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É hora de alunos e professores voltarem às salas de aulas
from Acontece - ed. 237
by mackmackmack
Educação básica privada em São Paulo retoma encontros presenciais, mas alguns desafios persistem
Frederico Cury e Valentina Mourad
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Em meados de março de 2020, a quarentena foi decretada em São Paulo e em todo país, como medida de proteção contra a Covid-19. Com isso, escolas, cursinhos e universidades foram temporariamente fechados. O governador do estado de São Paulo, João Dória, declarou que a partir de julho deste ano, instituições de ensino básico, públicas ou privadas, poderiam retornar com as aulas presenciais com 100% da capacidade, porém seguindo todos protocolos sanitários (uso de máscara, álcool gel e o distanciamento social). A ida dos alunos em sua maioria não é obrigatória, e o sistema híbrido, com ensino remoto simultâneo ao presencial, costuma ser o modelo aplicado. Em uma conversa com Márcio Perrote, coordenador do Colégio Pio XII, instituição privada localizada na zona sul de São Paulo, ele esclarece algumas vantagens do modelo presencial. “O retorno trouxe um pouco mais de prontidão para os alunos”, diz, completando que a absorção dos alunos é maior. No primeiro semestre, o colégio adotou o “sistema de bolhas”, no qual grupos de alunos se revezavam para ir presencialmente às aulas. De acordo com Márcio, foi um período de adaptação, já que o ano de 2020 foi completamente online, e seria um grande baque acabar com o ensino à distância e voltar com o 100% presencial de um semestre para o outro. Também perguntamos sobre a participação dos alunos na sala de aula e se os professores sentiram diferença. Segundo ele, “os alunos, estando na sala, têm muito mais interação do que em casa, onde isso não ocorre e muitos nem abrem a câmera”. O ensino fundamental e o médio têm seus problemas focados na participação e no comprometimento dos estudantes, já que nessa idade são capazes de acessar a aula sozinhos. Entretanto, quando se trata de crian-
Parquinho vazio na escola Dream Kids
ças da pré-escola, outros problemas começam a surgir. Para compreender essas questões, entrevistamos Vera Regina Melo, coordenadora pedagógica da escola infantil Dream Kids. Os mais novos dependem de alguém para acessar os sites onde ocorrem as aulas ou “lives”, e é aí que começam os desafios. Ao ser questionada sobre as aulas online, e por quanto tempo foram aplicadas na escola, ela fala que duraram pouco e não foram muito eficazes. “Tentamos fazer algumas lives com as crianças, mas não surtiu efeito. Fizemos algumas aulas de música, com a professora, algumas aulas de capoeira online, mas o ensino pedagógico mesmo nós não chegamos a fazer”, diz. Segundo ela, as crianças precisam de muita interação e, por isso, o esquema remoto durou apenas dois meses. Como Márcio apontou, o comprometimento dos alunos aumentou, porém ainda havia responsabilidade durante o ensino remoto. No maternal, contudo, tal aspecto era nulo, pois muitas vezes os pais tinham compromissos ou não estavam em casa. Assim, o aluno acabava nem entrando nas aulas, como relata a coordenadora pedagógica. Uma das soluções arranjadas pela escola Dream Kids diante desse obstáculo foi mandar uma sacola com material para fazer atividades em casa, como pintura, montagem e colagem, entre outros. Nesses casos, a própria Vera entrava em contato com os pais conversando sobre o que era possível fazer em casa, e recebia fotos dos alunos com suas produções. Segundo Vera, esse método acabou sendo muito mais eficaz do que o sistema de aulas ao vivo. (não seriam as remotas?) Com o fim dos dois meses de aulas online, as crianças voltaram a todo vapor. “Estavam extremamente felizes com o retorno”, relata Vera. Ela complementa: “foi uma experiência incrível”. Segundo ela, no primeiro dia as crianças se abraçavam, e por mais que isso acabe indo contra os protocolos, é muito difícil fazer com que crianças, nessa idade especificamente, fiquem sem interação social, já que isso também é essencial para a formação.
Após o fim das restrições, surgem cada vez mais oportunidades para quem trabalha na área
Freepik
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Funcionários do setor têm sentido os efeitos positivos da reabertura
Gabriela Guidotte e Julia Fumiko
As restrições de horários e de público causadas pelo coronavírus se encerraram no dia 17 de agosto deste ano, causando um misto de emoções entre esperança e receio, pois, segundo dados do site do governo, o Vacina Já, apenas 66% da população paulista estava com esquema vacinal completo até o dia 25 de outubro. O número de desempregados no Brasil está em 14,4 milhões de pessoas, segundo dados oficiais disponibilizados pelo IBGE. Essa estatística aumentou 1,6 milhão quando comparada com junho de 2020. A lista divulgada pelo Ministério da Economia mostra que até setembro de 2020, com por volta de sete meses de pandemia, o ramo alimentício estava na sétima posição entre os dez mais atingidos. Segundo Nicole Sinigoi, 32 anos, sócia do restaurante &EAT, foi necessário cortar 50% dos funcionários. Antes da pandemia, o estabelecimento contava com 20 colaboradores. Hoje são apenas 10. No dia 24 de março de 2020, o governador João Dória (PSDB) deu início pela primeira vez à quarentena no estado de São Paulo, que no início duraria apenas 15 dias. A determinação impôs o fechamento dos comércios, apenas mantendo os serviços essenciais abertos. Os bares e restaurantes tiveram que ficar cerca de 104 dias fechados entre março e julho, e após 1 ano de pandemia aproximadamente 12 mil bares, restaurantes e lanchonetes fecharam na cidade de São Paulo, segundo dados disponibilizados pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SP). Os que conseguiram superar essa crise tiveram que se ajustar ao “novo normal”. Para essa adaptação o delivery foi essencial, pois com ele foi possível continuar as vendas. O número de novos restaurantes no iFood durante o período de restrições cresceu 78% no estado. Quando questionada sobre como as empreendedoras do restaurante &EAT fizeram para se manter na pandemia, Nicole nos contou que também teve que recorrer ao delivery. “Durante a pandemia, nós, sócias colocamos a mão na massa para conseguir reduzir número de funcionários e equilibrar nosso caixa e profissionalizamos nossa já existente linha de marmitas ultracongeladas, abrimos site de e-commerce e contratamos um entregador particular”, diz.
Juliana Soares, 24 anos, perdeu seu emprego de cozinheira durante a pandemia. Ela trabalhava em um restaurante na zona norte de São Paulo. “Fui demitida logo no início, em agosto de 2020, e tive que me virar para conseguir me manter. Em julho deste ano, consegui um novo emprego como cozinheira, fiquei extremamente aliviada e feliz”, afirma. Com o fim das limitações, a volta das contratações está no seu maior ápice desde o início da pandemia, principalmente na área alimentícia, que passou por diversas dificuldades, sendo uma das áreas mais afetadas pelo vírus. A retomada, porém, ainda é gradual. Pesquisa feita pela a Associação Nacional de Restaurantes (ANR) em parceria com a consultoria Galunion afirma que 62% das empresas ainda não se estabeleceram da mesma forma comparando julho de 2021 com julho de 2019. Em relação à oferta de vagas, o site Catho informa que as vagas na área alimentícia tiveram um crescimento, desde o fim das restrições. As oportunidades para os garçons, por exemplo, subiram 50% e para os cozinheiros cerca de 49%. Lembrando que tudo depende do tamanho do comércio e que muitos estabelecimentos ainda não conseguiram se reestruturar. Segundo a ANR, o nível de endividamento dos bares e restaurantes está em 55%, e cerca de 48% dos estabelecimentos deverão levar em média dois anos para quitar as dívidas. Sobre a recontratação de funcionários, Nicole afirma que no momento ainda não é essencial., “Contratamos apenas um estagiário por enquanto e temos a expectativa de contratar mais uma pessoa”, diz.
Problemas como falta de estrutura e incentivos têm se acentuado durante a pandemia
Divulgação
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Lucca treina na companhia de um colega de equipe
Leonardo Grané e Marcela Sousa
Adecisão de se profissionalizar e entrar no mercado de trabalho certamente é uma das mais complexas de nossas vidas, principalmente em um país como o Brasil, em que a pandemia do coronavírus, segundo o IBGE, ocasionou em uma taxa de desemprego atualmente na casa de 14,4%. Essa realidade é igual ou pior para quem decide viver do esporte. Apesar das recentes premiações em competições internacionais, em especial nas Olimpíadas de Tóquio, os frutos que o Brasil colhe nos esportes não foram conquistados a partir de novos investimentos. Cada vez mais, as políticas públicas esportivas são enfraquecidas pela má gestão do próprio governo federal. De acordo com dados do Globo Esporte, quase metade dos atletas olímpicos não têm patrocínio, 19% têm menos de 2 mil reais por mês para praticar o esporte, 7% têm auxílio inferior a 1 salário mínimo e 10% têm outro emprego para completar a renda. Além disso, dos 302 atletas que compuseram a delegação do Brasil nos jogos olímpicos em Tóquio, 80% são bolsistas integrais do programa Bolsa Atleta, o que equivale a 242 atletas em 19 de 35 modalidades, segundo o Ministério da Cidadania. A má administração e distribuição do dinheiro que já é investido – cerca de 745 milhões por ano, somando diversos recursos – por parte do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e das confederações esportivas explica esses números. Os investimentos são destinados para o alto rendimento, deixando de lado os atletas de base, o que compromete muito o desenvolvimento de novas promessas que poderiam trazer resultados positivos em competições nacionais e internacionais. Segundo Arthur Gaia, de 20 anos, jogador do Clube Atlético Serranense, e Lucca Candelária, de 18 anos, jogador do Londrina Esporte Clube, a escassez de investimentos resulta em várias dificuldades, notáveis quando os atletas jogam em times pequenos, principalmente nas modalidades femininas, que vão desde transporte até a condição dos campos e alojamentos, e que eles acreditam que afeta quase 90% dos clubes brasileiros, diferente do que é encontrado lá fora. Em países onde o esporte e os estudos caminham lado a lado, a realidade é outra. “Eu não estava muito a fim de continuar no Brasil porque já tinha tido uma experiência na categoria de base do Praia Clube, de Uberlândia, e é muito difícil conciliar as duas coisas, estudo e treino, aí surgiu essa oportunidade de vir para os Estados Unidos. Aqui eles dão muito apoio para o jogador”, diz Bethânia Barreto, 19 anos, atleta de voleibol na Cowley College em Arkansas City, no Kansas, com uma bolsa de estudos de 100%. O incentivo e o apoio são maiores nos EUA, e Bethânia percebe que isso gera resultados mais relevantes. “Isso aqui (competição) é como se fosse uma Superliga, sabe? Se eu fizesse isso no Brasil não ia ter nada de apoio”. A Lei de Incentivo ao Esporte é um dos alicerces para o desenvolvimento de atletas no Brasil, das categorias de base até os atletas profissionais, mas é perceptível para aqueles que praticam um esporte a disparidade na distribuição de recursos. Entre 2007, ano que a Lei começou a vigorar, até 2020, 17.589 projetos foram apresentados e cerca de R$ 2,9 bilhões foram captados e investidos no esporte, e a intenção é que esses números sigam crescendo. Com o aumento dos prazos neste ano (uma das medidas que o governo encontrou de contornar os problemas apresentados pela pandemia), houve um aumento de 60% em relação ao ano passado. Em um ano, a bolsa-auxílio da Lei de Incentivo resultou em R$ 10,33 milhões de investimento nos atletas brasileiros. No total, 547 atletas de 30 instituições foram beneficiados e o investimento direto nesses atletas foi de R$ 2,2 milhões. Programas como a bolsa vieram durante a pandemia para ajudar os atletas, trazendo uma renda que serve para custear comida, viagens, transporte e outras despesas essenciais para a carreira e a vida. Incentivos como esse geram esperança para aqueles que sonham com uma carreira esportiva, e gradualmente a área vem ganhando uma vida nova.