1959
COPYRIGHT ASSOCIAÇÃO CULTURAL «O MUNDO DE LYGIA CLARK»
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Dentro da preocupação acerca da margem ligada com o espaço exterior, surgiu um grupo de trabalhos aos quais eu dei o nome de Espaço Modulado e Unidade. Figura 8 – Estas superfícies são completamente pretas. Existe agora uma linha estreita e branca, em baixo-relevo, que as corta vertical e horizontalmente. Esta foi minha tentativa de expressar tempo-espaço. Levante a página verticalmente e você verá a linha-luz destacando-se da superfície da página. A
superfície
geométrica
agora
funciona
apenas
como
suporte
do
desenvolvimento do processo das superfícies. O processo das superfícies evidencia o tempo dentro do qual este espaço tem que ser expresso. A linha, incessantemente anulando a si mesma e aparecendo de novo, é como uma linha-luz. .
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Espaço Modulado No 6 - Linhas absolutamente iguais, horizontais e verticais produzem entre si uma tensão oblíqüa, distorcendo dois quadrados perfeitos: o espaço então se revela ali como momento do espaço circundante. No Espaço Modulado No 6, Figura 9, eu observei que, quando os dois quadrados laterais se deslocam, acontece uma torção no quadrado do meio. Diagonais por via de regra atuam como forças dinâmicas dentro da superfície. Aqui, entretanto, as diagonais não são necessárias porque a linha-luz, estando em contacto direto com o espaço real, adquire o mesmo poder das diagonais. Daí, eu deduzi que linhas retas, verticais e horizontais geram diagonais, as quais podem deslocar dois quadrados perfeitos e acrescentar espessura à superfície de um quadrado ao qual chamei de topo do espaço. As formas sólidas que surgiram em grupos de trabalhos anteriores, agora aparecem como espessura. O que então vi, fez com que a Fita de Moebius tivesse vida para mim, coisa que antes só compreendia intelectualmente.
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O espaço da Fita de Moebius só pode ser expresso através de um plano, por mais fino que seja, desde que indicado na sua espessura. O espaço topológico da Fita de Moebius seria um corte dentro do espaço real e não o mesmo que o de uma superfície (plano), que é a espessura deste mesmo espaço. Sendo assim, o meu espaço é topológico. Se eu experimentar com um fio de barbante fazer um semi-círculo e fechar o círculo dando a torção que a linha externa indica, não haverá Fita de Moebius. Uma linha só pode ser topo do espaço quando o espaço exterior é considerado. Tempo e Espaço são um e o mesmo: os dois são distintos apenas quando volume é considerado como simples espaço geométrico e não como superfície-processo. Um movimento de torção, e a superfície (espessura de espaço) vira topo do próprio espaço (Figura 10-A). A Fita de Moebius é feita dando-se uma torção no plano e unindo-se os pontos A com A e B com B. Ponha a Fita de Moebius numa superfície plana e você verá o cruzamento da vertical com a horizontal, sem que, entretanto, haja o ponto de intersecção que uma cruz normalmente tem (Figura 10-B). Experimente você mesmo. No Espaço Modulado No 6 (Figura 9) o espaço da figura deslocada (ver Figura 10-C) sugere o da Fita de Moebius. A qualidade aí contida aparece como uma relação de espaço em torno dela e como um momento de sua existência no tempo.
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A superfície plana é uma invenção do homem. Quando realizei essa experiência senti a sua precariedade: tomei dois círculos iguais, coloquei-os um sobre o outro, e cortei-os do centro a extremidade. Depois, com uma fita adesiva, eu juntei uma extremidade do corte no círculo superior à extremidade oposta do círculo inferior. Daí, segurando firme a extremidade solta do círculo superior, eu dobrei a extremidade solta do círculo de cima por baixo dele mesmo, movendo-a circularmente, até que passasse pelo primeiro círculo e os dois círculos ficassem planos de novo, um sobre o outro. Curioso é que os círculos nunca saem do plano durante a experiência. Figura 11 – Tome a estrutura do círculo e experimente você mesmo.
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Olhando-se para um círculo quase completo dentro da superfície de um espaço representativo, tendemos a fechar o círculo visualmente. (Lei de Gestalt) Figura 12-A. Quando temos um círculo quase completo, contornado pela linhaluz no espaço real, o círculo tende a não se fechar para nós, como sugerido acima, porque as extremidades da linha-luz, perceptivamente, distorcem a superfície do círculo. Figura 12 – Agora tome o círculo da Figura 12-B e compare com a experiência anterior.
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Vejamos agora uma experiência usando as Figuras 13-A, 13-B e 13-C. Se colocarmos dois quadrados dentro de uma determinada superfície retangular, eles não modificarão a mesma (Figura 13-A). Coloque os quadrados e veja o efeito. Agora veja o que acontece com a Figura 13-B. Colocando os quadrados pequenos de maneira que as suas extremidades fiquem na margem da superfície, nós teremos um espaço diferente, criando assim uma nova relação entre os dois quadrados e a superfície na qual eles estão. Experimente. Na verdade, nós criamos um novo tipo de relação tempo-espaço, a qual eu chamei de Verticalização do Espaço: é como se tivéssemos dois quadrados, um por trás do outro, repousando em uma mesma superfície horizontal, e um deles foi levantado até que atingisse a posição de dois quadrados, como na Figura 13-B. Este movimento é mostrado na Figura 13-C. Na Figura 13-B a verticalização traz com ela um tempo orgânico. Por outro lado, no caso da Figura 13-A, o tempo que percebemos não é uma parte integral da figura, mas é criado pelo movimento do olho, de um quadrado para o outro. O plano é uma convenção e, o tempo expresso nele, é puramente mecânico, como é mecânico o tempo entre dois objetos no espaço real.
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