De volta à sala de aula Educação básica privada em São Paulo retoma encontros presenciais, mas alguns desafios persistem Frederico Cury e Valentina Mourad
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m meados de março de 2020, a quarentena foi decretada em São Paulo e em todo país, como medida de proteção contra a Covid-19. Com isso, escolas, cursinhos e universidades foram temporariamente fechados. O governador do estado de São Paulo, João Dória, declarou que a partir de julho deste ano, instituições de ensino básico, públicas ou privadas, poderiam retornar com as aulas presenciais com 100% da capacidade, porém seguindo todos protocolos sanitários (uso de máscara, álcool gel e o distanciamento social). A ida dos alunos em sua maioria não é obrigatória, e o sistema híbrido, com ensino remoto simultâneo ao presencial, costuma ser o modelo aplicado. Em uma conversa com Márcio Perrote, coordenador do Colégio Pio XII, instituição privada localizada na zona sul de São Paulo, ele esclarece algumas vantagens do modelo presencial. “O retorno trouxe um pouco mais de prontidão para os alunos”, diz, completando que a absorção dos alunos é maior. No primeiro semestre, o colégio adotou o “sistema de bolhas”, no qual grupos de alunos se revezavam para ir presencialmente às aulas. De acordo com Márcio, foi um período de adaptação, já que o ano de 2020 foi completamente online, e seria um grande baque acabar com o ensino à distância e voltar com o 100% presencial de um semestre para o outro. Também perguntamos sobre a participação dos alunos na sala de aula e se os professores sentiram diferença. Segundo ele, “os alunos, estando na sala, têm muito mais interação do que em casa, onde isso não ocorre e muitos nem abrem a câmera”. O ensino fundamental e o médio têm seus problemas focados na participação e no comprometimento dos estudantes, já que nessa idade são capazes de acessar a aula sozinhos. Entretanto, quando se trata de crian-
Parquinho vazio na escola Dream Kids
ças da pré-escola, outros problemas começam a surgir. Para compreender essas questões, entrevistamos Vera Regina Melo, coordenadora pedagógica da escola infantil Dream Kids. Os mais novos dependem de alguém para acessar os sites onde ocorrem as aulas ou “lives”, e é aí que começam os desafios. Ao ser questionada sobre as aulas online, e por quanto tempo foram aplicadas na escola, ela fala que duraram pouco e não foram muito eficazes. “Tentamos fazer algumas lives com as crianças, mas não surtiu efeito. Fizemos algumas aulas de música, com a professora, algumas aulas de capoeira online, mas o ensino pedagógico mesmo nós não chegamos a fazer”, diz. Segundo ela, as crianças precisam de muita interação e, por isso, o esquema remoto durou apenas dois meses. Como Márcio apontou, o comprometimento dos alunos aumentou, porém ainda havia responsabilidade durante o ensino remoto. No maternal, contudo, tal aspecto era nulo, pois muitas vezes os pais tinham compromissos ou não estavam em
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casa. Assim, o aluno acabava nem entrando nas aulas, como relata a coordenadora pedagógica. Uma das soluções arranjadas pela escola Dream Kids diante desse obstáculo foi mandar uma sacola com material para fazer atividades em casa, como pintura, montagem e colagem, entre outros. Nesses casos, a própria Vera entrava em contato com os pais conversando sobre o que era possível fazer em casa, e recebia fotos dos alunos com suas produções. Segundo Vera, esse método acabou sendo muito mais eficaz do que o sistema de aulas ao vivo. (não seriam as remotas?) Com o fim dos dois meses de aulas online, as crianças voltaram a todo vapor. “Estavam extremamente felizes com o retorno”, relata Vera. Ela complementa: “foi uma experiência incrível”. Segundo ela, no primeiro dia as crianças se abraçavam, e por mais que isso acabe indo contra os protocolos, é muito difícil fazer com que crianças, nessa idade especificamente, fiquem sem interação social, já que isso também é essencial para a formação.