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Samantha Abreu

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Célia Musill

Célia Musill

Faz sol

Logo agora que a chuva parou, que voltamos a ter vinis na estante. Agora, bem agora que não queremos mais ter tudo, pois estamos de folga, que não precisamos calçar sapatos, que a lua de mel mora no sofá de veludo. Bem agora.

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Estava chovendo antes de ser hoje. Antes de ser este cabelo ruivo secando com o vento, antes de ser vida acontecendo a partir das dez da manhã. Mas dormir é sonho que também é noite. Bem agora que dormir é sonho, eu escuto esses gritos lá fora e corro pra ver a morte, o ardor, a bomba. Bem agora, bombas. Explosões que não são coloridas e a gente querendo um banho morno seguido de pijama, cama pra dois, nossa comida. Bem agora que acabou a comida, que o sapato aperta, que a gente desaprendeu a dançar, já não temos cabelos nem sono nem os sonhos.

O que é que a gente vai fazer quando a guerra acabar?

Acaloramento de dentro

Tenho a lava que se eleva, um fervor na medula. Nenhuma recomendação de gelo alivia, quando estou no centro do fogo. E se chama, ouço queimar.

Não há saída que não seja para o alto, no céu onde ele está, acalorando espaços entre braços e dentes. Quando caí, ficou um sol inteiro orbitando em mim.

Todo homem é uma ilha

Existe um espaço entre eu e você, talvez, um mínimo espaço onde nossa matéria tente ser a mesma, mas não consiga, onde meu corpo insista em ocupar o mesmo lugar do seu, mas ainda seja apenas eu.

Existe esse espaço, Feito do mesmo oxigênio presente em um terço da água.

Um vão que pode ser água entre nós dois: Todo homem é uma ilha isolada, Sr. John Donne.

Manual de Serenata ao Ouvido

É como se no centro de todo barulho tudo, de repente, fosse eco. Ressonância dentro do vácuo e todo o cenário em câmera lenta.

Eu-estátua enquanto o mundo flutua agitado e implora: pressão nos nervos e pescoço pulsante. Medo do agudo de fora, medo do escuro de dentro, cisma com a música que ele sussurra enquanto entra e faz serenata. Ninguém vê enquanto a vida se arrasta, só eu e você.

Adriana Vitorino: arte educadora. Sempre escreveu, nunca publicou. Quando enlouquece vira um novelo que desenrola quando canta.

Célia Musill: jornalista, cronista, poeta, frequenta labirintos, guarda as pérolas e come as ostras. Na falta de uma linha, puxa o fio de Ariadne.

Christine Vianna: professora, diretora do Festival Literário de Londrina e Vila Cultural Cemitério de Automóveis. Fala poemas na Banda Benditos Energúmenos. Quando enlouquecer de vez vai cantar.

Daniele Stegmann: formada em desenho industrial, mas atualmente trabalha como artista plástica e ilustradora.

Edra Moraes: produtora cultural, idealizadora do Movimento Londrina Criativa. Seu livro de estréia - Da Divina, Da Humana e Da Profana. Senta-se à roca para desfiar a palavra, até que feita fio ela torne-se teia, tecido da vida ou fuga.

Elisabete Ghisleni: mesmo um urso sem caverna precisa hibernar. Não dá pra contar a historia completa. Os versos que escreveu: Antologia dos poetas contemporâneos do Paraná: os poetas Curitiba e Noct Lux

Samantha Abreu: o fio da sua meada é o livro Fantasias para quando vier a chuva. Escreve o blogue Haute Intimité e a série cômica Mulheres sob Descontrole. Um das curadoras do Festival Literário de Londrina. Desenvolve um projeto de vídeo- -poema no youtube.

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