceu mais cedo, com o misterioso Théo. Ela iria me fazer voltar imediatamente para casa. — Clara? — do outro lado da linha, ela espera uma explicação. — Desculpe, mãe, me distraí. Apenas dei uma caminhada. O mar está revolto, está chovendo. — Seu pai te ligou? — pergunta, em um murmúrio. Fecho os olhos e entendo as razões da sua ligação. Ela está sozinha em casa. — Não, ainda não — respondo, suavemente. — Entendo... — diz, com uma voz desolada. — Mãe, o que está acontecendo? Você está realmente bem? — pergunto, mesmo contra vontade. Sei que ela não vai me responder. Tenho feito essa pergunta várias vezes nos últimos dias. Ouço seu suspiro e espero a resposta. Ela apenas diz: — Desculpe mais uma vez, filha. Esqueça. Não é nada, não foi nada. Como já te disse, apenas uma noite ruim. Estou sentindo sua falta, estou com muita saudade... Conversamos por alguns minutos e nos despedimos. Pego minha xícara de café e suspiro, desanimada. Está gelado. 19


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