Grifo 34

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Lula foi ver a China. Winkler, Eugênio Neves e Latuff revelam tudo

PÁGINAS 9,10,11

Uberti mostra como se desenha

PÁGINA 18

Inacreditável CEM DIAS DE BRASIL

Páginas 3,4,5,6,7

O JORNAL QUE RI Nº 34 ABR 2023
MUNDO
CARTUM

| GRIFO 34 ABR 2023 | 2 | editorial

O novo tempo

Às vezes, meia dúzia de acordes resumem dezenas de dias. Foi o que os chineses fizeram ao receber Lula dia 13 de abril. Tocaram Novo Tempo, música de Ivan Lins e Vitor Martins. “Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos” dizia a dupla em 1980, antevendo a mudança positiva que estava por vir, com o fim da ditadura militar. Em cem dias do novo tempo brasileiro do século 21, já se viu que outro verso da canção serve: “Apesar dos perigos, da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta”. Luta contra o garrote econômico da taxa de juros que favorece bancos e especuladores mas prejudica o país. Luta contra garimpo e desmatamento clandestinos. Luta contra militarização das escolas, infância e da sociedade, contra milícias assassinas e contra zumbis cibernéticos. E mais luta para avançar nas políticas sociais, na geração de emprego, no incentivo à criatividade cultural, e na distribuição de renda. O GRIFO não esquece seu apoio à taxação das grandes fortunas, segue defendendo a democratização da informação, o fortalecimento da imprensa independente, e diz sim à PEC do diploma de jornalismo. Os cem primeiros dias do governo foram uma prévia dos restantes 1361 dias. Não foi só o fiasco criminoso dos patriotários em 8 de janeiro. Os representantes deles no Congresso agem igual quase diariamente no parlamento e nas redes sociais. A imprensona vira-lata segue a ladainha privativista com apoio de muitos governadores, prefeitos, deputados e vereadores. Mas Vitor Martins escreveu que no novo tempo “pra sobreviver”, continuamos na praça, fazendo pirraça: “Pra que nossa esperança seja mais que a vingança Seja sempre um caminho que se deixa de herança”.

Grifo do Eugênio Neves

O Grif0

Jornal de humor e política,desde outubro de 2020.

Eletrônico, mensal e gratuito.

Publicação de cartunistas da Grafar (Grafistas Associados do RS)

Editores: Celso Augusto

Schröder e Marco Schuster.

Editores adjuntos: Celso

Vicenzi e Gilmar Eitelwein

Editor gráfico: Caco Bisol

Mídias sociais: Lu Vieira

Participam desta edição: Rio de Janeiro: Latuff, e Miguel Paiva, Vitor Vannes

Rio Grande do Sul: Bier, Carlos Roberto Winckler, Donga, Edgar Vasques, Ernani

jornalgrifo@gmail.com

Ssó, Eugênio Neves, Fabiane Langona, Gilmar Eitelwein, Jeferson

Miola, Lu Vieira, Máucio Rodrigues, Moisés Mendes, Santiago, Schröder, Uberti

Santa Catarina: Celso Vicenzi.

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São Paulo: Bira Dantas, Jota Camelo, Mouzar Benedito Expediente
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Cem primeiros dias

Os melhores dias do novo ano foram os primeiros 89: Bolsonaro estava fora do país. Felizmente, ele já não consegue mais piorar as coisas, embora tente. Seus parças também. Seja enfrentando ilegalmente ações do governo na recuperação de áreas invadidas e deterioradas na Amazônia, ou incentivando arruaças como as do Rio Grande do Norte, seja na instigação de atentados a escolas ou nos convites a ministros para entrevistas apenas provocativas

no Cogresso. Até mesmo no governo tem ministro agindo como se fosse um bolsonarista inrustido.

O ex-presidente está precisando dar explicações à Justiça e pode se tornar inelegível. A cada pouco se descobre uma nova falcatrua. Estamos melhorando.

O desafio é agir para que os dias seguintes sejam cada vez menos obscuros e mais democráticos e transparentes. Com juros baixos e sem privatizações.

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O Milagre da Democracia

Acreditar em soluções milagrosas, decisões monocráticas, decretos contundentes é como acreditar em deus e não questionar mais nada. De uma certa forma é mais confortável, te exime de responsabilidades e te coloca num lugar privilegiado em cima do muro. Num estudo mais generalizado e superficial as religiões mais imediatas agem assim. Não pergunte, acredite e tudo vai se resolver. Os governos menos democráticos também. Confie nos meus atos, não fique em dúvida e não questione. Vivemos um período recente em que as decisões eram tomadas desta maneira. Claro que nada visava o bem estar da população e sim, hoje sabemos, o bem estar privado de poucos. Como ninguém até então questionava, tudo ia bem. E como eles não pensavam em largar o osso tão cedo, melhor ainda.

Quando você não tem dogmas para te orientar a vida fica tudo mais complicado, mas ao mesmo tempo, mais fascinante. Não saber e querer aprender é muito mais interessante do que aceitar “verdades”. Não acreditar em deus pode ser mais interessante do que aceitar simplesmente que ele existe. Questionar sua existência ou até sua não existência é muito mais interessante. Tudo que faz pensar dá mais trabalho. É gratificante, mas tira você da zona de conforto. Governar o Brasil com essas questões todas que uma aliança tão ampla e necessária se apresenta fica difícil. Uma parte espera de Lula milagres imediatos. Outros torcem pelo fracasso também sem

dar tempo ao tempo e sem participar desta dinâmica de reconstrução. Outras pessoas também reclamam da lentidão da Justiça para julgar os crimes evidentes de Bolsonaro e sua turma. A Justiça democrática, mesmo que lenta como a nossa, é muito mais justa do que os atos sumários e disfarçados de jurídicos que estávamos habituados a engolir. Lula foi preso por Moro e a boa parte da sociedade aceitou sem problemas porque o pensamento comum era o de direita que culpava Lula e o PT por todas as mazelas brasileiras. O projeto da direita envolveu a mídia, o empresariado e a classe média nessa demonização. O próprio Supremo atropelou todos os seus “datas vênias” para justificar a atitude autoritária. Deu no que deu.

Mas hoje, que vivemos tempos diferentes e a falcatrua foi descoberta e denunciada, assistimos uma justiça mais lenta, mas mais

democrática e um governo que tem mais dificuldades para resolver as questões. Mas, a elite que envolve parte da imprensa, está louca para morder o governo eleito pelo povo e que, democraticamente, tenta governar. Difícil viver de fato a democracia. Difícil aceitar os mistérios do universo sem colocar a responsabilidade em deus. Difícil trabalhar por soluções sem desejar no fundo soluções rápidas e milagrosas.

Viver dá trabalho, mas é fascinante. Governar um país dá trabalho, mas o resultado pode ser bem gratificante. Ver um povo mais feliz é como realizar uma tarefa ou descansar depois de um dia inteiro de trabalho e questionamentos. Temos que valorizar aquilo que só o ser humano tem, a capacidade de pensar e elaborar para poder minimizar um defeito que também só nós, acho eu, temos. A capacidade de aniquilar o próximo por mero prazer, doença ou por interesses

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A Miséria da Economia

Nos seus primeiros cem dias de governo Lula reorganizou e ampliou o Bolsa Família, enfrentou o genocídio dos povos indígenas e retomou diversas políticas sociais e de direitos humanos. Entretanto, outros objetivos que vão além do que foi autorizado na PEC da Transição e visam a retomada do crescimento têm dificuldade de ser implementados porque dependem da mudança da política econômica.

Esse tema enfrenta forte oposição dos ricos da Faria Lima e da mídia. A promessa de retomar o crescimento econômico e o emprego com sustentabilidade tanto ambiental como social, reindustrializar a economia em direção a novos setores inovadores e de alta produtividade e redistribuir renda do alto para a base da estrutura social, até o presente não se sabe como será cumprida. Precisa de mudança das políticas monetária e fiscal.

Do lado da moeda, o Banco Central, capturado pelos interesses da oligarquia financeira, permanece obstinado em seu arrocho monetário, juros estratosféricos de 13,75%, para supostamente alcançar a meta fantasiosa de inflação a 2%, um número só visto em 2020 na depressão do auge da pandemia. Nos últimos 30 anos, as melhores marcas ficaram entre 5 e 6%. Os juros altos produziram uma crise de crédito, inadimplência e falências, paralisando a atividade econômica. Além disso, os novos investimentos necessários à

retomada do crescimento ficaram sem financiamento.

Já a política fiscal está amarrada ao teto de gastos, que causa sua redução ao longo do tempo para, supostamente, “estabilizar” a dívida pública. A despesa está congelada desde 2016.Se alguns gastos obrigatoriamente crescem,como previdência, outros devem ser reduzidos. Viu-se isso na saúde, educação e ciência e tecnologia, para não mencionar os investimentos, em nível irrisório desde então.O que Lula conseguiu até agora foi o alívio temporário na PEC da Transição, ampliando algumas despesas em 2023 em pouco mais de 200 bilhões, cerca de 10% do total de 2 trilhões, já descontado o repasse a estados e municípios de perto de 500 bilhões.

Assim temos uma espécie de tempestade perfeita: o gasto não pode subir para não fazer crescer a dívida pública, mas a dívida pública cresce porque os juros estão muito altos.Por conta dos juros, no orçamento de 2023 a dívida vai aumentar 372 bilhões enquanto oinvestimento será de mínimos

62 bilhões. Para tentar um alívio dessa situação, o Ministério da Fazenda está propondo um novo arcabouço fiscal. Na proposta o gasto poderia crescer entre 0,6 e 2,5% ao ano. Além disso, abriu-se uma discussão sobre o Banco Central e seus juros absurdos. A situação lembra um conhecido livro de Marx crítica à filosofia de sua época. É a miséria da economia. Inventam-se parâmetros completamente arbitrários para condicionar as políticas públicas que, supostamente produziriam resultados que são meio e não fim, valores fantasiosamente definidos como ideais para inflação e dívida. A finalidade, produzir bens e serviços públicos para a população em quantidade e qualidade condizente com suas necessidades, fica rigorosamente submetida àqueles valores.Tudo isso para fruição e gozo de quem não quer nenhum outro benefício do Estado que não seja depositar em dia em suas contas milionárias juros da dívida no valor de 5,9% do PIB desde 2002. Só no ano passado, 586 bilhões de reais pingaram no bolso desses privilegiados.

| GRIFO 34 ABR 2023 | 6 | 100 dias de Brasil
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O mala e a Síndrome de Paulo Coelho

Diz a lenda que o mala de esquerda é diferente do mala de direita porque o mala de direita evoluiu e tem rodinhas.

Pois o mala de esquerda está aí de novo. Ele reaparece principalmente quando a esquerda é governo. O mala está de prontidão para dizer: eu falei, eu aviso e eu vou cobrar.

O mala de esquerda já está cobrando resultados de Lula na mesma linha de raciocínio do mercado financeiro e da grande imprensa.

É inacreditável, diz o mala de esquerda, que a marca do governo seja o arcabouço fiscal do Haddad.

É preciso uma marca com jeito de produto de consumo de massa, e isso Lula não tem e será que precisa ter?

O mala de esquerda reclama de Haddad, da comunicação do governo e de barbeiragens pontuais.

A Folha deu de manchete na semana passada que Lula já teve quatro desentendimentos com ministros. Quais? Com que gravidade? Ninguém se lembra.

O mala da esquerda embarca nessas intrigas e acompanha a falação.

Lula tem que se virar para contornar a sabotagem de Roberto Campos Neto no Banco Central.

Precisa armar uma estratégia para enfrentar o achaque da Globo, da Folha e do Estadão.

Tenta se livrar dos bolsonaristas que ainda estão dentro do governo, sentados em cadeiras cedidas à turma do centrão.

Sabe que a Amazônia continua sob domínio não de garimpeiros de chinelo de dedo, mas dos

grandes bandidos das corporações financeiras que exploram o garimpo.

Tem que atender as demandas das urgências do povo, relançar programas exitosos (Mais médicos e Minha casa minha vida), salvar o SUS, resgatar a universidade pública e conter a matança de yanomamis.

E ainda tem que aguentar o mala de esquerda, que não é o necessariamente o esquerdista, ele é apenas mala.

E dureza ter de explicar, como fez no discurso dos cem dias, que se dedica ao urgente, para que o povo tenha o que comer.

Mas o mala parece alheio à guerra permanente enfrentada por Lula, Alckmin, Pimenta, Dino, Haddad, Marina, Almeida, Cida Gonçalves, Ana Moser, Sonia Guajajara.

Ah, dirão, sempre foi assim. Mas ficou pior, porque o mala amadureceu. E amadurecer, nesse caso, significa aperfeiçoar-se como mala.

Lula sabe que a extrema direita

está se rearticulando, porque os líderes da tentativa de golpe se convenceram de que escaparão.

Enfrenta um cenário internacional nebuloso, com as sequelas da guerra e as incertezas nos países ricos.

E ainda tem que dizer ao mala que está trabalhando e que se esforça para fazer o urgente e que tudo o que faz é acordar, passar o dia e ir dormir pensando em soluções.

Lula completou cem dias que, somados aos dos seus dois governos anteriores, são 1.560 dias.

Lula está iniciando o terceiro mandato, tem de vivência no poder, tem noção de tempo e de riscos como talvez nenhum outro brasileiro.

O mala de esquerda, contagiado pela Síndrome de Paulo Coelho, exige uma pressa que é muito mais dos inimigos do que dos que apostaram e apostam em Lula.

Só Deus teve a agilidade que cobram de Lula e criou o mundo em seis dias. Mas vejam no que deu.

| GRIFO 34 ABR 2023 | 8 | fez-se news| moisésmendes

Latuff Latuff

"Em março deste ano, num encontro em Moscou, Xi Jinping disse a Vladimir Putin: "Mudanças estão acontecendo neste momento – do tipo que não víamos há 100 anos – e somos nós que conduzimos essas mudanças juntos". Disse tudo. O mundo está mudando a olhos vistos, e os chargistas podem registrar esse momento para a História. É isso que tenho tentado fazer.

| GRIFO 34 ABR2023 | 9 | cartummundo
- "Chupe minha língua - Diga ao nosso chapa que use só a língua em público quando mandarmos. "

Da submissão à autonomia

A viagem de Lula à China é crucial à retomada da presença do Brasil no cenário internacional bem mais complexo se comparado com os anos inaugurados em 2003 de uma diplomacia que privilegiava as relações Sul-Sul, o multilateralismo e a unidade latino-americana. Os anos de Bolsonaro primaram pelo servilismo aos EUA, mais precisamente ao governo Trump. O grau de servilismo chegou às raias do grotesco. Prestou continência à bandeira americana antes e após as eleições. Nem John Bolton, assessor de Segurança Nacional de Trump, foi poupado quando esteve no Brasil. Na abertura da Assembleia Geral da ONU em 2019, saudou Trump com um patético “I love you”, após o discurso de abertura. Discurso onde expôs ao mundo a visão diplomática do fascismo colonial que acalentava: subordinação aos EUA, ódio a qualquer governo latino-americano que defendesse soberania e políticas em defesa da integração latino-americana e desprezo às políticas de enfrentamento da crise climática. A retomada da “política ativa e altiva” pelo governo Lula, iniciou antes da posse com viagem ao encontro da COP-27 sobre mudanças climáticas, realizada no Cairo. Empossado viajou à Argentina, Uruguai e EUA. O governo Biden reafirmou publicamente a lisura dos resultados das urnas, o que enfraqueceu o golpismo nacional. O Brasil retornou à Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e à União de Nações Sul-Americanas (Una-

sul) e resgatou a importância do Mercosul. No encontro com Biden o governo brasileiro retomou a posição tradicional de defender a autodeterminação dos povos e criticou a intervenção armada da Rússia na Ucrânia. A posição crítica foi assumida em votação posterior na Assembleia da ONU , mas não cedeu às pressões de Olaf Scholz, chanceler alemão, para que fornecesse munições à Ucrânia. Em reunião do Conselho de Segurança da ONU, defendeu a posição da Rússia – derrotada – para que se investigasse o atentado a gasodutos entre a Rússia e Alemanha. Deve-se compreender que a intervenção russa ocorreu no contexto do golpe patrocinado pelo Ocidente em 2014 na Ucrânia, dos bombardeios por oito anos de áreas de maioria russa junto à fronteira russa e da expansão da Otan desde a dissolução da URSS. Fins de março, Celso Amorim, assessor especial da Presidência, viajou à Rússia e Sergey Lavrov, Ministro de Relações Exteriores da Rússia, realizará visita ao Brasil. Um complexo jogo diplomático. A viagem à China, que assinou

acordo de “parceria estratégica” com a Rússia, é vital ao aprofundamento de relações, após as hostilidades do governo Bolsonaro, não só pela busca de recursos, como para a diversificação na pauta de exportações hoje com base em commodities, mas principalmente pelos acordos nas áreas de infraestrutura, tecnologias e ciência. O papel do Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICs, dirigido por Dilma Rousseff, será decisivo para a expansão econômica que se avizinha com a Rota da Seda. Os EUA mostraram contrariedade com essas iniciativas, que significam também o fortalecimento dos BRICs com inúmeros pedidos de adesão. Cindido internamente, economicamente em declínio, acompanha em desespero a previsível e gradativa substituição do dólar por moedas nacionais nas transações internacionais. Colhem o que plantaram com as sanções e sequestro de depósitos em dólar no estrangeiro como arma de guerra. A passagem não será tranquila. Em meio à tempestade construímos nosso destino.

| GRIFO 34 ABR 2023 | 10 | mundo

EUGÊNIO NEVES EUGÊNIO NEVES

| GRIFO 34 ABR 2023 | 11 | cartumundo

Os cem que parecem mil

Os cem dias de Lula parecem mil por algumas razões. A mais inusitada é que o quase inerte presidente anterior impôs um ritmo frenético nos seus últimos dias ao governo que chegou. A vitória de Lula se deu no limite legal e da democracia. Aos fake news de 2018 se somou uma manipulação intensa no próprio processo eleitoral chegando ao limite da polícia rodoviária federal impedir o trânsito de eleitores. A posse foi no mesmo ritmo e intensidade com o presidente não conseguindo disfarçar o cansaço e a apreensão com a fuga do derrotado que sinalizava o golpe tentado no dia 8 de janeiro. Por outro lado, na contramão da conspiração em curso, o candidato vitorioso de novembro precisou negociar um orçamento extraordinário que relativizasse o comprometimento dos recursos pelo governo que abandonou suas funções antes mesmo da posse. O sucesso político-midiático da

quer que eescreva?

posse sofreu o revés dos ataques aos palácios do governo, justiça e parlamento e precisou também construir uma reação articulada que esvaziasse o golpe tentado. O ministro da justiça praticamente assumiu a sustentação do governo e a prisão dos golpistas. Com obstinação quase religiosa o novo presidente se jogou no mundo e no país. Visitou os escombros espalhados pelo território nacional, como o genocídio yanomami, ao mesmo tempo que visitou os vizinhos do sul, do norte e do leste.

Depois de um vagabundo que dormitava pelo congresso no seu tempo de deputado, que não exerceu um minuto de suas funções, ocupado que estava em encher as burras de carpas, joias e o que vamos descobrir ainda, agora temos um cara que, no seu limite físico, trabalha e provoca o trabalho. Lula, sindicalista que foi, sabe do valor insubstituível do labor. Foram cem dias de intenso trabalho.

Parece que está no DNA. Até o dinheiro de uma Associação de País, Mestres e Alunos de uma escola militar em Goiás foi desviado para chope e barbearia.

Alguns bolsonaristas, por ignorância, estão só se reconhecendo fascistas agora. E gostando do que descobriram.

Bolsonaro jogou seus cúmplices às feras. Acho que agora começarão a abrir a boca, embora o medo de morrer.

As empresas que usaram o trabalho escravo para fazer vinho e ganhar dinheiro estão sendo investigadas e deverão ser punidas, esperemos. E a empresa de comunicação que, como Bolsonaro saudando Ustra, serve este vinho para honrá-lo?

A cloroquina bancada pelas organizações médicas consagraram o charlatanismo no país. Antes restritas a publicações popularesca e à internet, os remédios milagrosos tomaram conta da tv aberta e agora na tv por assinatura.

Não me peçam paciência com uma picaretagem que tem como técnica usar o inglês como isca para golpe que envergonharia o pilantra do golpe do bilhete. Fiz um juramento profissional de defesa da língua portuguesa na minha formatura de graduação do jornalismo.

Sempre me surpreendeu o esforço pessoal de alguns jornalistas de transformar em crença a opinião dos patrões.

| | 12 | quer que desenhe? | schröder GRIFO 34 ABR 2023

O projeto Melonaro

Melonaro é apenas um termo genérico para vários políticos ansiosos para ocupar o espaço nada honroso aberto pelo ex-presidente da República. Poderia ser leitenaro, tarcisionaro ou até sandronaro, por causa do vereador gaúcho que defendeu o trabalho escravizante na Serra gaúcha.

Vão alegar diferenças entre si, e é verdade: uns não são racistas, outros não são misóginos, alguns não são homofóbicos. Mas todos estão correndo atrás de privatizações de empresas e espaços públicos e gerar um estado sem bancos, sem estradas, sem escolas, sem saúde. Até saneamento básico e água estão querendo privatizar. Se bobear, os tradicionais mercados públicos, que reúnem pequenos comerciantes, também vão para a iniciativa privada, ou viram estacionamento.

Tudo o que querem é um estado pequeno, frágil e ineficiente. E que paga mal.

61 ANOS

| GRIFO 34 ABR 2023 | 13 | por aqui
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| GRIFO 34 ABR 2023 | 14 | por aqui
A PEDIDO

Jejum é uma parada bacana pra que tem o que comer todo dia.

Relatividade: tudo depende de que lado da porta do banheiro você tá na hora H.

O pior do rabo é a vizinhança.

Vantagem da velhice: a gente não se arrepende do que não se lembra.

No foro privilegiado a Justiça é cega, surda, muda - e cheira mal pra caraio.

Imagino que seja impossível pegar um taxi em Uberlândia, MG.

Inundação arrasta cemitério nos EUA. É o fim do jazigo perpétuo.

Páscoa: precisei ir ao supermercado pra descobrir que meus ovos não valem nada.

Férias? Sei, não...

E se, ao voltar, encontro aqui em casa uma Farmácia São João?

O desenhador de bonecrinhos

Era uma casa térrea dos anos 1950, de alvenaria e com pintura gasta, cercada por taquareiras e bancos de pedra, erguida no caminho entre a cidade e o Rio das Rãs. Meu colega e eu desembarcamos no meio de uma manhã de sábado, depois das aulas, e ele foi logo cercado pelas moças do cabarezito. Conhecido que era pela pertinácia de suas visitas, e também agraciado pelos favores do pai, outro visitador generoso, em minutos sumiu tratando dos encaminhamentos. Quanto a mim, desenhador repetente e desconhecido, soldado recém liberto do serviço militar obrigatório, coube-me a curiosidade de vasculhar os aposentos silenciosos e aparentemente vazios do lugar.

Através de uma porta semiaberta num quartinho de canto, iluminado pela luz do dia, deparei-me com uma senhorita nua deitada sobre a cama de solteiro. Estava lendo uma revista em quadrinhos. Fiquei paralisado. Ela virou-se, sorriu e pediu que eu sentasse ao seu lado. Pelo frescor da desenvoltura, imaginei que fosse recém chegada. Seu cabelo lembrava a palha do milho descascado e os olhos brilhavam um escuro de passarinho. Muito mais não conseguiria dizer, exceto que era frágil e muito bem encadernada.

Deitei a cabeça ao lado dela, repartindo o travesseiro sem fronha. Senti medo. Ela não tinha cheiro. Então começou a ler os quadrinhos em voz alta, imitando vozes e trejeitos como nos desenhos da televisão. De início ri amarelo. Mas logo rimos juntos de verdade. Vendo ali uma oportunidade singular, tal qual São Miguel sacando a espada cintilante, puxei do bolso minha caneta de nanquim preto 0.6, da Mars, e risquei uma caretinha em sua mão.

- Eu sei fazer desenhos em quadrinhos. Como os da revista. Não sei quantos milênios se passaram enquanto ela olhava aquela garatuja com um encantamento cristalino. Prossegui e fiz outros desenhos em diferentes partes do seu corpo. Bichinhos, caretas, carros, montanhas, casas, nuvens... E o sorriso dela, meu Deus! Eu estava trêmulo quando ela me batizou:

- Tu é um desenhador de bonecrinhos.

Tirou minha camiseta sem pressa, pediu a caneta, e disse que não sabia desenhar. Escreveu seu nome verdadeiro no meu peito, recolocou a tampa e ficou tocando meus lábios com os dedos enquanto falava coisas em voz baixa, que eram pra me proteger.

Retornei ao lugar algumas semanas depois. Ela já não estava. As mulheres também eram outras. O vento norte chicoteava as taquaras. Sentei-me num banco de jardim e desconfiei de que não precisava de mais nada. Estava calmo. Eu acho que não me importaria de morrer depois daquilo.

| GRIF 34 ABR 2023 | 15 | diaborosa | bier
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Freud, o colecionador de piadas

Uma das paixões de Sigmund Freud foi colecionar como disse a Max Schur, seu médico particular e um de seus biógrafos. Vício só menor que sua dependência da nicotina. Recentemente, foi publicado um livro – Os deuses de Freud – sobre as duas mil e quinhentas estatuetas etruscas, egípcias, gregas, romanas, chinesas e outras que o Pai da psicanálise colecionou ao longo de mais de quarenta anos. Outra coleção foi a das piadas, quase todas judias, iniciada em 1897, e que foi até setembro de 1899. Justamente nesses tempos ele estava concluindo sua maior obra – A interpretação dos sonhos –, que seu grande amigo Fliess leu e criticou, dizendo serem os sonhos graciosos. Freud respondeu-lhe: “Todos os sonhantes são igualmente graciosos até o intolerável, e o são porque estão sob pressão; o caminho direto lhes está proibido. O aparente engenho de todos os processos inconscientes está intimamente vinculado à teoria do engenhoso e do cômico”. A coleção de piadas deu origem ao livro A piada e sua relação com o inconsciente. Freud era muito curioso, seus estudos envolveram primeiro as histéricas, depois os sonhos, as piadas e os atos falhos. Além disso, ele vivia num ambiente onde escutava muitas piadas judaicas que foram geradas ao longo do século 19. O valor das piadas como tema de estudos se deveu também ao romantismo alemão, em especial a Jean Paul Richter, em 1804, uma das referências bibliográficas de Freud. Além disso, houve vários interessados no tema da piada e do riso como Kant, Theodor Lips e Heinrich Heine. A piada e o humor tendem a ser críticos do poder e, não por acaso,

a piada judaica do familionário aparece três vezes no livro das piadas de Freud. A história, em resumo, é assim: um judeu agente de loteria se exibe a Heine por suas relações familiares com o rico barão de Rothschild. Conclui seu relato dizendo que foi recebido por ele de forma familionária. Nesta palavra, familionário, foram condensadas as palavras “familiar” e “milionário”, como uma crítica à forma com que os milionários tratam seus familiares mais pobres.

A piada aqui é de crítica aos ricos, pois o humor tem como uma de suas marcas a sua irreverência com o poder.

Não deixa de ser engraçado que um homem como Freud, conhecido por sua seriedade – em suas fotos raramente ri –, goste tanto das piadas. Entretanto, alguns relatos de quem o conheceu mais de perto revelam um homem que desfrutava do prazer de contar piadas e fazia observações espirituosas. Joan Riviere, psicanalista inglesa, paciente de Freud e tradutora de sua obra, relata que no consultório ele era de uma alegria encantadora. Tinha capacidade para achar diversão na maioria das situações. O mesmo relata Franz Alexander, psicanalista húngaro, ao lembrar como Freud ilustrava os temas com anedotas e piadas. Também

adorava contar contos, e os temas sérios perdiam sua austeridade artificial com a qual se investem. Martin, seu filho, o descreve como um homem de coração alegre. Hans Sachs, psicanalista dos primeiros tempos, relata que as conferências de Freud, na Universidade, tinham um tom de conversa. Eram atravessadas por observações engenhosas ou irônicas. Essa observação é fácil de comprovar na leitura do seu livro Introdução à psicanálise. Relata em outro livro, O mal-estar na cultura, uma história de Heinrich Heine ao fazer uma cáustica observação ao amor universal:

Tenho uma disposição sumamente pacífica. Meus desejos são de uma modesta cabana, com um teto de palha, mas também uma boa cama, boa comida, leite e manteiga muito frescos, flores na minha janela, umas poucas árvores bonitas diante minha porta; e se o bom Deus quiser me fazer completamente feliz, terá que me deixar o suficiente como para ter o prazer de ver a uns seis ou sete de meus inimigos dependurados nessas árvores. Antes que morram, com coração terno, lhes perdoarei de todo o mal que me fizeram durante minha vida: sim, se deve perdoar aos inimigos, mas nunca antes que eles estejam dependurados.

O humor aqui aparece em sua face agressiva, dita de forma suave ao princípio e surpreendente ao final, o que gera graça. Essa piada alivia nossas tendências agressivas, sádicas, é uma doce vingança contra quem nos fez mal. Uma vingança civilizada, bem diferente dos fanáticos alemães que atacaram Heine pelas suas justas críticas ao prussianismo.

| GRIFO34 ABR2023 | 16 | conversas psi | abrão slavustky

A Penúltima Verdade e o Sapo Barbudo

Ninguém é trouxa ao ponto de ter esperado uma lua de mel, imagino. A grande imprensa nem chegou a engolir o sapo barbudo, durante a campanha. Apenas ficou com ele na boca, jogando de um lado pro outro, como um velho desdentado com um pedaço de biscoito duro.

Mas, ao contrário do velho, não esperava que a saliva ajudasse. Só ganhava tempo, pra ficar bem na foto da luta pela democracia. É que estava constrangedor continuar fingindo que o miliciano não fazia número um e dois no meio da sala. Mesmo assim insistiu na equiparação entre o sapo barbudo e o miliciano escanhoado, como se fosse possível comparar alguém que, pra ser preso, precisou de um juiz que ignorou o pequeno detalhe da falta de provas com alguém que começou a carreira planejando um atentado terrorista. Meio como comparar água com cloroquina.

Quando se luta pela democracia, talvez fosse bom a gente perguntar pra algum editorialista: vem cá, meu bem, o que é mesmo democracia? Porque a democracia da grande imprensa acha normal, ou mais, salutar, manter milhões na miséria pra que uns poucos rentistas continuem faturando. Claro que a defesa disso vem coberta com as lantejoulas fabricadas por economistas amestrados em Chicago.

Passei dias pensando nessa e em outras escrotidões, como a respiração boca a boca pra reanimar o Moro na falta de uma criatura na direita sem um prontuário muito volumoso, ou a defesa do teto de gastos que nunca preocu-

pou nos dias atrozes do miliciano. Daí comecei a reler A penúltima verdade. Não é o melhor Philip K. Dick, mas não é o pior e ilustra nossas vidas com a clareza da caricatura. Sabe-se da obsessão de Dick com a dificuldade de distinguir o que é real do que é irreal. Se essa distinção começou a preocupar o macaco logo que ele desceu da árvore, hoje ela deve preocupar muito mais, porque os meios de baralhar a realidade cresceram assustadoramente nos últimos tempos e prometem verdadeiras alucinações para um futuro próximo.

O planeta de Dick, em 2010, futuro distante em 1964: milhões de pessoas vivem em subterrâneos, há quinze anos, pensando que na superfície come frouxo a terceira guerra mundial. Produzem robôs sem parar e assistem pela tevê cidades sendo destruídas, os índices

de radiação, as pestes e os discursos de bravura do Protetor, Talbot Yancy. Na superfície, o mundo está dividido em grandes feudos de publicitários chamados yance-men, que produzem as cenas de guerra, inventam as pestes e escrevem os discursos do Protetor, que nada mais é que um boneco animado por computação. Claro que os robôs são comprados pelos publicitários, porque vivem brigando por problemas de fronteira entre seus feudos. A guerra tinha durado só dois anos e o Ocidente colaborava com a União Soviética na manutenção da farsa. Sim, o romance é muito mais complicado, mas isso é o miolo dele.

Me diz aí, parceiro: você não se sente num subterrâneo, numa fábrica de robôs, distraído com o noticiário dos yance-men da Folha, do Estadão, do Globo, da CNN?

| GRIFO34 ABR2023 | 17 | borracheiro&exorcista | ernani ssó

Fernando Jorge Uberti publicitário, ilustrador, cartunista, quadrinista e artista gráfico nasceu na cidade de Alegrete, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Publicou seu primeiro Cartum num suplemento estudantil em 1959. Publicou seus trabalhos na imprensa brasileira e internacional. Participou de salões e exposições de humor no Brasil, Alemanha, Canadá e Itália. Além de várias antologias de humor. Consagrou a pracinha Marquesa de Sévigné.da Rua Lima e Silva, com seu peculiar chafariz.

| GRIFO 34 ABR2023 | 18 | uberti

Paulo de Tarso Riccordi

PAULO CARUSO

Paulo Caruso foi chargista, caricaturista, humorista, além de músico diletante. Um dos maiores do Brasil. Faleceu aos 73 anos, dia 4 de março de 2023. Era irmão gêmeo de Chico. Quando se encontrava com chargistas, amigos, ou fãs, fazia caricaturas deles na velocidade de luz (ou quase). Aconteceu com nossos colaboradores Santiago e Uberti

Partiu a Metade do Chico...Ficou a Metade do Paulo.

Não tenho outra maneira de interpretar o triste fim que levou um dos Caruso. Gêmeos univitelinos em tudo; físico-semblante, no talento pro desenho, na música os dois, juntos, eram homens de 14 instrumentos. No palco então...um era a cara do outro, o outro era a cara do um. Conheci o Paulo, em Porto Alegre, numa das tantas etílicas e bem humoradas reuniões semanais da Grafar, no Tutti Giorni. Paulo, sendo um desenhista compulsivo, rabiscou à bico de Bic alguns dos seus colegas gaúchos. Entre os sortudos estava eu. Demorei a postar esta homenagem, por ter levado um tempão procurando a caricatura. Finalmente a encontrei no meio de alfarrábios no fundo de uma gaveta. (Uberti)

NEGREIROS

Roberto Negreiros, ilustrador e cartunista, morreu dia 22 de março aos 69 anos. Foi um mestre na mistura de lápis de cor e aquarela nas ilustrações que fez para Veja São Paulo, Piauí e outras publicações brasileiras.

Caruso, o craque

Carica MINHA feita por PAULO CARUSO na viagem que fizemos ao Salão de Desenho de Imprensa de S. Just le Martel , França em 1995 ou 96. Impressionante a soltura q tinha p desenhar sem esboço , direto!!!! o bom Paulão editou um caderno com seu diário de viagem e me presenteou com uma cópia bem encadernada , que guardo com cuidado!!!! (Santiago)

AL JAFEE

Al Jaffee, histórico cartunista da MAD, faleceu dia 10 de abril aos 102 anos. Trabalhou com lendas do desenho, como Stan Lee e Will Eisner, mas foi desenhando a contra-capa da MAD, onde uma ilustração se transformava em outra ao se juntar duaAs linhas paralelas tracejadas, e também na série “respostas cretinas para perguntas imbecis”, que fez fama e tornou-se o artista mais longevo em HQs.

| GRIFO 34 ABR 2023 | 19 | entrevero
PRESENTE!

O tempo

Levitan, o poeta grafico

Vicenzi, o excelsior

– A vacina bivalente também pode ser aplicada nos covardes?

– Eu não carrego culpas. Elas que andem sozinhas.

– Será que os especialistas, ao provarem vinhos de algumas vinícolas conseguirão sentir no paladar um retrogosto de trabalho análogo à escravidão?

– Em vez de votar para escolher o presidente do Brasil, não seria melhor eleger o presidente do Banco Central?

– Algumas leituras e falas me deixam em dúvida se estamos mais próximos da inteligência artificial ou da medieval.

– No início era o Verbo. Agora é (quase) tudo verborragia.

– Morotonia: conversa mole e repetitiva de jornalistas querendo passar pano pra juiz golpista que ajudou a quebrar o País.

– Bolsonaro é exemplo de empreendedorismo. Começou seu mandato assinando com caneta Bic e o concluiu com uma caneta cravejada de diamantes.

– Vivemos uma era de muitos caracteres. E pouco caráter.

– Aqui jazo eu. Meu ego ainda não me acompanha, porque recusa-se a aceitar. (Celso Vicenzi)

Ah, quantas revelações! Nos babacas ele se apoia, E acreditam aqueles babões, Na falsa “simplicidade” joia!

Cadê as motociatas?

Brasil, que é isso?

Será o fim das mamatas

E do Führer postiço?

Para os devastadores, O caso não está encerrado: Abrandam na Amazônia, E atacam mais no Cerrado!

Muita gente pensa Que a Constituição É uma chatice

De gênero de ficção.

Não tem nada de siso: O conservador

Odeia o riso

E conserva a dor.

Leona, grandona, E Mourão, grandão, Se casarão e morarão

... numa casinha!!!

A OTAN provocou, E o Putin ficou puto: Uma guerra iniciou, Partiu pro jogo bruto!

Se a festa é boa, Tomo um porre

Sem pensar na ressaca Que no amanhã ocorre.

Pediu um abraço

Ao ídolo, e de lambuja Ganhou uma lambida Com a língua suja!

Muros que separam... Que coisa cruel!

Parece que o de Berlim Mudou pra Israel!

Brasil na encruzilhada, Escolhe pra onde se inclina: A velha sanha gringa

Ou o desconhecido da China.

| GRIF 34 ABR 2023 | 20 | entrevero
de Mouzar Benedito
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AS PANELAS Uberti

Kayser

| GRIFO 34 ABR2023 | 21 | tiras
MORGANA, A BRUXINHA Celso Schröder RANGO Edgar Vasques
| GRIFO 34 ABR 2023 | 22 | tiras
BIOMA PAMPA Celso Schröder BLAU Bier Fabiane Langona Lu Vieira

Lendo livros e se divertido

Uma seção que há muito tempo conquista leitores e autores do ofício é a crônica de jornal. Mesmo nos tempos de periódicos virtuais, ainda é valorizada. Outro aspecto que resiste ao tempo e modificações é o sebo, um lugar quase mítico para leitores e ávidos pesquisadores. Ao reunir essas duas tradições, sai Croniquetas do Atendente, primeiro livro de Mauro Sheuer Messina, da Ladeira Livros, localizada no reduto dos sebos de Porto Alegre, mais precisamente na Rua General Câmara, no Centro Histórico. Apenas para lembrar, era a antiga Rua da Ladeira que batiza o estabelecimento. Mauro está no ramo há muito tempo, esta memória afetiva e cultural dos muitos estudantes e professores que passaram pelo Campus do Vale da UFRGS, a Banca do Mauro tinha fama e respeito.

Talvez seja recomendável que um dono de sebo também seja um leitor, isso deveria ser uma característica desta categoria de comerciante. “A biblioteca da escola me abriu o caminho da leitura”, reconhece o autor no texto de apresentação. Publicou em livro o que já vinha escrevendo na sua página de Facebook, a obra veio à luz pela Editora Polifonia (2022), com ilustrações de Pablito Aguiar.

Com textos curtos, daí vem o batismo de croniquetas, bem humorados, sem nunca abrir mão de fina ou grossa ironia, Mauro Scheuer descreve seus fregueses que por sua vez compõem-se de diversos tipos. Alguns assíduos, outros estranhos para o autor, diga-se. A verve e a experiência acumuladas atrás do balcão permitem brincadeiras com os frequentadores. Porém, um calejado Mauro sabe o ponto de parar ou desviar o assunto e atender o cliente. Esse sempre acaba saindo com algum livro, para o alívio de

todos que trabalham na casa. Aliás, os trabalhadores, conforme definira o consciente e politizado Scheuer, têm seu protagonismo reconhecido, sob a pena impiedosa do chefe. Outro destaque da publicação são as ilustrações de um jovem e talentoso desenhista, Pablito Aguiar, que consegue com seus desenhos retratar o “ambiente da livraria”. Quando se entra em algum sebo e se encontra aquele livro há tempo desejado, nem sempre se leva em conta a que custo foi esta feliz surpresa. “Lembrei das minhas viagens a SP, ônibus às 3h da manhã, chegando às 7h da manhã do outro dia no Terminal Tietê, lojas de pontas de estoque na Ipiranga, na Liber-

dade, volta para o terminal, porta bagagem na rodoviária, Praça da Sé e no final do dia voltando para Porto Alegre”, conta o atendente de sua saga.

Mauro fala sobre seu livro; “as croniquetas tinham uma boa aceitação no Facebook e para contrariar o ditado "casa de ferreiro espeto de pau" lancei a ideia do livro nas redes. E o projeto seguiu seu curso, “o pessoal da Polifonia curtiu a ideia e fez o convite para a edição”, resume. Ainda sem algum projeto mais concreto, o autor adverte que “como diariamente acontece algo engraçado por enquanto estou guardando na memória”. Acho que o atendente atrai o inusitado.

| GRIF 34 ABR 2023 | 23 | periodista restaurador| jose weis

Próximo Grifo: HQ DE BIRA DANAS, PÚBLICO VERSUS PRIVADO, DIABO ROSA DO BIER, ERNANI

SSO,MIGUEL PAIVA, RANGO DO EDGAR VASQUES, LU VIEIRA, SCHRÖDER, EUGENIO NEVES, CARLOS CASTELO, CELSO VICENZI, MOUZAR BENEDITO E QUEM MAIS A GENTE PEGAR NO CAMINHO

CONTRACAPA

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