A grifolia continua, companheiros
Um fantasma ronda o Brasil ─ o fantasma do carnaval. Todas as potências conservadoras do país unem-se numa santa aliança para avacalhar com ele: moralistas de cuecas e carolas de carteirinha, milicianos e patriotários, bolsonaristas e faria limers. São dias sem especulação (digo, operação) na bolsa de valores, dizem alguns. Dias pecaminosos, considerou o cara receptador de joias das arábias ao divulgar um vídeo pornográfico para provar suas afirmações. Além das críticas mais genéricas tipo, “os homens não estão de azul, alguns usam até rosa”.
É tudo conversa fiada. O carnaval assusta por ser o principal acontecimento cultural e social brasileiro. Mais que Rock in Rio, Lollapalooza e o show de fim de ano do Roberto Carlos. Somados!
A construção das alegorias e do universo paralelo apresentados nos sambódromos é solidária. Os sambas contam histórias do Brasil.
“Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês”
Era preciso ouvir o povo, alertava a Mangueira no início do pior governo da história desse país. Ouvir e cuidar das vítimas das enxurradas anuais de verão ─ este ano foi no litoral de São Paulo ─ do negacionismo, do neoliberalismo, do desmatamento, do machismo, do racismo, enfim de tudo o que o governo derrotado legou, escondeu em segredos de cem anos ou mochilas. Muitos anos antes, a música do carnaval que até hoje se toca nessa época, tinha o refrão: “Ei, você aí, me dá um dinheiro aí”. Era no tempo que se dizia “No Brasil, o ano só começa depois do carnaval”. Não é mais assim. O fantasma do carnaval continua rondando:
“Ei, Banco Central, baixa esse juro aí”.
O Grifo
Jornal de humor e política,desde outubro de 2020.
Eletrônico, mensal e gratuito. Publicação de cartunistas da Grafar (Grafistas Associados do RS)
Editor: Celso Augusto Schröder
Editor adjunto: Marco Schuster. Mídias sociais: Lu Vieira
Participam desta edição: Bahia: Cau Gomez e Hector Cartunista
Minas Gerais: Lor e Quinho
Paraná: Benett
Pernambuco: Thiago Lucas
Rio de Janeiro: Aroeira, Caio Paiva, Carol Cospe Fogo, Latuff, Marcelo Martinez e Miguel Paiva
Rio Grande do Norte: Brum
Rio Grande do Sul: Alisson Affonso, Bier, Carlos Roberto Winckler, Donga, Edgar Vasques, Ernani Ssó, Eugênio Neves, Fabiane Langona, Gilmar Eitelwein, Jeferson Miola, Lu Vieira, Máucio Rodrigues, Moisés Mendes, Omar Rösler, Santiago, Schröder, Tarso e Uberti
Santa Catarina: Celso Vicenzi,Cláudio Duarte e Zé Dassilva
São Paulo: Bira Dantas, Caco Bisol, Carlos Castelo, Céllus,Fernando Vasqs, Gilmar Machado, Jorge o Mau, Jota Camelo, Luiz Hespanha, Luiz Lanzetta, Mouzar Benedito e Paulo
Stocker
E MAIS:
Argentina: Adão Iturrusgarai
Colômbia: Elena Ospina
Cuba: Mongo-Ramón Diaz Yanez
México: Angel Boligán
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Adeus, Capitão
Ainda cantando o samba-enredo da Imperatriz?
“É poesia na escola e no sertão A voz do povo, profeta das ruas”.
Cordel na avenida, xaxado sambado (ou samba xaxado).Lampião realumiado.
Um país junto e misturado sobe ao poder.
“Num mar de dendê Caboclo, andarilho, mensageiro
Das mãos que riscam pemba no terreiro
Renasce Palmares, Zumbi Agbá!” previa o samba da Grande Rio no carnaval de 2022. Junto com isso, chegou a hora de enfrentar o lodo fedorento produzido pelo bolsonarismo: desmatamento e garimpo ilegais acompanhados de estupros e genocídio; milícias liberadas; trabalho escravo; juros altos inviabilizando investimentos públicos; tornar-se pária internacional e, para completar o quadro da dor, contrabandista oficial.
O Brasil precisa largar esse passado. Diz um verso da escola campeã de 2023: “E foi-se então … Adeus capitão”.
O Bloco dos Juros Altos
Luiz Augusto Estrella Faria
As festas de carnaval em Salvador são famosas pela brincadeira de dançar nas ruas da cidade seguindo os blocos que desfilam cada um atrás do seu trio elétrico. Entretanto e de forma diferente do que é costume em quase todo o Brasil, a brincadeira não sai de graça. Para ocupar um lugar no cortejo é preciso comprar o abadá, a fantasia que dá acesso ao espaço logo atrás da frevioca, o carro onde a banda toca animando a festa. Quem não paga, não brinca. Em outubro passado Lula foi eleito para animar um outro tipo de brincadeira, bem mais importante que a folia carnavalesca. Como ele próprio resumiu, cuidar do povo, tão sofrido e maltratado pelo governo anterior. Cuidar é realizar obras e serviços que são fundamentais para a imensa maioria que carece de moradia, saneamento, transporte, saúde, educação e assistência. Nesse bloco todos podem entrar e brincar com qualquer fantasia. Não há abadá. Mas então quem paga os músicos e demais artistas que animam a festa? O governo, empregando os recursos da arrecadação de impostos e da dívida pública. As duas formas de financiamento têm uma grande diferença, já que a dívida tem um custo na forma dos juros pagos a investidores que “emprestam” para o governo. Problema: o Brasil é um dos países onde esses juros são os mais altos do mundo, razão do debate acirrado sobre o porquê dessa situação surgido às vésperas do Carnaval de 2023. Além de pagar projetos, programas e investimentos do governo, a dívida tem outra importante função. É através dela que o Banco Central faz a política monetária, aumentando ou diminuindo a circulação de moeda e fixando a taxa de referência para os juros de toda a economia. Assim, juros baixos reduzem a despesa do governo e tornam o financiamento mais barato, possibilitando que as empresas e pessoas possam gastar mais e investir em novos negócios e oportunidades. Quando os juros sobem, sobe o gasto financeiro e o governo é obrigado a cortar recursos para suas políticas; os investimentos diminuem e a economia reduz seu crescimento ou entra em recessão.
Os juros da dívida também são usados pelo Banco Central como meio de diminuir a inflação até uma meta decidida pelo governo. Guedes e Bolsonaro a fixaram em 3,25%. Entretanto, em razão da crise
mundial da covid-19 e da guerra na Ucrânia, a inflação cresceu muito entre janeiro de 2021 e abril de 2022, chegando a12,13%. Já que a política de metas usa como arma exclusivamente o nível dos juros, na tentativa de atingi-la foi feito um aumento forte e continuado dos mesmos, que estavam em 2% então e alcançaram 13,25% em julho de 2022. A inflação seguiu sua trajetória de queda continuada até chegar aos 5,77% de hoje. Entrementes, os juros continuaram subindo até 13,75% em agosto de 2022, onde permanecem. Como consequência dessa alta, a dívida bruta do governo subiu de 57,2% do PIB (3,9 trilhões) com Dilma para 73,5% (7,2 trilhões) deixados por Bolsonaro e Guedes. Lula vem perguntando desde antes de assumir a presidência por que com a queda da inflação os juros não foram reduzidos? Se foi possível convencer o Congresso a aprovar a PEC da transição para viabilizar a volta do Bolsa Família, o aumento do salário-mínimo e despesas com saúde e educação, por que o Banco Central não faz a sua parte liberando recursos hoje consumidos nos enormes pagamentos de juros?
Acontece que há quem ganhe com esses juros elevados, pessoas que têm dinheiro para aplicar em fundos financeiros que passam a render mais, os ricos que compram títulos do governo para seus investimentos. E há uma chusma de economistas “do mercado” e comentaristas na imprensa que só se informam com esses economistas, alegando a inflação fora da meta como razão para manter juros altos. Com a taxa atual a dívida pública representa mais da metade do gasto do orçamento da união, custo do pagamento de juros e da recompra de títulos vencidos, o que só beneficia a elite do dinheiro.
Mas qual a razão de o Banco Central favorecer esses interesses? Há muitos anos no Brasil os diretores do Banco Central são sempre pessoas oriundas do mercado financeiro, diretores de bancos e fundos e assessores econômicos. Ora, os bancos e seus clientes são como aqueles blocos do carnaval soteropolitano, vivem de cobrar seu abadá, com a diferença de que nada fazem para animar a folia. Ainda mais, neste caso o pagamento acaba com a diversão e a farra, pois retira recursos do governo que poderiam pagar a dança da melhora da vida do povo. Assim, é mais que necessário apoiar a determinação de Lula de enfrentar o Banco Central e sua predileção pelos ricos.
HÁ 61 ANOS
ÁGUA NÃO É MERCADORIA
O sequestro da democracia
Jefferson MiolaA vitória do presidente Lula em 30 de outubro de 2022 pôs fim ao mais desastroso, trágico e destrutivo governo da história da República.
E significou, também, a interrupção do pesadelo fascista-militar e o fim das políticas nefastas do governo encerrado em 31 de dezembro.
Seria lógico e natural, portanto, o governo eleito assumir integralmente o comando do país, inclusive do Banco Central, para gerir a taxa de juros e o sistema de dívida e, desse modo, poder aplicar o programa vitorioso nas urnas. Mas não é o que pensam os rentistas, a ortodoxia neoliberal e a mídia hegemônica.
Nas aparências, eles até toleram a democracia. Porém, com uma condição básica: desde que a soberania popular não se atreva a escolher representantes que afetem seus ganhos fáceis, auferidos sem trabalho e às custas da fome, do sofrimento e da miséria de milhões de brasileiros.
A única democracia aceita, na perspectiva neoliberal, é a “democracia inofensiva”, em que a rotina eleitoral até pode promover o revezamento de políticos no poder, mas sem afetar os dogmas do deus-mercado.
O Banco Central “independente” funciona como um gabinete paralelo dos derrotados na eleição. Mudou o governo, mas eles impedem que a política monetária seja mudada.
O apego ao controle dos juros é compreensível. Afinal, a taxa estratosférica de 13,75% para pagar juros da dívida é o negócio mais
lucrativo do mundo: 8% real ao ano, já descontada a inflação.
O economista André Lara Resende calcula que em apenas dois anos de “independência” do Banco Central o bolsa-rentismo custou 5,4% a mais do PIB – cerca de R$ 410 bilhões a mais – sem, no entanto, conseguir manter a inflação na meta, o que seria motivo para o Senado demitir o presidente bolsonarista da instituição.
De acordo com estimativa do Banco Inter, em 2023 o custo da dívida deverá causar um desfalque recorde de R$ 790 bilhões nas contas do Tesouro.
Esta cifra monumental, que será apropriada por um punhado de beneficiários do bolsa-rentismo, é R$ 203 bilhões maior que esta despesa em 2022 e R$ 478 bilhões superior aos juros pagos no último ano antes da independência do Banco Central, em 2020. Numa orgia financeira tão atraente, nenhum dono de dinheiro hesitaria. Ninguém vai aplicar em atividade produtiva e gerar emprego se é mais sedutor comprar títulos da dívida. Neste nirvana financeiro, dinheiro multiplica
dinheiro sem nenhum esforço, sem nenhum risco e com absoluta segurança e liquidez. Quando decide por conta própria manter juros exorbitantes sem pedir autorização ao governo e ao Congresso, como é obrigatório com qualquer outra despesa pública, o Banco Central cria irresponsavelmente despesas gigantescas para o Tesouro e causa desequilíbrio fiscal.
É como um governo dentro do governo, que atua à margem dos poderes legitimados pela soberania popular – o Legislativo e o Executivo.
Governo que não controla juros e dívida não governa; se converte em mero gestor da escassez orçamentária causada pelo Banco Central, ficando obrigado a cortar cada vez mais o orçamento público para remunerar rentistas. A política equivocada de juros altos alimenta o maior sistema de rapinagem do mundo e sabota a reconstrução econômica do Brasil. O Banco Central “independente”sequestra a democracia e, com a estratégia de terrorismo e sabotagem financeira, dá continuidade ao 8 de janeiro.
Em que ponto o Peru se fodeu?, se pergunta Santiago, tão fodido quanto o país, personagem do romance de Vargas Llosa, “Conversa na Catedral”. Há quem diga que o Peru não existe como nação, seria um sonho em meio a ruínas de projetos reformistas naufragados: as reformas pelo alto de Velasquez Alvarado (1969-1975), do governo de Alan García (1985-1990), do governo de Ollanta Humala ( 2011-2016) e recentemente de Pedro Castillo após 18 meses de governo (20212022); mais a luta fratricida entre facções da direita e a atuação ultraesquerdista do Sendero Luminoso derrotado em 1992, que enfraqueceu ideologicamente posições de esquerda, e a persistente desqualificação da política que abriram espaço ao outsider Alberto Fujimori (1990-2000), que lançou as bases do modelo internacionalizado sintetizado na Constituição de 1993.
Aprofundaram-se as diferenças regionais, a renda concentrouse na região de Lima e acelerouse a instabilidade institucional. Antes de Castillo, em quatro anos, sucederam-se seis presidentes. Politicamente, o Executivo ficou limitado pela forma espúria de parlamentarismo criada pelo Congresso. Economicamente, é ultraliberal ao transformar o território nacional em mero campo de operações do capital financeiro e mineradoras ao qual se aliam setores tradicionais da economia peruana e parte da classe média. Pedro Castillo
venceu Keiko Fujimori por estreita margem, o partido de esquerda ao qual estava filiado é relativamente novo e frágil, o Congresso é hegemonizado pela direita conservadora e por fujimoristas. Castillo emergiu como símbolo de insatisfações acumuladas das classes populares desprezadas (os cholos: camponeses, povos originários, mestiços pobres) e de regiões que se viram abandonadas, Norte e Sul. O cerco conservador somado à precariedade do espaço de negociações levou ao isolamento do governo, à trocas incessantes de ministros, à instabilidade da base política de apoio, a duas tentativas de impeachment, e ao final à desautorização do Executivo com a unificação de ações das Forças Armadas, Justiça, Ministério Público e Congresso e Mídia em um “comitê de crise”, além de atos de rua.
Retornou o fujimorismo, normalizou-se o “terruqueo”, taxando-se de comunista ou terrorista qualquer oposição ao status quo - ou de traidores setores dissidentes da classe média urbana, a “esquerda caviar”- o racismo recrudesceu. Antes de ser derrubado em outra ação de impeachment por “permanente incapacidade moral”, em ato de
desespero, Castillo, em mensagem à Nação, dissolveu o Congresso, convocou novas eleições para uma constituinte, decretou estado de exceção e dissolveu o Judiciário. Sofre processo de impeachment e é preso preventivamente. Assume a presidência sua vice, Dina Boluarte, que, em regime de coparticipação com o Congresso, pretendia ficar até 2026. Eclodem manifestações em todo país com ampla participação dos povos originários, organizações populares e forte protagonismo feminino, que culminam na Marcha até Lima ao final de janeiro. Exigem a renúncia de Boluarte, antecipação das eleições gerais para 2023, Constituinte e liberdade de Castillo. A reação golpista se expressa na decretação do estado de emergência, em algumas províncias também em toque de recolher, na repressão violenta que resultou em dezenas de mortos e centenas de feridos. Já se admite antecipar eleições. Mas há um veto: o modelo econômico não deve ser mudado, daí a oposição à Constituinte. Admitese uma democracia oligárquica, a quadratura do círculo. Nova marcha se organiza dos 4 Suyos (pontos cardeais) até Lima para março.
A quadratura do círculo da democracia blindada e a democracia real
CarlosWinckler
Afasta de mim este cálice
O lado bolsonarista do Rio Grande do Sul se supera. Teve aquele da censura a uma palestra do ministro do STF, Luiz Fux, outra foi a ex-senadora (o que é feito dela mesmo?) que elogiou relhaços em militantes do Lula. A maioria dos vereadores de Porto Alegre aprovou uma moção pelo impeachment de Lula e homenagearam Olavo de Carvalho numa rua (se fosse um beco sem saída, era justo). Mas o caso da colheita da uva não tem nada de caricato. Descobriram em Bento Gonçalves, “capital brasileira do vinho”, 207 pessoas, a maioria baiana, em trabalho escravo (análogo à escravidão”, preferiu a imprensona). Colhiam uvas em parreiras para vinícolas (Aurora, Garibaldi e Salton), mal hospedados e mal pagos e ainda obrigados a comprar fiado num único armazém.
Cada um correu com sua versão, desde “não saber dessas condições”, pois eram trabalhadores terceirizados, ou, como declarou uma entidade, que isso acontecia por culpa dos programas assistencialistas do governo. Um vereador, da vizinha cidade de Caxias do Sul, a maior do interior do estado, manifestou-se na tribuna debochando dos baianos e sugerindo que os empresários contratassem argentinos por serem “limpos e não reclamarem”. Já tá com processo de cassação de mandato.
O lado não bolsonarista tá agindo.
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Perdeu, mané! chega de Miami-mi-mi.
-Brasília: Em lago que tem carpa, piranha fica no seco.
-A maior atração da Semana Farroupilha será o campeonato de chula com tornozeleira eletrônica.
-Damares passou 14 horas numa academia de estética. Só pra fazer o orçamento.
-Inteligência artificial, sei não. Da burrice natural eu tenho certeza absoluta.
-A maior prova de que o carnaval chegou é o anúncio de tanga masculina que fala em “novas sensações”. O que diria o Paixão Côrtes sobre isso?
-Que extraterrestre seria tão estúpido a ponto de querer alguma coisa por aqui?
-Numa ressonância magnética, na capital, a placa de platina da minha cabeça sintonizou a Rádio Serra Azul, de Cerro Largo.
-Trabalhando o lado zen. Zen saco, zen carro, zen praia, zen réu primário...
-No caixa do armazém, pagando com cartão.
Eu - É de aproximação?
Moça - Não, de penetração.
-A partir de agora a Ferrovia do Vinho vai se chamar Eisenbahn Arbeit Macht Frei.
-As feministas que me perdoem, mas, nesta semana, vou gritar que adoro ser
O jornalista Clóvis Victória Jr. foi meu colega na assessoria de imprensa do Sindbancários, em Porto Alegre, por vários anos. Mais do que profissional brilhante, é um amigo raro. E foi ele quem batizou o Diabo Rosa de DIABO ROSA, que dá nome a esta coluna. Saravá,
INTERMEDIÁRIO
Quero dormir e não consigo Tenho um encontro atravessado No meio da escada
Pela janela vejo um gato Que aconselha o coração A passear de leve sobre o muro Equilibrando-se entre a sombra venenosa da paixão e o céu do passarinho que escapa do relógio
POA DE JANEIRO
Larguei o olhar Pra que queimasse No inferno do meio dia
O que vi foi o diabo Bebendo guarapa Na sombra escaldante Da Praça XV
Na maioria das vezes, quem nos atendia era o Agenor, lugar-tenente do Nereu. Segundo o Moah, ele ainda está vivo e mora nos arrabaldes. Sinceramente, não sei se isso é bom ou ruim. Pra nós, os velhos gambás da reserva, ele era um ícone bizantino. Aos estranhos, ser atendido por ele poderia evocar um ritual de passagem ambientado na Peste Negra. Seu aspecto não era exatamente o de um garçom. Já havia alcançado aquela idade em que nenhum homem chega sem quebrar um osso. Media mais de metro e oitenta, era bastante magro, careca, de olhos fundos e mãos enormes. Com a iluminação ambiente, lembrava a figura de Nosferatu, o vampiro filmado pelo alemão Murnau, só que sem os caninos (e sem outros vários dentes). A cada novo cliente que chegava, levantava-se por detrás do balcão e ficava parado olhando o desgraçado como quem pergunta “o que que foi?” O recém chegado precisava levantar os olhos. Na minha primeira vez ali, o olhar do Agenor me lembrou de que eu não recebia adicional de insalubridade. Antes de pedir algo, procurei uma cadeira, porque precisava duma distância espistemológica respirável. Puxou uma garrafa de conhaque duma estante com teias de aranha. Havia outros vidros de conserva com pingas misturadas. Num dos frascos repousava uma cobra enrolada. Imaginei que, se o bar se chamasse Van Gogh, haveria uma cachaça com mistura de orelha...
BC atravessou o samba
O Banco Central atravessou o samba na avenida e o Lula teve que marcaar o ritmo para garantir o bloco da economia. Lula bateu pandeiro sozinho durante algumas semanas até que, aos poucos, a bateria do mercado começou a acompanhar o balanço do presidente. Foi no gogó e no couro do gato que Lula deu a linha do social para um samba que se encaminhava para um tom liberal com ênfase no econômico. O Banco Central, ruim das cadeiras, tenta acertar o passo com o samba enredo que exalta a distribuição de renda e a industrialização da escola. Como um compositor que também é o diretor da escola de samba, Lula correu o risco de desafinar e de atrasar o desfile, mas garantiu a
empolgação das alas e entrou na avenida na hora certa e com o pique correto.
O problema é que a ala do Banco Central tem um puxador que é de outra escola e não decorou o samba nem memorizou os passos da Escola de Samba União e Reconstrução, campeã das últimas eleições. A ala do Branco Central é responsável pela garantia do enredo, embora alguns achem que sua função é permitir que cada membro cante o que quiser. Lula deu o tom e o surdo marcou o passo que a ala deve seguir. saudita? O gosto pelo picadinho humano.
Continuo achando, como achei em 2018, que será Marielle quem colocará eles na cadeia.
Vai e volta e os “comentaristas” da Globo News retomam a cantilena da “política”, ruim, contra a “economia”, boa. Na estranha lógica dos jornalistas o Haddad é a economia e o Lula a política. Estão mais perdidos do que cusco em tiroteio. Valdo chega a buscar o Palloci como bom exemplo.
À Globo, que só reagiu ao Bolsonaro quando o Brasil mergulhou de vez no caos com mais de trezentos mil mortos por Covid e assim mesmo defendeu a política econômica suicida de ministro pinochetista, agora tenta reassumir seu papel de governante de fato do país embora cambaleante como empresa. Conspira, informa mal, opina pior ainda e tenta minar o capital político do PT e do Lula.
A reforma trabalhista de Temer, depois do golpe contra Dilma, foi realizada exatamente para que o mundo do trabalho regulamentado por Getúlio Vargas, retrocedesse à escravidão. Talvez alguns achassem exagero quando afirmávamos isto.
Agora a mídia está surpresa com a escravidão nas vinícolas. Achou natural a terceirização do trabalho que lógica e inexoravelmente encaminharia para a precarização. A “reforma trabalhista” do golpista Temer pavimentou o caminho da escravidão.
A batalha de Lula contra o BC privatizado é necessária, pedagógica, e moralmente defensável. Desta vez não será possível distribuir renda com a economia sequestradas pelo sistema financeiro.
O lavajatismo se perpetua na defesa da “autonomia” do Banco Central. Este é o embate real, o resto é identitarismo e debates consentidos.
Verão no Bananão
•••A marca de Caim do Bananão: 350 anos de escravidão e a presença das Forças Armadas desde 1891.
••• 8 de janeiro. Não foi tentativa de golpe. Os milicos queriam apenas dar uma festa de despedida. Sabe, desafogar as mágoas dos patriotários. Eles estavam cansados de implorar por intervenção militar ou alien. Já tinham chegado a Cristo, os pobres: o que você faz aí pregado? Desce já, vagabundo. Vem dar um jeito nos comunas.
••• Os milicos sofrem de abstinência dos tempos de prendo e arrebento, quando eram razoavelmente respeitados e quase todo mundo era uma velhota da UDN que lia Carlos Lacerda como o Velho Testamento.
••• A rachadinha no cartão corporativo. O bozo saiu do baixo clero, mas o baixo clero não saiu do bozo.
••• No Bananão, golpistas aten-
dem pelo nome de bolsonaristas ou, jocosamente, patriotas. Os milicos entraram na moda da terceirização.
••• O comportamento dos milicos no dia 8 de janeiro. Notaram a semelhança com os métodos da máfia? Manda-se um brutamontes no armazém pra dar uma surra no dono. Daí o homem concorda em pagar pela proteção contra a violência, ora veja só, da máfia. Mas, por ora deu chabu e a imagem das Forças Armadas, que há muito estava no lixo, foi despejada no aterro sanitário.
••• Todo dia se lê em algum jornal um milico dizendo que Lula não deve criticar nem o corte da farda se quiser pacificar as Forças Armadas. Cuméquié? As Forças Armadas são uma tribo hostil muito da selvagem? Serão canibais? Como um trabuco na cintura deixa o cara melindroso, puxa vida
••• Difícil mesmo é pacificar 33
milhões de esfomeados. O que os milicos fariam se esses 33 milhões levassem seus estômagos pra roncar nas portas dos quartéis? Pacificavam ou baixavam o sarrafo?
••• Os milicos perderam os parceiros de golpe. Na linha de frente não apareceu ninguém, nem mesmo o corajoso Braga Neto. Só os manés de sempre. Até o Véio da Havan já tirou o corpo fora, até o Aras disse que ama a democracia. Os gringos, sentindo a água bater na bunda, pela primeira vez disseram não, nananinanão, fenômeno que parece ter elevado um tiquinho o nível de legalismo de alguns comandantes e oficiais.
••• O fato de as Forças Armadas terem precisado ir à sarjeta pegar o bozo para chegarem ao poder dá a verdadeira dimensão dessa instituição.
••• Jacques Tati: “O militar é uma planta que deve ser cuidada com esmero para que não dê frutos”.
– No Carnaval, mas não só, o que faz sucesso aqui em casa é o bloco de notas (das contas a pagar). (Celso Vicenzi)
A gula é uma boa coisa, desde que praticada de boca fechada. (Carlos Castelo)
Dá para acreditar? Um jurado do desfile de escolas de samba do Rio de Janeiro e baixou a nota da Portela porque “falta uma perna no Saci”. (Mouzar Benedito)
– Faço selfie, logo, existo. (Celso Vicenzi)
Sou do tempo do mundão veio, mas ainda tinha porteira. (Carlos Castelo)
Combustão é mulher que usa sutiã tamanho 54.(Mouzar Benedito)
– O Banco é Central, mas está à direita. (Celso Vicenzi)
Escarceo. Confusão ocasionada por presidentes de empresas a caminho da falência. (Carlos Castelo)
Músico clássico bêbado só toca Bach, Chopin e Brahms.(Mouzar Benedito)
Melhor ser um gato de botas do que um bosta de gato. (Carlos Castelo)
– Quem morre no Carnaval é cremado na quarta-feira de cinzas? (Celso Vicenzi)
Libertino é aquele que faz tudo aquilo que a gente quer fazer mas não tem coragem.(Mouzar Benedito)
Os EUA derrubarem óvnis mostra que eles são bons em outras coisas, além de derrubar governos estrangeiros. (Carlos Castelo)
– No Carnaval, a inversão de papéis. Na Bolsa de Valores, a diversão dos papéis. (Celso Vicenzi)
Zenital, segundo me disse um sujeito com a língua presa, é pênis e vagina… (Mouzar Benedito)
A tornozeleira eletrônica ainda é uma ótima forma de controle populacional. (Carlos Castelo)
– Agências informam que robôs já escrevem notícias. Mas vai demorar para serem tão fiéis aos patrões quanto alguns puxa-sacos de carne e osso. (Celso Vicenzi)
Jovem, sem grana e de paladar duvidoso, bebi muito vinho Sangue de Boi. Velho, com alguma grana e de paladar exigente, descobri que andei bebendo saborosos vinhos sangue de escravo.(Mouzar Benedito)
Bolsonaro fala o que quer, e acredita quem quer. E não é que tem quem queira? (Mouzar Benedito)
Quem vandalizou o patrimônio público de Brasília merece pena capital. (Carlos Castelo)
Antigamente havia bobos da corte. Corte não existe mais, no Brasil, mas o que tem de bobo! (Mouzar Benedito)
– Tudo bem que o povo queira o couro dos políticos. Mas por que também não arranca a pele dos banqueiros? (Celso Vicenzi)
– A inadimplência chegou a tal ponto que nem os pecadores estão pagando mais os seus pecados. (Celso Vicenzi)
Não existem garimpeiros, existem mineradoras que usam garimpeiros.( Schröder)
Se a beleza é passageira, o espelho é o cobrador. (Carlos Castelo)
Paulo de Tarso Riccordi
AMÉMDIGO Miserável temente a Deus.
CLAREAMENTO ANAL. Michael- jacksonização do traseiro.
CORCUNDA, s, adj. Aquele que segue a todas as suas inclinações.
Grifo 33! Chegamos à idade de Cristo ( Paulo de Tarso Riccordi) ...
O fechamento de cada edição sempre foi minha cruz. ( Paulo de Tarso Riccordi)
Apanhei mais que renegado na via crucis. ( Paulo de Tarso Riccordi)
Não, nem provei. Quando o nazareno transformou água em vinho, eu já tava de porre. ( Paulo de Tarso Riccordi) .....
O problema do Judas era não confiar em ninguém com mais de 30. ( Paulo de Tarso Riccordi)
Essa nega e eu mesmo
Tenho uma nega
Que não tenho, Não é minha.
Tá comigo, é assim.
Tenho uma nega
Que nem sempre é assim.
Só a tenho quando tá comigo
E se empresta pra mim.
Essa nega é quem me tem
Sempre que me quer.
Não é minha, não sou dela. Mas vai me ocupando, se fazendo mulher.
Somos uma de lá, outro de cá.
Vou pra ela, vem pra mim.
Tamo junto, é bem assim:
Um pra outra, outra pro um.
Vou pra ela, vem pra mim.
Só se dá quando deseja. Eu a desejo o tempo todo. Todo tempo eu sou pra ela, Pra nega que não é minha.
Vez em quando ela dá tudo o que eu quero. Só se dá quando deseja, essa nega, Que não é minha, Mas tá comigo.
E me transborda de alegria Porque me vem assim, Toda pra mim, Como se fosse daqui.
Feito a canção antiga, Eu sou dela, ela é pra mim. Ela não é minha, mas me quer mesmo assim.
E a gente vai ficando, Eu com ela, ela pra mim."
CORRETOR ORTOGRÁFICO. Chato como seu primo, o corretor de seguros.
DENTISTA, aadj, s. CEO da boca.
DEUSAJUSTADO Fanático religioso.
FARSISTA. Fascista farsante.
GARIMPURO. Catador de pedras preciosas em território indígena que revela impudor e indecência.
GOLPE DE ESTADO. A nova forma de se fazer uma piada ruim.
GOVERNAR, v. Brigar com o Banco Central.
HAHAHAINHA. Soberana risível. Ver Rererei.
MÁ CONHA. Marijuana de baixa qualidade.
ROLLS JOYCE Edição especial do Rolls Royce ainda mais inacessível aos mortais
US URÁRIO. Agiota de origem norte-americana.
VIDA, s. Peça de teatro de fantoches sem final feliz.
Se a Grécia foi o berço da civilização, o Brasil é o túmulo. (Carlos Castelo)
Sanidade pouca, meu Rivotril primeiro. (Carlos Castelo)
Bolsonaro fala o que quer, e acredita quem quer. E não é que tem quem queira? (Mouzar Benedito)
Hoje, ninguém consegue mais se apaixonar à primeira vista. (Carlos Castelo)
– São tantos advogados golpistas que a conclusão é que não estudaram direito. (Celso Vicenzi)
Quem me disse foi o Geraldo Tartaruga, de São Luiz do Paraitinga: “Antigamente o diabo aparecia para as pessoas, para os fazendeiros. Hoje não aparece mais: ele tem medo”. (Mouzar Benedito)
Não se pode dar a mão a quem tem um gancho de pirata no lugar dela. (Carlos Castelo)
O lavajatismo se perpetua na defesa da “autonomia” do Banco Central. Este é o embate real, o resto é identitarismo e debates consentidos. (Schröder)
Mouzar BeneditoEvolução de otário é assim: Bate no peito e vira patriotário, Depois, alegre entra em motim, Para ser então presidiotário. ***
Sapos coaxam em protesto sonoro:
“Se continuar assim, esculhamba!
Chega de vir gado pra cá. O brejo é nosso, caramba!” ***
Esbravejou, ameaçou, conspirou...
Do caos se proclamou profeta. Acabou nos braços de Walt Disney, Quase tomou o lugar do Pateta. ***
Imitei uma borboleta
Que a flor beija nela e pousa. Saí do casulo para voar...
Vixe! O que sou é mariposa! ***
Um conceito correto: Façamos um trato...
Poema concreto
Tem que ser abstrato. ***
Que difícil é ser mineiro Nestes tempos, meu bem! Sem trem pra viajar, Chamamos tudo de trem. ***
Queria com o garimpo matar todos, Mas tem Yanomami sobrevivente.
Seus cúmplices sentem saudade
De genocidas de antigamente. ***
Voltaram os bons tempos, Anunciaram no Carnaval. Chega de pessoas “de bem” Que só sabem fazer mal. ***
Agora tem a quaresma. Mas a festa continua. Barrada a era de incerteza, O povo festeja na rua! ***
São Paulo em tempo seco: Poluição no nariz da gente.
AS PANELAS Uberti
Kayser
Livros sobre Porto Alegre: Os Olhos dos Outros, de Manoel Madeira
José WeisRamiro tem nome, sobrenome, RG, CPF e saldo negativo no banco. Está ciente de tudo isso. Ele conhece os moradores da pensão onde mora. Ramiro conhece até mesmo as pessoas que o atendem diariamente nos estabelecimentos e os colegas da Biblioteca Pública, onde trabalha. Mesmo assim, ninguém o reconhece, é apenas um estranho. Assim começa “Os Olhos dos Outros”, de Manoel Madeira (Libretos, 2022).
Um sujeito acorda empapado de suor, dormiu mal e tem pela frente um dia em Porto Alegre, o rádio fala que será “o dia mais quente do ano”. Aos poucos, ao longo da manhã faz descobertas perturbadoras, simplesmente ninguém mais sabe que ele é. Ao sair em busca de uma razão para tudo que está acontecendo, Ramiro entende que precisará passar por processos de aprendizagem. Expulso da pensão, quase sem dinheiro e agora sem ninguém, Ramiro terá que reaprender a viver. Descobrir como se alimentar, descolar algum dinheiro, como usar banheiros e tomar banho. Ele é apenas mais um vulnerável entre outros descartáveis. Aos poucos vai entendendo o quanto pode receber vendendo material reciclável. Tudo tem seu preço, do papel às latinhas de alumínio. Na rua, terá que se virar como faz quem vive sem teto.
O que mais o perturba, é descobrir que até os amigos do passado e a sua paixão platônica, Maya, que sempre o atendia no supermercado aonde ia diariamente, nem ela se lembra dele.
É um sábado, sabe que a Biblioteca está fechada e quem são os guardas, lembra por onde entrar sem ser notado. “A porta se abre e o escuro do porão da biblioteca me ilumina”, aposta Ramiro vislumbrando um possível refúgio. Afinal, o funcionário da Biblioteca é antes de tudo um leitor. Nem as leituras não o salvaram de viver o seu pesadelo. Será uma longa trajetória, não somente em Porto Alegre, mas também em outras regiões. Todavia, apenas uma conquista amorosa e um reencontro poderão redimi-lo. Metáfora contemporânea
“Olha, é importante ressaltar que o livro parte de uma situação impossível: o esquecimento coletivo de uma pessoa, narrado pela mesma. Quis fazer dessa situação limite uma tentativa metafórica”, comenta o autor, Manoel Madeira, que além de escritor é psicanalista. Manoel admite que sua atividade contribuiu para sua escrita. “Num primeiro nível, acredito que essa ideia me veio por influência da psicanálise, campo no qual todo reconhecimento, toda constituição do sujeito (do bebê, da criança), só é possível a partir dos olhos dos outros”, justifica. Tanto o clima ambiente, um calor, mesmo no verão na
cidade, foram de grande proporção e os tempos atuais também são relevantes na história de Ramiro. “O que aconteceria quando esse olhar se apaga por completo? Foi um dos motes. Mas se esse olhar se apaga, tal operação foi produzida fora (do sujeito), ou seja, num segundo nível, o livro é influenciado também por nosso momento enquanto coletivo, pelas lutas por reconhecimento entre os mais diversos grupos, influenciado por um país que, ao se olhar, não reconhece mais a si mesmo”, conclui o autor.
Manoel Madeira, colaborador do jornal Boca de Rua, tem mestrado em antropologia e suas experiências concretas talvez tenham contribuído para escrever seu livro.