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Para especialistas em educação inclusiva, além do investimento em infraestrutura, é preciso apostar na capacitação do corpo docente
João Pedro Sampaio Alves Mascari BonilhaSegundo a Lei Brasileira de Inclu são da Pessoa com Deficiência (Es tatuto da Pessoa com Deficiência - Lei nº 13.146), promulgada em 2015, “toda pessoa com deficiência tem direi to à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”.
No entanto, o nível de acessibilidade das escolas públicas do estado de São Paulo ainda é muito baixo, o que deixa a meta do Plano Nacional de Educação (PNE), de universalização da educação inclusiva e especial até 2024, bastante difícil de ser cumprida.
Um estudo feito pelo jornal O Estado de São Paulo, a partir de dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação, divul gado em 15 de setembro de 2016, mos trou que somente 33% das unidades da Prefeitura e 38,96% das escolas es taduais são acessíveis a alunos com de ficiência. Ainda de acordo com o levan tamento, na rede estadual somente 415 das 1.057 escolas oferecem as infraes truturas ideais para quem possui algum tipo de deficiência e, na rede municipal,
somente 1.180 de 3.500 unidades esco lares têm acessibilidade. Para a escola ser “acessível” ela tem que seguir a nor ma NBR 9050 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), ou seja, deve oferecer rampas de acesso e elevadores para cadeirantes, piso com sinalização tátil para pessoas com deficiência visual e barras de apoio, entre outros equipa mentos.
Susete Bacchereti, que trabalhou com educação nas escolas públicas e é professora do curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, define acessibilidade como uma situa ção em que “todos convivem em po sição de igualdade, tendo os mesmos direitos”. Ela aponta que, através do programa “Escola Acessível”, as escolas públicas recebem recursos financeiros para “adequar a estrutura física do espa ço para instalação das salas de recursos multifuncionais, adequação de sanitá rios, mobiliários, alargamento de portas, rampas com corrimão”.
“Toda escola pública precisa ter salas que são bem equipadas com mobiliário acessível, recursos de tecnologia, mate riais didáticos e pedagógicos e profis sionais especializados para atender os
alunos laudados [aqueles que possuem laudo médico atestando que eles pre cisam de um atendimento focado em suas necessidades]”, destaca Susete.
Para a professora, é preciso haver mais cursos de capacitação para docen tes (e funcionários em geral das escolas públicas), para que os alunos possam ser melhor atendidos. “Também é recomen dável que as salas de aula tenham me nos estudantes, para que o docente pos sa interagir melhor com os alunos que precisam de mais atenção”, completa.
Laila Micas, que é coordenadora do portal Diversa, do Instituto Rodrigo Mendes, organização sem fins lucrativos que tem como missão colaborar para que toda pessoa com deficiência tenha uma educação de qualidade na escola comum, concorda que o Estado precisa investir na capacitação dos professores.
Um estudo apresentado pelo Institu to Rodrigo Mendes, realizado pelo Data folha (do jornal Folha de S.Paulo) de 9 de novembro a 1º de dezembro de 2021, a pedido da Fundação Lemann, mostrou que 40% dos 967 docentes entrevista dos não têm formação sobre inclusão.
Jornal-Laboratório dos alunos do 2o semestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie. As reportagens não representam a opinião do Instituto Presbiteriano Mackenzie, mas dos autores e entrevistados.
Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Comunicação e Letras
Diretor do CCL: Rafael Fonseca Santos Coordenador do Curso de Jornalismo: Hugo Harris Editora: Patrícia Paixão
Fotos da capa: Fernando Bertrand (trabalhado res invisibilizados), Arthur Hofmann (cinema), Gabriela Lage (acessibilidade nas escolas), Ana Luiza Martins (vacinação) e Yumme/ Arquivo pessoal (cultura periférica).
Impressão: Gráfica Mackenzie Tiragem: 100 exemplares.
Brasil está abaixo da meta de doadores de sangue recomendada pela OMS; transfusões são essenciais para muitos pacientes, em especial os oncológicos
AOrganização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que de 3% a 5% do total da população de um país seja doadora de sangue, para evitar um quadro de escassez de bolsas que pode atingir não só pessoas que possuem diferentes doenças graves como aqueles que se acidentam ou passam por uma ci rurgia de urgência, e, desta forma, neces sitam fazer com urgência uma transfusão.
No Brasil a taxa de doadores costu ma variar entre 1% e 3%, mas de acordo com o Ministério da Saúde, em 2019 esse índice foi de 1,6% e, até março de 2022, haviam sido coletadas no país apenas 732 mil bolsas de sangue.
As doações colaboram, por exemplo, com o tratamento de pacientes hemato lógicos e oncológicos. A cada doação são retirados, no máximo, 450ml de sangue, quantidade que pode salvar a vida de até quatro pessoas.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) considera necessários, em média, 2 mil doadores por mês para atender as de mandas dos pacientes nas suas unidades hospitalares.
É difícil afirmar quantas bolsas de sangue requer um paciente oncológico durante o tratamento. “Cada câncer apre senta diferentes características, então, numericamente, não temos um dado preciso, mas posso garantir que a de manda é muito alta”, explica Fátima Han gai, hematologista e hemoterapeuta da Fundação Pró-Sangue, do Hemocentro de São Paulo, que faz parte do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). A fun dação atende o Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo) e o Itaci (Institu to de Tratamento do Câncer Infantil).
A médica destaca que a melhora dos pacientes oncológicos após a transfusão de sangue é nítida e não se restringe aos resultados dos exames. O quadro de dor também é amenizado ou sanado, já que a anemia, presente em muitos desses pa
cientes, pode ocasionar dor nas pernas e na cabeça, dentre outros sintomas.
“O sangue é insubstituível. Há pa cientes que necessitam de transfusões regulares para sobreviver. Por isso, há uma necessidade da conscientização da importância da doação”, complementa a hematologista.
Existem outros tipos de doença que também levam a um quadro de anemia e, consequentemente, à necessidade de transfusão de sangue. A talassemia, por exemplo, é uma doença hereditária que produz um grau de anemia leve, mas de pendendo do caso, pode se tornar grave. “Possuo talassemia minor e, após o parto de meu primeiro filho, minha hemoglo bina baixou muito, o que fez eu ficar com uma anemia intensa e precisar de trans fusão”, lembra a dona de casa Paula Gon salez. Ela explica que sua sorte foi que o número de doadores naquela época (há 20 anos) era satisfatório. “O processo de achar um doador foi rápido”, lembra.
O ato de doar é importante, por que acaba inspirando outras pessoas. A analista de contas Daniela Migotto, por exemplo, começou a doar sangue obser vando sua mãe. “Nos anos 80 eu vi mui tas vezes ela doando sangue. Eu não via a hora de crescer pra poder doar também.”
Alguns benefícios são garantidos por lei aos doadores, dentre eles um dia de folga sem desconto no salário. Porém,
muitas vezes, o medo da agulha ou re ceio de ficar com a saúde abalada faz com que possíveis voluntários desistam do ato. “Nunca tive medo, nem da agu lha e nem de passar mal. A falta de infor mação pode trazer receio, por isso é de extrema importância saber tudo sobre o processo”, ressalta Daniela. Ela também pontua que doar é um ato de empatia. “Se você se coloca no lugar da pessoa que está precisando, o medo vai embora.”
Contudo, há algumas restrições para realizar a doação. É preciso que a pessoa tenha entre 16 e 69 anos, esteja com um peso superior a 50 quilos e não apresente anemia, hipertensão, hipotensão arterial, febre ou alteração nos batimentos car díacos no momento da doação. Se o doa dor for uma mulher, ela não pode estar grávida ou amamentando (a menos que o parto tenha sido em um período maior de 12 meses).
Segundo o Ministério da Saúde, ao longo de 2022 foram investidos R$ 1,8 bilhão nos Serviços de Hematologia e Hemoterapia públicos do país. O Brasil conta com 107 hemocentros, sendo que 13 deles estão em São Paulo.
Para mais informações sobre onde doar acesse: http://redome.inca.gov.br/ campanhas/hemocentros-do-brasil/
Queda no número de crianças vacinadas faz com que doenças erradicadas voltem a aparecer
Onúmero de crianças brasileiras vacinadas tem caído nos últimos anos. De acordo com o DataSUS, órgão da Secretaria de Gestão Estratégi ca e Participativa do Ministério da Saúde, que tem a responsabilidade de coletar, processar e disseminar informações rela cionadas à pasta, desde 2015 a cobertura vacinal tem diminuído. No ano passado, a vacina contra a tuberculose, por exemplo, só cobriu 68% das crianças, enquanto a da paralisia infantil (contra a poliomielite) abarcou apenas 69,9%. A porcentagem mínima de cobertura recomendada para proteger a população é de 95%, de acor do com o Ministério da Saúde. O Brasil chegou a ter 98,8% da população infantil vacinada contra a polio. Já fomos exem plo, em termos mundiais, no que se refere à adesão ao programa de imunização.
Para a pediatra Zuleid Dantas Linhares Mattar, diretora do Departamento de Polí ticas Governamentais da Abra (Associação Brasileira de Asmáticos), a baixa no núme ro de vacinados faz com que doenças que já tinham sido erradicadas acabem ressur gindo. “É um risco iminente. E não é que isso é algo possível, isso vai acontecer, se a gente não tiver essa cobertura.”
Em sincronia com a queda na taxa de vacinação está o crescimento de dúvidas dos pais em relação à eficácia e segurança das vacinas. “Tenho medo em relação às possíveis reações que a vacina pode oca sionar”, diz Cecília Tao Yong Lee, que é mãe de duas crianças.
Anderson Nunes de Oliveira, enge nheiro ambiental, também se posiciona reticente em relação à vacinação. Ele acre dita haver outras maneiras de desenvolver as mesmas barreiras criadas pela vacina. O engenheiro não toma a vacina da gripe há dez anos e afirma que não vai imunizar sua filha contra a gripe ou contra a Covid .“Exis tem outras formas de se precaver, sem ter que tomar essas vacinas frequentemente.”
Zuleid explica que é muito importan te seguir o calendário de imunização. Ele serve para que o organismo da criança crie uma barreira contra novas mutações dos vírus. “Nenhuma vacina dá 100% de cobertura, mas ela, no mínimo, ameniza o quadro da doença. Uma das coisas mais importantes é a diminuição do número de mortalidade. A vacina faz com que, caso a criança tenha a doença, ela venha de for ma mais leve. É a diferença entre a vida e a morte”, completa.
O artigo “Abordando a Lacuna de Confiança sobre a Vacina”, de Heidi J Lar son, antropóloga americana que chefiou
a Comunicação Global de Imunização do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), publicado em 2011 na concei tuada revista científica The Lancet, expli ca que os movimentos antivacina têm grande influência na decisão dos pais em relação à imunização dos filhos. Esses movimentos trabalham com a difusão de conteúdos sem fundamento científico, sustentados em opiniões falaciosas.
Zuleid reforça o ponto mencionado por Heidi e diz que até mesmo no ramo da medicina existem profissionais que desencorajam os pacientes a se vacina rem. “Eu acho que as sociedades médicas deveriam ter um papel mais contundente. Quando uma pessoa for a público encora jando a população a não se vacinar, essa pessoa deveria responder também pu blicamente. A censura [instaurada pelas sociedades médicas contra o infrator] de veria ser pública”, defende.
Ela relembra do caso de Andrew Wake field, que perdeu sua licença médica após o jornalista Brian Deer denunciar a falta de consistência nos dados divulgados pela sua pesquisa, que relacionava a aplicação de vacinas ao desenvolvimento de com portamentos vistos no autismo. Esse es tudo, sem comprovação científica, gerou uma queda expressiva nas aplicações da tríplice-viral em crianças.
Para especialistas e artistas da quebrada, a arte dos moradores periféricos ou é apropriada pela elite ou têm sua riqueza pouco valorizada
artísticos que acabam usando praças, entre outros locais públicos, para se expressar. “Mas sabemos que essa cultura periférica só ganha visibilidade, quando a elite a aprova e se apropria dela”, pontua.
O cantor de rap Konai, que concedeu entrevista para esta reportagem ao lado do também rapper Yumee, critica algumas ini ciativas que hoje usam a arte das periferias quase que como uma estratégia mercadoló gica, mas sem ter raízes, de fato, com a que brada. “Não é só sair por aí vestindo a camisa, pra aparecer bonito. Tem que trazer consigo a história daqueles que batalharam muito para chegar aonde chegaram”, reforça.
das urbanas”, lançado em 2020.
De acordo com um levantamento de 2008 do Data.Rio, portal vinculado à Prefeitura do Rio de Janeiro, que reúne informações estatísticas, mapas, es tudos e pesquisas sobre o município, 82% dos equipamentos culturais da cidade (en tre museus, bibliotecas, escolas de música, centros culturais, galerias de arte e salas de espetáculos) estão concentrados no centro e na zona sul.
Uma reportagem publicada na BBB Bra sil em 24 de outubro de 2012, escrita pelas jornalistas Lívia Lima, moradora de Ermelino Matarazzo, e Jéssica Moreira, moradora de Perus, na Grande São Paulo, ambas represen tantes da Agência Mural de Jornalismo das Periferias, mostrou que quanto mais distante do centro da cidade de São Paulo a pessoa mora menos acesso aos aparelhos culturais ela tem. E o quadro se repete em outros lu gares do Brasil.
Como as chamadas “quebradas” são ignoradas pelo Estado no que se refere ao acesso de diferentes direitos, inclusive os cul turais, seus moradores acabam criando suas próprias iniciativas artísticas.
“As periferias produzem uma arte muito rica, mas que não costuma ter muita visibili dade”, destaca Mara Rovida, que é professora do Programa de Pós-Graduação em Comu nicação e Cultura da Universidade de Soro caba (Uniso) e autora do livro “Jornalismo das Periferias: o diálogo social solidário nas bor
Para Mara, que estudou durante anos as diferentes formas de comunicação dos mo radores periféricos de São Paulo, a cultura produzida pelas elites (aquela que está na região central da cidade) é ofertada a valores abusivos, que deixam as pessoas com menos renda cada vez mais impedidas de acessá-la.
“É claro que existem museus e bibliote cas na periferia, mas não com o mesmo cui dado e verba que aqueles que ficam na parte rica da cidade”, destaca Luiz Lucas, jornalista que defendeu seu Trabalho de Conclusão de Curso na Universidade Cruzeiro do Sul sobre a cultura das periferias e que é colaborador da Agência Mural (já citada), Mesmo sem apoio financeiro e estru tural, Luiz ressalta que há muitos coletivos
Ele pontua que os reais criadores de ini ciativas orginalmente pensadas na periferia, e que hoje são apropriadas pela elite, “estão muitas vezes passando fome”.
O rapper afirma que os artistas periféri cos que escolhem a música como forma de expressão muitas vezes não contam com in fraestrutura e estímulo necessários para co meçar. “Muitos deles não têm nem mesmo um celular para gravar suas canções.”
Konai e Yumee comentaram que, em função da ausência do Estado, dentro das co munidades o jovem acaba tendo apenas três opções de sonhos possíveis: ser jogador de futebol, tornar-se MC ou trabalhar em uma facção criminosa. “E assim, como eu, muitos acabam escolhendo a música, para expres sar essa marginalização”, encerra.
Especialistas comentam sobre a importância de tornar essa arte mais acessível; ingressos na cidade de São Paulo podem custar até R$ 180,00
Arthur Hofmann Enrico FiniAarte cinematográfica é o es pelho da história de uma na ção. Como destaca Hugo Har ris, professor de cinema do curso de jornalismo da Universidade Presbi teriana Mackenzie, se considerarmos as produções feitas em nosso país, podemos apontar o cinema como “um caminho de exposição da nossa cultura”.
A jornalista e especialista em Co municação Vanessa Dias Magalhães destaca o cinema como uma impor tante opção de lazer que hoje está inacessível para grande parte da nossa população. “A distribuição e o acesso dos brasileiros ao cinema podem apresentar um reflexo da concentração socioeconômica e da desigualdade do país. Os resultados são os entraves que dificultam a de mocratização do cinema por conta dos valores, consequência da domi nação da indústria cultural sobre as salas, e a frequência por um público com maior poder aquisitivo”, com pleta Vanessa.
Os ingressos na cidade de São Paulo podem variar de R$ 28,00 a até R$180,00 (esse último valor em salas consideradas vip, como as existentes dentro do Shopping JK Iguatemi).
Dados do Sistema de Informações e Indicadores Culturais, divulga dos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2019, apontam que 39,9% dos brasileiros moravam em municípios sem, ao menos, uma sala de cinema.
Entre 15 e 21 de setembro de 2022 diversas redes de cinema, como Cinemark, United Cinemas In ternational e Cinépolis, aderiram à “Semana do Cinema”, promoção que deixou os ingressos mais acessíveis à população (na faixa de R$ 10,00) e lotou sessões por todo país. Porém, com o final da campanha e a volta dos preços padrões, uma parcela grande da população permanecerá alijada do acesso a essa arte. “Por ser um acesso elitizado acontece uma seleção natural de quem vai e quem não vai”, salienta Hugo Harris.
Segundo informações da Coms core, empresa de análise e avaliação de dados, houve um crescimento de 296% no público durante a “Semana do Cinema”.
Para Daniel Campos, gerente de Marketing e Digital da Cinemark Brasil, o maior marco da campanha foi trazer pessoas que pararam de ir às salas. “A semana despertou mui ta gente para um prazer que estava dormente. O preço trouxe muitas pessoas de volta e essa foi a maior
conquista; não foram os mesmos que já estavam indo.”
Ana Luiza Pereira é estudante do ensino médio e foi ao cinema du rante a campanha. Ela diz que vol taria às salas, caso os preços baixos permanecessem. “Com certeza isso manteria minha frequência no ci nema”, diz. Porém, Daniel Campos explica que não é possível manter os preços no mesmo valor oferecido durante a campanha. “O valor cobra do na semana precisa de um volume muito grande de pessoas adicionais para compensar e pagar os custos da indústria.”
Daniel argumenta que a Cine mark tem muitos projetos que visam uma maior adesão do público aos ci nemas. “Temos parcerias que garan tem meia entrada para não estudan tes, temos o Club que garante dois ingressos por mês a R$ 15, temos o Projeta Brasil, que mensalmente apresenta um filme nacional com preço acessível.” Para o gerente de Marketing e Digital da Cinemark Bra sil, “o cinema é um lazer insubstituí vel e quanto mais gente conseguir ir, melhor”.
Na opinião de Hugo Harris, a de mocratização do cinema deve se dar por projetos financiados por gran des instituições e pelo governo.
Mesmo tendo aumentado 400% de 2010 a 2019, o número de alunos negros no ensino superior ainda fica longe da porcentagem de 56,1% de brasileiros pretos e pardos
Luis Felipe Reis Murilo NuinSegundo pesquisa feita pela Quero Bolsa, plataforma de bolsas de estudo e vagas no ensino superior, o número de alunos negros presentes nas universidades aumentou 400% de 2010 a 2019. O crescimento se deve à Lei de Cotas (Lei nº 12.711/2012), que reserva vagas nas universidades públicas para estudantes negros, oriundos de escola pública e renda de até 1,5 salário mínimo por pessoa, e a pro gramas de acesso às universidades como o ProUni (Programa Universi dade para Todos) e o Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do En sino Superior).
Embora se trate de um cresci mento expressivo, ainda não temos motivo para comemorar. Hoje es ses estudantes representam apenas 38,15% do total de matriculados no ensino superior, uma estatística que não chega nem perto da porcenta gem de pessoas pretas e pardas no país que, de acordo com o IBGE (Ins tituto Brasileiro de Geografia e Esta tísticas), é de 56,1% (dados de 2021).
A universitária Letícia Almeida, que cursa atualmente o 6º semestre de Ciências Sociais na Unicamp (Uni versidade Estadual de Campinas), no interior de São Paulo, faz parte do movimento Olga Benário que, den tre outras pautas, conta com ações e campanhas de luta contra o racis mo dentro e fora da universidade. Ela destaca que quando o número de estudantes negros nas universi dades aumenta uma série de outras mudanças positivas passam a ser observadas. “Ocorrem alterações nas grades curriculares, com mais biblio grafias da cultura negra, disciplinas baseadas em conhecimentos não brancos, mobilizações antirracista, etc.”
Segundo Letícia, a luta contra o
racismo é bastante forte dentro da Unicamp em diferentes esferas. A universidade conta com coletivos negros em vários cursos e o “Aqui lomba Fórum”, fórum que centraliza a luta de todos os coletivos da ins tituição; além do NCN (Núcleo de Consciência Negra). “Essas instâncias são muito importantes, pois inter pelam os alunos diariamente dentro e fora da universidade, pela valori zação das epistemologias negras e pela formação de redes de acolhi mento e afeto entre pessoas negra”, opina.
Segundo um estudo sobre ação afirmativa e população negra na educação superior, feito pela pes quisadora Tatiana Dias Silva e publi cado em agosto de 2020 pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 36% dos jovens brancos na faixa etária dos 18 aos 21 anos estão estudando ou terminaram sua graduação, já entre pardos e pretos a porcentagem diminui para 18%, sendo que a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) indica que até 2024 todos os jovens dessa faixa etá ria estejam cursando ou concluindo
a universidade.
Em entrevista à Agência Brasil, em 20 de novembro de 2020, no Dia da Consciência Negra, Tatiana rela cionou essa desigualdade à proble mática do racismo estrutural. “Como sociedade isso é inadmissível. Se a questão racial é um elemento estru turante, ele precisa ser enfrentado. Como a gente pode pensar o proje to de desenvolvimento do país que não incorpora esse desenvolvimento para todos os grupos?”, questionou.
Falta também representatividade no ensino superior no que se refere ao corpo docente. Um levantamen to realizado pela Quero Bolsa, com base em dados do Censo da Educa ção Superior de 2018, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pes quisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostra que apenas 16,4% dos professores nas universidades são negros (autodeclarados como pre tos ou pardos). Isso faz com que os alunos negros que estão no ensino superior não consigam se ver repre sentados entre seus mestres, o que acaba sendo mais uma forma de vio lência contra esses estudantes.
Os trabalhadores da área de lim peza e manutenção de espaços públicos são, de forma geral, des valorizados. Muitas vezes passam desper cebidos, sem receber um simples “bom dia”. Esses profissionais realizam funções essenciais para a sociedade. Uma prova disso é que eles estavam dentre os pro fissionais que não puderam se dar ao luxo de trabalhar de casa e, assim se proteger contra o novo coronavírus, durante a fase mais dura da pandemia de Covid-19. Mui tos deles contraíram o vírus e morreram. Uma pesquisa feita pela Abes (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Am biental) em junho de 2020 em 23 capitais do país mostrou que o número de traba lhadores da limpeza urbana infectados pelo coronavírus foi quase cinco vezes e meia maior que o de infectados na po pulação brasileira em geral. O número de profissionais mortos pelo vírus foi seis ve zes a mais que o resto da população.
Os riscos que esses trabalhadores en frentam são muitos. Rodrigo da Silva e Cláudio dos Reis são funcionários da área de manutenção do Condomínio Porto Se guro, localizado no bairro da Casa Verde, na zona norte de São Paulo. Eles afirmam que frequentemente correm perigo de le var um choque ou sofrer uma queda, pois trabalham muito com a parte de elétrica do condomínio e estão o tempo todo su bindo em andaimes e escadas. Rodrigo lembra de uma situação em que ele esta
va instalando uma das bombas da piscina do condomínio. “Tomei um choque e pas sei mal por um bom tempo. Fiquei alguns dias com o braço doendo e meio dormen te. Até hoje tenho receio de voltar a fazer esse tipo de serviço.”
O acidente com Cláudio dos Reis ocor reu quando ele precisou fazer uma ma nutenção em um quadro de luz. “Quando eu ajoelhei para mexer no quadro, aca bei apoiando meu joelho em uma poça d’água e tomei um choque feio.”
Rodrigo e Cláudio destacam que gos tam do trabalho na área, pois mantém amizade com todos da equipe e com os moradores. “Os momentos de bate-boca são poucos, só quando alguém vem gritar ou brigar com a equipe”, afirmam.
Vânia do Nascimento, trabalhadora da equipe de limpeza de uma das torres do Condomínio Porto Seguro, diz que os funcionários podem correr muitos riscos, por exemplo, quando estão limpando as escadas e a luz acaba apagando sozinha, por ser de interruptor em vez de sensor. Nesse caso, sempre há a chance de trope çar no escuro, ao procurar o interruptor. “Dependendo dos produtos que usamos na limpeza das áreas comuns, precisamos usar equipamentos de proteção, pois mui tos são perigosos em contato com a pele”, completa.
William Moreira da Silva, trabalhador da área da limpeza do campus Higie nópolis da Universidade Presbiteriana Mackenzie também elenca alguns riscos.
“Um dos perigos é quando vou mexer nas lixeiras para trocar os sacos e posso aca bar encontrando alguma coisa que corte, tipo um vidro ou palito de churrasco.” Para evitar esse tipo de acidente, ele é bastan te cauteloso na hora de retirar o lixo. “Para os alunos me ajudarem, seria interessante tomarem mais cuidado com o que jogam nas lixeiras”, diz, em tom de um pedido.
O professor de História e Sociologia João Pedro Mendonça destaca que para entendermos por que os trabalhadores da limpeza e da manutenção não são va lorizados precisamos voltar ao nosso pas sado colonial, para analisar como a nossa sociedade foi sendo formada. “No perfil desses trabalhadores existe um claro re corte de raça e classe social e esse recorte determina a maneira como a sociedade os enxerga, com os estereótipos. Antigamen te, esses trabalhos eram realizados pelos escravizados [os povos africanos seques trados da África pelos portugueses] e, por isso, eles não têm um prestigio social”, ex plica.
Após a Lei Áurea, a mão de obra pas sou a ser remunerada, mas João Pedro Mendonça explica que, mesmo com a abolição, esses profissionais não seriam bem vistos. “Isso pelo fato de se tratar de empregos mais insalubres. São trabalha dores que, independentemente dos do cumentos que tiverem e apresentarem, sempre serão explorados e mal remunera dos”, completa.